Temas de relações internacionais, de política externa e de diplomacia brasileira, com ênfase em políticas econômicas, em viagens, livros e cultura em geral. Um quilombo de resistência intelectual em defesa da racionalidade, da inteligência e das liberdades democráticas.
O que é este blog?
Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.
Como a política externa caótica de Bolsonaro preocupa o resto da América do Sul
Diplomatas na região começaram a considerar o Brasil uma fonte de instabilidade
Oliver Stuenkel, da Americas Quarterly
25/06/2019 - 09:51 / Atualizado em 25/06/2019 - 13:51
Quando se trata de política externa, as ideias controversas do presidente Jair Bolsonaro e de seus conselheiros mais próximos, como os riscos do “globalismo”, o ceticismo em relação a instituições multilaterais como as Nações Unidas e a convicção de que o aquecimento global não passa de um complô marxista, já deixavam apreensivos muitos diplomatas da região. Ademais, simplesmente transparecer qualquer possibilidade de apoio brasileiro a uma intervenção militar americana naVenezuelajá disparou os alarmes dos Ministérios de Relações Exteriores dos países vizinhos.
O que mais preocupa os diplomatas da América do Sul, no entanto, não são as ideias de Bolsonaro em si, mas o fato de que a política externa brasileira — e a diplomacia presidencial em particular — se tornou imprevisível. Há um consenso crescente, de Bogotá a Santiago, de que as decisões de Brasília são produto de disputas internas de poder em vez de cálculos estratégicos — uma situação preocupante para os latino-americanos, tendo em vista que a participação ativa do Brasil é crucial para o avanço de qualquer iniciativa na região.
Prestes a completar seis meses no cargo, o atual governante brasileiro parece não ter diretrizes claras quanto ao Mercosul, um diplomata uruguaio declarou em off: com exceção de ocasionais dicas de Guedes que o Brasil está incomodado com ostatu quo. A visita recente de Bolsonaro a Buenos Aires pareceu resumir a falta de coerência que se tornou a marca registrada das relações externas do Brasil desde janeiro. A visita aconteceu após uma série de gestos de desprezo àArgentina, algo sem precedentes desde a redemocratização da década de 1980: a primeira visita internacional de Bolsonaro foi a Santiago, não Buenos Aires,como era tradição na diplomacia brasileira.
Ainda assim, quando finalmente visitou a Argentina, o volátil presidente se mostrou subitamente animado com a ideia de umamoeda única entre os dois países, um projeto que, no cenário mais otimista, levaria décadas para ser implementado e exigiria umcompromisso extremo de integraçãoregional. Sem titubear, Bolsonaro pareceu apoiar uma integração no estilo da União Europeia, ideia que vai de encontro a tudo que seus conselheiros antiglobalistas mais próximos acreditam ser necessário para preservar a soberania e a autonomia do Brasil. Semanas antes, o ministro de Relações Exteriores, Ernesto Araújo, um propagador de teorias conspiratórias, declarou publicamente que torcia pelo Brexit e pelo êxito dos candidatos nacionalistas de direita nas eleições do Parlamento Europeu.
“É difícil levar tudo isso a sério”, afirmou um cientista político argentino enquanto Bolsonaro embarcava de volta para Brasília.
Países de menor porte, como o Uruguai, estão sem saber como reagir ao que fica cada vez mais aparente: Bolsonaro e Araújo carecem de qualquer tipo de visão coerente sobre o que eles esperam ver na região — além do desejo de que partidos de direita vençam as eleições pelo continente. Mas ao repetidamente alertar os argentinos sobre os perigos do retorno ao poder do movimento da ex-presidente Cristina Kirchner nas eleições de outubro, Bolsonaro cometeu um erro de principiante. Não só sua retórica foi de pouca ajuda para o presidente Macri — cujas esperanças de reeleição dependem de sua habilidade em atrair eleitores moderados, que veem Bolsonaro com maus olhos — como também pode criar um problema para o Brasil caso o kirchnerismo retorne de fato, afetando negativamente a mais importante relação bilateral na América do Sul. Enquanto os interesses em integração regional forem baseados em alinhamentos ideológicos temporários, não há muita esperança para um debate construtivo de longo prazo sobre o futuro da região.
Outra mudança de diretriz de último minuto pegou de surpresa até membros da alta cúpula do governo brasileiro. Bolsonaro reconheceu formalmente María Belandria, enviada da oposição venezuelana, como embaixadora no Brasil, após se recusar a fazê-lo dias antes. A decisão foi uma derrota para a ala militar de seu governo, que já o tinha convencido contra a decisão. Os conselheiros militares de Bolsonaro argumentaram que reconhecer formalmente Belandria era uma provocação desnecessária, que poderia atrapalhar as tentativas do país de normalizar a situação na fronteira reaberta havia poucos dias, após meses fechada. A mudança abrupta aumentou as preocupações de governos da região sobre a previsibilidade da política externa de Bolsonaro — e como um diplomata europeu delicadamente comentou, Bolsonaro era um “parceiro difícil”.
A economia cambaleante do Brasil e sua instabilidade política devem aumentar as chances de que 2019 seja um ano perdido para a política externa do país, já que reduzem a capacidade do governo de articular e implementar um projeto internacional coeso. Um olhar sobre a política externa do Brasil desde a redemocratização sugere que ativismo internacional só é possível se as coisas estiverem em ordem dentro de casa — como foi o caso (com alguns tropeços) entre 1995 e 2013. Só quando a hiperinflação foi superada o presidente Fernando Henrique Cardoso teve tempo e credibilidade para desenhar uma estratégia internacional, e o Brasil se manteve como um ator importante por quase duas décadas. Ainda assim, desde os protestos de 2013, nenhum presidente brasileiro teve tranquilidade e aprovação popular para ter impacto no exterior, com efeitos na vizinhança.
Muitos fatos sugerem que, em 2019 — e possivelmente depois —, Bolsonaro estará bastante ocupado com desafios domésticos para seguir com seu ativismo na política externa. Nesse sentido, a política brasileira é diferente da americana, em que presidentes impopulares às vezes reforçam seu ativismo externo, haja vista o fato de a política exterior ser a única área onde podem atuar livremente. A política externa brasileira, em contraste, só é significativa quando os presidentes são populares internamente, o que não parece ser o caso de Bolsonaro. As consequências são graves. Um Brasil com o olhar voltado para dentro deve limitar drasticamente a capacidade de a América do Sul articular e implementar uma estratégia clara para seus muitos desafios em comum e lidar em conjunto com um cenário político global cada vez mais imprevisível.
Huawei remains 5G leading position and it calls for "technology back to technology," according to Ken Hu (second from right), the company’s deputy chairman.
Sanctions-hit Huawei Technologies will remain a leading player in the global 5G market, thanks to multiple-layer supply system and overseas expansion outside the United States, the tech giant said on Wednesday.
Huawei made a plea for “non-discriminatory treatment” from the authorities and governments worldwide, the company’s deputy chairman Ken Hu said in Shanghai.
Huawei Technologies has secured 50 5G commercial contracts globally — two-thirds of the world's total. It has offered 150,000 5G base stations globally now, which is likely to touch 500,000 this year.
US put Huawei on a trade blacklist in May and has since put restrictions on American tech firms to offer chips and services to Huawei.
“It won’t influence Huawei’s 5G leading position at all,” said Hu. “It’s a huge loss for carriers and consumers to enjoy 5G without Huawei’s devices and advanced technologies.”
Without Huawei, Europe’s 5G development will lag “at least two years," Hu added.
At the opening session of Mobile World Conference Shanghai, China’s biggest telecommunications event held annually in Shanghai, a senior government official also spoke against “technical bullying.”
“Unfair and technical bullying” still exists in the world. They are challenges to the healthy and sustainable development of 5G and the whole digital economy, said Liu Liehong, vice director of the Cyberspace Administration of China.
JSC Kazakhtelecom, a telecom operator in Kazakhstan, said it’s “open to all vendors” on 5G construction. The country cares about technology and profitability than political reasons.
Huawei’s devices are used in over 30 countries, including Europe, the Middle East, Asia Pacific and Africa. China, as the world’s biggest mobile network, gave out commercial 5G licenses on June 6. Huawei expects new contracts from Chinese operators.
Huawei has invested US$4 billion on 5G and it will keep increasing investment. It has established a multiple-layer supplier system for chip and software, and does not have to depend solely on US suppliers, said Hu.
Brasil se abstém em voto sobre saúde sexual e reprodutiva na ONU
Jamil Chade
UOL notícias, 26/06/2019
Novo posicionamento do Brasil sobre temas sexuais, reprodutivos e de gênero cria choque com velhos aliados e, ironicamente, deixa o país mais próximo de governos islâmicos.
GENEBRA –O governo de Jair Bolsonaro se absteve nesta quarta-feira na votação de trechos de uma resolução da ONU que falava da necessidade de garantir "saúde sexual e reprodutiva" a pessoas afetadas por crises humanitárias. A iniciativa por tentar derrubar tais referências foi do governo de Donald Trump, sem sucesso.
A resolução debatida no Conselho Econômico e Social da ONU se referia a um fortalecimento da coordenação dos trabalhos humanitários internacionais. O UOL apurou que a Casa Branca fez uma pressão importante para obter o apoio do Brasil e, pelo menos, evitar que o Itamaraty apoiasse a proposta original.
O voto ocorreu no mesmo dia em que o jornal Folha de S. Paulo também revelou que diplomatas brasileiros receberam nas últimas semanas instruções do Itamaraty para que, em negociações em foros multilaterais, reiterem "o entendimento do governo brasileiro de que a palavra gênero significa o sexo biológico: feminino ou masculino".
O debate vem em meio a uma ofensiva do atual governo para desfazer algumas das posições tradicionalmente tomadas pelo Brasil nos últimos 18 anos. Uma das principais delas se refere ao termo gênero, considerado dentro de parte do governo como uma "construção social".
Mas a transformação da posição do Brasil nos organismos internacionais vai além. Se por alguns meses um debate claro foi travado dentro do governo brasileiro sobre como se comportar em votos nas entidades, a consolidação da posição mais conservadora passou a vigorar nas últimas semanas. E foi amplamente notada por governos estrangeiros e ongs.
Um dos exemplos ficou claro na votação desta quarta-feira. Num dos trechos da resolução, o texto falava da necessidade de garantir acesso a pessoa vítimas de crises humanitárias para serviços de "saúde sexual e saúde reprodutiva".
Por insistência do governo americano, porém, um texto alternativo foi apresentado, pedindo apenas que "apoio de saúde para salvar vidas" fosse garantido. O temor dos americanos era de que a frase original daria espaço para políticas pró-aborto.
O novo texto ainda alerta que o aborto não faz parte do direito internacional, ainda que se reconheça que existam países com leis domésticas neste sentido.
"A ONU não pode promover o aborto e nem novos direitos reprodutivos e sexuais", explicou a delegação americana, ao sugerir a emenda ao texto original.
Num segundo trecho da mesma resolução, outra vez um veto a uma referecia à necessidade de que as organizações humanitárias da ONU garantam serviços básicos para populações afetadas, entre eles serviços para assegurar "saúde sexual e saúde reprodutiva".
Em seu lugar, entram referências como "saúde materna, assim como planejamento familiar voluntário e outras opções para evitar o abordo".
Votaram pela ideia americana apenas dois países. Outros nove optaram por se abster, entre eles Rússia, Egito, Paquistão, Bielorrúsia e Quênia, além do Brasil.
Mas votaram contra a proposta americana 30 países diferentes, entre eles Uruguai, Venezuela, Coreia, Romênia, Paraguai, Filipinas, Mali, Malta, Mexico, Marrocos, Holanda, Noruega, India, Irlanda, Japão e Luxemburgo.
Explicação
Ao explicar o voto de abstenção, o governo brasileiro indicou na ONU que estava de acordo com a posição do governo americano de que os conceitos no artigo não eram alvos do direito internacional e que não tinham seu escopo definido. "Nossa preferência, portanto, seria por eliminar essas expressões", disse a diplomata.
Mas, ao mesmo tempo, apoiar o texto americano acabaria ferindo as leis domésticas do país. A proposta também seria contrária às políticas públicas de acesso à saúde no Brasil. "Portanto, vamos os abster", disse.
A Romênia, em nome da UE, criticou a iniciativa dos EUA. Num discurso, o bloco indicou que "lamenta profundamente" a emenda americana e diz que ela rompia um tradicional consenso sobre essa resolução. Canadá, Austrália, Reino Unido e Nova Zelândia também insistiram na necessidade de que direitos reprodutivos e sexuais sejam garantidos.
Com a derrota do projeto americano, o Brasil acabou também se abstendo ao ser questionado se aceitaria manter o parágrafo original, que falava explicitamente de direitos reprodutivos e sexuais. Uma vez mais, a posição do Brasil foi derrotada.
Na sala, ao ver o martelo bater para aprovar a resolução final sem voto, muitos aplaudiram. Mas a representante brasileira na sala não seguiu o aplauso geral.
Após a votação, o Brasil voltou a pedir para explicar sua posição. Apesar de se aliar ao consenso final da resolução geral sobre a questão humanitária, o governo de Bolsonaro indicou que se "desassocia" dos parágrafos referentes a saúde sexual e reprodutiva.
Surpresa
O caso da votação deixou os europeus e outros países surpreendidos com a posição brasileira. Mas o caso não é isolado. Há poucos dias, delegados de um país membro do Conselho de Direitos Humanos da ONU pediram a cooperação do Brasil para fazer uma declaração conjunta sobre temas sociais num dos seminários na sede das Nações Unidas.
Os diplomatas prepararam um texto e submeteram aos diplomatas brasileiros para sua consideração. Mas quando o texto voltou, os negociadores estrangeiros levaram um susto. Ao abrirem o arquivo num email, os termos "igualdade de gênero" tinham sido cortados pelo Brasil.
Os diplomatas estrangeiros, que pediram para não ser identificados, se recusaram a aceitar as sugestões de alteração propostas pelo Brasil e decidiram ir adiante com a declaração ignorando a postura do Brasil.
Mas, para os governos de outros países, o caso escancarou a guinada tomada pelo governo de Jair Bolsonaro nos bastidores da diplomacia internacional. Hoje, como parte dos resultados da posição brasileira, a América Latina já não tem uma posição comum sobre temas de igualdade e mesmo sobre saúde reprodutiva.
No lugar de "igualdade de gênero", todos os discursos e resoluções apoiadas pelo Brasil devem agora mudar o termo para "igualdade entre homens e mulheres". No fundo, trata-se de uma orientação sobre determinações biológicas, o que não tem sido apoiado por outros governos ocidentais.
Recentemente, em Nova Iorque, equipes do ministério de Direitos Humanos fizeram discurso em debates, mas sem mencionar o termo "igualdade de gênero". O novo formato: "igualdade entre homens e mulheres".
Na Organização Mundial da Saúde, em maio, o Brasil já também se alinhou ao grupo de países mais conservadores, e muitos deles islâmicos, ao falar de direitos reprodutivos.
Teste
Mas um outro grande teste da nova posição brasileira vai ocorrer nas próximas semanas. No Conselho de Direitos Humanos da ONU, duas resoluções foram propostas e que citam amplamente temas relacionados a gênero.
O Canadá tabulou um texto sobre violência contra as mulheres, enquanto o México lidera uma resolução para combater a discriminação contra a mulher. O problema: os dois textos estão repletos de menções consideradas como indesejadas pelo governo brasileiro.
No texto canadense, por exemplo, existem várias referências à "igualdade de gênero". Há ainda trechos que abrem brechas para o aborto. "Direitos Humanos incluem o direito de ter controle e decidir livremente e de forma responsável sobre assuntos relacionados com sexualidade, à saúde sexual e reprodutiva livre de coerção, violência, e integridade do corpo e autonomia", diz o rascunho do texto, obtido pelo UOL.
Num outro trecho, mais uma polêmica. O texto cita a necessidade de defender "direitos sexuais". Mas, para o Brasil, existem apenas "direitos reprodutivos".
Consultados pelo UOL, diplomatas de países europeus lamentaram a guinada brasileira. O temor é de que, pelo peso do país, a nova posição comece a influenciar outros países menores a votar da mesma forma, minando uma tendência dos últimos 20 anos de ampliar direitos, e não reduzi-los.
Falando na condição de anonimato, diplomatas ocidentais ainda alertaram como a nova posição do Brasil pode, no fundo, dar um apoio decisivo para o grupo de países islâmicos.
Por anos, esses países tentaram encontrar mais apoio para frear uma agenda mais progressista no que se refere aos direitos sexuais e da situação da mulher. Mas não tinham votos suficientes.
Agora, sem uma voz ativa do Brasil neste sentido, o temor é de que um silêncio do Itamaraty deixe o espaço aberto para que os islâmicos acabem prevalecendo com sua visão e que, em alguns pontos, haja uma "irônica coincidência de posições".
No caso da resolução mexicana, diplomatas estrangeiros confirmaram que, por enquanto, o Brasil não se pronunciou. Mas o país latino-americano confirmou que, na única menção ao termo "gênero" no texto, governos como o do Egito, Bahrein e Rússia já solicitaram sua eliminação da resolução como condição para que ela seja aprovada por unanimidade. Visões Diferentes
O UOL esteve nos debates sobre cada um dos artigos da resolução e presenciou um racha profundo entre diferentes visões de mundo.
Num trecho contestado pelo Paquistão, a diplomata do país com maioria muçulmana explicou que, em sua cultura, os homens sempre deixam as mulheres entrar primeiro em um ônibus. "Não quero perder isso", disse.
Mas ela foi rebatida por um delegado mexicano, contrário à ideia de que tais medidas signifiquem que existe uma igualdade entre homens e mulheres na sociedade. Para o latino-americano, tal gesto pode ser um sinal ou de que os homens consideram as mulheres como sendo mais frágeis ou simplesmente fazem isso para poder olhar de forma maliciosa para as mulheres subindo as escadas do veículo.
Num outro trecho do debate, os governos da Arábia Saudita, Paquistão, Egito e Irã pediam que o Canadá retirasse de sua resolução sobre a violência contra a mulher uma referência à necessidade de se ter uma educação sexual compreensiva.
O Bahrein também se pronunciou. "Não vemos motivo para colocar isso numa resolução de violência contra mulher", disse.
Em resposta, o governo da Argentina saiu ao apoio da educação sexual como forma de frear a violência contra a mulher. "Muitos não sabem nem o que é sexo consensual", disse a diplomata de Buenos Aires durante o encontro.
Reações
A posição do Brasil também é alvo de preocupação de ongs e ativistas. "Se antes o Brasil era visto como um negociador sério, cujas posições tinham peso nos debates em esferas como a ONU e OEA, ver nossos diplomatas defendendo posições atrasadas como vincular gênero ao sexo biológico reduzirá demasiadamente a relevância internacional de nossa diplomacia", disse Camila Asano, coordenadora de programas da Conectas.
"Estaremos com países párias que usam espaços em prol dos direitos humanos para miná-los? A ministra Damares Alves anunciou no início do ano que o Brasil é candidato à reeleição ao Conselho de Direitos Humanos da ONU. Uma postura como essa do Itamaraty vai na contramão do que se é esperando de um país com tais aspirações", completou Camila Asano.
Gustavo Coutinho, advogado e secretário de Política Sobre Drogas da ABGLT (Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Intersexos), também critica a posição brasileira.
"A posição de entender gênero como sexo biológico vai contra a Constituição Federal e ao entendimento do Supremo Tribunal Federal na ADI 4275", disse. "O STF já reconheceu o direito à autodeterminação de gênero, desconstruindo um paradigma biologizante e patologizante", declarou.
** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL
“Não é qualquer um que entra na nossa casa. Nem será qualquer um que entrará no Brasil via pacto adotado por terceiros.” Esta foi uma das primeiras declarações de impacto internacional proferidas por Jair Bolsonaro ao assumir a Presidência e declarar a saída do Brasil do Pacto Global da Migração.
Na ocasião, o chanceler Ernesto Araújo assegurou que os imigrantes eram bem-vindos ao nosso país, mas não de forma indiscriminada. Ao diplomata, no entanto, faltou fazer contas: nosso país tem apenas 1 milhão de residentes estrangeiros – menos de 0,5% do total da população brasileira. Em contrapartida, há 3 milhões de brasileiros vivendo fora do País. Todos agora desassistidos.
Por outro lado, se opondo aos princípios da reciprocidade, desde março está em vigor um decreto presidencial que dispensa — de forma unilateral — a necessidade de visto para entrada de cidadãos dos Estados Unidos, Canadá, Japão e Austrália.
Com a decisão, o Brasil ganha incentivando o turismo, mas abre mão de um acordo migratório promissor para se colocar em uma situação de subserviência aos EUA e à política imprevisível de Donald Trump, a quem o presidente já mostrou grande afeição, mas pouco senso crítico para ponderar decisões.
Não fosse, aliás, a capacidade mesmo que tardia da ala militar e de ruralistas, de convencer o presidente a voltar atrás da decisão de transferir a embaixada do Brasil em Israel para Jerusalém, o prejuízo do nosso país em exportações seria bilionário. Atualmente, o Oriente Médio representa 10% das exportações brasileiras. Israel, por outro lado, menos de 1% do comércio exterior do País.
A inabilidade do governo em conversar com o restante do mundo e manter acordos firmados nos coloca em risco em diversos âmbitos além do prejuízo em cifras. Perdemos em conquistas imensuráveis, como o reconhecimento de sermos uma nação aberta ao diálogo, ao acolhimento de outros povos e aos direitos humanos.
Características do nosso soft power (habilidade de um país conseguir o que deseja sem fazer uso de arsenal bélico, mas de sua imagem, cultura e paciência) que hoje corre riscos diante de uma política internacional ufanista e inclinada – ora por religião, ora por convicções pessoais do próprio presidente.
Durante a 63.ª sessão da Comissão da ONU sobre a Situação das Mulheres, ocorrida em março, o governo brasileiro deixou isso claro ao afirmar que não deveria haver nenhum tipo de interferência do Estado que pudesse dissolver ou enfraquecer a “estrutura da tradicional família”. Este não é o posicionamento esperado de um governo que surgiu com a promessa de livrar o Brasil de ideologias.
Ideologizar parece ser o verbo da vez. Recentemente, mais uma vez por meio de decreto, o governo extinguiu todos os cargos de peritos do Mecanismo Nacional contra a Tortura, organismo que desempenhava papel fundamental na exposição de casos graves de tratamento cruel, desumano e degradante em penitenciárias por todo o País.
O desmonte na fiscalização pode ampliar a violência nos presídios e consequentemente nas ruas. Afinal, o melhor parâmetro que se pode ter sobre a segurança pública de uma nação é medido pela situação de seus presídios. Torturar gente não é estratégia de correção social. Ao contrário, devolvemos à sociedade o que oferecemos à população carcerária. E o Brasil tem hoje a terceira maior população carcerária do mundo. São cerca de 720.000 detentos e um vasto histórico de violações em instituições estatais.
O governo, na tentativa de coibir a violência, optou (novamente por decreto) – flexibilizar o porte e a posse de armas da população. E o fez por meio de um texto – sem precedentes em todo o mundo – que, entre outros ineditismos, aumentava de 50 para 5.000 o limite de projéteis que podem ser adquiridos anualmente por uma única pessoa. O número extrapola – até mesmo nas terras de Trump – a quantidade considerada razoável para ser consumida para defesa pessoal.
Passado o primeiro semestre de mandato, o governo ainda tem o desafio de resolver a equação negativa de suas relações com o mundo. Temos mais erros que acertos a comemorar, mas ainda há tempo de conciliar interesses do Brasil com outros países do mundo, inclusive com ideais alinhados àqueles de primeiro mundo.
Nações desenvolvidas não ignoram pactos internacionais que foram pensados para proteger, por exemplo, o meio ambiente, pois entendem que as mudanças climáticas podem ameaçar o progresso e empurrar mais de 120 milhões de pessoas para a pobreza extrema. Nações que visam a prosperidade entendem também que o respeito à diversidade humana e a igualdade de gênero são pautas que impactam além das relações internacionais, a economia em seu próprio território.
Como senadora e membro de um Comitê na Organização das Nações Unidas, testemunho no dia a dia a importância das relações de cordialidade e respeito na diplomacia entre os países. Quem quer crescer não compreende organismos como a ONU como mera sigla. Muito pelo contrário: quem está ao lado do desenvolvimento não compactua com retrocessos e não nega a importância desses mecanismos. E o presidente já o fez certa vez, quando manteve o Ministério dos Direitos Humanos, acenando positivamente aos brasileiros mais vulneráveis, e que tanto carecem da proteção do Estado.
Apesar das recentes decisões da política externa, ainda mantemos o prestígio da nossa diplomacia, reconhecida e respeitada em todo o mundo – disso não podemos abrir mão.
Já passou da hora de descer do palanque e olhar para o futuro do País e do planeta.
*Mara Gabrilli, senadora (PSDB-SP), publicitária, psicóloga, foi deputada por dois mandatos, vereadora de São Paulo e secretária da Pessoa com Deficiência da capital paulista. Em 2018, em uma conquista inédita para o país, foi eleita membro do Comitê da ONU sobre os Direitos da Pessoa com Deficiência. Após sofrer um acidente de carro que a deixou tetraplégica, fundou uma ONG, em 1997, para apoiar o paradesporto, fomentar pesquisas cientificas e promover a inclusão social em comunidades carentes.
A declaração oficial americana, segundo a qual o transfuga é um homem livre, isento de quaisquer sanções, significa que ele também ele estaria livre para desfrutar da montanha de dinheiro que ele também deve ter acumulado por favores de um regime que é, provavelmente, uma das maiores cleptocracias do mundo?
Cabe esclarecer...
Paulo Roberto de Almeida
El exjefe de la policía secreta de Venezuela se refugia en EE UU tras abandonar a Maduro
La Administración de Trump anima a otros militares chavistas a seguir el ejemplo del general Cristopher Figuera
El paradero del general venezolano Cristopher Figuera ya no es un misterio. Elliott Abrams, representante de Estados Unidos para Venezuela, ha confirmado este martes que se encuentra en territorio estadounidense, sin especificar la ciudad, pero descartando que se trate de Washington. El máximo responsable del Servicio Bolivariano de Inteligencia (Sebin) abandonó las filas chavistas el 30 de abril,el día de la liberación del opositor Leopoldo López, facilitada por varios de sus agentes. NicolásMaduro culpó a Figuera de la operación, quien escapó y se refugió en Bogotá desde entonces, según publica The Washington Post. Abrams ha dicho que el otrora jefe de inteligencia es un hombre libre, sin ningún tipo de restricciones: “El puede ir a donde quiera. Está fuera de las sanciones”, sostuvo el veterano halcón. Durante la jornada, el comisario Iván Simonovis,un legendario preso político del chavismo, se dejó ver públicamente en la capital de EE UU.
Abrams tiene la intención de hablar con Figuera, aunque todavía no lo ha hecho. En una rueda de prensa se ha mostrado esperanzado con que otros militares, el gran bastión que permite a Maduro continuar en el poder, sigan su ejemplo. El representante de EE UU para Venezuela remarcó en reiteradas ocasiones que las sanciones impuestas al general habían sido revocadas una vez que este abandonó el régimen. “Eso es una señal para otros funcionarios sobre cuál podría ser su futuro si hacen lo mismo”, apuntó. Además, se mostró confiado en que los testimonios reveladores que pueda ofrecer Figueroa sobre cómo se vive en el régimen puedan “ayudar a cambiar” las opiniones de las fuerzas armadas y darles argumentos de por qué Maduro “no merece sus apoyos”.
Sumado a la confirmación del paradero de Figueroa, Carlos Vecchio, encargado de negocios de Juan Guaidó en EE UU publicó este lunes en su cuenta de Twitter imágenes en Washington junto a Simonovis, uno de los presos políticos venezolanos más emblemáticos. El 17 de mayo el comisario desapareció de su arresto domiciliario, en el que se encontraba desde hace cinco años, después de que le permitieran abandonar la cárcel por un tratamiento médico. Ingresó en prisión en 2004 por su presunta responsabilidad en la conocida Masacre de Puente Llaguno, durante el fallido golpe de Estado contra Hugo Chávez en 2002, en el que murieron 19 personas. Los que apoyan a Simonovis defienden que nunca se probó su culpabilidad.
"Solo seré completamente libre cuando Venezuela también lo sea, y estoy seguro de que ese día llegará muy pronto”, dijo este martes Simonovis en el Congreso estadounidense, ante representantes demócratas y republicanos, según publicó Vecchio. Al momento de su desaparición en mayo, Guaidó, jefe de la Asamblea Nacional reconocido como presidente interino de Venezuela por más de 50 países, informó entonces de que se había tratado de una liberación. “Ha debido salir hace muchos años. Hoy está libre producto de ese proceso de Operación Libertad. Recibió un indulto no ejecutado el 30 de abril, pero hoy está en justa libertad”.
1. Como o governo brasileiro concebe
o sistema mundial e o papel da China?
2. Qual a visão das lideranças
brasileiras no tema da segurança internacional?
3. Que futuro para o Conselho de
Segurança das Nações Unidas?
4. Crise financeira e estabilidade
econômica na atual conjuntura internacional
5. O papel das relações Norte-Sul no
debate mundial sobre o desenvolvimento
6. Como reformar o sistema
internacional num sentido favorável aos emergentes
7. Percepções e políticas nas
prioridades do Brasil e da China: notas conclusivas
Introdução: objetivo e metodologia deste ensaio
O presente exercício pretende
examinar, de modo livre – ou seja, sem o suporte de um aparato documental,
referências bibliográficas ou dados empíricos –, a posição do Brasil e da China
no contexto global, com uma análise mais detalhada das posições da diplomacia
brasileira em relação ao país asiático e à agenda de reformas do sistema
internacional. Serão discutidas as concepções gerais que orientam a diplomacia
do governo Lula em relação aos grandes temas da agenda mundial, quais sejam:
segurança, Conselho de Segurança, conjuntura econômica e respostas à crise, a
questão das relações Norte-Sul e as percepções quanto à reforma do sistema
mundial e à ampliação do papel dos países emergentes. O ensaio toma apoio em
argumentos pessoais desenvolvidos com base no estudo acadêmico e na experiência
profissional em torno dessas questões, sem, contudo, retomar explicitamente qualquer uma das
análises conduzidas em trabalhos anteriores do autor sobre a diplomacia
brasileira e sobre o papel dos Brics no sistema mundial.
Sendo um estudo de percepções e de
prioridades, ele consolida algumas das percepções do autor sobre as prioridades
da diplomacia brasileira na conjuntura da primeira década do século 21, segundo
um olhar crítico já desenvolvido em outros trabalhos de escopo similar. Não é
preciso dizer que a análise e a visão aqui contidas não correspondem a posições
ou políticas do governo brasileiro, nem expressam, a mais forte razão,
quaisquer posturas adotadas pela diplomacia brasileira atual.
1. Como o governo brasileiro concebe o sistema mundial e o papel da
China?