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Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

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domingo, 9 de junho de 2019

Os desastrosos incentivos da era petista - Editorial Estadao

Esses incentivos eu incluiria na minha lista dos "crimes econômicos" do lulopetismo, pois vários deles foram concedidos com contrapartida, sob a forma das "doações legais" ao partido criminoso, e outra parte foram objeto de "contribuições diretas", em cash ou depósitos em contas secretas, aos seus dirigentes...
Paulo Roberto de Almeida

Estudo do governo confirma os efeitos danosos das políticas de incentivos que vigoraram de 2003 a 2015. 
Editorial do Estadão, 9/06/2019

O fracasso das políticas de incentivos tributários para setores específicos da economia que marcaram a era lulopetista e o papel que essas políticas tiveram na deterioração da situação fiscal do governo federal eram conhecidos. Instrumentos tributários de estímulo à atividade econômica produzem efeitos positivos quando bem utilizados, como mostram experiências recentes de outros países. Mas já estava claro que, no Brasil, o uso político-eleitoral que os governos do PT deram a esses instrumentos desvirtuou sua finalidade e contribuiu para gerar o desastre fiscal em que o País está mergulhado e que, se não enfrentado a tempo, ameaça paralisar o setor público e transformar o atual quadro de estagnação econômica em depressão.

Estudo do governo confirma os efeitos danosos das políticas de incentivos que vigoraram de 2003 a 2015 e traz números que não deixam dúvidas quanto ao peso que os benefícios tributários têm nos gastos públicos – e, portanto, na geração do déficit fiscal. O trabalho – publicado na edição de junho do Boletim Mensal sobre os Subsídios da União da Secretaria de Avaliação, Planejamento, Energia e Loteria (Secap) do Ministério da Economia – mostra também a ineficácia desses benefícios para o estímulo à produção e, consequentemente, para a receita.

Em recente seminário virtual promovido em Brasília pelo Banco Mundial, técnicos do Brasil e de outros cinco países – Austrália, Canadá, Coreia do Sul, Holanda e México – compararam seus respectivos planos de subsídios tributários e avaliaram o impacto que eles tiveram sobre a atividade econômica e sobre a arrecadação tributária. Quando os governos implementam políticas dessa natureza, argumentam que seu objetivo é o estímulo da atividade econômica, decorrente da redução de custos tributários, e, no futuro próximo, a recuperação das receitas em razão do aumento da produção e do consumo.

Em quatro dos países que participaram do seminário (a Holanda foi excluída das comparações), houve algum paralelismo na evolução da receita e dos gastos tributários (incentivos) ao longo do tempo. No caso da Austrália, esse paralelismo é nítido, o que significa que os incentivos fiscais propiciaram, como se esperava, o aumento da arrecadação. As renúncias tributárias aumentaram entre 2011 e 2019, passando de 8% para 10% do PIB. Nesse período, a arrecadação passou de 32% para 36% do PIB. No Canadá, os incentivos evoluíram de 6% para 7% do PIB e a receita, de 38% para 40%. O caso da Coreia do Sul é um tanto diferente, pois os incentivos pouco variaram como proporção do PIB entre 2001 e 2017 (entre 2% e 2,5%), mas a arrecadação aumentou fortemente.

No Brasil, porém, enquanto os incentivos subiram constantemente entre 2003 e 2017 (passaram de cerca de 2% para 4,5% do PIB), a receita da União no fim do período era praticamente igual à do início como porcentagem do PIB. “Diferentemente dos outros países analisados, encontramos fortes indícios de que a política de renúncia tributária feita pelo governo federal entre 2003 e 2015 comprometeu a arrecadação de tributos federais, ou seja, foi uma política que, além de não contribuir para o fomento da atividade econômica, foi decisiva para deteriorar as contas públicas”, avalia o secretário da Secap, Alexandre Manoel Angelo da Silva.

Essa avaliação mostra o efeito fiscal pernicioso das políticas de incentivo da era lulopetista. Este é, de fato, um dos piores defeitos dessas políticas, mas não o único. Houve outros, como o conluio político-financeiro entre empresas beneficiadas e políticos, funcionários públicos e partidos políticos que apoiavam o governo. Além de não terem estimulado a produção, benefícios fiscais generosos concedidos nos governos de Lula da Silva e Dilma Rousseff asseguraram para empresas escolhidas pelo Palácio do Planalto lucratividade suficiente para dispensá-las de se preocupar com questões relevantes para a eficiência do setor produtivo, como busca de competitividade, produtividade e novos mercados. O País paga o preço desse atraso.

segunda-feira, 8 de janeiro de 2018

Governo nao controla subsidios que concede - Mariana Carneiro (FSP)

Governo não controla efetividade de 53% dos subsídios de renúncia fiscal

MARIANA CARNEIRO

DE BRASÍLIA
FSP, 08/01/2018 

Mais da metade dos benefícios tributários concedidos pelo governo federal via renúncia de impostos não tem o acompanhamento de nenhum órgão gestor.
Criados via projetos de lei que passaram pelo Congresso, esses benefícios atendem a setores, regiões, categorias empresariais ou mesmo pessoas físicas e consumiram o equivalente a 4,1% do PIB no ano passado (R$ 275 bilhões).
A previsão do governo é abrir mão de outros R$ 283 bilhões com renúncias de impostos neste ano com os chamados gastos tributários.
Um pente-fino feito pelo TCU (Tribunal de Contas da União) mostra que oito em cada dez desses programas não têm data para acabar - e que 53% não têm gestor responsável.
O resultado é um baixo controle sobre a efetividade das políticas que motivaram a renúncia de impostos.
São exemplos desses incentivos a Zona Franca de Manaus e o Simples.
Para o TCU, porém, o mais grave são programas sem gestores, como as desonerações da cesta básica e da folha de pagamentos e o programa de exportação da produção rural. Os três devem gerar mais de R$ 39 bilhões em renúncias neste ano e, como não estão subordinados a nenhum ministério, não têm acompanhamento de efetividade.
"Se não há acompanhamento do gestor não faz sentido. Não haverá avaliação de impacto, nem saberemos se estão dando certo", afirma Leonardo Albernaz, secretário de macroavaliação governamental do TCU.
Há quatro anos, o TCU determinou que Casa Civil e Ministério da Fazenda apontassem gestores para os programas. "Agora vamos checar se o monitoramento está sendo cumprido", diz Albernaz.
Sem espaço no Orçamento para aumentar as despesas, o governo optou por mais renúncias nos últimos anos, afirma o técnico do TCU. Em 2011, elas representavam o equivalente a 3,5% do PIB. Chegaram a 4,6% em 2015.
Com a implantação do teto de gastos, que limita a expansão de despesas, a expectativa é que a pressão por estes programas aumente mais.
"A despesa orçamentária está no teto, a renúncia não. O caminho natural será aumentar despesas via renúncias", alerta Albernaz. "Haverá pressão por mais benefícios, concedidos à margem da discussão orçamentária."
O conceito dos gastos tributários é que eles substituem uma política que poderia ser feita diretamente pelo governo por uma ação da iniciativa privada, em troca de perdão de parte dos tributos.
Claudemir Malaquias, chefe do Centro de Estudos Tributários e Aduaneiros da Receita Federal, observa que os descontos de saúde e educação para pessoas físicas no Imposto de Renda são um exemplo de gasto tributário.
"O governo reconhece que não tem condições de oferecer escola e hospital para todos, por isso desonera as famílias", afirma. "Os gastos tributários existem também em outros países. A diferença é que não têm a mesma proporção que no Brasil."
Segundo análise do TCU, renúncias com esses benefícios superam o Orçamento do governo em algumas áreas. Um exemplo são as despesas com políticas de energia. Dos R$ 7,6 bilhões despendidos nessa função em 2016, R$ 1,7 bilhão saíram diretamente das mãos do governo, outros R$ 5,9 bilhões foram "gastos" via programas de renúncia.
"Quando o gasto é feito diretamente pelo governo há mais controle e discussão", afirma Albernaz.
Malaquias concorda e diz que, pelas regras de transparência, o governo é obrigado a informar o nome de quem recebe dinheiro público. Até salários de servidores estão disponíveis. As renúncias tributárias, não, pois são protegidas pelo sigilo fiscal.
Esse é um dos fatores de insatisfação do TCU e de gestores desses benefícios.
Para Malaquias, o avanço desses benefícios, sem o controle adequado, reflete uma "crise de governança" gerada pelo excesso de leis criando exceções e benesses para segmentos eleitos.

sábado, 10 de maio de 2014

Politica economica brasileira: a concepcao primitiva de economia dos governantes (e de economistas) - Mansueto Almeida

De vez em quando a gente "pesca" uma frase sincera de nossos governantes, e de alguns de seus assessores, que revela todo o primitivismo, rusticidade, todos os desvios de concepção de seu entendimento sobre como deve ser uma economia.
Já se deve dar por desconto que eles acham que realmente o mercado é muito anárquico, irregular, errático, imprevisível, desigual, assimétrico, injusto, enfim, todas essas coisas, e que é preciso, necessário, indispensável que o governo, e seus economistas iluminados corrijam essas distorções e "imperfeições", impondo algumas "regras sadias" de bom funcionamento, para "proteger" todo mundo, sobretudo "os mais fracos". Geralmente se dá exatamente o contrário: eles perturbam todo o funcionamento do mercado, criam mais distorções do que aquelas naturalmente existentes pela ação dos próprios agentes, cada um agindo em seu próprio interesse, e acabam protegendo os mais fortes, ou aqueles que conseguem um lobby mais poderosos junto aos da Corte.
Com os subsídios é a mesma coisa.
Vejam abaixo a frase tosca da que responde pela nossa administração econômica, e que de economia deve entender muito pouco, pois do contrário não diria tamanho absurdo.
Lamento ter este tipo de confirmação, mas o Brasil vai continuar um país anormal por muito tempo ainda...
Paulo Roberto de Almeida

Brasil: o país precisa de subsídios? Sim!

Estava há pouco lendo os jornais e me deparo com uma matéria on linedo jornal Folha de São Paulo (após crítica de Aécio, Dilma diz que país “precisa de subsídio, sim” – clique aqui)  afirmando que a nossa presidenta defende a continuidade da política de subsídios. Segundo o jornal, a nossa Presidenta falou que: “Subsídio é necessário para o Brasil, sim. Há que se subsidiar vários segmentos. Porque senão não tem obra”.
É preciso qualificar melhor esse tema subsídios. Primeiro, de fato, crédito subsidiado sempre teve no Brasil e vai continuar. Assim, não há a mínima chance de acabar crédito subsidiado seja para o setor agrícola, para o setor industrial ou para infraestrutura.
O debate, no entanto, é um pouco mais complicado. Quanto devemos subsidiar? Devemos subsidiar tudo? E qual deve ser o tamanho do subsídio? Recentemente, por exemplo, o BNDES aumentou o custo das linhas de financiamento do Programa de Sustentação do Investimento (PSI). A taxa deste programa chegou a ser de 3,5% nominal ao ano no primeiro semestre do ano passado. Uma taxa menor do que a inflação de 6% ao ano.
Dei uma palestra para um grupo de Embaixadores da União Europeia no ano passado e um deles ficou assustado quando falei que as taxas do PSI estavam menores do que a inflação. É mais do que subsidio; é taxa de juros real negativa! Até hoje me arrependo de não ter comprado o meu caminhão!
Apesar da afirmação da nossa presidenta de que “o país precisa de subsídios, sim!”, emprestar para todo mundo à uma taxa menor do que a inflação, em um país no qual a poupança do setor público é negativa, é um tiro de canhão no pé.
Segundo, já falei isso 300 vezes e agora vou falar mais uma vez. A fonte de recursos para esses enormes subsídios, que o país precisa!!!!,  vem do crescimento da dívida pública bruta. Isso tem um custo elevadíssimo que até meu filho de três anos já aprendeu a calcular. O governo para se endividar paga taxa de juros de mercado, Selic, que hoje é de 11% ao ano, e empresta o recurso aos bancos públicos cobrando uma taxa de 5% ao ano – a Taxa de Juros de Longo Prazo.
Não por um acaso, qualquer economista com um conhecimento superficial de contabilidade sabe que, a forte acumulação de reservas e o crescimento excepcional de quase 10 pontos do PIB dos empréstimos para bancos públicos desde 2009, explica a excepcionalmente elevada taxa de juros da nossa Dívida Líquida do Setor Público (DLSP) de 17% ao ano, a mesma taxa  quando a DLSP chegou a ser próxima de 60% do PIB, em 2003.
Taxa de Juros Implícita da Dívida Líquida do Setor Público (DLSP) -2002-2013 – % ao ano
Taxa DLSP
 OBS: taxa de juros que leva em conta a receita de juros (com reservas e empréstimos para bancos públicos) e o pagamento de juros da dívida bruta. 
O que escutei de um bom economista com trânsito no governo? “Mansueto, não temos como aguentar uma diferença tão grande entre Selic e TJLP. Teremos que aumentar a TJLP.” Mas não dá para fazer isso em uma economia que precisa de muito crédito subsidiado. Concordam? É melhor continuarmos pagando juros elevado e subsidiando alguns setores, algumas firmas ou todo mundo. Que legal!!!!
Terceiro e último ponto, precisamos sim subsidiar mais todo mundo porque o Tesouro Nacional não paga a conta, o que fatalmente se transformará em um esqueleto no futuro e, adicionalmente, o governo inventou um truque fantástico em relação aos subsídios. Eles só passam a ser devidos (não necessariamente pagos) depois de dois anos!!!  Se lembram da Portaria nº 357, de 15 de outubro de 2012 do Ministério da Fazenda, que no inciso III do Art. 7o fala que:
Art. 7o……..
I – ………
II – ……….
III – os valores apurados das equalizações a partir de 16 de abril de 2012, relativos às operações contratadas pelo BNDES, serão devidos após decorridos 24 meses do término de cada semestre de apuração e atualizados pelo Tesouro Nacional desde a data de apuração até a data do efetivo pagamento.
A conta de subsídios será paga no próximo governo via aumento da DLSP e/ou aumento da inflação e/ou aumento de carga tributária. Estou com MUITO medo  que alguns “bons” economistas aceitem uma inflação maior como forma de “pagar” os subsídios e outras despesas do governo que estão crescendo além do que deveriam.
Tolice minha. Subsídio é bom!!! (OBS ESTOU SENDO IRÔNICO) mas me avisem se isso vai continuar, porque se for ainda quero comprar o meu caminhão. Ainda mais porque agora teremos estradas boas construídas com recursos subsidiados e combustível subsidiado. Será que tem subsidio também para comprar carne? Deve ter, porque soube que tem para frigoríficos!!!
Ainda vou ter um desses com crédito subsidiado!!!
foto papel de parede caminhao carreta facebook 1

domingo, 5 de janeiro de 2014

Auxilio moradia para diplomatas: um problema financeiro, politico emoral; nao existem limites?

JOANA CUNHA
DE NOVA YORK
FLÁVIA FOREQUE
DE BRASÍLIA


O Brasil paga mensalmente US$ 23 mil (R$ 54 mil) de aluguel para o embaixador Guilherme de Aguiar Patriota, número dois da missão do país na ONU, em Nova York.
O contrato do imóvel na região nobre do Upper West Side, celebrado em setembro pela Missão Permanente do Brasil na ONU, foi obtido pela Folha por meio da Lei de Acesso à Informação.
Itamaraty omite valores pagos para moradia de diplomatas em cidades estrangeiras
Em geral, diplomatas brasileiros lotados em Nova York, maior centro financeiro do mundo, recebem do governo um subsídio para habitação superior à média oferecida por empresas do setor privado na mesma cidade.
Como comparação, os benefícios de auxílio-moradia pagos por companhias privadas que designam empregados brasileiros a postos de chefia em Nova York são de US$ 7.300 por mês (R$ 17.100), se o profissional for solteiro.
O subsídio sobe para US$ 11.500 (R$ 27 mil) se o alto funcionário tiver dois ou três filhos e para US$ 17.000 (R$ 40 mil) se tiver quatro filhos.
Joana Cunha/Folhapress
Fachada do edifício onde a Missão do Brasil junto às Nações Unidas alugou um apartamento para o embaixador Guilherme Patriota
Fachada do edifício onde a Missão do Brasil junto às Nações Unidas alugou um apartamento para o embaixador Guilherme Patriota
A comparação foi feita pela Folha com base em tabela de referência da consultoria EY (antiga Ernst & Young) e utilizada por companhias dos setores de óleo e gás, bens de consumo, construção e automobilístico.
Questionada, a delegação do Brasil na ONU não informou o tamanho da família do embaixador. Mesmo na comparação com o subsídio mais alto das empresas privadas, o Itamaraty ainda paga 35% a mais de aluguel.
Coincidentemente, o diplomata é adjunto do irmão, o ex-ministro das Relações Exteriores Antonio Patriota, que assumiu a chefia da representação na ONU após ser demitido do cargo no episódio da fuga do senador boliviano Roger Pinto para o Brasil.
O ex-chanceler assumiu o posto em outubro e habita a residência oficial do governo brasileiro em Manhattan.
O imóvel alugado para Guilherme Patriota está localizado na mesma rua onde mora seu irmão, mas do outro lado do Central Park.
HIERARQUIA
A diferença entre valores pagos por empresas privadas e poder público não ocorre só nos postos mais altos, mas também nos inferiores.
Enquanto o Itamaraty desembolsa mensalmente até US$ 6.600 (R$ 15.500) para a moradia de secretários, posto mais baixo na carreira, empresas privadas pagam um valor 36% menor para um empregado solteiro em cargos de entrada (US$ 4.200, ou R$ 9.800), segundo a EY.
Ainda de acordo com a consultoria, empregados do setor privado iniciantes com dois ou três filhos têm direito a US$ 5.800 (R$ 13.600) para morar.
Ao receber o benefício, o servidor do Itamaraty deve descontar 10% de seu salário para custear parte da despesa do aluguel, ainda que o valor em contrato seja inferior ao limite permitido.
Exemplo: se um segundo secretário tem salário bruto de US$ 8.791,24, um montante de US$ 879,12 é descontado todo mês para a moradia.
Assim, se o aluguel escolhido por ele for de US$ 6.835, a quantia entregue pelo governo será de US$ 5.955,88, ainda que o limite máximo seja superior.
Editoria de Arte/Folhapress
OUTRO LADO
O Itamaraty diz que os valores pagos como verba para moradia são estipulados por empresa contratada para fazer "avaliações periódicas do mercado imobiliário" das cidades onde há representação do Brasil.
Para o órgão, "os valores são condizentes com preços do mercado imobiliário local". "As diferenças cambiais devem ser levadas em consideração."
Sobre o aluguel de Guilherme Patriota, o Itamaraty diz que, "a exemplo de todos os embaixadores e cônsules que moram em imóveis alugados, a moradia do representante alterno [nº 2] em NY é residência oficial e, portanto, não é custeada por verba indenizatória [auxílio aluguel]". Em outras palavras, o prédio é considerado parte da embaixada e não obedece aos limites para outros diplomatas.

domingo, 11 de agosto de 2013

Politica economica dos companheiros so beneficia os ricos - Marcos Mendes

Crescimento e desigualdade

Marcos Mendes
Blog Brasil Economia e Política, Instituto Fernand Braudel, 5/06/2013

O Valor Econômico publicou recentemente caderno especial que discutiu os motivos do baixo crescimento do país. Os diagnósticos apontam, corretamente, para uma combinação de alto e crescente gasto público, tributação elevada e complexa, baixa escolaridade, economia excessivamente fechada, infraestrutura precária e juros elevados. Se essas causas do baixo crescimento estão claramente identificadas há bastante tempo, por que o país não foi capaz de encaminhar a solução dos problemas? Reclama-se há anos da infraestrutura e as estradas continuam no buraco; os economistas estão roucos de apontar os malefícios do gasto público excessivo, e ele continua a crescer. Reforma tributária simplesmente não acontece…
Essa aparente inércia decorre do fato de que as causas acima apontadas são, em grande medida, consequência de uma característica histórica da sociedade brasileira: a desigualdade de renda e de patrimônio. Uma sociedade desigual é tipicamente composta por uma grande maioria de pobres e um pequeno grupo muito rico. Após à transição para a democracia, em 1985, a classe política gradativamente percebeu que a maioria dos votos está entre os pobres: sem atender os interesses imediatos desse grupo não se ganha eleição. Daí a expansão do gasto público e a dificuldade em conter seu crescimento: aumentos reais para o salário-mínimo, expansão da aposentadoria rural, universalização da saúde, etc. Iniciou-se vigorosa “redistribuição para os pobres”.
Por outro lado, os muito ricos dispõem de poder financeiro para influenciar as decisões governamentais, de onde decorrem: proteção comercial para a indústria, crédito subsidiado para empresas escolhidas a dedo, políticas de desenvolvimento regional capturadas pelos ricos das regiões pobres, fundos de pensão de estatais prontos a financiar projetos “geniais” de pessoas bem conectadas, agências reguladoras frágeis que facilitam a vida dos grupos regulados. Essa “redistribuição para os ricos” também custa dinheiro e pressiona o gasto público e a dívida pública, além de impedir a livre concorrência e envenenar o ambiente de negócios.
Nos primeiros anos da nova era democrática, essas pressões redistributivas (em favor dos pobres e dos ricos) foram financiadas pela inflação. Quando o custo desta alternativa se tornou insuportável para a sociedade, foi possível fazer avanços institucionais que resultaram em maior controle fiscal e monetário. Mas a desigualdade continuou pressionando o gasto público. Para manter o equilíbrio fiscal foi preciso jogar a tributação para as alturas e abandonar os investimentos em infraestrutura (que geram ganhos para todos no longo prazo, mas não são prioridade de curto prazo para nenhum dos dois grupos situados nos extremos da distribuição de renda). Ainda assim persiste significativo déficit público, que drena a poupança da sociedade e pressiona a taxa de juros para cima.
As causas imediatas do baixo crescimento, listadas no primeiro parágrafo são, na verdade, as consequências do caminho que a sociedade brasileira encontrou para evitar que a
desigualdade levasse à instabilidade política: os pobres são atendidos e não se revoltam, os ricos são atendidos e deixam de sonhar com golpes de estado. E graças a isso já temos quase trinta anos de estabilidade democrática. A Constituição de 1988 é a segunda mais longeva da história da República, perdendo apenas para a Carta de 1891, que ficou 43 anos em vigor.
Porém, no meio do caminho há uma classe média que não se beneficia dos gastos direcionados para os ricos e para os pobres, e que está sufocada por impostos, má infraestrutura, juros elevados e por ambiente de negócios inóspito, sem espaço para empreender e prosperar.
As perspectivas de longo-prazo tornam-se medíocres, pois no longo-prazo só se muda de patamar de desenvolvimento através do crescimento da economia.
A notícia positiva é que a desigualdade aos poucos vem caindo, em boa medida devido às políticas de “redistribuição para os pobres”. É possível que em alguns anos a chamada nova classe média passe a pressionar menos por redistribuição pró-pobres; aumentando sua demanda por políticas que facilitem a prosperidade da iniciativa privada, o que criaria suporte político para o controle do gasto público, racionalização tributária, etc. Nesse caso, o baixo crescimento de hoje seria o preço a pagar pelo maior crescimento no futuro.
Há, contudo, o risco de que o redistributivismo atual (para ricos e pobres) persista por muito tempo, e que o país viva décadas de baixo crescimento, o que pode até mesmo romper a estabilidade política, pois muitos anos de estagnação fará o cobertor ficar curto para atender às demandas dos extremos da distribuição de renda, além de saturar a paciência da classe média, que paga a conta do atual modelo.
Para evitar esse cenário negativo, e facilitar o caminho do país em direção a maior crescimento e maior igualdade, é necessário dar prioridade a políticas redistributivas pró-pobres mais eficazes e de menor custo. Investimentos em saneamento básico e educação fundamental, por exemplo, são bons para os pobres e para o crescimento econômico ao mesmo tempo. Reajustes elevados para o salário-mínimo, por outro lado, reduzem a competitividade das empresas e pressionam os gastos públicos. É verdade que tais reajustes redistribuem renda para os mais pobres, mas a um custo muito mais alto do que outras políticas, como o Bolsa Família, que além de mais barata tem maior impacto redistributivo. Subsidiar universidades de qualidade duvidosa para os jovens pobres talvez não seja tão eficaz quanto gastar mais em ensino fundamental para crianças pobres.
Tão desafiador quanto reorientar a política de redistribuição para os pobres é conter a redistribuição para os ricos. Não é fácil extinguir privilégios e reformar instituições: justiça lenta e enviesada, feudos políticos dentro da administração pública, corporações viciadas em subsídios públicos. É preciso fortalecer a democracia e a transparência, para que tais políticas percam legitimidade. E continuar martelando a necessidade das reformas institucionais.
Os óbices que a desigualdade impõe ao desenvolvimento não são uma armadilha inescapável. O Chile tem uma história de desigualdade bastante semelhante à nossa, mas encontrou caminhos produtivos para lidar com ela e fortalecer conjuntamente a democracia e a economia. O Brasil precisa encontrar o seu próprio caminho.
(Texto originalmente publicado no jornal Valor Econômico de 3 de junho de 2013.)
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