O que é este blog?

Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

Essa gente totalitaria, nao tem jeito - J. R. Guzzo


Avanço para o passado
Imaginem por um curto instante o estado de choque em que ficariam o comitê central do PT, seus milhares de militantes e sua agressiva (e cada vez mais cara) máquina de propaganda, se esta revista, para dar um exemplo de entendimento bem fácil, publicasse um texto no qual o povo brasileiro fosse chamado de “essa gente”. Mais: que “essa gente” está cometendo uma enorme “ingratidão” ao protestar contra o governo, depois de todos os presentes que tem ganhado das nossas mais altas autoridades. O mundo viria abaixo – eis aí, diria a esquerda nacional, a prova definitiva da sordidez sem limites da “grande mídia” brasileira. Mas, graças ao bom Deus, quem disse isso não foi VEJA, e sim o secretário-geral (com nível de ministro) Gilberto Carvalho, descrito como homem de importância praticamente sobrenatural dentro e fora do Palácio do Planalto. Será que foi mesmo ele? Sim, está provado que foi, numa viagem recente a Porto Alegre. “Fizemos tanto por essa gente”, queixou-se Carvalho, “e agora eles se levantam contra nós.” Essa gente? Eles? Ingratidão? É um concentrado de insultos à população que parece ter saído diretamente da linguagem utilizada no Brasil antes da abolição da escravatura.
Está tudo errado nessa declaração, a começar pelo sujeito da frase. “Fizemos”? Quem “fizemos”? É como se o ministro e seus companheiros estivessem tirando dinheiro do próprio bolso para dar aos pobres; mas quem banca tudo é o povo, a cada tostão que tem de pagar em impostos quando compra um palito de fósforo que seja. Ao mesmo tempo, está tudo certo, certíssimo: a frase do companheiro é provavelmente a tomografia mais fiel já feita até hoje dos verdadeiros sentimentos que os donos atuais do Brasil têm em relação à sociedade brasileira. O secretário, simplesmente, disse em público aquilo em que ele e os companheiros acreditam em particular. Foi uma espécie de hora da verdade — por distração, ou sabe-se lá por que, Carvalho esqueceu a regra-base de seu partido, que manda os chefes não falarem como pensam e, mais do que tudo, não agirem como falam. “Essa gente” a que se refere o companheiro Carvalho, exatamente como os barões do café falavam no Brasil do atraso, é a mesma de sempre: o povão da fila do ônibus ou da sala de espera do SUS, essa grande massa sem rosto ou nome, ignorante, preguiçosa, inepta, desinformada, capaz de ler não mais do que três palavras juntas na telinha do celular, sem noção de seus direitos, só utilizável para o trabalho braçal e ainda por cima ingrata. Quando um dos mais notáveis lordes do almirantado petista fala como falou sobre a nossa “gente”, aparece à vista de todos o real projeto das forças que estão no governo: reinar sobre uma opinião pública obediente, inconsciente e boçal, que tem de agradecer quando recebe um pouco daquilo a que tem direito. O que querem é manter o Brasil exatamente como está e sempre esteve, mas com a astúcia de fingirem que estão mudando tudo.
Ao longo desses anos todos, não foi eliminado no Brasil nem um privilégio sequer, essa praga que mantém nossa vida pública amarrada no século XIX
O governo do ex-presidente Lula, de Dilma Rousseff e do PT é uma das mais bem-sucedidas farsas jamais levadas ao público na história política brasileira. Por conta de progressos ocorridos nos níveis de bem-estar, os mesmos que dezenas de outros países alcançaram nos últimos anos (ou até menos do que muitos deles conseguiram), Lula e seu entorno, com endosso de gente séria pelo mundo afora, garantem que sua missão de fazer uma revolução social no Brasil foi um espetáculo — o tipo da operação concluída com sucesso, como dizem as vozes que desbloqueiam cartões de crédito pelo telefone. Mas não mudou nada no modo como o país é governado, nem como o poder é distribuído, nem como o bolo é fatiado; não houve nenhuma “mudança estrutural”, que é a maneira de os economistas dizerem que foi trocada a pintura do carro, mas não se mexeu em nada no motor. De concreto, mesmo, é o compromisso do governo petista de manter intacto o Brasil do passado — injusto, desigual, atrasado, onde o importante não é ser cidadão brasileiro, e sim depender de quem está no governo. Lula e seu auditório tinham prometido acabar com esse Brasil obsoleto e colocar em seu lugar uma nação pronta para o século XXI. Onze anos após eles chegarem à Presidência da República, o Brasil, na sua essência, está idêntico ao que receberam em janeiro de 2003 — e seus melhores aliados são justamente os chefes políticos que equivalem, hoje, aos senhores de engenho de ontem. Com certeza não houve revolução nenhuma em todo esse período. Como estava, ficou.
O Brasil seria um país bem melhor se Carvalho fosse uma exceção — um “ponto fora da curva”, como se diz hoje. Infelizmente, não é assim. Na verdade, o secretário-geral da Presidência é a própria curva — um espelho que reflete sem piedade a vida como ela é no ano 11 da Era Lulista. Mais que isso, reflete o exemplo de conduta que o homem recebe de quem está acima, e quem está acima dele é a presidente da República. Essa última viagem de Dilma à Suíça e a Cuba, por exemplo, é um perfeito improviso do falso esquerdismo do governo, que tenta ocultar, com palavrório, notas oficiais de sintaxe primitiva e a pura e simples mentira, os hábitos de sultão que seus barões adotam na realidade do cotidiano: falam de um jeito, vivem de outro. O que poderia comprovar melhor seu desprezo pelo cidadão comum do que a mentira que a presidente obrigou seu ministro do Exterior a dizer em público, para esconder os motivos de uma escala “não programada” que fez em Portugal – e, ainda por cima, uma mentira incompetente, incapaz de resistir a 24 horas de investigação? A atitude oficial é: “Inventem aí uma coisa qualquer para dizer ao público”. Para piorar, Dilma hospedou-se num hotel onde a diária da principal suíte passa dos 8 000 euros, soma de meter medo em qualquer campeão das nossas elites mais vorazes. Pode uma coisa dessas? Não pode. Não é uma questão legal; é uma questão de compostura, só isso. A governante número 1 de um país com as misérias do Brasil simplesmente não tem o direito moral de gastar 8 000 euros do Tesouro Nacional para pagar uma noite de sono. O conserto ficou pior que o defeito quando Dilma decidiu esclarecer uma conta de cerca de 300 reais que pagou em seu jantar em Lisboa. “Paguei com o meu dinheiro”, disse ela. “Se o dinheiro é meu, eu como onde quiser. Estou pagando.” Há linguajar que reproduza tão bem o vocabulário truculento da elite brasileira, nos seus piores momentos de onipotência, grosseria e mania de grandeza? Nada de admirar, no fundo, quando se sabe que a presidente aluga um caminhão só para levar suas roupas em viagens internacionais — ou acha comum requisitar hospedagem para 45 assessores, como nesse último passeio. É um dos vícios públicos brasileiros que mais agradam ao PT — a ideia de “aproveitar” até o bagaço tudo o que o “governo está pagando”.
O fato é que existe hoje, nas massas que habitam a máquina estatal, uma imensa distância separando a pregação revolucionária que fazem no palanque das ações que praticam na vida diária. Para manter a pose de “esquerda”, e ao contrário do que ensina o dito popular, o cidadão come presunto Pata Negra, mas arrota mortadela da venda. Quer falar como socialista e, ao mesmo tempo, viver como burguês; não pode dar certo. Há um preço mínimo a pagar para sustentar uma imagem, e esse preço exige que se enfrente um pouco de desconforto para segurar a onda de herói popular. Fidel Castro, por exemplo, hospedou-se num pulgueiro do Harlem em sua primeira visita a Nova York — não no Excelsior de Roma ou no Ritz Four Seasons de Lisboa, como fez sua companheira Dilma. Demagogia? Fidel achou que não; parece que sabia o que estava fazendo.
A governante número 1 de um país com as misérias do Brasil simplesmente não tem o direito moral de gastar 8 000 euros do Tesouro Nacional para pagar uma noite de sono
Os fatos, essa coisa irritante, oferecem muitos outros exemplos da obra de falsificação construída por Lula, Dilma e pelo PT para convencer a plateia de que a “direita”, os “ricos” e os que querem a volta do pelourinho e da chibata são os únicos brasileiros que discordam do governo. É o contrário: estes todos, no mundo das realidades, estão casados com o PT e o PT está casado com eles. Basta olhar um pouco. Não há um único trabalhador no ministério do Partido dos Trabalhadores; em onze anos de governo, e num país com 200 milhões de habitantes, não conseguiram encontrar nenhum até agora, um só que fosse. Ao longo desses anos todos, não foi eliminado no Brasil nem um privilégio sequer, essa praga que mantém nossa vida pública amarrada no século XIX. Não foi cortado um único dos 20 000 a 25 000 cargos públicos para os quais a presidente, seus ministros, os burocratas mais lustrosos e os onos do poder podem nomear quem bem entenderem. A propriedade privada continua sendo sagrada para quem conta com amizades “lá em cima” — sobretudo depois que tantos companheiros passaram a desfrutar dos seus aspectos mais agradáveis. Usineiros continuam, como acontece há séculos, recebendo dinheiro do contribuinte para resolver seus problemas — só neste ano de 2014, levarão perto de 400 milhões de reais para casa. Os “rentistas”, maldição-mor na linguagem da moda entre os economistas de esquerda, nunca viveram tão bem com as suas rendas.
Empresários amigos, e amigos dos amigos, continuam desfrutando o caixa do BNDES, a juros inferiores a 1% ao ano, como sempre desfrutaram durante os governos a serviço da “alta burguesia”. Tem sido especialmente simpático com frigoríficos, gente da celulose, capitães da “indústria nacional” e empreendedores da modalidade Eike Batista, a quem conseguiu emprestar 200 milhões de reais para reformar um hotel no Rio de Janeiro; Eike não reformou um único mictório, a carcaça do hotel já foi vendida e o BNDES, naturalmente, ainda não recebeu um centavo de volta. As empreiteiras de obras públicas vivem uma nova época de ouro, tão rentável como viviam nos governos de “direita”. Uma delas, a Odebrecht, despacha direto com Lula na construção de um incompreensível estádio para o Corinthians, e construiu para Cuba, com dinheiro do povo brasileiro cedido por Dilma, um porto avaliado em quase 1 bilhão de dólares.
O FGTS virou uma festa para milionários. Não há dinheiro que pertença de forma mais clara e direta ao trabalhador — na verdade, existe uma lista, nome por nome, de quem é proprietário das somas ali depositadas e quanto, exatamente, cada um tem na sua conta. O Partido dos Trabalhadores, porém, permite que o governo gaste como bem entender o dinheiro do trabalhador: inventou um “Fundo de Investimento” para o FGTS investir os recursos que recebe todo mês através da folha salarial das empresas, e já tinha, segundo revelação recente da revista EXAME, quase 30 bilhões de reais em carteira no fim de 2013. Três quartos dessa montanha de dinheiro estão aplicados — onde mais poderia ser? — em títulos de dívidas e ações de empresas privadas, muitas de capital fechado. Se algo der errado com elas, as garantias que o FGTS terá serão os papéis de companhias quebradas. Belo investimento para o trabalhador brasileiro, não? Só mesmo um governo dos trabalhadores cuidaria tão bem dos seus interesses financeiros. Na maior parte esse dinheiro está espalhado pela finíssima flor da elite que o PT fala todos os dias em exterminar: a incansável Odebrecht, a Friboi, construtores de sondas para a Petrobras, empreiteiras de obras, construção naval e por aí afora. Deu para entender? O melhor da história é como se decide quem vai receber o dinheiro do fundo. Um conselho de doze membros é quem realmente manda – e ali o governo tem seis representantes, mais três que vêm dessas entidades chapa-branca como Confederação Nacional da Indústria etc. E não há ninguém para falar pelo trabalhador? Sim, um só — um cartola da CUT. Se no lugar dele se sentasse o marajá de Baroda, os trabalhadores brasileiros estariam mais bem representados.
É difícil levar adiante essa vigarice de “governo do povo” quando se considera, além de tudo o que já foi dito, que a presidente da República, como se cogita com certa angústia no Palácio do Planalto, está ameaçada de não poder ir a nenhum jogo da Copa do Mundo, para não levar uma vaia de 24 quilates. Que “governo popular” é esse? O companheiro Carvalho está achando que é uma tremenda injustiça. Mas o que se vai fazer? “Essa gente” é mesmo uma dor de cabeça.

Venezuela: os partidos brasileiros tomam posicao

Primeiro a favor da matança:

Nota do PT:

1. Condenamos os fatos e ações com vistas a desestabilizar a ordem democrática na Venezuela; rechaçamos ainda as ações criminosas de grupos violentos como instrumentos de luta política, bem como as ações midiáticas que ameaçam a democracia, suas instituições e a vontade popular expressa através do voto. Lembramos que esta não é a primeira vez que a oposição se manifesta desta forma, o que torna ainda mais graves esses fatos.

2. Nos somamos à rede de solidariedade mundial para informar e mobilizar os povos do mundo em defesa da institucionalidade democrática na Venezuela, fortalecer a unidade e a integração de nossos povos.

3. Nos solidarizamos aos familiares das vítimas fatais fruto dos graves distúrbios provocados, certos de que o Governo Venezuelano está empenhado na manutenção da paz e das plenas garantias a todos e todas cidadãos e cidadãs venezuelanas.

São Paulo, 18 de fevereiro de 2014.

Rui Falcão
Presidente Nacional do PT

Mônica Valente
Secretária de Relações Internacionais do PT

Comeco da Fronda Empresarial? - Marcelo de Paiva Abreu

Parece que alguns empresários estão perdendo o medo de contestar o governo...
Paulo Roberto de Almeida

 'Beicinho' e política industrial
Marcelo de Paiva Abreu
O Estado de S.Paulo, 19/02/2014

A preocupação do governo com a fragilidade do seu desempenho econômico foi explicitada pelas reações do ex-ministro Fernando Pimentel, do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, e do ministro Paulo Bernardo, das Comunicações, à entrevista do presidente do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), Pedro Passos, concedida ao Estado (9/2). O presidente do Iedi, sócio da Natura, enfatizou o esgotamento do atual modelo econômico e defendeu a sua reformulação com ênfase na integração da economia brasileira à economia internacional, por meio de acordos com a União Europeia (UE) e os EUA, com equacionamento dos obstáculos argentinos.
A reação de Fernando Pimentel foi desqualificar a entrevista, com o argumento de que seria "política": "A Natura hoje tem uma posição partidária, de apoio a uma candidatura de oposição ao governo Dilma Rousseff". Passos seria "militante de um projeto eleitoral de oposição" e não seria o caso de responder às suas críticas "porque elas não foram feitas no âmbito do debate". E, no entanto, as críticas de Passos são mais do que razoáveis, alinhadas com o sentimento generalizado de que a política industrial do governo, que teve Pimentel como principal responsável, tem sido um retumbante fracasso.
Em sua entrevista de despedida como ministro, Pimentel, mais uma vez, mostrou falta de intimidade com os assuntos de sua pasta, ao referir-se enfaticamente às altas margens de lucros das montadoras como se fosse algo surpreendente. É bem sabido que foi na sua gestão que foi implementado o programa Inovar Auto, hoje questionado pela UE, que beneficia as montadoras com vantagens tributárias associadas ao IPI que, somadas à atual tarifa de 35%, levam a proteção nominal a pornográficos 70%. Talvez proteção alta tenha alguma relação com margens de lucro despropositadas?
É curioso que, à época em que o Iedi defendia ardorosamente a proteção alta e a desvalorização cambial, sem preocupações quanto às consequências macroeconômicas, em sintonia com a emergente "nova matriz macroeconômica", nunca se tenha ouvido qualquer comentário no governo sobre o alinhamento político de seus dirigentes.
Há grande heterogeneidade nas posturas empresariais em relação ao governo. A posição de alguns setores, como o automotivo, de apoio à política industrial, simplesmente revela o tratamento diferenciado de que se beneficiam. Segundo a Anfavea, "o governo (...) minimizou possíveis consequências (da crise) ao (sic) setor automotivo e à (sic) economia como um todo". Não é por acaso que, no recente confronto entre a Anfavea e a emergente Abeifa, concorrente na representação empresarial do setor automotivo, tenha escapado o argumento de que a Anfavea teria "acesso livre aos gabinetes em Brasília".
Paulo Bernardo, na sua crítica a Passos, optou por alegações também rasteiras. Como Pimentel, fugiu da substância como o diabo da cruz. Sugeriu que Passos estaria "fazendo beicinho" e que as dificuldades entre governo e empresariado poderiam ser resolvidas com "discussões da relação". Para o ministro, analistas que tenham independência em relação ao governo são descartados pois "ninguém entende o que eles falam". E pontifica: "O cidadão não entende conceitos macroeconômicos, mas sabe se a economia está indo bem ou mal". O recorrente truque presidencial de apelar para discurso enfático quando falta substância ao argumento está sendo copiado por sua equipe.
Quem fez de fato "beicinho" nos últimos tempos foi a chefe de Paulo Bernardo, ao ameaçar não participar da programada cúpula Brasil-União Europeia. Em reação pueril, estaria irritada com a queixa europeia em Genebra quanto ao IPI discriminatório e à Zona Franca de Manaus. Se tivesse tomado melhores decisões quanto à política industrial, teria evitado tais achaques e turbulências. "Beicinho", agora, não vai resolver.
*Marcelo de Paiva Abreu é doutor em economia pela Universidade de Cambridge e professor titular no departamento de Economia da PUC-RIO. 


Golpe à Brasileira - Marco Antonio Villa

Golpe à Brasileira
Marco Antonio Villa*
O Estado de S.Paulo, 19 de Fevereiro de 2013

Às vésperas dos 50 anos do golpe militar torna-se necessário um resgate da História para entendermos o presente. Em 1964 o Brasil era um país politicamente repartido. Dividido e paralisado. Crise econômica, greves, ameaça de golpe militar, marasmo administrativo. O clima de radicalização era agravado por velhos adversários da democracia. A direita brasileira tinha uma relação de incompatibilidade com as urnas. Não conseguia conviver com uma democracia de massas num momento de profundas transformações. Temerosa do novo, buscava um antigo recurso: arrastar as Forças Armadas para o centro da luta política, dentro da velha tradição inaugurada pela República, que já havia nascido com um golpe de Estado.
A esquerda comunista não ficava atrás. Sempre estivera nas vizinhanças dos quartéis, como em 1935, quando tentou depor Getúlio Vargas por meio de uma quartelada. Depois de 1945, buscou incessantemente o apoio dos militares, alcunhando alguns de "generais e almirantes do povo". Ser "do povo" era comungar com a política do Partido Comunista Brasileiro (PCB) e estar pronto para atender ao chamado do partido numa eventual aventura golpista. As células clandestinas do PCB nas Forças Armadas eram apresentadas como uma demonstração de força política.
À esquerda do PCB havia os adeptos da guerrilha. O Partido Comunista do Brasil (PCdoB) era um deles. Queria iniciar a luta armada e enviou, em março de 1964, o primeiro grupo de guerrilheiros para treinar na Academia Militar de Pequim. As Ligas Camponesas, que desejavam a reforma agrária "na lei ou na marra", organizaram campos de treinamento no País em 1962 - com militantes presos foram encontrados documentos que vinculavam a guerrilha a Cuba. Já os adeptos de Leonel Brizola julgavam que tinham ampla base militar entre soldados, marinheiros, cabos e sargentos.
Assim, numa conjuntura radicalizada, esperava-se do presidente um ponto de equilíbrio político. Ledo engano. João Goulart articulava sua permanência na Presidência e necessitava emendar a Constituição. Sinalizava que tinha apoio nos quartéis para, se necessário, impor pela força a reeleição (que era proibida). Organizou um "dispositivo militar" que "cortaria a cabeça" da direita. Insistia em que não podia governar com um Congresso Nacional conservador, apesar de o seu partido, o PTB, ter a maior bancada na Câmara dos Deputados após o retorno do presidencialismo e não ter encaminhado à Casa os projetos de lei para tornar viáveis as reformas de base.
Veio 1964. E de novo foram construídas interpretações para uso político, mas distantes da História. A associação do regime militar brasileiro com as ditaduras do Cone Sul (Argentina, Uruguai, Chile e Paraguai) foi a principal delas. Nada mais falso. O autoritarismo aqui faz parte de uma tradição antidemocrática solidamente enraizada e que nasceu com o Positivismo, no final do Império. O desprezo pela democracia rondou o nosso país durante cem anos de República. Tanto os setores conservadores como os chamados progressistas transformaram a democracia num obstáculo à solução dos graves problemas nacionais, especialmente nos momentos de crise política. Como se a ampla discussão dos problemas fosse um entrave à ação.
O regime militar brasileiro não foi uma ditadura de 21 anos. Não é possível chamar de ditadura o período 1964-1968 - até o Ato Institucional n.º 5 (AI-5) -, com toda a movimentação político-cultural que havia no País. Muito menos os anos 1979-1985, com a aprovação da Lei de Anistia e as eleições diretas para os governos estaduais em 1982. Que ditadura no mundo foi assim?
Nos últimos anos se consolidou a versão de que os militantes da luta armada combateram a ditadura em defesa da liberdade. E que os militares teriam voltado para os quartéis graças às suas heroicas ações. Num país sem memória, é muito fácil reescrever a História.
A luta armada não passou de ações isoladas de assaltos a bancos, sequestros, ataques a instalações militares e só. Apoio popular? Nenhum. Argumenta-se que não havia outro meio de resistir à ditadura a não ser pela força. Mais um grave equívoco: muitos desses grupos existiam antes de 1964 e outros foram criados pouco depois, quando ainda havia espaço democrático. Ou seja, a opção pela luta armada, o desprezo pela luta política e pela participação no sistema político, e a simpatia pelo foquismo guevarista antecederam o AI-5, quando, de fato, houve o fechamento do regime. O terrorismo desses pequenos grupos deu munição (sem trocadilho) para o terrorismo de Estado e acabou sendo usado pela extrema direita como pretexto para justificar o injustificável: a barbárie repressiva.
A luta pela democracia foi travada politicamente pelos movimentos populares, pela defesa da anistia, no movimento estudantil e nos sindicatos. Teve em setores da Igreja Católica importantes aliados, assim como entre os intelectuais, que protestavam contra a censura. E o MDB, este nada fez? E os seus militantes e parlamentares que foram perseguidos? E os cassados?
Os militantes da luta armada construíram um discurso eficaz. Quem os questiona é tachado de adepto da ditadura. Assim, ficam protegidos de qualquer crítica e evitam o que tanto temem: o debate, a divergência, a pluralidade, enfim, a democracia. Mais: transformam a discussão política em questão pessoal, como se a discordância fosse uma espécie de desqualificação dos sofrimentos da prisão. Não há relação entre uma coisa e outra: criticar a luta armada não legitima o terrorismo de Estado. Temos de refutar as versões falaciosas. Romper o círculo de ferro construído, ainda em 1964, pelos adversários da democracia, tanto à esquerda como à direita. Não podemos ser reféns, historicamente falando, daqueles que transformaram o antagonista em inimigo; o espaço da política, em espaço de guerra.
*Marco Antonio Villa é historiador, autor do livro 'Ditadura à Brasileira'

Venezuela: a CELAC parece ser maior do que o Mercosul...

La Comunidad de Estados Latinoamericanos y Caribeños (CELAC) ha conocido con preocupación los hechos violentos que tuvieron lugar en la República Bolivariana de Venezuela el día 12 de febrero del 2014 y días posteriores y lamenta profundamente la pérdida de vidas humanas.
 
Nuestra Comunidad rechaza la violencia y promueve la seguridad ciudadana, la paz, la estabilidad y el desarrollo; y considera que en todo momento debe garantizarse la institucionalidad democrática,  el respeto a la ley, la información fidedigna y veraz; así como  el pleno respeto de todos los derechos humanos.
 
Los países miembros de la CELAC expresan su solidaridad con el pueblo hermano de la República Bolivariana de Venezuela y alientan a su  gobierno a continuar los  esfuerzos para propiciar  un diálogo entre todas las fuerzas políticas del país,  en aras de la paz y la unidad nacional que el pueblo venezolano requiere para continuar su marcha hacia el progreso y el bienestar.
 
San José, Costa Rica, 17 de febrero de 2014

Lingua Sem Fronteiras, ou turistas acidentais, tropecando na lingua...

Se é para fazer um Berlitz federal, acho que teria jeito (ou geito, como diriam os çábios da UFRJ) de fazer mais barato...
Paulo Roberto de Almeida

Artigo de Matias Spektor, Folha de S. Paulo, 19/02/2014
http://www1.folha.uol.com.br/colunas/matiasspektor/2014/02/1414331-sem-fronteiras.shtml 

Folhapress (pesquisa@folhapress.com.br). 
As regras têm como objetivo proteger o investimento que a Folha faz na qualidade de seu jornalismo.
==========

Crise no Ciência sem Fronteiras

19 de fevereiro de 2014 | 2h 10

Editorial O Estado de S.Paulo, 19/02/2014
Lançado em 2011 pela presidente Dilma Rousseff como uma das mais importantes iniciativas de sua gestão no campo da educação, o programa Ciência sem Fronteiras - que prevê a concessão de 101 mil bolsas a estudantes interessados em fazer iniciação científica, mestrado, doutorado e pós-doutorado no exterior - está enfrentando duas grandes dificuldades.
A primeira dificuldade diz respeito ao perfil dos estudantes beneficiados pelo programa. Muitos não atendiam ao requisito de fluência em inglês quando foram escolhidos para estudar na Europa, Estados Unidos, Canadá e Austrália. Por esse motivo, não conseguiram acompanhar os cursos nos quais se matricularam. Como as bolsas estão chegando ao fim, correm o risco de voltar sem ter aprendido inglês e sem ter se qualificado academicamente. Também há alunos que, por terem perdido muito tempo apreendendo inglês, não se prepararam suficientemente e não foram aprovados no processo seletivo das universidades que escolheram.
Para tentar contornar o problema, os órgãos que lideram o programa Ciência sem Fronteiras - o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) - estariam estudando algumas alternativas. Uma delas é determinar o retorno imediato desses bolsistas para o País, o que pode acarretar um desgaste político para o governo num ano eleitoral. Outra saída é conceder financiamento adicional de seis meses para esses bolsistas, a fim de evitar que retornem sem curso acadêmico. Mas, por causa das variações cambiais, do aumento do IOF e das taxas bancárias, essa saída exigiria um gasto de mais de R$ 800 milhões com o Ciência sem Fronteiras, cujas contas já estão desequilibradas.
A segunda dificuldade do programa está no modo como foi concebido. A meta era mandar 101 mil estudantes brasileiros para o exterior no período de quatro anos, mas o governo dispunha de recursos para bancar apenas 75 mil bolsas. Pediu, portanto, a instituições financeiras, conglomerados industriais e entidades empresariais que financiassem as outras 26 mil bolsas. Desse total, até o momento a iniciativa privada teria financiado apenas 3,4 mil bolsas de estudo - cerca de 13% do prometido, segundo a Capes. Esse número é questionado pelas empresas privadas, que alegam já ter concedido 5,3 mil bolsas - ou seja, 20% do previsto.
Apesar de continuar prometendo que cumprirá a meta firmada com o Ciência sem Fronteiras, a iniciativa privada afirma que está enfrentando dificuldades para captar recursos. A entidade que assumiu o maior compromisso com o governo, a Federação Brasileira de Bancos (Febraban), prometeu financiar 6,5 mil bolsas de estudo, mas até agora só pagou 650 bolsas. Em nota, a Associação Brasileira de Indústria de Base, que reúne as maiores empreiteiras do País, afirma que ainda não conseguiu reunir o montante necessário para cumprir o que prometeu.
Evidentemente, essas entidades têm plena condição de bancar as 26 mil bolsas pedidas pelo governo. Na realidade, o problema não é financeiro. O que o setor privado discute é o perfil dos bolsistas do Ciência sem Fronteiras. Informalmente, o setor privado alegou que o governo os selecionou sem critérios precisos, distribuindo bolsas de forma indiscriminada. A iniciativa privada quer definir ela própria os critérios das bolsas que financiará. Entre outras reivindicações, ela deseja financiar pesquisadores que estejam vinculados não a uma universidade, como quer o governo, mas a cursos tecnológicos que atendam às necessidades do setor produtivo. A Confederação Nacional da Indústria pleiteia o direito de financiar mestrados profissionalizantes, mas enfrenta resistências veladas.
Quando lançou o Ciência sem Fronteiras, o governo foi altamente elogiado, dada a contribuição que o programa poderia trazer para ampliar o nível de formação acadêmica e profissional das novas gerações. Quase quatro anos depois, a inépcia do governo compromete o que poderia ter sido a grande realização da presidente Dilma Rousseff.

UFRJ: dando trotes no Portugueis de araque...

O GLOBO (EMAIL·TWITTER)
Publicado:
Atualizado:

O comunicado oficial da UFRJ enviado por e-mail aos alunos tem erros como ‘sugeitos’ e ‘indígnos’
Foto: Reprodução
O comunicado oficial da UFRJ enviado por e-mail aos alunos tem erros como ‘sugeitos’ e ‘indígnos’ Reprodução
RIO — Um comunicado oficial emitido pela UFRJ na tarde desta terça-feira (18) virou motivo de chacota entre estudantes nas redes sociais. Isso porque, no texto enviado por e-mail aos alunos, há erros graves de grafia e acentuação, como “sugeitos” e “indígno”, além de desvios de concordância verbal e nominal nos trechos “aquele que a promovem” e “às penalidade”, como antecipou o blog da coluna Gente Boa.
O texto é assinado pela “SUPERAR - Sperintendência (sic) de Acesso e Registro - PR-1/UFRJ” e informa sobre a proibição de trotes vexatórios e humilhantes. O comunicado virou alvo de comentários irônicos no grupo de Facebook formado por alunos do Centro de Tecnologia da UFRJ. Um estudante chegou a duvidar da autenticidade do aviso: “Isso não pode ser sério. Tem muito erro”, postou ele. Outra aluna escreveu a palavra “sugeitos” acompanhada da foto de um menino com a mão no coração e a frase “Ai meu corassaum”.
Em outra foto postada, o professor de língua portuguesa Paquale Cipro Neto aparece com uma cara de reprovação. Um universitário fez um trocadilho com a sigla da Superintendência de Acesso e Registro, escrevendo que “dessa vez eles se SUPERARAM”. Horas depois de o e-mail original ter sido recebido, já na madrugada desta quarta a UFRJ enviou um novo comunicado, com o texto corrigido.
Procurada pelo GLOBO para comentar o caso, a UFRJ informou, por meio de sua assessoria de imprensa, que o e-mail foi disparado por engano, antes de o servidor responsável conferir a redação do texto. Segundo a nota enviada, "logo depois do disparo, o informe foi disparado com as devidas correções".
Ainda de acordo com a nota, a UFRJ aproveita para reforçar o compromisso da reitoria em alertar para a prática dos trotes vexatórios na universidade. Os estudantes que se sentirem intimidados a participar de alguma prática podem entrar em contato com a ouvidoria, no site www.ouvidoria.ufrj.br.


Leia mais sobre esse assunto em http://oglobo.globo.com/educacao/comunicado-da-ufrj-com-erros-como-sugeitos-vira-piada-na-web-11651585#ixzz2tqUwZ5AK 
© 1996 - 2014. Todos direitos reservados a Infoglobo Comunicação e Participações S.A. Este material não pode ser publicado, transmitido por broadcast, reescrito ou redistribuído sem autorização. 

Imaginemos que a Venezuela fosse a Ucrania, ou que ela estivesse na Europa...

O que fariam os líderes regionais, internacionais, multilaterais, bilaterais, unilaterais, laterais?
Nada, ou talvez alguma coisa...
Bem, vejamos o que estão fazendo outros, em relação à Ucrânia...
Paulo Roberto de Almeida

Germany and France have condemned the violence in Ukraine, French President Francois Hollande said after talks with German Chancellor Angela Merkel on Wednesday. "There are unspeakable, unacceptable, intolerable acts being carried out in Ukraine," Mr Hollande told reporters at a news conference.
Poland's Foreign Minister, Radoslaw Sikorski, has announced on Twitter that he is "on his way to Kiev", after earlier saying he was heading to Ukraine on a mission on behalf of the EU.  
More international reaction coming in...the White House says it is monitoring the situation in Ukraine closely, and will consult with the EU on the next steps, including possible sanctions, according to Deputy National Security Adviser Ben Rhodes.
The US is urging the Ukrainian government to pull back riot police from Independence Square in Kiev and call a truce to allow discussions with the opposition, he adds.
BBC News has compiled some before and after pictures of Independence Square, with close-up views of the main protest camp from the north and the south. You can take a look at our Big picture: Close-up of Kiev's Independence Square here.
The foreign ministers of France, Germany and Poland are to meet in Kiev on Thursday to assess the situation before an EU meeting in Brussels to decide whether to impose sanctions on Ukraine, French Foreign Minister Laurent Fabius says.
The US secretary of state, John Kerry, earlier said the US was discussing the possibility of sanctions with its European allies.
More from the White House. US Deputy National Security Advisor Ben Rhodes said the deaths in clashes were "completely outrageous" and have "no place in the 21st Century".
"The fact of the matter is we have made very clear to the Ukrainian government that it is their responsibility to allow for people [to] protest," said Mr Rhodes.
      
Gavin Hewitt Europe editor
tweets: Polish, German and French foreign ministers all in Ukraine tomorrow. Will meet the President and opposition leaders. A key moment in crisis.
Reacting to the latest developments, UK Prime Minister David Cameron has condemned the use of violence "by all sides" and urged President Yanukovych "to pull back government forces" and engage with the opposition.             
Mr Cameron warned the Ukrainian president that "the world is watching" and "those responsible for violence will be held accountable".
Amid the violence, Canada has shut its Kiev embassy as a "security precaution", and the UK Foreign Office has updated its Ukraine travel advice to say its embassy is "temporarily closed to visitors".
US President Barack Obama warns that "there will be consequences" for anyone who steps over the line in Ukraine.
Mr Obama, who is in Mexico for a conference, told reporters that the military should not step in to a situation that civilians should resolve.
tweets: As NATO's military commander I ask that responsible leaders avoid the use of military force against the people of Ukraine.
19:40: Paul Adams BBC News 
Two weeks ago, in a telephone call leaked to the media, a senior American diplomat dismissed European efforts with a single Anglo-Saxon expletive. Today in Paris, US Secretary of State John Kerry stood shoulder to shoulder with French counterpart Laurent Fabius and said the allies were offering President Yanukovych a choice. He said: "We believe the choice is clear and we are talking about the possibility of sanctions or other steps with our friends in Europe and elsewhere in order to try to create the environment for compromise." 
Why has violence erupted across Ukraine? What do Western countries think? And where does Russia stand? To find out, take a look at our pieceexplaining the crisis.    

UN Secretary General Ban Ki-moon says the use of violence in Ukraine "by any side is totally unacceptable". He urges in a statement that the authorities to "desist from the use of excessive force" and adhere to international human rights norms.
==========

Enfim, infelizmente para o povo venezuelano, em especial os democratas, os estudantes, os homens e mulheres que defendem as liberdades democráticas e os direitos humanos, a Venezuela não é a Ucrânia, nem os líderes regionais são outra coisa senão eles mesmos...
Paulo Roberto de Almeida 

quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

Nota lamentando mortes por crise politica: mutatis, mutandis

Transcrevendo, apenas. Mas se poderia fazer um pequeno ajuste no texto, trocando de país e de capital, não é mesmo?

Nota
19 de fevereiro de 2014
 
Situação na Ucrânia
 
O Governo brasileiro acompanha com preocupação a deterioração do quadro político e institucional na Ucrânia e lamenta profundamente as mortes ocorridas em Kiev. O Governo brasileiro conclama todas as partes envolvidas a dialogar. A crise política na Ucrânia deve ser equacionada pelos próprios ucranianos, de forma pacífica e com base no respeito às instituições e aos direitos humanos.

Ucrania, Venezuela: dois regimes de autoritarios, duas resistencias, os mortos de sempre...


Affrontements entre la police anti-émeutes et les manifestants sur le Maïdan, à Kiev, le 18 février. REUTERS/DAVID MDZINARISHVILI

A Kiev, le sang, les cendres et la crainte d'un assaut final

Le Monde.fr avec AFP et Reuters
L'assaut tant redouté par les opposants ukrainiens se poursuivait, mercredi 19 février, au lendemain de la journée la plus violente depuis le début de la contestation.
A l'aube, les forces spéciales prennaient position autour du centre de Maïdan, la place centrale et berceau de la contestation, où étaient encore regroupés des manifestants. Tout autour, des flammes et des barricades témoignaient du chaos qui s'est déchaîné depuis près de 24 heures. Les autorités, qui affirment contrôler la moitié de la place, ont limité la circulation et fermé le métro afin d'empêcher l'arrivée de renforts.
Les bilans varient encore en fonction des sources. Officiellement, le pouvoir ukrainien parle de 25 morts – policiers et civils confondus, la plupart par balles – et plus de 240 blessés. Viatcheslav Vérémiï, un journaliste du quotidien ukrainien Vesti a également été tué par des inconnus masqués à proximité de la place.
>> Suivez la situation sur Maïdan en direct avec ce flux vidéo :

Durée : 00:00 | Images : YouTube
Maïdan en direct vidéo.
  • Des blindés contre un mur de feu
L'offensive contre le camp des manifestants a commencé en fin de journée, mardi. Trois blindés munis de canons à eau, accueillis par des cocktails Molotov, des pierres et des feux d'artifice, ont repoussé les protestataires. Des milliers de policiers antiémeutes – les redoutés Berkout – ont ensuite dépassé les barricades, usant de grenades lacrymogènes et assourdissantes. Ils étaient suivis par des policiers armés de fusils.
Pour se protéger, les manifestants ont dressé un mur de feu. Derrière ce rideau de flammes, des opposants, casqués, équipés de gourdins et de boucliers en métal semblables à ceux des policiers, formaient une première ligne de défense. Un activiste ukrainien a diffusé la vidéo ci-dessous, assurant que les tirs venaient de civils – les « titouchkis » payés par le pouvoir. Selon lui, deux personnes ont été touchées, dont l'une mortellement.
Plus tôt dans la journée, le pouvoir avait lancé un ultimatum pour mettre fin à l'occupation d'un des bâtiments mis à disposition de l'armée, la Maison des officiers, situé à proximité du Parlement, et où gisent, d'après la députée d'opposition Lesya Orobets, élue du parti Batkivchtchina (« Mère patrie »), les corps de trois manifestants.
  • Viktor Ianoukovitch menace les « criminels »
Le président Viktor Ianoukovitch, qui a reçu plusieurs responsables de l'opposition après le début de l'assaut, a menacé de « changer de ton » s'ils ne prennent pas leurs distances avec les manifestants les plus radicaux, notamment ceux d'extrême-droite du parti Praviy Sektor (Secteur de droite).
Il a accusé certains manifestants d'avoir « franchi les limites » en apportant des armes à feu sur Maïdan. Qualifiant ces manifestants de « criminels », il a assuré qu'ils seraient traduits en justice. « Il n'est pas trop tard pour mettre fin au conflit », a-t-il assuré Viktor Ianoukovitch.
D'après l'opposant Vitali Klitschko, cité par le Kyiv Post, les opposants ont dû essuyer pendant plus d'une heure les accusations de M. Ianoukovitch, selon lequel les manifestants sont les seuls à  blâmer pour les morts dans les affrontements. Les opposants plaident pour un retrait des forces de l'ordre afin de permettre une désescalade de la situation.

Durée : 01:32 | Images : Reuters
Des heurts entre manifestants et policiers ont éclaté aux abord du Parlement ukrainien, mardi 18 février à Kiev. Plus de 20 000 opposants avaient prévu de marcher vers le bâtiment, mais ils en ont été empêchés par les forces de l'ordre alors que doit être examinée une réforme constitutionnelle destinée à réduire les pouvoirs présidentiels au profit du gouvernement et du Parlement.
Les tensions demeurent dans l'attente des prochaines décisions du président Viktor Ianoukovitch, dont la rupture avec l'Union européenne, en novembre, a déclenché un mouvement de protestation qui s'est étendu depuis à l'ensemble du pays.
  • Dans l'Ouest, des bâtiments officiels pris d'assaut par les manifestants
Dans la soirée, des manifestants ont pris d'assaut le siège de l'administration et de la police dans la ville occidentale de Lviv. Environ 500 opposants ont investi l'administration régionale, puis le siège de la police régionale, sans rencontrer de résistance, après y avoir lancé des pierres. Dans cette ville, à l'issue d'affrontements au cocktail Molotov, qui ont mis le feu à des bâtiments militaires, quelque 5 000 manifestants ont pris le contrôle des dépôts d'armes.
Devant l'ampleur des violences, les Etats-Unis et l'Union européenne ont appelé les autorités à faire preuve de retenue. Pour la Russie, ces violences sont avant tout la « conséquence directe de la connivence de responsables politiques occidentaux et des structures européennes qui ont fermé les yeux (...) sur les actions agressives de forces radicales ».
>> Lire la synthèse des réactions internationales : L'Ukraine doit « immédiatement reprendre le chemin du dialogue »

Do Mercosul a Unasul (algum progresso?) - livro coletivo, lancamento em SP

Convite para o lançamento do livro "Mercosul a Unasul. Avanços do processo de integração", organizado pela profa. Regina Maria A. F. Gadelha.

A Coordenação do NACI-Programas de Estudos Pós-Graduados em Economia Politica e em Ciências Sociais-PUC/SP tem a satisfação de convidá-lo para a APRESENTAÇÃO DO LIVRO

MERCOSUL A UNASUL. AVANÇOS DO PROCESSO DE INTEGRAÇÃO
Org. Regina Maria A. F. Gadelha
Editora EDUC/Fapesp

Dia 24 de Fevereiro de 2014 - Horário: 19h30 - 22h30.
Rua Ministro Godoy, 956 - Perdizes
1º andar - Auditório 117-A.

MESA REDONDA: MERCOSUL À UNASUL - PERSPECTIVAS ATUAIS
Mediador: Prof. Dr. Miguel Chaia - Diretor da EDUC
Apresentação: Prof. Dr. Edison Nunes - NACI-Pós Graduação de Ciências Sociais-PUC/SP
Autores Interventores:
Dr. Alberto de Sosa - Revista AmerSur - Buenos Aires-AR.
Dr. Darc Costa - FEDERACAMARAS (Federação das Câmaras de Comércio e Indústria da América do Sul).
Dr. Antônio Corrêa de Lacerda - Pós Graduação de Economia Política-PUC/SP
Dra. Regina Gadelha - NACI-Pós Graduação de Economia Política-PUC/SP

Regina Gadelha e Edison Nunes (Coordenadores do NACI).

Informações:
P.E.P.G. em Economia Política
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo
Telefone: (11) 3670-8516
Site do Programa: www.pucsp.br/pos/ecopol

EDUC
Rua Monte Alegre, 984 - sala S16 - Perdizes
05014-901 - São Paulo-SP - Brasil
Tel./Fax: (55 11) 3670-8085 e 3670-8558
E-mail: educ@pucsp.br.