Temas de relações internacionais, de política externa e de diplomacia brasileira, com ênfase em políticas econômicas, em viagens, livros e cultura em geral. Um quilombo de resistência intelectual em defesa da racionalidade, da inteligência e das liberdades democráticas.
O que é este blog?
Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.
Se eu fosse da turma do Al Capone, também ficaria preocupado quando a "tchurma" dos Intocáveis resolvem usar menos revólveres e metralhadoras e mais a máquina de calcular para ver se, em vez de pegar os bandidos em crimes de sangue, passassem a indiciá-los por crimes financeiros ou fraude fiscal. Aliás, foi apenas por isso que Al Capone foi para a cadeia, não por mandar matar dezenas de inimigos e alguns amigos também...
Os Intocáveis, no caso são o PGR e os vaidosos togados da cega justiça...
Paulo Roberto de Almeida
Por que calar Marcos Valério?
José Nêumanne
O Estado de S.Paulo, 07 de novembro de 2012
O que Marcos Valério Fernandes de Souza tem a dizer
sobre a participação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e do
ex-ministro Antônio Palocci no escândalo de corrupção do mensalão não
pode ser ouvido como o verbo divino ou a voz do povo. Condenado a mais
de 40 anos de prisão pelo Supremo Tribunal Federal (STF) por um rosário
de crimes, o cidadão em questão não é propriamente o que minha avó (e
talvez a dele próprio) chamaria de "flor que se cheire". Mas também não
se pode por isso - e só por isso - considerar in limine que tudo o que
ele tem a dizer seja mentiroso e desprezível. Desqualificar seu
depoimento por esse motivo será o mesmo que negar a veracidade de tudo o
têm dito, falam ou declararão outros réus do mesmo processo - José
Dirceu e José Genoino entre eles.
"Se eu fosse condenado a 40 anos de prisão, também estaria me
mexendo", disse o presidente do Instituto Lula, Paulo Okamotto, apontado
pelo operador do mensalão como o interlocutor dos petistas com ele.
"Não temos nada a temer. Tudo o que ele poderia ter falado falou no
processo", completou o loquaz e truculento presidente nacional do
Partido dos Trabalhadores (PT), Rui Falcão. "Tem que respeitar o
desespero dessa pessoa", avisou o secretário-geral da Presidência,
Gilberto Carvalho, que informou que não o processará. Embora óbvio, o
primeiro argumento não autoriza a negar o direito do réu de falar,
narrar e opinar. A condenação lhe tolhe a liberdade e evita seu convívio
com a sociedade, não o impede de falar. Quanto ao segundo, quem não
deve não teme. E ficam no ar perguntas que não querem calar: como Falcão
ficou sabendo tudo o que Valério teria a dizer sobre o momentoso caso?
Por que Carvalho anuncia desde já que não o processará?
Só que o "homem-bomba enjaulado", na definição exata da coleguinha
Eliane Cantanhêde, da Folha de S.Paulo, tem todas as razões para se
defender. E, mais ainda, o dever, como cidadão, de contar o que sabe.
Ninguém precisa acreditar nele, mas a cidadania brasileira tem direito
de saber o que ele tem a dizer.
A versão de que ele teria sido convocado pelo PT para pagar pelo
silêncio do empresário Ronan Maria Pinto pode ser estapafúrdia e
fantasiosa. Mas o que, afinal, não é fantasioso no episódio grotesco e
macabro do assassinato de Celso Daniel, o então coordenador do programa
do candidato Lula à Presidência? A família do morto, por exemplo, não dá
um tostão furado de fumo podre pela versão da Polícia Civil paulista
(sob governos tucanos e do DEM), à qual o PT se agarra com fervor
religioso, de que o prefeito de Santo André foi baleado na cabeça, numa
madrugada escura e brumosa, por um menor a oito metros de distância.
Aristóteles e seu discípulo Tomás de Aquino duvidariam disso.
Pode ser que a versão de Marcos Valério seja apenas uma tentativa de
jogar farinha no ventilador para merecer o prêmio pela delação, com uma
redução de sua pena. Mas, no mínimo, ela serve para chamar a atenção
devida para um episódio nunca esclarecido. Que motivos escusos teria o
apolítico João Francisco Daniel, irmão do morto, para garantir que ouviu
Gilberto Carvalho contar que recebia do prefeito malas de dinheiro vivo
e as entregava ao então presidente nacional do PT, José Dirceu,
condenado, como Valério, por corrupção ativa e formação de quadrilha
pelo STF? Tudo o que o respeitável oftalmologista teve de recompensa
pelo depoimento foi um exílio forçado em local incerto e não sabido em
território nacional, interrompido por curtas temporadas para exercer a
profissão no ABC de origem. E que razões pode ter tido o governo francês
para dar asilo político à família de Marilene Nakano e Bruno José
Daniel, que acharam mais prudente passar uma temporada no exterior para
escapar da vingança dos assassinos do ilustre parente? Afinal, não teria
sido um crime banal, um sequestro malsucedido, planejado e executado
por bandidos comuns trapalhões? Nem a Velhinha de Taubaté acredita nessa
versão!
Conceder ou não ao acusado de ter aplicado o desbaratado esquema de
desvio de dinheiro público para comprar adesões a tucanos numa campanha
em Minas e apoio parlamentar a petistas no governo federal é uma decisão
que cabe ao procurador-geral e aos ministros do Supremo. É assunto no
qual não procede a interferência do PT, da oposição e dos governos
federal e estaduais. Da mesma forma, o atendimento ao pedido de inclusão
no programa de proteção à testemunha é da alçada exclusiva do
Ministério Público e do Judiciário, não cabendo a ninguém fora de seus
quadros querer influir ou mesmo opinar. Mas até um palpiteiro de jornal
como o degas aqui pode recorrer à lógica aristotélica ou tomística para
chamar a atenção para o que está por trás desses movimentos, sejam do
condenado ou dos dirigentes do partido de seus colegas de pena.
Valério tem medo de morrer e o legítimo direito de querer preservar a
própria vida e proteger a família. Para tanto recorre ou ao que de fato
sabe e pode incomodar poderosos (Gilberto Carvalho, homem de confiança
de Lula, é ministro próximo à presidente Dilma) ou ao que seus ex-amigos
sabem que fizeram e não sabem se, afinal, ele sabe. Aqui se repete a
anedota do marido que não sabia por que espancava a mulher, mas
desconfiava que ela sabia.
Okamotto pretende desqualificar, em princípio, o que Valério tem a
dizer recorrendo ao óbvio que nada justifica. Falcão se contradiz, pois,
se de fato os petistas não devem e estão certos de que a testemunha
nada de novo tem a revelar, não há o que temer. E ao não recorrer à
Justiça para desmentir sua versão, Carvalho mostra que prefere manter o
caso Santo André na sombra. Então, seria o caso de deixá-la falar,
dando-lhe a oportunidade de se enforcar com a própria corda. Quem tenta
calá-la, seja por que motivo for, deixa no ar um cheiro de brilhantina
(para não dizer coisa menos cheirosa) de que ela pode ter algo incômodo a
contar. E rasgar a cortina que oculta a verdade sobre por que, de fato,
Celso Daniel foi torturado até a morte. * JORNALISTA E ESCRITOR ===================
Coluna Esplanada
Dirceu e os imperdoáveis
Condenado pelo Supremo no processo do mensalão, ex-ministro da Casa Civil José Dirceu está inconformado
por Leandro Mazzini
Condenado pelo STF no processo do mensalão, o ex-ministro da Casa
Civil José Dirceu está inconformado. Numa conversa recente com amigos,
disse que não foi ele o chefe do esquema. Apontou três cabeças: dois
ex-ministros do então presidente Lula – um integrante do núcleo
palaciano e outro da Esplanada, hoje deputado – aliados a um conhecido
advogado que desfilava de Jaguar por Brasília, dono de uma casa avaliada
em R$ 10 milhões no Lago Sul. Nenhum deles foi condenado e Dirceu não
os perdoa. Desabafo José Dirceu tem dito que paga o pato pelo cargo importante que
ocupava. Apesar do desabafo, vai acatar a decisão. E homem de partido,
não pensa em delação premiada. Confissão Aos que ouviram o ex-todo poderoso, ficou notório
que, ao apontar os
cabeças, Dirceu confessou que conhece o esquema que sempre negou.
É o que dá fazer política na base do impulso, da demagogia, da improvisação. Não se poderia esperar dos populistas gramscianos melhor exemplo de descoordenação de políticas do que esses impulsos irracionais que não tomam por base estudos técnicos e planejamento irracional.
Enfim, não se poderia esperar outra coisa do MEC atual, passado, futuro, o formigueiro caótico das "saúvas freireanas". Eles ainda vão conseguirafundar ainda mais a educação no Brasil.
Aliás, pelo que já fizeram, do pré-primário ao pós-doc, já ganharam todos os prêmios de crescimento da mediocridade e de erosão de qualidade. Vamos para o brejo, relativo e absoluto na área do ensino.
Paulo Roberto de Almeida
Não há recursos para as cotas
Editorial, O Estado de S.Paulo, 07 de novembro de 2012
Quando o governo divulgou o decreto e a portaria que
regulamentam a Lei de Cotas, que reserva 50% das vagas em universidades
federais a estudantes oriundos da rede pública de ensino médio e a
estudantes pobres, pretos, pardos e indígenas, alguns reitores
reclamaram que não dispunham de recursos suficientes para custear as
aulas de reforço, oferecer cursos de nivelamento e oferecer moradia e
alimentação para os cotistas.
O mais veemente foi o reitor Roberto Salles, da Universidade Federal
Fluminense. Ele reclamou da insuficiência de verbas do Programa Nacional
de Assistência Estudantil (Pnaes) e afirmou que, se o governo não
garantir auxílio financeiro, muitos cotistas não conseguirão concluir os
cursos. Só o aumento das verbas evitará evasões, afirmou. "O problema é
dramático. Precisamos fazer com que o estudante continue na
universidade e se forme", diz a pró-reitora de graduação da Universidade
Federal do Rio de Janeiro, Angela Rocha.
Em resposta, o Ministério da Educação (MEC) divulgou nota afirmando
que os recursos do Pnaes quadruplicaram, entre 2008 e 2012, e informando
que o Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das
Universidades Federais (Reuni) "viabilizou" a construção de moradias e
restaurantes universitários nas instituições mantidas pela União.
Duas semanas depois do início dessa polêmica, os integrantes do Fórum
Nacional de Pró-Reitores de Assuntos Comunitários e Estudantis
(Fonaprace) fizeram as contas e divulgaram o volume de recursos de que
precisam para implementar a Lei de Cotas, como quer o Palácio do
Planalto. Segundo eles, as universidades federais precisarão de pelo
menos R$ 2 bilhões para arcar com os gastos de transporte, alimentação,
moradia e assistência pedagógica dos cotistas que ingressarão em 2013.
Esse valor é quase quatro vezes superior aos recursos previstos para o
Pnaes para o próximo ano. "Os recursos atuais de assistência estudantil
são insuficientes. Não conseguimos atender à demanda de 44% dos
estudantes das universidades federais que são das classes C, D e E",
afirma o coordenador do Fonaprace, Ronaldo Barros. "Questões sobre
bolsas, transporte, residência estudantil e necessidades de novos
restaurantes universitários têm impacto nas contas da universidade", diz
o pró-reitor de graduação da Universidade Federal do Ceará. Isso mostra
que eram os reitores - e não os burocratas do MEC - que estavam com a
razão, na polêmica em torno das verbas necessárias para a implantação da
Lei de Cotas.
Nos debates do Fonaprace, o reitor da Universidade Federal do Ceará
fez uma observação importante. Segundo ele, quando as autoridades
educacionais começaram a pressionar os dirigentes das universidades
federais para implantar a Lei de Cotas já no vestibular de 2013, alguns
reitores reagiram com sensatez, afirmando que essa lei foi sancionada
pela presidente Dilma depois de definido o orçamento do Pnaes para o
próximo ano. Apesar da advertência, dizem os pró-reitores de assuntos
comunitários, o Palácio do Planalto continuou exigindo a implantação da
Lei de Cotas nos próximos vestibulares, ao mesmo tempo que continuou
garantindo que as verbas do Pnaes serão suficientes para atender às
necessidades das universidades.
Professor da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo e
especialista em gestão e avaliação educacional, Ocimar Munhoz Alavarse
lançou um alerta após a divulgação dos cálculos do Fonaprace sobre o
montante de recursos de que as instituições federais de ensino superior
necessitam para implantar a Lei de Cotas. "A cada ano teremos um
contingente maior de alunos cotistas, o que pode tornar complexo esse
problema de assistência estudantil, que não vem de hoje."
Nos três últimos anos, os vestibulares das universidades federais
foram prejudicados pelas trapalhadas no Enem. Agora, o processo seletivo
será prejudicado pela pressa com que o governo, pensando nas eleições
municipais, quis aplicar uma lei demagógica. É desse modo que a educação
tem sido gerida.
The yuan is displacing the dollar as a key currency
The Economist, Oct 20th 2012 | HONG KONG
IN TOKYO last week the bigwigs of international finance paid
close attention to a speech by Ben Bernanke, chairman of America’s
Federal Reserve. His speech urged them, in effect, to pay less
attention. Many policymakers in emerging markets complain that Fed
easing destabilises their economies, contributing to higher inflation
and asset prices. Mr Bernanke pointed out that emerging economies can
insulate themselves from his decisions by simply decoupling their
currencies from the dollar. It is their habit of shadowing America’s
currency, however loosely, that obliges emerging economies to ease
monetary policy whenever he does.
Policymakers may heed Mr Bernanke’s words—freeing them to ignore his
decisions—sooner than he thinks. In a (more thinly attended) speech on
the same day, a deputy governor of China’s central bank pointed out that
China no longer hoovers up dollar reserves with its past abandon. And
according to a new study by Arvind Subramanian and Martin Kessler of the
Peterson Institute for International Economics in Washington, DC, the
dollar’s influence is waning in the emerging world. Currencies that used
to shadow the greenback are no longer following it so closely. Some are
floating more freely. But in other cases they are steadily falling
under the spell of a different currency: the yuan.
Some inflation-prone emerging economies, such as Ecuador, have
adopted the dollar as their official currency. Others, such as Jordan,
peg their exchange rate to it. These official policies are one measure
of the dollar’s international role. Messrs Subramanian and Kessler use a
different measure, based on the way exchange rates behave in the
market. They identify currencies that tend to move in sympathy with the
dollar in its daily fluctuations against a third currency, such as the
Swiss franc. This “co-movement” could reflect market forces, not
official policies. It need not be a perfect correlation. It need only be
close enough to rule out coincidence.
Based on this measure, the dollar still exerts a significant pull
over 31 of the 52 emerging-market currencies in their study. But a
number of countries, including India, Malaysia, the Philippines and
Russia, appear to have slipped anchor since the financial crisis.
Comparing the past two years with the pre-crisis years (from July 2005
to July 2008), they show that the dollar’s influence has declined in 38
cases.
The greenback has in the past played a dominant role in East Asia.
But if anything, the region is now on a yuan standard. Seven currencies
in the region now follow the yuan, or redback, more closely than the
green (see chart). When the dollar moves by 1%, East Asia’s currencies
move in the same direction by 0.38% on average. When the yuan moves,
they shift by 0.53%.
Of course, the yuan does not yet float freely itself. Since June 2010
it has climbed by about 9% against the dollar, fluctuating within
narrow daily bands. Its close relationship with the greenback poses a
statistical conundrum for Messrs Subramanian and Kessler. How can they
tell if a currency is following in the dollar’s footsteps or the yuan’s,
if those two currencies are moving in close step with each other? In
previous studies, wherever this ambiguity arose, currencies were assumed
to be following the dollar. The authors relax this assumption, arguing
that the yuan now moves independently enough to allow them to
distinguish its influence. But some of the yuan’s apparent prominence
may still be the dollar’s reflected glory.
Outside East Asia, the redback’s influence is still limited. When the
dollar moves by 1%, emerging-market currencies move by 0.45% on
average. In response to the yuan, they move by only 0.19%. But China’s
currency will continue to grow in stature as its economy and trading
activity grow in size. Based on these two forces alone, China’s currency
should surpass the dollar as a key currency some time around 2035, Mr
Subramanian guesses. By that point, the Fed chairman will be the one
pulling in the smaller audiences.
Ufa! Não era sem tempo!
Fazem mais de 40 anos que a França conhece déficits orçamentários, ou seja, produzem déficitas constantes todos os anos. A consequência, como no Brasil, aliás, é um aumento constante da carga tributária, o que asfixia objetivamente as empresas francesas, que de outro modo já precisam lutar contra uma legislação laboral e outras regulações estatais extremamente nocivas do ponto de vista do ambiente de negócios.
Este conjunto de propostas do Institut Montaigne, um centro de estudos empresarial liberal -- onde aliás estive falando sobre o Brasil em fevereiro deste ano, assim que cheguei em Paris -- pode servir, perfeitamente (mutatis mutandis) para vários casos do Brasil, que também é um país "francês" em sua legislação, mas extremamente precário em sua baurocracia (sem falar dos níveis anormalmente mais altos de corrupção e de incompetência governamental).
Podem servir pelo menos para reflexão.
Mas, cá entre nós, não creio que possamos ter este tipo de debate no Brasil. Pelo menos não se depender do Congresso, do Executivo e talvez mesmo (pelo menos ainda não) do empresariado.
Vamos insistir na racionalidade, porém, contra ventos e marés.
Paulo Roberto de Almeida
POUR UN CHOC ET UNE TRAJECTOIRE DE COMPETITIVITE
Institut Montaigne, 7 Octobre 2012
Un choc ? Un pacte ? Une trajectoire ? Toutes les
contorsions sémantiques du monde ne viendront pas au secours de la
compétitivité de notre pays sans une feuille de route ambitieuse, claire
et partagée.
Le diagnostic sur lequel fonder cet effort politique d'une portée sans doute inédite est connu de tous :
- en toile de fond, une crise grave et profonde de nos finances publiques et des équilibres complexes qui les sous-tendent ;
- une dégringolade ininterrompue depuis dix ans de notre compétitivité,
de nos parts de marché dans l'Union européenne comme au-delà et au final
un taux de marge en berne pour nos entreprises, ainsi dangereusement
atteintes dans leur capacité à préparer l'avenir comme à embaucher ;
- en conséquence, un emballement du chômage qui touche les populations
les plus fragiles, les jeunes, les seniors, les moins insérés.
Pour sortir de cette spirale non vertueuse, il faut à la fois un choc et une trajectoire de compétitivité.
D'abord un choc, celui produit par la mise en œuvre le plus rapidement
possible du transfert de charges proposé par le rapport Gallois –
document de référence désormais.
Ce choc permettra de restaurer au moins en partie les marges des
entreprises et donc leur capacité à investir.
Il aura pour vertu de réinstaller la confiance parmi le monde des
entrepreneurs, c'est aussi cela la politique.
Ensuite une trajectoire, celle de la nécessaire réduction de nos
dépenses publiques.
En effet, aucun de nos partenaires ni aucun de ceux qui financent les
déficits publics français ne pourront croire au sérieux de notre
politique économique si nous n'allons pas au-delà d'un simple freinage
de l'augmentation des dépenses publiques.
C’est ce double mouvement que propose l’Institut Montaigne depuis de longs mois dans ses travaux.
On le retrouve en partie dans le rapport Gallois et les premières annonces gouvernementales.
Décryptage…
Bien cordialement à vous,
Laurent Bigorgne
DECRYPTAGE
Rapport Gallois, annonces gouvernementales : analyse
1) Un choc de compétitivité
Le rapport Gallois avait préconisé un transfert de 30 milliards d'euros
de charges sociales vers la fiscalité et la réduction de la dépense
publique.
Le gouvernement a retenu un allègement de 20 milliards d'euros des coûts
des entreprises, par un crédit d’impôt.
Dans son rapport Une fiscalité au service de la "social compétitivité"(mars
2012), l’Institut Montaigne prévoyait un choc de 50 milliards d'euros,
reposant à la fois sur un transfert de charges et sur l’allègement de la
taxation du cycle de production.
Le "choc" finalement retenu est un premier pas dans la bonne direction.
Il permettra de restaurer, au moins en partie, les marges des
entreprises et leur capacité à investir tout en redonnant confiance aux
entrepreneurs.
2) Plus de stabilité pour plus de confiance
Comme le préconise le rapport Gallois, le gouvernement stabilisera pour
une durée de cinq ans les principaux dispositifs fiscaux favorisant la
création, l’investissement, la R&D ou l’innovation dans les
entreprises, parmi lesquels le crédit impôt recherche et l’ISF PME.
Dans son rapport De la naissance à la croissance : comment développer nos PME
(juin 2011), l’Institut Montaigne appelait à cette stabilité, qui
laissera le temps à ces dispositifs de produire leurs effets,
encouragera les PME innovantes à y recourir, rassurera les investisseurs
et accroîtra leur visibilité.
3) Des liens renforcés et des stratégies partagées pour les entreprises
Pour améliorer la coopération entre les entreprises et développer une
stratégie de filières, le rapport Gallois comme le gouvernement
prévoient de conditionner les soutiens de l’Etat aux grandes entreprises
à leur capacité d'associer leurs fournisseurs et sous-traitants et
d'instaurer des sanctions administratives en cas de manquement aux
règles sur les délais de paiement, dont les dépassements représentent
une charge nette de 10 milliards d’euros pour les PME.
Ces recommandations figurent dans le rapport Financement des entreprises : propositions pour la présidentielle
(mars 2012) de l’Institut Montaigne, qui exposait l’intérêt d’un
rapprochement des entreprises entre elles, en particulier des grandes
entreprises et des PME.
Elles bénéficieraient toutes d’une stratégie partagée et généralisée, de
la mutualisation de fonctions, de la co-innovation ou encore de
l’amélioration de la gestion de la chaîne de valeur et de son évolution.
4) L’épargne au service du financement des entreprises
Pour mieux orienter l’épargne vers le financement des entreprises, le
gouvernement prévoit d’engager une réforme de sa fiscalité afin qu’elle
favorise la détention de long terme et les investissements en actions,
sans accroître la dépense fiscale.
Pour l'Institut Montaigne, il est indispensable de faire bénéficier les PME et les ETI de l’épargne des particuliers (cf. le rapport Financement des entreprises : propositions pour la présidentielle
- mars 2012).
Dans un rapport à paraître prochainement sur la croissance et la
régulation financière, il proposera de rééquilibrer les avantages
fiscaux de l'épargne en faveur des instruments relativement risqués
comme les actions, de favoriser l’épargne de long terme et d’aménager
notamment le projet de doublement du plafond des livrets réglementés en
ce sens.
5) Un marché du travail mieux adapté
Pour mieux former les jeunes et les salariés et les accompagner plus
efficacement vers l’emploi, le gouvernement propose, sur la
recommandation du rapport Gallois, d’évaluer l’adaptation des offres de
formations aux besoins de compétences des employeurs, de mettre en œuvre
un nouveau service public de l’orientation, de rapprocher le système
éducatif et le monde de l’entreprise et de développer les formations en
alternance.
L’Institut Montaigne appuie ces orientations, qui figurent dans sa note Choisir les bons leviers pour insérer les jeunes non qualifiés
(juin 2012).
Il est nécessaire d’aller plus loin.
Un véritable investissement de long terme dans la qualité et la
formation du capital humain est en effet indispensable pour lutter
contre l’échec scolaire, mieux insérer les jeunes les moins qualifiés et
faire évoluer le droit du travail vers plus de sécurité et de
souplesse, pour les salariés comme pour les employeurs.
6) L’indispensable réduction de la dépense publique
La baisse des coûts des entreprises (pour un montant de 20 milliards
d'euros) décidée par le gouvernement sera financée pour moitié par la
réduction de la dépense publique.
C’est là aussi un premier pas, mais il est désormais impératif, pour le
redressement de nos comptes publics et la compétitivité de notre
économie, d’engager une vaste revue des différents postes de dépenses de
l’Etat, en particulier des dépenses d’intervention, et de les mettre en
regard de leur efficacité.
L’Institut Montaigne publiera prochainement un rapport sur l’efficience
des dépenses publiques.
Restaurer la compétitivité de l'économie française
L’Institut
Montaigne propose dans ce document de synthèse une stratégie globale et
cohérente pour restaurer la compétitivité de l’économie française et
sortir de la crise, d’une part en construisant une économie de la
connaissance et d’autre part en engageant une politique forte en faveur
de la compétitivité des entreprises.
"Les Rencontres de l'industrie compétitive" : retrouver le chemin de la croissance
Pierre
Gattaz, président du GFI, Frédéric Coirier, président de Poujoulat et
Laurent Bigorgne, directeur de l'Institut Montaigne, dévoilent en
avant-première les grands thèmes qui seront abordés lors des "Rencontres de l'industrie compétitive", organisées par Les Echos Conférences en partenariat avec l'Institut Montaigne le 27 novembre prochain.
Une fiscalité au service de la "social compétitivité"
Ce
rapport de l’Institut Montaigne propose une réforme globale et
ambitieuse de notre système fiscal autour de trois axes : créer un choc
de compétitivité pour notre économie ouverte à la compétition
internationale ; renforcer l’équité et la transparence de notre système
d’imposition ; améliorer son efficacité par une
simplification des assiettes et des taux.
Ou melhor dito: em cérebro e sentimentos, hearts and minds. John Williamson certamente merece a homenagem e os muitos, talvez aqui mesmo, que julgam o CW uma coisa de direita, conservadora, ou, vá lá o chavão idiota, "neoliberal", fariam bem em ler algumas das apresentações feitas no lançamento deste livro em homenagem a um economista comprometido com o desenvolvimento, a boa gestão pública e o sentido de responsabilidade de um Estado bem governado. Paulo Roberto de Almeida
Global Economics in Extraordinary Times: Essays in Honor of John Williamson
John Williamson, Peterson Institute for International Economics C. Fred Bergsten, Peterson Institute for International Economics C. Randall Henning, Peterson Institute for International Economics Stanley Fischer, Bank of Israel
Peterson Institute for International Economics, Washington, DC
November 1, 2012
Summary
1 of 6
The Peterson Institute held a conference to present the Festschrift,Global Economics in Extraordinary Times: Essays in Honor of John Williamson, edited by C. Randall Henning and C. Fred Bergsten, on November 1, 2012. Stanley Fischer, governor of the Bank of Israel, delivered the keynote address on the Washington Consensus, a term coined by Williamson. The authors of the chapters of the book, including Williamson, gave presentations, followed by a general discussion.
Over the course of five decades, Williamson has published an extraordinary number of books, articles, and other pieces on topics ranging from international monetary economics to development policy. His work bridges the scholarly literature and policy debates in international economics. His publications on the Washington Consensus, exchange rate policy, and international monetary reform have profoundly influenced public discourse, government policy, and the evolution of the discipline. The Festschrift reflects upon and celebrates these contributions.
C. Fred Bergsten, Director, Peterson Institute for International Economics C. Randall Henning, Senior Fellow, Peterson Institute for International Economics
Keynote address
Washington Consensus Stanley Fischer , Governor of the Bank of Israel
Recebo, de um brasileiro preocupado, a seguinte mensagem, parcialmente omitida quanto ao nome e localização. Apenas um retrato do que é o Brasil, atualmente, ou talvez desde sempre:
Nome: Txxxxx Xxxxx Xxxxxx
Cidade: Xxxxxxxx
Estado: XX
Email: [...]
Assunto: Opiniao
Mensagem: Senhor Paulo Roberto, eu era xxxxxxxxxxxx, mas fui aprovado para o cargo de técnico judiciário no XXX e saí daquela instituição. Imaginava que trabalhando na Justiça iria presenciá-la, mas não é o que estou vendo. Recentemente fui enviado para um setor que julga, entre outras coisas, os pedidos contra o INSS. Presencio esta autarquia descumprindo decisões judiciais e as multas impostas, quando são, irrisórias. Os Juízes são coniventes com órgãos ineficientes e ajudam a perpetuar a incompetência do serviço público, o mau atendimento e o desrespeito ao cidadão. O senhor acha que estou sendo socialista demais? é sem noção o que penso ter constatado? desculpe incomodar o senhor com isso, mas não é sempre que tenho a oportunidade de expor minhas ideias a alguém com o gabarito do senhor. Como faço para ter a visão crítica real das situações? desejo muito ajudar o Brasil a ser um País melhor, será que morrerei frustrado?
Minha resposta, muito rápida, por falta de condições de fazer melhor:
[Nome],
Grato pelo contato e muito obrigado pela confiança depositada.
Voce está contemplando um Estado disfuncional, mal organizado, no limite conivente com a corrupção e a malversação de dinheiro público. Não o Estado em si, que é um ente abstrato, mas seus agentes, aqueles que ocupam funções que poderiam cooperar com o bem público, mas que geralmente só se ocupam de seu próprio conforto.
Não posso pretender orientá-lo ou guiá-lo em suas tarefas profissionais, mas certamente voce também tem um papel a cumprir nesse processo, como funcionário consciente.
Creio que a melhor atitude é a de ser um funcionário o mais eficiente e honesto possível, e observar cada um dos gestos, rotinas e processos que passam pelas suas mãos. Voce tem de conhecer a lei e respeitá-la, e se notar irregularidades, ou mesmo ilegalidades, fundamentadas, deveria denunciar isso.
Existem canais públicos, até anônimos, no TCU e na CGU, para denunciar falcatruas contra o Estado, desde que fundamentadas.
Seja um bom funcionário, e você estará cooperando com o Brasil e os brasileiros.
O Stalin sem Gulag (ainda bem), o totalitário aprendiz, o amigo de ditadores, tiranos, caudilhos autoritários, populistas ditatoriais e, não menos importante, de líderes fascistas (não importa de que tendência), não desiste de suas pretensões censórias. Ele não se conforma pelo fato de uma imprensa livre denunciar suas falcatruas, roubalheiras, fraudes, mistificações, mentiras, tramóias, patifarias e outras ações clandestinas (ou seja, das quais ainda não temos conhecimento, e não sabemos se teremos), e pretende controlar a imprensa, amordaçar jornalistas, censurar matérias e , de forma geral, desmantelar os grandes grupos de comunicação, que ele chama de "mídia", palavra típica dos espíritos inquisitoriais. Se dependesse de tiranetes desse acabite, teríamos apenas a imprensa comprada, aquela dos mercenários a serviço do projeto de poder desses aprendizes de ditadores. Ainda vai demorar alguns meses para o Stalin dos trópicos conhecer as grades de alguma cadeia (ainda assim uma punição leniente para quem pretendia transformar o país num território-prisão, como certa ilha miserável que ele admira, transformada em fazenda-prisão de caudilhos histriônicos, anacrônicos e totalitários). Em algum momento o candidato a ditador vai enfrentar seu destino, até lá cabe vigilância... Paulo Roberto de Almeida
Dirceu defende regulação da mídia como prioridade do PT em 2013
Redação Comunique-se
Ex-ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu, condenado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) por corrupção ativa no julgamento do mensalão, defendeu a regulamentação da mídia no Brasil como uma das três prioridades do PT para 2013. Nessa segunda-feira, 5, em seu blog, Dirceu elencou a reforma política e a "desconstrução da farsa do mensalão" como outros objetivos do partido no próximo ano.
"O partido faz muito bem em eleger esta regulação como uma das principais metas a serem conquistadas em 2013, ao lado da reforma política tão imprescindível ao País e da luta para desconstituir a farsa do mensalão", disse o petista.
Dirceu comentou a entrevista coletiva concedida pelo presidente nacional do PT, deputado estadual Rui Falcão, a correspondentes de jornais estrangeiros no Brasil, na última quarta-feira, 31. Ele elogiou a iniciativa, alegando saber que a mídia nacional iria ignorar a questão. "À exceção dos momentos em que virá com o noticiário enviesado de sempre, para dizer que regulamentação é censura e ameaça à liberdade de imprensa", afirmou o ex-ministro.
Ainda no blog, Dirceu explicou de que maneira o PT vai agir para assegurar a regulamentação: "O partido vai se posicionar, defender, tomar iniciativas, ocupar todas as tribunas que lhe forem possíveis, manter o assunto em evidência e priorizá-lo", explicou.
Para explicar a diferença entre regulamentação da mídia e censura, Dirceu recorreu a uma frase de Falcão. “Não é censura, nada a ver. É ampliar a liberdade de expressão, não restringi-la". Dirceu ainda deixou claro que o objetivo "depende do Congresso, e não do partido".
Dirceu também prioriza reforma política e a "desconstrução da farsa do mensalão"
Aos 80 anos, Thomas Skidmore diz que soube do golpe militar um dia antes
Fonte: Folha Online (Foto: Lucas Ferrez/Folhapress)
Famoso "brasilianista" revelou a informação a Folha de S.Paulo. Historiador vive em asilo americano desde 2009.
Decano dos brasilianistas, o americano Thomas Elliot Skidmore, 80, recorre às suas lembranças do Brasil para tentar retardar a perda da própria memória. Padecendo de Alzheimer em estágio inicial e de síndrome do pânico, o historiador está retirado da vida pública desde novembro de 2009, quando deixou de andar e se mudou para um discreto asilo no interior dos EUA. Alojado em um quarto dividido para dois pacientes, Skidmore no momento está só. Mas ele prefere assim, já que se relaciona apenas com as enfermeiras. Elas também parecem gostar dele.
No local, tudo remete ao Brasil --fotos na parede, livros, diplomas, cartazes de conferências e souvenirs.
A Folha teve acesso exclusivo ao local, em Westerley, cidade de 20 mil habitantes em Rhode Island, o menor dos Estados americanos, na costa leste do país. Durante a entrevista, ele revelou que soube com antecedência do golpe de 1964, informação que ocultou nos livros e também nos diários que escreveu sobre o Brasil, consultados pela reportagem dias antes da visita, na Universidade de Brown. Todo seu arquivo pessoal foi liberado no final do mês passado.
Skidmore jantou no Rio com o embaixador americano Lincoln Gordon um dia antes do golpe, em 31 de março de 1964. "Ele foi passar um telegrama para Lyndon Johnson [presidente dos EUA] contando as novas e pedindo que o governo americano reconhecesse o novo regime. Ele disse que tinha ganhado."
Amigos
No esforço de tentar driblar um dos efeitos mais nefastos da doença --a perda da própria identidade, o americano escreve suas memórias sobre os brasileiros que lhe ajudaram a desvendar o Brasil.
"Tudo o que escrevi não era uma explicação ou interpretação minha, de gringo, mas de meus amigos brasileiros", conta. "Meu conhecimento do país vem todo deles. Não é à toa que a amizade é uma das mais fortes características do Brasil." São nomes como o cientista político Hélio Jaguaribe, o jornalista Francisco de Assis Barbosa (1914-91), o advogado e político San Tiago Dantas (1911-64), além do editor Fernando Gasparian (1930-06), do historiador Caio Prado Júnior (1907-90) e do ex-deputado e jornalista Márcio Moreira Alves (1936-09).
Autor de livros clássicos da historiografia brasileira, como "De Getúlio a Castelo" e "De Castelo a Tancredo", que contemplam o que de mais importante aconteceu no século 20, e "Preto no Branco", estudo da questão racial, Skidmore teve grande influência na escrita da história contemporânea do país.Enquanto intelectuais e historiadores brasileiros estavam exilados durante a ditadura (1964-85) ou mais interessados no Brasil Colonial, ele encontrou terreno fértil e acesso a fontes privilegiadas para contar, diz, o nascimento do Brasil contemporâneo.
"Muita gente pensava o Brasil nos EUA na lógica comunista-anticomunista, o que é um erro". Incentivado por Harvard, ele trocou a história da Alemanha e do nazismo pelo Brasil, integrando uma geração de americanos especialistas em países da América Latina formados após a Revolução Cubana.
As universidades incentivavam e o fenômeno virou até política de Estado da Casa Branca. O americano se irrita sobre o assunto: "Sou um produto de Harvard, não tenho nada a ver com o Departamento de Estado ou com a CIA, como muitos pensam". A primeira viagem ao Brasil, aos 29 anos, ocorreu dias após a renúncia de Jânio Quadros, em 1961.
"Tive o privilégio de chegar ao Brasil num momento crucial da história", disse. "Isso foi decisivo." Ainda lúcido --a fase inicial do Alzheimer começa por afetar a memória recente--, Skidmore recebeu a Folha com vinho branco, que ele diz beber todos os dias.A mulher, Felicity, 76, que mora na casa de praia da família em Westerly, o visita todos os dias, além de algum outro amigo americano.Ele diz que ainda está tentando entender seu "novo mundo". "Entrei em uma nova realidade, que é diferente de tudo o que eu conhecia", diz. "É um mundo de mulheres que cuidam de velhos."
...a que mesmo?
Não se sabe bem. Provavelmente em direção ao marasmo.
Se o Brasil, a despeito de custos inaceitáves nos procedimentos de importação (com cobranças altíssimas não só de tarifas elevadas, mas de outros impostos indevidos como Pis-Cofins na importação), ainda tem de importar dezenas de bilhões de dólares de produtos primários e insumos básicos para a sua indústria, então é porque nós nos tornamos inacreditavelmente caros, ou seja, não competitivos para qualquer coisa, e tudo isso por causa dos mesmos fatores que tornam o ambiente de negócios no Brasil um pântano empresarial: o custo Brasil, com a enorme carga tributária governamental em primeiro lugar.
Caminhamos, lenta mas seguramente, para uma crise de transações correntes, o que redundará, inevitavelmente em desvalorização cambial, ou seja, nos tornaremos mais pobres, além de aumentar o custo financeiro de nossas transações externas, o spread e tudo o mais.
Esse é o resulta das políticas improvisadas, de "puxadinhos" setoriais, implementadas pelo governo, que parece uma barata tonta. Em lugar de atacar os problemas reais, o governo insiste em contornar o problema, jogando os custos para nós, ou seja, obrigando-nos a suportar duplamente os encargos do protecionismo alfandegário e dos preços de cartel por falta de concorrência. Isso além de provocar deliberadamente inflação, ao manter uma meta que de fato é o teto da banda, um nível inflacionário três vezes superior à média mundial.
Como diria Roberto Campos, o Brasil é um país que não perde a oportunidade de perder oportunidades.
Com a ajuda do governo, assim continuará...
Paulo Roberto de Almeida
O comércio exterior carece de dinamismo e inovação
Editorial O Estado de S.Paulo, 06 de novembro de 2012
O que mais se destaca na análise do movimento do comércio
exterior nos dez primeiros meses deste ano é a pouca mudança, tanto nos
bens exportados e importados quanto no destino e origem de exportações e
importações. É o quadro da acomodação de um país que não procura
oferecer inovação e mantém os mesmos clientes e fornecedores, por falta
de dinamismo. A única diferença, de um ano para outro, é que as
importações crescem um pouco mais do que as exportações, acentuando o
déficit da balança de comércio.
As exportações estão em situação precária, pois dependem muito da
venda de produtos básicos, cujo preço é variável e influenciado pelo
contexto internacional, e a China é o maior cliente. Neste ano, o
resultado mensal variou de um mínimo de US$ 16,1 bilhões a um máximo de
US$ 23,2 bilhões. Nosso governo insiste muito sobre os efeitos da crise
nos países ricos, mas nos dez primeiros meses do ano nossas exportações
para os EUA cresceram 9,6% e diminuíram 8,4% para a União Europeia;
6,1%, para a China; e 20,6%, para a Argentina.
A estrutura de nossas importações ficou ainda mais estável que a de
nossas exportações. Bens de capital continuam a participar com 21,9%,
mas as matérias-primas e bens intermediários ocupam o maior espaço entre
nossas importações, com pouco mais de 45%.
Isso mostra que a nossa indústria importa bens intermediários (num
valor de US$ 83,4 bilhões) que poderiam ser produzidos em parte no
Brasil, mas, por serem muito mais baratos no exterior, acabam sendo
importados. Participam, assim, do processo de desindustrialização que
afeta todo o setor manufatureiro e nos coloca praticamente na
marginalidade quando se trata de bens de alto conteúdo tecnológico, o
que se reflete negativamente nas vendas externas e tende cada vez mais a
tornar o Brasil um país exportador de commodities.
Havia a expectativa de que o Brasil rapidamente se tornaria um grande
exportador de petróleo. Nesse campo, nossas exportações nos dez
primeiros meses foram de US$ 16,4 bilhões e nossas importações, de US$
10,5 bilhões, mas as de outros combustíveis chegaram a US$ 17,4 bilhões.
Portanto, o País continua dependendo da importação.
O crescimento do parque industrial vai depender muito de uma mudança
em face dos mercados externos: temos de apresentar inovações e aumentar o
conteúdo tecnológico dos bens oferecidos ao exterior, e para isso é
imprescindível reduzir os nossos custos.