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quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

1933: a data sombria da ascensao de Hitler ao poder...

Pode ser que qualquer comparação com a situação do Brasil atual seja exagerada. Pode ser.
Mas do meu ponto de vista o Brasil já vive uma situação de fascismo corporativo, que é uma forma soft do mesmo fascismo que dominou a Alemanha 80 anos atrás. Nossa situação ainda é relativamente benigna, tanto que eu posso escrever o que quero, mesmo sob a ameaça velada de sanções indiretas dos companheiros. Outros países, em nossa região, infelizmente, já enfrentam uma situação de fascismo explícito, que os mesmos companheiros consideram e confundem com um regime progressista, de esquerda, avançado, anti-imperialista, enfim, essas coisas que eles gostam de proclamar como sendo "progressistas" e populares, quando não socialistas. Eles são, na verdade, fascistas, mesmo sem o saber, e sem ter sequer consciência de que tudo o que proclamam, desejam, promovem, é fascismo puro, ou seja, o controle do Estado sobre os cidadãos.
Eu, que não sou sequer um cidadão anarco-libertário, apenas um espírito livro, sei reconhecer quando o fascismo avança. E ele está avançando, pouco a pouco. Não com o meu silêncio ou a minha conivência. Sempre vou denunciar empreendimentos fascistas, onde quer que estejam, e venham de onde vierem, até de certos serviços estatais que consideramos "normais".
Por isso posto o que vai abaixo, não por concordar com todas as posturas do autor, seus argumentos ou afirmação, mas como uma forma de lembrar os perigos que rondam o Brasil, e nossas vidas, quando companheiros comprometidos com a mesma ideologia totalitária dominam o poder, e ameaçam submergir nossas liberdades, minha liberdade de dizer o que penso e de proclamar livremente minhas opiniões.
Paulo Roberto de Almeida

Há exatos 80 anos, ele chegou ao poder. Em nome da reparação e da igualdade, exterminou milhões de vidas. E a marcha do terror se fez no silêncio cúmplice
 Reinaldo Azevedo
30/01/2013 13:42:53

Há exatos 80 anos, Adolf Hitler se tornava o chanceler da Alemanha. O resto é horror, perpetrado, em boa parte, sob o silêncio cúmplice do povo alemão e das demais nações.

Antes que se tornasse um homicida em massa, ele já havia atentado contra a ordem democrática, mas o regime o anistiou. Deram a Hitler em nome dos valores democráticos o que ele jamais concederia a seus adversários em nome dos valores nazistas.

Antes que se tornasse um homicida em massa, ele fundiu a chancelaria com a Presidência da República. E se fez silêncio.

Antes que se tornasse um homicida em massa, ele anexou a Áustria e a Renânia. E se fez silêncio.

Antes que se tornasse um homicida em massa, ele já havia ordenado, em 1933, a conversão de uma antiga fábrica de pólvora, em Dachau, num campo de concentração. E se fez silêncio.

Antes que se tornasse um homicida em massa, a França e a Inglaterra aceitaram que anexasse a região dos Sudetos, na Tchecoslováquia. Assinaram com ele um “acordo de paz”. E se fez silêncio. No ano seguinte, ele entrou em Praga e começou a exigir parte da Polônia. Depois vieram Noruega, Dinamarca, Holanda, França… É que haviam feito um excesso de silêncios.

– Silêncio quando, em 1º de abril de 1933, com dois meses de poder, os nazistas organizaram um boicote às lojas de judeus.
– Silêncio quando, no dia 7 de abril deste mesmo ano, os judeus foram proibidos de trabalhar para o governo alemão. Outros decretos se seguiram — foram 400 entre 1933 e 1939.
– Silêncio quando, neste mesmo abril, criam-se cotas nas universidades para alunos não alemães.
– Silêncio quando, em 1934, os atores judeus foram proibidos de atuar no teatro e no cinema.
– Silêncio quando, em 1935, os judeus perdem a cidadania alemã e se estabelecem laços de parentesco para definir essa condição.
– Silêncio quando, neste mesmo ano, tem início a transferência forçada de empresas de judeus para alemães, com preços fixados pelo governo.
– Silêncio quando, entre 1937 e 1938, os médicos judeus foram proibidos de tratar pacientes não judeus, e os advogados, impedidos de trabalhar.
– Silêncio quando os passaportes de judeus passaram a exibir um visível “j” vermelho: para que pudessem sair da Alemanha, mas não voltar.
  – Silêncio quando homens que não tinham um prenome de origem judaica foram obrigados a adotar o nome “Israel”, e as mulheres, “Sara”.

Os milhões de mortos do nazismo, muito especialmente os seis milhões de judeus, morreram foi de… SILÊNCIO. Morreram porque os que defendiam a ordem democrática e os direitos fundamentais do homem mostraram-se incapazes de denunciar com a devida presteza o regime de horror que estava em curso.

Nos nossos dias
É pouco provável que aquelas barbaridades se repitam. Mas não se enganem. Oitenta anos depois, a democracia ainda é alvo de especulações as mais destrambelhadas. Cometei aqui a tese delinquente de certa senhora, estudiosa do Islã e aboletada na Universidade Harvard, segundo quem os islâmicos estão dando à luz uma nova democracia, que ela classifica de “iliberal”. Pois é… Em 1938, um ano antes do início da Segunda Guerra, cogitou-se o nome de Hitler para o Nobel da Paz. As leis raciais contra os judeus já estavam em vigência…

Aquela tal senhora — Jocelyne Cesari — escreve, como quem diz “Bom dia!”, que essa forma particular de democracia não implica necessariamente o fim da discriminação religiosa ou de gênero. Dona Jocelyne acha possível chamar de “democrático” um regime que segregue as pessoas por sua religião e gênero…

Um “intelectual” como Salavoj Zizek dedica-se a especular sobre as virtudes do moderno terrorismo, conquista admiradores mundo afora, inclusive no Brasil, e passa a ser uma referência do pensamento de esquerda. Reitero: ele não está a falar na tal “redenção dos oprimidos”. Ele empresta valor afirmativo a ações terroristas.

Mundo afora, direitos individuais são solapados pelo Estado — em nome da igualdade ou da reparação —, e a criação de leis que discriminam homens segundo a cor de sua pele ou sua origem é vista como um avanço.

Programa
Não custa lembrar aqui algumas “exigências” do programa que os nazistas tinham para a Alemanha, que certamente deixam encantados alguns dos nossos esquerdistas ainda hoje — especialmente aqueles que defendem, como é mesmo?, o controle social da mídia. Eis aqui parte do que eles queriam para a Alemanha:
(…)
11. A supressão dos rendimentos a que não corresponda trabalho ou esforço, o fim da escravidão do juro;

12. Levando-se em conta os imensos sacrifícios em bens e em sangue derramado que toda guerra exige do povo, o enriquecimento pessoal graças à guerra deve ser qualificado de crime contra o povo. Exigimos, portanto, a recuperação total de todos os lucros de guerra;

13. Exigimos a nacionalização de todas as empresas (já) estabelecidas como sociedades (trustes);

14. Exigimos participação nos lucros das grandes empresas;

15. Exigimos que se ampliem generosamente as aposentadorias;

16. Exigimos a constituição e a manutenção de uma classe média sadia, a estatização imediata das grandes lojas, e o seu aluguel a preços baixos a pequenos comerciantes, cadastramento sistemático de todos os pequenos comerciantes para atender às encomendas do Estado, dos Länder e das comunas;

17. Exigimos uma reforma agrária apropriada às nossas necessidades nacionais, a elaboração de uma lei sobre a expropriação da terra sem indenização por motivo de utilidade pública, a supressão da renda fundiária e a proibição de qualquer especulação imobiliária;

18. Exigimos uma luta impiedosa contra aqueles cujas atividades prejudicam o interesse geral. Os infames criminosos contra o povo, agiotas, traficantes etc. devem ser punidos com pena de morte, sem consideração de credo ou raça;

19. Exigimos que se substitua o direito romano, que serve à ordem materialista, por um direito alemão;

20. Com o fito de permitir a todo alemão capaz e trabalhador alcançar uma instrução de alto nível e chegar assim ao desempenho de funções executivas, deve o Estado empreender uma reorganização radical de todo o nosso sistema de educação popular. Os programas de todos os estabelecimentos de ensino devem ser adaptados às exigências da vida prática. A assimilação dos conhecimentos de instrução cívica deve ser feita na escola desde o despertar da inteligência.  Exigimos a educação, custeada pelo Estado, dos filhos – com destacados dotes intelectuais – de pais pobres, sem se levar em conta a posição ou a profissão desses pais;

21. O Estado deve tomar a seu cargo o melhoramento da saúde pública mediante a proteção da mãe e da criança, a proibição do trabalho infantil, uma política de educação física que compreenda a instituição legal da ginástica e do esporte obrigatórios, e o máximo auxílio possível às associações especializadas na educação física dos jovens;

22. Exigimos a abolição do exército de mercenários e a formação de um exército popular;

23. Exigimos que se lute pela lei contra a mentira política deliberada e a sua divulgação através da imprensa. Para que se torne possível a constituição de uma imprensa alemã, exigimos:
a) que todos os redatores e colaboradores de jornais editados em língua alemã sejam obrigatoriamente membros do povo (Volksgenossen);
b) que os jornais não-alemães sejam submetidos à autorização expressa do Estado para poderem circular. Que eles não possam ser impressos em língua alemã;
c) que toda participação financeira e toda influência de não-alemães sobre os jornais alemães sejam proibidas por lei, e exigimos que se adote como sanção para  toda e qualquer infração o fechamento da empresa jornalística e a expulsão imediata dos não-alemães envolvidos para fora do Reich.
Os jornais que colidirem com o interesse geral devem ser interditados. Exigimos que a lei combata as tendências artísticas e literárias que exerçam influência debilitante sobre a vida do nosso povo, e o fechamento dos estabelecimentos que se oponham às exigências acima.

(…)

Começando a encerrar
Não, senhores! Qualquer semelhança com um programa de esquerda — e me digam quais esquerdistas não endossariam ainda hoje o que vai acima — não é mera coincidência. O fascismo, também na sua vertente nazista, sempre foi de esquerda nos seus fundamentos mais gerais. Erigiu, sim, uma concepção de poder e de organização de estado diferente daquelas estabelecidas pela Internacional Comunista e repudiava o entendimento que tinha esta do “internacionalismo”. Mas o ódio ao liberalismo econômico, à propriedade privada e às liberdades individuais era o mesmo.

Essa cultura da “engenharia social”, que cassa direitos individuais em nome de um estado reparador, ainda está muito presente no mundo. Como se percebe, ela se estabelece oferecendo o paraíso na terra, um verdadeiro reino de justiça e igualdade. Deu no que deu.

Neste ponto, alguém poderia objetar: “O Reinaldo agora acha que a luta por justiça resulta em fascismo…”. Não! O Reinaldo não acha isso. Pensa, isto sim, que as tentações totalitárias manipulam o discurso da igualdade para criar um ente de razão, estado ou partido, que busque substituir a sociedade.

E não se enganem: oitenta anos é quase nada na história humana. Não faz tanto tempo assim. Em 1933, a humanidade já dispunha de boa parte da literatura que vale a pena, de boa parte do pensamento que vale a pena, de boa parte até mesmo do conhecimento científico que ainda hoje serve de referência.

No entanto, o mundo viveu sob o signo da besta.

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

O que o Brasil poderia esperar de Cuba?: uma pergunta ambígua...

O que o Brasil poderia esperar de Cuba?

A rigor, nada. Pensando bem (e seriamente), o que, exatamente, Cuba e sua economia decrépita poderiam fornecer ao Brasil, ao seu sistema político, ou à sua estrutura social, cultural, educacional, científica ou seja lá o que mais for? Rigorosamente nada, ou concedamos, alguma coisa, ainda que indistinguível (que aliás poderia ser adquirida em qualquer outra parte, provavelmente com financiamento comercial de médio prazo, o que Cuba de toda forma se encontra impossibilitada de fazer).
Poucos sabem que Cuba constitui o único país no mundo (capitalista e socialista) com o qual o Brasil assinou, por pedido expresso de Cuba, um dos tão execrados (por certos esquizofrênicos econômicos) acordos de promoção e proteção recíprocas de investimentos. Sim, foi por insistência de Cuba, que viu nesse tipo de instrumento – tão vilipendiado por outros motivos e com outros países – uma das poucas oportunidades de atrair investimentos para sua economia esclerosada. 
O Brasil, situação singular no quadro dos recusados APPIs, configuraria, portanto, caso o acordo entrasse em vigor e produzisse resultados efetivos, o papel de país “imperialista”, no sentido leninista ou luxemburguiano da palavra, isto é, exportador de capitais. 
Seria essa a função reservada ao maior país da América Latina pela mais desimportante de todas as economias da região? Curioso, não é?
Quais outras vantagens políticas, econômicas ou diplomáticas se poderiam esperar dessa relação absolutamente “assimétrica” (para retomar um termo da moda)? Holofotes da imprensa, certamente, fotos na mídia mundial, algumas, ou talvez promessas futuras e grandes conchavos para reformar a ordem política e econômica mundiais. Duvidoso, tudo isso, pois que, como diriam os mais jovens em sua gíria irreverente, Cuba “já era” e o “papo” tradicional dos cubanos, de mudar a situação de miséria do Terceiro Mundo – resultado da dominação capitalista e da exploração imperialista, lembrem-se – já deu o que tinha que dar, “bicho”. Cuba passou de moda, ainda que as camisetas de Ché Guevara continuem vendendo: trata-se, provavelmente do mais fabuloso revolucionário amigo dos capitalistas de que já se teve notícia nos anais da publicidade mundial (de graça, pois já não há direitos de autor, copyright pela imagem, pagamento sequer de direitos morais, etc...).
Cuba já deixou de ser um asset – em outros tempos valorizado no circuito chique do turismo político-ideológico mundial – para virar uma liability, mesmo para os revolucionários, que já não conseguem explicar como é que morrem, ainda, dissidentes em suas prisões. 
Não se imagina o que poderiam fazer juntos países tão díspares, em termos de economia, de política e de sociedade, quanto Brasil e Cuba. O que poderiam conversar seus dirigentes? Como trocar idéias políticas (e ensinamentos econômicos), ou ainda coordenar iniciativas e ações diplomáticas, partindo de situações e interesses tão diferentes entre si quanto Cuba e Brasil. 
Esse “papo” de se opor à hegemonia e à arrogância do unilateralismo imperial não resiste à mais elementar das análises jornalísticas, dessas feitas por repórteres de primeiro emprego. Essa “coisa” de construir “alternativas ao neoliberalismo” não se sustenta com base na dependência financeira e na dolarização de fato da economia de Cuba. “Uma outra América” é talvez possível, mas precisa ser justo com Cuba?
Decididamente, Cuba “já era” e “só não viu quem já morreu”, como se diz na canção de um poeta brasileiro (antigo admirador de Cuba, por sinal, mas já crítico, como foi a seu tempo José Saramago, depois da morte ou fuzilamento de mais alguns dissidentes). 
Dá para continuar a procurar vantagens possíveis num circuito turístico feito de muitas (e, reconheçamos, sinceras) recordações do passado e poucas, pouquíssimas promessas de futuro? Ou será que uma das faces de Janus apresenta-se como mais opaca do que a outra?
De fato, Cuba já não é mais futuro para nada, e é só o passado de alguns saudosistas anacrônicos, que vivem de sonhos que não voltam mais.
A menos que existam outras "coisas" de que não saibamos...

O que Cuba espera do Brasil?: uma pergunta com varias respostas


O que Cuba espera do Brasil?

Numa palavra, tudo
A ilha apresenta-se hoje – com a possível e óbvia exceção da Coréia do Norte – como a mais rotunda experiência de fracasso material e político das formas coletivistas de economia planejada de toda a história do socialismo real conhecido no século XX.
A rigor, e na verdade, pensando na produção açucareira apenas, a ilha regrediu para o século XIX. O desempenho relativamente satisfatório nos indicadores educacionais e de saúde não pode esconder o avançado grau de sofrimento psicológico (e portanto humano) de seu povo, obrigado a suportar uma economia esquizofrênica, caracterizada pela dualidade monetária, na qual quem não tem um parente em Miami não consegue ter acesso aos bens mais elementares da vida terrena.
Para todos os efeitos práticos, Cuba constitui hoje uma economia totalmente dolarizada, pois que o próprio Estado obriga os cidadãos a procurar a moeda sem a qual eles não poderiam sobreviver decentemente. A ilha antecipou-se em muitos anos ao Equador e El Salvador, onde na população ainda pode-se encontrar aqueles que têm “saudades” das -- e fazem cálculos nas -- antigas moedas nacionais, o que dava a impressão de certa autonomia nacional. 
Na ilha caribenha, desde muito, mesmo os trabalhadores menos qualificados aprenderam a contar em dólares e nele dispõem de seu principal elemento de troca monetária, de uma indispensável reserva fungível e da mais importante referência de valor, que são, afinal de contas, as clássicas qualidades de uma moeda nacional, como se aprende em qualquer manual de economia política. Onde está a autonomia?
Em resumo, a ilha perdeu por completo sua independência econômica e hoje se revela totalmente dependente de aportes estrangeiros, assim como os dirigentes políticos estão, para todos os efeitos práticos, inteiramente dependentes do vilipendiado embargo americano, que lhes dá a justificativa moral para a continuidade de uma situação que só se pode classificar de surrealista, como naqueles romances clássicos do realismo mágico latino-americano (à la Miguel Angel Astúrias, Gabriel Garcia Márquez ou Augusto Roa Bastos).
Depois que o socialismo soviético fez chabu, deu dois suspiros e morreu, depois que a própria União Soviética desapareceu nas dobras da história, a ilha passou por maus bocados, o chamado "período especial", durante o qual os cubanos, já acostumados com a libreta de racionamento, viram alongar-se os dias em que a libreta não cobre mais sequer as necessidades básicas. Cálculos de alguns economistas bem informados dizem que a libreta não alcança nem duas semanas do mês, terminando aí pelo dia 13 (se não for antes, agora); o que significa que a partir do 14. dia os cubanos devem exercitar sua imaginação para chegar ao começo do próximo mês de libreta. Se não fosse a generosidade chavista, especialmente sua prodigalidade em petróleo, os cubanos sequer poderiam andar de ônibus, e teriam de se deslocar a pé. E aqueles que acusam os americanos como responsáveis pelos problemas de sua economia, ao sustentarem um embargo ridículo, provavelmente não sabem que os EUA são hoje os principais -- repito, os MAIS IMPORTANTES -- provedores de Cuba em alimentos, remédios e defensivos agrícolas, produtos não cobertos pelo embargo. Os cubanos residentes em Miami são também os principais provedores de recursos em divisas para os que ficaram (infelizes), mas o governo se apropria da maior parte desses dólares.
Seria cômico se não fosse trágico, para a maior parte da população, levada a se lançar em frágeis embarcações na mais longa das aventuras de boat people conhecidas na história moderna. Onde está a honestidade, como diria um antigo sambista?
Por isso mesmo, Cuba necessita absolutamente que o Brasil concorde em prover a ilha dos mais elementares bens, coisas que o mesmo Brasil já foi (e de certo modo ainda vai) buscar junto ao império: mercados, capitais, know-how, financiamentos, objetos de lazer (não sei se nossas novelas ainda passam na ilha, ou se já foram descartadas por inadequação “moral”) e outros bens tangíveis e intangíveis. 
Dentre estes últimos, encontram-se dois que seria impossível de encontrar nas relações do Brasil com o império: legitimidade política e reconhecimento internacional. Os irmãos Castro necessitam ainda mais desesperadamente desse tipo de caução política e moral do que seus habitantes necessitam dos produtos e novelas brasileiras. Trata-se de uma questão de vida ou morte, agora que poucos dirigentes políticos nacionais – mesmo aqueles da esquerda européia, sempre complacentes com os habituais “anti-imperialistas latino-americanos” – deixaram de se comover com o cerco imposto à ilha pelo dragão imperial da maldade capitalista.
Ou seja, Cuba vai agarrar-se como pode a esta oportunidade única (ou rara, hoje em dia) de continuar arengando um aliado de ocasião (ou de situação), para lançar mais algumas diatribes contra a “fonte” de todo o mal de que padece a sua fazenda particular. Uma visita de um dirigente brasileiro não se desperdiça por nada neste mundo: o mais importante país da América do Sul, a mais vibrante democracia do mundo ocidental, o mais africano (e o mais cubano) de todos os povos da região, o líder mais em moda da política mundial, uma das economias mais prometedoras dentre os emergentes, enfim, o país mais independente e arredio a qualquer dominação imperial de todo o continente, o Brasil é o grande irmão de que Cuba necessita. 
Maravilha das maravilhas, isso tudo junto e ainda por cima uma predisposição a ouvir e “compreender” as razões do irmão do último patriarca saído diretamente das páginas de um romance gótico (ou barroco). 
Seria patético se não fosse perigoso, como se pode imaginar...

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Brasil-Iran: anunciando uma coisa, fazendo outra

O Embaixador do Irã no Brasil desmente anúncios do governo brasileiro. Um dos dois está, portanto, mentindo. Se o Embaixador estiver confrontando equivocadamente o governo brasileiro ele até poderia, em princípio, ser considerado persona non grata, ou pelo receber uma advertência da chancelaria brasileira.
Resta saber o que de fato ocorreu.
Conhecendo a tendência de certas pessoas à logorreia, não deve ser difícil adivinhar...
Paulo Roberto de Almeida

Irã diz que Brasil não ofereceu asilo à iraniana
12/08/2010 - 18h59

O embaixador do Irã no Brasil, Mohsen Shaterzadeh, afirmou nesta quinta-feira que o Brasil não ofereceu asilo político à iraniana Sakineh Ashtiani, contrariando o que o chanceler Celso Amorim disse no início da semana.

De acordo com Shaterzadeh, não houve oferecimento formal de asilo ou refúgio político.

O embaixador iraniano ressaltou que este assunto diz respeito apenas ao Irã.

Celso Amorim afirmou que a decisão de permitir o asilo de Ashtiani no Brasil seria boa para a imagem do país.

Na avaliação do iraniano, a repercussão mundial do assunto é uma forma de constranger o presidente Mahmoud Ahmadinejad.

Segundo ele, “não houve ofício por escrito, nota oral ou troca de notas, como é a orientação na diplomacia em casos assim. Ocorreram crimes e serão julgados conforme o código do Irã, que segue preceitos morais e culturais do país. O processo envolve pessoas iranianas, por que deveria ter o envolvimento de outros países?”

O embaixador disse ainda ter certeza de que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva não teve a pretensão de interferir num assunto interno do Irã.

Ele confirmou ter tratado do assunto em reuniões com diplomatas no Brasil e no Irã e que o embaixador do Brasil em Teerã, Antonio Salgado, também discutiu o assunto com autoridades do país.

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Addendum: o MRE se apressou em adiantar a informação que vai abaixo; parece que as autoridades iranianas já se anteciparam descartando qualquer interferência em seus assuntos internos. Soberania é isso ai...

Ministério das Relações Exteriores
Assessoria de Imprensa do Gabinete
Nota à Imprensa nº 532
13 de agosto de 2010

Apelo referente à senhora Sakineh Mohammadi Ashtiani

O Embaixador do Brasil em Teerã, Antonio Salgado, reuniu-se, em 4 de agosto, com o Vice-Ministro Interino para as Américas do Ministério das Relações Exteriores do Irã, para transmitir oficialmente o apelo referente à cidadã iraniana Sakineh Mohammadi Ashtiani e a oferta de recebê-la no Brasil, feitos pelo Presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
O Itamaraty considera que a gestão realizada pelo Embaixador do Brasil em Teerã constitui, do ponto de vista diplomático, formalização da oferta. O Itamaraty confia em que o apelo feito com base em considerações puramente humanitárias e no bom relacionamento entre os dois Governos, que não visa a interferir na soberania iraniana, receberá a devida atenção das autoridades daquele país.

www.itamaraty.gov.br
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quarta-feira, 28 de julho de 2010

O PT e as FARC: precisa de mais comprovacao?

O PT reagiu horrorizado às afirmações -- não insinuações, declarações mesmo -- de que tinha relações com as FARC.
Não é que ele mantenha relações, asi no más. O que acontece, de verdade, é que o partido, ou seus agentes qualificados, estavam, objetivamente, a serviço das FARC, como se depreende da matéria abaixo. Assim como sempre estiveram a serviço dos interesses cubanos e do que mais fosse no gˆ´nero: anti-imperialismo, antiamericanismo, anticapitalismo, antihegemonismo, e outros anti, com alguma coisa a favor, obviamente: pró-socialista, pró-comunista, pró-fascismo bolivariano, etc., etc., etc.
Precisa mais ou estaria bem assim?
Paulo Roberto de Almeida

PT e as Farc
Garcia se ofereceu como “ponte” entre Brasil e Farc

Fernando Mello
Revista Veja, 28.07.2010

Atual assessor especial da presidência pediu audiência no Itamaraty em 1999
O encontro ocorreu no gabinete do então ministro, Luiz Felipe Lampreia, que relatou ter recusado a oferta

No final de 1999, o hoje assessor especial da Presidência da República Marco Aurélio Garcia pediu uma audiência oficial no Ministério das Relações Exteriores. O encontro ocorreu no gabinete do então ministro, Luiz Felipe Lampreia. Garcia se ofereceu ao governo brasileiro para atuar como “ponte” com as Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia). Nos últimos dois dias, VEJA.com colheu relatos sobre o encontro.

Nesta quarta-feira, procurou o ex-ministro Lampreia, que confirmou a audiência. Servidor de carreira, com mais de 40 anos de Itamaraty, o ex-ministro não tem filiação partidária. “A proposta era de promover um encontro, uma relação, uma conversa”, afirmou.

Na última semana, o candidato a vice na chapa do tucano José Serra, Indio da Costa (DEM-RJ), provocou reações do PT ao dizer que o partido tem ligações com as Farc. O presidente do PT, José Eduardo Dutra, chamou Indio de “desqualificado” e “medíocre”.

Em 1999, Garcia era o responsável pela área de assuntos internacionais do PT. Lampreia confirmou a conversa. “Ele pediu uma hora oficialmente, está na agenda”, relata. “Ele me fez essa oferta. Eu agradeci o espírito com que ele fez a oferta, um espírito respeitoso. Mas disse que não aceitava. Como chanceler não tinha nenhum interesse em ter contatos com representantes das Farc. A organização estava combatendo um governo constitucional, amigo do Brasil.”

Lampreia disse a VEJA.com que, recusada a oferta, Garcia não apresentou mais detalhes, nem disse qual seria o representante das Farc escalado para falar com o governo brasileiro. Naquele ano, as Farc tinham muito mais força do que hoje. Seus guerrilheiros se aproximavam da capital, Bogotá, e tinham chances de tomar o poder.