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domingo, 6 de abril de 2014

Xangai, que figura no primeiro lugar da educacao mundial, internacionaliza as suas escolas

Xangai, como se sabe, encontra-se em primeiro lugar nos exames do PISA. Não a China, mas Xangai, com todo o artificialismo -- e o stakanovismo educativo -- que isso possa representar. A cidade fez questão de preparar os seus alunos para os exames do PISA e eles responderam ao desafio.
Tendo vivido em Xangai durante boa parte do ano de 2010, quando esse grande salto estava sendo feito, posso testemunhar sobre essa realidade, pois inúmeras vezes vi jovens, crianças, saindo da escola no sábado em torno das 12hs, ou indo compensar algum feriado aos domingos. Esse é um esforço necessário para tirar o primeiro lugar.
Sacrificado para as crianças? Talvez, mas as famílias sabem que esse é o único caminho para sua ascensão social, num país altamente competitivo, e num mundo que oferece todas as oportunidades para a China.
Agora a cidade caminha para a internacionalização ampliada de suas escolas, públicas e privadas.
Enquanto os alunos do primário no Brasil são obrigados a perder tempo com estudos "afrobrasileiros" -- o que é uma mistificação e uma empulhação -- e com "portunhol" -- os alunos chilenos estão se preparando para se tornar bilingues em inglês em poucos anos, e os chineses, pelo menos os de Xangai, avançam rapidamente para colocar suas escolas no compasso dos países mais avançados.
Quando é que o Brasil vai aprender?
Acho que vai demorar.
Sinto muito dizer isto, mas SOU ABSOLUTAMENTE PESSIMISTA quanto ao futuro (ou falta de) da educação brasileira, hoje entregue à imbecilização freireana dos dinossauros do MEC e das faculdades de pedagogia. A idiotice e o atraso mental dos professores brasileiros me parecem irrecuperáveis pelos próximos anos, e com isso vamos afundando na mediocridade educacional.
Paulo Roberto de Almeida

City trial for international curriculum

A TOTAL of 21 local high schools have been chosen for a trial of international curriculum following a study by the Shanghai Education Commission, officials said yesterday.
The schools ­— 11 public schools and 10 private ones — will begin admissions from this year, providing an option of mixed Sino-foreign education for local students.
Students who want to learn international curriculum need to sit for a pre-admission exam held by the school. They must attend the city’s unified entrance exam for high schools as well, according to the SEC.
Even before the commission’s study last year, 33 schools had their own international curriculums since Shanghai began encouraging the measure to diversify school syllabus in a bid to meet different needs of a varying crop of students. For example, those who want to go abroad or those who are children of overseas returnees.
These schools offered 18 kinds of international courses, including IBDP (International Baccalaureate Diploma Program), A-level (General Certificate of Education Advanced Level) and AP (Advanced Placement).
The 21 schools were selected based on strict evaluation and discussions to ensure quality, the commission said.
Chinese language, ideology and politics, history and geography subjects will still be mandatory for students who opt for international syllabus as they are part of the national curriculum, said Ni Minjing, director of the SEC’s basic education department.
Ni said the integrated curriculum and textbooks will be scrutinized by the commission before classes begin.
Authorized public schools include No. 2 High School of East China Normal University, High School affiliated to Fudan University, and High School Affiliated to Shanghai Jiao Tong University.
Private schools include Shanghai International Studies University Xiwai International School and Shanghai United International School.

domingo, 22 de setembro de 2013

Multinacionais brasileiras (sem precisar do governo, muito pelo contrario) - Valor

Brasileiras rumam para o Vale do Silício

 Martha Funke | Para o Valor, de São Paulo, 21/09/2013

Benjamin Quadros, presidente da BRQ, que atende a Bolsa de Valores de Nova York: "A internacionalização permite experimentar modelos diferentes"
Na contramão de multinacionais que trazem ao Brasil áreas de desenvolvimento e inovação, um punhado de brasileiras ruma principalmente em direção ao Vale do Silício para chegar mais perto da inovação tecnológica mundial. Entre elas, alinham-se desde marcas tradicionais da TI nacional, como Totvs e Módulo, até especialistas em áreas novidadeiras como games ou mobile.
A presença internacional da TI brasileira começou há tempos. Na área de serviços, tem expoentes como a Stefanini, com mais de 20 escritórios espalhados pelo mundo. A BRQ é outro exemplo. Em 2008, comprou a americana ThinkInternational e hoje atende clientes como Nyse (a Bolsa de Valores de Nova York), Citibank e Cable Vision com cerca de 100 funcionários em Nova York. "A internacionalização permite experimentar modelos diferentes", diz Benjamin Quadros, presidente da empresa cujo faturamento este ano deve chegar a R$ 520 milhões - no ano passado, foram R$ 435 milhões.
Outros estão mais preocupados com desenvolvimento. A Totvs tem produtos localizados para 25 nacionalidades e vende tecnologia no exterior há tempos, mas no ano passado apostou em um centro de tecnologia no Silicon Valley, onde hoje tem um grupo multinacional de 20 engenheiros. "Estamos mais perto do que ainda vai surgir e com novas culturas vamos conseguir ser referência global", diz Weber Canova, vice-presidente de Tecnologia e Quality Assurance. A primeira missão do grupo foi fechar convênios com universidades como Stanford e San Jose. Também já foi liberada para o mercado nova versão da solução de gestão de identidade produzida lá.
A Exceda, fornecedora de soluções para melhoria de performance na internet, investiu R$ 6 milhões para estar presente em Nova York, Virginia, Flórida, Boston, Texas e Califórnia, onde se instalou em Palo Alto para buscar competência em tecnologia de nuvem. No fim do ano, lança solução de análise e gerenciamento de carga das aplicações de clientes desenhada com ajuda do novo CTO (chief technology officer) David Reisfeld. "Lá criamos os módulos, aqui, os códigos", diz Claudio Marinho, sócio da empresa que tem escritórios também na Argentina e no Chile e, em cinco anos, pretende ter metade de seu faturamento, de R$ 95 milhões em 2013, proveniente de clientes americanos.
Embora seja brasileiro, o diretor de produtos da Modulo também fica nos Estados Unidos. Há quatro anos, a empresa especializada em governança, risco e compliance (GRS) tem escritório em Atlanta com 30 funcionários - também presente no Canadá, México, na Inglaterra e Índia e, entre 600 clientes, uma centena é de fora do Brasil e cerca de 60 são norte-americanos. "A presença local dá visão melhor sobre ambiente competitivo, visão de mercado, grau de maturação e demanda dos clientes", diz CEO Sergio Thompson, cuja meta de crescimento é de 35% este ano, quando os negócios devem somar R$ 80 milhões, e 70% em 2014.
Já a Hive, desenvolvedora de games e fornecedora de soluções de mídia social, já investiu R$ 1,5 milhão na filial de São Francisco para estimular negócios e se aproximar do ambiente de inovação. Os quatro funcionários locais são encarregados de participar de eventos, estreitar parcerias e falar com quem precisa. Um dos exemplos é a plataforma Swarm, cuja capacidade de oferecer conteúdo personalizado com base em redes sociais e geolocalização exige integração com serviços como Waze e Foursquare. "Se quero falar com o cara que desenvolve o algoritmo, tem de ser lá", diz o CEO Mitikazu Koga Lisboa, o Miti. A Hive faturou no ano passado R$ 7 milhões e este ano deve chegar a R$ 9 milhões.
No caso da Movile, fornecedora de plataformas e aplicativos para dispositivos móveis com 250 funcionários, a chegada ao Vale do Silício coroa estratégia de globalização iniciada há seis anos e reforçada com aporte do MIH, braço de investimento do sul-africano Napster - a empresa já está presente na Argentina, Colômbia, Venezuela e no México. "O mercado da mobilidade trabalha muito rápido. Participar de eventos, competir com startups, conversar com empreendedores e empresas rende aprendizado", diz o co-fundador da empresa e head dos Estados Unidos, Eduardo Henrique, cuja presença local já rendeu parceria com a Boingo para expansão do localizador de redes Wi Fi gratuitas FreeZone.
A Predicta também buscou investidores depois que sua plataforma de tecnologia de segmentação comportamental BTBuckets ganhou versão na nuvem e, em 12 meses, chegou a mais de 100 países. "Isso deu exposição a demandas de clientes e formas de fazer negócios diferentes da nossa", conta o CEO Marcelo Marzona. A venda de fatia majoritária para a RBS, em 2011, permitiu buscar nos Estados Unidos profissional de desenvolvimento de negócios e desenvolver mais recursos e integrações na ferramenta para aproveitar a base instalada de parceiros como datacenters de hospedagem, que atuam como canais de distribuição.

Mesmo uma presença mais ligeira, colabora com a veia inovadora. A ContaAzul, sistema de gestão oferecido como serviço para micro e pequenas empresas, ganhou, além do capital inicial, quatro meses de mentoria em métricas, distribuição online e design quando se tornou a primeira brasileira a participar da iniciativa de aceleração 500 Startups. A experiência rendeu melhor visão do modelo de negócios e de financiamentos - a empresa teve apoio da Anjo do Brasil e do fundo Monashees, entre outros. Um dos aprendizados foi relacionado à criação da experiência do usuário. "Hoje os designers vão para a rua observar o comportamento do cliente, filmam o que ele fala e a gente faz uma seção pipoca para entendê-lo e melhorar a funcionalidade", diz o CEO Vinícius Roveda.

sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

Internacionalizacao do yuan: gradual, mas segura (Le Monde)


Du Japon au Soudan, la Chine développe l'utilisation du yuan dans le commerce

LEMONDE | 29.12.11 | 14h47   •  Mis à jour le 29.12.11 | 17h44


SHANGHAÏ (CHINE) CORRESPONDANCE - La Chine accélère l'internationalisation du yuan. Pékin a reçu, mercredi 28 décembre, une demande du Soudan, dont elle est le premier partenaire commercial, afin d'utiliser leurs monnaies respectives dans leurs échanges. Si les Chinois l'acceptent, "nous pourrions abandonner le dollar", a déclaré le gouverneur de la banque centrale soudanaise, selon l'AFP.

Depuis 2009, la Chine a déjà signé des accords de "swap", c'est-à-dire de compensation directe sur des montants plafonnés, avec de multiples banques centrales, surtout en Asie mais aussi avec l'Argentine ou la Nouvelle-Zélande. En décembre, de tels accords ont été conclus avec le Pakistan et la Thaïlande, permettant à leurs commerçants d'obtenir des yuans pour leurs transactions avec le premier exportateur mondial.
Une nouvelle étape a été franchie le 25 décembre, lorsque la Chine a signé avec le Japon un pacte prévoyant l'utilisation directe du yuan et du yen entre les deuxième et troisième économies mondiales, afin de "réduire le risque de change et les coûts de transaction", selon Pékin. Aucun calendrier n'est établi et les détails restent àdéfinir, mais cette étape est la dernière d'une "série progressive de signes montrant que Pékin est déterminé à développer un jour le yuan en tant que monnaie de réserve alternative viable", note Donna Kwok, économiste de la HSBC.
Le Japon s'est engagé au même moment à investir jusqu'à 10 milliards de dollars (7,7 milliards d'euros) de ses réserves dans le yuan. Malgré le montant limité au regard des colossales réserves de change des deux économies, c'est un coup de pouce au statut du yuan comme monnaie de réserve, le Japon étant le premier Etat du G8 à effectuer un placement dans des bons en yuans. "La Chine va poursuivrele processus d'internationalisation du yuan en 2012 malgré les incertitudes à l'international", prédit Mme Kwok.
MONNAIE DE RÉSERVE ALTERNATIVE
Pour Pékin, il est important de contribuer à l'émergence d'une monnaie de réserve alternative pour briser l'exposition aux politiques monétaires américaines. Mais une telle devise de stature internationale doit par nature être librement convertible, ce qui n'est pas le cas du yuan. Soucieuse de conserver un contrôle déterminant pour ses exportations, la Chine n'a pas suivi la méthode orthodoxe consistant àlibéraliser d'abord les taux de change : la Banque populaire de Chine ne tolère qu'un flottement de 0,5 % par rapport au taux-pivot qu'elle établit chaque jour pour le yuan. Elle n'a pas non plus levé les barrières aux flux de capitaux. "La Chine pourrait être le seul exemple d'un pays poussant sciemment l'internationalisation de sa monnaie tout en maintenant les contrôles de capitaux", relevait en novembreStephen Green, chef économiste de Standard Chartered en Chine.
D'où la vive curiosité sur cette internationalisation hybride. Au coeur de ces évolutions : Hongkong, où Pékin a laissé pousser au cours des dix-sept derniers mois un marché en yuan hors de ses frontières monétaires. La contrepartie est que les yuans positionnés à l'extérieur de la forteresse n'échappent pas au vent de marchés changeants. Ainsi, à la fin septembre, les yuans offshore furent-ils vendus massivement, aux côtés des autres devises asiatiques. Si les deux taux ne se séparèrent jamais de plus de 3 %, s'envola la présomption selon laquelle le yuan de Hongkong suit naturellement celui de Chine continentale.
Or le contexte actuel tendu pousse plutôt Pékin à se méfier d'un afflux de capitaux étrangers en quête de sécurité ou de spéculation en cas d'ouverture. "La Chine entend profiter des bénéfices attenants à une devise internationale mais la dernière chose qu'elle souhaite est une fusion du réacteur causée par une libéralisation mal évaluée des marchés financiers, dit Ren Xianfang, analyste d'IHS Global Insight.L'internationalisation restera donc largement limitée au compte commercial avec uniquement des tests limités sur le compte financier."
La prochaine étape dans l'ouverture sera de savoir comment recycler les yuans de Hongkong en Chine. "Tout dépend de la vitesse à laquelle s'ouvrira le compte de capital, résume Kelvin Lau, économiste de Standard Chartered. Mais avec le temps, et la levée des barrières, il va y avoir une convergence graduelle. Nous parlons là de nombreuses années."
Harold Thibault

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Amazonia subtraida: uma lenda renitente (e idiota)

Fazem mais de dez anos que circulam boatos em torno de uma suposta internacionalização da Amazônia (o que aliás seria bom, pois a Amazônia só foi "desenvolvida", de verdade, quando ela era internacionalizada, no ciclo da borracha. Depois voltou à sua modorra habitual).
Uma matéria do G1, pelo repórter Daniel Buarque, retoma a história dessa fraude monumental, que reproduzo logo abaixo.
Em meu site, pode ser encontrado um dossiê dessa lenda da internet.
Divirtam-se...
Paulo Roberto de Almeida

Mapa da Amazônia dividida é mentira deliberada, diz diplomata brasileiro
Daniel Buarque
G1, em São Paulo, 12/08/2010

Mapa adulterado da floresta circula na rede há uma década.
Governos dos EUA e do Brasil já investigaram e detectaram a montagem.

O falso mapa de livro didático que circula desde o ano 2000 com boato sobre a internacionalização da Amazônia

Na origem de um longo debate em que os brasileiros acham que os Estados Unidos querem invadir a Amazônia, e os americanos acham que o Brasil é paranoico está uma lenda urbana de mais de uma década, espalhada pela internet e reciclada periodicamente com popularidade surpreendente. Trata-se da história de que escolas dos EUA usam livros didáticos de geografia com um mapa da América do Sul adulterado, em que a região a amazônica aparece como “território internacional”. Por mais que a história já tenha sido desmentida oficialmente uma dúzia de vezes, muitos brasileiros ainda mencionam este caso sem saber exatamente se era verdade ou não, e até políticos brasileiros volta e meia pedem explicações oficiais do Ministério das Relações Exteriores sobre o assunto.

Desde as primeiras menções ao caso, ainda no ano 2000, representantes diplomáticos brasileiros nos Estados Unidos começaram a investigar as origens do que aparecia como mais um boato, uma lenda da internet. O diplomata Paulo Roberto de Almeida, que então trabalhava como ministro conselheiro na Embaixada do Brasil em Washington, averiguou rapidamente que a história circulava em listas universitárias de discussão, mas que suas bases factuais eram frágeis, praticamente inexistentes. Logo em seguida, ao pesquisar em bases de dados e examinar os materiais disponíveis, concluiu por uma montagem feita no próprio Brasil.”"Esta 'notícia' aparentemente tão alarmante não tem base", diz, em um longo dossiê que publicou sobre os boatos. "Posso, sem hesitar, afirmar que os Estados Unidos não querem amputar um pedaço da nossa geografia nas escolas do país e que os supostos mapas simplesmente não existem."

Em entrevista concedida nesta semana ao G1, direto de Shangai, na China, Almeida confirma o que já tinha constatado anos atrás: reiterou que os boatos lançados a esse respeito sempre foram nacionais, criados inteiramente no Brasil. Segundo ele, os americanos nunca tiveram nada a ver com o caso e, de certa forma, foram vítimas dele, tanto quanto os milhares de brasileiros enganados. “É preciso deixar claro que o mapa não é uma questão estrangeira. Ele foi feito por brasileiros e para brasileiros”, disse. “É uma construção, uma mentira deliberada”, completou. Segundo ele, que investigou o caso enquanto viveu nos Estados Unidos, é possível traçar a origem desses rumores a grupos de extrema direita militar no Brasil, interessados em preservar a soberania brasileira sobre a Amazônia, "supostamente ameaçada por alguma invasão estrangeira. Neste caso, recorreram à fraude deliberada para reforçar seu intento", explicou. Curiosamente, disse, a causa acabou abraçada pela extrema esquerda antiamericana, e a histórica cresceu com a ajuda da internet.

É preciso deixar claro que o mapa não é uma questão estrangeira. Ele foi feito por brasileiros e para brasileiros. É uma construção, uma mentira deliberada"
Paulo R. de Almeida, diplomata brasileiro

Almeida é doutor em Ciências Sociais, mestre em Planejamento Econômico e diplomata, autor de mais de uma dúzia de livros sobre o Brasil e relações internacionais, como "Os primeiros anos do século XXI: o Brasil e as relações internacionais contemporâneas". Em sua página pessoal na internet, ele reproduz seu dossiê sobre o caso, trazendo inclusive trechos da comunicação formal do então embaixador Rubens Antonio Barbosa negando a existência do mapa, que havia sido publicada no boletim da "Ciência Hoje" em maio do mesmo ano. A carta do embaixador, de junho de 2000, acusa um site brasileiro de criar a história. "Tudo parece ter originado, não de uma suposta 'conspiração americana' de desmembrar a floresta tropical amazônica, mas de desinformação 'made in Brazil' por setores ainda não identificados."

Repercussão
A negativa oficial não foi suficiente, e o caso continuou crescendo e chegou até mesmo ao Congresso Brasileiro. Primeiro foi a Câmara de Deputados, que em junho de 2000 fez um requerimento formal pedindo ao ministro das Relações Exteriores, Luiz Felipe Lampreia, informações a respeito da "matéria veiculada na internet na qual o Brasil aparece em mapas dividido." Depois disso, em 2001, foi no Senado. A página na internet do Senado traz um pronunciamento do senador Mozarildo Cavalcanti, do PFL de Roraima, de 29 de novembro de 2001, em que chama a internacionalização da Amazônia de "processo inteligentemente armado para anestesiar as camadas formadoras de opinião e evitar reação". Depois de ler todo o texto da denúncia que circulava pela internet, o senador apelou ao ministro das Relações Exteriores para que investigasse a fundo o assunto o "atentado à soberania do país".

A ideia é tão hilária que me sinto bobo de falar sobre ela."
Anthony Harrington, ex-embaixador dos EUA no Brasil

Segundo o diplomata brasileiro ouvido pelo G1, o mapa se transformou em um refúgio para quem busca teorias da conspiração. "Quem quer acreditar, acredita em qualquer coisa", disse Paulo R. Almeida, explicando o porquê de o caso continuar tão popular mesmo depois de ser rebatido com fatos. "Os americanos nem deram atenção ao caso, foram pegos de surpresa e de forma involuntária. Só o Brasil dá importância a esta invenção."

Resposta americana
Logo que o caso surgiu, no ano 2000, Anthony Harrington, então novo embaixador dos Estados Unidos no Brasil, tentou dar uma resposta oficial e final ao assunto. "Existem aqueles no Brasil que acreditam que os Estados Unidos querem dominar o mundo. Eles vêm o Tio Sam como o grande abusador. Típico desta forma de pensar é a crença de que os Estados Unidos têm um plano secreto de invadir a Amazônia em nome de salvar a Floresta Tropical. A ideia é tão hilária que me sinto bobo de falar sobre ela. Mas em nome de seguir adiante, de permitir que americanos e brasileiros possam passar aos assuntos sérios que enfrentamos juntos, deixe-me deixar isso claro: A Amazônia pertence ao Brasil. Sempre vai pertencer. E o mito de que os Estados Unidos invadiria é simplesmente ridículo. Ponto Final."

Segundo o embaixador, os americanos são fascinados pela floresta, tanto quanto a maioria das pessoas em todo o mundo, mas o interesse do país é apenas em colaboração com o Brasil, ajudando a desenvolver a região de uma maneira que seja inócua para o meio ambiente e faça justiça aos formidáveis recursos naturais que os brasileiros possuem. "A idéia de que tropas americanas possam intervir na Amazônia é ridícula. Sinceramente, não merece comentários."

Mesmo assim foi preciso voltar a tocar oficialmente no assunto, e a própria Embaixada Americana no Brasil manteve por algum tempo uma página de desmentido da história do mapa no ar. A página não existe mais no mesmo endereço. Entretanto, o site America.gov, que traz informações sobre política externa dos Estados Unidos e é produzido pelo Departamento de Estado, mantém no ar o texto do desmentido e os argumentos. A data da divulgação é de 2005, cinco anos depois do início da propagação do mito e três após a reportagem no principal jornal dos Estados Unidos.

Rebatendo o mito
A resposta oficial diz que o e-mail forjado surgiu em 2000. "Não há indicação de que tal livro exista. A Biblioteca do Congresso dos EUA, com mais de 29 milhões de livros e outros materiais impressos, não tem registro dele. O banco de dados online do centro de estudo WorldCat, o maior banco de dados de informação bibliográfica, com mais de 47 milhões de livros, não tem registro do livro. Tal livro também não é encontrado em buscas na internet na Amazon e no Google" .

O primeiro argumento usado para refutar a veracidade do livro é gramatical: "Muitos erros de grafia, gramática, tom inapropriado e linguagem" que são evidentes para um falante nativo de inglês. A resposta oficial do governo americano, apesar de ter demorado quase meia década, parte na mesma direção do embaixador brasileiro Rubens Antonio Barbosa, indicando que o trabalho aparenta ser uma invenção "made in Brazil" para criar "desinformação". O Birô Internacional de Programas de Informação continua seu texto apontando que "alguns dos erros de grafia nesta falsificação indicam que o falsificador era um falante nativo de português", diz, citando exemplo como a palavra "vegetal", que aparecia na mensagem original no lugar de "vegetable".

A criação da 'Prinfa' foi um presente para o mundo todo visto que a posse destas terras tão valiosas nas mãos de povos e países tão primitivos condenariam os pulmões do mundo ao desaparecimento e à total destruição em poucos anos"
Texto falso divulgado junto com lenda urbana sobre livro didático

O mapa
Esta duradoura mentira circula há anos pela rede trazendo a imagem de um suposto mapa de livro de geografia usado nas escolas dos Estados Unidos em que aparece um pedaço da Amazônia como sendo um território sob “responsabilidade dos Estados Unidos e das Nações Unidas”. Esta área, que inclui partes do Brasil e de outros países da região, teria sido renomeada, ainda nos anos 1980, para Finraf (Former International Reserve of Amazon Forest), traduzida, na mensagem de alerta que dizia se tratar de uma história real, para Prinfa (Primeira Reserva Internacional da Floresta Amazônica).

A mensagem, que circulou por e-mails e blogs, é sempre a mesma. Um “alerta”, algo “para ficar indignado”, incluindo uma página copiada do suposto livro “An Introduction to Geography”, onde aparece o referido mapa do Brasil “amputado” e um texto sobre a “reserva internacional”.

O texto do livro é preconceituoso e ofensivo, e foi traduzido de um inglês pobre para um português cheio de erros de grafia e gramática: “Desde meados dos anos 80 a mais importante floresta do mundo passou a ser responsabilidade dos Estados Unidos e das Nações Unidas. (...) Sua fundação [da reserva] se deu pelo fato de a Amazônia estar localizada na América do Sul, uma das regiões mais pobres do mundo e cercada por países irresponsáveis, cruéis e autoritários. Fazia parte de oito países diferentes e estranhos, os quais, em sua maioria, são reinos da violência, do tráfego de drogas [sic], da ignorância, e de um povo sem inteligência e primitivo. A criação da Prinfa foi apoiada por todas as nações do G-23 e foi realmente uma missão especial para nosso país e um presente para o mundo todo visto que a posse destas terras tão valiosas nas mãos de povos e países tão primitivos condenariam os pulmões do mundo ao desaparecimento e à total destruição em poucos anos” .

Para dar credibilidade à história, a mensagem alega que a fonte da informação foi um jornal, sem muitos detalhes sobre a publicação do caso. Mesmo sem uma base de informação mais forte, a história se espalhou pelo Brasil e ganhou atenção até nos próprios Estados Unidos, onde foi rechaçada repetidas vezes, como em 2002, quando foi ironizada pelo "New York Times" como "claro, pura imaginação. A imaginação brasileira" . O título da matéria era algo como "No fundo do Brasil, uma viagem de paranoia".

Ainda em 2010, o Google tem mais de 1.200 retornos para a busca internacional pela sigla Finraf. Traduzindo a sigla para Prinfa, são mais de 3.000 páginas registrando alguma informação a respeito dessa história. São dezenas de blogs pessoais, páginas de jornais de diferentes lugares do Brasil, perguntas em fóruns. Muitos já tratam o assunto como mito, lenda urbana, e dizem que o mapa se tornou apenas uma curiosidade na internet. Não faltam, entretanto, as páginas que ainda reproduzem o assunto (algumas com datas tão recentes quanto 2009) com tom indignado e alegando se tratar de uma denúncia real.

Saiba mais:
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