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quinta-feira, 22 de maio de 2014

Alberto Oliva: um intelectual como poucos existem no Brasil... Revista de Filosofia

Vale a pena ler a entrevista completa, cuja dica me foi passada pelo blog do amigo Orlando Tambosi, cujo resumo da matéria completa é transcrita ao final desta primeira parte da entrevista.
Paulo Roberto de Almeida 
Revista Filosofia

Entrevista

Obsessão pelo conhecimento


Professor da UFRJ, o filósofo Alberto Oliva disserta sobre teoria do conhecimento, pensadores fundamentais, educação, política e, claro, sua trajetória


por Daniel Rodrigues Aurélio*


IFCS/UFRJ
Site do Instituto de Filosofia e Ciências Sociais da Universidade Federal do Rio de Janeiro (IFCS/ UFRJ):www.ifcs.ufrj.br. No Departamento de Filosofia da instituição lecionam nomes como Maria Clara Dias, Roberto Machado e Susana de Castro. Alberto Oliva dá aulas no Programa de Pós-Graduação em Lógica e Metafísica.
"Eu te amo"
Dirigido por Arnaldo Jabor, vencedor do Urso de Prata no Festival de Berlim (por "Toda nudez será castigada", de 1973), o drama "Eu te amo" (1981) teve em seu elenco Paulo César Peréio, Sônia Braga, Regina Casé, Vera Fischer e Tarcísio Meira.
Nascido na cidade do Rio de Janeiro no dia 10 de fevereiro de 1950, Alberto Oliva é um dos mais respeitados filósofos brasileiros no campo da filosofia da ciência e da teoria do conhecimento. Professor do Instituto de Filosofia e Ciências Sociais da Universidade Federal do Rio de Janeiro ( IFCS-UFRJ) desde 1979, Oliva lecionou cursos na Escola de Comando do Estado-maior do Exército (ECEME), instituição que lhe concedeu o título de professor emérito. Outra honraria recebida das Forças Armadas veio da Marinha do Brasil, que ofereceu ao professor a medalha Mérito Tamandaré.
Graduado em filosofia, mestre em comunicação e doutor em filosofia, titulações obtidas na UFRJ, Alberto Oliva cursou pós-doutorado Universitá Degli Studi di Siena na Itália. Consultor ad hoc da Capes, parecerista e membro do conselho editorial de revistas e editoras prestigiadas, Oliva publicou livros sofisticados, mas nem por isso deixou de lançar-se em um esforço de divulgação da filosofia e da ciência, seja como colunista de jornais, seja como autor de livros como "Teoria do conhecimento", lançado pela Zahar em 2011.
Na entrevista a seguir, Alberto Oliva narra seu período de formação, ocorrido em uma época complicada da história do Brasil, além de falar sobre seus autores favoritos, teoria do conhecimento, política e o panorama da educação no país.
Conhecimento Prático Filosofia: Para começar, conte-nos como foi o seu "despertar" para a filosofia.
Alberto Oliva: De família italiana pobre, sempre estudei em escolas públicas. Tive a ventura de ser aluno do Colégio Pedro II. No primeiro ano do curso clássico, em 1966, fui brindado com um excelente curso de história da filosofia ministrado por Eduardo Prado de Mendonça, que também era professor do IFCS (Instituto de Filosofia e Ciências Sociais) da UFRJ. Eduardo tinha a virtude de ensinar filosofia expondo seus grandes problemas e salientando a riqueza das respostas dadas pelas diferentes escolas de pensamento. Para o neófito, é o ideal. No segundo ano do curso clássico já tinha me decidido a fazer filosofia. Quando comuniquei a Eduardo minha opção, ele tentou me dissuadir. Argumentava que não deveria fazer filosofia em razão de minha família ser pobre e das dificuldades que encontraria para me profissionalizar. De fato, não eram nada alvissareiras as perspectivas de trabalho para o bacharel em filosofia. Nossa pós-graduação era incipiente. Capes e CNPq ainda não tinham uma política de fomento à pesquisa como a que se consolidou nas quatro últimas décadas. Mesmo atento à preocupação de Eduardo Prado, comecei a me preparar sozinho para o vestibular. Àquela altura já estava profundamente envolvido com a filosofia e seus fascinantes problemas. Acabei arrastado pelo maravilhamento - o thaumaston a que se refere Aristóteles no início da Metafísica - que leva à filosofia. Passei minha adolescência jogando futebol, embevecido com o cinema, principalmente com o neorrealismo italiano, e lendo avidamente histórias da filosofia. Meu envolvimento com a filosofia foi de tal ordem que dediquei os três anos de meu curso clássico quase que exclusivamente ao seu estudo. Pude fazê-lo porque as provas do vestibular eram exclusivas ao curso de filosofia. Lembro-me que fiz uma prova dissertativa de filosofia cuja principal questão era sobre as diferentes concepções de causa esposadas por Aristóteles e Spinoza. A prova de inglês foi a tradução de um texto. O resultado dado pelo próprio Departamento de Filosofia. Estou convencido de que esse tipo de vestibular possui regras de avaliação pedagogicamente superiores às hoje vigentes.


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O petismo, de pretenso partido renovador a arauto do patrimonialismo

O filósofo Alberto Oliva, professor da UFRJ e um dos raros intelectuais liberais do Brasil, fala de sua experiência como articulista do Jornal da Tarde nos anos 90, período em que viu o petismo se expandir para, mais tarde, já no poder, sofrer de "dogmatite aguda" e se converter em alavanca do patrimonialismo, acentuando a nossa tradição autoritária. Segue abaixo parte da entrevista que Oliva concedeu à revista Filosofia:
Quando fui convidado a escrever no Jornal da Tarde a direção tinha por objetivo ter dois grupos de articulistas: um afinado com as linhas mestras do pensamento de esquerda, outro com as do pensamento social-democrático, liberal ou conservador. Em nenhum de meus artigos desqualifiquei o governo Lula. O que entendia ser necessário à época fazer continua momentoso: uma crítica às ideias rançosas de uma esquerda que se recusa a sair do século 20. O Partido dos Trabalhadores (PT) em determinado momento de sua história se pretendeu renovador, crítico que foi de muitos aspectos do socialismo real. Só que com a chegada ao poder passou a sofrer de dogmatite aguda e começou, de forma saudosista, a querer fazer retroceder o relógio da história retomando, ainda que de forma gradualista, o estatismo, o controle da mídia, a crescente concentração de poder, o intervencionismo econômico. 

Como articulista, meu objetivo era promover um debate não entre direita e esquerda, mas entre dirigismo e liberalismo. Na Itália se travou um fecundo debate entre Croce, um liberal na política, mas não na economia, e Einaudi, um liberista, defensor da indivisibilidade e inseparabilidades das liberdades. Lamentavelmente, no Brasil a esquerda sempre depreciou as duas liberdades a ponto de considerar a velha e boa democracia ocidental como formal ou burguesa. Lula fareja as trilhas da política como poucos. Se tivesse usado todo seu carisma para fazer as reformas estruturais, complementares às introduzidas por Fernando Henrique Cardoso (FHC), o Brasil hoje estaria crescendo mais e de forma consistente. O que aconteceu é que diante do velho e arraigado patrimonialismo tupiniquim, o PT, por esposar uma visão estatista, quis fazer uma revolução "por dentro", isto é, alavancada pelo próprio patrimonialismo. A consequência, ainda que não pretendida, é a de levar o patrimonialismo às últimas consequências. Com o agravante de que, por sua matriz de pensamento, o PT tende a confundir (seu) governo com Estado. 

A meu juízo, o debate sobre isso é urgente. Só que ninguém deseja fazê-lo. Os intelectuais brasileiros são tão ideologizados que acham que, dependendo de quem está no governo, precisam optar pelo silêncio obsequioso. Dada a força do PT, discutir seu projeto de poder é de extrema importância para o futuro de nossa sociedade. Infelizmente, no Brasil quase tudo fica artificialmente polarizado. Em parte, porque o nível intelectual é baixo. Além do mais, nossa longa tradição autoritária sempre, disfarçadamente, dá um jeito de penetrar no mundo das ideias. Os grupos intelectuais hegemônicos procuram desqualificar a alteridade, a visão contrária. Dá menos trabalho, além de servir para arregimentar grupos ideologizáveis, rotular o outro, satanizá-lo. Sem falar que é uma forma sutil de desprestigiar a liberdade. (O texto na íntegra).

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