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terça-feira, 7 de outubro de 2014

Eleicoes 2014: a divisao do Brasil, o projeto dos companheiros, enfim realizada (não como eles queriam...)

O Brasil, como queriam os companheiros, se descobre dividido. Sempre existiram desigualdades regionais e iniquiucanosdades sociais, o Brasil rico e o Brasil pobre, não com essa nitidez, mas num continuum, como ocorre em qualquer sociedade.
O que os companheiros fizeram foi acenturar as diferenças: nos e eles, as elites e o povo, os pobres e os ricos, os negros e os brancos, os progressistas e os conservadores, nós e os tucanos, enfim, sempre dividindo o país, e insistindo nessas divisões.
Pois eles conseguiram.
Agora vai ser preciso unir o país outra vez.
Paulo Roberto de Almeida


Um olhar atento para o mapa eleitoral
Luiz Carlos Azedo

É grande a ressaca no alto comando petista, que pela segunda vez precisa mudar de tática na campanha eleitoral: a primeira, após a morte do ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos, quando Marina passou Aécio; a segunda, agora, com o desfecho do primeiro turno, no qual o tucano se recuperou e ameaça abalar o favoritismo de Dilma Rousseff, tomando-lhe o lugar de liderança no segundo turno. À beira de um ataque de nervos, a petista aguarda as primeiras pesquisas dessa semana para saber se Aécio parou de crescer ou não.
Ontem, estrategistas das duas campanhas se reuniram com os candidatos para fazer um balanço do resultado das urnas e decidir o que fazer. Uma análise prospectiva leva à conclusão óbvia: o resultado das urnas foi melhor para Aécio do que se esperava. Dilma trabalhou na reta final para ganhar a eleição no primeiro turno, mas não atingiu o objetivo porque aconteceu o que parecia impossível: perdeu votos para o tucano. Para quem estava perdendo em Minas Gerais e enfrentou dificuldades para consolidar sua candidatura em São Paulo, Aécio Neves saiu no lucro. E que lucro!
Em São Paulo, estado no qual o tucano Geraldo Alckmin foi eleito com folga no primeiro turno (57,31% do total de votos) e José Serra teve uma votação consagradora para o Senado (58,49%), Aécio Neves teve 43, 7% dos votos; Dilma, 26,1%; e Marina 23,9%. Dificilmente os votos de Marina migrarão para a petista, sobretudo por causa dos duros ataques que sofreu durante a campanha. A captura desses votos por Aécio pode decidir a eleição a seu favor, caso consiga também reverter a situação eleitoral em Minas Gerais e abrir a porteira do Nordeste, com o apoio do clã Arraes em Pernambuco. Essa é a grande encruzilhada da eleição.
Dilma venceu em 15 estados, três a menos do que na eleição do ano passado, com destaque para o Piauí, Maranhão e Ceará, onde obteve mais de 70% dos votos. Aécio venceu em nove estados, sendo São Paulo, com 44% dos votos, o determinante para sua ida ao segundo turno. A maior vantagem de Dilma foi na Bahia, com 3 milhões de votos a mais do que Aécio. Em termos político, sua vitória mais expressiva foi a eleição de Fernando Pimentel (PT) em Minas Gerais, terra de Aécio Neves, mas eleitoralmente essa vantagem é muito relativa, por causa da votação apertada em relação ao tucano (43% a 39%), que pode reverter o resultado porque foi para o segundo turno. A mesma situação se repete do Rio Grande do Sul, onde Dilma venceu também por estreita margem: 43% a 41%, com Marina recebendo 12% dos votos.

Dois Brasis
Mais uma vez o resultado das urnas mostra um país dividido: o governo tem sua principal base de sustentação nos estados do Norte e Nordeste, com exceção de Roraima e Rondônia, onde Aécio venceu, Acre e Pernambuco, territórios de Marina. Aécio foi vitorioso no Centro-Oeste, com exceção de Tocantins; no Sudeste, graça a São Paulo e Espírito Santo; e no Sul, com exceção do Rio Grande do Sul. Grosso modo, do ponto de vista das alianças, Dilma sustenta a reeleição na aliança com as oligarquias dos estados de menor dinamismo econômico, enquanto Aécio alavanca sua candidatura na classe média dos estados economicamente mais desenvolvidos.
A política de transferência de renda para as populações mais pobres, que é feita pelas prefeituras municipais, cimenta essa aliança com forte base popular. Do ponto de vista do discurso eleitoral, logo após a apuração dos votos, a presidente Dilma Rousseff ensaiou o discurso do segundo turno, com duros ataques ao governo de Fernando Henrique Cardoso (1994-2002) e a reedição da estratégia do medo (do desemprego, do arrocho salarial, da perda dos direitos trabalhistas e a reversão dos programas sociais do governo). Essa é a velha cartilha petista contra o PSDB, a polarização ideológica direita versus esquerda e dos pobres contra os ricos, que costuma ser a marca registrada da retórica eleitoral do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Um olhar atento para o mapa eleitoral do país mostra, porém, que o eixo da disputa eleitoral pode ser o moderno contra o atrasado, a social-democracia contra o populismo, a sociedade contra o Estado, a democracia contra o autoritarismo, a Federação contra a centralização, que tende a ser a lógica do discurso de Aécio contra Dilma. Aquele que estiver em mais sintonia com os sentimentos do eleitor levará a melhor.

segunda-feira, 6 de outubro de 2014

Eleicoes 2014: o partido do atraso, do medo, da chantagem, os mafiosos neobolcheviques

Alguém se orgulha desses resultados?
Paulo Roberto de Almeida 
Vejam este mapa, em que o vermelho indica os Estados em que Dilma Rosseff (PT) venceu; o azul, aqueles em que o vitorioso foi Aécio, e os amarelinhos, os que Marina conquistou:
vitórias de candidatos estados
Votos de pessoas beneficiadas e não-beneficiadas por políticas assistencialistas valem igualmente. Ainda bem! Assim deve ser numa democracia. Votos de pessoas mais sujeitas e menos sujeitas às chantagens oficiais valem igualmente. Ainda bem! Assim deve ser numa democracia. Votos de pessoas suscetíveis a pregações terroristas e não suscetíveis valem igualmente. Ainda bem! A democracia não tem de criar restrições para o livre exercício da escolha. Mas isso não nos impede de fazer um diagnóstico.
O PT já é o maior partido de grotões do Brasil democrático em qualquer tempo. Querem ver? Dilma venceu em 15 Estados: oito estão no Nordeste, quatro no Norte, dois no Sudeste e um no Sul. Essas três exceções parecem negar a tese, mas só a confirmam. Explico por quê. Em Minas, a petista teve 43,48%, não tão distante de Aécio Neves, com 39,75%; Marina obteve 14%. No Rio, a candidata do PT alcançou 35,62%, quase o mesmo tanto da peessebista, com 31,07%; o tucano chegou a 26,84%. Os gaúchos deram à presidente-candidata 43,21%, quase o mesmo tanto que ao senador mineiro: 41,42%. Vale dizer: a vantagem do petismo não é acachapante.
Onde é que Dilma, de fato, fez a diferença e arrancou a primeira colocação: em oito estados nordestinos — a exceção é Pernambuco — e nos quatro nortistas. Nesse grupo, pasmem, a sua menor marca foi Alagoas, com 49,95%, e a maior foi no Piauí, o segundo estado com os piores indicadores sociais do país: 70,6%. A segunda maior foi no Maranhão, com 69,56% — sim, é a unidade da federação socialmente mais perversa. Assim, os dois Estados que oferecem a pior qualidade de vida à sua população são os mais “dilmistas”. Atentem para o desempenho da petista nos demais, em ordem decrescente: Ceará: 68,3%; Bahia, 61,4%; Rio Grande do Norte, 60,06%; Paraíba, 55,61%; Sergipe, 54,93%; Amazonas, 54,53%; Pará, 53,18%, Amapá, 51,1% e Tocantins: 50,24%.
Aécio obteve a sua melhor marca em Santa Catarina, com 52,89% dos votos, seguido por Paraná, com 49,79%. O Mato Grosso vem em seguida, com 44,47%, e eis que surge São Paulo, com 44,22%. O Estado deu a Aécio 10.152.688 dos seus 34.897.196 votos — isso corresponde a 29% do total; quase um terço. Minas, até agora, está em falta com Aécio. São Paulo não! Azulou de vez. Vejam o mapa.
São Paulo azulou

O Distrito Federal, que conhece bem o PT porque governado pelo partido e porque muito próximo de Dilma, deu à presidente o seu menor percentual: só 23,02%; o segundo menor foi justamente o colhido em terras paulistas: 25,82%.
Dois mapas ajudam a comprovar o que aqui se diz. Vejam o que aconteceu na Bahia — nas áreas em vermelho, o PT venceu:
Bahia vermelha
Agora vejam Minas. Como se nota, é a “Minas Nordestina” — ou baiana — que vota majoritariamente com Dilma.
Minas Vermelha
Muito bem! Aonde quero chegar? É evidente que os petistas colhem hoje os seus melhores resultados nas regiões do país que são mais dependentes do Bolsa Família. Isso não quer dizer, é evidente, que o programa tenha de acabar. Quer dizer apenas que ele precisa existir não como instrumento de um partido, mas como uma política de estado. Não é segredo para ninguém que, pela terceira eleição consecutiva, o terrorismo correu solto nas áreas mais pobres do país: “Se a oposição ganhar, o Bolsa Família vai acabar”. Ora, não era exatamente esse o sentido da campanha eleitoral do PT quando se referia à independência do Banco Central por exemplo? Se vier, assegura-se por lá, haverá fome. É um disparate.
Eis aí mais uma impressionante ironia da história, não é? O PT, que nasceu para ser o partido das massas urbanas trabalhadoras, é hoje uma legenda que se enraíza nos grotões e que arranca a sua força do subdesenvolvimento minorado pela caridade de Estado transformada em moeda política. Há uma grande diferença entre ter o voto dos pobres e chantagear os pobres com o discurso do medo.