O que é este blog?

Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

domingo, 10 de agosto de 2014

Fronda empresarial: o Brasil precisa de uma - Paulo Roberto de Almeida (Estadao)

O jornal O Estado de S.Paulo, em sua página de artigos de Opinião, traz hoje (10/08/2014), meu artigo mais recente, em que trato, mais uma vez, da necessidade de uma fronda empresarial no Brasil. Nem todos compreendem o significado do conceito de fronda, em sua expressão própria ou em sua analogia histórica, como um dos leitores de quem transcrevo o comentário mais abaixo, juntamente com minha resposta a ele.
Quem desejar ler no site do jornal, eis aqui o link:
http://opiniao.estadao.com.br/noticias/geral,fronda-empresarial-o-brasil-precisa-de-uma-imp-,1541582
Transcrevo meu artigo original:


Fronda empresarial: o Brasil precisa de uma

Paulo Roberto de Almeida

Fernand Braudel, o historiador conhecido por seus estudos sobre a evolução das economias de mercado e sobre a expansão do capitalismo – não confundir as duas coisas: este último é apenas uma, ainda que a mais importante, das formas assumidas pelas primeiras – alertava para uma situação bastante frequente nas interações entre os capitalistas e os donos do poder, representados pelos soberanos, em suas diversas modalidades: reis, príncipes, duques, arrivistas armados, condottieri. Se tratava da colusão entre o dinheiro e o poder, para o mútuo benefício de ambos, em detrimento dos cidadãos, dos súditos, de todos os pagadores de impostos. Na época por ele estudada, os capitalistas eram geralmente mercadores e banqueiros, não aqueles industriais de cartola e charuto que só surgiriam depois de bem implantada a revolução industrial; mas a realidade permanece a mesma, em todas as épocas e lugares.
Os criadores primários de renda e riqueza compram a simpatia dos fazedores de leis e de regras, para que estes “fechem” os mercados de maneira a elevar a taxa de retorno das atividades nas quais os primeiros se encontram engajados, seja no setor produtivo de manufaturas, seja nas intermediações comerciais e financeiras. Ocorre também do príncipe querer consolidar o seu poder, para afastar eventuais concorrentes, passando a adiantar esses favores aos agentes econômicos, em troca do financiamento adequado para justamente reforçar o seu monopólio sobre o poder político. Alguma semelhança ou coincidência com o que ocorre hoje no Brasil? Provavelmente, mas o cenário não é exclusivo do nosso país ou da nossa época. Ele é sustentável, aceitável, moralmente justificado, defensável do ponto de vista dos interesses da comunidade?
No limite, esse tipo de relação espúria entre detentores do poder político e criadores da riqueza primária pode levar a uma exacerbação da exação fiscal e a uma deterioração geral das instituições de comando na sociedade, alimentando corrupção, irracionalidades econômicas, inércia gerencial, falta de inovação e descrédito geral dos cidadãos (de preferência a súditos) quanto ao funcionamento da administração pública. Não parece difícil prever a perda de dinamismo na economia e uma descrença geral na legitimidade da representação cidadã, podendo redundar em acirramento dos conflitos políticos. Estaria ocorrendo isso no Brasil atual? Alguma surpresa quanto ao cenário?
Imagino que todos aqueles capitalistas – já sem cartola ou charutos – e todos os banqueiros, e seus lobistas profissionais, que circulam na capital da república de modo contínuo, já estejam cansados de todas essas petições que são obrigados a fazer, regularmente, para tentar melhorar, um pouco que seja, o seu ambiente de negócios, e para tentar preservar, uma parte que seja, dos resultados de suas respectivas atividades produtivas da sanha dos fiscais da Receita e da selva de novos regulamentos que legiões de burocratas setoriais despejam todos os dias sobre eles. Todos os mandarins da nossa república estão empenhadíssimos em construir um Brasil melhor para todos, e por isso precisam retirar os recursos de alguma parte, onde eles estão: nos caixas das empresas e nos bolsos dos cidadãos de classe média, simples trabalhadores indefesos.
Por que será que os nossos capitalistas – industriais, agrícolas e de serviços –, aparentemente tão robustos e tão conscientes da riqueza que geram em benefício da sociedade, resolvem se dobrar a partidos políticos, entregar a eles uma parte dessa riqueza criada com o suor do seu rosto (enfim, a maioria, uma parte se encosta nos empréstimos do BNDES), decidem se submeter a políticos notoriamente incompetentes e aceitam, além disso, fazer a via crucis a Brasília para pedir favores aos governantes? Para mim é um mistério, mas provavelmente tem a ver com a constituição do próprio capitalismo no Brasil, sempre embalado nos braços do Estado, alimentado no leite generoso dos subsídios e da proteção oficial, enquadrado por burocratas eficientes na regulação setorial e na captura de benefícios associados e continuamente mantido sob rédeas curtas por esse mesmo Estado, onipotente, nem sempre onipresente, mas certamente perseguindo como uma sombra o itinerário das riquezas criadas pelos capitalistas em seus afazeres cotidianos.
Se esses capitalistas lessem os livros de história saberiam que os países que alcançaram patamares significativos de prosperidade material e de bem estar coletivo foram aqueles que mais souberam defender as riquezas privadas da cobiça de aventureiros improvisados e de soberanos instalados. Para isso, os barões e os burgueses de outros séculos tiveram de decapitar, guilhotinar, ou exilar alguns dos que tentavam se assenhorear de uma parte desproporcional da sua riqueza. A condição essencial dos progressos materiais está justamente na defesa da propriedade, e é essa defesa que garantiu a pujança das economias de mercado que puderam dispor, paralelamente, de Estados contidos pela sociedade em face de soberanos tendencialmente autocráticos. A despeito de outras evidências históricas, e do que possa ter dito Fernand Braudel, esses fatos também fazem parte da história.
Foram essas frondas que permitiram a acumulação de riqueza e o bem estar de capitalistas e trabalhadores. Malgrado tentativas de “pikettyzação” do debate – uma transpiração estatística para provar que a acumulação se dá em detrimento da maioria e em favor de uma minoria – o fato é que as sociedades ficaram mais ricas lá onde a liberdade econômica foi a mais ampla; a emergência de um punhado de superbilionários jamais impediu a formação de novas fontes de riqueza; ao contrário, até estimulou outros que também buscavam essa condição. Que tal uma fronda no Brasil?

[Hartford, 28 de julho de 2014

==========

Um leitor não entendeu muito bem o que eu queria dizer, e escreveu o seguinte comentário a este meu artigo:

On Aug 10, 2014, at 9:21, ARIOVALDO BATISTA <ariobaxx@xxxxx.com> wrote:

Para começar foi difícil entender o linguajar do professor provavelmente de história e diplomata sr. Paulo R. de Almeida. Fronda que não encontrei em dicionários que tenho, parece que se refere ao termo ' La Fronde' de uma revolução social na "França das luzes" de Luiz XIV, na realidade um "ensaio" para a Revolução Francesa ocorrida no final do séc. XVIII, junto com a independência americana. Discordando um pouco do professor sobre a Revolução Francesa, não se tratou de uma revolução social propriamente dita, MAS DA PRIMEIRA INTENTONA COMUNISTA MAL SUCEDIDA, a segunda foi a Soviética depois da I Guerra. Ambas, incluindo a independência americana, a "história dos bastidores" até mais confiável, diz que foram financiadas pelos grandes banqueiros Rotschild, Rockfeller e Morgan, PORTANTO, NADA DE SOCIAL, mas negociatas de banqueiros mesmo.
Pelo que se depreende do texto, o autor parece dizer que a administração pública em particular no Brasil, ESTÁ TÃO EM DESCRÉDITO pela imoralidade, burrices, incompetências etc etc., que respinga para os assuntos econômicos. E daí estaria propondo uma "revolução empresarial" nos moldes da revolução social iniciada na tal "La Fronde", e ainda inacabada pela cambada comunista que ainda deita e rola nas ideologias políticas e até econômicas?
Parece que é isso que se pode concluir do texto complicado do sr. Almeida, que o Estadão apresenta no sua parte editorial.

Ariovaldo Batista
s.b.do campo sp

=======
Ao que eu respondi isto:



    Sr Ariovaldo,
    Sinto muito não ter sabido me fazer entender por todos os que leram o meu artigo, mas creio que ele cumpriu pelo menos uma missão: a de fazer alguns leitores, no caso o Sr mesmo, buscar nos dicionarios ou na internet, o significado da palavra fronda, que poderia ser entendida, genericamente, como uma revolta das elites contra um soberano arbitrário e extrator de recursos.
    Basicamente é isso, e fora disso o que temos são revoluções. Estas não são planejadas, encomendadas ou organizadas, simplesmente acontecem em situações extremas de crises sociais profundas, e acabam sendo precipitadas pela ação de forças incontroláveis. Então, partindo da premissa de que o Brasil está em crise, não profunda, mas numa situação de baixo crescimento, inflação em alta, contas públicas em déficit e contas externas também, podemos concluir que seria preciso fazer alguma coisa.
    Imagino que o Sr. concorde também que a indústria perde cada vez mais competitividade, o que vai gerar desemprego e novo aprofundamento da crise econômica.
    Em face disso, o que recomendei foi uma revolta empresarial, pois imagino que o Sr. também concorde comigo que o Estado extrai recursos em montantes exagerados do nosso empresariado.
    Foi isso basicamente. Grato pela mensagem.
-----------------------------------
Paulo Roberto de Almeida

Raoul Wallenberg, salvador de judeus: em tempos obscuros, surgem homens dignos...


Schindler sueco' desafiou nazistas e salvou judeus da morte há 70 anos
SILVIO CIOFFI
OLIVIA FREITAS
DE SÃO PAULO
09/08/2014  Folha.Mundo.

Em julho de 1944, o sueco Raoul Wallenberg tinha 31 anos e uma missão na cabeça: salvar da deportação nazista estimados 100 mil judeus-húngaros que ainda viviam em Budapeste.
Naquele mês, ele chegava à Embaixada da Suécia na capital da Hungria.
Até essa data, o alemão Adolf Eichmann (1906-1962), oficial nazista em Budapeste, já havia enviado cerca de 400 mil pessoas ao campo de extermínio de Auschwitz-Birkenau, na Polônia.
Formado em arquitetura pela Universidade de Michigan (EUA) e vindo de uma família conhecida como "os Rockefellers da Suécia", Wallenberg contou com mais do que um clã influente para adquirir imunidade diplomática sueca e, com ela, agir numa Budapeste convulsionada pela ocupação alemã.
A ajuda extra veio do presidente americano Franklin Roosevelt, que nos derradeiros seis meses da guerra criou a organização "War Refugee Board", à qual o governo sueco aderiu.
A Suécia era neutra na Segunda Guerra Mundial; assim, na condição de diplomata (embora não de carreira), Wallenberg pôde emitir passaportes provisórios ("shutz-passes") e alugar prédios que, pintados de amarelo, serviriam de moradia e de "território seguro", garantindo a sobrevivência para milhares de perseguidos.
Por sua atitude, Wallenberg passou a ser chamado de "Schindler sueco", uma referência ao industrial alemão Oskar Schindler (1908-1974), famoso mundialmente por ter salvado cerca de 1.200 judeus do Holocausto, a maioria empregados de suas fábricas.
No último dia 9 de julho, em memória aos 70 anos da chegada de Wallenberg a Budapeste, o Congresso americano lhe concedeu postumamente a Medalha de Ouro. A honraria foi recebida por sua irmã, Nina Lagergren.
DISCUSSÃO ÁSPERA
Inimigos nada cordiais, Wallenberg e Eichmann possivelmente discutiram as deportações de judeus num jantar na casa do diplomata sueco Lars Berg, no fim de 1944.
Berg relembrou o diálogo áspero que ambos teriam tido em entrevista publicada pela "The New York Times Magazine" em 1980. "Foi um jantar especialmente civilizado para uma época brutal. Tomamos brandy, ninguém falou alto, mas era possível ver o fogo da artilharia russa através da janela [o Exército Vermelho começava o cerco a Budapeste para expulsar os nazistas]."
Nesse encontro, Wallenberg teria afrontado Eichmann e dito: "Veja, você tem que enfrentar isso. Perdeu a guerra. Por que não desistir agora?"
Eichmann teria respondido que o fim até poderia estar próximo, mas continuaria a fazer seu trabalho, mesmo que fosse morto.
Então, sempre de acordo com o relato de Berg, Eichmann e Wallenberg se encararam. "Não pense que você é imune só porque é um 'diplomata neutro'", teria dito o alemão.
Coincidência ou não, alguns dias depois, o carro diplomático de Wallenberg, sem a sua presença, foi esmagado por um caminhão.
Presidente do instituto que leva o nome de Raoul Wallenberg, o empresário argentino de origem armênia Eduardo Eurnekian, 81, que administra 52 aeroportos e é dono de bancos e vinícolas, diz não ter dúvidas de que Eichmann tinha conhecimento das atividades de Wallenberg.
Eurnekian o define como "brilhante, charmoso, falante e cheio de imaginação", além de ter sido "um dos principais salvadores que a humanidade já teve".
SUMIÇO E MISTÉRIO
Seis meses após a chegada de Wallenberg a Budapeste, o Exército Vermelho concluiu a ocupação da cidade, em 17 de janeiro de 1945.
Como os soviéticos eram aliados dos americanos, ele foi ao encontro do general russo Malinovsky.
Quando essa reunião ocorreu, a diplomacia soviética enviou telegrama aos suecos dizendo que Wallenberg estava a salvo, mas ele nunca mais foi visto.
A mãe de Wallenberg procurou a embaixada soviética em Estocolmo, capital sueca, em 1945, com um pedido de esclarecimentos sobre seu paradeiro. Como resposta, ouviu que ele "estava bem de saúde, num local seguro, em Moscou".
A diplomacia sueca não fez muito empenho em afrontar a União Soviética, pois Wallenberg não era, de fato, um diplomata de carreira. E, à época, ninguém queria confusão com os soviéticos.
Em 1947, um informe da chancelaria em Moscou disse que Wallenberg tinha morrido depois de sofrer um ataque cardíaco.
Logo depois, no mesmo ano, um encarregado de negócios estrangeiros soviético respondeu à questão do paradeiro de Wallenberg de modo diferente: "Ele não é uma pessoa conhecida na União Soviética".
Surgiram, então, rumores de que ele tinha morrido numa escaramuça de rua durante a tomada de Budapeste.
Em 1957, vários prisioneiros foram libertados e, entre eles, houve quem confirmasse ter visto Wallenberg num 'gulag' (campo de trabalhos forçados) soviético, afirmando que se referiam a ele como "o prisioneiro número 7".
ESPIÃO?
Presidente do instituto, Eurnekian acredita na possibilidade de o ditador soviético Josef Stálin (1878-1953) ter inferido que a operação de resgate dos judeus-húngaros poderia ser apenas um disfarce para Wallenberg, pois havia a suspeita de ele ser um espião a serviço dos EUA.
Hoje é sabido que Wallenberg tinha contato com agentes do Escritório de Serviços Estraégicos (OSS, na sigla em inglês), o serviço de segurança americano durante a Segunda Guerra, que foi o predecessor da CIA.
Especula-se que ele tenha sido cooptado ainda bem jovem, quando estudava na Universidade de Michigan.
"O sumiço de Wallenberg é um capítulo da história que permanece em aberto, e a verdade ainda pode emergir com a abertura de arquivos da burocracia moscovita", afirma Eurnekian.
O instituto que ele dirige oferece recompensa de € 500 mil (aproximadamente R$ 1,53 milhão) para quem der informações que ajudem a esclarecer o paradeiro de Wallenberg. 

Getulio Vargas: terceiro e ultimo volume da biografia de Lira Neto


Crise política fecha trilogia sobre Getúlio Vargas
ELEONORA DE LUCENA
DE SÃO PAULO
Folha.Ilustrada, 09/08/2014 


GETÚLIO (1945-1954)
AUTOR Lira Neto
EDITORA Companhia das Letras
QUANTO R$ 49,50 (448 págs.)

Há 60 anos o Brasil vivia uma aguda crise política. Getúlio Vargas tinha aumentado em 100% o salário mínimo e provocara a ira de empresários e comandantes militares. Os Estados Unidos estavam incomodados com a limitação de remessas de lucros de companhias estrangeiras no país, o estabelecimento do monopólio estatal da exploração do petróleo e a recusa de envio de brasileiros para a guerra na Coréia.
No Congresso, barulhentos conservadores falavam em mar de lama no governo. Na madrugada de 5 de agosto, a notícia do atentado contra Carlos Lacerda, com a morte do major Rubens Vaz, acelerou a turbulência, que culminou com o suicídio de Getúlio, no dia 24. A comoção que tomou conta do país adiou os planos da oposição, que só conseguiu se rearticular na trama do golpe de 1964.
A narrativa desses tempos conturbados é o ápice do último livro da trilogia "Getúlio", do jornalista Lira Neto, que chega agora às livrarias, abarcando o período de 1945 a 1954. No conjunto, o autor trabalhou cinco anos na biografia do líder político. Os dois primeiros volumes venderam no total 79 mil exemplares; esse novo sai uma tiragem de 40 mil.
"Não acredito em biografias definitivas. Getúlio é ainda um território vasto a ser explorado. Ele é o personagem mais importante da história brasileira, para o bem e para o mal. Não sou louco de tentar defini-lo", diz Lira, 50, à Folha.
Para ele, Getúlio deixou um amplo legado, que extrapola a política. "Ele modernizou o Brasil, tirou o país de uma situação agrária e o conduziu para um projeto de desenvolvimento, com uma legislação trabalhista que era moderníssima para aquele momento. A pergunta que faço é quanto disso poderia ter sido conquistado com mais democracia", avalia.
Apesar de ter sido investigada em centenas de livros, a trajetória de Getúlio ainda contém aspectos nebulosos. "Há determinadas coisas que não permitem fazer uma narrativa pronta, única e acabada", diz Lira. Exemplo principal: o assassinato do major Vaz, que fazia a segurança de Lacerda, na rua Tonelero, em Copacabana.
"O que aconteceu de fato naquela noite nunca vamos saber. Lacerda contou a história de duas formas diferentes e nunca entregou a sua arma para perícia. Os interrogatórios da investigação do caso foram conduzidos, digamos, de forma pouco polida. Pessoas interrogadas [na chamada "República do Galeão] relataram, se não a tortura física, a psicológica. Sofreram ameaças. Todas as perguntas desse caso estão em aberto", afirma o autor.
Se hipoteticamente pudesse perguntar algo a Getúlio, o jornalista trataria do caso da venda da fazenda de Maneco Vargas, filho do presidente, a Gregório Fortunato, chefe da guarda e já envolvido no caso Vaz. Na visão de Lira esse escândalo foi crucial para o desfecho da crise.
"Foi o grande golpe naquele instante final de isolamento", diz. O jornalista lembra que "mesmo os antigetulistas mais ferrenhos não se arriscam a acusar Getúlio de ter se beneficiado financeiramente do poder. O homem mais poderoso da história do Brasil de todos os tempos tinha dificuldades para pagar contas. Em São Borja, seu patrimônio era quase ridículo. Por isso, naquele momento, aquela revelação o feriu".
Para além da crise final do governo, Lira trata, nesse terceiro volume, do exílio de Getúlio em São Borja, das suas articulações políticas para a volta à cena nacional, da campanha vitoriosa à presidência. Para isso, utiliza com fartura mais de 1600 páginas de cartas trocadas com a filha Alzira _"um tesouro virgem", diz o autor.
Também os originais nunca publicados de uma segunda obra de Alzira sobre o pai são importantes no texto. O período anterior a 1950 têm, relativamente, bastante espaço. Com isso, a narrativa sobre o governo propriamente dito não fica prejudicada? Lira discorda. Para ele, o livro discorre bem sobre a assessoria econômica paralela criada por Getúlio para gestar seus grandes projetos.
Chamados "boêmios cívicos", o grupo arquitetou o BNDE, a Petrobras, a Eletrobras, contornando as limitações de um ministério conservador, formado em razão de negociações políticas. "Todo esse projeto desenvolvimentista não poderia passar pelas vias tradicionais do congresso", avalia.
Lira enxerga paralelos entre as turbulências do governo de Getúlio e a situação atual. "Sessenta anos depois estamos discutindo as mesmas coisas de quando ele estava no poder: mais ou menos estado, o quanto é possível falar em mão invisível do mercado num país com tantas contradições. Isso é um sintoma até grave", analisa.
Para o biógrafo, hoje, como naquele tempo, o debate político acontece em torno de posições extremadas —"nem sempre com o mesmo brilhantismo dos polemistas daquela época". Ele próprio sentiu isso há alguns dias quando, numa rede social, apareceu uma foto sua entregando o novo livro ao ex-presidente Lula.
"Lula me convidou para um almoço. Eu não vou? É uma questão de cortesia, de educação. Mas pessoas, até amigos, disseram que eu estava mancomunado com mensaleiro, que tinha virado um 'petralha'. Uma incompreensão do ofício do jornalismo, uma reação muito raivosa".
Na semana que vem Lira pretende começar a definir seu próximo projeto. Não uma biografia, mas algo ligado à cultura do século 20.

A politica externa e a diplomacia da Gra-Bretanha - book review

Recebido, da lista de História Diplomática:

H-Net
Greetings Paulo Almeida,
New discussion post items have been posted in H-Diplo.

Turner on Baxter and Dockrill and Hamilton, 'Britain in Global Politics Volume I: From Gladstone to Churchill'

Christopher Baxter, Michael L. Dockrill, Keith Hamilton, eds. Britain in Global Politics Volume I: From Gladstone to Churchill. Security, Conflict, and Cooperation in the Contemporary World Series. Houndmills: Palgrave Macmillan, 2014. 312 pp. $100.00 (cloth), ISBN 978-0-230-36044-0.

Reviewed by Michael J. Turner (Appalachian State University)
Published on H-Diplo (August, 2014)
Commissioned by Seth Offenbach

This fine collection of essays was put together by the colleagues, pupils, and friends of Saki Dockrill, whose premature death in 2009 robbed the fields of international relations, Cold War history, and conflict and security studies of a notably gifted scholar. Most of the essays deal directly with some of the issues that Dockrill addressed in her own work. So many contributions were offered, in fact, that it was decided to publish two volumes, an eloquent testament to her as a person and an academic.

This first volume opens with an introduction by Brian Holden Reid, who was for a time head of the Department of War Studies at King’s College, London, where Dockrill was a student and later a professor. Sympathetic and touching, with a fair-minded assessment of her publications, the introduction makes it clear that she was at the height of her intellectual powers when she died, making her loss all the more poignant. She contributed so much, not only with books and essays but also as editor of book series, opening the way for other scholars to publish their research. Even those who did not know her personally (this reviewer included) would agree that her work—and especially her ideas about West German rearmament in the early 1950s, the national security policy of the U.S. government in the Dwight Eisenhower years, and British withdrawal from East of Suez—will stand the test of time.[1]

The first of the essays in this collection, by T. G. Otte, focuses on Anglo-Russian relations. Otte contends that the phrase “Cold War” can reasonably be used about periods before (as well as after) the Second World War, if taken to mean a sustained enmity that falls short of armed conflict, as with British efforts to contain Russian expansionism. “Concerns about Russia,” Otte writes, “ran like a golden thread through the texture of British policy in the nineteenth and twentieth centuries” (p. 19). The British tried to exploit Russia’s problems (especially financial), encouraged proxies to assist in deterring Russia, and made alliances. Policy was “underpinned by occasional flashes of belligerence” (p. 40). It is useful to think of “Cold War” in this way, and to take the longer view of conflict and competition. But does this apply only to bilateral relations? In light of Otte’s remarks we might revise our perspectives on other historical “Cold Wars,” and at least try to determine the extent to which his approach helps us to understand multilateral relations.

John Fisher’s essay concerns Curzon’s tenure as Britain’s foreign secretary, 1919-24, and his goal of boosting the security of the empire (unsurprising for a former viceroy of India). Curzon believed assertion, preemption, and expansion to be appropriate if they served this end. He was suspicious of Wilsonian peacemaking, though used Woodrow Wilson’s rhetoric when it suited British interests; and he was dubious about the strength and reliability of France. Although he was not without talent and vision, Curzon proved to be a failure. He could not find a way to cooperate effectively with Britain’s allies, and he offended colleagues in the government with his egomania and volatility. He did not adapt quickly enough to changing international circumstances and was also undone by shifts in government thinking, particularly when “retrenchment” trumped “security” (p. 62). Fisher provides telling insights into the choices and complications facing British leaders after the First World War, and fills out our picture of one of the key figures of the time. His opinion of Curzon accords in some respects with that of David Gilmour, who has offered a generally positive view of Curzon’s performance as foreign secretary in Curzon: Imperial Statesman, 1859-1925 (2003). Curzon understood the geopolitical ramifications of the First World War and knew that it was in large part a clash of empires. After the war—no less than before it—Britain had to operate a global system and deal with interconnected problems in a global context, and perhaps other historians (notably G. H. Bennett in British Foreign Policy during the Curzon Period, 1919-1924 [1995]) have underestimated Curzon’s role.

Martin Thomas, examining British colonial governance after the First World War, points to the belief that control could be enhanced through new technology. Aircraft were to provide intelligence and assist with policing. Judging by events in Mesopotamia, however, these expectations were not fulfilled. Subjects did not respond as their colonial rulers desired; British air power was used to inflict wanton death and destruction; and there were huge difficulties beyond the practical need to keep order and promote obedience—not least because of the raising of moral and legal questions about air attacks. Of course, the propriety of certain weapons and tactics is an issue with which the international community is still grappling. This essay offers a valuable historical perspective. It is an interesting study of some problems Britain had to cope with in maintaining prestige and power after the First World War. Many of the colonies were restive in these years, and there were grave concerns about the Middle East in particular, a British sphere of influence that loomed large in wartime and postwar strategy. This was not simply because of the route to India. As Elizabeth Monroe (Britain’s Moment in the Middle East, 1914-1971 [1981]), among others, suggested some years ago, the idea was to benefit and serve selected regional peoples while also protecting British interests. Thomas reminds us of how badly this was carried out, whatever the intentions of imperial decision makers in London and the Middle East.

Keith Hamilton’s essay on the vetting of diplomatic and ministerial memoirs in the interwar period highlights the Foreign Office position that it would be dangerous to permit discordant versions of history to be disseminated, especially if they undermined the post-1918 peace settlement. Ways were found to threaten and penalize the writers, citing the national interest, which dictated that Britain’s relations with foreign powers ought not to be complicated by troublesome scribblers. But there was no consistency. No clear rules were observed; much depended on the rank and influence of the writer; and defending or sustaining reputations counted for more than serving the national interest. Hamilton offers a fascinating and informative contribution to a somewhat understudied topic.

Christopher Baxter discusses the case of Hilaire Noulens, a Soviet agent arrested in China in 1931. Revelations resulted about Soviet espionage and Baxter relates these to a wider theme—paranoia—with British intelligence chiefs making anxious assumptions about Soviet strength and intentions. The Noulens affair heightened British fears about the Soviet Union but also made communist conspiracy in China seem more of a threat than Japan’s capacity for military aggression. Success against the Comintern became “a double-edged sword” (p. 147). Baxter’s account will prompt further thinking about intelligence gathering and evaluation, the management of perceptions, and in particular the durability —or vulnerability—of Britain’s position in the Far East between the wars.

Whatever such concepts as “balance of power” and “appeasement” might have meant later, B. J. C. McKercher’s essay demonstrates that British leaders in the interwar years understood them to be robust, sensible, and realistic. During the 1920s there was a toughness and resilience to British policy. Strategic compromises were avoided and force was used when necessary to maintain a balance of power, and this lasted into the 1930s. Appeasement was well established: “just one of a number of tactical alternatives in the planning and execution of British foreign policy” (p. 153). Neville Chamberlain took control in 1937 and there was a change of emphasis because the fixation with balance of power brought too many risks. The new plan was neither weak nor confused. More risk averse, and not inflexible, it probably brought a clarity that the usual opportunistic, wait-and-see approach could not deliver. McKercher’s essay is another convincing addition to appeasement scholarship. Activity that was long regarded as foolish and irrational has for many years been seen as anything but; and one might profitably supplement McKercher’s analysis with others—the study of Chamberlain as a tragic victim of bad luck as well as his own poor judgment, for instance, or the appreciation of domestic and international constraints on the deterrence as well as the concession side of British diplomacy.[2]

Philip Bell’s essay focuses on Winston Churchill’s belief that Britain could work wholeheartedly with France to contain Germany. To Churchill, the French army in the 1930s was strong enough to deter. As Bell shows, however, there were large flies in this ointment: lack of respect and affection for France, the growing sense that Germany had a strong case against the Treaty of Versailles, and Churchill’s own inconsistencies. Churchill’s policy was less a viable alternative to appeasement than a basis for post-appeasement decision making. This essay offers further information about the options available (or thought to be available) in the 1930s, and makes plain the shortcomings as well as strong points in Churchill’s assessment of the international situation.

Britain’s dealings with Spain during the 1930s and 1940s provide the subject of Glyn Stone’s essay. During the Spanish civil war the British adhered to nonintervention, hoping to prevent escalation and reluctant to recognize the legitimacy of either side (essentially, the war was taken as a struggle between two forms of totalitarianism). After the establishment of the oppressive Franco regime, British leaders veered between efforts to restore democracy and a willingness to let matters lie, which is what the United States preferred to do in the aftermath of the Second World War. Following the enunciation of the Truman Doctrine in 1947, and in view of the need to put together an anti-communist front in Europe, the British were content to abide by the policy of noninterference in Spain’s domestic affairs. Stone’s essay demonstrates once again how shifting priorities and conditions can work against or allow statesmen to pursue a line that seems to be indicated by consistency and principle.

Joe Maiolo’s essay concerns Chamberlain’s policy in the Phoney War. Chamberlain wanted to try nonmilitary means to remove Adolf Hitler from power, and decided that economic pressure might lead to the fall of the Nazi government or push Hitler into a drastic maneuver that would fail and prompt regime change. This was an attractive prospect for Chamberlain: he was determined to minimize casualties, limit the financial cost of the war, and end the war as soon as possible. It all came to nothing. Chamberlain was mistaken, force was necessary, the war went on. Again, though, a verdict that cites bad luck rather than weakness or self-delusion might be in order, for it was not inevitable that Germany would get through the Phoney War. Maiolo cites Carl von Clausewitz’s emphasis on chance: “That Hitler’s gamble against the odds in the Battle for France paid off in the short run is evidence that Clausewitz was correct about the ungovernable role played by chance in war and not that Chamberlain’s Phoney War strategy was wrong” (p. 221). Opinions might differ about this, but there is more to Maiolo’s contribution than speculation about the role of chance in history. This essay adds greatly to our understanding of the course of the Second World War and raises questions about the likelihood of regime change in Germany (might the military chiefs have ditched Hitler?) and of course about Chamberlain’s judgment.

American opinion about the British Empire during the Second World War is Andrew Stewart’s topic. Stewart investigates the work of a committee, set up late in 1942, that was designed to assist in mitigating American hostility toward the empire and convincing the U.S. government that it would need the help of Britain and its empire in the creation and running of an amenable postwar world order. Fear had grown after the fall of Singapore, lest that disaster be taken as sign that the British Empire was heading for collapse, not recovery, and could not be the asset it might once have been. Stewart highlights the Canadian input, especially through a journalist, Graham Spry, and the inconveniences arising from American ambivalence toward Britain and lack of knowledge of Britain and its empire. The British sought to guide U.S. policy and “play Greece to their Rome,” but the likelihood of this seemed small as the war came to an end (p. 257). One point of tension between British and American leaders is explored in the essay by Saul Kelly, which deals with disagreement about the fate of Italy’s colonies. The British favored wide consultation involving all interested parties, to be followed by partition of territories and the drawing of new frontiers. The Americans pushed instead for international trusteeships, to lead to the creation of independent states that would enter into economic and security relationships with the United States. The British were alarmed because the Americans seemed unconcerned about Britain’s own security interests and were even willing to offer a role in the trusteeships to the Soviet Union (as a lever to obtain Soviet agreement on other issues). Stewart and Kelly demonstrate yet again that the “special relationship” was really a friendship full of reserves, in line with the skeptical strand in the relevant historiography. The British had to figure out just how trustworthy, reliable, and collaborative the Americans were prepared to be. No clear pattern would emerge, since conduct on both sides depended on time, issue, and circumstance. Debate about the “special relationship” will go on—as with the interesting but problematic thesis recently advanced by Simon Tate in A Special Relationship? British Foreign Policy in the Era of American Hegemony (2012), that the “special relationship” consisted of a division of labor between two partners (unequal, but still partners in a hegemonic framework). The findings of Stewart and Kelly encourage another look at familiar themes in this debate, not least Britain’s awareness of its limited reach and relative weakness, the lack of options other than reliance on America, and the tendency of British governments to exaggerate the success of their efforts to shape U.S. policy.

Essay collections are often patchy in quality and usefulness, but not this one. All the contributions are strong. They represent well-written, detailed, intelligent, and expertly researched contributions to the topic areas they cover. The essays are not subdivided into thematic categories but arranged in roughly chronological order; and though they do touch on interests shared with Saki Dockrill, mostly they reflect the current scholarly concentrations of the individual authors. The essays are pitched at a high level and do not confine themselves to familiar milestones and problems or the conventional markers and discussion points in Britain’s changing international status and influence in the era of the two world wars—meaning that students will probably benefit less from this collection than specialists, unless they have done plenty of supplemental reading. There is no volume bibliography, but each chapter has endnotes. The book includes an adequate if brief index.

Notes

[1]. I for one am indebted to Saki Dockrill for sections of my British Power and International Relations during the 1950s: A Tenable Position? (Lanham: Lexington Books, 2009) and An International History of British Power, 1957-1970(Youngstown: Teneo Press, 2010).

[2]. John Charmley, Chamberlain and the Lost Peace (London: Hodder and Stoughton, 1989); and James P. Levy, Appeasement and Rearmament: Britain, 1936-1939 (Lanham: Rowman and Littlefield, 2006).

Printable Version: http://www.h-net.org/reviews/showpdf.php?id=42121

Citation: Michael J. Turner. Review of Baxter, Christopher; Dockrill, Michael L.; Hamilton, Keith, eds., Britain in Global Politics Volume I: From Gladstone to Churchill. H-Diplo, H-Net Reviews. August, 2014.
URL: http://www.h-net.org/reviews/showrev.php?id=42121

This work is licensed under a Creative Commons Attribution-Noncommercial-No Derivative Works 3.0 United States License.

Read more or reply
You can manage your notification settings at https://networks.h-net.org/user/126802/notifications

Please help us keep H-Net free and accessible. $5 from each of our subscribers would fund H-Net for two years. Click here to make a tax-deductible donation online.

If you need assistance, please visit the Help Desk.

Wikipedia do Planalto: imagine a CIA editando o perfil da soberana...

Caro leitor: você que é uma pessoa esclarecida já sabe que computadores do Estado brasileiro, alías do governo atual, por acaso hospedados no Palácio do Planalto -- que dizem que serve para administrar o país, mas nas horas vagas os companheiros se dedicam mesmo a demonizar seus adversários políticos, que eles veem como inimigos -- alteraram perfis biográficos de dois jornalistas brasileiros muito conhecidos por suas críticas às políticas econômicas esquizofrênicas desse mesmo governo de celerados, em tom bem mais ameno do que as que você pode encontrar por aqui.
Enfim, eu não preciso responder a um editor de jornal, para dizer o que penso dos atuais ocupantes do palácio presidencial.
Mas, imagine caro leitor, se fosse a CIA a ter alterado a biografia da nossa cara soberana, aquela mesma que já tinha sido fraudada anteriormente para mostrar um mestrado e um doutorado inexistentes, nunca antes (e depois) vistos nos registros daquela universidade que já abrigou outra tese fraudada, a de um ministro que precisava desesperadamente de um título de doutor, antes de assumir um cargo nesse mesmo governo esquizofrênico? Imagine isso.
Imaginou?
Já pensou o escarcéu que estariam fazendo os companheiros contra a CIA, o imperialismo, o governo estadunidense? Não poderiam declarar guerra, é verdade, mas seriam até capazes de retirar o embaixador, como já fizeram em ocasiões anteriores, para demonstrar contrariedade.
A soberana disse que lamenta o ocorrido, e que vai mandar investigar. Balela (eu ia escrever mentira, mas acho que posso esperar pela próxima balela), pois descobrir quem fez é a coisa mais fácil do mundo.
Está tudo explicado em artigo do jornal O Globo, que reproduzo a partir da coluna do jornalista Políbio Braga, que já foi objeto, ele também, de ataques dos mercenários a soldo do partido totalitário que nos governa.
Parece que ninguém mais se comove com o espetáculo de fraudes contínuas, de patifarias regulares que nos veem dos mais altos escalões da república. Será que os brasileiros estão anestesiados ante o espetáculo de crimes políticos cometidos de forma intensa pelos companheiros?
Eu não deixo de registrar, pois isso apenas me confirma o que venho dizendo há muito tempo: o Estado brasileiro foi tomado de assalto por uma máfia, que pretende se eternizar no poder. Vamos deixar?
Paulo Roberto de Almeida

Conheça o programa (software) que identifica os IPs do Palácio de Dilma usados para difamar adversários e caluniar jornalistas

Coluna do jornalista Políbio Braga, 10/08/2014
O programa que identifica o IP, o Protocolo de Internet,uma espécie de DNA do computador usado, chama-se  @brwikiedits. Ele divulga no Twitter quando um verbete na Wikipédia é alterado por um computador do governo. A inforemação é do jornal O Globo de hoje. 
. Isto significa que um governo não precisa de 90 dias para saber de que computador do Palácio do Planalto e quem o usou para difamar jornalistas e políticos.
. O @brwikieditrs não está sozinho na empreitada. O @parliamentedits, por exemplo, presta serviço semelhante, entregando as vezes em que um computador do Parlamento inglês faz alguma modificação. O mesmo faz o @congressedits, mas com o Congresso americano.
. Foi este que serviu de inspiração para o desenvolvedor Pedro Felipe Melo Menezes, de 18 anos, que criou a versão brasileira do serviço no início de agosto. Morador de Natal, ele explica que buscou o registro dos provedores do governo e, a partir daí, encontrou os IPs. Sempre que há uma alteração, é seu robô que publica no Twitter.
— O programa em si já existia, e seu código de programação é livre. Só precisei adaptar com os IPs brasileiros. Sou da área de TI, mas gosto muito de acompanhar a política — conta o estudante de Análise e Desenvolvimento de Sistemas do Instituto Federal do Rio Grande do Norte.
. Segundo Menezes, todos os órgãos federais já são monitorados pela ferramenta.
. O Serviço Federal de Processamento de Dados (Serpro) informou que já foi aberta investigação para apurar a responsabilidade pela alteração do conteúdo, realizada por meio de um dos IPs administrados pelo Serpro.

A economia política das eleições: uma análise quase marxista - Paulo Roberto de Almeida


A economia política das eleições: uma análise quase marxista

Paulo Roberto de Almeida
  
1. O que elege um candidato?
Na verdade, a pergunta exata a fazer seria esta: por que alguns candidatos ganham, e outros perdem, uma eleição majoritária? A resposta parece óbvia, no domínio estrito da política democrática: candidatos (ou políticos que buscam reeleição) ganham (ou perdem) as eleições na razão direta de conseguir convencer (ou não) a clientela, ou seja, os eleitores, de que eles são capazes de “entregar” aquilo que se espera deles, que é, em geral e resumidamente, o maior bem-estar para o maior número (emprego, renda, escolas, hospitais, casas, segurança, etc.). Imagino que o eleitor médio pensa mais no bem-estar imediato, deixando de lado grandes considerações filosóficas sobre o voto.
Se a mensagem for suficientemente credível, e possuir alguma substância (no caso de políticos já dotados de mandato), então a vitória, ou a continuidade, pode estar assegurada. Dificilmente candidatos de um governo instalado perdem eleições, se este souber “comprar” um volume suficiente de eleitores para a sua causa. Já o candidato de oposição pode ganhar o almejado cargo se ocorrerem duas hipóteses: se o governo e seus candidatos se mostrarem incompetentes em defender suas políticas, ou em provar que não conseguiram, por tais e tais razões, entregar tudo o que prometiam lá atrás, e se o candidato de oposição conseguir convencer a mesma clientela de que ele poderia (ou poderá) fazer melhor.
Dito assim, o jogo político parece de uma simplicidade arrasadora, quando na verdade as variáveis que entram em jogo são múltiplas e imprevisíveis. Fatores extra-eleitorais podem desequilibrar a partida, assim como determinados traços de caráter dos candidatos e acidentes de campanha também alteram o resultado final, pegando de surpresa os institutos de pesquisa e os próprios candidatos. Evidências quanto a isso abundam, desde o triunfo surpreendente de Truman, em 1948, até recentes viradas eleitorais na sequência das graves crises econômicas que atingiram vários países da zona do euro. Crises econômicas, externas ou internamente induzidas, podem ser um fator desestabilizador. Mas o mais comum são os elementos puramente domésticos do jogo político, particularmente aqueles vinculados à empatia que os candidatos despertam nos eleitores, ou seja, a existência, ou não, de uma identificação mais direta entre “vendedor” e “clientela”. Em alguns casos, a rejeição pode ser fatal.

2. A campanha eleitoral como estratégia de marketing
A disputa política poderia (o uso de itálico é importante), em princípio, ser vista como um mercado como outro qualquer, de compra e venda de bens e serviços públicos. Os ativos são as políticas já em curso – que também podem representar passivos a serem cobertos – e as que os candidatos se propõem realizar no período à frente; os agentes são os mesmos que intervêm em qualquer mercado: de um lado os candidatos-vendedores (muitas vezes de ilusões), de outro os compradores-eleitores. O “contrato” é concluído na urna; mas será descontado aos poucos, no curso do mandato. Como nos mercados de bens e serviços correntes, os “produtos” dos candidatos são geralmente apresentados com apoio em grandes doses de publicidade, de preferência a mais abrangente possível e divulgada da forma mais compreensível para o público pagante, ou seja, os consumidores-eleitores.
Comunicação é, portanto, um ativo extremamente importante, assim como a percepção de que o consumidor não será enganado. Daí a importância crescente dos chamados estrategistas eleitorais, que se encarregam de dourar a pílula, ou seja, de apresentar um candidato como sendo muito melhor do que ele realmente é (algumas vezes de um modo até revolucionário, capaz de alterar completamente a imagem de um determinado candidato, realizando a proeza fantástica de vender gato por lebre, o que ocorre até com certa frequência). Entretanto, qualquer que seja a imaginação criativa de um desses especialistas em travestir candidatos, dificilmente sua capacidade de persuasão será capaz de superar a máquina de distribuir bondades governamentais, quando esta é colocada inteiramente a serviço do candidato do poder.
Aqui, justamente, está o elemento diferenciador que faz com que o mercado político não seja o exato equivalente do mercado de bens e serviços correntes, que é, em princípio, caracterizado pela atomização dos ofertantes e pela livre disposição de seus recursos da parte dos demandantes. Por isso, o verbo, em seu modo correto, como figura ao início desta seção, deve ser colocado na condicional, uma vez que o mercado político possui características que o distinguem dos demais mercados.
O mercado político não é igual ao mercado de bens e serviços correntes por um motivo simples: embora o Estado possa interferir tanto num quanto noutro – por meio de regras quanto ao seu funcionamento, ou por meio de impostos sobre as transações, por exemplo –, nos mercados puramente econômicos, os compradores dispõem (pelo menos nos sistemas capitalistas e razoavelmente democráticos) de liberdade completa para determinar quantidades, tipos e formatos das prestações dos bens e serviços aos quais pretendem alocar seus ativos financeiros. O consumidor é, em princípio, soberano nas suas escolhas e atua com base nas informações disponibilizadas pelos produtores, que teoricamente concorrem entre si pelas preferências do primeiro. Economistas liberais tendem a considerar a economia dos livres mercados como sendo uma espécie de “ditadura do consumidor” (Ludwig von Mises), o que se aproxima apenas parcialmente da realidade (já que cartéis, monopólios, coalizões e colusões de produtores deformam as condições de concorrência, em detrimento dos consumidores, obviamente). Na prática, todos os mercados são imperfeitos, como sabem, aliás, os economistas, liberais ou não.
Nos mercados políticos, ao contrário dos de natureza econômica (ou com bem maior ênfase do que nestes), o Estado é, não apenas um interlocutor incontornável e um regulador necessário, como atua, também, como agente de seus próprios interesses, não exatamente enquanto Estado, mas enquanto governo (ainda mais exatamente, enquanto políticos e partidos que controlam o governo, ainda que temporariamente). O Estado é, em grande medida, uma figura abstrata, virtual ou, em certo sentido, quase ficcional; ele existe, obviamente pelas suas instituições e pelo conjunto de leis e normas que regulam a ação de seus agentes permanentes, mas ele se expressa de modo muito mais afirmado enquanto ator de primeiro plano em suas roupagens de governo e em nome da coalizão de forças a serviço dos partidos e dos grupos de interesse representados e ocupando as instituições de Estado dotadas de capacidade política.
Nessa condição, o Estado deixa de ser um ente abstrato para passar a representar interesses políticos, econômicos e projetos tangíveis e intangíveis vinculados aos líderes políticos que ocupam temporariamente suas alavancas de comando. Isto é básico e elementar, conhecido de qualquer estudante de graduação que tenha lido seus manuais de ciência política ou se debruçado sobre a obra de Max Weber. Aliás, até mesmo Marx, nas páginas muito rudimentares do Manifesto Comunista, ou naquelas melhor elaboradas do 18 Brumário, já tinha detectado essa captura do Estado por forças políticas ou por personagens excepcionais – nem todos representando as “elites” tradicionais – que se movimentam no grande palco das lutas pelo poder.

3. O que Marx teria a dizer a propósito dos embates eleitorais?
Justamente, se Marx fosse chamado a reescrever suas obras políticas mais conhecidas – como os já citados Manifesto e 18 Brumário, acrescidos do Luta de Classes na França – adaptando-as ao cenário do Brasil atual, ele talvez tivesse ensinamentos interessantes a dar aos marxistas de carteirinha, que são abundantes no Brasil, aliás amplamente representados por um largo espectro do leque partidário. Desculpe o leitor não especialmente simpático ao cenário em questão por esta derivação marxista em torno da economia política das eleições, mas é que tenho observado como diversos comentaristas do cenário político brasileiro ainda formulam seus argumentos sobre o cenário eleitoral com base em velhos conceitos que pertencem a esse universo conceitual: classes sociais, direita, esquerda, capitalismo, redistribuição de renda, justiça social, direitos dos trabalhadores, especuladores financeiros, e por aí vai. Vamos então reformular o debate em termos que poderiam ser encontrados naquelas obras de Marx.

Se considerarmos o estado atual da luta de classes no Brasil, depois de anos e anos de afirmação de uma liderança cesarista e carismática, o que se pode dizer é que as ditas classes subalternas se renderam ao Bonaparte do momento. Não ocorreu, para todos os efeitos, qualquer golpe na trajetória política recente do país, algo inesperado como um raio caído de um céu azul. Não; tudo foi o resultado racional-legal da lenta ascensão de classes supostamente trabalhadoras ao pináculo do poder, o produto final da lenta acumulação de forças pelo partido que aparentemente os representa. O final lógico desse teatro de lutas contra os burgueses liberais nos últimos anos já era o esperado: o manto imperial caiu, finalmente, nos ombros do pequeno Bonaparte, sem sequer algum gesto dramático, menos ainda com qualquer sinal de tragédia. Foi, assim, um triunfo de comédia.
Todas as classes, com exceção de uma fração extremamente reduzida de ideólogos da pequena burguesia libertária, se renderam ao líder aclamado; a minoria que o ataca não tem qualquer força social atrás de si para contestar o seu domínio completo sobre a sociedade. A máquina burocrático-sindical já estava ganha desde o início, pois foi dela mesmo que o novo Cesar emergiu para uma ascensão lenta, mas irresistível. Os movimentos desorganizados do lumpesinato e do proletariado não sindicalizado foram os que convergiram em segundo lugar, pois eles encontraram no Tesouro da República a justa compensação pela escolha judiciosa que fizeram.
Não foi preciso repetir a história, sequer como farsa, no caso da grande burguesia industrial e dos representantes da alta finança: eles já tinham sido convencidos, desde antes da ascensão do imperador, de que seus interesses de classe seriam regiamente compensados, como de fato o foram, pela fidelidade demonstrada ao novo esquema de poder. Todos eles foram colocados na mesma categoria de apoiadores, meras figuras decorativas na urna de votos do novo Cesar, como se fossem simples unidades indistintas de um grande saco de batatas.
O fato é que até mesmo o antigo partido da mudança foi parar nesse saco de batatas, e virou o partido da conservação, submisso ao poder do chefe supremo. As bases de seu poder são relativamente transparentes, pois basta seguir o itinerário do dinheiro que escorre dos cofres públicos para os aliados privilegiados. No entanto, como sabem os economistas burgueses, esses recursos, na verdade, escorrem dos bolsos da burguesia e da pequena burguesia, dos grandes proprietários fundiários, dos caixas das empresas da burguesia industrial, e até mesmo dos parcos tostões do proletariado e seus aliados menores. Temos, em primeiro lugar, a plutocracia financeira, aquela que sempre se opôs ao partido da mudança, quando este era desestabilizador, mas que logo se acomodou, ao constatar que o grande líder propunha, na verdade, uma coalizão diferente para manter o mesmo esquema de poder real; ela foi contemplada, como sempre, com os juros da dívida pública, sem precisar fazer qualquer esforço no mercado de capitais ou na busca de clientes para seus empréstimos extorsivos. A grande burguesia das fábricas e dos negócios comerciais também soube encontrar o seu nicho no novo esquema de poder: um mercantilismo renascido com um Estado ainda mais forte, capaz de dispensar empréstimos facilitados, isenções fiscais, tarifas protetoras e toda sorte de prebendas e subsídios que tinham uma existência mais modesta na antiga República neoliberal.
Vem em seguida a nova aristocracia sindical, que já não era operária havia anos, provavelmente a décadas; sua fração burocrática converteu-se em parte integrante da nomenklatura estatal, a nova classe privilegiada, que alguém já chamou de “burguesia do capital alheio”. A maior parte, porém, continuou nas corporações sindicais, agora locupletando-se de fundos públicos, que lhe são repassados sem qualquer controle. Junto com os militantes do antigo partido da reforma, eles constituem os elos mais relevantes do novo peronismo em construção, uma nova força política que é puro movimento, sem qualquer doutrina ou construção teórica mais elaborada.
Os aliados da academia, que poderiam fornecer uma base intelectual para o antigo partido da mudança, os universitários gramscianos, estes parecem singularmente estéreis na produção de novas ideias, pois ficam repetindo velhos slogans do socialismo do século 19, sem qualquer originalidade ou refinamento. São tão atrasados, e alienados, esses acadêmicos repetitivos, que terminaram por ver num coronel golpista, de notórias tendências fascistas, um líder progressista do novo socialismo; o êmulo de Mussolini pretendia que o seu socialismo fosse do século 21, quando este nada mais constituiu senão uma confusão mental e uma construção estatal digna do que havia de pior no sovietismo esclerosado. Os resultados estão à vista de todos.
Outros componentes do mesmo saco de batatas são os funcionários públicos, alguns verdadeiros mandarins, a maioria simples beneficiários da prodigalidade estatal, que, na média, recebem o dobro do que ganhariam na iniciativa privada, para níveis de produtividade que são, na média, menos da metade daquelas do setor privado. Figuram ainda no saco, finalmente, os recipientes do maior programa social do mundo, que vem a ser, também, um grande curral eleitoral: o lumpesinato, de forma geral, e os vários lumpens urbanos, em particular, com alguns pequeno-burgueses espertalhões aqui e ali. Não se deve esquecer, tampouco, tubérculos igualmente vistosos, como os beneficiários de bolsas para diversas categoriais sociais ou as cotas para os representantes do Apartheid em formação, os promotores do novo racismo oficial.
Ficam de fora do saco de batatas apenas e tão somente 3 ou 4% do eleitorado, representado politicamente por figuras teimosas, que recusam inexplicavelmente o mito do demiurgo e que pretendem continuar o combate de retaguarda, sem qualquer esperança de reverter o curso do processo político no futuro previsível. Esses novos mencheviques intelectuais também fazem sua própria história, mesmo se eles ainda não têm consciência disso: eles não podem, contudo, esperar fazer sua revolução a partir de um passado já enterrado; apenas em direção ao futuro, embora o caminho seja longo e os resultados muito incertos.
Mas atenção, alto lá: o cenário econômico e político parece estar mudando, uma vez que as fórmulas milagrosas e a conjuntura favorável que prevaleciam anteriormente já não estão produzindo o mesmo efeito favorável ao partido da mudança convertido em partido da conservação. Uma conjuntura de transformação parece estar se abrindo no horizonte político do país: tudo o que parecia sólido se desmancha no ar, e o lento desabrochar de novas forças produtivas parece estar forçando uma mudança radical nas relações sociais. Os oprimidos do momento já não tem mais nada a perder, senão os seus grilhões. Um espectro assusta o partido da conservação: o da sua derrota eleitoral, como resultado da ascensão de novas forças no teatro da república.
O que parece certo é que a mistura de pequeno Napoleão com um Perón improvisado também terá um dia sua estátua derrubada do alto da coluna Vendôme, não tanto como resultado de uma nova luta de foices e martelos, mas como o produto de uma lenta evolução educacional. Esta é a revolução mais difícil de ser provocada, mas constitui, legitimamente, o único processo revolucionário de que o Brasil necessita.


Paulo Roberto de Almeida
[Hartford, 10/08/2014; com base em texto anterior, escrito em Zhengzhou, em 24.08.2010, revisto em: Shanghai, 26.08.2010]