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sexta-feira, 24 de maio de 2013

Populismo petrolifero da era Lula levou a desastres na Petrobras

Recebido de correspondentes, como sendo informação que circula entre funcionários e pessoas trabalhando com a Petrobras.
Paulo Roberto de Almeida

A nova presidente da Petrobras decidiu comprar uma briga daquelas, em véspera de ano eleitoral. Ela quer cancelar todos os contratos de patrocínio da estatal e já provoca uma gritaria entre políticos da base aliada. Dias atrás, a presidente da Petrobras, Graça Foster, fez uma conferência com investidores e foi de uma sinceridade atroz. Reduziu de 3,1 milhões para 2,5 milhões barris/dia a meta de produção da empresa para 2016. “Os números não
eram realistas.”
Além disso, cancelou projetos de várias refinarias e manteve apenas a Abreu e Lima, em Pernambuco, que custará nove vezes mais do que o previsto – o orçamento foi de R$ 4,75 bilhões para R$ 42 bilhões. Graça já havia demarcado seu território, ao demitir diretores que haviam sido indicados politicamente, inclusive pelo próprio PT.
Agora, ela decidiu comprar uma nova briga, segundo informa a coluna do jornalista Ilimar Franco, no jornal O Globo, na nota “Fim da farra”:

- A presidente da Petrobras, Graça Foster, decidiu segurar e rever todos os patrocínios concedidos pela empresa. Sua posição atinge eventos, congressos, publicações, filmes, projetos culturais e conferências setoriais e temáticas
promovidas pelo governo federal e que tinham patrocínio da estatal. Os marqueteiros petistas estão em polvorosa e, atônitos e irritados, perguntam: "Quem essa Graça Foster pensa que é? A Dilma da Dilma?" Graça tem o respaldo da presidente Dilma Rousseff, mas seu estilo tem gerado críticas no PT. Seu antecessor, José Sergio Gabrielli, é amigo pessoal do presidente Lula. Além disso, ao criticar as “metas irreais” da era Gabrielli, *ela também critica, indiretamente, a era Lula*. A conferência de Graça Foster com investidores ensejou o artigo 
O custo Lula”, 
publicado pelo jornalista Carlos Alberto Sardenberg. Leia:

- Há menos de três anos, em 17 de setembro de 2009, o então presidente Lula apresentou-se triunfante em uma entrevista ao jornal Valor Econômico. Entre outras coisas, contou sem meias palavras, que a Petrobrás não queria
construir refinarias e ainda apresentara um plano pífio de investimentos em 2008. “Convoquei o conselho” da empresa, contou Lula. Resultado: não uma, mas quatro refinarias no plano de investimentos, além de previsões
fantásticas para a produção de óleo.
Em 25 de junho último, a Petrobrás informa oficialmente aos investidores que, das quatro, apenas uma refinaria, Abreu e Lima, de Pernambuco, continua no plano com data para terminar. E ainda assim, com atraso, aumento de custo e sem o dinheiro e óleo da PDVSA de Hugo Chávez. Todas as metas de produção foram reduzidas. As anteriores eras “irrealistas”, disse a presidente da companhia, Graça Foster, acrescentando que faria uma revisão de processos e métodos. Entre outros equívocos, revelou que equipamentos eram comprados antes dos projetos estarem prontos e aprovados, o que é um verdadeiro absurdo.
Nada se disse ainda sobre os custos disso tudo para a Petrobrás. Graça Foster informou que a refinaria de Pernambuco começará a funcionar em novembro de 2014, com 14 meses de atraso em relação à meta anterior, e
custará US$ 17 bilhões, três bi a mais. Na verdade, as metas agora revistas já haviam sido alteradas. O equívoco, visto desde o princípio, é muito maior.
Quando anunciada por Lula, a refinaria custaria US$ 4 bilhões e ficaria pronta antes de 2010. Como uma empresa com importância da Petrobrás pode cometer um erro de planejamento desse tamanho? A resposta é simples: a estatal não tinha projeto algum para isso, Lula decidiu, mandou fazer e a diretoria da estatal improvisou umas plantas. Anunciaram e os presidentes fizeram várias inaugurações.
O nome disso é populismo. E custo Lula. Sim, porque o resultado é um prejuízo para os acionistas da Petrobrás, do governo e do setor privado, de responsabilidade do ex-presidente irresponsável e da diretoria que topou a
montagem desse cenário de mentiras.
Tem mais na conta. Na mesma entrevista, Lula disse que mandou o Banco do Brasil comprar o Votorantim, porque este tinha uma boa carteira de financiamento de carros usados e era preciso incentivar esse setor. O BB comprou, salvou o Votorantim e engoliu um prejuízo de mais de bilhão de reais, pois a inadimplência ultrapassou todos os padrões. Ou seja, um péssimo negócio, conforme muita gente alertava. Mas como o próprio Lula explicou:
“Quando fui comprar 50% do Votorantim, tive que me lixar para a especulação”.
Quem escapou de prejuízo maior foi a Vale. Na mesma entrevista, Lula confirmou que estava, digamos, convencendo a Vale a investir em siderúrgicas e fábricas de latas de alumínio. Quando os jornalistas comentam que a empresa talvez não topasse esses investimentos por causa do custo, Lula argumentou que a empresa privada tem seu primeiro compromisso com o nacionalismo.
A Vale topou muita coisa vinda de Lula, inclusive a troca do presidente da companhia, mas se tivesse feito as siderúrgicas estaria quebrada ou perto disso. Idem para o alumínio, cuja produção exige muita energia elétrica, que
continua sendo a mais cara do mundo. Ou seja, não era momento, nem havia condições de fazer refinarias e siderúrgicas. Os técnicos estavam certos. Lula,prá variar, estava errado.
As empresas privadas foram se virando, mas as estatais se curvaram. 
Ressalva: o BNDES, apesar das pressões de Brasília, não emprestou dinheiro para a PDVSA colocar na refinaria de Pernambuco. Ponto para seu corpo técnico. Quantos outros projetos e metas do governo Lula são equivocados? As obras de transposição do rio São Francisco estão igualmente atrasadas e muito mais caras. O projeto do trem bala começou custando R$ 10 bilhões e já passa dos 35 bi. Assim como se fez a revisão dos planos da Petrobrás, é urgente uma análise de todas as demais grandes obras. Mas há um outro ponto, político. A presidente Dilma estava no governo Lula, em posições de mando na área da Petrobrás. Graça Foster era da diretoria da estatal. Não é possível imaginar que Graça Foster tenha feito essa incrível autocrítica sem autorização de Dilma.
Ora, será que as duas só tomaram consciência dos problemas agora? Ou sabiam perfeitamente dos erros então cometidos, mas tiveram que calar diante da força e do autoritarismo de Lula?
De todo modo, o custo Lula está aparecendo mais cedo do que se imaginava. Inclusive na política.
Foster terá que contar agora com muito respaldo de Dilma, para não ser atingida, em breve, pelo fogo amigo.

domingo, 20 de janeiro de 2013

BNDES: o custo para o país, para a sociedade e o atraso mental dos governantes...

O BNDES, criado como BNDE, tinha boas intenções em seu início. Como em todo empreendimento estatal, depende muito da gestão para ser positivo e benéfico para o país. Quando se tem a politização do empreendimento, os resultados são prejuizos certos para toda a sociedade, como ocorreu com a Petrobras durante a maior parte de sua história, tirando o intervalo dos dois governos FHC, quando ela teve, finalmente, uma gestão comprometida com resultados, apenas isto. Depois, na era lulopetista, foi o horror, que perdura até hoje.
O BNDES é a mesma coisa: desde a primeira gestão lulopetista, a incompetência, como quem qualquer outro empreendimento dos companheiros, foi sua marca registrada. E sempre eles cantam as glórias do aumento do capital e do volume de operações, esquecem, ou fingem ignorar, o custo de tudo isso para o país, os juros embutidos no déficit público, o desvio de recursos para os amigos do rei, e negócios francamente deficitários.
Enfim, o horror de sempre, uma gestão incompetente, senão criminosa em vários aspectos.
Um dia se terá de fazer o balanço puramente contábil das imensas perdas para o país causadas pela gestão dos companheiros em todas as áreas em que meteram as patas sujas. Isso apenas no plano quantitativo, isto é, de perdas financeiras. O pior, porém, é o atraso mental, a incompetência, o custo-oportunidade, todos os prejuizos causados pela asfixia do crescimento do país por causa da gestão incompetente, quando não corrupta ou francamente desonesta.
Paulo Roberto de Almeida

O BNDES PERDEU O RUMO
Editorial O Estado de S.Paulo, 19 de janeiro de 2013

O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) continua perdendo dinheiro em projetos fracassados e - pior que isso - sem significado estratégico para a economia brasileira. Depois de maus negócios no setor de carnes, a direção do banco resolveu arriscar-se no ramo de laticínios. O maior e mais perigoso lance nessa área foi a aplicação de R$ 700 milhões, em janeiro de 2011, na formação da empresa LBR - Lácteos Brasil, resultante da fusão do laticínio gaúcho Bom Gosto e da LeitBom, controlada pela Monticiano Participações. Recém-criada, a gigante já deu prejuízo no primeiro ano de operação, continuou em dificuldades em 2012, suspendeu pelo menos 5 de 16 marcas de leite e fechou 11 de 31 fábricas, segundo reportagem publicada na quinta-feira pelo jornal Valor. De acordo com o jornal, os planos do grupo incluem o fechamento de mais cinco fábricas. Parte do dinheiro aplicado pelo BNDES - R$ 250 milhões - foi destinada à compra de debêntures. Pelo contrato, a empresa deveria ter antecipado o resgate desses papéis, depois do resultado muito ruim de 2011, mas houve um pedido de waiver e o assunto ainda está em exame.

O BNDES, por meio de sua subsidiária BNDESPar, tornou-se acionista da empresa Bom Gosto em 2007 e, ao apoiar a fusão, poucos anos depois, ficou com 30,28% do capital da LBR. Para quê? A diretoria do banco parece entender a criação de gigantes, em qualquer setor, como parte de sua missão. Deixa, no entanto, de levar em conta as necessidades e possibilidades financeiras dos grupos envolvidos e de avaliar cuidadosamente o valor estratégico de sua participação.

É muito difícil justificar o envolvimento do BNDES, como emprestador ou como investidor, em operações de fusão de empresas capazes de mobilizar recursos no mercado financeiro. Além disso, bem mais difícil é explicar a importância dessas operações na estratégia de desenvolvimento do Brasil.

Em outros tempos, o BNDES contribuiu para a ampliação da base industrial, para a eliminação de gargalos no sistema produtivo e para a consolidação de atividades estratégicas. Favoreceu a exploração e o processamento de insumos, como celulose, cobre e alumínio, a implantação da indústria petroquímica e a produção de bens de capital.

Durante décadas, sua política foi orientada por planos de desenvolvimento e, portanto, pela identificação de carências e pontos vulneráveis da economia nacional. O banco distinguiu-se também como a fonte principal de financiamentos de longo prazo. Tornou-se uma referência internacional, tanto pelo alcance de sua atuação quanto pela dimensão de suas operações, muito maiores que as de qualquer instituição similar nos países em desenvolvimento.

Esse estilo de trabalho, preservado em diferentes momentos da história política, foi abandonado há alguns anos. Depois de uma tentativa desastrada de aparelhamento e ideologização, no começo da gestão petista, o banco nunca recuperou a velha capacidade de ação estratégica.

A perda de rumo tornou-se mais evidente há alguns anos, especialmente a partir da crise de 2008. Os financiamentos concentraram-se em grandes clientes, alguns estatais, e o BNDES tornou-se mais do que nunca um instrumento de apoio a grupos selecionados para vencer.

Com a mudança de rumo, o banco resolveu problemas de grandes empresários engasgados com maus negócios. Privilegiou a clientela dos grandes com uma fatia desproporcional dos empréstimos e envolveu-se cada vez mais em aventuras claramente estranhas à sua missão. Por muito pouco deixou de financiar a fusão do Grupo Pão de Açúcar com a filial brasileira do Carrefour. Dirigentes do banco só reconheceram o inconveniente do negócio alguns dias depois dos alertas publicados na imprensa. Com esse recuo, conseguiu evitar, em cima da hora, o envolvimento grotesco numa confusão jurídica.

A perda de R$ 700 milhões, ou de qualquer parcela desse investimento, é certamente um fato grave. Muito mais graves, no entanto, são a perda de rumo e o desvirtuamento de uma instituição com um belíssimo histórico de contribuições ao desenvolvimento brasileiro.

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Em crise, LBR deve gerar baixa contábil no balanço do BNDES
Por Luiz Henrique Mendes e Janice Kiss | De São Paulo
Valor Econômico, 17 de Janeiro de 2013

Quando foi criada, a LBR tinha planos audaciosos de consolidar e liderar o pulverizado mercado brasileiro de lácteos

O plano do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) de criar uma gigante do leite enfrenta sérios problemas. O Valor apurou que o banco estatal deve fazer uma baixa contábil da ordem de R$ 700 milhões relativa à operação da LBR - Lácteos Brasil em seu próximo balanço, a ser divulgado até março. Na prática, o BNDES assume que o investimento feito em 2011 para criar a LBR dificilmente será recuperado. Procurada, a instituição não comentou a informação.

Quando sua criação foi anunciada, em 22 de dezembro de 2010, a LBR tinha planos audaciosos de liderar e consolidar o pulverizado mercado brasileiro de lácteos. A empresa surgiu da fusão entre o laticínio Bom Gosto, do empresário gaúcho Wilson Zanatta, e a Leitbom, controlada pela Monticiano Participações - empresa que tem como acionistas a GP Investimentos e a Laep, dona da Parmalat no Brasil.

Como um dos principais acionistas da Bom Gosto, o BNDES patrocinou a criação da LBR com um aporte de R$ 700 milhões em 27 de janeiro de 2011. Do montante investido pelo banco, R$ 450 milhões entraram no caixa da LBR via aumento de capital e outros R$ 250 milhões com a subscrição de debêntures conversíveis. O banco estatal detém uma fatia de 30,28% no capital da empresa por meio de seu braço de participações, o BNDESPar.

Com a fusão entre a Bom Gosto e Leitbom, a Lácteos Brasil surgiu como uma gigante com faturamento bruto de R$ 3 bilhões, 31 fábricas, 56 mil fornecedores de leite e uma captação de cerca de 2 bilhões de litros de matéria-prima por ano - uma das três maiores do país, junto com DPA (joint venture entre Nestlé e Fonterra) e BRF - Brasil Foods.

Com dificuldades, a empresa decidiu suspender pelo menos cinco marcas e fechar 11 fábricas até 2012

À época de sua criação, os executivos da empresa tinham perspectivas bastante otimistas. Em entrevista concedida ao Valor em dezembro de 2010, o então presidente da LBR, Fernando Falco, disse que a companhia projetava atingir faturamento de R$ 4,5 bilhões em 2012, o que seria "possível de ser alcançado só utilizando a capacidade ociosa", disse o executivo. Naquele momento, a LBR detinha uma capacidade ociosa de 30% em suas fábricas.

Mas os planos da LBR fizeram água em pouco tempo. Com dificuldades para capturar as sinergias esperadas com a fusão e um emaranhado de 16 marcas, sendo 12 delas apenas de leite longa vida (UHT), a companhia pôs em curso uma estratégia que já levou à suspensão de pelo menos cinco marcas e ao fechamento de 11 fábricas até dezembro, segundo fontes familiarizadas com a empresa.

O Valor apurou que a LBR pretende fechar outras cinco fábricas, deixando só 15 unidades em operação. No meio desse caminho, a empresa chegou a negociar outra fusão, desta vez com a Parmalat italiana, empresa que foi adquirida pouco tempo depois pelo grupo francês Lactalis.

Em 2011, ano de sua criação, a LBR registrou um resultado desastroso. Conforme balanço publicado no Diário Oficial do Estado de Goiás em 20 de abril do ano passado, a empresa amargou um prejuízo líquido (atribuído aos acionistas) de R$ 305,5 milhões. No período, a receita líquida da LBR atingiu R$ 2,2 bilhões.

O mau resultado da LBR respingou no BNDES. Em 31 de dezembro de 2011, a empresa de lácteos apresentou um lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda, na sigla em inglês) negativo e quebrou uma cláusula restritiva do contrato referente aos R$ 250 milhões adquiridos em debêntures conversíveis pelo BNDES, conforme atesta o último balanço trimestral divulgado pela Monticiano, controladora da LBR.

Pelos termos da emissão feita pela LBR, as debêntures adquiridas pelo BNDES têm seu saldo corrigido pelo IPCA e pagam juros anuais de 7,5%, acrescidos da taxa de inflação. A partir de 2016, a empresa deve pagar 20% do montante principal por ano. Os papéis vencem em 2020.

Mas o contrato de debêntures previa um "gatilho" para o pagamento antecipado dessas debêntures. Se o índice de alavancagem (a relação entre a dívida líquida e o Ebitda) da LBR ficasse acima de quatro vezes, a empresa teria de quitar antecipadamente o saldo das debêntures com o BNDES, além da multa de 10% e juros. Foi o que ocorreu no fim de 2011.

Para evitar o pagamento antecipado justamente no momento em que enfrenta problemas financeiros, a LBR fez um pedido de "waiver" - uma espécie de perdão por ter rompido o contrato - ao BNDES. A expectativa da Monticiano era que o "waiver" fosse concedido pelo banco até 31 de janeiro de 2012.

Mas o BNDES ainda não analisou o pedido. Procurado pelo Valor PRO, serviço em tempo real do Valor, o banco informou que ainda analisa o pedido de "waiver" e que não definiu um prazo para dar sua resposta à empresa.

Se os resultados de 2011 foram ruins e dispararam o "gatilho" das debêntures, os dados disponíveis sobre o ano passado trazem indícios ainda piores. Em 12 de novembro de 2012, a BNDESPar publicou seu balanço trimestral, no qual reportou que a Lácteos Brasil obteve um prejuízo de R$ 301 milhões entre janeiro e julho. Trata-se de uma perda similar à registrada em todo o ano de 2011. No documento, o BNDES já provisionava uma perda de R$ 14,7 milhões com a LBR.

Procurada diversas vezes, a LBR não quis se pronunciar. A empresa sequer informa quantas unidades possui e as que estão em operação. Também procurados, GP Investimentos, Laep e o empresário Wilson Zanatta, da Bom Gosto, não comentaram. (Colaborou Sérgio Ruck Bueno, de Porto Alegre)

domingo, 10 de outubro de 2010

A Petrobras a servico da politica (da má politica, quero dizer)

A manipulação política da Petrobras: minhas explicações (fundamentadas)
Paulo Roberto de Almeida (10.10.2010)

Meu post anterior, que deveria ser uma simples transcrição do sério editorial do Estadão sobre a perda de valor patrimonial da Petrobras em função de sua manipulação pelo presidente da república,acabou se estendendo nos comentários condenatórios da ação do dito cujo, mais pelo lado das invectivas do que pelo lado das explicações.

Muitos leitores poderão, portanto, ter pensado assim: "ah, esse gajo [eu] é contra a Petrobras estatal, ele pretende vê-la privatizada, por isso diz essas coisas; ele é contra estatais em geral e a Petrobras em particular; pior, é contra o presidente da república, que quer preservar uma estatal num setor estratégico como o petróleo".

Certo? É o que pensaram vários de vocês?
Errado, eu digo, e me disponho aqui a dar algumas explicações sobre como eu vejo a (má) utilização da Petrobras pelo presidente da república, um ignorante em economia, um primário em gestão empresarial e, no entanto, presidente da república (uma coisa não impede a outra; já tivemos outros ignaros na presidência, e países ao lado tem jumentos).

Já escrevi alguma coisa sobre o petróleo, assim que me dispenso de retomar aqui meus argumentos sobre a essencialidade e o caráter estratégico dessa commodity. Ponto.
Desde 1997, a Petrobras foi levada a atuar como empresa, o que ela deveria ter feito desde a origem, e não fez, pois foi utilizada politicamente -- e para fins de política econômica -- por vários governos. Pois bem: desde que ganhou uma gestão isenta, profissional, isolada da política, a Petrobras cresceu, tremendamente, e se tornou a grande companhia que é hoje, isso num ambiente em que, pesem as mudanças no sentido da liberalização, as regras do jogo ainda são distorcidas, em função do enorme poder oligopolista dessa companhia, que de certa forma consegue "fixar" os preços de mercado, mesmo o mercado sendo teoricamente livre. Mas, sabemos que de fato não existe concorrência e que mesmo as distribuidoras privadas são obrigadas a seguir a Petrobras em seus preços.

Pois bem: todo mundo deve se lembrar - e se não se lembrarem eu me encarrego disso -- que depois de se ter convertido em companhia "comercial" -- parece óbvio mas não é -- a Petrobras disse que seguiria os preços do mercado internacional como referência para sua contabilidade interna, refletindo, portanto, no preço da gasolina ofertada internamente os altos e baixos dos mercados internacionais.
Isso de fato ocorreu, mas com algumas distorções, pois num mercado ainda oligopolista como esse, o preço dos combustíveis tem grande impacto nos índices de inflação.

Todo mundo também deve se lembrar que nas eleições de 2006, o governo fez pressão para que a Petrobras não aumentasse os preços internos, isso a despeito do enorme aumento do preço do barril nos mercados internacionais. Ele foi de 25 dólares em 2002 a mais de 140 dólares em 2006-2007, descendo um pouco depois disso. Todo mundo deve estar lembrado disso, mas aqui não houve alteração no preço da gasolina, durante a campanha eleitoral, o que deve ter gerado perdas para a Petrobras, ou pelo menos uma contabilidade distorcida.
Depois das eleições o preço subiu, subiu muito, e quando o petróleo despencou para menos de 60 dólares o barris, o preço interno não se moveu.

Conclusão: o brasileiro paga hoje uma das gasolinas mais caras do mundo, porque o governo resolveu "capitalizar" a Petrobras, que retem assim o dinheiro que deveria estar sendo "devolvido" aos consumidores.

Em qualquer hipótese, os preços no Brasil há muito deixaram de refletir as flutuações dos mercados internacionais (como aliás ocorre em países surrealistas no plano econômico como Venezuela e Irã).
Preços alinhados com os mercados internacionais são essenciais para refletir as verdadeiras condições econômicas em curso, para sinalizar aos investidores onde colocar o seu dinheiro, para estimular o uso de energias alternativas, enfim, por simples racionalidade econômica.
Se o governo mantem preços artificialmente baixos durante muito tempo, dá prejuizos à companhia, subsidia indevidamente a classe média que usa carro e estimula além da conta o consumo de um bem relativamente raro.

Se o governo por outro lado mantém preços absurdamente elevados, como faz agora, ele está extorquindo os consumidores, encarecendo o processo produtivo das empresas nacionais, fazendo-as menos competitivas no plano internacional.
Enfim, num ou noutro caso, ele deforma completamente as regras do jogo econômico e distorce as condições sob as quais uma empresa faz seus cálculos microeconômicos.

Existem muitas outras razões para a manipulação da Petrobras, algumas até de natureza mafiosa -- como o financiamento de sindicatos e de ONGs partidárias -- todas elas lamentáveis no plano da ética, da racionalidade econômica, da simples gestão administrativa.

Por essas e outras razões, os investidores internacionais -- que não são bobos ou mal informados como a média dos brasileiros (e isso não é preconceito, mas a simples realidade) -- tem desinvestido de ações da Petrobras, o que provocou a enorme queda revelada naquele editorial do Estadão.
Infelizmente, o Brasil tem primários conduzindo a sua economia e influenciando decisões importantes para o dia-a-dia dos contribuintes. Infelizmente somos reféns de ignaros em economia, se não formos objetos de chantagem de gente sem escrúpulos na gestão macroeconômica.
Infelizmente o Brasil não tem administradores nacionais à altura de suas responsabilidades, infelizmente não temos estadistas no comando da nação.

Paulo Roberto de Almeida
(10.10.2010)