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segunda-feira, 20 de maio de 2013

Novo Diretor da OMC, Roberto Azevedo - Entrevista a Veja (Paginas Amarelas)

O novo guardião do livre mercado
Entrevista: Roberto Azevêdo
Veja, Páginas Amarelas, 19/05/2013

O diplomata brasileiro eleito para dirigir a Organização Mundial do Comércio, a OMC, condena o protecionismo e defende nova estratégia para derrubar as barreiras globais

A Organização Mundial do Comércio, com sede em Genebra, foi criada para estabelecer regras mais equânimes nas transações internacionais. A sua meta mais ambiciosa é dirimir as barreiras que atravancam as engrenagens do livre-comércio. A partir de setembro, a instituição estará sob o comando do embaixador brasileiro Roberto Azevêdo, de 55 anos. Sua principal missão será destravar as negociações da chamada Rodada Doha de liberalização dos mercados globais. Engenheiro por formação e funcionário do Itamaraty desde 1984, o baiano Azevêdo é elogiado pela capacidade de conciliação. Casado e pai de duas filhas, o embaixador tem experiência de quinze anos em negociações e disputas comerciais. Por telefone, de Genebra, Azevêdo falou a Veja.

O Brasil está entre os países mais fechados do mundo e tem sido criticado na própria Organização Mundial do Comércio por ter erguido, nos últimos anos, barreiras aos produtos importados. Como foi possível um diplomata brasileiro ser eleito o novo diretor-geral da OMC?

Independentemente das políticas econômicas e comerciais dos países que apresentaram candidatura, quem concorria ao cargo eram os candidatos. Estava sob análise a sua capacidade pessoal para liderar a organização. Quando os representantes me escolheram, fizeram a opção pelo perfil profissional e pessoal. A origem dos candidatos serve de referência, um pano de fundo para a trajetória dos candidatos, mas só isso. Nesse aspecto, ajudaram bastante a tradição multilateralista brasileira e a vocação de nossa diplomacia de buscar o consenso. A recente projeção do Brasil nos foros de governança mundial também foi importante nesse processo.

O que o Brasil e os países em desenvolvimento ganham com a sua eleição?

O Brasil buscou oferecer um nome capaz de recuperar a OMC como foro negociador e disciplinador do comércio global. Não nos interessa o retorno ao unilateralismo, como nos anos 1980, com a escalada de uma guerra comercial. Na medida em que eu consiga atingir esses objetivos, será um ganho enorme para o país. Além disso, é evidente que o Brasil ganha em termos de imagem e de prestígio. O que o Brasil não ganha é alguém que vá defender seus interesses na chefia da organização, porque eu trabalharei para o conjunto dos países. Sobre as nações em desenvolvimento, é um raciocínio semelhante. Elas terão na direção-geral uma pessoa que conhece os seus problemas. Mas isso não quer dizer que eu estarei no cargo defendendo os interesses delas, em detrimento dos direitos dos países avançados.

As maiores economias do mundo negociam acordos bilaterais ou regionais, como o que envolve os Estados Unidos e a União Europeia e o outro entre nações asiáticas. Qual é a função da OMC nessa nova realidade do comércio mundial?

Os acordos bilaterais e regionais não são uma novidade. As regras negociadas em 1947, na origem da OMC, já os contemplavam. Afinal, é mais fácil negociar entre poucos do que alcançar um consenso entre uma centena de países. A organização, na verdade, é a fundação sobre a qual todos acordos bilaterais e regionais se assentam. O problema é que a OMC não atualizou seus alicerces. O risco é haver uma distância crescente entre sua fundação multilateral e as bases dos acordos bilaterais. Isso levaria multiplicação de padrões aduaneiros e regulatórios nas negociações, encarecendo as transações comerciais. As regras que dão base ao sistema multilateral de comércio precisam refletir a realidade dos negócios. Há regras anacrônicas, criadas há trinta anos, que refletem uma situação que não existe mais.

Em quais áreas as regras da OMC precisam ser atualizadas?

Bons exemplos estão nas áreas financeira e de serviços, nas quais as mudanças ocorrem em uma velocidade extraordinária. O comércio eletrônico é outro exemplo. As transações são feitas atravessando fronteiras, sem passar pelo controle das autoridades financeiras ou monetárias. Há a área energética, com os combustíveis renováveis. Nada disso está refletido nas regras atuais da OMC. Mas, nos acordos bilaterais, muitos desses aspectos já são tratados.

O senhor anunciou como prioridade a retomada das negociações da Rodada Doha, de liberalização comercial em todo o mundo. Por que elas estancaram?

Os principais empecilhos estão na área de acesso a mercados, ou seja, nas negociações referentes à abertura dos mercados e aos compromissos para fazê-lo. Os entraves acontecem nas três principais vertentes da negociação: bens industriais, agricultura e serviços. A dificuldade está nas diferentes expectativas de avanço. Cada pane entende que faz um esforço excessivo nas áreas em que é mais sensível e que não está sendo compensada à altura nas áreas em que pode auferir ganhos. Os emergentes, como o Brasil, têm um interesse exportador agrícola muito forte. Pretendem derrubar os subsídios agrícolas dos países ricos, que resistem a ceder. Os países desenvolvidos gostariam que houvesse a queda das tarifas industriais e que o setor de serviços fosse liberado. Os emergentes, nas duas áreas, se situam do outro lado da mesa. A lógica é essa. Para destravar a negociação, precisamos de mais flexibilidade para aprofundar o acordo nas áreas em que isso for possível e ser mais modestos naquelas em que a sensibilidade dos países for mais alta.

O Brasil adotou, recentemente, medidas de salvaguarda contra importações chinesas e elevou as tarifas de uma centena de produtos. Outros países adotaram medidas semelhantes. O maior protecionismo se tomou irreversível?

A crise econômica e financeira de 2008 ainda não foi totalmente superada. Desde então, as políticas comerciais derraparam na direção de uma menor abertura e até mesmo de fechamento. Esse movimento negativo não foi estancado. É muito mais fácil fechar um mercado do que reabri-lo. A melhor maneira de evitar que esse movimento se alastre é, em primeiro lugar, disseminar a informação e conscientizar os membros de que o protecionismo é contagioso. Em última instância, uma escalada protecionista é lesiva a todos, não apenas àqueles que aplicam essas medidas. A outra forma de atuar é aperfeiçoar as regras da OMC, de maneira a reduzir o espaço para a adoção de medidas protecionistas. Isso depende do aprofundamento das negociações, justamente aquilo que desejamos reativar.

O Brasil priorizou a negociação multilateral e não avançou nos acordos bilaterais, diferentemente de outras economias. Foi uma estratégia equivocada?

Os dois caminhos, o do bilateralismo e o do multilateralismo, não são excludentes. Um país pode perseguir as duas vertentes. Fala-se muito que o Brasil apostou todas as fichas na Rodada Doha. Mas essa dinâmica não depende de uma opção soberana do Brasil. Há outros 158 países-membros na OMC. O que o país fez, no contexto de uma negociação multilateral que estava sendo impulsionada por todos os membros da OMC, foi adotar uma postura muito ativa, tentando fazer que as negociações avançassem no sentido que ele considerava ser de interesse da economia nacional. Não foi uma aposta do Brasil, mas de todos na OMC.

O livre-comércio mostrou-se benéfico para os países que o seguiram. Por que tantos ainda resistem?

Mesmo os países que adotaram o livre-comércio de maneira mais evidente não chegaram a esse estágio da noite para o dia. É um processo. Não acredito que a resistência seja uma opção deliberada pelo protecionismo. Isso seria um erro crasso. Porém a liberalização comercial tem um tempo distinto do tempo político. A abertura leva tempo para render frutos. Quando se abre um mercado, alguns setores menos competitivos precisam se adaptar. Isso tem um custo. O tempo político é mais curto. Seu horizonte é a próxima eleição. O livre comércio é, do ponto de vista acadêmico, associado de maneira inequívoca ao progresso e ao bem-estar. Mas, para os políticos e empresários locais, ele costuma ser visto como uma ameaça ao emprego, à estrutura produtiva, e não como uma oportunidade.

O protecionismo pode ser admitido em estágios iniciais de desenvolvimento?

Não acho que o grau de liberalização de uma economia deva obedecer a uma lógica de grau de desenvolvimento, e sim de uma estratégia cujo objetivo seja a participação competitiva na economia mundial. Há países em desenvolvimento que estão obtendo progressos com modelos comerciais muito abertos. Outros seguem caminhos diferentes. No nosso continente, há o exemplo do Chile, que fez uma abertura de mercado muito forte. No Sudeste Asiático, esses exemplos proliferam. Não existe uma receita pronta e acabada. Mas parece ser evidente que as economias fechadas tendem a malograr.

Como a política comercial brasileira se encaixa nessa avaliação?

Uma proteção que possa ser dada a um setor ou a um grupo de setores tem de fazer parte de uma estratégia clara de aumento de competitividade e, portanto, ter uma natureza transitória. Não pode ser uma medida permanente, com a lógica de fechar o mercado para impedir a competição. Um modelo que olhe estritamente para o mercado interno e se esqueça de buscar constantemente a competitividade internacional de seu parque produtivo fracassará inevitavelmente a longo prazo.

As economias emergentes já respondem por metade de tudo o que é comercializado no mundo. Como esse avanço afeta as negociações?

Os países emergentes tomaram-se mercados mais atraentes. Antes, um acordo poderia ser fechado deixando esses mercados para um segundo momento. Hoje, isso não é mais possível. Além de constituírem importantes mercados compradores, os emergentes passaram a competir palmo a palmo com os produtos fabricados pelos desenvolvidos. Isso muda, evidentemente, o foco das negociações. Elas ficaram mais complexas. No núcleo central, há perspectivas mais heterogêneas. Antes, o núcleo se dava entre economias mais homogêneas, dos países desenvolvidos. Hoje, as negociações precisam acomodar o fato de existir uma diversidade maior de perspectivas.

Um dos pilares da OMC é o sistema de solução de contenciosos entre países. As disputas duram anos, e milhares de dólares são gastos na contratação de escritórios e na produção de estudos. Por que, quando um país ganha o direito de retaliar, prefere muitas vezes não aplicar as sanções?

A taxa de cumprimento das recomendações do órgão de solução de controvérsias está em tomo de 85%. É um sistema eficiente. Sem ele, a situação seria muito pior. Mas a retaliação não tem vencedores. Isso porque as sanções, como o aumento da tarifa de importação de produtos do país que é punido, encarecem as cadeias produtivas, distorcem o comércio e aumentam os preços no mercado interno. No fundo, não prevalece a lógica de "onde eu ganho o outro perde". É a lógica de "onde eu causo um dano maior ao outro do que a mim". Os países preferem negociar um entendimento que seja mutuamente satisfatório. Foi o que aconteceu no caso entre Brasil e Canadá envolvendo a Embraer e a Bombardier, em que houve um acordo que regulamentou as condições de financiamento para a exportação de aeronaves.

O desmoronamento de uma fábrica têxtil em Bangladesh em abril, com mais de 1.000 mortos, expôs a precariedade das condições de trabalho em países asiáticos, focados na exportação de produtos baratos. Como a OMC pode coibir casos assim?

Foi uma tragédia lamentável. Suas causas têm raízes profundas, relacionadas à política econômica e social do país e às normas de urbanização e de infraestrutura. E há o lado estritamente ligado ao comércio. O assunto pode merecer uma avaliação completa dos países da OMC com o objetivo de encontrar formas de evitar que tragédias como essa se repitam. Para isso, é necessária uma discussão de conceitos dentro da organização. Como eu disse antes, as regras atuais refletem uma realidade de negócios prevalente trinta anos atrás e não favorecem essas novas e necessárias análises.

sexta-feira, 3 de maio de 2013

OMC: parcerias estrategicas nao evitam interesses nacionais

Reino Unido e França fazem campanha na OMC contra o candidato do Brasil
Assis Moreira
Valor Econômico, 29/04/2013 – p. A2

Os governos do Reino Unido e da França, países que têm parceria estratégica com o Brasil, lideram uma dura campanha para a União Europeia (UE) não apoiar o candidato brasileiro Roberto Azevedo ao posto de diretor-geral da Organização Mundial do Comércio (OMC), conforme o Valor apurou.
Para analistas, esse tipo de ação só poderá ser revertido com uma atuação incisiva da presidente Dilma Rousseff esta semana. O Brasil tem parceria estratégica com a União Europeia como um todo, e individualmente com Reino Unido, França, Alemanha, Itália, Espanha e Portugal.
A disputa é acirrada e os 159 países-membros começam quarta-feira a escolha entre Azevedo e o mexicano Hermínio Blanco. O substituto de Pascal Lamy deve ser conhecido semana que vem. Na segunda rodada, na semana passada, a UE votou pelos dois candidatos latino-americanos, que chegaram à final. Agora, decidirá até sexta-feira em quem vai votar, se em bloco - 28 votos (incluindo a Croácia, futuro membro) no mesmo candidato -, ou se deixará os países votarem individualmente.
Azevedo tem boa margem de apoio no bloco comunitário, segundo diferentes fontes. No entanto, o governo conservador de David Cameron, no Reino Unido, e o socialista de François Hollande, na França, não só fazem campanha dura contra o Brasil nos bastidores, como já conseguiram virar o jogo na semana passada, quando os europeus discutiam sobre quem votariam na segunda rodada de disputa na OMC.
Só depois de muita insistência do governo Cameron junto a outros países é que o candidato mexicano obteve ligeira vantagem na última votação contra o candidato brasileiro dentro do bloco comunitário. Até então, Azevedo estava na frente de Blanco.
Embora começando a sofrer ameaça de isolamento, por causa da campanha agressiva, o governo Cameron continua a ser mais vocal na oposição ao Brasil, seguido pelos franceses, procurando dar mais fôlego para Blanco. O candidato mexicano, de passagem por Paris, afirmou em entrevista a um canal de televisão, que é "o mais experiente negociador do mundo". A declaração causou uma mistura de perplexidade e ironia entre alguns delegados que viram o vídeo.
Para certas fontes, nesse cenário vale indagar para que servem as "parcerias estratégicas" com os europeus, e se são apenas fumaça diplomática. Parceria estratégica significa, por exemplo, compartilhar visões, valores e objetivos na governança global. O México tem o mesmo tipo de aliança com a UE.
As mesmas fontes consideram que Dilma pode, no mínimo, frear a campanha contra Azevedo, telefonando para líderes europeus, principalmente para Cameron e Hollande, que publicamente colocam nas alturas o clima de entendimento bilateral sobre vários temas da governança global.
Aparentemente, o Reino Unido vê no candidato mexicano alguém capaz de levar para a OMC a agenda de liberalização da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) - clube de países ricos, do qual o México é membro e tem a direção-geral -, o que explicaria a reação britânica, nos bastidores, contra o candidato brasileiro. Já a França, protecionista agrícola, teme a posição liberal brasileira nesse setor. Outros países que votaram por Blanco têm resistência menor ao Brasil.
Os 28 votos do bloco europeu são muito importante, mas não necessariamente decisivos na seleção do futuro diretor-geral, acreditam fontes. "Azevedo tem uma base boa de apoio em todas as regiões", afirma o professor Carlos Braga, do IMD, principal escola de administração da Europa.
Também as alianças com países em desenvolvimento serão testadas na eleição na OMC. Primeiro, o grupo Brics, da qual o Brasil faz parte com China, Índia, Rússia e África do Sul. Para observadores, não basta Pequim, Moscou ou Nova Déli apoiarem. O nível de comprometido se manifesta também na busca de votos.
Além disso, o Brasil abriu dezenas de embaixadas na África e no Caribe. "O Brasil tem vantagem nessas regiões, em razão de sua diplomacia muito boa e muito ativa", diz Simon Evenett, professor de comércio internacional na Universidade de St. Gallen (Suíça).
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Brasil se defende de acusações de EUA, Japão e UE de protecionismo
RENATA AGOSTINI, DE BRASÍLIA
Folha de S.Paulo, 1/05/2013

Para se defender das críticas à sua política de incentivos fiscais, o Brasil argumentou ontem, durante reunião na OMC (Organização Mundial do Comércio), que está tentando simplificar a sua estrutura tributária enquanto busca desenvolver o seu parque tecnológico e incentivar a inovação no país.
As alegações foram expostas a pedido dos Estados Unidos, do Japão e da União Europeia, que juntos elaboraram um duro documento com críticas à política comercial brasileira.
Os questionamentos dos países ricos à política industrial brasileira foram apresentados durante reunião do Comitê de Medidas de Investimento Relacionadas ao Comércio (TRIM, na sigla em inglês).
As nações desenvolvidas manifestaram preocupação sobre as exigências de conteúdo local adotadas pelo Brasil especialmente nos setores de telecomunicações, automotivo e químico com os chamados "regimes especiais tributários", como do Plano Nacional de Banda Larga e o Inovar-Auto.
Segundo o documento assinado pelos países desenvolvidos, as ações podem refletir "uma posição mais ampla em relação à política industrial e à taxação indireta", ou seja, podem não ser medidas temporárias, adotadas para estimular a atividade econômica.
Os países ricos criticaram ainda a recente decisão do governo brasileiro de desonerar os smartphones produzidos no país e foram seguidos pelas delegações da Austrália e da Coreia do Sul.
Parte das críticas já havia sido feita pelos Estados Unidos no ano passado. O país afirmou que estava "desapontado" com o Brasil por ter "ignorado" as manifestações americanas sobre o tema, apurou a Folha.
Outros incentivos fiscais, como as alterações na cobrança do IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) para carros, também já foram alvo de críticas na OMC.
DENTRO DAS REGRAS
A delegação brasileira refutou a afirmação de que as medidas do governo sejam "discriminatórias", como afirmaram os países ricos, e reiterou que elas estão dentro das regras da OMC.
A reunião do comitê faz parte do calendário regular de encontros dos países signatários e todos os membros da OMC são convidados.
Durante o encontro de ontem, em Genebra, também foram feitas perguntas sobre medidas comerciais dos Estados Unidos, da China, da Índia, da Indonésia, da Nigéria, da Rússia e da Ucrânia.
Segundo o Itamaraty, questionamentos de outros países são naturais e fazem parte da rotina de encontros do órgão.

sábado, 2 de fevereiro de 2013

OMC: a via-crucis dos candidatos a DG; candidato brasileiro

Matérias de imprensa, 1/02/2013: 


OMC / CANDIDATURA DO EMBAIXADOR ROBERTO AZEVÊDO
O Estado de S. Paulo - ‘Na OMC, não serei mais o embaixador do Brasil’ / Entrevista / Roberto Azevedo
Em sabatina, candidato desvia de temas polêmicos envolvendo o País, entre eles câmbio e protecionismo
Jamil Chade, GENEBRA - Num esforço para ganhar votos e superar o mal-estar deixado pelo Brasil com alguns de seus sócios por conta das barreiras adotadas, o brasileiro Roberto Azevedo, candidato ao cargo de direção da Organização Mundial do Comércio (OMC), se distancia dos temas mais polêmicos da política comercial brasileira e garante que, se eleito, defenderá o interesse de todos os países.
Nesta quinta-feira, o embaixador Azevedo foi sabatinado na entidade, em uma sessão em que foi questionado sobre diversos assuntos. A escolha só ocorrerá em maio. Mas os nove candidatos ao posto sabem que um deslize em Genebra significaria a perda de pontos na corrida.
Azevedo foi questionado pela Coreia sobre protecionismo, mas iniciou sua intervenção esclarecendo que, depois de 17 anos na OMC representando o Brasil, finalmente falaria em nome próprio. "Esta é a primeira vez que, nesse prédio, vou compartilhar minha visão pessoal sobre essa organização, sobre o sistema comercial e sobre onde estamos hoje", disse aos demais embaixadores.
A estratégia não ocorre por acaso. Nos últimos meses, o aumento de barreiras comerciais no Brasil deixou dezenas de parceiros comerciais irritados, a ponto de a Casa Branca enviar uma carta ameaçando retaliar.
O Brasil também irritou muitos membros com a insistência de trazer para a agenda da OMC a questão do câmbio, com a criação de um mecanismo que autorizaria a elevação de tarifas. Para a maioria dos países, isso não passaria de uma forma de o Brasil justificar barreiras. Azevedo deixou claro, agora, que não partirá dele a introdução do assunto na agenda da OMC, se eventualmente for eleito.
Para o embaixador brasileiro, a OMC vive um momento crítico. "O sistema precisa ser renovado ou será incapaz de lidar com as demandas de um mundo em mudança", alertou. Em sua visão, se a Rodada Doha não for concluída, a OMC continuará "fora do radar" do mundo. "Nenhum marketing vai mudar essa realidade. Vamos precisar de um diretor que trabalhe, arregasse a manga e enfrente a situação. Será uma tarefa herculana. Mas precisa ser feita."
Ele também mandou seu recado aos países em desenvolvimento. "O comércio não é o objetivo da OMC. Mas um instrumento para desenvolvimento." Ao final da sabatina, Azevedo falou ao Estado. A seguir, os principais trechos da entrevista.
Depois de 12 anos de uma negociação sem resultado, a Rodada Doha ainda tem alguma relevância para a economia mundial?
Sim, não tenho nenhuma dúvida disso. Tinha avanços muito importantes previstos na Rodada, em vários setores. Eles são significativos até hoje. Se a Rodada for concluída de maneira positiva, teremos ganhos tanto em acesso a mercados como em disciplinas do comércio. E tudo isso tem um valor econômico muito importante.
Mas há a impressão de que o mundo já deu um passo adiante. O que pode ocorrer com a OMC se o projeto fracassar?
A OMC tem a obrigação de tentar concluir a negociação. O sistema está paralisado. É claro que a OMC é maior que a Rodada. Mas a realidade é que a Rodada emperra o sistema. Então, eu não vejo alternativa que não seja pela Rodada. Podemos tentar algum acordo aqui ou ali, mas a OMC precisa contornar o impasse que vive hoje.
A Coreia o questionou sobre o protecionismo. Qual o risco que isso representa para a economia internacional?
O protecionismo é uma ameaça sempre presente. Países vivem ciclos econômicos diferentes, com momentos mais liberalizantes e outros menos liberalizantes. O que eu disse é que a melhor proteção contra o protecionismo é o próprio sistema multilateral, que estabelece limites para o espaço de política pública que os países podem adotar. A melhor maneira de se evitar um recrudescimento das condições de abertura de mercado é fortalecer o sistema multilateral, negociando. E, para isso, precisamos sair do impasse.
O Brasil tem sido fortemente criticado nos últimos meses por alguns dos parceiros comerciais. A posição do Brasil, adotando medidas protecionistas, pode atrapalhar sua candidatura?
Em primeiro lugar, o governo jamais aceitou e nunca admitiu que estivesse adotando medidas protecionistas. Você pode ou não concordar com essa situação. O governo brasileiro entende que está tomando medidas que são necessárias diante das circunstâncias econômicas que se vive, inclusive à luz da taxa cambial anormal. Em segundo lugar, se eleito diretor da OMC, eu não sou mais embaixador do Brasil. Aí quem terá de defender a agenda brasileira e as medidas brasileiras será o novo embaixador do Brasil. Eu estarei usando um outro chapéu e estarei defendendo os interesses dos membros da OMC e os interesses da instituição.
Nos últimos dois anos, um dos temas que o sr. tratou foi a introdução do câmbio na agenda da OMC. Como diretor, o sr. acredita que o tema ainda terá espaço, depois de ter tantas críticas?
São os governos que precisam definir isso. O diretor não tem pode decidir o que os membros devem ou não falar. Não é uma decisão do diretor. Se alguém quiser introduzir um tema, seja energia, segurança alimentar, ele tem de convencer os demais que o tema deve ser discutido. O diretor-geral que quiser ditar a agenda da OMC perde o emprego rapidamente.
Entre os nove candidatos, três são latino-americanos. Por que Brasil não se comprometeu em apoiar apenas a América Latina, se por acaso o sr. for eliminado?
A posição do governo foi uma posição sistêmica e coerente com práticas de organismos internacionais. Há uma alternância entre desenvolvidos e em desenvolvimento. Outro conceito é a rotatividade geográfica. Como já houve um asiático na OMC, seria a vez de um latino-americano ou africano.
Folha de S. Paulo - Candidato do Brasil à direção da OMC se afasta de posição do país
Política comercial tida como protecionista pode atrapalhar Azevêdo
DE SÃO PAULO - Tanto na sua apresentação ao Conselho-Geral da OMC (Organização Mundial do Comércio) quanto na entrevista coletiva que a seguiu, o candidato do Brasil à direção-geral do organismo, embaixador Roberto Azevêdo, fez questão de marcar sua distância da posição brasileira sobre temas de comércio.
Tida como protecionista, a política comercial do Brasil pode ser uma pedra no sapato do candidato -representante do país na OMC desde 2008- na disputa à liderança da entidade voltada para a liberalização do comércio.
"Agora sou candidato. Fiz questão de que eles soubessem que estou aqui expressando minhas opiniões, e não as do governo brasileiro. É importante que isso fique bem claro desde o começo", disse, em entrevista transmitida via internet, de Genebra.
O brasileiro voltou a criticar a paralisia na área de negociações da OMC e disse que, "a não ser que a OMC volte a apresentar resultados", continuará "fora do radar".
Para Azevêdo, o grande desafio do próximo diretor-geral será destravar a rodada Doha (de liberalização do comércio) -e que, para isso, é preciso "um novo olhar".
"Se você fizer as coisas da mesma maneira, a chance de avançar é zero. Tem que fazer diferente. Como? Eu não sei", reconheceu. "Mas muitas vezes, quando ajudei a destravar impasses, também não sabia."
Azevêdo disputa o posto com outros oito candidatos -dois deles latino-americanos. O mexicano Herminio Blanco já sugeriu que os nomes da região se unam para fortalecer a candidatura do "melhor".
O Brasil, porém, parece pouco disposto a unir forças com os latinos. Ontem, Azevêdo desconversou sobre a ideia: "O Brasil deixou claro que apoia um novo diretor-geral de um país em desenvolvimento", disse, incluindo os africanos entre a preferência.
Na última semana, o Brasil enviou um alto diplomata à cúpula da União Africana, na Etiópia, com cartas a mais de 20 países pedindo apoio a Azevêdo. A ideia é que o brasileiro seja a segunda opção desses países, que devem apoiar, primeiro, Gana ou Quênia. (ISABEL FLECK)
Folha de S. Paulo - Embaixador tem discurso de um profissional do comércio / Análise / Clóvis Rossi
O discurso com que o embaixador Roberto Azevêdo se apresentou ontem a seus pares da Organização Mundial do Comércio é uma peça típica de um profissional do comércio e da negociação.
O embaixador sabe perfeitamente que o maior obstáculo que sua candidatura enfrenta é o rótulo de protecionista que está sendo aplicado às políticas comerciais brasileiras e, por extensão, ao que as defende em Genebra.
Por isso mesmo, Azevêdo, como a Folha já havia antecipado domingo, tratou de deixar claro o que deveria ser óbvio, mas que disputas eleitorais acabam obscurecendo: Roberto Azevêdo, como embaixador do Brasil, defende as posições do governo brasileiro; Roberto Azevêdo, como diretor-geral da OMC, defenderá que "comércio é um elemento indispensável para o crescimento e desenvolvimento de qualquer economia".
O embaixador tem dito a amigos que nem sequer seria candidato se não acreditasse nas virtudes do livre-comércio, que, enfim, é a missão central atribuída à OMC. Mas, atenção, não é o comércio como um fim em si mesmo, mas "como um meio de melhorar as condições de vida das famílias no mundo real".
Azevêdo adiantou, no entanto, poucas pistas sobre o que pretende fazer para tirar do pântano a Rodada Doha, o mais ambicioso projeto de liberalização comercial que o mundo lançou, já faz 12 anos.
Para o diplomata brasileiro, na verdade são quase "duas décadas de estagnação no front negociador", contando o tempo perdido desde a transformação do antigo Gatt (Acordo Geral de Tarifas e Comércio) em OMC, em 1995, até o lançamento da Rodada Doha (2001).
Azevêdo limitou-se a dizer que "o sistema [multilateral de comércio] precisa ser atualizado ou logo se tornará incapaz de lidar com as demandas de um mundo transformado".
Que atualizações, ele já tem na cabeça, mas não era o momento de dizer porque a etapa de ontem faz parte do que, no jargão da OMC, se chama de "concurso de Miss Simpatia", uma avaliação mais da personalidade do candidato do que propriamente do conteúdo de suas propostas.
Brasil Econômico - Candidato à direção da OMC, Azevêdo promete que retomará rodada Doha
Em discurso de apresentação ao cargo, embaixador brasileiro aponta paralisia do órgão de comércio mundial
Ruy Barata Neto, de Brasília - A retomada das negociações da Rodada Doha, paralisada há mais de 11 anos, será o principal desafio a ser perseguido pelo embaixador brasileiro Roberto Carvalho de Azevêdo caso assuma a diretoria-geral da Organização Mundial do Comércio (OMC). Representante permanente do Brasil no órgão desde 2008, Azevêdo aparece como um dos favoritos da disputa à sucessão do francês Pascal Lamy, cujo mandato termina em agosto.
Responsável por encerrar, ontem, a fase de apresentação dos candidatos, Azevêdo aposta na sua qualificação técnica para ganhar a disputa e conseguir destravar as negociações da rodada Doha durante o mandato. "Tenho o expertise necessário para fazer isso porque já pude atuar tanto no nível técnico quanto no estratégico, além de contar com a confiança dos membros da OMC, ter um histórico de transparência nas negociações e diálogo com as mais diferentes tendências da organização", afirma Azevêdo.
Um dos concorrentes mais fortes do embaixador brasileiro é o mexicano Herminio Blanco, economista e ex-ministro do comércio e indústria. A experiência ministerial é apontada como uma vantagem em relação ao concorrente brasileiro que ainda não assumiu tal cargo. Mas, segundo Azevêdo, esta lacuna não deverá ser um problema na disputa.
Na avaliação do brasileiro as soluções para o impasse da Rodada Doha dependerão do conhecimento a cerca do processo do histórico das negociações da OMC, sobretudo no âmbito técnico. "É preciso expertise para se achar solução, e isso, francamente, não acontece no nível ministerial", afirma. "Não estou dizendo que ex-ministros não são capazes de fazê-lo, mas você tem que observar o caminho antes de se fechar um acordo."
Azevêdo também lembrou que até antes da criação da OMC, em 1994, nenhum dos diretos gerais do órgão equivalente eram de nível ministerial. "Todas as rodadas de negociação foram concluídas por estas pessoas", afirma. "Aliás, desde 1995, quando a diretoria passou a ser composta por ministros, nenhuma rodada foi concluída."
Ex-ministro das relações exteriores do governo Fernando Henrique Cardoso, Luiz Felipe Lampreia afirma que a experiência de Azevêdo na OMC o torna o mais qualificado entre os concorrentes ao cargo. Ele concorda com Azevêdo a respeito da urgência no avanço das negociações de Doha. "Se não tiver novos avanços como as rodadas de liberalização do comércio e de redução de obstáculos comerciais, a OMC esta fadada a ser apenas um mecanismo de solução de controvérsias", afirma.
Segundo Lampreia, as chances do embaixador brasileiro são grandes por conta da predisposição dos membros da OMC em elegerem um diretor-geral representante de um país emergente. "É a bola da vez", afirma. Além de Blanco, está na disputa Anabel González, ministra de comércio exterior da Costa Rica, como a terceira representante da América Latina. De países da África aparecem Alan John Kwadwo Kyerematen, ex-ministro de Comércio e Indústria de seu país de Ghana, e a embaixadora Amina C. Mohamed, do Kenya.
Ao todo, disputam nove candidatos. Além dos já citados, estão no páreo representante da Indonésia, Nova Zelândia, Jordânia e Coreia do Sul. O novo diretor geral deve ser nomeado por consenso antes do fim de maio e assumirá suas funções no começo de setembro.
Valor Econômico – Brasileiro é destaque na apresentação de candidatos à OMC
Por Assis Moreira | De Genebra
Encerrada a fase de apresentação dos nove candidatos para substituir Pascal Lamy na direção-geral da Organização Mundial do Comércio (OMC), dois ou três candidatos se destacaram, na percepção de vários negociadores em Genebra. Os candidatos da Nova Zelândia, Tim Groser, e do Brasil, Roberto Azevedo, são apontados como os que tiveram melhor desempenho diante dos 158 países membros. Alguns delegados incluem a candidata da Costa Rica, Anabel Gonzalez, que teria ido melhor do que se esperava.
A apresentação dos candidatos na OMC é um processo necessário, mas não decisivo. Se acertou no desempenho, se mantém no páreo. Se errou, pode perder algum apoio. Mas a decisão de cada país sobre quem vai apoiar será tomada nas capitais, no jogo de barganhas e consultas com os parceiros
A diferença é que Tim Groser, de país desenvolvido e que já comandou a OMC, pode ter pouca chance de prosperar, a não ser que os países desenvolvidos queiram comprar uma enorme briga com países em desenvolvimento, que consideram ser a vez de um de seus candidatos.
Para Azevedo, muito agora dependerá da movimentação de Brasília, dos contatos diretos da presidente Dilma Rousseff com outros presidentes em busca de apoio. Curiosamente, muitas delegações mencionam telefonemas recebidos, mas nenhum fala de chamada do Palácio do Planalto.
Nas apresentações, nenhum dos nove candidatos correu grande risco. Mas, dependendo de quem se ouvia, os comentários eram de que alguns candidatos teriam chocado seus próprios apoiadores, sobretudo os de Gana e Quênia, aparentemente mais interessados em tranquilizar os países desenvolvidos.
Houve repetição de muita banalidade sobre o papel da OMC, o que cada um acha que pode fazer etc. A falta de humildade também parece ter atacado os candidatos. Tudo é usado para carregar a favor ou contra o favorito.
Pelo que se deduz das percepções, no grupo do meio aparecem três candidatos.
O mexicano Herminio Blanco deixou poucas lembranças. Na verdade, a impressão que ele dá é de até poder ser um bom negociador para o México, o que é diferente de ser um mediador para acordos. O candidato da Coreia do Sul, o ministro de Comércio, Taeho Barq, não deu má impressão. Mas dificilmente terá apoios importantes, na opinião de alguns participantes. A candidata da Indonésia, Mari Pangestu, apareceu adoentada, insistiu que atrás de seu sorriso pode ser dura e tampouco surpreendeu muito.
No último grupo estão os candidatos de Gana, Jordânia e Quênia. O ganense Alan John Kwadwo Kyerematen é, porém, o favorito na casa de aposta eletrônica Paddy Power, em Londres.
Os candidatos terão agora fevereiro e março para fazer campanha. Enquanto isso, em Genebra os embaixadores decidirão quais as regras que serão utilizadas para as consultas a serem feitas aos países a respeito dos candidatos.
Assim, provavelmente só em abril começará a série de consultas aos países. A expectativa é de que inicialmente haverá a eliminação de dois ou três candidatos, pelo menos. Se não houver uma guerra, como já ocorreu no passado, com candidato recusando a sair do páreo, no fim de abril a OMC terá escolhido seu novo diretor-geral.