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domingo, 4 de maio de 2014

O Brasil avestruz dos petistas e as multinacionais brasileiras - Marcos Troyjo

Ataque às multis brasileiras

Das 15 maiores economias do mundo, a do Brasil é a menos internacionalizada, tanto pelo pequeno número de empresas nacionais com presença no exterior como pela baixa participação no comércio mundial.
A insularidade incomoda há tempos. Desde que descoberto por Cabral há 514 anos, se excetuarmos os ciclos de commodities (cana-de-açúcar, café, etc.), raramente o Brasil contabilizou exportações superiores a 15 % do PIB.
A Suécia tem 10 milhões de pessoas e 200 empresas multinacionais (EMNs) O Brasil, 200 milhões de pessoas e apenas duas dúzias de companhias com atuação verdadeiramente global. A dimensão do mercado interno não é desculpa. Os EUA têm a mesma porcentagem do PIB ocupada pela soma de exportações e importações (cerca de 22%) que o Brasil — e dispõem de milhares de EMNs nos mais diversos portes e setores.
Dentre as economias mais avançadas do Ocidente ou mesmo aquelas da Ásia-Pacífico de maior crescimento relativo, a internacionalização é marcante. Japão, Coreia do Sul e China transformaram-se em “Nações-Comerciantes”. Fortaleceram o elo entre elevadas fatias do comércio mundial e EMNs robustas.
Já países como a Suíça contam com “empresas-rede”. A Nestlé é bom exemplo. Grande parte de sua atividade industrial e 98% da receita vêm de fora do país.
Há, assim, elo indissociável entre maior internacionalização e aprimoramento da competitividade.
Para empresas nacionais com vocação internacional, os obstáculos são complexos. O oneroso “Custo Brasil” atravanca a operação no país-sede. A não-participação brasileira em acordos plurilaterais de comércio e investimento inibe a presença de nossas companhias em redes produtivas globais.
Há, assim, elo indissociável entre maior internacionalização e aprimoramento da competitividade
É nesse contexto que parece particularmente esdrúxula a MP 627 aprovada pelo Governo, sobretudo a taxação de 35% sobre lucros oriundos de atividades no exterior. Trata-se de mais um fardo a erodir a posição competitiva de EMNs brasileiras em terceiros mercados.
A implantação de tal medida evidencia a ausência, por parte do governo, de qualquer rumo estratégico voltado à inserção competitiva do País no cenário global.
É gritante sua incoerência com a prática de financiar internamente empresas “campeãs nacionais” com créditos facilitados que, a cada ano, superam recursos destinados a programas de alívio da pobreza como o Bolsa-Família.
Assim, em vez de maior competitividade externa, o resultado é o aumento do grau de oligopolização do mercado interno e maior vulnerabilidade de empresas nacionais ante possíveis aquisições por parte de EMNs estrangeiras.
O discurso oficial brasileiro alardeia que nas últimas décadas o país conseguiu estabelecer três pactos: o da democracia (desde a segunda metade dos anos 80); o da estabilidade (com o Plano Real) e o da inclusão social (com as políticas de assistência social do período Lula-Dilma).
Seria agora o momento de um novo pacto (o da competitividade). No entanto, com medidas que cortam as asas da internacionalização brasileira, esse quarto pacto tem tudo para não sair do chão.

domingo, 22 de setembro de 2013

Multinacionais brasileiras (sem precisar do governo, muito pelo contrario) - Valor

Brasileiras rumam para o Vale do Silício

 Martha Funke | Para o Valor, de São Paulo, 21/09/2013

Benjamin Quadros, presidente da BRQ, que atende a Bolsa de Valores de Nova York: "A internacionalização permite experimentar modelos diferentes"
Na contramão de multinacionais que trazem ao Brasil áreas de desenvolvimento e inovação, um punhado de brasileiras ruma principalmente em direção ao Vale do Silício para chegar mais perto da inovação tecnológica mundial. Entre elas, alinham-se desde marcas tradicionais da TI nacional, como Totvs e Módulo, até especialistas em áreas novidadeiras como games ou mobile.
A presença internacional da TI brasileira começou há tempos. Na área de serviços, tem expoentes como a Stefanini, com mais de 20 escritórios espalhados pelo mundo. A BRQ é outro exemplo. Em 2008, comprou a americana ThinkInternational e hoje atende clientes como Nyse (a Bolsa de Valores de Nova York), Citibank e Cable Vision com cerca de 100 funcionários em Nova York. "A internacionalização permite experimentar modelos diferentes", diz Benjamin Quadros, presidente da empresa cujo faturamento este ano deve chegar a R$ 520 milhões - no ano passado, foram R$ 435 milhões.
Outros estão mais preocupados com desenvolvimento. A Totvs tem produtos localizados para 25 nacionalidades e vende tecnologia no exterior há tempos, mas no ano passado apostou em um centro de tecnologia no Silicon Valley, onde hoje tem um grupo multinacional de 20 engenheiros. "Estamos mais perto do que ainda vai surgir e com novas culturas vamos conseguir ser referência global", diz Weber Canova, vice-presidente de Tecnologia e Quality Assurance. A primeira missão do grupo foi fechar convênios com universidades como Stanford e San Jose. Também já foi liberada para o mercado nova versão da solução de gestão de identidade produzida lá.
A Exceda, fornecedora de soluções para melhoria de performance na internet, investiu R$ 6 milhões para estar presente em Nova York, Virginia, Flórida, Boston, Texas e Califórnia, onde se instalou em Palo Alto para buscar competência em tecnologia de nuvem. No fim do ano, lança solução de análise e gerenciamento de carga das aplicações de clientes desenhada com ajuda do novo CTO (chief technology officer) David Reisfeld. "Lá criamos os módulos, aqui, os códigos", diz Claudio Marinho, sócio da empresa que tem escritórios também na Argentina e no Chile e, em cinco anos, pretende ter metade de seu faturamento, de R$ 95 milhões em 2013, proveniente de clientes americanos.
Embora seja brasileiro, o diretor de produtos da Modulo também fica nos Estados Unidos. Há quatro anos, a empresa especializada em governança, risco e compliance (GRS) tem escritório em Atlanta com 30 funcionários - também presente no Canadá, México, na Inglaterra e Índia e, entre 600 clientes, uma centena é de fora do Brasil e cerca de 60 são norte-americanos. "A presença local dá visão melhor sobre ambiente competitivo, visão de mercado, grau de maturação e demanda dos clientes", diz CEO Sergio Thompson, cuja meta de crescimento é de 35% este ano, quando os negócios devem somar R$ 80 milhões, e 70% em 2014.
Já a Hive, desenvolvedora de games e fornecedora de soluções de mídia social, já investiu R$ 1,5 milhão na filial de São Francisco para estimular negócios e se aproximar do ambiente de inovação. Os quatro funcionários locais são encarregados de participar de eventos, estreitar parcerias e falar com quem precisa. Um dos exemplos é a plataforma Swarm, cuja capacidade de oferecer conteúdo personalizado com base em redes sociais e geolocalização exige integração com serviços como Waze e Foursquare. "Se quero falar com o cara que desenvolve o algoritmo, tem de ser lá", diz o CEO Mitikazu Koga Lisboa, o Miti. A Hive faturou no ano passado R$ 7 milhões e este ano deve chegar a R$ 9 milhões.
No caso da Movile, fornecedora de plataformas e aplicativos para dispositivos móveis com 250 funcionários, a chegada ao Vale do Silício coroa estratégia de globalização iniciada há seis anos e reforçada com aporte do MIH, braço de investimento do sul-africano Napster - a empresa já está presente na Argentina, Colômbia, Venezuela e no México. "O mercado da mobilidade trabalha muito rápido. Participar de eventos, competir com startups, conversar com empreendedores e empresas rende aprendizado", diz o co-fundador da empresa e head dos Estados Unidos, Eduardo Henrique, cuja presença local já rendeu parceria com a Boingo para expansão do localizador de redes Wi Fi gratuitas FreeZone.
A Predicta também buscou investidores depois que sua plataforma de tecnologia de segmentação comportamental BTBuckets ganhou versão na nuvem e, em 12 meses, chegou a mais de 100 países. "Isso deu exposição a demandas de clientes e formas de fazer negócios diferentes da nossa", conta o CEO Marcelo Marzona. A venda de fatia majoritária para a RBS, em 2011, permitiu buscar nos Estados Unidos profissional de desenvolvimento de negócios e desenvolver mais recursos e integrações na ferramenta para aproveitar a base instalada de parceiros como datacenters de hospedagem, que atuam como canais de distribuição.

Mesmo uma presença mais ligeira, colabora com a veia inovadora. A ContaAzul, sistema de gestão oferecido como serviço para micro e pequenas empresas, ganhou, além do capital inicial, quatro meses de mentoria em métricas, distribuição online e design quando se tornou a primeira brasileira a participar da iniciativa de aceleração 500 Startups. A experiência rendeu melhor visão do modelo de negócios e de financiamentos - a empresa teve apoio da Anjo do Brasil e do fundo Monashees, entre outros. Um dos aprendizados foi relacionado à criação da experiência do usuário. "Hoje os designers vão para a rua observar o comportamento do cliente, filmam o que ele fala e a gente faz uma seção pipoca para entendê-lo e melhorar a funcionalidade", diz o CEO Vinícius Roveda.