O que é este blog?

Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

domingo, 11 de maio de 2014

Brasil: politica economica de Jeca Tatu - Rolf Kuntz

O Brasil do banquinho de três pernas
Monteiro Lobato criou um símbolo perfeito para o governo comandado pela presidente Dilma Rousseff, ao sintetizar no banquinho de três pernas o mobiliário e as ambições do caboclo. Para que quatro pernas, se três o sustentam e ainda evitam o trabalho de nivelamento? Os banquinhos do governo estão desenhados com perfeição nos principais indicadores e projeções da economia nacional, aceitos comodamente pelo grupo no poder. O aumento de preços na vizinhança de 6% é um bom exemplo de como funciona essa filosofia de Jeca Tatu.
O ministro da Fazenda, Guido Mantega, prometeu nesta semana, para o fim do ano, uma inflação dentro do limite de 6,5%, ponto extremo da margem de tolerância. A taxa anual até poderá ultrapassar essa marca nos próximos meses, mas em seguida – palavra de ministro – vai recuar e permanecer na área delimitada. Meta de 4,5%? Nem pensar, pelo menos por alguns anos.
Crescimento econômico? Muito bom, se chegar a 2,5% em 2013, como está indicado no projeto da Lei de Diretrizes Orçamentárias. Contas externas? O Banco Central projeta para o ano um déficit em conta corrente de US$ 80 bilhões, muito parecido com o de 2013 (US$ 81,07 bilhões) e ainda perto de 3,6% do produto interno bruto (PIB), onde tem permanecido, sem grande agitação, desde março do ano passado.
Forçado a se mexer para atiçar o fogo, e de vez em quando provocado, o governo-Jeca se compraz na recitação monótona de façanhas discutíveis e ainda se permite, de vez em quando, alguma bravata. Uma das preferidas é a comparação das contas públicas brasileiras com as dos países mais avançados. Mas até essa lenga-lenga está ficando insustentável, porque os governos do mundo rico, menos propensos ao comportamento de Jeca Tatu, andaram tomando providências para melhorar as finanças. Resultado: o Brasil ficou muito pior na foto.
Segundo o Eurostat, o escritório de estatísticas da União Europeia, os 28 países do bloco reduziram seu déficit fiscal para a média de 3,3% do PIB no quarto trimestre de 2013. Nos 18 países da zona do euro a média diminuiu para 3%.
No Brasil, o déficit nominal das contas públicas (resultado total, como se mede em quase todo o mundo) ficou em 3,26% do PIB no ano passado e chegou a 3,3% nos 12 meses terminados em fevereiro deste ano. Não dá mais para esnobar os europeus, se forem consideradas aquelas médias.
Para que pensar em modernização econômica, educação séria e criação de empregos decentes, se é muito mais cômodo levar adiante a conversa mole?
Mas a bravata é igualmente insustentável quando se considera a maior parte dos resultados individuais. Em 18 dos 28 países do bloco maior o resultado fiscal de 2013 foi melhor que o brasileiro. Entre os 18 estão duas das maiores economias, a Itália, com 3% de déficit, e a Alemanha, com zero. Em quase todas as outras os resultados melhoraram de forma consistente entre 2010 e 2013. Além disso, também as economias mais afetadas pela crise começaram a vencer a recessão e suas perspectivas são de maior crescimento nos próximos anos.
Mas a dívida pública brasileira, pode insistir algum dirigente brasiliense, é menor que a da maior parte dos europeus como porcentagem do PIB. É verdade, mas esse argumento seria muito mais relevante se a classificação de risco do Brasil fosse tão boa quanto a desses países e se, além disso, os títulos brasileiros fossem aceitos no mercado com as taxas de juros cobradas dos governos europeus.
Além disso, ninguém acusou esses governos de ter recorrido a criatividade contábil para fechar seus balanços nos últimos anos, nem a truques para disfarçar indicadores incômodos, como a taxa de desemprego. Lances desse tipo têm sido frequentes no Brasil, mas em geral para outras finalidades. Empenhado em administrar os índices, em vez de cuidar da inflação, o governo tem controlado os preços dos combustíveis e recorrido a prefeituras e governos estaduais para conter as tarifas do transporte público. Além disso, forçou a contenção das tarifas de energia elétrica, impondo perdas a empresas do setor e pesados custos adicionais ao Tesouro.
Inútil no combate à inflação, essa política fracassada e desastrosa ainda levou o governo a tentar novas mágicas para disfarçar seus efeitos fiscais. Uma das saídas foi a montagem de um estranho esquema de financiamento bancário – R$ 11,2 bilhões – à Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE), uma entidade sem fim lucrativo e sem garantias próprias para oferecer aos bancos. A garantia será dada pelas distribuidoras e dependerá das tarifas cobradas. O custo será incluído no cálculo das novas tarifas a partir de 2015. Toda essa complicação, incluídos os juros do financiamento, seria evitada sem a demagogia da contenção de tarifas.
Políticas desse tipo são tão eficientes quanto as rezas de benzedeiras em atividade nas Itaocas de Monteiro Lobato. Sua serventia principal é poupar à autoridade – o Jeca de plantão – o trabalho de pensar seriamente e de enfrentar tarefas desagradáveis. Sem disposição para fazer o necessário, resta ao caboclo em função pública inventar meios de contemporizar e de empurrar os problemas para a frente. Inflação longe da meta de 4,5% em 2015 e crescimento econômico de 3%, também indicados no projeto da LDO, combinam com a filosofia do tripé.
Alguns se deixam contaminar pelo conformismo do Jeca e até enganar por sua esperteza rasa. A conversa sobre a criação de empregos é parte dessa esperteza. As demissões na indústria e a baixa qualidade dos postos criados no setor de serviços são temas postos de lado, assim como se tentou fazer com a pesquisa continuada por amostra domiciliar. Esta pesquisa – coincidência notável – vinha apontando taxas de desemprego maiores que as da pesquisa tradicional, mais limitada territorialmente. Para que pensar em modernização econômica, educação séria e criação de empregos decentes, se é muito mais cômodo levar adiante a conversa mole?

Piketty comete erros primarios em seu livro: critica de Robert P.Murphy (Blog Free Advice)

Piketty Can’t Even Get His Basic Tax History Right

Robert P.Murphy 

Blog Free Advice

Capital & Interest

The more I read of Thomas Piketty’s Capital in the Twenty-First Century, the worse it gets. Try this excerpt:
[T]he Great Depression of the 1930s struck the United States with extreme force, and many people blamed the economic and financial elites for having enriched themselves while leading the country to ruin. (Bear in mind that the share of top incomes in US national income peaked in the late 1920s, largely due to enormous capital gains on stocks.) Roosevelt came to power in 1933, when the crisis was already three years old and one-quarter of the country was unemployed. He immediately decided on a sharp increase in the top income tax rate, which had been decreased to 25 percent in the late 1920s and again under Hoover’s disastrous presidency. The top rate rose to 63 percent in 1933 and then to 79 percent in 1937, surpassing the previous record of 1919. [Piketty pp. 506-507]
Look, I don’t mean to be a stickler, but the above tax “history” is totally wrong. Here is the actual history of the top federal income tax rate, from the Tax Policy Center:
2014.05 Top US PIT rate
The column you want to look at is second from the right. A few things:
(1) The top rate was lowered to 25 percent in 1925, not exactly “the late 1920s” and certainly not by Herbert Hoover. (I think the brief 24 percent rate in 1929 was a one-off adjustment in the surtax, but I am not certain and I’m not going to go look it up right now.)
(2) The top rate was jacked up to 63 percent in 1932, not 1933, and it was done by Herbert Hoover, not by FDR. (Note that the 63 percent rate applied to the 1932 tax year, so we can’t rescue Piketty by saying he was referring to the first year of impact rather than the passage.)
(3) The top rate was raised to 79 percent in 1936, not 1937. (If you want to cross-reference another source, this page also agrees that the 79 percent rate kicked in in 1936.)
Now if there had just been one instance of Piketty being off by a single year, I would excuse it by saying maybe he got mixed up in interpreting how US tax laws work. But to say (or did he merely imply?) that Hoover was the one to lower tax rates to 25% is just crazy; Hoover wasn’t inaugurated until March 1929, and the top rate was lowered to 25% back in 1925.
Furthermore, notice that this isn’t an “arbitrary” screwup on Piketty’s part: On the contrary, it serves his narrative. It would be really great for Piketty’s story if the right-wing business-friendly Herbert Hoover slashed tax rates to boost the income of the 1%, thereby bringing in a stock bubble/crash and the Great Depression. Then FDR comes in to save the day by jacking up tax rates. Except, like I said, that’s not what actually happened.
So let’s see: The #1 Amazon bestseller is a work involving a theoretical mechanism that explains how interest rates will interact with GDP growth in order to yield an ever-rising share of capital income, and this is embedded in what is (we are told) a masterful historical analysis of tax policy and income distribution. So far we’ve seen:
(a) Piketty’s theoretical structure suffers from basic confusion, which was so bad that Nick Rowe declared in the comments here: “If an economist writes a whole book about capital and the functional distribution of income, you would think he would at least understand the very basics of the theory of capital and interest. He does not.
Bob is absolutely [right] about this. How come anyone takes this stuff seriously?”
and
(c) Piketty botches basic historical tax facts, in a way that helps his narrative.
But hey, it’s all good. He gives us a scientific justification for taking property away from rich people. Why let the above quibbles get in the way of worldwide confiscation?

15 Responses to “Piketty Can’t Even Get His Basic Tax History Right”

  1. Ash
    One common criticism I hear of Austrians is that the reason they aren’t taken seriously, is because all the “good work” is being done by the mainstream. .
    Well, if making crucial errors in the history of thought and the political history used to buttress your policy conclusions qualifies as doing “good work”, then maybe it’s a good thing Austrians aren’t doing any!
    • Tel
      Even a first year student can calculate the economic justification for selling your opinions on the open market.
  2. AC
    Sorry, you “conservatives” had your chance. DeKrugman said the debate is over.
  3. Obi1Kulinobi
    I have it from secondary scources but i heart that pikety is in favour of Capital tax.
    I wonder if mainstream in this case is base on Ramsey model?I learnt in college that base on Ramsey model capital tax is the worse type of tax, is he dealing with this issue anyhow?
    • Bob Murphy
      Obi, I am going to do a full book review in a week or two. Stay tuned.
      (But, Piketty doesn’t think taxing capital is bad, at least not if it’s limited to the very wealthy. So he rejects the standard arguments that claim taxing capital is much worse than taxing income or consumption.)
  4. Major-Freedom
    Murphy, thanks for all of this. We “Austrians” learned our lesson after Hayek didn’t write a critique of The General Theory because he believed it would be just a passing fad.
    • Enopoletus Harding
      According to Gary North, as next to no one reads the General Theory, a series of critiques of the most popular economics textbooks would be far more relevant.
  5. Ken P
    My guess is that he didn’t feel the need to check his facts because everyone knows that Hoover would have been the one that cut taxes and FDR would have been the one that raised them. Extreme bias causes facts to morph to fit your worldview.
    a) and b) are mistakes that show a lack of scholarly rigor. Bob did a good job of explaining those – even I was able to understand his example. c) would be poor for even a high school term paper.
  6. Cosmo Kramer
    Somehow…. I think these table errors will be allowed to slide under the rug.
    Had the implications been inversed though…http://www.bloomberg.com/news/2013-05-28/krugman-feud-with-reinhart-rogoff-escalates-as-austerity-debated.html
  7. MG
    Bob, look at this other error:
    Again, incredibly sloppy, and always erring on one side of the narrative.
    • Cosmo Kramer
      again….. these policy proposals by statists are racist, period.
      “In 1938 the average hourly wage in manufacturing
      industries was 62 cents an hour. In January, 1968, it was
      $2.64 an hour. But our legislators, not content with this
      general rise in wages due to more and better tools and
      natural economic forces, have decided to keep raising
      the legal minimum wage even faster than the fast-rising
      market average. Thus the statutory minimum was only
      29 per cent of average hourly earnings in manufacturing
      just before the increase in 1950, but 40 per cent
      before the increase of the minimum in 1956,43 per cent
      before the increase in 1961, 47 per cent before the increase
      in 1963, and 54 per cent before the increase in
      1968. The consequence of this is that the legal minimum
      wage was pushed up 114 per cent between early 1956
      and 1968, though average hourly earnings in manufacturing
      rose only 55 per cent. Meanwhile, the Federal
      minimum wage has become effective over a far greater
      range.
      The net result of all this has been to force up the wage
      rates of unskilled labor much more than those of skilled
      labor. A result of this, in turn, has been that though an
      increasing shortage has developed in skilled labor, the
      proportion of unemployed among the unskilled, among
      teen-agers, females and non-whites has been growing.
      The outstanding victim has been the Negro, and particularly
      the Negro teen-ager. In 1952, the unemployment
      rate among white teen-agers and non-white
      teen-agers was the same—9 per cent. But year by year,
      as the minimum wage has been jacked higher and
      higher, a disparity has grown and increased. In Februaryary of 1968, the unemployment rate among white teenagers
      was 11.6 per cent, but among non-white teenagers
      it had soared to 26.6 per cent.”
    • Bob Murphy
      MG thanks! This guy is something else, isn’t he?
  8. Yancey Ward
    If you had shown me the tables and then asked me to describe how Piketty would describe the tax changes, I would have predicted exactly what Piketty wrote. These aren’t errors- they are lies that Piketty hoped no one would catch, but if they were caught, it could be explained away as a “slight error”. Krugman has made this sort of thing into an art form.
    • Bob Murphy
      Yancey, I guess I am more naive than you. I would not have predicted a scholar would put demonstrably wrong historical facts in his book. Like you said, Krugman et al. have totally misled their readers regarding Hoover vs. FDR, but at least he didn’t write things that were flat-out false. Piketty has lowered the bar.
      (I should note that this is through a translator, so it’s conceivable there’s a less sinister explanation. But it doesn’t look good, especially with the minimum wage stuff.)
      • Yancey Ward
        I guess I have seen too many “scholars” put demonstrably wrong facts in their books, and done so deliberately. Then I have seen legions of other “scholars” defend the practice.

Mercenarios fascistas do PT fazem ameacas de morte contra quem nao se submete ao novo totalitarismo

Impressionante como os petralhas se assemelham cada vez mais às milícias nazistas de gangsters politicos que formavam as hostes hitleristas que afundaram a Alemanha 80 anos atrás. Estão dispostos a quaisquer crimes para manter o monopólio do poder.
Nojento! Aliás, é criminoso, e deveria ser investigado como tal. 
Paulo Roberto de Almeida

Como esse, chegam dezenas por dia. É disso para pior. O vocabulário é bem mais agressivo, as ameaças são mais, como posso dizer?, escatológicas e se estendem à minha família. E elas costumam ter um padrão também, já observei aqui. Noventa por cento delas têm ao menos uma destas três abordagens (havendo aquelas que juntam as três): a) anunciam que a hora está chegando; b) falam em tiro na cabeça; c) sugerem alguma forma de violação de caráter sexual, em que o adversário é sujeitado, humilhado, estuprado. A coisa mereceria um estudo sócio-psicológico:
a) A “hora chegando” é um conceito essencialmente fascista; os vingadores, ungidos pela história, se vingam de seus inimigos e os exterminam fisicamente. O discurso-símbolo é aquele feito por Goebbels no dia 10 de fevereiro de 1933, 11 dias depois de Hitler ter sido nomeado chanceler: “Um dia nossa paciência vai acabar e calaremos esses judeus insolentes, bocas mentirosas!”.
b) O “tiro na cabeça” tem um duplo apelo: 1) é um modo clássico de executar pessoas condenadas por crimes de guerra — e isso quer dizer que essa gente se sente, de fato, numa guerra; 2) o tiro na cabeça significa, simbolicamente, um apagamento das ideias dos adversários. O cérebro, que abriga o conteúdo reprovável, será destruído por uma bala.
c) A violação de caráter sexual — e suas variantes — remete à emasculação, à castração do adversário. Creiam: quem apela a essa metáfora precisa apenas das circunstâncias adequadas para se tornar um estuprador: de mulher, homem, criança ou bicho.
Estamos falando de uma horda. Ocorre que ela não é formada ao acaso, não, e conta com um centro irradiador, financiado por dinheiro público. Quem indica os alvos a serem atacados são aqueles que se orgulham de ser chamados de “blogs sujos”: páginas na Internet financiadas pelo governo federal e por estatais para difamar membros do Judiciário, líderes da oposição, a imprensa e os jornalistas independentes. Eleitos os alvos, a rede petralha se encarrega, então, de dar início ao linchamento.
Joaquim Barbosa
Joaquim Barbosa, ministro do STF e seu presidente até novembro, já foi saudado pelos petistas como o “herói negro nomeado por Lula”. Quando ficou claro que ele se limitaria, em todo o processo do mensalão, a seguir a lei, então se transformou no traidor e no demônio de plantão. A rotina foi a mesma: os blogs sujos passaram a disparar as palavras de ordem, e a fascistada, nas redes sociais, com perfis falsos ou verdadeiros, se encarregou e se encarrega da rede de difamação, que logo evolui para a ameaça.

O ministro passou a ser alvo de considerações como esta:
ameaça barbosa 1
Um certo Sérvolo Aimoré-Botocudo de Oliveira, escreveu o seguinte no Facebook (segue a mensagem como lá estava):
JOAQUIM BARBOSA SEU DESGRAÇADO. VOCÊ VAI MORRER DE CÂNCER OU UM TIRO NA CABEÇA. E QUEM VAI MANDAR FAZER ISSO SÃO SEUS “AMIGOS”. SÃO OS SENHORES DO NOVO ENGENHO. SEU CAPITÃO DO MATO. SEU INFÂME. SEU TRAIDOR. TIREM AS MÃOS DOS NOSSOS HEROIS!

Os “nossos heróis” — no caso, deles — são os mensaleiros José Dirceu, José Genoino e Delúbio Soares. Pois bem. Temendo pela segurança de Barbosa, a direção do STF acionou a polícia federal e chegou ao autor das ameaças: Sérvolo de Oliveira e Silva. Quem é ele? É secretário de Organização do Diretório do PT de Natal e, pasmem!, membro da Comissão de Ética do partido no Rio Grande do Norte — imaginem o que não fazem os que não pertencem à dita-cuja… Ah, sim: também é assessor do vereador Fernando Lucena na capital potiguar. Lucena, obviamente, é do PT.
Ele sumiu do mapa. Começou a ser investigado pela PF em fevereiro. Desde esse mês, saiu de circulação para, segundo consta, “cuidar de assuntos pessoais”. Juliano Siqueira, o presidente do partido no Estado, afirma: “Esse cara apareceu aqui no começo do ano. Mandaram de Brasília. Mas nem sei quem é.” Entendo!!! “Mandaram de Brasília”??? Quem “mandaram”, cara pálida? Foi a Direção Nacional do partido?
O que diz Sérvolo?
VEJA localizou o tal Sérvolo. Confirma a publicação das mensagens, mas diz: “Se eu quisesse matar mesmo, apesar de ele merecer (!!!), eu não iria fazer uma ameaça de morte na Internet”. SEM ESSA! Quem adere a esse comportamento delinquente pode não ter a coragem de exercitar a violência, mas está convidando os que têm a fazê-lo. E sempre há os “corajosos” que não covardes o bastante, não é mesmo? Pensem nos casos brutais de que tivemos notícias recentemente. Uma corrente na Internet contra um indivíduo, famoso ou não, poderoso ou não, pode ter consequências trágicas. De resto, incitar a violência é crime.

Aloysio Nunes
Sérvolo é só parte de uma legião. Na terça-feira, vimos a patuscada armada por um conhecido militante-arruaceiro petista chamado Rodrigo Grassi Cademartor, conhecido como “Rodrigo Pilha”, que tem um blog na Internet e era, até há menos de um mês, assessor parlamentar da deputada Erika Kokay (PT-DF). As câmeras do circuito interno do Senado registram com precisão o que aconteceu.
- o tal abordou o senador para lhe fazer perguntas como suposto blogueiro;
- Aloysio respondeu a tudo calmamente;
- o rapaz começou a insultá-lo, acusando-o de envolvimento com o cartel do metrô;
- o senador o chamou de cafajeste;
- “Pilha” confessa, então, que era só uma armação para fazer um vídeo e postar na Internet e chama do tucano “para a porrada”;
- chegou a jogar uma garrafa d’água contra o senador;
- foi detido pela segurança do Senado e solto em seguida.

Assistam ao vídeo. Volto em seguida.

Rodrigo Grassi é especialista em provocação. Na condição de assessor da deputada Kokay, perseguiu e agrediu com ofensas o ministro Joaquim Barbosa — aquele, sabem?, ameaçado de morte pelo tal Sérvolo. Vamos relembrar o vídeo:

Atenção! A deputada Kokay saiu, então, na prática, em sua defesa, afirmando que ele ofendeu o ministro fora do seu horário de trabalho. Depois, acabou afastando-o de seu gabinete, ao menos oficialmente. Republico trecho de reportagem de VEJA sobre esse cara (em azul):
Defensor da ditadura cubana, Grassi comandou a tropa que hostilizou a blogueira Yoani Sánchez quando ela visitou o Congresso Nacional, iniciou uma confusão após provocar o ex-deputado Eduardo Azeredo (PSDB-MG) e ajudou a organizar “protestos” contra o deputado Marco Feliciano (PSC-SP). Também fez questão de passar o dia na porta da Superintendência da Polícia Federal quando os mensaleiros se entregaram no ano passado.
Uma de suas estratégias é insuflar manifestantes em protestos, sem que fique evidente a ligação dos atos com o PT e o gabinete de Érika Kokay. As duas mulheres que também hostilizam Barbosa no vídeo são Andreza Xavier e Maria Luiza Rodrigues, amigas do assessor parlamentar.
Na descrição do vídeo que publicou com a perseguição a Barbosa, Grassi define o presidente do STF como “fascista” e, orgulhosamente, anuncia que o colocou “para correr”. No vídeo, em português sofrível, ataca: “Ele precisa (sic) de andar com muitos seguranças”.
Grassi recebe da Câmara dos Deputados cerca de 4.800 reais por mês. Porque o militante-profissional continua sendo bancado pelo dinheiro público é uma pergunta que a deputada Érika Kokay deveria responder.

Rodrigo Grassi: cerveja, lancha, vida boa, dinheiro público e agressão a quem considera adversário: são os nossos bolivarianos (Facebook)
Rodrigo Grassi: cerveja, lancha, vida boa, dinheiro público e agressão a quem considera adversário: são os nossos bolivarianos (Facebook)

Retomo
Atenção! Gente como Sérvolo e esse tal Grassi são, digamos assim, a linha de choque de uma prática bem organizada, sistemática, metódica, que tem nos chamados “blogs sujos” (e também alguns veículos impressos) a sua expressão supostamente inteligente. É nessas páginas, financiadas por estatais como Caixa Econômica Federal, Petrobras e Banco do Brasil — além dos anúncios do governo propriamente — que os “inimigos” são eleitos. Elas fornecem a suposta munição — no mais das vezes, injúria, calúnia e difamação — para que a tropa ataque na rede e, como se nota, se necessário, na ação física também.

É estupefaciente que o dinheiro público seja usado para financiar coisas assim. E que se note: já nem se trata de patrocinar páginas simpáticas ao governo ou que comunguem de seus valores ideológicos. Nada disso! Trata-se de dar suporte a panfletos dedicados a fazer a defesa do PT e a difamar qualquer um que seja considerado “um inimigo”. Ora, o dinheiro que financia essa canalha também pertence aos ofendidos. Com que direito é escandalosamente privatizado? Normal, não é?, quando se tem uma presidente da República que usa a Rede Nacional de Rádio e Televisão para fazer política partidária e proselitismo eleitoral. Foi tudo planejado junto com a Secretaria de Comunicação do governo, hoje a cargo de Thomas Traumann — a mesma que distribui as verbas de publicidade para os patriotas fazerem o trabalho sujo. Quando não é assim, estão por aí a pedir cabeças de jornalistas aos veículos de comunicação. E pedem mesmo! Não têm nenhum pudor.
Hora dessas, um dos talibãs do petismo põe em prática, para valer, o que seus mestres indiretamente recomendam, financiados com dinheiro público. Como se nota, eles estão perdendo qualquer noção de limite, E vão se tornar mais violentos e mais virulentos à medida que as eleições se aproximam. Imaginem do que essa gente não é capaz se for derrotada na eleição presidencial.
Eu não sei se essa gente deixa o poder em 2014. Tomara que sim! Se não for agora, será um dia. E estejam certos de que a sua história será contada no detalhe. O banco de dados já é gigantesco. O Terceiro Reich era mais ambicioso e violento do que o PT. E deu no que deu. Os “judeus” com os quais Gobbels prometeu acabar naquele fevereiro de 1933 venceram.

sábado, 10 de maio de 2014

Monsieur Piketty e o Brasil: analise de Roberto Ellery

Monsieur Piketty e o Brasil

Blog do Roberto Ellery
1/05/2014

O livro Capital in the Twenty-First Century é certamente o livro do momento entre economistas e demais interessados em temas como distribuição de renda, crescimento econômico e economia política no sentido tradicional do termo. Não vou repetir o que outros já fizeram com mais competência e comentar o livro. Para os interessados basta uma busca na internet para encontrar tantas resenhas quantas queiram. Da resenha favorável feita por Paul Krugman (link aqui) até os comentários mais críticos feitos por Gregory Mankiw (link aqui) e passando por ninguém menos que Robert Solow (link aqui) é possível encontrar comentários sobre o livro que atendam a todos os gostos, recomendo que leiam todos e, se puderem, leiam o livro. Para os que preferem ler em português a Folha de São Paulo publicou um texto do Paul Krugman sobre o livro (link aqui) e tem as resenhas e os comentários de autores nacionais como Rodrigo Constantino (link aqui) e Carlos Góes (link aqui).

Como podem perceber estou atrasado para fazer minha própria resenha. Porém farei uma pequena provocação ao livro sobre um ponto que imagino tenha chamado atenção de economistas que dedicam seu tempo para entender ou pelo menos acompanhar a economia brasileira. Como ainda não vi ninguém trazer este ponto, eu quero crer que desta vez não estou atrasado. Um dos resultados que mais chamam atenção no livro é que o autor encontra uma condição que caracteriza um processo de concentração de renda. A condição é que a taxa de juros seja maior que a taxa de crescimento da economia. A lógica parte da suposição que a taxa de juros representa de forma aproximada a taxa de crescimento do capital. Se o capital cresce mais rápido do que a renda como um todo então a renda dos capitalistas acaba ficando maior em relação à renda dos trabalhadores. O resultado do processo é um aumento da concentração de renda. Piketty argumenta que isto ocorreu no período anterior às Guerras Mundiais e que está acontecendo novamente. Esta explicação para o processo de concentração de renda foi criticada por Mankiw que, de forma bastante apropriada, lembrou que a condição da taxa de juros ser maior que a taxa de crescimento, seguindo Piketty passarei a chamar essa condição de r > g, nada mais é que a condição para eficiência dinâmica.

Mas não estou escrevendo para repetir a crítica do Mankiw. Estou escrevendo para lembrar que existe pelo menos um caso onde a condição r > g foi observada por um período longo e ocorreu redução da desigualdade. O caso somos nós, isto mesmo, o Brasil. A taxa de juros ficou acima da taxa de crescimento da economia em todos os anos desde 2003 (na realidade também era antes de 2003, escolhi o período posterior a 2003 por ser o período que a queda na desigualdade foi mais festejada e comentada), porém em todos os anos o índice de Gini, que mede a concentração de renda, caiu em relação ao ano anterior. A figura ilustra este fenômeno.



As barras azuis mostram a diferença entre a taxa de juros e a taxa de crescimento, r – g, e a linha vermelha mostra o índice de Gini. A menor diferença entre r e g aconteceu em 2010. Durante três anos a diferença ficou acima de 10% e na maior parte dos anos ficou acima de 8%. Mesmo assim a desigualdade caiu. Alguém podia dizer que a queda da desigualdade decorreu de políticas de transferência de renda patrocinadas pelo governo, seria como se o governo estivesse contrapondo a tendência de concentração imposta pela condição r > g. O problema é que o pessoal que estuda desigualdade e pobreza já nos mostrou que a maior parte da redução da desigualdade ocorrida neste período foi devida a salário, também é fato documentado que a participação da renda do trabalho aumentou no período.

Como fica a teoria de Piketty à luz dos dados brasileiros? A teoria não se aplica ao Brasil? Alguma especificidade de nossa economia impediu o resultado previsto de ocorrer? Existem outros países que seguem o mesmo padrão que o Brasil? A teoria de Pikkety está errada? Dúvidas...

ADENDO

André Bueno Castro me cobrou no FB o uso da Selic e não de uma taxa real, ele está certo. Calcular juros reais é tarefa delicada, dentre as opções acessíveis para um post em um blog a mais razoável seria pegar a Selic no início de cada ano e descontar a inflação esperada para o ano, peguei um caminho mais simples e mais sujeito a críticas. Usei a Selic do final do ano, são os valores que estão na figura original, e descontei a inflação. Feito o ajuste o único ano com r- g <0 é 2010. A figura abaixo repete a figura do blog ajustada pela inflação.



A escolha do período não foi descuido nem preguiça, optei por evitar polêmica e peguei só o período pós-2003. Estritamente falando a queda do Gini começou em 1997, no período 1997 a 2003 a taxa de juros ficou bem acima da taxa de crescimento, na realidade os valores de r - g para 1997 e 1998 são tão altos que distorcem o gráfico. De toda forma para os que ficaram curiosos segue o gráfico para o período 1998 a 2012.



*Como os dados do Ipeada não apresentam o Gini para 2000, o valor do Gini deste ano é uma média entre o de 1999 e 2001.