Das 15 maiores economias do mundo, a do Brasil é a menos internacionalizada, tanto pelo pequeno número de empresas nacionais com presença no exterior como pela baixa participação no comércio mundial.
A insularidade incomoda há tempos. Desde que descoberto por Cabral há 514 anos, se excetuarmos os ciclos de commodities (cana-de-açúcar, café, etc.), raramente o Brasil contabilizou exportações superiores a 15 % do PIB.
A Suécia tem 10 milhões de pessoas e 200 empresas multinacionais (EMNs) O Brasil, 200 milhões de pessoas e apenas duas dúzias de companhias com atuação verdadeiramente global. A dimensão do mercado interno não é desculpa. Os EUA têm a mesma porcentagem do PIB ocupada pela soma de exportações e importações (cerca de 22%) que o Brasil — e dispõem de milhares de EMNs nos mais diversos portes e setores.
Dentre as economias mais avançadas do Ocidente ou mesmo aquelas da Ásia-Pacífico de maior crescimento relativo, a internacionalização é marcante. Japão, Coreia do Sul e China transformaram-se em “Nações-Comerciantes”. Fortaleceram o elo entre elevadas fatias do comércio mundial e EMNs robustas.
Já países como a Suíça contam com “empresas-rede”. A Nestlé é bom exemplo. Grande parte de sua atividade industrial e 98% da receita vêm de fora do país.
Há, assim, elo indissociável entre maior internacionalização e aprimoramento da competitividade.
Para empresas nacionais com vocação internacional, os obstáculos são complexos. O oneroso “Custo Brasil” atravanca a operação no país-sede. A não-participação brasileira em acordos plurilaterais de comércio e investimento inibe a presença de nossas companhias em redes produtivas globais.
Há, assim, elo indissociável entre maior internacionalização e aprimoramento da competitividade
É nesse contexto que parece particularmente esdrúxula a MP 627 aprovada pelo Governo, sobretudo a taxação de 35% sobre lucros oriundos de atividades no exterior. Trata-se de mais um fardo a erodir a posição competitiva de EMNs brasileiras em terceiros mercados.
A implantação de tal medida evidencia a ausência, por parte do governo, de qualquer rumo estratégico voltado à inserção competitiva do País no cenário global.
É gritante sua incoerência com a prática de financiar internamente empresas “campeãs nacionais” com créditos facilitados que, a cada ano, superam recursos destinados a programas de alívio da pobreza como o Bolsa-Família.
Assim, em vez de maior competitividade externa, o resultado é o aumento do grau de oligopolização do mercado interno e maior vulnerabilidade de empresas nacionais ante possíveis aquisições por parte de EMNs estrangeiras.
O discurso oficial brasileiro alardeia que nas últimas décadas o país conseguiu estabelecer três pactos: o da democracia (desde a segunda metade dos anos 80); o da estabilidade (com o Plano Real) e o da inclusão social (com as políticas de assistência social do período Lula-Dilma).
Seria agora o momento de um novo pacto (o da competitividade). No entanto, com medidas que cortam as asas da internacionalização brasileira, esse quarto pacto tem tudo para não sair do chão.
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