O que é este blog?

Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

terça-feira, 12 de março de 2013

A morte do caudilho autocrata: debate no GloboNews Painel

ESPECIALISTAS FALAM DOS REFLEXOS DA MORTE DE HUGO CHÁVEZ NO BRASIL.
Para falar dos reflexos da morte de Hugo Chávez no Brasil, o Globo News Painel recebeu três convidados: Rubens Barbosa, embaixador e editor da revista "Interesse Nacional", o diretor executivo do Instituto FHC, Sérgio Fausto, e Salvador Raza, diretor de defesa da PwC.
Neste link: http://globotv.globo.com/globo-news/globo-news-painel/t/todos-os-videos/v/especialistas-falam-dos-reflexos-da-morte-de-hugo-chavez-no-brasil/2451175/

E por falar em morte suspeita do caudilho, eis o agente inoculador imperialista:


Ciência sem Fronteiras… e sem critérios - Alexandre Barros


Ciência sem Fronteiras… e sem critérios

O Estado de S.Paulo, 12 de março de 2013
Autor: Alexandre Barros
Alexandre Barros
Começam a pipocar alertas sobre o programa Ciência sem Fronteiras, mais uma das soluções de burocratas para renderem muita notícia e depois serem esquecidas. Há um casamento de conveniência entre a ânsia da burocracia brasileira e a das burocracias universitárias num mundo em crise. Estudantes estrangeiros com bolsas governamentais são uma verdadeira bênção para qualquer universidade: governos pagam em dia e os alunos não dão muito trabalho. A maioria deles volta para o país de origem e as instituições de ensino superior evitam a má fama de graduados menos competentes rodando no mercado.
Os vendedores de admissões nas universidades estrangeiras vêm mais aqui, agora. É fácil recrutar gente que dá lucro, incomoda pouco e não deixa rastros.
Não é acidental que muitos estudantes brasileiros escolham Portugal: lá a língua é parecida com a daqui, embora as universidades nem sempre sejam melhores (“Estado”,5/3). Em outros países, porém, a porca torce o rabo. É difícil ter a proficiência desejada para estudar em outro idioma. E há também muitos choques na chegada: adaptação cultural, língua diferente, sistema mais “puxado” que o nosso (mas nem sempre)…
O Ministério da Educação (MEC) diz que vai afrouxar os critérios de proficiência em língua estrangeira para acomodar mais estudantes. (Atenção: há uma grande diferença entre estudar numa boa universidade estrangeira e visitar a Disney!) Ora, aceitando tal afrouxamento, as universidades participantes com pactuarão comum sistema em que o governo brasileiro cobrirá prejuízos com o seu, o meu, o nosso dinheirinho.
O “Financial Times” publicou a notícia de que a ministra do Interior da Inglaterra quer dificultar os vistos para brasileiros, por preocupações de sua pasta com a avalanche verde-amarela (incidentalmente, nossos conterrâneos vão lá para comprar de tudo e agora… educação). Praticamente todos os seus colegas de Gabinete estão contra ela, porque isso reduziria a produção de ovos de ouro que a galinha tupiniquim anda botando na Britânia. E eles são muito bem-vindos, sobretudo agora.
Há um casamento de conveniência entre a ânsia da burocracia brasileira e a das burocracias universitárias num mundo em crise
Minha experiência pode ajudar. Fui admitido na Universidade de Chicago em 1968. Não era enturmado nem tinha bolsa. Corri atrás dela em 12 lugares possíveis. No fim, voltei ao início do jogo e fui conversar como representante da Fundação Ford, que eu conhecia porque havia trabalhado com um jovem brasilianista, dos muitos que andaram por aqui na época. Trabalhei, em inglês, com ele durante quase dois anos. Tinha seis anos de Cultura Inglesa.
Com o atraso da bolsa perdi o prazo de chegada para o trimestre do outono. Fui então orientado por uma senhora de nome Cassandra, daquela universidade, a fazer o teste de inglês de Michigan, para dar tempo de começar os estudos em janeiro.
Marchei. Fiz tudo: tirei passaporte, visto e a Ford deu-me a bolsa. Fui instruído a viajar em 25 de dezembro. No dia 26 haveria uma reunião de bolsistas da fundação em Nova York.
Dez dias antes do embarque chegou uma carta da dona Cassandra dizendo que eu não poderia ir porque, embora tivesse boa nota em todos os itens do teste de inglês, na redação havia tirado 90 e o mínimo era 94. Ruiu o castelo de cartas.
Fui falar com um amigo bolsista americano que estava aqui, mostrei-lhe a carta e, com um muxoxo, lamentei: “Acabou o sonho”. Ele a leu, olhou firme nos meus olhos e disse: “Você vai! Você nunca recebeu essa carta!”. Surpreso, retruquei: “Mas não posso! A carta está aí”.
“Você vai!”, insistiu ele. “Você sabe inglês mais do que suficiente. Essa senhora tem um título pomposo, mas é apenas uma burocrata. Ela deve assinar umas 30 cartas dessas por dia.
Você vai porque, senão for, você terá um problema; se for, ela terá um problemão. Terá de se ver livre de um corpo e engatar uma marcha à ré para reverter os movimentos de todas as máquinas burocráticas já acionadas: a Fundação Ford, os administradores da bolsa, o seguro de saúde e tudo o mais. Vá que não haverá problema.Você entrará na universidade direitinho.”
Fui. Apresentei-me à dona Cassandra. Depois do bom-dia, ela me perguntou se eu não havia recebido sua carta. Respondi firme: “Carta? Que carta?”. Lá estava eu, o “cadáver” a que ela teria de dar um destino, exatamente como o meu amigo americano previra.
Primeiro choque: os americanos têm “jeitinho”, sim, só que, como eles não têm complexo de vira-lata, não admitem isso. Fui posto numa “pena condicional de língua”depois que ela conversou com meu orientador pelo telefone. Ele lhe disse que eu sabia falar inglês muito bem, pois havia trabalhado com ele quase dois anos.Elá professor mandava mais que burocrata.
Os primeiros meses foram de choques culturais diários: acostumar-me a viver no inverno, entender o que os americanos diziam, como funcionavam os seminários, aprender a operar as máquinas de venda, usar o sistema de reservas da biblioteca. E entender toda aquela engrenagem complexíssima da universidade (depois descobri, conversando com amigos americanos, que eles também haviam ficado confusos quando chegaram a uma universidade pela primeira vez). Finalmente, o grande choque: conheci, em 15 dias, a maior parte dos brasileiros do câmpus e o meu inglês era melhor que o de todos eles, sem exceção.
Passado o primeiro trimestre o choque se foi elá passei os três melhores anos da minha vida. Agora pergunto: se o governo brasileiro está baixando os requisitos de língua em 20 pontos ou mais, como vão se virar os estudantes brasileiros sem a proficiência necessária?
Aqui fica um depoimento de quem viveu situação um pouco parecida, somente como advertência para os responsáveis pelo programa. Se era difícil mandar o Alexandre “cadáver” de volta, como fará a burocracia brasileira para repatriar esses milhares de “cadáveres” herdeiros do Ciência sem Fronteiras? O nosso dinheiro já terá sido gasto.
Fonte: O Estado de S. Paulo, 11/03/2013

Miseria do debate no Brasil atual: O. Tambosi, O. Carvalho

Abaixo, dois artigos, de um dos intelectuais mais atacados no Brasil, Olavo de Carvalho, um atual, outro de quase 15 anos atrás, tratando do mesmo problema fundamental no Brasil que se pretende inteligente (mas que alimenta dúvidas sobre a solidez desse estatuto): neles uma mesma reclamação de Olavo de Carvalho em função da falta de um debate verdadeiro entre correntes filosóficas e políticas opostas, dada a "hegemonia" -- uma palavra que os gramscianos usam no sentido pejorativo, quando se referem ao capital, mas que adoram, quando se trata de sua dominação cultural -- sobre os chamados "aparelhos ideológicos do Estado", como diriam os pobres althusserianos. Eles reclamam que tudo está dominado pelo capital monopolista, pela grande mídia (sempre perversa, sempre golpista, sempre capitalista, claro), quando na verdade são eles que dominam as universidades e os principais veículos de comunicação, impedindo qualquer debate realista e racional: funcionam à base de slogans, invectivas, condenações, mas raramente com base em argumentos ponderados.
Agradeço a meu colega e amigo de lutas pela inteligência Orlando Tambosi  por me chamar a atenção para esses textos e por introduzir o artigo atual, com palavras tão certeiras.
Faça minhas as palavras de ambos, quando à miséria dos "intelequituais" gramscianos, incapazes de sair de sua camisa de força mental para debater abertamente.
Paulo Roberto de Almeida 


Orlando Tambosi, 12/03/2013

Agradeço ao filósofo e jornalista Olavo de Carvalho ter lembrado de meu livro sobre a decadência do marxismo, lançado em 1999, e corroboro o que ele diz: ideias que contrariam o marxismo, no Brasil, são sistematicamente ignoradas, dentro ou fora da academia. Nas universidades, em geral, pensar contra a corrente (como dizia Berlin) vale a condenação ao ostracismo, não isento de manifestações de hostilidade. Danke, caro Olavo, ainda que eu não mereça a ilustre companhia de Gilberto Freyre, Paulo Mercadante, José Guilherme Merquior e todo o elenco que você cita. 

Surrupio na íntegra o artigo "O plano e o fato", publicado ontem [11/03/2013] no Diário do Comércio, de São Paulo. E, atenção, detratores, podem me chamar de direitista, reacionário, positivista, liberal etc. A defesa das liberdades, no Brasil lulista, constitui um verdadeiro atrator de adjetivos por parte dos esquerdistas, que supõem ter chegado ao fim da história com o falastrão de Garanhuns. Chegaram, na verdade, ao pensamento único, que  imputavam ao tal de "neoliberalismo". Resumindo: mataram o pensamento e a crítica. [OT]

O plano e o fato
Olavo de Carvalho 
Diário do Comércio, 11/03/2013

O caso do Dicionário Crítico, que lembrei no artigo "Devotos de um vigarista", é somente  a figura mais extrema, caricatural e grotesca que o fenômeno assume no Terceiro Mundo, mas ignorar o pensamento do adversário e tampar os ouvidos às objeções são hábitos gerais e infalíveis da intelectualidade esquerdista em toda parte.

Em Thinkers of the New Left (1985), onde examina os principais expoentes de uma escola de pensamento que ainda é a mais influente na esquerda hoje em dia, Roger Scruton observa que nenhum deles jamais deu o menor sinal de querer responder às críticas feitas à teoria marxista por Max Weber, Werner Sombart, F. W. Maitland, Raymond Aron, W. H. Mattlock, Böhm-Bawerk, Popper, Hayek ou von Mises.

Poderia acrescentar Eric Voegelin, Cornelio Fabro, Rosenstock-Huessy, Norman Cohn, Dietrich von Hildebrand, Alain Besançon e uma infinidade de outros autores merecidamente tidos também como clássicos.

No Brasil você não verá nenhum marxista discutindo as objeções de Gilberto Freyre, Mário Ferreira dos Santos, J. O. de Meira Penna, Paulo Mercadante, Antonio Paim, Orlando Tambosi, Ricardo Velez Rodriguez, Gustavo Corção, João Camilo de Oliveira Torres, José Guilherme Merquior. 

O marxismo universitário vive e prospera de ignorar a cultura universal das ideéias e sonegá-la aos estudantes. Ao mesmo tempo, infunde neles a impressão sedutora e enganosa de que, por terem lido os autores aprovados pelo Partido, são muito cultos.
Trata-se da forma mais extrema e radical da incultura organizada, da ignorância obrigatória, da burrice prepotente e intolerante.

Enquanto os anticomunistas de todos os matizes não cessam de analisar e refutar o marxismo, escrevendo milhares de livros a respeito, os marxistas fogem sistematicamente ao debate. 

Quando não se contentam em baixar sobre os  adversários a mais pesada cortina de silêncio, dedicam-se a difamá-los pelas costas, inventando a respeito as histórias mais escabrosas, tratando-os como criminosos, colocando-os em “listas de inimigos” e cumprindo à risca a regra de Lênin: não discutir com o contestador, mas destrui-lo politicamente, socialmente e, se possível, fisicamente.

Que maior prova se poderia exigir de que essas pessoas, que se atribuem o monopólio de todas as virtudes, são as mais perversas, malignas e desprezíveis que já infestaram a profissão intelectual?

A ascensão da escória marxista ao primeiro plano da vida nacional foi e é a causa principal ou única da destruição da cultura superior e do sistema educacional no Brasil.

Com ares de escândalo e indignação, a Folha noticia a descoberta de um plano do governo militar, concebido pelo ministro Alfredo Buzaid nos anos 70, para refrear a infiltração comunista nas universidades e órgãos de mídia. O plano não foi levado a efeito, tanto que a era dos militares foi o período de maior prosperidade da indústria do livro esquerdista no Brasil e a época da conquista da mídia pelos comunistas. Mas o jornal do sr. Frias não perdoa nem a simples ideia. Que horror, que coisa mais tirânica, mais nazista, pensar em impedir o acesso dos comunistas a todas as cátedras, a todas as páginas de jornais, a todos os megafones!

O que o sr. Frias e seus empregados fingem ignorar é que aquilo que a ditadura quis fazer e não fez é exatamente o que os comunistas já fizeram e que já está em plena vigência neste País, com uma amplitude e uma rigidez que ultrapassa tudo o que os militares pudessem ter sonhado em matéria de controle hegemônico dos canais de comunicação e ensino. As gerações mais novas,  que não conheceram o Brasil dos anos 50-60, já nasceram dentro dessa atmosfera, que lhes parece normal, e não notam a diferença. 

Mas um simples detalhe basta para mostrar o que aconteceu: o ponto de vista cristão-conservador, que era oficialmente o do Estadão, do Globo e parcialmente da própria Folha naquela época, está totalmente excluído, proibido e criminalizado em toda a mídia.

Os editoriais escritos pelos srs. Roberto Marinho e Júlio de Mesquita Filho jamais poderiam ser publicados, hoje, nos próprios jornais que esses homens fundaram, onde o máximo que se permite, num espacinho minoritário, é um pouco de liberalismo chocho e inofensivo, quando não a pura crítica de esquerda a algum desmando ou patifaria mais vistosa do governo petista. Se até essa oposição mole e parcial é hoje abertamente condenada como “extremismo de direita”, é notório que a medida geral de aferição mudou, e quem a mudou foi a própria mídia. E se jornais e canais de TV dão alguma cobertura à Sra. Yoani Sanchez, é precisamente porque esta é anticastrista sem ser anticomunista e suas críticas ao governo cubano são brandas e autocensuradas em comparação com as de outros dissidentes, que contam a história inteira. Estes jamais aparecerão no Globo ou na Folha. E alguém é capaz de imaginar, hoje em dia, uma novela da Globo defendendo os valores cristãos que eram tão caros ao sr. Roberto Marinho?

Por que uma simples intenção não realizada do governo militar deveria ser considerada mais repugnante e assustadora do que o fato consumado, a mesmíssima intenção realizada em muito maior escala pela esquerda triunfante e dominadora, senhora absoluta das páginas da própria Folha? A simples redação dessa mesma notícia já não revela a inversão de critérios, imposta como norma universal e inquestionável que só loucos e extremistas ousariam contestar? O sr. Frias não sabe ler o seu próprio jornal? Não enxerga que ele mesmo foi, em pessoa, um dos artífices do plano do ministro Buzaid realizado com signo oposto?

P. S.: Olavo já fizera referência ao meu livro (hoje esgotado na editora) ainda em 1999, em artigo publicado no Jornal da Tarde.


Abaixo, o artigo citado:


Olavo de Carvalho
Jornal da Tarde, 9 de dezembro de 1999

O motivo pelo qual não há nem pode haver debate filosófico neste país já se tornou claro: um grupo de ativistas sem escrúpulos apropriou-se dos meios de difusão cultural para fazer deles o trampolim de suas ambições políticas, fechando os canais por onde pudessem fazer-se ouvir as vozes adversárias e impondo a todo o País a farsa gramsciana da “hegemonia”.
A palavra mesma, que tanto veneram fingindo ser termo claro e unívoco, já traz a letal ambigüidade das grandes mentiras. Designa, no sentido intelectual, a amplidão do horizonte de uma visão do mundo que abarca as concorrentes sem ser por elas abarcada. Hegel, por exemplo, é hegemônico sobre todos os marxismos, que quanto mais buscam superá-lo mais se enredam, como viu Lucio Coletti, nos compromissos metafísicos do hegelianismo, e jurando pô-lo de cabeça para baixo só conseguem é plantar bananeira eles próprios (v. o excelente estudo de Orlando Tambosi, O Declínio do Marxismo e a Herança Hegeliana , Florianópolis, UFSC, 1999).
A máfia gramsciana, quando chama Gramsci de hegemônico, deseja induzir-nos a crer que ele o é nesse sentido. Mas ela sabe que não é, pois um breve exame das filosofias do século 20 mostra que nelas há mundos e mundos inabarcáveis e invisíveis aos olhos desse pobre sapo filosófico, espírito escravo que, fingindo-se de livre e universal, tudo comprime e reduz às dimensões mesquinhas do seu poço escuro e proclama que o céu é apenas um buraquinho no teto. Gramsci nunca foi um filósofo, foi apenas um sistematizador de truques sórdidos para falsificar o saber e torná-lo instrumento de poder nas mãos do Partido.
Se o gramscismo fosse hegemônico no sentido intelectual, ele se imporia pela força das suas demonstrações, como se impuseram por exemplo as filosofias de Aristóteles e de Leibniz. Mas estes nunca precisaram ter a seu serviço um exército de “ocupadores de espaço”, semeadores do silêncio forçado onde germine a falsa glória do monólogo restante. Quando, na Idade Média, um aristotélico desejava vencer um adversário, não pensava em tomar-lhe o emprego, em encobrir seu discurso sob a gritaria uníssona de uma ralé de militantes pagos. Chamava-o para o debate em campo aberto, mesmo quando isso importasse, como importou para Santo Alberto, em atrair a ira dos poderosos. Para derrotar os empiristas, Leibniz não tratou de boicotá-los na distribuição das verbas de pesquisa, de omitir seu nome das publicações culturais, de monopolizar contra eles o apoio milionário dos senhores da mídia. Simplesmente escreveu um livro fulminante em forma de debate com o príncipe deles, John Locke, ainda que ao preço de ver-se exposto à chalaça grosseira de filósofos de salão.
Os escolásticos e Leibniz desconheciam a hegemonia no sentido gramsciano, e se a conhecessem não veriam nela senão a criação doentia de uma mentalidade torpe.
Para ilustrar do que se trata, nada mais elucidativo do que a conduta recente de uma tal dona Marilena, que, denunciada por mim como praticante do característico estilo elíptico-mistificatório de raciocínio gramsciano, ficou caladinha ante o público da cidade onde mora, mas foi dizer lá longe, lá em Goiás, que não me conhece nem leu, mas que, segundo informação confiabilíssima obtida de fonte anônima, sou indiscutivelmente “um pulha”. O jornalista José Maria e Silva, do jornal Opção de Goiânia, já deu a essa criatura a resposta devida, e cito o caso apenas como amostra dos métodos gramscianos de conquista da hegemonia: jogo de poder, manobra soturna para frustrar o debate, boicotar o adversário e vencer por uma impressão postiça de unanimidade espontânea.
Quando essa gente trombeteia que uma edição completa de Gramsci vai “renovar o pensamento nacional”, o que anuncia é nada menos que a “renovação por estrangulamento”. Pois que estrangulem o quanto queiram. Eu, da minha parte, lhes digo o que vou fazer: vou furar o bloqueio, por meio do JT e de quantos outros respiradouros ainda restem na imprensa nacional. A cada novo volume de escritos do anãozinho maluco que vocês publicarem, vou responder com argumentos que demonstrarão a sua total vacuidade filosófica e a índole brutal de sua doutrina fingidamente humanóide. Vocês, como sempre, vão ficar rosnando pelos cantos e tramando maldades. E vão falar mal de mim bem longe de Goiás, pois já viram que goiano não é idiota.

Vale quanto pesa? A Vale e o valetudo do governo argentino...

Parece que a situação não está rósea para a Vale, e sim para a cor do minério que extrai. Potassio, me parece, é mais claro, mas a situação da companhia está mais para o escuro, politicamente correto, e economicamente incorreto. Em todo caso, o governo argentino não gostou, e pode decretar a expropriação do investimento.
Quem disse que capitalistas não sofrem? Governos mais ainda...
Resta saber o que vai fazer o nosso...
Paulo Roberto de Almeida

Comunicado de prensa del Gobierno nacional(Argentina)
Abandono del proyecto Potasio Río Colorado por el operador minero Vale.
12/03/2012

Sin perjuicio de que las decisiones relativas a las concesiones mineras competen a las autoridades provinciales de Mendoza, dueña del recurso el Gobierno Nacional lamenta la decisión unilateral de la empresa VALE de capitales brasileños con sede jurídica en el Reino de los Países Bajos, de abandonar el proyecto Potasio Río Colorado, pese a los esfuerzos realizados por parte del Estado Nacional y de las jurisdicciones provinciales y municipales involucradas para garantizar la continuidad del proyecto.
VALE S.A. ingresó al proyecto Potasio Río Colorado, ubicado en la provincia de Mendoza, Argentina, en febrero de 2009, luego de adquirir la concesión de los activos a la empresa Río Tinto.
La operadora brasilera diseñó en Potasio Río Colorado la mayor unidad de producción de cloruro de potasio del mundo, con una capacidad de 4.3 millones de toneladas por año.
VALE pretexta que estimó inicialmente el monto de inversión para desarrollar el proyecto en 5.9 mil millones de dólares, destinados a la construcción de la mina, la infraestructura de transporte asociada (400 nuevos kilómetros de ferrocarril), la construcción de una terminal portuaria propia y una generadora de electricidad y las inversiones necesarias para dar cohesión integral al proyecto. A los dos meses de su inicio VALE incrementó su estimación a 8.6 mil millones de dólares, para elevarlo más tarde a 10,9 lo que, manifiesta afecta significativamente la competitividad y el atractivo del proyecto.
Lo cierto es que la actual crisis económica internacional originada en los países desarrollados viene impactando fuertemente en los niveles de consumo de diferentes commodities mineras, lo que derivó en una menor demanda y menores precios de la principal fuente de ingresos de VALE, el mineral de hierro.
Estas circunstancias implicaron la reducción de los ingresos por ventas en la compañía, afectando significativamente su balance, al punto que en el último trimestre de 2012 la empresa declaró pérdidas por 2.600 millones de dólares.
A raíz del achicamiento del negocio de VALE a escala mundial, la empresa tomó la decisión de replantear y reestructurar el desarrollo de nuevos proyectos alrededor del mundo, entre los que se encuentra Potasio Río Colorado. Según distintos informes públicos, VALE decidió reducir sus inversiones sustancialmente, suspendiendo y abandonando distintos emprendimientos, y concentrándose en la producción de su producto tradicional (mineral de hierro), dejando de lado sus planes de diversificación a otros minerales.
Para dar continuidad a la inversión comprometida, VALE exige que se implementen entre otras las siguientes medidas: Pago con bonos de deuda externa a valor nominal, recuperación anticipada de IVA, eliminación de retenciones al cloruro de potasio y reducción de los compromisos de inversión ante las diferentes jurisdicciones.
El conjunto de lo solicitado implicaría un aporte estatal de aproximadamente 3 mil millones de dólares en el curso de dos años y sin contraprestación alguna, que deben sumarse a los beneficios impositivos para la minería que existen en nuestro país lo que es de público y notorio .
Ante la situación de dificultades que viene experimentando la empresa VALE, el gobierno nacional y las diferentes jurisdicciones involucradas en el proyecto se comprometieron al diálogo permanente y en todo momento propusieron alternativas para garantizar la continuidad de la construcción del proyecto, que aún a pesar del actual contexto de crisis internacional, mantiene su atractivo económico y financiero. En diciembre VALE interrumpió unilateralmente las inversiones paralizando las obras de construcción con un grave impacto laboral social y económico para la región afectada.
El gobierno argentino desea llevar tranquilidad a los trabajadores y aquellas empresas contratistas de que arbitrará todos los medios conducentes a la continuidad del proyecto y a recuperar la dinámica de trabajo prevista, teniendo en cuenta el fuerte impacto económico y social que produce el abandono del emprendimiento por parte de la empresa VALE.

Os idiotas do ENADE e os cumplices do MECdinossauro... - Carlos Alberto Sardenberg

Minha opinião, mero chute, entre muitos outros que dou, é a de que o Brasil não tem a menor chance de melhorar sua educação, nos próximos 25 anos pelo menos (isso se conseguir consertar o estrago nos próximos dez anos, senão joga tudo isso ainda mais para frente). Ou seja, não há nenhum risco de que a produtividade melhore, de que os trabalhadores se tornem inovadores também, enfim, de que o Brasil cresça um pouco mais rapidamente do que o seu atual passo de cágado (atenção ao acento, revisores).
A idiotice e a desonestidade "inteliquitual" são tão grandes que só se pode antever desastres e mais desastres, pelo futuro previsívil.
Multiplique isso que o jornalista está contando por 10 mil, ou mais...
Paulo Roberto de Almeida


Como selecionar apenas os idiotas no ENADE
 Por Carlos Alberto Sardenberg*

Mesmo com algumas crises financeiras e bolhas, a economia mundial exibe crescimento vigoroso desde os anos 1990, e simplesmente espetacular de 2003 para cá. Diversos fatores se combinaram para isso - estabilidade monetária (inflação dominada, juros baixos), abertura ao comércio externo e à circulação de capitais, tecnologia de informação e telecomunicações, permitindo ganhos de produtividade. Mas há um outro fator histórico, decisivo: a incorporação de dezenas de países ex-socialistas e seus bilhões de habitantes ao capitalismo global.
A enorme capacidade de criar riqueza do capitalismo encontrou locais propícios para se multiplicar. Capitais do mundo todo encontraram novos pólos de investimento. Populações desses países - muitas com alto nível educacional, como as do Leste Europeu - entraram com tudo no modo de produção capitalista, com uma forte vontade de prosperar. Em diversos países se formou uma combinação de mão-de-obra educada, mais barata do que nos centros mundiais e trabalhando em plantas modernas, de alta produtividade.
Mais ainda: muitos países trouxeram novos recursos naturais, como o petróleo e o gás da Rússia e vizinhos, que alimentam a Europa Ocidental. E, sobretudo, bilhões de novos consumidores foram incorporados aos mercados mundiais. Com o crescimento acelerado desses novos capitalistas e o contínuo ganho de renda, os mercados se multiplicaram. (A brasileira Arezzo vai abrir lojas na China para vender sapatos femininos a partir de US$ 150 o par. Para quem? Para as novíssimas classes A e B que crescem naquele país. O consumo de carnes cresce fortemente nesse novo mundo, para alegria dos exportadores brasileiros.)
Na verdade, como notou Alan Greenspan em seu livro A Era da Turbulência, temos o privilégio de acompanhar um evento único: estamos verificando a olho nu, em tempo curto, como se forma esse modo de produção capitalista, processo que, na outra parte do mundo, levou séculos para se consolidar.
Há um único lugar no mundo que está tentando fazer o caminho contrário, para o socialismo. Adivinharam, claro, a América Latina.
Só nesta parte do mundo as idéias socialistas são levadas a sério, na teoria e na prática. No Brasil, temos conseguido escapar de certas experiências, mas fica sempre uma inquietação no ar, pois o pensamento socialista domina as escolas e as faculdades na área de humanas.
O pessoal continua gastando um tempo enorme estudando marxismo e socialismo - história morta. E sou capaz de apostar que nenhuma escola de ciências sociais tem estudos sérios sobre esse fenômeno da introdução do capitalismo em meio mundo.
Um exemplo desse quadro é a última prova do Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes (Enade), do Ministério da Educação.
Os testes não deixam outra possibilidade: se o universitário concorda com a idéia de que a história e a sociedade se movem pelo conflito de classes entre capital e trabalho, como ensina o marxismo, então deve ter tirado nota 10.
Se, ao contrário, o universitário pensa que a liberdade individual, o mercado livre e o direito de propriedade constituem os melhores fundamentos das relações sociais e econômicas, como prova o mundo moderno, esse aluno errou a maior parte das questões.
Se pensa isso e foi esperto, não errou, pois as questões são construídas de tal modo que a "resposta socialista" surge como obviamente correta e a outra, "neoliberal", parece uma estupidez ou uma ingenuidade.
A questão 10, por exemplo, pede uma breve dissertação sobre o papel desempenhado pela mídia nas sociedades democráticas, a partir de três enunciados. Dois deles, um dos quais é uma entrevista de Noam Chomsky, sustentam que a mídia (assim, no geral) é um instrumento das classes dominantes, do capital, para manter a exploração e bloquear, de modo sutil e subliminar, a circulação de "idéias alternativas e contestadoras".
O outro enunciado é maroto. Procura elaborar uma caricatura bonitinha. Diz assim: "A mídia vem cumprindo seu papel de guardiã da ética, protetora do decoro e do Estado de Direito. Assim, os órgãos midiáticos vêm prestando um grande serviço às sociedades, com neutralidade ideológica, com fidelidade à verdade factual, com espírito crítico e com fiscalização do poder onde quer que ele se manifeste."
Nesse quadro, se o aluno entendesse que, nos regimes democráticos, há jornais, revistas, rádios e TVs que procuram relatar os fatos da maneira mais objetiva possível; que a imprensa não-partidária e não-religiosa é induzida a isso pela concorrência e pela competição no livre mercado; que há, sim, imprensa comprometida com a democracia, com a liberdade de opinião e com a vigilância dos governos, sendo isso testado pelo seu público, o melhor a fazer seria evitar essa argumentação, pois o contexto da questão indicava que seria considerada falsa.
Para o Enade, ou a mídia é de uma santidade exemplar, impoluta e infalível; ou não existe a menor liberdade de imprensa e de opinião e a mídia dita democrática é sempre um truque para calar os trabalhadores e suas lideranças.
Quem se lembrou dos ataques de membros do governo e do PT à "mídia golpista" lembrou bem. É essa visão mesmo. Fazer reportagens sobre mensalão e aloprados, criticar a administração lulista e seu partido só pode ser coisa da direita, pois o governo, sendo o deles, necessariamente está certo.
Que o PT diga isso, faz parte do jogo, desde que não tentem, a esse pretexto, melar o jogo. Agora, que o MEC coloque essa visão esquerdista como a verdade, numa prova para milhões de alunos, é lavagem cerebral.
*Carlos Alberto Sardenberg é jornalista. Site: http://www.sardenberg.com.br/

Ainda o aumento do PIB (Producao Interna de Bondadess, com o dinheiro alheio...)

Há um outro aspecto a ser mencionado nesse PIB esquizofrênico do governo, além da já mencionada infração à Lei de Responsabilidade Fiscal, que o governo central se julga liberado para descumprir alegremente. Se trata simplesmente do seguinte: cada vez que o governo resolve fazer uma bondade -- e aí entra também o corte de impostos na eletricidade, o do IPI sobre carros, no passado, e vários outros do mesmo tipo -- é sempre com o dinheiro alheio, nunca com o seu próprio. Ou seja, em lugar de abater contribuições, que costumam ser compulsórias e altas, o governo abate impostos que normalmete entram no prato fiscal do qual se alimentam também estados e municípios, que assim se veem privados de uma parte de suas receitas esperadas.
A demagogia e a publicidade são fortes, neste governo e no passado, e assim vão enganando os incautos e os que querem se deixar enganar, como os companheiros que engolem qualquer coisa...
Paulo Roberto de Almeida

A jogada da cesta básica

12 de março de 2013 | 2h 12
Editorial O Estado de S.Paulo

Só não se diga que ela não avisou ou foi incoerente. Na última sexta-feira, apenas quatro dias depois de dizer - em um daqueles comícios disfarçados de solenidades tão a gosto de seu mentor Lula - que em tempos de campanha "podemos fazer o diabo", a presidente Dilma Rousseff se permitiu uma dupla diabrura eleitoral. Numa bem produzida fala de 11 minutos em cadeia nacional em que apareceu sobriamente trajada de cinza, no lugar do costumeiro vermelho-PT, anunciou a isenção dos impostos federais que incidem sobre os produtos da cesta básica. Plagiou, assim, com a maior naturalidade, uma proposta do PSDB, apoiada pelo DEM e o PPS, que vetara em setembro do ano passado. A oposição, por sua vez, havia aproveitado uma idêntica iniciativa petista - aparentemente desestimulada pelo Planalto -, reproduzindo-a sob a forma de uma emenda acoplada a uma medida provisória em tramitação no Congresso.
Recorde-se, em primeiro lugar, que a presidente, ao liberar o vale-tudo na conquista das urnas, retoricamente fingira preservar disso as ações de governo. Segundo a sua argumentação um tanto tortuosa, titulares de cargos eletivos, ainda quando adversários, deveriam se respeitar, "pois fomos eleitos pelo voto direto". Como se aquelas ações, sobretudo numa campanha sucessória desencadeada com extravagante antecipação por um sôfrego Lula em favor de sua pupila, já não nascessem contaminadas pela gana da reeleição ou, simplesmente, não tivessem sido concebidas em razão disso. "Nunca vi quem está no governo precipitar uma eleição", comenta o ex-presidente Fernando Henrique, "já que atrapalha a governabilidade." Atrapalharia, é o caso de atalhar, se a governabilidade importasse mais, para a dupla Lula-Dilma, do que o crasso cálculo eleitoral. Para eles tanto faz que "tudo que a presidente fizer daqui por diante será atribuído a intenções eleitorais", na observação de Fernando Henrique.
A maioria do eleitorado, decerto acreditam, não está "nem aí" para o achincalhe da governança - desde que isso a faça sentir-se beneficiada. Tampouco sabe, para ficar no exemplo da hora, que poderia estar usufruindo da bondade da cesta básica há seis meses, não fosse o veto eleitoreiro da presidente petista à emenda da oposição nesse sentido. Depois, para salvar a face, ela criou um grupo de trabalho incumbido de apresentar uma alternativa até 31 de dezembro. Por desorientação, incompetência, ou porque o grupo de trabalho não era para valer, o prazo foi descumprido. Mas, diante da escalada da inflação nos dois primeiros meses do ano e, de quebra, para tirar do centro do noticiário político a construção da candidatura presidencial do governador de Pernambuco, Eduardo Campos, do PSB da base parlamentar do Planalto, Dilma antecipou o anúncio do corte de impostos, previsto inicialmente para o 1.º de Maio, Dia do Trabalho.
A desoneração privará o erário este ano de R$ 5,5 bilhões em receitas. Em 2014 poderá alcançar R$ 7,3 bilhões. Para as contas públicas trata-se de um mais um baque. À falta até mesmo de um indício de intenção do Executivo de cortar os seus enxundiosos gastos, o governo não tem de onde repor os recursos de que acabou de abrir mão - e que se somam a tantos outros fúteis soluços de renúncia fiscal para aquecer o consumo e degelar a atividade industrial. Ainda assim o PIB de 2012 não cresceu nem 1%. Além do mais, a jogada eleitoral constitui uma transgressão da Lei de Responsabilidade Fiscal, que proíbe a autoridade de promover isenções tributárias sem a prévia definição da fonte de onde virá o dinheiro para cobrir o rombo da receita dispensada.
Na manifestação da sexta-feira, Dilma procurou apresentar a desoneração da cesta básica como uma decisão de impacto sobre a alta do custo de vida, cobrindo-se de créditos por isso. "Não descuido um só momento do controle da inflação", assegurou. Palavras. O retrospecto de 2012 comprova que o governo deixou a inflação avançar antes de sair atabalhoadamente em seu encalço. Se cuidasse dos preços como cuida da reeleição, não teria perdido um semestre inteiro para isentar a cesta básica - só para não dar o braço a torcer à oposição.

Brasil: grande aumento no PIB (Producao Interna de Bobagens...) - Celso Ming

Além desse PIB inesperado, não estamos livres de novos PIBobagens pelos próximos meses. É que a esquizofrenia econômica continua...
Paulo Roberto de Almeida

O efeito bondade

12 de março de 2013 | 2h 10
Celso Ming - O Estado de S.Paulo
 
As primeiras avaliações sobre o impacto da desoneração de impostos federais da cesta básica sobre a inflação estão prejudicadas. Não há segurança de que essa redução dos custos tributários será mesmo repassada para os preços. Na edição de domingo, esta coluna apresentou uma análise inicial. Há novas observações a fazer.

Até mesmo o atendimento do objetivo principal dessa nova bondade da presidente Dilma Rousseff pode ser contestado. O projeto da desoneração da cesta básica deveria entrar em vigor apenas a 1.º de maio, no contexto das festividades do Dia do Trabalho. Pretendia manter ou até melhorar o apoio popular à atual administração, portanto, mantinha no foco o calendário eleitoral de 2014.

O que precipitou a desoneração anunciada na sexta-feira para ter vigência imediata foi a disparada da inflação. Os números de fevereiro vieram altos demais e bastante disseminados. As projeções apontam para inflação anual da ordem de 6,6%, acima do teto da meta anual (de 6,5%), já incluída aí a margem de tolerância de 2 pontos porcentuais.

A presidente imaginou que a antecipação da desoneração poderia ajudar a conter a inflação, à medida que derrubaria em 0,6% ponto porcentual a inflação anual - conforme cálculos preliminares da área econômica.

Aparentemente a previsão de que houvesse essa queda de preços se baseou no precedente da redução e isenção de impostos federais a veículos e aparelhos domésticos, quando uma certa queda de preços de fato aconteceu. E, ontem, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, convocou os dirigentes de supermercados para assegurar que repassariam a isenção de impostos para os preços ao consumidor. O diabo é que o principal imposto pago pelos supermercados é o ICMS, cobrado pelos Estados.

Sobram dúvidas de que esse repasse acontecerá. Desta vez, o problema não é de falta de demanda nem de excesso de estoques. Ao contrário, a demanda está exacerbada - como o próprio Banco Central vem apontando.

A decisão não contribui para controlar a demanda. É, sim, mais um estímulo ao consumo. Desse ponto de vista, pode ser analisada como uma recaída da política econômica, que parecia entender que o fim das distorções da economia passou a depender mais do empurrão aos investimentos do que ao consumo.

Explicando melhor: caso consiga conter a escalada de preços, a renúncia fiscal (redução da arrecadação) injetará R$ 7,5 bilhões na veia do consumo. Assim, contribuirá para puxar ainda mais a demanda. Se não conseguir eficácia e o repasse não acontecer ou vier apenas em parte, contribuirá somente para reforço do caixa das empresas. Em outras palavras, a isenção de impostos à cesta básica pode se tornar irrelevante enquanto providência destinada a controlar a inflação. E, nessas condições, tende a não ser sentida pela população. Assim também poderá ter efeito limitado inclusive como medida eleitoral.

Sobra sem solução a questão de fundo, que é conter a demanda forte demais. Aparentemente, o quadro pouco mudou do ponto de vista do Banco Central, que terá de combater a inflação com o instrumento disponível: a política monetária. Se a isenção de impostos ajudar a segurar os preços, o aumento dos juros pode ser menor. Talvez seja esse o efeito esperado.

Brasil: um pais que nao perde oportunidade de...

...perder oportunidades, segundo a frase genial de Roberto Campos.
Pois é, é isso aí, como na incapacidade de exportar o que produz...
Paulo Roberto de Almeida
 
Problemas com clima e logística atrapalham venda de soja brasileira para a China

Informa Economics FNP

Canal Rural,  06/03/2013

Segundo analistas, país asiático optou por comprar cerca de 60 toneladas de soja dos Estados Unidos

A demora maior para embarque no Brasil está transferindo parte das compras de soja feitas pela China para os Estados Unidos. De acordo com analistas, o país comprou cerca de 60 toneladas de soja americana, o equivalente a dois navios. O fato é atribuído a problemas como clima e logística.

A produção de soja do Centro-Oeste brasileiro deveria ser a primeira a entrar no mercado, mas as chuvas atrasaram a colheita, e a oferta ficou concentrada na segunda quinzena de fevereiro. Normalmente, a produção desta região chega ao mercado um mês antes. Para piorar a situação, as mudanças nas leis dos motoristas fizeram com que o preço do frete disparasse para os principais portos do país.

- Tem gente lá no Mato Grosso cobrando R$ 350, do Norte de Sorriso para Santos. R$ 350 por tonelada é bastante, dá R$ 20 por saca. As empresas e os próprios caminhoneiros veem que tem oportunidade de ganhar mais, aí aproveitam e sobem o preço mesmo. E quem paga mais tem mais disponibilidade de caminhão, consegue fazer os embarques dos seus navios e fazer as entregas conforme os contratos combinados - diz o analista de mercado Artur Malvasi.

Além dos problemas provocados pelo atraso da colheita, as manifestações dos trabalhadores portuários nos últimos dias atrasaram o carregamento de navios chineses.

- O que acontece é que eles precisam da soja agora, o governo chinês não libera a soja, o Brasil está com a logística precária e eles, com medo do atraso nas entregas, buscam soja da safra velha norte-americana para ter produto agora. Essa demanda é boa para o mundo inteiro, porque ela sustenta preço - fala Malvasi.

Para a Associação Nacional dos Exportadores de Cereais (Anec), a compra da soja americana pelos chineses não é motivo de preocupação. Segundo a Anec, o caso é pontual, e o Brasil vai continuar abastecendo o mercado asiático.

- Isso é meramente ocasional, porque o normal agora é comprar do Brasil, já que a nossa safra começa agora. Como há um line up muito grande de navios - são mais de 90 navios esperando em Santos e muito mais de 50 em Paranaguá -, é normal que tenha acontecido isso, uma decisão deles Era apenas dois navios de 50 mil toneladas, em vez de entrar nessa linha e ficar esperando. Não há razão neste momento para preocupação, mesmo porque não há rescisões de contrato ou coisa parecida - comenta Sérgio Mendes, diretor da Anec.

A indústria está confiante. A Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove) acredita que uma possível safra recorde é positiva, porém vai trazer desafios no setor logístico.

- Esse ano vai ser o ano do recorde de safra, essa é a melhor notícia que nos temos, que esta indo super bem. Recorde dos recordes, na soja, no milho. Realmente, a perspectiva é muito boa, com preços excelentes. Em contrapartida, vai ser o ano da logística, vamos ter que ser o mais eficiente possível. Estamos aí transportando 45 milhões de toneladas a mais de grão do que há cinco anos, mas as rodovias são as mesmas. A ferrovia melhorou, mas temos os mesmos portos e os mesmos armazéns - fala Fábio Trigueiro, secretário-geral da Abiove.

O analista de mercado da Informa Economics FNP, Aedson Pereira, diz que a partir de agora, a demanda mundial por grãos volta para a América Latina, mas que o governo brasileiro precisa olhar com mais atenção para a infraestrutura logística do país.

- Nós temos um cenário com produção recorde, então o mundo como um todo, principalmente a China, depende, e muito, dos resultados de oferta que o Brasil tende a apresentar. Issso aí gera até uma oportunidade para o produtor brasileiro vender, fazer novas operações, porque melhora na liquidez de negócios. O Brasil precisa urgentemente de uma nova política voltada para melhorar a infraestrutura em armazenagem, transporte, diminuir a nossa dependência de frete rodoviário, o ferroviário, nos portos, tudo isso visando aumentar a velocidade para atender essa demanda externa que cresce cada vez mais - diz Pereira.
Fonte: Canal Rural

Crescente irrelevancia do Mercosul - Editorial Estadao

Nao foi por falta de aviso, inclusive por parte deste escriba, aliás desde antes de 2003.
De fato, desde 1995, ou seja, desde que foi "consolidado" enquanto União Aduaneira, que o Mercosul só recua, tanto na integração interna, quanto na externa, onde se tornou cada vez mais introvertido e protecionista.
A partir de 2003, a esses fatores de "protecionismo natural", digamos assim, se somaram os fatores ideológicos, de dois governos dotados de economias esquizofrênicas que pretendiam (e conseguiram) fazer rodar para trás a roda da História. Pior: o Brasil conseguiu ajudar a Argentina a desmantelar o Mercosul, com sua política caolha, míope, cega, enviesada, nebulosa (tem mais adjetivos e sinônimos disso tudo?) de apoio a tudo o que os hermanos decidiam, uma política decidida pessoalmente pelo ex-SG do MRE, depois Alto (ou auto?) Representante do Mercosul e ainda hoje influente no setor.
Deu no que tinha de dar: desastre comercial, recuo econômico, mediocridade comercial.
Paulo Roberto de Almeida 

O mundo gira sem o Mercosul

12 de março de 2013 | 2h 13
Editori O Estado de S.Paulo
 
O governo argentino pretende arrancar mais vantagens do Brasil, em mais uma revisão do acordo automotivo assinado em 2000 para acabar em 2005, mas a partir daí prorrogado várias vezes. Em toda prorrogação foram fixados novos benefícios para o lado argentino, por meio de fórmulas calculadas para dispensar aquele sócio de se tornar competitivo. A nova esperteza argentina é mais uma comprovação do erro cometido pelo governo petista, há dez anos, quando optou por um regionalismo ingênuo inspirado em bandeiras terceiro-mundistas.
Na última negociação, o acordo foi estendido até 2013. A partir daí valeriam normas de livre comércio, mas a presidente Cristina Kirchner decidiu mudar o jogo mais uma vez. Comércio aberto está fora da agenda da Casa Rosada. O assunto estava na pauta do encontro bilateral marcado para a semana passada e suspenso por causa da morte do presidente Hugo Chávez.
Desta vez, o governo argentino quer, além da extensão do pacto bilateral, a fabricação, em seu país, de parte dos produtos incluídos no programa brasileiro Inovar-Auto. Em outras palavras, a indústria instalada na Argentina deve ganhar, se Brasília estiver de acordo, uma carona em um programa custeado pelo contribuinte brasileiro. Será uma surpresa se, no fim da história, a presidente Dilma Rousseff recusar mais esse mimo à companheira Cristina Kirchner.
Há vários anos o governo brasileiro vem moldando boa parte de suas decisões estratégicas de acordo com os interesses definidos em Buenos Aires. Foi assim no episódio da suspensão do Paraguai e da admissão da Venezuela como quinto membro do Mercosul. Nas negociações com a União Europeia sempre prevaleceram as restrições argentinas, mesmo quando o Itamaraty se mostrou disposto ao entendimento com os europeus.
Na adiada reunião bilateral com a companheira Cristina Kirchner, a presidente Dilma Rousseff havia se preparado para anunciar novas concessões, como a participação do BNDES no financiamento de obras de infraestrutura e a abertura de uma cota para importação de camarões argentinos. A pauta deveria incluir também assuntos menos agradáveis, como as dificuldades da Vale para executar um projeto de exploração de potássio. Sem um acordo para compensar a alta de custos causada pela inflação e outros problemas de relacionamento com o setor público, a companhia poderá suspender o investimento.
Crescentemente atolado no difícil relacionamento com a Argentina, o governo brasileiro tem espaço cada vez menor para se ajustar às novas condições do mercado internacional. Formalmente, o Mercosul é uma união aduaneira, embora nem chegue a funcionar de modo satisfatório como área de livre comércio. Como sócios de uma união aduaneira, os países-membros devem respeitar a regra da tarifa externa comum. Por isso, podem negociar acordos comerciais apenas em bloco. Toda concessão tarifária a qualquer parceiro de fora depende da aprovação dos demais.
Até agora, o Mercosul negociou poucos acordos de livre comércio, sempre com parceiros em desenvolvimento e, em alguns casos, sem relevância econômica para o Brasil. Enquanto isso, acordos bilaterais e inter-regionais multiplicam-se em todo o mundo, sem a participação do Brasil. Ou seja, o Brasil está cada vez mais fora do jogo relevante para o comércio internacional. Os EUA empenham-se em concluir um acordo com parceiros do Pacífico. O entendimento inclui vários países em desenvolvimento da Ásia e da América Latina e em breve poderá incluir também Japão e Coreia do Sul. Ao mesmo tempo, autoridades americanas e europeias dão os primeiros passos para um acordo de comércio e investimentos entre os dois lados do Atlântico Norte. Para Jeffrey Schott, do Peterson Institute for International Economics, o Brasil errou tanto na Rodada Doha, ao se aliar à Índia e à China, como na agenda bilateral, amarrada ao Mercosul. Os fatos, até agora, confirmam esse diagnóstico.

Dualismo cambial na Argentina e na Venezuela

E sua insustentabilidade. Uma analise de economista do Citi group.

Argentina and Venezuela– The Unstable Economics of Dual Exchange Rates
Joaquin A Cottani
Citi group Research
Emerging Markets Economics Today
12 March 2013


This piece is a summary of our Argentina & Venezuela Macro View - The (Unstable) Economics of Dual Exchange Rate Regimes

Argentina and Venezuela have de-facto dual exchange rate systems featuring an official peg and a black market float. The fact that the float is "black" rather than "white" or "grey" is a mere technicality. Effectively, the black market rate reflects the scarcity value of the dollar and the premium between this rate and the official one is an implicit tax on exports and a subsidy on permitted transactions, including authorized imports.

A dual exchange rate system is the consequence of quantitative exchange controls. These controls affect "non-essential" imports, including tourism abroad, and several categories of capital outflows, including offshore investments, profit remittances, and the simple hoarding of FX by local residents seeking to hedge against inflation or devaluation. Like any flexible exchange rate, the black market one is driven by market forces.

The Venezuelan dual exchange rate system predates the Argentinean one by more than a decade, a fact that bears testimony to the longevity that this kind of arrangements can have, despite the distortions they create, if the right conditions are met. We argue that Venezuela's larger current account surplus as proportion of GDP, tighter control of exports and imports by the government, and the introduction of SITME between 2010 and 2012 explain the longevity of its multiple exchange rate system despite the significant and growing premium observed though the years between the parallel/black market and the official one. We warn that, in Argentina, this is unlikely to be the case, hence a multiple exchange rate system, even if legal, is unsustainable.

In Argentina, the dual exchange rate system is a more recent phenomenon. It exists since October 31, 2011 when, to cope with an impending currency crisis, the government imposed tight controls on the buying and selling of foreign exchange by the public. A difference between the Argentine and Venezuelan dual systems is that, in Venezuela, the official rate is an adjustable peg whereas, in Argentina, it is a sliding or crawling peg. At present, the official USD rate is 5.05 ARS in Argentina and 6.3 VEF in Venezuela while the black market rate is around 8.0 and 25.0, respectively. It is worth noting that, in February, the rate of depreciation of the ARS in the official market reached 16% YoY against a "true" inflation rate (as measured by private consultants and opposition members of Congress) of around 25%.

Expectations of devaluation are part of the explanation of a high black market premium. The other part is massive injections of liquidity to finance fiscal deficits and monetize balance of payments surpluses. In this sense, reducing the black market premium while maintaining exchange controls will require a combination of both official devaluation and monetary and fiscal contraction in both countries.

Looking at what is happening with the foreign reserves in Argentina and Venezuela, it is easy to infer that their dual systems are unsustainable without a maxi-devaluation. Unless monetary contraction happens some time soon, which is unlikely due to the fiscal dependency of monetary policy in both cases, another maxi-devaluation in Venezuela and one in Argentina (the first since 2002) are almost sure bets.

Los Amigos de la Plata del Amigo que se Fue; oh, que tristeza, perder un amigo tan bueno (y tan rico...)

What’s left of the Latin left
By John Paul Rathbone
Financial Times, March 8, 2013 7:57 pm

As Chávez’s death focuses attention on the economic failings of radicals, pragmatists are proving more successful

Three weeks before Venezuelan President Hugo Chávez died on Tuesday, Yoani Sánchez, Cuba’s best-known pro-democracy blogger, landed in Brazil on a scheduled flight. Ms Sánchez had waited five years for permission to travel abroad and Brazil was an obvious first place to visit.

Latin America’s biggest economy shares a common heritage with Cuba, with their histories of slavery and sugar. Brazil is also governed by the leftwing Workers party, elected three times in a vibrant democracy – so unlike the Castro dictatorship at home.

Yet soon after the gangly 37-year- old writer arrived, she had an unwelcome reminder of the world she had left momentarily behind. At a São Paulo bookshop, about 200 young socialist activists burst into the room proclaiming her a CIA spy. One protester chanted: “Mercenary”. It was the same kind of invective that Chávez, Cuba’s closest ally, had levelled against Caracas’s middle class, which he condemned as los escuálidos or the “squalid ones”.

Ms Sánchez brushed it off. Yet many Brazilians were mortified. Ms Sánchez tweeted: “You know the phrase I’ve most heard in São Paulo? Yoani, please excuse these extremists. They don’t represent us.”

In some ways, though, they do. Ms Sánchez’s experience exposes a feature of Latin American politics that has been highlighted again this week by Chávez’s death. Both events show there are two strands of leftism in Latin America, the Brazilian kind and the Cuban/Venezuelan kind.

Both have very different origins – and prospects. Jorge Castañeda, a Mexican intellectual, identified their characteristics in a 2006 essay in Foreign Affairs. The first strand, a pragmatic left, today includes the governments in Brazil, Peru and Uruguay. They are “modern, open-minded, reformist and internationalist”.

The second strand, which includes Cuba, Venezuela, Ecuador, Bolivia and perhaps Argentina, “is born of the great tradition of Latin American populism, is nationalistic, strident and closed-minded”. While democratically elected, their autocratic style and length of tenure can also make their successions traumatic.

Chávez wanted to reign until 2030. Evo Morales, president of Bolivia since 2006, is running for a third term. Rafael Correa, into his second term, is Ecuador’s longest-serving president in more than 30 years.

Cristina Fernández, Argentine president, is in her second term, after one by her husband, and eyeing a third. The Castro brothers have ruled since 1959.

Chávez’s death raises questions about the future of this populist strand. That it is partly because his petrodollar diplomacy financed most of them, and partly because his tweak-the-nose attitude to enemies poisoned the region’s tone frequently during the past 14 years.

“Chávez was very amiguero, very approachable. He wasn’t white, which is important. And he set a new tone in the rhetorical scale. He said what the suits never dared to say,” says James Dunkerley at Queen Mary, University of London. “Whether that tone was useful or not is ambiguous.”

It was the “pink tide” which rose in Latin America after the Asian and Russian crises of 1997 that drew the world’s attention back to the continent. The region’s democratic transition in the 1980s first favoured centrist governments and the liberal economic policies of the “Washington consensus”.

But when Russia and the Asian economies crumpled, Latin America suffered a recession so deep it was called the lost half-decade. The region, since 1990 one of the world’s fastest-growing, began to look like a disaster. Poverty rose. The political pendulum swung to the left.

Chávez’s election in 1998, supported by the middle class, marked the first change. Ricardo Lagos followed in 2000 – as the first socialist president in Chile’s ruling coalition. Then came Brazil’s Luiz Inácio Lula da Silva in 2002. Bolivia, Paraguay and El Salvador followed. By 2009, 17 of Latin America’s 20 republics had left or centre-left governments, according to Victor Bulmer-Thomas, an economic historian.

Economically, the timing was brilliant. From 2003, the region began to ride a boom in commodity prices, which strengthened government finances and allowed large increases in social spending. But there were two distinct streams within the pink tide.

The pragmatic strand was composed of technocratic social democrats who prioritised social needs while maintaining economic stability. Its ideological origins lay in the Communist International, and followed a similar path to leftists elsewhere. After the fall of the Berlin Wall in 1989, it acknowledged its failures and reconstructed itself.

President Dilma Rousseff of Brazil, for example, grew up in guerrilla movements and studied Marxist texts. But she has also privatised airports to speed preparation of the infrastructure desperately needed for the 2014 World Cup and 2016 Olympic Games.

The second strand was rooted in Latin populism, placed Cuba’s Fidel Castro and Che Guevara in a pantheon of demigods, and were often poor or spendthrift, or both. “Venezuela just took the money and blew it,” says Eric Farnsworth, vice-president of the Council of the Americas and Americas Society.

Such spending was central to Chávez’s clientelist model. Closely advised by Havana and bolstered by high oil prices, he set his sights on a pan-American “Bolivarian revolution”.

He bought Argentine debt, gave aid to Bolivia and Nicaragua, and $6bn a year of cheap oil to Cuba in return for doctors, teachers and intelligence officials. At home, he funded social projects by draining PDVSA, the state oil company and nationalising private companies, sometimes on his television show, Aló Presidente, exclaiming: “Nationalise it!”

He was not alone. Ecuador defaulted on international bonds and gave refuge to Julian Assange, the WikiLeaks founder. Argentina nationalised YPF, the Spanish-controlled oil company. Evo Morales nationalised swaths of Bolivia’s energy sector including the local operations of Petrobras, the Brazilian oil company . The productivity of these nationalised businesses has since deteriorated.

. . .

This created a furore that echoed around the region. The noise it generated, though, was misleading because the economies of these maverick countries amount to just 17 per cent of Latin America’s US$6tn gross domestic product. It also obscured advances made by centrist democrats.

“People outside the region overestimate Chávez’s influence,” says Malcolm Deas, an Oxford-based historian of the Andes. “Mexico is not chavista, nor is Central America – Nicaragua apart. Nor are Chile, Peru or Colombia ever going to follow his example.”

Indeed Peru is a telling example of this. In 2006, Ollanta Humala, a former army officer, ran for president espousing Chávez’s approach – and lost. In 2011, he ran again while embracing the pragmatic Brazilian model – and won. The pendulum has swung again.

Today, about half of the region’s 20 republics are centrist or centre-right. Not that this has diminished the importance of social progress everywhere. Caracas rightly boasts that it has halved poverty levels in Venezuela. Yet this performance has been repeated elsewhere, in Chile and Peru for example, without ransacking the economy as Chávez did.

The Chavista model is a busted flush but no leader in the region will publicly admit it. Nonetheless, tributes have flowed in all week. Dignitaries and world leaders, from Iran’s President Mahmoud Ahmadi-Nejad to the Prince of Asturias, have flown to Caracas to pay their respects. In Havana, the Castro government declared three days of mourning.

Much of the radical left’s grief is real, but so too is the self-interest. Because Chávez’s demise confronts it with a bind. The populist left is dominated by outsize personalities. With its most extravagant character gone, others are jostling for supremacy. That is as true inside Venezuela, where chavismo is riddled with factions, as outside.

“The space and rhetoric won’t change,” says Franklin Ramírez, a sociologist at the Latin American Faculty of Social Sciences in Quito. But the “map has been changing”. The main contenders for influence are two economic blocs: Brazil and its partners in the southern Mercosur trade pact, and its regional counterweight, the free-trading Pacific economies of Mexico, Colombia, Peru and Chile.

The second and bigger problem is that the radical economic model is unsustainable. Even with the largest oil reserves in the world, Venezuela has turned to China for $40bn of loans to keep itself going.

Economic decay may not matter to true populists. After all, “as well as handouts, their beneficiaries gained hope, a feeling of being listened to”, says Mr Farnsworth. “You can’t put a dollar figure on that. It is a revolution of the mind.”

It is an open question how long that revolution of the mind will continue if Caracas or other radical governments in the region cannot deliver their promises. That will better showcase the success of the region’s pragmatic centrists. But it will also leave the populist left struggling to stand for anything other than empty pledges and stale rhetoric.

Additional reporting by Andres Schipani in Bogotá

Stanley Fischer, o melhor banqueiro central do mundo, fala sobre economia brasileira

Interessante entrevista recente de Stanley Fischer no Brasil, onde veio para o 70. aniversário de Pedro Malan. Tudo o que ele disse sobre o Brasil, de maneira muito elegante, seria o que o governo deveria estar fazendo, e não está, ou está fazendo o contrário, exatamente.
Vale conferir:

Stanley Fischer explica o sucesso do Banco Central de Israel

http://globotv.globo.com/globo-news/conta-corrente/t/todos-os-videos/v/stanley-fischer-explica-o-sucesso-do-banco-central-de-israel/2451167/

No mês passado, o Washington Post fez uma imensa reportagem sobre ele, que já tinha postado aqui:

http://www.washingtonpost.com/blogs/wonkblog/wp/2013/02/15/stan-fischer-saved-israels-economy-can-he-save-americas/

Meus agradecimentos ao André Rozenbaum pelos dois envios.
Paulo Roberto de Almeida

Chavismo platino, patagonico, porteno, argentino... - Ediitorial OESP

Era esperado:  agora todo mundo que tem DNA autoritário vai querer imitar o caudilho do Caribe. Nada como subordinar todos os poderes a si proprio. Isso ainda vai dar ideias aos companheiros.
Depois de "democratizar a mídia" -- não vão conseguir, mas não deixarão de tentar -- vão querer também "democratizar a Justiça", o que aliás já tentaram, e tentam sempre, colocando seus servos, seus bonequinhos amestrados no STF, mas nunca dá certo inteiramente. Em todo caso, não somos imunes a esse virus totalitário...
Paulo Roberto de Almeida

A Justiça de Cristina

11 de março de 2013 | 2h 09
Editorial O Estado de S.Paulo
 
No hiperpresidencialismo de Cristina Kirchner, Justiça democrática é a que lhe diz amém. Assim é que, não obstante o governo argentino já dispor de influência decisiva no Conselho da Magistratura, órgão que supervisiona o Judiciário do país e tem a prerrogativa de destituir juízes, a presidente agora quer garantir que seus magistrados de estimação não sejam importunados. Para isso, começou a defender o que chamou de "democratização da Justiça", um eufemismo nada sutil para designar o desmonte de um importante órgão de fiscalização, deixando impunes os abusos cometidos por juízes comprometidos com o governo.
Seguindo o figurino de democracia plebiscitária tão ao gosto do chavismo, no qual o voto popular é transformado em chancela das decisões arbitrárias do governo, Cristina abriu o ano legislativo num discurso de três horas e meia defendendo que os integrantes do Conselho da Magistratura passassem a ser escolhidos diretamente pelos eleitores. Atualmente, o organismo é composto por três juízes, dois advogados, um acadêmico, seis parlamentares apontados pelo Congresso e um representante do governo. Os magistrados, o acadêmico e os advogados são escolhidos em votação interna. "Nem juízes nem advogados têm coroa para serem eleitos entre si!", escreveu Cristina no Twitter, com sua conhecida verve autoritária. O menosprezo pelas instituições republicanas é assumido sem-cerimônia, como se as urnas bastassem para regular as relações entre os Poderes e destes com a sociedade. No caso da proposta de "democratizar a Justiça", há ainda a agravante de que o atual sistema de escolha dos integrantes do Conselho da Magistratura está inscrito na Constituição, mas a oposição acredita que a presidente encontrará um jeito de distorcer a letra da lei para atender às suas necessidades - e embutir uma reforma que lhe permita, ademais, concorrer a um novo mandato.
A confusão entre soberania popular e funcionamento do Estado não é involuntária. Ao contrário: Cristina não se esforça para fazer segredo de que quer subordinar o Judiciário ao Executivo, sob o argumento de que só quem foi eleito - isto é, ela mesma - tem legitimidade. Não é por outra razão que a presidente argentina agora fala em constituir uma "Justiça legítima", pois a que está aí não lhe serve.
Não são poucos os exemplos de intervenção do kirchnerismo no Judiciário. Um caso representativo ocorreu em 2009, quando o juiz Norberto Oyarbide, em decisão sumária, inocentou os Kirchners da acusação de enriquecimento ilícito, apesar do escandaloso crescimento do patrimônio do casal. Processado no Conselho da Magistratura sob acusação de favorecer o casal presidencial, Oyarbide acabou absolvido graças à mobilização da maioria governista no órgão. Outro magistrado que atuou abertamente em favor dos Kirchners e envolveu-se em seguidos escândalos de corrupção, Federico Faggionato Márquez, só foi destituído em 2010 pelo Conselho da Magistratura porque o bloco kirchnerista estava ausente.
A hegemonia de Cristina no conselho, no entanto, não lhe parece suficiente. Tampouco lhe parece suficiente que ela e o falecido marido, Néstor, tenham nomeado a maioria dos atuais juízes da Suprema Corte e influenciado a nomeação da maioria dos magistrados do país nos últimos dez anos. Ela se queixa de que o Judiciário tem sido permeável às "grandes corporações" que, segundo diz, estão interessadas em desestabilizar seu governo. Ademais, e esta é uma questão central aqui, os governistas consideram que a Suprema Corte não é independente porque impõe obstáculos à plena execução do projeto que visa a limitar a propriedade de meios de comunicação, numa referência à disputa do governo contra o Grupo Clarín.
Em nome de sua guerra contra a imprensa que não lhe é subserviente e sempre tendo em perspectiva sua ânsia de permanecer no poder por mais tempo do que a Constituição permite, Cristina tudo fará para intimidar o Judiciário. É assim que o kirchnerismo vê a Justiça na Argentina: ela só será considerada "independente" caso se ajoelhe diante de Cristina.

Um presidenciavel que gosta de imigrantes - Jeb Bush goes to bookshops

Jeb Bush, ex-governador da Flórida, era, sempre foi, continua sendo muito melhor do que o idiota do irmão que foi presidente deste grande país, desta democracia bizarra. Até a mãe dos próprios, confessou candidamente, um dia, que tinha ficado surpreendida com a eleição do outro, o idiota: "Mas logo ele", disse ela, "ele não era exatamente quem eu esperava que fosse chegar lá...", deixando entender que esperava que Jeb, ele sim, merecia o posto que foi para o idiota do irmão.
Pois é, a democracia americana é mesmo bizarra...
Pois bem, o Jeb constitui aquilo que aqui se chama "presidential stuff", material presidenciável, e isso com razão: rapaz (maneira de dizer) cordato, sensato, inteligente, aberto aos imigrantes e dotado de ideias claras...
Não se sabe se por isso será eleito: ser a favor de imigrantes, neste país, pode tirar votos da direita raivosa, dos WASPs fundamentalistas, mas ele tem coragem e acaba de publicar um livro.
Está aí a resenha que acaba de aparecer no Wall Street Journal, o jornal mais desavergonhadamente capitalista que possa existir na face da terra (e embaixo dela e dos mares, também).
Vou ler o livro em livrarias, ainda que ele não seja tão caro; mas não tenho mais onde enfiar livros e não é exatamente a minha especialização acadêmica; se trata de um livro de ocasião, pois tampouco aprofunda o assunto.
Vale conferir.
Paulo Roberto de Almeida 

Give Me Your Skilled Workers

A call for real immigration reform, starting with a guest-worker program pegged to market demand and fewer family-reunification visas.

It would be no exaggeration to say that the Republican Party has been in a state of panic since the defeat of Mitt Romney, not least because the election highlighted America's demographic shifts and, relatedly, the party's failure to appeal to Hispanics, Asians, single women and young voters. Hence the Republican leadership's new willingness to pursue immigration reform, even if it angers the conservative base.
Before Republicans jump at whatever reform Democrats may offer up, they should read Jeb Bush and Clint Bolick's "Immigration Wars," about as sensible a look at immigration policy as one will find these days. Mr. Bush, the former Florida governor, and Mr. Bolick, a conservative legal activist, understand what so many Republicans don't: that the "comprehensive" immigration plans being bandied about today are anything but comprehensive.
The authors liken immigration policy to a hydroelectric dam that is "decrepit and crudely cemented over" (not exactly an elegant analogy); instead of patching it, they say, we need to replace it. Simply put: America's immigration laws need an overhaul, not piecemeal reform. The authors argue that adding a few more visas for high-skilled workers and passing the Dream Act—a proposed bill that aims to give eventual citizenship to illegal immigrants who arrived in the U.S. before the age of 16—will only temporarily mend a broken system.
Current immigration policy was created in 1965 to rectify the flaws of an older, discriminatory quota arrangement. The 1965 law was poorly constructed and had many unintended consequences. Under the law, more than two-thirds of legal immigrants to the U.S. receive the right to legal permanent residence because they are related to immigrants already in the country. "The eight-hundred-pound gorilla in immigration policy," Messrs. Bush and Bolick write, is "family reunification." Only about 20% of yearly visas are reserved for skilled workers. The rest go to refugees, asylum seekers and winners of the so-called diversity lottery, which rewards visas to people from countries that don't send many immigrants to America. If you don't qualify under one of these categories, it is difficult to immigrate legally to America.

Immigration Wars

By Jeb Bush and Clint Bolick
(Threshold, 274 pages, $27)
Instead, Messrs. Bush and Bolick call for a serious tightening of family reunification, limiting it to spouses and the minor children of U.S. citizens. (The current law allows visas for adult children of immigrants as well as siblings, a policy that, over time, widens out the kinship field considerably.) Second, they call for dramatic increases in visas for high-skilled workers and entrepreneurs. Third, they argue for a guest-worker program for lower-skilled workers pegged to market demand: Such a program would allow for a steady but regulated stream of seasonal workers. Fourth, they want to replace the diversity lottery with a "system for regular immigration," which would allow easier entry for those who don't qualify for family reunification or work visas.
As for illegal immigration, Messrs. Bush and Bolick call for a pathway to legalization but not to citizenship. To reward those who entered the country illegally with citizenship would be a blow to the rule of law, they say, but bestowing permanent resident status will at least bring people out from the shadows. As it happens, about half of illegal immigrants don't covertly cross the Mexican border but overstay their visas and remain in the country illegally. The authors would like to see stepped-up enforcement—including a biometric verification system for visa holders—but argue that the best way to crack down on illegal immigration is to increase work visas and lessen the temptation to enter illegally.
As good as "Immigration Wars" is, it isn't without problems. Messrs. Bush and Bolick call for increases in work-based immigration and for easing the flow of regular immigrants, yet they are hazy about caps or yearly quotas. Even a pro-immigration policy needs to have limits. Millions of people apply unsuccessfully each year for visas, yet the authors provide few clues about which criteria they would use to grant visas to some and not to others. In fact, the Bush-Bolick plan would substantially increase the number of legal immigrants entering the country.
The book's final chapter, "Prescription for Republicans," calls for the GOP to work harder to reach out to Hispanics, Asians and other minorities. Yet it repeats the standard line about Hispanics being natural Republican voters, ignoring the fact that Hispanics seem increasingly attracted to the Democratic Party's message of bigger government. That more than half of Hispanic births are to unmarried mothers is a reminder that the GOP's electoral troubles can't be solved by simply recasting its immigration position. Hispanics will obviously be a tougher sell on Republican economic programs than Messrs. Bush and Bolick would like to admit.
That fact leads to the ultimate irony of "Immigration Wars": Even if all of its proposals miraculously become law, Hispanics may well dislike the law itself. Limiting family reunification for the sake of more highly skilled workers will favor other groups over Hispanics and rile the immigration-rights lobby, which increasingly sees immigration as a civil right. The policy changes that Messrs. Bush and Bolick propose would undoubtedly serve the nation's economic needs better than the current law, but it is unclear whether Republicans would ever reap a political reward. Still, "Immigration Wars" contains a message that needs to be heard by members of both political parties. Unless we have a real overhaul of American immigration law—not just a cosmetic one driven by political pressures—the immigration wars will continue, and Americans will be fighting them for decades to come.

Mr. Cannato, who teaches history at the University of Massachusetts, Boston, is the author of "American Passage: The History of Ellis Island."
 
A version of this article appeared March 12, 2013, on page A15 in the U.S. edition of The Wall Street Journal, with the headline: Give Me Your Skilled Workers.