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Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Revista Política Externa, 20 anos: longa vida a uma excelente revista

Assisti, se ouso dizer, ao nascimento da revista Política Externa, nos idos de 1992. Lembro-me de ter comparecido a uma sessão na Câmara dos Deputados onde o acadêmico -- que depois seria chanceler em dois governos, o de Collor e o de FHC, sempre por períodos relativamente curtos, e também representante do Brasil em Genebra -- Celso Lafer apresentou a revista.
Motivado por esse bom exemplo de iniciativa acadêmica -- num momento em que eu também estava "transferindo" a Revista Brasileira de Política Internacional do Rio de Janeiro para Brasília, escrevi um artigo sobre as revistas brasileiras de relações internacionais, que foi publicado num dos números subsequentes da Política Externa, este aqui: 


304. “Revistas Brasileiras de Política Externa: um balanço de quatro décadas”, Brasília: 27 novembro 1992, 13 pp. Ensaio sobre as revistas que cobriram temas de política externa e relações internacionais do Brasil. Encaminhado para a revista Política Externa. Aceito para publicação em 15.03.93, com duas pequenas modificações sugeridas por parecerista. Versão revista em 15.03.93. Publicado na Política Externa (São Paulo: Vol. II, nº 1, junho-agosto 1993, pp. 162-169). Trabalhos Publicados nº 134.


Comprei o número mais recente da revista PE, que figura como vol. 20, n. 1 (jun/jul/ago 2011), com excelentes artigos sobre a primavera (!?) árabe sobre os 20 anos do Mercosul e outros temas, ademais de resenhas sobre livros que eu já li e sobre os quais também já produzi resenhas: Edgard Telles Ribeiro (O Punho e a Renda) e Luis Claudio Villafane Gomes Santos (O Dia em que Adiaram o Carnaval).


Em homenagem à revista Política Externa, transcrevo abaixo meu artigo referido acima.



Revistas  Brasileiras  de  Política  Externa:
um balanço preliminar de quatro décadas

Paulo Roberto de Almeida
Política Externa
(São Paulo: Vol. II, nº 1, junho-agosto 1993, pp. 162-169)

Nos países dotados de um establishment acadêmico fazendo juz a essa caracterização, as revistas especializadas em temas de relações internacionais desempenham um importante papel no debate intelectual e na informação de qualidade sobre a agenda internacional em geral e sobre a política externa de cada país em particular. No Brasil, em que pese o avanço já alcançado por determinadas “ilhas de excelência” da instituição universitária, esse tipo de revista costuma ser raro e os exemplos atualmente existentes podem provavelmente ser contados nos dedos de uma só mão.
A revista Política Externa, cujo lançamento ocorreu em junho de 1992, é o mais recente marco de uma longa série de empreendimentos nesse terreno aparentemente pouco explorado da produção acadêmica e editorial do País. Ela já passou a ocupar um espaço importante no âmbito da reflexão universitária e profissional sobre a inserção internacional do Brasil contemporâneo, bem como sobre as transformações em curso na ordem mundial, inclusive facilitando a um público mais amplo o acesso a artigos relevantes publicados na imprensa especializada internacional, sobretudo materiais de prestigiosos veículos como a Foreign Affairs ou a The New York Review of Books. Em colóquio por ocasião de seu lançamento no Rio de Janeiro, ela foi definida, pelo Prof. Luciano Martins, membro de seu Conselho Editorial, como
“uma revista aberta a todo debate, (...) uma revista que se pretende pluralista, cujo único objetivo é o de contribuir para a informação e para a reflexão no Brasil sobre o que está se passando no plano internacional” (nº 2, p. 36).

Um Terreno (Pouco) Frequentado
Deve-se no entanto reconhecer que ela não está só nessa tarefa nem labora em campo virgem: algumas outras revistas acadêmicas, mais ou menos especializadas nessas áreas, dedicam-se igualmente a “pensar” as relações exteriores do País ou o complexo quadro das relações internacionais num cenário marcado por profundas mutações de natureza econômica e política. Algumas são relativamente recentes, como a Contexto Internacional (Rio de Janeiro) ou a Política e Estratégia (São Paulo), mas uma pioneira dos anos 50 sobrevive ainda, embora com dificuldades: a Revista Brasileira de Política Internacional, lançada no Rio de Janeiro em 1958 e convertida, nos últimos anos, de quadrimestral em semestral.
Muitas outras surgiram e desapareceram nos últimos 40 anos, ao ritmo das dificuldades que costumam vitimar a maior parte desses empreendimentos acadêmicos e editoriais: escassez de recursos, produção e circulação amadorísticas e baixa densidade da “oferta” nacional e do próprio “mercado consulidor” nessa área. Uma rápida avaliação quantitativa do cenário brasileiro revelaria, precisamente, um processo de “seleção natural” particularmente cruel com es universo restrito de publicações especializadas,  com o desabrochar e a extinção de vários espécimes dessa renitente família.
Sem ter a pretensão de ser completo ou aprofundado, o presente levantamento intenta precisamente “passar em revista” as revistas de política externa e de relações internacionais publicadas no Brasil nas últimas quatro décadas, sumarizando tão simplesmente as iniciativas editoriais e seu contexto político e intelectual, e remetendo a uma ocasião ulterior a apreciação qualitativa dessas publicações e seu papel no debate intelectual em torno dessas questões. Foram deliberadamente deixadas de lado, por eu evidente profissionalismo e claro comprometimento com a Weltanschauung de suas respectivas corporações, as revistas de cunho militar (A Defesa Nacional, Revista da Armada etc) que, embora contendo uma ocasional ou extensa cobertura de temas internacionais, o fazem numa ótica especificamente instrumental ou ideológica, sem a diversidade doutrinária ou metodológica das revistas “civis”. Foram contudo incluidas as revistas não exclusivamente de política externa, já que muitas contribuições importantes ao estudo das relações internacionais e ao debate sobre a política externa brasileira aparecerem originalmente em revistas não especializadas na área internacional.
Ao cabo deste primeiro balanço, necessariamente incompleto, uma conclusão prosaica talvez se imponha: se o campo da “política externa” é muito pouco cultivado em nosso país, provavelmente não existem condições efetivas para uma multiplicação de iniciativas nesse terreno, em vista não só da exiguidade da produção acadêmica de qualidade em relações internacionais, como também das idiossincrasias propriamente umbilicais de um país como o Brasil, a forte vocação autárquica e (inclusive por razões linguísticas) com persistentes tendências ao isolamento.
Cabe sublinhar, antes de mais nada, a parcimônia do universo pesquisado, tanto mais restrito quanto mais estrito o critério seletivo adotado: na verdade, as revistas brasileiras de política externa ou internacional, consideradas stricto sensu, perfazem uma amostragem limitada se tanto a meia dezena de exemplos, aos quais poderiam ser agregadas umas quantas revistas de cultura geral com forte orientação temática para os problemas internacionais. Os intelectuais ou jornalistas de gabarito que se dedicaram a essa problemática — seja de um ponto de vista conceitual, seja com preocupações mais diretamente pragmáticas — tiveram invariavelmente de fazer apelo, numa ou noutra ocasião, a revistas de caráter propriamente político ou sociológico, quando não a periódicos da área econômica ou de orientação genericamente humanista. Daí a razão de também termos alinhado, ao lado dos títulos propriamente “internacionais”, alguns exemplos de revistas de cunho geral ou cobrindo mais frequentemente temas de política interna, inclusive porque um balanço de natureza qualitativa não poderia prescindir, se fosse o caso, da consulta a um universo mais amplo de periódicos.

As iniciativas pioneiras
O Brasil do pós-Segunda Guerra é um “país essencialmente agrário”, como então se dizia, com uma rarefeita população universitária, mas também intensamente preocupado com o seu papel num mundo em reconstrução. A participação no teatro de guerra europeu, a contribuição das missões universitárias européias, quando não a presença de intelectuais e de refugiados europeus em nossas principais capitais permitem a emergência de um ambiente cosmopolita ainda incipiente mas receptivo à discussão de temas de política internacional.
Inexistia, contudo, um veículo intelectual suscetível de canalizar o debate em curso — dominado já pelo clima de guerra fria e pela situação de relativa dependência dos Estados Unidos — ou de abrigar as primeiras reflexões de caráter acadêmico que começavam a ser produzidas sobre nossa inserção internacional naquele cenário bipolarizado. Curiosamente, algumas boas fontes para a pesquisa sobre os principais problemas “internacionais” que preocupavam nossas lideranças politicas e intelectuais podem ser encontradas em revistas da área econômica.
Aqui se destaca Conjuntura Econômica, da Fundação Getúlio Vargas/RJ, que desde seu primeiro número (novembro de 1947) dedica grande parte de sua atenção a questões de “comércio exterior”, numa visão bem ampla desse conceito. Através de sua seção de “Estudos Especiais”, ela passa a divulgar trabalhos de grande importância para uma análise das relações econômicas internacionais do Brasil — vide, por exemplo, “A Situação Monetária Internacional e a Paridade do Cruzeiro” (Ano II, nº 8, Agosto de 1948, pp. 20-23) ou “Entrada e Saida de Capitais em 1947” (Ano II, nº 9, Setembro de 1948, pp. 23-31) — ou da agenda econômica mundial: são inúmeros os textos sobre o Plano Marshall e suas implicações para a América Latina.
Sua “irmã gêmea” teórica, a Revista Brasileira de Economia (FGV/RJ, setembro de 1947), desempenhou um papel igualmente importante na discussão dos grandes problemas do desenvolvimento econômico em escala comparativa, com a divulgação de textos do Secretariado das Nações Unidas ou de eminentes especialistas internacionais que regularmente visitavam o Brasil a convite da Escola de Economia: Gottfried Haberler, Jacob Viner, Raul Prebish e muitos outros mais. É também nas páginas de outra revista econômica, Estudos Econômicos (da Federação do Comércio do RJ), que são publicados alguns bons artigos — de Rômulo de Almeida, entre outros — sobre essa mesma problemática das relações econômicas externas do Brasil.
Mas, foi apenas com o surgimento dos Cadernos do Nosso Tempo, do Instituto Brasileiro de Economia, Sociologia e Política (IBESP/RJ), que tem início, entre nós, o debate aprofundado dos temas de política internacional. Embora dedicada a “compreender o nosso tempo na perspectiva do Brasil e (...) o Brasil na perspectiva do nosso tempo”, como afirmava a apresentação de seu número inaugural (Outubro-Dezembro de 1953), a revista o faz de um ângulo propriamente planetário, com mais de 2/3 de suas páginas ocupados pelos principais problemas da conjuntura internacional: Hélio Jaguaribe já era presença constante em seus números, com matérias pioneiras (e desafiadoras) sobre a integração Brasil-Argentina.

RBPI: a revista decana
No final do segundo Governo Vargas, marcado pelos grandes debates entre “nacionalistas” e “entreguistas”, se constituiu, com forte participação de intelectuais cosmopolitas e de vários diplomatas, o “Instituto Brasileiro de Relações Internacionais”, voltado, segundo seus estatutos (aprovados por assembléia reunida no Palácio Itamaraty, em 27.01.54), para a promoção e o incentivo de estudos sobre problemas internacionais, “especialmente os de interesse para o Brasil”. É o IBRI quem vai impulsionar, a partir de março de 1958, o mais antigo empreendimento editorial “internacionalista” ainda existente no Brasil: a Revista Brasileira de Política Internacional, fundada precisamente com o propósito de difundir matérias e documentos vinculados à política internacional, bem como às relações internacionais do Brasil e ao próprio pensamento e prática brasileira em temas de política exterior. Um balanço ainda que sumário de suas realizações indicaria que ela cumpriu galhardamente esse papel, graças, quase que exclusivamente, ao extraordinário esforço individual de seu Diretor por longos anos, Cleantho de Paiva Leite, recentemente falecido.
Pioneira em sua época (se excluírmos os já citados Cadernos do Nosso Tempo, de existência meteórica em meados dos anos 50), a RBPI preencheu e ainda preenche uma lacuna inestimável em nossa cultura política e acadêmica no terreno que é o seu: a divulgação oportuna — atualmente bem menos atualizada — de todos os problemas que ocupam os profissionais da diplomacia brasileira. Numa época em que o registro dos eventos internacionais interessando o Brasil era feito de maneira precária pelo Itamaraty (por meio dos “Relatórios” anuais, já que a Resenha de Política Exterior só vem a surgir quase duas décadas depois), a RBPI compilava e publicava os textos e declarações oficiais produzidos pela burocracia diplomática, bem como os resultados da mais importantes reuniões internacionais de que o Brasil tivesse tomado parte. Figuram também em suas páginas artigos que já podem ser classificados como “históricos”, sobre as origens da política antártica brasileira, por exemplo, ou sobre os primeiros passos do Brasil no GATT e nas organizações econômicas regionais (CEPAL e ALALC).
Embora praticamente solitária num universo bastante restrito de periódicos especializados na temática internacional, é bem verdade que a RBPI chegou a ser concorrenciada em algumas poucas oportunidades por outras revistas momentânea ou ocasionalmente voltadas para temas correlatos, como a influente Revista Brasiliense (São Paulo) ou a combativa Civilização Brasileira (Rio de Janeiro). Concorrência efetiva, realmente, foi exercida, mais diretamente, apenas pela revista Política Externa Independente (Rio de Janeiro). Embora ela tenha atraido fortemente a atenção de políticos, intelectuais e diplomatas brasileiros engajados numa postura internacional não-alinhada, ela teve, no entanto, vida muito breve: três densos números entre maio de 1965 e janeiro de 1966. O regime militar então inaugurado caracterizava-se, precisamente, em sua primeira fase, por um alinhamento exemplar à política norte-americana, condenando a PEI (e também a “PEI” prática) ao purgatório dos empreendimentos sem avenir.
Nessa mesma época, José Honório Rodrigues, eleito Diretor-Executivo do IBRI, encontrou a RBPI em atraso de vários números — uma fatalidade que parece atingir a todas as revistas acadêmicas no Brasil — e se decide pela publicação de um índice temático dos 6 primeiros volumes (23 números). Ele também pretendia publicar vários números especiais, dedicados a temas como desarmamento, descolonização, comércio internacional de produtos de base (estávamos às vésperas da Iª UNCTAD) e política cultural internacional, uma questão que sempre o atraiu.

A Academia abre-se ao Mundo
Os anos 60 e 70, a despeito da repressão política e do controle ideológico patrocinados pelo regime militar, foram extremamente produtivos em matéria de debates acadêmicos e intelectuais. Papel protagônico nesse fermento político teve a Revista Civilização Brasileira, que abrigou inúmeros editoriais e quantidade apreciável de artigos de qualidade sobre temas internacionais (eram os anos da guerra do Vietnã): cite-se jornalistas como Otto Maria Carpeaux, um exemplo entre muitos outros colaboradores de grande peso intelectual.
Desenvolvem-se também, no período militar, núcleos de pesquisa acadêmica em vários centros universitários do País, sendo que algumas revistas eram financiadas pelo próprio establishment de apoio educacional. A Revista Brasileira de Estudos Políticos, fundada em 1956 e publicada pela UFMG, abrigou eventualmente em suas páginas contribuições sobre a política externa brasileira por acadêmicos de projeção (Celso Lafer, por exemplo). É na RBEP que foi originalmente publicado o texto “fundador” — em termos conceituais — da nova política externa brasileira da segunda fase do regime militar, “O Congelamento do Poder Mundial”, de J.A. de Araújo Castro (nº 33, janeiro de 1972).
A Revista de Ciência Política, do Instituto de Direito Público e Ciência Política da FGV/RJ, observa a mesma política de ampla abertura a temas correlatos na área externa: Celso Mello, por exemplo, era presença constante no terreno do direito internacional. Durante algum tempo, nos anos 60 e princípios dos 70, o Centro Latino-Americano de Pesquisas em Ciências Sociais (funcionando no RJ sob os auspícios da UNESCO e dirigido pelo eminente intelectual Manuel Diegues Júnior) publicou a revista América Latina, acrescentando algumas matérias de natureza sociológica à análise da inserção internacional dos países da região: se vivia então o auge da “teoria da dependência”.
Também no Rio de Janeiro, o IUPERJ mantinha a excelente revista Dados, que embora voltada mais precipuamente para a sociologia política, chegou a publicar artigos de extremo interesse para os pesquisadores de relações internacionais, como a original pesquisa de Zairo Borges Cheibub e de Alexandre Barros sobre os determinantes sociais da carreira diplomática ou a contribuição de Pedro Malan ao estudo das relações econômicas do Brasil. É na revista Dados que a jovem geração de pesquisadores acadêmicos brasileiros, muitos treinados nas novas técnicas em universidades do exterior, publicam trabalhos de grande relevância intelectual para o estudo da problemática internacional. Mencione-se aqui, apenas como registro, o trabalho exemplar de Maria Regina Soares de Lima e Gerson Moura sobre “A Trajetória do Pragmatismo: uma análise da política externa brasileira” (vol. 25, nº 2, 1982).
No universo intelectual da oposição de esquerda, muitas contribuições de qualidade ou de forte impacto político e conceitual na análise da política externa brasileira vêem à luz em pleno regime de censura da ditadura militar (que atingia mais de perto, é verdade, os meios de comunicação de massa). Se um intelectual engajado como Ruy Mauro Marini divulga, preferentemente, suas teses sobre o “subimperialismo brasileiro” em revistas do exterior (do Chile, do México ou mesmo dos EUA), muitos outros passam a utilizar-se dos novos veículos “alternativos” criados nesses anos negros de perseguições políticas e de paranóia ideológica. Carlos Estevam Martins, por exemplo, publica seu muito aclamado estudo sobre “A Evolução da Política Externa Brasileira na Década 64/74” nos Estudos Cebrap (nº 12, 1975), corajosa iniciativa de intelectuais e professores expulsos da USP pelo AI-5 (dentre os quais o atual Chanceler, Fernando Henrique Cardoso).  No final da década, a Revista Civilização Brasileira, que tinha sobrevivido heroicamente entre 1964 e 1968, volta em 1978, em novo formato, Encontros com a Civilização Brasileira, com um amplo espectro de contribuições na área internacional.
Do lado do “regime”, nesse mesmo ano, surge uma das melhores iniciativas em termos de revista especializada, a Relações Internacionais, derivada de convênio entre a Universidade de Brasília e a Câmara dos Deputados e envolvendo o trabalho conjunto de diplomatas e professores da UnB. Extremamente bem cuidada em termos editoriais e comportando artigos da melhor qualidade de estudiosos brasileiros e de scholars estrangeiros, a RI deixou uma marca profunda, ainda que temporária, no avanço das pesquisas em relações internacionais na própria capital da República, até então isolada das correntes universitárias do resto do País: estuda-se o pensamento de “próceres” da “PEI”, como Araújo Castro (Ronaldo Sardenberg) e San Tiago Dantas (Marcílio Marques Moreira), aprofunda-se a pesquisa histórica da política exterior brasileira (Amado Luiz Cervo), debatem-se os princípios do direito internacional e seu impacto no Brasil (A. A. Cançado Trindade), reproduzem-se textos há muito indisponíveis (de Rio Branco ou de Jânio Quadros, por exemplo, ou as mensagens presidenciais dos primeiros governos republicanos, em temas de política externa) e são traduzidos inúmeros trabalhos de especialistas estrangeiros. Nesse mesmo período, a Editora da UnB traduzia e publicava as mais importantes obras do pensamento político mundial, sobretudo no terreno das relações internacionais (alguns “clássicos”, como Raymond Aron, Paix et Guerre, ou Edward Carr, Twenty Years’ Crisis, por exemplo).

A Nova Geração
A partir dos anos 80, a pioneira RBPI teve de dividir o espaço da cobertura de temas internacionais com outras revistas, mas apenas duas lograram firmar-se e ocupar espaço político e intelectual: uma, de iniciativa mais conservadora e identificada com o chamado “pensamento estratégico brasileiro”, intitula-se, precisamente, Política e Estratégia, tendo sido editada desde 1983 (de maneira intermitente nos últimos anos) pelo Centro de Estudos Estratégicos da Sociedade de Cultura Convívio (São Paulo); outra, vinculado diretamente a uma instituição acadêmica, a Contexto Internacional, vem sendo editada, desde 1984, com crescente sucesso pelo Instituto de Relações Internacionais (IRI) da PUC/RJ.
A PeE, embora abrigando teóricos realistas da linha do “poder” e defensores do “Brasil Potência”, abriu-se exemplarmente a representantes do mundo acadêmico, inclusive alguns dos mais contundentes críticos das doutrinas geopolíticas ainda em voga em círculos remanescentes de militares. A CI, por sua vez, abriga basicamente produções da área acadêmica, com forte conteúdo conceitual e metodológico, abrindo espaço a um verdadeiro scholarly work at its best. Ambas as revistas não se restringem ao universo brasileiro de política internacional, buscando contribuições na comunidade de pesquisadores e debatedores dos mais diversos países, com uma forte preferência pelos latino-americanos no segundo caso.
Outras revistas acadêmicas surgidas no período recente também devotam, a despeito de uma vocação mais generalista ou de uma especialização temática em outras áreas, crescente espaço a problemas de política externa e de relações internacionais. É o caso, por exemplo, da Lua Nova, editada pelo Centro de Estudos de Cultura Contemporânea (São Paulo), cujo número 18 (agosto de 1989) foi inteiramente dedicado às relações internacionais e o Brasil. Nesse mesmo ano surgia, por iniciativa do Departamento de Ciência Política da UnB, a Revista Brasileira de Ciência Política, cujo número inaugural (e até aqui único) trouxe várias contribuições de qualidade na área internacional: José Carlos Brandi Aleixo, Theotonio dos Santos, Celso Amorim e Shiguenoli Miyamoto, este último um habitual frequentador das páginas de Política e Estratégia. Ainda na UnB, e mesmo anterior à RBCP, a revista Humanidades, em sua nova série (a partir de 1986), dedica parte de seu espaço editorial a problemas latino-americanos, embora sob uma ótica mais política e econômica do que propriamente no campo das relações internacionais.

Sobrevivendo no Mundo
A maior parte dessas revistas, em especial num país caracterizado por inúmeras iniciativas acadêmicas natimortas como o Brasil, tem uma existência financeira precária, canais de distribuição bastante deficientes e uma dependência física e política de alguns poucos entusiastas. É o caso, por exemplo, da RBPI, que ainda assim condensa, em seus trinta e e cinco anos de existência e nas dezenas de volumes editados quase que artesanalmente, um somatório extremamente rico de informações sobre a política externa brasileira e as relações internacionais dessas últimas três décadas e meia. Em suas páginas comparecem todos os diplomatas, intelectuais e estadistas que pensaram, praticaram ou analisaram a política externa brasileira e as relações internacionais nesse período, bem como uma massa relevante de documentação de referência para o estudo dos mais diversos problemas atinentes a esse problemas. Ela constitui, assim, uma “memória coletiva” bastante preciosa para uma investigação profissional sobre a inserção internacional do País no período coberto por sua publicação.
Embora enfrentando as dificuldades que soem atingir as revistas acadêmicas de público restrito, geralmente derivadas da falta de recursos materiais e humanos, a RBPI ainda assim conheceu uma notável regularidade de publicação, graças, mais uma vez, ao notável empenho individual de seu diretor. Com o falecimento de Cleantho de Paiva Leite, em outubro de 1992, colocou-se o problema da sobrevivência da revista, que não dispunha de Conselho Editorial. Felizmente, um grupo de diplomatas e de pesquisadores de Brasília assumiu o encargo de relançá-la em novas bases e princípios editoriais, o que deve ocorrer ainda em meados de 1993.
Assim, a Política Externa vem situar-se num universo restrito, não exatamente caracterizado pela continuidade, mas já frequentado por iniciativas acadêmicas similares. Suas características intrÍnsecas a tornam no entanto exclusiva nesse meio ambiente algo rarefeito, a começar pela forte abertura “externa” das colaborações e da documentação selecionada para publicação. Ela é também a única das revistas brasileiras que edita “material de pesquisa”, exemplo provavelmente retirado da seção “Source Material” da Foreign Affairs e instrumento importante para o pesquisador acadêmico. Mais do que uma revista de “política externa”, ela é propriamente uma revista internacional, no melhor sentido da palavra. Longa vida ao benjamim da comunidade !
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[Brasília: 15.03.93; Relação de Trabalhos n° 304b]
Ficha do Trabalho: 304. “Revistas Brasileiras de Política Externa: um balanço de quatro décadas”, Brasília: 27 novembro 1992, 13 pp. Ensaio sobre as revistas que cobriram temas de política externa e relações internacionais do Brasil. Encaminhado para a revista Política Externa. Aceito para publicação em 15.03.93, com duas pequenas modificações sugeridas por parecerista. Versão revista em 15.03.93. Publicado na Política Externa (São Paulo: Vol. II, nº 1, junho-agosto 1993, pp. 162-169). Trabalhos Publicados nº 134.

Iran: primavera iraniana? - Abbas Milani (Newsweek)




NEWSWEEK

Estariam os clérigos iranianos com os dias contados?

Queda de Bashar Assad na Síria pode ter reflexos sobre o regime do Irã

Por Abbas Milani




Newsweek - Iranian Clerics About to Fall?

Os clérigos do Irã estão apavorados. Com a Síria em frangalhos, eles se perguntam se sua aliança com Bashar Assad irá marcar o fim de seu próprio reinado despótico. O regime da Síria tem sido o aliado mais confiável – talvez o único – do Irã no Oriente Médio. Teerã enviou milhões de dólares para manter a Síria sob sua esfera de influência, e nos últimos meses, rumores de forças militares iranianas atuando sob o comando de Assad na Síria começaram a circular.
No entanto, enquanto democratas sírios continuam a surpreender o mundo com sua tenacidade, a longa união entre a Síria e o Irã começa a ruir. As declarações do governo iraniano são contraditórias, e são – ao mesmo tempo – uma tática para confundir o mundo, e um reflexo das enormes cisões e da briga de facções no poder central do Irã.
Inicialmente, o Irã ofereceu apoio ilimitado a Assad. Hoje, o país está recuando. Os clérigos iranianos querem afirmar tanto que a Primavera Árabe foi inspirada por seu modelo islâmico, quanto que a Síria é uma exceção, uma conspiração criada e colocada em prática por Israel e os Estados Unidos. Quando a Turquia, cada vez mais uma rival do Irã na luta por influência no mundo muçulmano, se aliou aos democratas sírios; quando pesquisas em países como o Egito mostraram um declínio na popularidade do regime iraniano; e quando sinais de preocupações entre os sunitas de que os iranianos estejam conspirando para reestabelecer um “Império Xiita” se tornaram cada vez maiores, o regime iraniano começou a se distanciar de Assad.
Afinidades marcam aliança
O Irã e a Síria são parceiros espirituais. Ambos são regimes pseudototalitários que governam em nome de uma ideologia: na Síria, a ideologia do Ba’ath, uma amálgama de fascismo europeu e nacionalismo árabe; e no Irã, a teoria do velayat-e fagih, uma mistura eclética de crenças xiitas na interpretação religiosa da lei e a noção de comando absoluto do rei filósofo, de Platão. Em ambos os países, uma pequena minoria se mantém no poder com o apoio de um sistema de inteligência opressiva, milícia e aparatos militares. Ambos os regimes são minorias xiitas que não contam com a confiança da população em um Oriente Médio dominado por sunitas. Ambos controlaram suas tempestades políticas com a ajuda econômica de forças estrangeiras: no caso da Síria, com o apoio do Irã e de outros Estados árabes; no Irã, por meio de um súbito aumento nos preços do petróleo. Em ambos, o líder vitalício absoluto – Khamenei no Irã e Assad na Síria – foi coroado por meio de golpes e sem eleições populares. Ambos ameaçam e intimidam seus vizinhos apoiando organizações terroristas. Os dois países consideram o Líbano como parte de sua área de atuação e usam o Hezbollah. Como xiitas, eles acreditam no tagiyeh, ou equívoco, um conceito central do xiismo que permite que os piedosos mintam e trapaceiem na defesa de sua fé. Essas afinidades marcam a aliança de 40 anos entre os déspotas do Irã e da Síria.
Agora existem sinais de que por trás do apoio intransigente à Síria, Khamenei e seus asseclas se preocupam com a possibilidade da queda de Assad e suas consequências no Irã. Uma Primavera Síria democrática poderia dar um fim ao longo inverno de despotismo iraniano.

Brasil: a caminho da decadencia economica

Parece um pouco forte, mas é o que penso a partir desta pesquisa de opinião junto aos brasileiros.
Estatizantes, os brasileiros amam o Estado, querem mais Estado, imploram por políticas públicas.
(Na verdade, todos querem um emprego público, que paga bem e exige pouco, ou pelo menos menos que no setor privado, sem o perigo de perder o emprego em caso de preguiça...; enfim, tudo isso é muito "racional" no plano individual, mas suicidário no plano nacional.)
Por isso mesmo terão mais Estado, e com isso menos crescimento, menos renda e menos prosperidade.
Certas tomadas de posição são contraditórias com os objetivos últimos da população.
Até que os brasileiros mudem de opinião, vamos continuar crescendo pouco.
Mas a situação pode piorar, obviamente, pois a Lei de Murphy está sempre à espreita...
Paulo Roberto de Almeida

ELEITOR BRASILEIRO: VALORES CONSERVADORES, ESTATIZANTE NA ECONOMIA E MÁXIMA LIBERDADE DE IMPRENSA!
(pesquisa nacional GPP com 2 mil entrevistas entre 20 e 21 de agosto) 
1. A metodologia aplicada acompanhou a da IPSOS-Nouvel Observateur de 2007. Foi testada em junho de 2007 e os resultados aqui no Brasil foram semelhantes. Agora, em agosto 2011, foi repetida. O método objetiva identificar o "partido político" de preferência do eleitor. Para isso, se realiza uma série de perguntas sobre valores (conservadores e liberais) e sobre economia (estado e mercado). O resultado continua confirmando. O "partido político" do eleitor brasileiro defende valores conservadores e quer um estado intervencionista na economia. Seria uma espécie de partido de direita/esquerda ao mesmo tempo. Resultados a seguir.
2. Os valores conservadores continuam tendo amplo apoio da população. 90% são a favor da redução da idade penal para 16 anos \ 79,7% querem aula de religião nas escolas \ 77,2% são contra a legalização do aborto \ 81,4% são contra a liberação da maconha \ No caso do casamento entre pessoas do mesmo sexo as respostas favoráveis cresceram de 2007 para cá. A favor 41,6% \ Contra 51,2%.
3. Eleitor é estatizante.  Maior intervenção do Estado na economia: a favor 51,8% e contra 29,8% \ Voltar a estatizar a Vale e as empresas de Telecomunicações: a favor 45,2%, e contra 39,2% \ O governo deve intervir o menos possível na sociedade: a favor 40,1% e contra 45,9% \ Privatizar mais empresas públicas: contra 48,7% e a favor 37,1 \ Diminuir a participação do governo nas empresas: a favor 40,1% e contra 45,9%
4. Quanto a Imprensa, o eleitor é contra controle do governo. Governo controlar a Imprensa: a favor 20,2% e contra 70,6% \ Liberdade total de Imprensa:  a favor 69,5% e contra 22,4%.
(Ex-blog de Cesar Maia, 15/09/2011)

A esperteza do retardatario: custo diplomatico para o Brasil

Meu comentário sobre a matéria abaixo.
O esperto -- no caso o ex-presidente -- quis fazer  uma "bondade" a seus amigos da esquerda, no Brasil e alhures, ao recusar-se a cumprir um tratado internacional por considerar que um assassino vulgar fosse um "perseguido político".
Todas as estrepolias foram feitas, desde o descumprimento pelo ex-ministro da Justiça -- o conceito soa um escárnio -- de decisão já tomada por uma Comissão, ao não considerar o assassino um perseguido político, até o ex-presidente, que ficou protelando a decisão final do STF até o último minuto, covarde que é esse tipo de manobra. A grande bobagem, obviamente, foi feita pelo STF que julgou improcedente o "asilo político" dado pelo tresloucado ex-ministro da Justiça ao assassino, confirmou que o indivíduo em questão esra extraditável, de acordo com tratado internacional a que se obrigou o Brasil, mas ainda assim, de forma totalmente idiota, concedeu ao ex-presidente a palavra final no caso (!!!).
Inacreditável: o STF considerou que o Brasil deveria cumprir com suas obrigações internacionais, assumidas solenemente, mas delegou a um mero executor do Executivo, justamente, o arbítrio de extraditar ou não o criminoso. Uma loucura completa a desses juizes incompetentes.
O outro tresloucada, interpretando -- conforme o seu ego continental -- que ele representava o Brasil, que ele fosse o Brasil, resolveu contrariar a decisão, o que deveria ter sido julgado um crime de responsabilidade em qualquer sistema democrático que se respeite. Ele não era o intérprete da lei, e sim um mero cumpridor de uma decisão tomada pela mais alta corte do país.
Ou seja, todos foram de uma extrema irresponsabilidade neste caso lamentável, que agora arranha a credibilidade diplomática do Brasil no plano internacional. Pior: a situção coloca em dúvida nossa capacidade de respeitar tratados internacionais.
Os jornais italianos têm razão ao dizer que o Brasil tornou-se um refúgio de criminosos.
Paulo Roberto de Almeida


Brasil manobra, mas Haia julga caso Battisti

Governo deixa de indicar nome para comissão de conciliação, como havia sido proposto pela Itália, e considera inevitável que corte avalie situação



Felipe Recondo e Lisandra Paraguassu
O Estado de S.Paulo, 15/09/2011
BRASÍLIA - O governo brasileiro adotou uma manobra diplomática para retardar um julgamento pela Corte Internacional de Justiça, com sede em Haia (Holanda), e reduzir o impacto de uma eventual condenação por decidir não extraditar o ex-ativista Cesare Battisti, condenado à prisão perpétua por quatro assassinatos na Itália.
O Brasil rejeitou a proposta da Itália de criar uma comissão de conciliação para se chegar a uma "solução jurídica amigável". Com isso, o governo tenta manter o assunto no âmbito quase sigiloso dos despachos diplomáticos e evita os holofotes de um tribunal internacional.
A Itália havia pedido ao Brasil que indicasse até esta quinta-feira, 15, um representante para a Comissão Permanente de Conciliação, prevista na Convenção sobre Conciliação e Solução Judiciária, assinada pelos dois países em 1954. Assim, conforme o texto da Convenção, daria por encerradas as tratativas sobre o caso pela via diplomática. Um árbitro neutro, provavelmente indicado pela Corte de Haia, estaria incumbido de propor um acordo entre as partes. O prazo estipulado pela Itália não está expresso na convenção e, por isso, o Brasil não trabalhava com esse limite.
Impasse. Independentemente disso, já havia um entendimento de que o Brasil não indicaria seu representante nessa comissão. A avaliação do Itamaraty é que não há possibilidade de acordo no caso. A única resposta aceitável para a Itália é que Battisti seja extraditado; o Brasil insiste que uma decisão soberana foi tomada pelo Estado brasileiro e recusa-se a entregá-lo.
Assessores jurídicos da Presidência da República e do Itamaraty enfatizam que o caso, de qualquer maneira, chegará à Corte de Haia. Por isso, não veem razão para instalar a comissão.
Rejeitar a interferência dessa comissão teria uma consequência adicional considerada relevante pelo governo brasileiro. A avaliação de assessores jurídicos é de que evitar essa comissão restringe os efeitos e a legitimidade de uma eventual decisão da Corte de Haia contrária à permanência de Battisti no Brasil.

Brasil: um país armado...

Não, não tem nada que ver com a qualificação militar ou estratégica do Brasil para cumprir com uma parte pelo menos -- sim, eu sei que o Brasil prefere apenas a outra parte, a do diálogo democrático e do direito internacional -- de suas obrigações internacionais, que seria a contribuição para os esforços de segurança internacional, num planeta tão infestado de grupos armados, piratas, milícias étnicas ou seitas fundamentalistas religiosas (também as fundamentalistas políticas, muito conhecidas aqui mesmo).
O crescimento do armamentismo no país não tem nada a ver com o aumento de equipamentos para as nossas gloriosas forças armadas e sua capacitação para aqueles objetivos grandiosos no plano internacional, mas tem a ver com o banditismo puro e simples...
Paulo Roberto de Almeida


Receita divulga Resultado da Fiscalização Aduaneira do 1º semestre
Posted: 14 Sep 2011 07:23 AM PDT


A Receita Federal divulgou dia 8/9, o Resultado da Fiscalização Aduaneira do 1º semestre/2011. O volume de apreensões chegou a R$ 828,89 milhões. O número representa um aumento de 23,29 % em relação ao 1º semestre de 2010. Os dados consideram o total de mercadorias apreendidas em operações de repressão, na fiscalização aduaneira e no curso do despacho de importação.


O ítem responsável pelo maior crescimento foram as munições, com aumento de 455% seguida por medicamentos com um aumento de 382,92% comparado com o mesmo período de 2010.
Vejam o relatório completo em:
http://www.receita.fazenda.gov.br/DestinacaoMercadorias/MercadoriasApreendidas/ResultFiscalizacao.htm


Como comenta aqui abaixo meu amigo Kleuber Pires, esse aumento extraordinário tem a ver com a campanha do governo "contra as armas" (só de cidadãos honestos, não dos bandidos) e com as bobagens da Anvisa de restringir o acesso a medicamentos.

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Um laptop por crianca: alguem ainda se lembra dessa promessa?

Quando eu trabalhava no Núcleo de Estudos Estratégicos da Presidência da República, o guru dos computadores John Negroponte veio ao Brasil (em 2005) apresentar ao presidente Lula sua ideia de OLPC, one laptop per child, acolhida entusiaticamente pelo próprio e todos os seus assessores, que passaram a prometer que iriam oferecer o tal de computador a 100 dólares em poucos meses.
A ideia era apresentada como a salvação do sistema escolar brasileiro, esclerosado como todos sabem.
Argumentei, então, mas inutilmente, que não deveríamos ver nisso a solução milagre para a má qualidade da educação, e sim apenas um projeto industrial paralelo, mas sem confiar muito que desse certo.
Disse que os industriais interessados não conseguiriam fabricar a 100 dólares, e que precisariam, de todo modo, de políticas públicas (isenções, subsídios, promessas de compras governamentais de centenas de milhares de exemplares) para tentar fabricar a 200 dólares, mas que no final custaria mais de 300 dólares e, de toda forma, não resolveria NENHUM problema educacional.
Argumentei que o problema principal da educação não era de hardware, e sim de software, ou seja, da formação de professores, num sistema totalmente revisto em seu funcionamento. Os que prometiam computador a 100 dólares estavam se enganando e tentando contornar o problema básico, que era a má qualidade do professor e do próprio sistema, e que o computador não resolveria absolutamente nada.
Bem, não fui ouvido, mas a realidade se encarregou de corrigir os iludidos.
Até hoje não temos nem sombra do OLPC brasileiro, muito menos a 300 dólares.
Bem, um estado indiano parece que já está se antecipando...
Paulo Roberto de Almeida



The southern Indian state of Tamil Nadu is to start handing out the first of an estimated 6.8 million free laptops to schoolchildren.

Apex-Brasil: Como exportar industrias e empregos para outros paises...

O Brasil, ou melhor, o governo, e suas agências especializadas são um fenômeno bizarro. Em lugar de consertar o que anda errado, são improvisados expedientes que contornam os verdadeiros problemas do país.
Neste caso específico, sabemos que nossas indústrias não são competitivas por culpa única e exclusiva da carga tributária, da infraestrutura inexistente (e cara) e do péssimo ambiente geral de negócios. Todos os demais fatores -- câmbio ou tênue inovação industrial -- são secundários em relação aos principais, sobretudo os impostos extorsivos, que inviabilizam a competitividade dentro e fora do País.
E o que faz o governo para reparar esse problema? Nada, ou quase nada. Na verdade, pouca coisa, e talvez, ou provavelmente, na direção errada, como esse "aprendizado de exportação de indústrias e empregos" para países que possuem acordos de livre comércio com os EUA (eventualmente com UE também e países asiáticos). 
O Brasil o que fez com respeito a isso?
Sabotou as negociações da Alca até implodir o processo, que aparentemente iria "destruir o Mercosul" e anexar a América Latina ao "império". 
E depois saiu proclamando uma tal de "nova geografia do comércio internacional", para ele, de forma reducionista, a expansão do comércio Sul-Sul, e a recusa de acordos com o Norte, ao passo que para os países asiáticos a nova geografia era a exportação para os EUA e Europa (e todo o resto do mundo também). Nunca se viu política tão míope, e talvez até estúpida.
Agora, o governo confirma a miopia, exportando empregos e indústrias.
Brilhante...



Governo federal ensina como gaúchos devem levar fábricas de calçados para o exterior
Políbio Braga, 14/09/2011

A Apex, quem diria, ensinará aos fabricantes gaúchos, dia 29, na Fenac, Novo Hamburgo, todos os segredos para instalar indústrias na República Dominicana.

. A ilha é plataforma ideal para exportações de calçados pra os Estados Unidos e Europa, devido a seus benefícios fiscais, apoio logístico e proximidade com os mercados consumidores de alto poder aquisitivo.

- O fenômeno da internacionalização na fabricação de calçados é inevitável, mas é notável que a Apex ensine como tirar produção, empregos e renda do Brasil. Além dos funcionários do governo federal, estarão presentes agentes da República Dominicana. O nome do evento é Seminário sobre Internacionalização para o Setor de Calçados e Componentes.