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terça-feira, 24 de setembro de 2013

OMC: Protecionismo comercial brasileiro em servicos, abertura da China

Desde os anos 1980, o Brasil recusa, persistentemente, qualquer abertura em serviços. Com isso, perde mercados no mundo e mantém nefastos cartéis domésticos num mercado interno protegido e prejudicial aos brasileiros.
Paulo Roberto de Almeida

China adere e Brasil se isola na negociação de serviços

Por Assis Moreira | De Genebra

Valor Econômico, 24/09/2013


A China quer entrar nas negociações de um acordo liderado pelos Estados Unidos para liberalização mais acelerada no setor de serviços. A decisão de Pequim, que surpreendeu os americanos e outros parceiros na cena comercial, poderá deixar o Brasil isolado nas discussões do comércio internacional de serviços, que movimenta US$ 4 trilhões por ano e é um dos mais dinâmicos da economia mundial.
Washington lançou o "Trade In Services Agreement" (Tisa) em 2012, em resposta ao impasse nas negociações da Rodada Doha. Aderiram às discussões a União Europeia (28 países), Austrália, Canadá, Chile, Colômbia, Costa Rica, Hong Kong, Islândia, Israel, Japão, Liechtenstein, México, Nova Zelândia, Noruega, Paquistão, Panamá, Paraguai, Peru, Coreia do Sul, Suíça, Taiwan e Turquia. Até recentemente, os grandes emergentes, como China, Brasil e Índia, se recusavam a fazer parte do Tisa, argumentando que isso diminuiria as chances de acordo na Rodada Doha.
As discussões no Tisa foram centradas, inicialmente, na atualização das regras existentes do Acordo de Serviços. EUA e Japão submeteram as primeiras ofertas de acesso aos mercados, impulsionando assim compromissos efetivos de mais liberalização dos participantes.
A China deu agora uma reviravolta, aparentemente reconhecendo a importância do setor. Projeta tornar-se grande investidor estrangeiro direto também nesse segmento. Além disso, mesmo se houver acordo limitado em Bali, a negociação de Doha ainda pode demorar muito. Por isso, os chineses buscaram americanos e europeus para aderir a essa negociação plurilateral (com numero limitado de participantes).
Os americanos mostram-se cautelosos. É que a China aderiu também ao Acordo de Tecnologia da Informação (ITA, na sigla em inglês) e desde então impediu qualquer avanço.
Assim, apesar do interesse no gigantesco mercado chinês, os EUA vão segurar por um momento a entrada da China até ter garantias de que Pequim assumirá compromissos de liberalização. De outro lado, a China não quer entrar colocando já de saída suas cartas na mesa.
Enquanto o Brasil recusa a negociação em serviços, mais países estão se movendo em busca de acordos em setores com enorme potencial de negócios.
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Brasil e OMC

Rubens Barbosa


Rubens Barbosa é presidente do Conselho de Comércio Exterior da Fiesp

Pelo trigésima segunda vez, realizou-se no Rio de Janeiro o encontro nacional dos exportadores (Enaex). O maior e mais importante evento de comércio exterior j no Brasil, como em muitas outras vezes, não contou com os principais responsáveis pelo setor no Governo federal, frustrando cerca de 500 participantes, empresários e interessados.
Participei, representando a Fiesp, de painel sobre o multilateralismo, com ênfase nas negociações comerciais e no encontro ministerial da OMC em Bali, em dezembro.
Com o fracasso das negociações multilaterais da Rodada de Doha, a Organização Mundial de Comércio (OMC) está paralisada. Com 159 membros, a OMC mantém uma estrutura superada e um processo decisório difícil de formar consensos, que tem de ser aperfeiçoado.
No encontro ministerial de Bali em dezembro, os países membros tentarão retomar o processo negociador da Rodada de Doha, mas encontrarão dificuldades pela baixa prioridade que os EUA e a Europa atribuem, no momento, à retomada dos entendimentos. Estão sobre a mesa acordos de facilitação de comércio, de segurança alimentar, acordo plurilateral de serviços e isenções tarifárias para os países de menor desenvolvimento relativo. Caso não seja possível retomar os entendimentos sobre a Rodada de Doha, o novo diretor da OMC, o brasileiro Roberto Azevedo, terá de concentrar-se em uma agenda reformulada para ser discutida pós-Bali.
Um dos grandes desafios da OMC para o próximo ano será a forma como serão tratadas as inúmeras regras que estão sendo incorporadas aos acordos de livre comércio de última geração: mega acordos como o acordo dos EUA com países asiáticos, o acordo entre os EUA e Europa e dezenas de bilaterais. Esses acordos incorporam as formas modernas de comércio representadas peia integração das cadeias produtivas e tratam de competição, serviços, propriedade intelectual, compras governamentais, investimentos, barreiras sanitárias, meio ambiente e regras trabalhistas. Desse modo, a OMC, que busca a liberalização comercial pela redução das barreiras tarifárias e não tarifárias na fronteira, está fora das negociações para a implementação de regras de última geração que interferem com políticas dentro do território dos países.
O Brasil está em desvantagem nessa discussão pelo seu isolamento nas negociações dos acordos comerciais, pela distância das cadeias produtivas globais e pela vulnerabilidade do seu setor externo.
Fiz duas sugestões sobre o que fazer diante dos grandes desafios interno e externo do comércio exterior brasileiro:
* definir uma nova estratégia de negociação comercial externa que inclua o aprofundamento dos acordos regionais no âmbito da Aladi e acordos com os países desenvolvidos, que possam aportar inovações tecnológicas e integrar as empresas brasileiras nas cadeias produtivas, como o acordo com a União Europeia (se necessário, desvinculado dos parceiros do Mercosul);
* modificação na estrutura decisória do comércio exterior para elevar o nível burocrático de seu tratamento com a criação da função de presidente da Camex, subordinado diretamente ao presidente da Republica.

terça-feira, 10 de setembro de 2013

Dois protecionistas num governo protecionista: Fazenda e MDIC discutema protecao...

Comércio exterior

Camex adia decisão sobre imposto de importação

Impasse entre Fazenda e Mdic atrasa definição sobre lista de cem produtos que tiveram a alíquota elevada no ano passado

Veja.com, 09/09/2013

Um impasse entre o Ministério da Fazenda e o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (Mdic) fez com que a Câmara de Comércio Exterior (Camex) adiasse a decisão sobre a redução do Imposto de Importação para cem produtos que foram colocados na Lista de Exceção à Tarifa Externa Comum (TEC) em outubro do ano passado.
No início de agosto, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, anunciou que o governo não iria prorrogar a lista, que vence no final deste mês, o que significaria uma redução das tarifas para estes itens, na sua maioria insumos para a indústria de bens de capital. Segundo a Camex, o assunto foi retirado da pauta da reunião que ocorreu na tarde desta segunda-feira.
Em nota, o Mdic limitou a informar que "haverá uma nova análise dos produtos para verificar se é pertinente a manutenção de determinados bens em outros mecanismos tarifários". O ministro Mantega anunciou o fim da proteção tarifária para ajudar no controle à inflação e reduzir o custo da indústria nacional que importa estes insumos.
No entanto, na semana passada, o secretário de Comércio Exterior do MDIC, Daniel Godinho, disse que alguns produtos poderão ser mantidos com alíquota atual. A declaração levou Mantega a desautorizar o secretário. Ele reafirmou a decisão do governo de reduzir o Imposto de Importação desses cem produtos. Mas há no MDIC quem defenda que, apesar da alta do dólar, alguns setores ainda precisam de proteção tarifária.
Entre os cem produtos estão itens de bens de capital, de siderurgia, petroquímica e medicamentos. Grande parte das alíquotas, que variavam entre 12% e 18%, passou para até 25%. Se aprovado pela Camex, retornarão ao patamar mais baixo. O Imposto de Importação vale para as compras brasileiras de países que não pertencem ao Mercosul, grupo formado por Brasil, Argentina, Uruguai, Paraguai e Venezuela.
(Com Estadão Conteúdo)

sexta-feira, 6 de setembro de 2013

Ainda nao consegui entender; quem conseguir me explique...

Medidas de caráter monetário são, em princípio, para estímulo interno à economia. Tarifas, em princípio, são usadas para regular comércio exterior.
Juntar as duas coisas me parece um tanto esdrúxulo.
Quanto à volatilidade, ela se manifesta, em princípio,quando um governo faz várias coisas contraditórias ao mesmo tempo, como, por exemplo, pretender rigor fiscal e simultaneamente estimular o consumo doméstico.
Enfim, alguém precisa lembrar certas coisas...
Paulo Roberto de Almeida

Reunião do G20

Ao menos no discurso, Dilma condena 'protecionismo'

Veja.com, 6/09/2013

No mesmo evento em que a presidente dirigiu críticas às medidas de estímulos monetários, por considerá-las 'protecionistas', ela votou contra um acordo que impede a adoção de novas medidas de entrave comercial

Apesar de o Brasil ter votado contra um acordo que impede a adoção de novas medidas protecionistas pelos países - o chamado "Stand still", a presidente Dilma Rousseff afirmou, nesta sexta-feira que o Brasil "repudia todas as formas de protecionismo" no comércio exterior. Antes de deixar a Rússia, onde participou da reunião de cúpula do G-20, a presidente comentou que uma das "novas" formas de protecionismo é a oscilação das moedas, fator que afeta a competitividade dos países no comércio.
"O Brasil repudia todas as formas de protecionismo. As novas também. Repudiamos as (políticas protecionistas) tradicionais e repudiamos as não tradicionais derivadas, por exemplo, das políticas monetárias não convencionais expansionistas que produziram num primeiro momento a valorização das moedas vis-à-vis o dólar e agora, na saída, vão provocar o efeito oposto", disse a presidente Dilma que comparou políticas monetárias relaxadas adotadas pelos Estados Unidos, pela Europa e pelo Japão às "novas medidas" protecionistas. Dilma, porém, não citou nomes dos países que optaram por essa estratégia.
Para a presidente brasileira, o ideal é não ter na economia global movimentos dessa natureza "nem de um lado nem de outro". "Nós queremos estabilidade, uma baixa volatilidade, uma maior tranquilidade no que se refere aos efeitos das decisões dos países nas políticas domésticas. Essa foi uma questão que foi muito insistida", disse, ao comentar a discussão durante os dois dias de cúpula do G-20.
Apesar de não citar nomes, a presidente brasileira disse que "tudo o que é país emergente ou em desenvolvimento estava reclamando sobre o tema" durante a reunião de cúpula do G-20. 
A presidente disse ainda que a perspectiva de reversão da política monetária nos EUA é um tema de especial preocupação dos países emergentes e em desenvolvimento no G-20. "Todos os participantes entendem que é importante haver um papel de coordenação das políticas econômicas, especialmente nas economias avançadas do G-20", disse.O
"Ao sair da atual política monetária, especialmente no caso do Fed (Federal Reserve, o banco central norte-americano), o que não for bem comunicado, e se não for feito de uma forma muito cuidadosa, pode afetar países em desenvolvimento", afirmou Dilma Rousseff. A presidente reforçou ainda a defesa de reforma de instituições como o Fundo Monetário Internacional (FMI) e também do sistema financeiro global.
(com Estadão Conteúdo)

Solidariedade com o protecionismo argentino, e em defesa do proprio - Editorial Estadao

Vexame em São Petersburgo

Editorial O Estado de S.Paulo, 06 de setembro de 2013

O governo petista surpreendeu mais uma vez, conseguiu superar-se e atingiu um novo patamar de incompetência diplomática, ao se alinhar, em São Petersburgo, ao conhecido e desmoralizante protecionismo argentino. Em mais um vergonhoso pas de deux, a delegação brasileira uniu-se à argentina, na quarta-feira, para se opor à inclusão, no documento final da reunião de cúpula do Grupo dos 20 (G-20), de um compromisso a favor do livre-comércio.

Desde a primeira reunião, em 2008, no começo da crise, líderes das maiores economias desenvolvidas e em desenvolvimento têm reafirmado a intenção de evitar novas medidas protecionistas. A atitude brasileira é duplamente desastrada. Além de confirmar a vocação protecionista do governo, pode ser embaraçosa para o novo diretor-geral da Organização Mundial do Comércio (OMC), o brasileiro Roberto Azevêdo.
Eleito para chefiar uma entidade global, com 159 países-membros, ele está proibido, assim como a francesa Christine Lagarde, diretora-gerente do Fundo Monetário Internacional, de agir em nome dos interesses de seu país. Mas nunca deixará de ser lembrado como um diplomata brasileiro, apoiado por seu governo, como todos os concorrentes, na disputa do cargo. Como agirá na administração do sistema comercial, poderão perguntar autoridades de outros países, um funcionário eleito com o apoio de um governo abertamente protecionista? A única defesa de Roberto Azevêdo, diante do embaraço, é a reputação conquistada por seu esforço nos anos de atuação diplomática na OMC.
De qualquer ponto de vista é indefensável a posição brasileira, em São Petersburgo, em relação ao compromisso comercial. As promessas formuladas em reuniões do G-20 nem sempre têm sido cumpridas. Mas a multiplicação de barreiras, nos últimos cinco anos, foi menor, segundo especialistas, do que se poderia temer numa fase de estagnação e até de recessão nos maiores mercados. Brasil e Argentina estiveram entre os campeões do protecionismo, nesse período. Mas nunca haviam chegado a renegar oficialmente, perante a comunidade internacional, a prioridade do livre-comércio de mercadorias.
Brasil, Argentina, Rússia e Ucrânia aparecem com destaque num relatório da União Europeia sobre medidas protecionistas adotadas a partir de 2008. O relatório é especialmente comprometedor quando se refere ao período mais recente. De acordo com o documento, 154 novas barreiras foram impostas entre maio de 2012 e maio de 2013 e o Brasil seria responsável por mais de um terço, seguido por Argentina e Índia.
Nem toda elevação de tarifas contraria as normas internacionais. O Brasil ainda tem espaço para aumentar tarifas, argumenta a delegação brasileira. Mas nem por isso a ampliação de restrições deixa de ser prejudicial ao comércio, especialmente num período de baixo dinamismo internacional.
Curiosamente, a economia brasileira foi muito mais prejudicada pelo protecionismo argentino, a partir de 2008, do que pelas barreiras encontradas nos mercados mais desenvolvidos e mantidas, na maior parte, sem alteração.
As barreiras impostas pelo vizinho continuarão em vigor pelo menos por mais dois anos, como anunciou há poucos dias o governo da presidente Cristina Kirchner. Esse mesmo governo pretende prolongar o regime de comércio administrado para o setor automobilístico. Esse regime foi prorrogado várias vezes, com adaptações sempre ditadas pelos argentinos.
As autoridades brasileiras sempre aceitaram as imposições de cabeça baixa e ainda recomendaram atitude semelhante aos industriais brasileiros. A mesma atitude prevaleceu quando se decidiu suspender o Paraguai do Mercosul para facilitar o ingresso da Venezuela bolivariana.
Também nas negociações com a União Europeia o governo brasileiro se curvou ao protecionismo argentino. Essa é uma das causas principais do emperramento dessas negociações. Em São Petersburgo, no entanto, a diplomacia petista levantou a costumeira bandeira da mediocridade com vigor surpreendente até para os mais pessimistas.

sexta-feira, 2 de agosto de 2013

Comercio exterior, noticias ruins em todas as frentes...

Argentina y Brasil aislados en acuerdo contra protecionismo
El Observador (Uruguai), 2/07/2013

Rechazan extender hasta 2016 compromiso del G-20 para de no afectar comercio e inversiones

Brasil y Argentina están aislados en el G-20, grupo de las economías desarrolladas y emergentes, en su rechazo de extender hasta 2016 un compromiso para que los países no adopten medidas que afecten el comercio y las inversiones.

Desde 2008, en cada cumbre de líderes del G-20, el grupo de naciones que representan el 90% de la producción mundial se compromete a rechazar el proteccionismo. Ese pacto se renovó en Los Cabos (México), el año pasado, hasta final de 2014, incluyendo la promesa de retroceder en caso de cualquier nueva medida proteccionista adoptada con anterioridad.

Para la cumbre de septiembre en San Petersburgo, Rusia, en la mesa de negociaciones está la propuesta de extender el compromiso por otros dos años, en medio del reconocimiento de que la economía global no salió de la crisis, continúa debilitada y el comercio internacional se expande lentamente.

El compromiso es importante desde el punto de vista político, a pesar de que siempre fue un fracaso. La Organización Mundial de Comercio (OMC) muestra que en los países del G-20 se implementaron más de cien medidas restrictivas al comercio en los últimos siete meses. Brasil siempre resistió al compromiso de “standstill”, conforme el vocabulario de la OMC. Esta vez la posición brasileño sorprendió a los negociadores al menos por dos razones. Por un lado, Brasil se aísla con Argentina en una situación que se ve como desnecesaria y que alimenta fricciones, cuando el propio ministro de Economía brasileño, Guido Mantega, anunció recientemente que ahora, con el real desvalorizándose, planea reducir algunos aranceles de importación para aliviar el costo de sectores industriales.

Además, el brasileño Roberto Azevedo, nuevo director general de la OMC, deberá ser uno de los mayores defensores del entendimiento anti-proteccionismo. Azevedo participará en San Petersburgo de su primer G-20 con el mismo discurso de cualquier jefe de la OMC, de que el comercio puede ser un motor de crecimiento y una fuente de fuerza para la economía global, y no ser visto como una fuente de inestabilidad y tensión.

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Argentina cai no ranking de exportadores para o Brasil
Clarín (Argentina), 2/07/2013

Segundo os dados de julho, a Argentina foi superada pela Nigéria entre os principais exportadores para o mercado brasileiro. Agora, a Argentina está no quarto posto. Em julho, o País registrou déficit com o vizinho, apesar das barreiras comerciais que afetam também produtos brasileiros.

O ranking dos principais vendedores para o Brasil agora é assim: China, Estados Unidos, Nigéria e Argentina.

Em julho, enquanto a China e os Estados Unidos exportaram mais de US$ 3 bilhões para o Brasil, a Nigéria marcou US$ 1,8 bilhões e a Argentina quase US$ 1,5 bilhões. 

O aumento da compra de petróleo nigeriano, por parte do Brasil, foi um dos principais motivos para este novo quadro.

As exportações argentinas para o Brasil representaram, em julho, 6,5% do total importado pelo Brasil - principal sócio comercial argentino.

São dados da consultoria Abeceb, de Buenos Aires, com base nos números do Ministério brasileiro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, de primeiro de agosto.

Por sua vez, o déficit comercial argentino, de quase US$ 400 milhões com o Brasil corresponde a seu já histórico resultado na relação bilateral, de acordo com análise da Abeceb.

Em termos gerais, o comércio bilateral registrou aumento de 18,7% em julho em relação ao mesmo mês de 2012, com um total de US$ 3.3 bilhões.

O resultado foi, porém, deficitário para a Argentina porque as importações feitas pelo País, do Brasil, aumentaram, mas suas exportações para o mercado brasileiro não responderam o mesmo ritmo.

De acordo com o estudo da Abeceb, o déficit de julho corresponde a uma questão “estrutural do comércio”.

Vale recordar que a moeda brasileira, o real, está valorizada na comparação com o peso argentino - o que tradicionalmente foi preocupação do setor industrial argentino que temia e teme que um real desvalorizado tire a competitividae dos produtos nacionais.

Em julho, as compras argentinas do Brasil subiram 25,2% em relação ao mesmo mês de 2012 – sendo de cerca de US$ 1,8 bilhões.

Já as exportações argentinas para o mercado vizinho foram de pouco mais de US$ 1,4 bilhões –  11,3% acima do que foi registrado em julho de 2012.  As duas economias estão em processo de menor crescimento, segundo dados oficiais do Brasil e de acordo com previsões do setor privado argentino.

Entre os principais produtos desta balança comercial destacam-se os que compõem o setor automotivo.

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Brésil : Le commerce extérieur se dégrade, baisse des exportations
Les Échos (França), 2/07/2013

Le Brésil a accusé en juillet un déficit commercial pour le quatrième mois depuis le début de l'année, selon des statistiques publiées jeudi qui laissent craindre un solde négatif pour l'ensemble de 2013 - une situation que le pays n'a plus connue depuis plus d'une décennie.

Le déficit des échanges extérieurs s'est monté à 1,897 milliard de dollars (1,44 milliard d'euros) le mois dernier, alors que huit économistes interrogés par Reuters tablaient en moyenne sur un excédent de 480 millions.

Le Brésil, gros exportateur de matières premières comme le soja ou minerai de fer, avait enregistré un excédent de 2,39 milliards en juin.

Depuis le début de l'année, le pays a accumulé un déficit commercial de 4,989 milliards de dollars, à comparer à un excédent de 9,9 milliards sur les sept premiers mois de 2012.


Les exportations pâtissent à la fois de la baisse de valeur des produits brésiliens et d'une demande plus faible à l'étranger. Les importations, à l'inverse, sont restées robustes malgré la dépréciation de la monnaie brésilienne face au dollar.

terça-feira, 18 de junho de 2013

Contra o protecionismo... dos outros (o nosso pode...) - Abimaq e outras maquinacoes...

Protecionismo confronta a indústria e os importadores, em lista da Camex
Brasil Econômico, 18/06/2013

A lista de produtos que terão aumento do Imposto de Importação, a ser divulgada este ano pela Câmara de Comércio Exterior (Camex), está gerando atrito entre duas associações industriais.
De um lado, a Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq); de outro, a Associação Brasileira dos Importadores de Máquinas e Equipamentos (Abimei).
Entre os 262 itens pedidos à Camex para serem onerados, 55 deles são da categoria de bens de capital - grande parte pleiteada pela Abimaq sob o argumento de proteger a indústria nacional.
Entre os produtos, constam artigos básicos da indústria de transformação de metais, como tornos, motores elétricos e máquinas para serrar.
Em sua maioria, os bens possuem poucos fabricantes nacionais. Em um dos casos, o de tornos convencionais, apenas uma empresa instalada no Brasil tem produção nacional comprovada.
No total, 100 itens deverão ter suas alíquotas elevadas para até 35%, limite imposto pela Organização Mundial do Comércio (OMC).
Segundo fontes próximas à Camex, a lista será publicada entre setembro e outubro deste ano.
Os importadores, temendo a restrição, contestaram dentro do prazo delimitado pela Câmara para tentar evitar o aumento.
Conseguiram argumentar contra a alteração da alíquota de oito itens.
Segundo o presidente da Abimei, Ennio Crispino (foto), a questão financeira impediu o questionamento de mais artigos. "A contestação de cada produto nos custou R$ 10 mil, que saíram do bolso dos associados.
Caso mais de uma empresa quisesse contestar aquele determinado produto, o custo era rateado, mas muitas se viram sozinhas e sem condições financeiras de seguir com o processo", explica.
Ele diz que se a Câmara, um órgão estritamente técnico, ceder às pressões para elevar a tarifa, ela corre o risco de ter sua imagem arranhada por "influências políticas". Segundo Crispino, a política dos "escolhidos" - prática do governo de Luiz Inácio Lula da Silva e que alçou grandes empresas brasileiras à condição de gigantes do mercado mundial - agora se volta para o mercado interno.
O principal "escolhido" em questão são as Indústrias Romi. Maior fabricante brasileira de tornos, fresadoras e centros de usinagem, a companhia pode-se ver sozinha em um mercado no qual seus antigos concorrentes caíram com a perda de competitividade do país. Uma forcinha para ela já foi dada.
No ano passado, em outra lista com cem artigos com alteração do imposto de importação, a alíquota para centros de usinagem passou de 14% para 25%.
De acordo com a Abimaq, em nenhum dos pleitos feitos por ela existe apenas um fabricante instalado no país. No caso dos tornos convencionais, Klaus Curt Müller, diretor de comércio exterior da associação, cita a Ergomat, outra tradicional fabricante.
A empresa é um caso emblemático da queda de um fabricante nacional para os importados. Atualmente, a companhia representa quatro produtores estrangeiros, além de vender seus produtos, sobre o rótulo Ergomat.
Müller diz que a complementação do catálogo de produtos com importados virou prática do mercado e por isso é tão importante o pleito da associação para elevar as alíquotas do imposto de importação.
"A pior situação é quando uma indústria se torna uma distribuidora. Se uma empresa importa, fica evidente a falta de condição da companhia em atender seus clientes", diz. 
Questionada, a Camex afirma que nem todos os pleitos industriais precisam ser atendidos. Uma série de quesitos precisa ser contemplada para que o órgão decida elevar a alíquota do imposto e essa lista pode conter menos de cem itens.
"Os critérios utilizados para essa análise são os seguintes: respeito às normas da OMC; o impacto da elevação tarifária nos preços; o aumento de importações; a capacidade produtiva; nível de utilização da capacidade instalada; a análise das cadeias produtivas; e a compatibilidade com as diretrizes do Plano Brasil Maior e outras políticas públicas prioritárias", explica a Camex.
Dentre os critérios citados, a Abimaq afirma que há 50% de capacidade instalada ociosa. Os seis tipos de máquinas ou equipamentos questionados pela Abimei tiveram um crescimento médio das importações, entre 2009 e 2012, de 40% ao ano. O item "Partes de Motores Elétricos" registrou uma alta anual de 96% no período. Curiosamente, dos seis artigos, este foi o único que não foi pleiteado pela Abimei, mas apenas pela WEG.

segunda-feira, 17 de junho de 2013

Brasil: erratico em sua politica comercial, diz OMC (Valor Economico)

Brasil lidera investigações antidumping no mundo, diz OMC

Por Assis Moreira | Valor, 17/06/2013
PARIS  -  O Brasil foi o país que mais abriu investigações antidumping nos últimos sete meses contra supostas importações com preços desleais, revela a Organização Mundial do Comércio (OMC) em relatório submetido ao G-20 nesta segunda-feira.
O país abriu 18 investigações, ou um quarto das 74 iniciadas globalmente. Normalmente, o uso desse instrumento de defesa comercial, que é previsto pelas regras da OMC, pode causar incertezas no fluxo de importações nos setores envolvidos.
No entanto, de 38 medidas comerciais do Brasil, listadas no relatório da OMC, boa parte diz respeito não à restrição e sim à eliminação ou suspensão temporária de alíquotas sobre dezenas de produtos. Também há o fim de investigações antidumping sem aplicação de sobretaxas.
A OMC considera que o desempenho comercial do país tem sido “de algum modo errático” desde o último relatório de monitoramento, no fim do ano passado, mas que em abril as exportações e importações subiram 5% e 16% comparado ao mesmo mês de 2012.
A entidade nota que em 2012 o Brasil sofreu um dos maiores declínios no comércio entre as economias do G-20. Exemplifica que em agosto e setembro as exportações e importações brasileiras caíram 14% comparadas a 2011.
As restrições ao comércio internacional continuaram a se acumular, enquanto o ritmo da remoção de barreiras diminuiu. 
No total, a OMC diz que mais de cem novas medidas de restrição ao comércio foram implementadas nos últimos sete meses pelos países do G-20, reunindo as principais economias desenvolvidas e em desenvolvimento, cobrindo 0,50% das importações globais de mercadorias nos últimos meses. As medidas envolvem principalmente ações antidumping e altas de tarifas.
De todas as barreiras levantadas ao comércio desde outubro de 2008, somente 19% foram eliminadas até agora. Somando todas as restrições às importações impostas desde outubro de 2008, e excluindo as que já terminaram em maio, o resultado é que 3,6% das importações globais são afetadas.
A OMC alerta que no mundo de cadeias globais e processos de produção fragmentados, exportações dependem mais do que nunca de importações. Assim, barreiras às importações se traduzem inevitavelmente em maiores custos para os exportadores.
Na sua mensagem aos líderes do G-20, a OMC prevê que o comércio internacional vai se expandir mais lentamente do que previsto em 2013, em torno de 3,3%, em todo caso melhor que os 2% do ano passado.
O relatório é complementado por medidas na área de investimentos coletadas pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) e pela Agência das Nações Unidas para o Comércio e o Desenvolvimento (Unctad).
O Brasil faz parte dos nove países que adotaram medidas especificas na área de investimentos nos últimos anos. Entre esses países, a ampla maioria das medidas mostra na verdade eliminação de restrições a investimentos estrangeiros e mais clareza para os investidores.
No caso do Brasil, menciona por exemplo a imposição de IOF sobre investimentos estrangeiros, mas que foram retiradas recentemente no rastro da queda do real em relação ao dólar americano.


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quarta-feira, 12 de junho de 2013

Brasil: segundo a CCI, um pais aberto...

... a todo tipo de fechamento.
O Brasil sempre foi um dos países mais protecionistas do mundo.
Paulo Roberto de Almeida

Brasil é apontado como o país mais protecionista do G-20

Por Assis Moreira | Valor Econômico
LISBOA  -  O Brasil é apontado como o país mais protecionista no G-20, grupo das maiores economias desenvolvidas e emergentes, de acordo com o Índice de Abertura de Mercados, publicado nesta terça-feira pela Câmara de Comércio Internacional (CCI), em Paris. Pior que o Brasil entre os 75 países, só mesmo o Quênia, Paquistão, Venezuela, Uganda, Argélia, Bangladesh, Sudão e Etiópia.
Mesmo com um índice alto de protecionismo, segundo a CCI, a balança comercial brasileira registrou este ano o maior déficit de sua história, embora o governo defenda que pode haver melhora nos próximos meses, com saldo comercial superavitário ao longo do ano.
A entidade que representa milhares de empresas no mundo coloca o Brasil na 67ª posição entre 75 países, ficando atrás até da Argentina (o ranking é organizado por grau de abertura comercial, da maior para a menor) . A abertura do mercado brasileiro foi considerada abaixo da média internacional.
A percepção sobre o Brasil é a pior entre as grandes economias, mas o país não está sozinho. O ranking da CCI mostra que apenas o Canadá (19ª posição), entre os países do G-20, faz parte do primeiro grupo de países com política comercial mais liberal, pelo menos nos moldes desejados pelas empresas.
Os Estados Unidos, que se esforçam para aparecer como campeões do liberalismo, estão na 38ª posição. Já a China, vista como muito protecionista, está numa posição média, a de 57ª.
Para a Câmara de Comércio Internacional, a conclusão é clara: os países do G-20 fracassaram em demonstrar liderança global sobre comércio, o Canadá é o único que se salva e os países do Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), nova força na economia mundial, mantêm medidas comerciais restritivas.
O Índice de Abertura dos Mercados classifica 75 países usando uma série de indicadores, como abertura observada no comércio, a política comercial, abertura para investimentos estrangeiros e infraestrutura para as exportações e importações. A CCI visa, com o ranking, monitorar se os governos estão cumprindo seus compromissos de abrir as economias, como acertado em cúpulas como a do G-20.
A CCI usa seu documento para continuar pressionando os governos a alcançar um acordo na conferência ministerial da Organização Mundial do Comércio (OMC), em dezembro, em Bali (Indonésia). Um dos principais interesses dos empresários é um acordo de facilitação de comércio, para reduzir substancialmente entraves nas alfândegas.
Clique aqui e veja a tabela completa no site da CCI 
(Assis Moreira | Valor)
Leia mais em:
http://www.valor.com.br/brasil/3156768/brasil-e-apontado-como-o-pais-mais-protecionista-do-g-20#ixzz2W2OKbIPG

quinta-feira, 6 de junho de 2013

A angustia do deficit comercial numa nacao mercantilista -

O Brasil, não é preciso lembrar, é um país protecionista. Mais do que isso, ele é mercantilista, e se por algum acaso  não se reconhecer no conceito, digamos que é colbertista, dirigista, intervencionista, o que dá no mesmo.
Brasileiros tem horror a déficit comercial: ainda toleram as exportações (menos o MST), mas odeiam importações (salvo quando de iPads e iPhones para eles mesmos).
Assim é o Brasil, minha gente.
Um texto para confrontar algumas amgústias enrustidas ou reveladas.
Paulo Roberto de Almeida

Depósito de...
Richard Sylvestre

quarta-feira, 14 de maio de 2008

A "tara nacional" por exportações

[1] O governo, com toda pompa, anunciou na última segunda-feira a “nova política industrial” brasileira. De nova não tem absolutamente nada. É o mesmo festival de subsídios via “crédito” que se vê desde 1800 e bolinha com a mesma desculpa de sempre: ah, se o governo não fizer o setor privado não faz (como se o governo tivesse que fazer tudo ou mesmo algo que o setor privado não faz).

[2] O que gostaria de comentar é a tara por exportações e saldos positivos de balança comercial ou mesmo de transações correntes que o novo grande plano estatal demonstrou. Já escrevi um texto relacionado à “economia internacional” (Um Falso Problema) que falava sobre balanço de pagamentos. Só vou acrescentar algumas coisas mais especificamente sobre exportações e importações: a primeira é a idéia de que exportar é bom e importar um crime. Imaginemos que não exista moeda. Vivemos em um mundo de escambo. Você, brasileiro, deseja comprar um produto ofertado por um americano (por n razões, mas o que importa é que você o quer porque provavelmente aquilo lhe traz mais “benefícios” do que qualquer ação alternativa, como comprar um nacional). Quando você vai comprar o produto do americano, para convencer o sujeito a lhe dar o bem você terá que ofertar algo em troca, digamos, uma quantidade de bananas. Essa quantidade de bananas que você dá ao americano são as famosas “exportações” (vendas de bens para consumidores em outros países). Ora, provavelmente você acharia péssimo “exportar” e não receber algo em troca, no caso, o produto do americano. Esse bem que o americano lhe dá é aquilo que comumente chamado de “importações” (compra de bens de agentes localizados em outros países).

[3] Nessa transação toda, qual foi a parte “boa”? Obviamente não foi exportar. Exportar é o pagamento por um bem estrangeiro que você quer, ou seja, o pagamento de uma importação. A finalidade de tudo isso, aquilo que você deseja é justamente consumir o bem estrangeiro, é importar e, se fosse possível, não exportar nada (pagar). A idéia de que exportar é algo bom e importar é ruim é um dos maiores non-senses econômicos existentes. Não só um dos maiores, mas um dos mais antigos também. Adam Smith, David Ricardo, Jean Baptiste Say já lutavam contra esse mito nas suas respectivas épocas (século XVIII, XIX). Mas o fantasma do mercantilismo voltou com força total no século XX com a ascensão de teorias pseudo-econômicas enterradas há tempos por esses grandes pensadores. No Brasil, os zumbis que retornaram das trevas dessa pseudo-economia renegada foram chamados de “desenvolvimentistas” - cômico se não tivesse sido trágico...

[4] Mas voltando a questão das importações e exportações, a inclusão de moeda não muda em nada o “núcleo” da história. A moeda só funcionará como um meio, uma intermediaria na troca. Alguém exporta, e recebe, digamos dólares por essas exportações. O cara que recebeu os dólares não dorme, não come os dólares. Ele quer bens (se ele mesmo importar os bens dos EUA, a história se torna idêntica a do escambo só com a diferença de termos mais uma etapa). Mas nosso exportador pode querer trocar dólares por reais para comprar bens no Brasil mesmo. Ele então precisará encontrar alguém disposto a trocar dólares por reais. Mas por que alguém aceita dólares em troca de reais? Ora, por que quer importar, quer comprar do exterior. A única “coisa nova” em tudo isso é que o cara que exportou não necessariamente será o mesmo cara que importará. No fundo a moeda só funciona como um meio, um intermediário. Bens se trocam por bens. Numa situação de escambo, quando uma exportação é feita, a correspondente importação é automaticamente realizada (é o “espelho” da exportação). No caso da moeda o mesmo ocorrerá, mas não necessariamente feita pela mesma pessoa. Assim como nas “trocas internas”, a moeda separa os agentes envolvidos no ato de vender e de comprar bens. Eu vendo bens para X, mas compro bens de Y.

[5] O sonho de toda nação seria importar, importar muito e nunca precisar exportar nada, simplesmente por que importar é consumir, receber bens de fora. Alguém lá fora produziu e você recebe esses bens para seu deleite sem precisar pagar (exportar) nada. Esse seria o caso também se os americanos tivessem uma “tara por reais” e quisessem fazer coleção com eles. Só com uma impressora, poderíamos obter todas as maravilhas que o mundo produz, sem fazer esforço algum. Resumindo: é um completo absurdo se considerar que exportar é que é bom e importar um mau. É um completo absurdo argumentar que o governo deve “desvalorizar o câmbio” para que o país exporte. Desvalorizações são simplesmente subsídios para exportadores e consumidores externos que o governo dá as custas do nosso dinheiro.

[6] Obviamente, existem várias falácias econômicas mais profundas por trás de todos esses argumentos “mercantilistas”, falácias muitas vezes escondidas sob elegantes modelos matemáticos que no fundo, em bom português estão apenas dizendo coisas do tipo: escassez não existe, ligar a impressora e fabricar papeizinhos é uma boa forma de gerar riqueza etc.. Uma das maiores é a idéia de que demanda agregada tem alguma relevância para crescimento econômico (quem se interessar mais por isso, escrevi dois textos (1 e 2) sobre o tema) e que exportações elevam a demanda agregada. Ora, se um estrangeiro vem aqui e compra um monte dos bens que produzimos teremos duas alternativas; na primeira, como já foi dito, tudo que eles compraram aqui significa que compramos lá em igual valor, ou seja, deixamos de comprar aqui, de trocar com um brasileiro. Imagine um escambo: de repente aparece um estrangeiro louco por trocar computadores por todas as minhas maças. Eu estou melhor ou pior porque as maças que produzi estavam sendo procuradas no mercado, não porque o cara que comprou era brasileiro ou americano ou tailandês. O fato de eu trocar com brasileiros ou “exportar” não muda absolutamente nada. A segunda alternativa seria eu vender um monte para o exterior e “dormir” com os dólares (no lugar de comprar coisas no exterior). Mas aquilo que eu vendi para o exterior obviamente não pode ser consumido por brasileiros, logo o consumo dos brasileiros terá que cair.

[7] O que gera crescimento econômico não é exportar mais ou menos, é maior produtividade. A causa econômica mais direta é a poupança e conseqüentemente mais capital que gera a maior produtividade (uma condição necessária para poupança são direitos de propriedade bem estabelecidos). Mas mesmo se exportar mais, não gera crescimento econômico, um grande volume de comércio (exportação e importação) ajuda. Imagine se você tivesse que produzir absolutamente tudo o que consome atualmente. Provavelmente ou morreria de fome ou seu nível de vida despencaria. Eu, por exemplo, não faria a mínima idéia de como postar esse texto e mesmo se soubesse, você provavelmente nem estaria na internet lendo-o. Por que trocamos? Exatamente porque as trocas nos permite explorar algo chamado vantagens comparativas. Eu sei fazer, produzir algo a um custo relativamente menor em termos de outras coisas que você (tenho uma vantagem comparativa em relação a um bem qualquer). E você o mesmo para um outro bem. Nós podemos obter mais de todos os bens se cada um fizer aquilo que relativamente faz melhor e trocarmos depois, do que se nos isolássemos e produzíssemos tudo sozinhos. O mesmo é válido para um país. Os países conseguem obter mais bens e viver mais confortavelmente se produzirem aquilo que possuem vantagens comparativas e depois trocarem, do que se se fechassem em autarquias (aliás, um exemplo disso é ver países como Coréia do Norte, Cuba, Albânia, principalmente o primeiro, e comparar com a Coréia do Sul).

[8] Antes de terminar, um último ponto. Sem julgar essa fixação por exportações que o presente governo parece ter, como um governo poderia realmente aumentar as exportações de um país? A resposta já foi dada a mais de 100 anos pelo grande economista Jean Baptiste Say. A melhor forma de fomentar as exportações é liberando a importação. Voltando ao inicio do texto, por que alguém exporta? Simplesmente para importar. Se é custoso importar, não há razão alguma para exportar. E é isso que ocorre quando o governo cisma, por exemplo, em dificultar as importações para fazer saldos positivos na balança comercial. Eles acontecem num primeiro momento, depois somem (o saldo antigo volta), mas com um país mais fechado, mais autárquico e sem produtividade alguma. Eis o resultado das “velhas” políticas industriais brasileiras. A melhor política industrial pró-exportação que o governo poderia fazer seria exatamente o que Say já recomendou muito antes: não fazer política industrial alguma, é só liberar as importações.

segunda-feira, 3 de junho de 2013

Ops: crise de transacoes correntes arrisca vir antes da crise fiscal: deficit comercial aumenta...

Os companheiros devem andar preocupados: já não bastasse o baixo crescimento, já não bastasse a alta inflação, já não bastasse a deterioração das contas públicas, que ameaça virar crise fiscal, vem essa agora: aumento do déficit comercial, o que pode precipitar uma crise de transações correntes antes do tempo.
Sorte deles que o neoliberalismo do ancien régime tucanês adotou a tal de flutuação cambial, em lugar das desvalorizações constantes, que os companheiros achavam o ideal (certamente para deixar mais pobres os simples companheiros trabalhadores, e contentar os burgueses da proteção, que são os que lhes pagam as prebendas e extorsões livremente consentidas). Sorte deles, pois dá para acomodar quedas na cotação sem ameaça grave, pois havendo desvalorização (como houve no começo do regime), as contas tendem a se ajustar.
Mas eles ainda vão passar à História por três feitos gloriosos na economia nacional: inflação sem crescimento (o que contraria os preceitos do keynesianismo de botequim que eles praticam), e perda de competitividade com desvalorização cambial, por excesso de gastos públicos e tributação impiedosa.
Eles são mesmo campeões da incompetência econômica esses companheiros...
Paulo Roberto de Almeida

Comércio Exterior

Déficit comercial é o maior da história: US$ 5,4 bi até maio

Apesar do superávit de 760 milhões de dólares em maio, de janeiro até agora o país registrou déficit de 5,392 bilhões de dólares

Veja.com, 3/06/2013
Contêineres armazenados nos terminais da Santos Brasil, no Porto De Santos
Contêineres armazenados nos terminais da Santos Brasil, no Porto De Santos (Ivan Pacheco)
A balança comercial brasileira registrou superávit de 760 milhões de dólares em maio, valor 74,3% ante igual mês do ano passado, quando atingiu 2,962 bilhões de dólares. Esse é o menor valor para o mês desde 2002. Em abril, o país registrou um déficit de 994 milhões de dólares, o pior resultado para o mês. Os dados foram divulgados nesta segunda-feira pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC). Apesar do resultado positivo de maio, o país acumula um déficit de 5,392 bilhões de dólares de janeiro a maio deste ano, o pior déficit para os cinco primeiros meses do ano desde o início da série histórica do Banco Central, em 1959. 
Até o momento, o maior déficit comercial registrado no acumulado dos primeiros cinco meses do ano havia sido de 3,339 bilhões de dólares, em 1995. Em igual período de 2012, por exemplo, o Brasil registrou um superávit comercial de 6,261 bilhões de dólares. “O saldo acelerará e alcançará os 6 bilhões de dólares de superávit ao fim de 2013”, diz Ilan Goldfajn, economista-chefe Itaú Unibanco, em seu relatório sobre o assunto.
De acordo com Raul Velloso, economista especializado em finanças públicas, é comum que ocorram déficits tanto na conta corrente como na balança comercial para países com um baixo nível de poupança. “Países com situação econômica melhor que a do Brasil têm déficit, e isso não os preocupa”, afirma Velloso. No entanto, a fragilidade com que o governo tem tratado a economia nos últimos meses prejudica a divulgação dos dados oficiais – ainda mais quando são negativos. “O governo tem feito muitas intervenções pontuais por meio de uma política econômica errática. O problema é que a gestão da política econômica está sendo mal feita", explica Velloso.
Mês - Em maio, as exportações alcançaram 21,824 bilhões de dólares, com média diária de 1,039 bilhão de dólares, crescimento de 10,8% em relação a abril de 2013. As importações totalizaram 21,064 bilhões de dólares e média diária de 1,003 bilhão de dólares, números recordes para meses de maio. Já no acumulado do ano, as exportações somam 93,291 bilhões de dólares, com média diária de 905 milhões de dólares e queda de 2,8% em relação ao mesmo período de 2012. Em contrapartida, as importações são recordes para o período. Somam 98,683 bilhões dólares e média diária de 958,1 milhões de dólares, alta de 9,8% na comparação com janeiro a maio do ano passado.
Combustíveis — No resultado anual, um dos fatores que mais pesou no déficit foi o aumento das importações de combustíveis e lubrificantes, que teve alta de 25,5% na comparação com igual período de 2012. As importações da Petrobras pesam nesse resultado. A estatal está aumentando suas importações de petróleo porque suas refinarias estão processando um volume maior da commodity do que a empresa consegue produzir.
“As exportações de petróleo devem se acelerar com o fim da manutenção de várias plataformas e consequente alta na produção; o passivo de combustíveis importados em 2012 e registrados este ano finalmente chegou ao fim”, afirma Ilan Goldfajn, do Itaú Unibanco
Nos cinco primeiros meses deste ano, ante igual período do ano passado, as importações em matérias-primas e intermediários tiveram alta de 8,9%; os bens de capital, de 6,5%; e houve ainda aumento de 1,7% de bens de consumo.
(com agência Reuters e Estadão Conteúdo)
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Países da América Latina reduzem compras do Brasil

De 2008 para 2011, País perdeu US$ 5,4 bilhões em vendas a países vizinhos, que deram preferência a China, EUA, UE e México

03 de junho de 2013 | 20h 49
Cleide Silva, de O Estado de S. Paulo
SÃO PAULO - Além de importar muito, o Brasil perde exportações para seus tradicionais compradores da América Latina, que nos últimos cinco anos fizeram acordos com diversos blocos econômicos, incluindo os Estados Unidos e a União Europeia (UE).
De acordo com dados da Confederação Nacional da Indústria (CNI), desde o início da crise internacional, em 2008, até 2011, o País perdeu US$ 5,4 bilhões em vendas para a Argentina, México, Peru, Colômbia, Chile, Equador, Venezuela, Paraguai e Bolívia. As compras foram direcionadas para China, Estados Unidos, União Europeia e México.
Os acordos que o Chile tem envolvem 62 países, incluindo os 27 da UE. Os da Colômbia envolvem 60 países, os do Peru 52, os do México 50 e os do Brasil, apenas 22, a maioria de pouca expressão comercial, como Israel, Egito, Palestina e a União Aduaneira do Sul da África (Sacu). Os três últimos ainda nem entraram em vigor.
Soraya Rosar, gerente executiva da Unidade de Negociações Internacionais da CNI, afirma que, tradicionalmente, a postura do empresariado brasileiro era mais defensiva, de resguardo ao mercado doméstico para a indústria local. Isso mudou com a perda da competitividade local e com a onda de acordos deflagrados pelos demais países, que colocam o Brasil no isolamento.
"A CNI entende que a perda de competitividade da indústria brasileira e a queda nas exportações de semi e manufaturados sinalizam que o Brasil precisa dar mais atenção às negociações internacionais", diz Soraya. "O País corre o risco de perder mais espaço em seus mercados exportadores se não entrar no jogo mundial e buscar novas parcerias no comércio internacional."
Soraya reconhece, contudo, que acordos comerciais, em si, não resolvem o problema se o País não melhorar sua competitividade.
O presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Luiz Moan, também favorável aos acordos internacionais, ressalta que a falta de competitividade e a baixa produtividade da indústria brasileira em geral vão exigir um período de transição para adequação dos setores.
A entidade tem o desafio de exportar 1 milhão de veículos até 2017. Há sete anos, o setor exportou 900 mil veículos, mas, desde então, os números despencaram. Em 2012, foram 442 mil unidades e, neste ano, não devem passar de 420 mil. Segundo Moan, a Anfavea já entregou ao governo suas propostas para a negociação do acordo do Mercosul com a UE e pede que o setor seja tratado como "sensível".
Sem consenso. Apesar do apoio de grandes entidades, a defesa dos acordos comerciais não é consenso em toda a indústria. Uma parte teme a abertura comercial desenfreada, como ocorreu no passado.
"A tarefa é difícil, vai exigir determinação e visão de longo prazo, mas não podemos mais perder tempo, pois nosso atraso é federal", diz Julio Gomes de Almeida, ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda. Ele lembra que as cadeias globais de setores como eletrônico, farmacêutico e tecnologia da informação "nem passaram perto do Brasil".
O presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro, ressalta que o momento é bastante complicado para as negociações. "O mundo passa por um momento de crise e todos os países querem aumentar suas exportações e diminuir as importações, ou seja, a conta não fecha."
Para o Brasil, que ficou afastado dos grandes acordos, a situação é ainda mais difícil. Segundo Castro, em 2007 o Brasil tinha 20.889 empresas exportadoras. Hoje, são 18.630, ou 2.259 a menos.
Já o número de empresas importadoras aumentou de 28.911 para 42.458, ou 13.547 a mais. Só de janeiro a abril deste ano, em relação ao mesmo período do ano passado, 59 empresas deixaram a lista de exportadoras e 776 entraram na lista de importadoras, informa a AEB.

segunda-feira, 20 de maio de 2013

Novo Diretor da OMC, Roberto Azevedo - Entrevista a Veja (Paginas Amarelas)

O novo guardião do livre mercado
Entrevista: Roberto Azevêdo
Veja, Páginas Amarelas, 19/05/2013

O diplomata brasileiro eleito para dirigir a Organização Mundial do Comércio, a OMC, condena o protecionismo e defende nova estratégia para derrubar as barreiras globais

A Organização Mundial do Comércio, com sede em Genebra, foi criada para estabelecer regras mais equânimes nas transações internacionais. A sua meta mais ambiciosa é dirimir as barreiras que atravancam as engrenagens do livre-comércio. A partir de setembro, a instituição estará sob o comando do embaixador brasileiro Roberto Azevêdo, de 55 anos. Sua principal missão será destravar as negociações da chamada Rodada Doha de liberalização dos mercados globais. Engenheiro por formação e funcionário do Itamaraty desde 1984, o baiano Azevêdo é elogiado pela capacidade de conciliação. Casado e pai de duas filhas, o embaixador tem experiência de quinze anos em negociações e disputas comerciais. Por telefone, de Genebra, Azevêdo falou a Veja.

O Brasil está entre os países mais fechados do mundo e tem sido criticado na própria Organização Mundial do Comércio por ter erguido, nos últimos anos, barreiras aos produtos importados. Como foi possível um diplomata brasileiro ser eleito o novo diretor-geral da OMC?

Independentemente das políticas econômicas e comerciais dos países que apresentaram candidatura, quem concorria ao cargo eram os candidatos. Estava sob análise a sua capacidade pessoal para liderar a organização. Quando os representantes me escolheram, fizeram a opção pelo perfil profissional e pessoal. A origem dos candidatos serve de referência, um pano de fundo para a trajetória dos candidatos, mas só isso. Nesse aspecto, ajudaram bastante a tradição multilateralista brasileira e a vocação de nossa diplomacia de buscar o consenso. A recente projeção do Brasil nos foros de governança mundial também foi importante nesse processo.

O que o Brasil e os países em desenvolvimento ganham com a sua eleição?

O Brasil buscou oferecer um nome capaz de recuperar a OMC como foro negociador e disciplinador do comércio global. Não nos interessa o retorno ao unilateralismo, como nos anos 1980, com a escalada de uma guerra comercial. Na medida em que eu consiga atingir esses objetivos, será um ganho enorme para o país. Além disso, é evidente que o Brasil ganha em termos de imagem e de prestígio. O que o Brasil não ganha é alguém que vá defender seus interesses na chefia da organização, porque eu trabalharei para o conjunto dos países. Sobre as nações em desenvolvimento, é um raciocínio semelhante. Elas terão na direção-geral uma pessoa que conhece os seus problemas. Mas isso não quer dizer que eu estarei no cargo defendendo os interesses delas, em detrimento dos direitos dos países avançados.

As maiores economias do mundo negociam acordos bilaterais ou regionais, como o que envolve os Estados Unidos e a União Europeia e o outro entre nações asiáticas. Qual é a função da OMC nessa nova realidade do comércio mundial?

Os acordos bilaterais e regionais não são uma novidade. As regras negociadas em 1947, na origem da OMC, já os contemplavam. Afinal, é mais fácil negociar entre poucos do que alcançar um consenso entre uma centena de países. A organização, na verdade, é a fundação sobre a qual todos acordos bilaterais e regionais se assentam. O problema é que a OMC não atualizou seus alicerces. O risco é haver uma distância crescente entre sua fundação multilateral e as bases dos acordos bilaterais. Isso levaria multiplicação de padrões aduaneiros e regulatórios nas negociações, encarecendo as transações comerciais. As regras que dão base ao sistema multilateral de comércio precisam refletir a realidade dos negócios. Há regras anacrônicas, criadas há trinta anos, que refletem uma situação que não existe mais.

Em quais áreas as regras da OMC precisam ser atualizadas?

Bons exemplos estão nas áreas financeira e de serviços, nas quais as mudanças ocorrem em uma velocidade extraordinária. O comércio eletrônico é outro exemplo. As transações são feitas atravessando fronteiras, sem passar pelo controle das autoridades financeiras ou monetárias. Há a área energética, com os combustíveis renováveis. Nada disso está refletido nas regras atuais da OMC. Mas, nos acordos bilaterais, muitos desses aspectos já são tratados.

O senhor anunciou como prioridade a retomada das negociações da Rodada Doha, de liberalização comercial em todo o mundo. Por que elas estancaram?

Os principais empecilhos estão na área de acesso a mercados, ou seja, nas negociações referentes à abertura dos mercados e aos compromissos para fazê-lo. Os entraves acontecem nas três principais vertentes da negociação: bens industriais, agricultura e serviços. A dificuldade está nas diferentes expectativas de avanço. Cada pane entende que faz um esforço excessivo nas áreas em que é mais sensível e que não está sendo compensada à altura nas áreas em que pode auferir ganhos. Os emergentes, como o Brasil, têm um interesse exportador agrícola muito forte. Pretendem derrubar os subsídios agrícolas dos países ricos, que resistem a ceder. Os países desenvolvidos gostariam que houvesse a queda das tarifas industriais e que o setor de serviços fosse liberado. Os emergentes, nas duas áreas, se situam do outro lado da mesa. A lógica é essa. Para destravar a negociação, precisamos de mais flexibilidade para aprofundar o acordo nas áreas em que isso for possível e ser mais modestos naquelas em que a sensibilidade dos países for mais alta.

O Brasil adotou, recentemente, medidas de salvaguarda contra importações chinesas e elevou as tarifas de uma centena de produtos. Outros países adotaram medidas semelhantes. O maior protecionismo se tomou irreversível?

A crise econômica e financeira de 2008 ainda não foi totalmente superada. Desde então, as políticas comerciais derraparam na direção de uma menor abertura e até mesmo de fechamento. Esse movimento negativo não foi estancado. É muito mais fácil fechar um mercado do que reabri-lo. A melhor maneira de evitar que esse movimento se alastre é, em primeiro lugar, disseminar a informação e conscientizar os membros de que o protecionismo é contagioso. Em última instância, uma escalada protecionista é lesiva a todos, não apenas àqueles que aplicam essas medidas. A outra forma de atuar é aperfeiçoar as regras da OMC, de maneira a reduzir o espaço para a adoção de medidas protecionistas. Isso depende do aprofundamento das negociações, justamente aquilo que desejamos reativar.

O Brasil priorizou a negociação multilateral e não avançou nos acordos bilaterais, diferentemente de outras economias. Foi uma estratégia equivocada?

Os dois caminhos, o do bilateralismo e o do multilateralismo, não são excludentes. Um país pode perseguir as duas vertentes. Fala-se muito que o Brasil apostou todas as fichas na Rodada Doha. Mas essa dinâmica não depende de uma opção soberana do Brasil. Há outros 158 países-membros na OMC. O que o país fez, no contexto de uma negociação multilateral que estava sendo impulsionada por todos os membros da OMC, foi adotar uma postura muito ativa, tentando fazer que as negociações avançassem no sentido que ele considerava ser de interesse da economia nacional. Não foi uma aposta do Brasil, mas de todos na OMC.

O livre-comércio mostrou-se benéfico para os países que o seguiram. Por que tantos ainda resistem?

Mesmo os países que adotaram o livre-comércio de maneira mais evidente não chegaram a esse estágio da noite para o dia. É um processo. Não acredito que a resistência seja uma opção deliberada pelo protecionismo. Isso seria um erro crasso. Porém a liberalização comercial tem um tempo distinto do tempo político. A abertura leva tempo para render frutos. Quando se abre um mercado, alguns setores menos competitivos precisam se adaptar. Isso tem um custo. O tempo político é mais curto. Seu horizonte é a próxima eleição. O livre comércio é, do ponto de vista acadêmico, associado de maneira inequívoca ao progresso e ao bem-estar. Mas, para os políticos e empresários locais, ele costuma ser visto como uma ameaça ao emprego, à estrutura produtiva, e não como uma oportunidade.

O protecionismo pode ser admitido em estágios iniciais de desenvolvimento?

Não acho que o grau de liberalização de uma economia deva obedecer a uma lógica de grau de desenvolvimento, e sim de uma estratégia cujo objetivo seja a participação competitiva na economia mundial. Há países em desenvolvimento que estão obtendo progressos com modelos comerciais muito abertos. Outros seguem caminhos diferentes. No nosso continente, há o exemplo do Chile, que fez uma abertura de mercado muito forte. No Sudeste Asiático, esses exemplos proliferam. Não existe uma receita pronta e acabada. Mas parece ser evidente que as economias fechadas tendem a malograr.

Como a política comercial brasileira se encaixa nessa avaliação?

Uma proteção que possa ser dada a um setor ou a um grupo de setores tem de fazer parte de uma estratégia clara de aumento de competitividade e, portanto, ter uma natureza transitória. Não pode ser uma medida permanente, com a lógica de fechar o mercado para impedir a competição. Um modelo que olhe estritamente para o mercado interno e se esqueça de buscar constantemente a competitividade internacional de seu parque produtivo fracassará inevitavelmente a longo prazo.

As economias emergentes já respondem por metade de tudo o que é comercializado no mundo. Como esse avanço afeta as negociações?

Os países emergentes tomaram-se mercados mais atraentes. Antes, um acordo poderia ser fechado deixando esses mercados para um segundo momento. Hoje, isso não é mais possível. Além de constituírem importantes mercados compradores, os emergentes passaram a competir palmo a palmo com os produtos fabricados pelos desenvolvidos. Isso muda, evidentemente, o foco das negociações. Elas ficaram mais complexas. No núcleo central, há perspectivas mais heterogêneas. Antes, o núcleo se dava entre economias mais homogêneas, dos países desenvolvidos. Hoje, as negociações precisam acomodar o fato de existir uma diversidade maior de perspectivas.

Um dos pilares da OMC é o sistema de solução de contenciosos entre países. As disputas duram anos, e milhares de dólares são gastos na contratação de escritórios e na produção de estudos. Por que, quando um país ganha o direito de retaliar, prefere muitas vezes não aplicar as sanções?

A taxa de cumprimento das recomendações do órgão de solução de controvérsias está em tomo de 85%. É um sistema eficiente. Sem ele, a situação seria muito pior. Mas a retaliação não tem vencedores. Isso porque as sanções, como o aumento da tarifa de importação de produtos do país que é punido, encarecem as cadeias produtivas, distorcem o comércio e aumentam os preços no mercado interno. No fundo, não prevalece a lógica de "onde eu ganho o outro perde". É a lógica de "onde eu causo um dano maior ao outro do que a mim". Os países preferem negociar um entendimento que seja mutuamente satisfatório. Foi o que aconteceu no caso entre Brasil e Canadá envolvendo a Embraer e a Bombardier, em que houve um acordo que regulamentou as condições de financiamento para a exportação de aeronaves.

O desmoronamento de uma fábrica têxtil em Bangladesh em abril, com mais de 1.000 mortos, expôs a precariedade das condições de trabalho em países asiáticos, focados na exportação de produtos baratos. Como a OMC pode coibir casos assim?

Foi uma tragédia lamentável. Suas causas têm raízes profundas, relacionadas à política econômica e social do país e às normas de urbanização e de infraestrutura. E há o lado estritamente ligado ao comércio. O assunto pode merecer uma avaliação completa dos países da OMC com o objetivo de encontrar formas de evitar que tragédias como essa se repitam. Para isso, é necessária uma discussão de conceitos dentro da organização. Como eu disse antes, as regras atuais refletem uma realidade de negócios prevalente trinta anos atrás e não favorecem essas novas e necessárias análises.