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sábado, 12 de agosto de 2017

Partido NOVO presente nas eleições de 2018 - Christian Lohbauer 

‘O próximo presidente será de centro-direita’, diz cientista político

NEWSLETTER Política

Blog do Fucs no portal do Estadão, 12/08/2017


Para Christian Lohbauer, o vencedor das eleições em 2018 deverá ser Geraldo Alckmin, João Doria ou outro nome com o mesmo perfil que apareça daqui para a frente

José Fucs

12 Agosto 2017 | 05h00


O cientista político Christian Lohbauer, de 50 anos, formou-se pela USP, tradicional reduto de esquerda na área, mas pode ser considerado um “estranho no ninho”. Lohbauer apoia as reformas propostas pelo presidente Michel Temer e diz que, para o País, é melhor que permaneça no cargo até o final do mandato, apesar das denúncias de corrupção que pesam contra ele. Em entrevista ao Estado, Lohbauer defende a redução da presença do Estado na vida dos cidadãos e das empresas e afirma que o próximo presidente da República será de centro-direita, como o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, o prefeito paulistano João Doria ou algum outro nome com perfil semelhante que possa surgir daqui para a frente. 

Como o senhor analisa o atual quadro político no País?

O sistema no qual a gente viveu nos últimos 30 anos, que é o modelo político, partidário e eleitoral da Constituição de 1988, faliu. O presidencialismo de coalizão se esgotou. A fragmentação do Congresso é absurda. Isso ficou comprovado já em 2015, quando a então presidente Dilma com a maioria absoluta de mais de 400 parlamentares na base do governo, não conseguia aprovar seus projetos. Com o impeachment, as denúncias, a Lava Jato, tudo isso, a gente está num momento de depuração, no fim de um ciclo político, e não sabe o que virá depois. Ao mesmo tempo, há uma oportunidade histórica de o Brasil dar um salto institucional. É um caminho cheio de riscos, mas, nesse ponto, sou otimista. Embora o caminho vá ser longo, acredito que haverá uma mudança para melhor.

Qual é a sua avaliação sobre a rejeição pela Câmara da denúncia contra o presidente Temer por corrupção passiva?

É difícil não concordar que, do ponto de vista da estabilidade, é melhor com Temer que sem Temer. É um paradoxo ético, por causa das acusações de corrupção que pesam contra o presidente, que é algo inédito na história republicana. No entanto, infelizmente, em função da conjuntura, é melhor que ele fique e leve o governo até o final e que isso seja reconhecido pela sociedade como uma fase transitória e de fechamento de um ciclo. Se você me perguntasse qual é a minha previsão, eu diria que ele vai terminar o mandato moribundo, mas, infelizmente, não há opção melhor. Se ele deixasse o cargo, a entrada de Rodrigo Maia ou de qualquer outra pessoa geraria uma enorme instabilidade, que o Brasil não está precisando. Nem pode correr esse risco.

Como o senhor vê as reformas propostas por Temer?

Independentemente da figura do presidente e dos grupos que ele comanda, o que aconteceu em seu governo é incontestável. Não dá para negar que, desde a posse, em maio de 2016, uma boa parte das reformas que nós estamos esperando há 30 anos começou a ser desenhada. Ele estabeleceu o limite de gastos, fez uma reforma parcial da legislação trabalhista e apresentou uma proposta de reforma previdenciária. Então, há avanços, embora ainda tímidos para o que o Brasil precisa. Infelizmente, a gente tem de nivelar por baixo. Ele ainda tem certo domínio do Congresso, que é a última coisa que lhe resta, por meio de práticas tradicionais de troca de emendas por apoio. Agora, não foi ele que inventou isso. É a prática brasileira desde os anos 1980.

O próximo presidente não será ninguém da esquerda: Lula, Marina, Ciro ou alguém do PSOL. Também não será o Bolsonaro do outro lado

As últimas pesquisas para 2018 têm mostrado uma polarização entre o deputado Jair Bolsonaro e Lula. Qual o seu prognóstico para as próximas eleições?

Há dois cenários para 2018: com Lula e sem Lula. No cenário com Lula, acredito que ele alcançará 40% no segundo turno e perderá as eleições. O cenário sem Lula é mais fragmentado, parecido com o de 1989. Haverá muitos candidatos, sem muita força. Tanto no primeiro caso quanto no segundo acredito que o próximo presidente vai ser quem ocupar o espaço de centro-direita. Não será ninguém da esquerda: Lula, Marina, Ciro ou alguém do PSOL. Também não será o Bolsonaro do outro lado. Pode ser o Alckmin, o Doria ou alguma figura com esse perfil que apareça e que a gente ainda não sabe quem é.

O que o leva a acreditar que um candidato de centro-direita vencerá as eleições?

Se você analisar as eleições presidenciais desde 2002, verá que houve um afunilamento constante da diferença entre os dois polos, o PT e o PSDB. Em 2006, a diferença entre Alckmin e Lula foi de quase 20 milhões de votos, o equivalente a 16% dos eleitores. Naquela época, apesar do mensalão, o Lula estava no auge. Nas eleições da Dilma contra o Aécio em 2014, a diferença foi de 3 milhões de votos. A população foi cansando do governo que comandou o País por 14 anos. Então, está desenhado o quadro. O eleitor brasileiro é conservador, religioso, cristão. Quer estabilidade e não revolução. Isso significa retorno do emprego, paz no campo, todas as coisas que a gente se desacostumou de ver no noticiário e que atrapalham a vida do cidadão. Quem vier com posicionamento de segurança e estabilidade vai levar a eleição.

Por que o senhor pensa que o ciclo de esquerda acabou?

Primeiro, temos de determinar o que é esquerda. Nos últimos anos, misturou-se muito esquerda com populismo, na figura do Lula. O governo Dilma nada mais foi do que a sequência piorada daquele modelo populista, estatizante. Hoje, a esquerda está muito desgastada, porque não encontra uma maneira de propor soluções com os recursos disponíveis. O País cresceu durante quase uma década e a arrecadação deu um salto significativo em termos reais, viabilizando recursos para o Estado gastar em saúde, educação, segurança, infraestrutura. Mesmo assim, aumentou o déficit e o Estado entregou serviços piores do que entregava dez anos antes. Aí, todo mundo percebeu que alguma coisa muito errada aconteceu. O estudante que recebeu uma bolsa do Fies e tomou um calote do Estado teve de parar de estudar e ir trabalhar. O funcionário público que está hoje na fila da cesta básica no Rio de Janeiro também tomou um calote do Estado. Essas pessoas se deram conta – não precisa ser um gênio para perceber isso – que as propostas de esquerda, que partem do princípio de que o Estado é um bom administrador dos interesses da sociedade, não deram certo. Por isso, acho que a esquerda está numa situação difícil. Sem falar em questões como a carta em que a presidente do PT apoia o regime Maduro na Venezuela. Realmente, fica muito difícil você conseguir acreditar que tem seriedade na conversa.

O capitalismo brasileiro sempre foi um capitalismo de Estado. O resultado, então, é esse que nós conhecemos

Desde a redemocratização, a direita ficou meio em hibernação no País. Nos últimos anos, houve um renascimento da direita, não apenas da ala mais autoritária, mas também da democrática, liberal. O que explica esse fenômeno?

O fracasso da esquerda. A sucessão de fracassos que o Brasil vem colecionando e que, a rigor, vêm desde o regime militar. O modelo de desenvolvimento do regime militar, tomando o governo Geisel como referência, não é muito diferente, se não for igual, ao que propunha o governo Dilma, de crença no Estado como indutor do desenvolvimento. O capitalismo brasileiro sempre foi um capitalismo de Estado. Nunca tivemos um capitalismo genuíno. O resultado, então, é esse que nós conhecemos. O Brasil é um país grande, deveria ser rico, alfabetizado, educado, mas o Estado é tão incompetente, intervém tanto na vida das pessoas e das empresas, e as corporações são tão fortes para defender seus interesses mesquinhos, que o que se observa é um fracasso geral. O que sobrou? Sobrou a democracia liberal, que nós nunca tentamos. Acho que chegou a hora.

No início de agosto, o ex-presidente Lula se tornou réu pela sexta vez. Ele e o PT têm sustentado um discurso de perseguição política, de vitimização, apesar da condenação e da investigação de vários políticos de outros partidos pela Lava Jato, inclusive o próprio presidente Temer. Mesmo assim, o senhor diz que Lula poderá ter 40% dos votos na eleição presidencial. Será que os brasileiros vão ignorar essas coisas todas na hora de votar em 2018?

Eu digo 40% porque há 130 milhões de eleitores. Como tem sempre uns 20% de abstenção, teríamos uns 110 milhões de votos, dos quais 42 milhões no Nordeste, onde ele deve conquistar quase 90%, o equivalente a uns 30% do total nacional. Na região Norte, deve acontecer mais ou menos a mesma coisa. O Norte e o Nordeste ainda são muito marcados por uma época em que as coisas melhoraram. Agora, elas pioraram de novo. Então, a associação é direta. Não há uma compreensão mais abrangente do fenômeno. Eles pensam: “A minha vida melhorou com Lula e depois de Lula, piorou. Se ele é candidato, voto no Lula”. É simples assim. Então, o Lula deverá receber milhões de votos independentemente de televisão, de processo, de condenação, de indiciamento. Isso não pega. No Sudeste, no Sul do Brasil, na área de produção agrícola, na região Centro-Oeste, que são mais inseridas no mundo real da produção, o PT não tem mais a chance que tinha até alguns anos atrás. É aí que está a mudança. Esses 10/12/15 milhões de votos que estavam do lado de lá agora virão para o lado de cá. Acho que é isso que vai acontecer. Tenho dúvidas de quanto essa coisa toda de Lava Jato realmente atinge a massa de eleitores.

Nos idos dos anos 1980, o grande Pelé disse certa vez – e foi muito criticado por isso – que o brasileiro não sabia votar. Será que ainda dá para falar isso hoje? Porque não é possível imaginar que, apesar de acusado por tantas falcatruas, o Lula ainda tenha tantos votos, se a sua previsão se confirmar.

Acho que é uma aprendizagem longa. É duro. O custo da democracia é um pouco essa aprendizagem. Quando as pessoas não têm educação muito refinada, o processo demora mais. A pessoa tem de sofrer na carne, tem de ficar desempregada, perder a bolsa de estudo, para começar a entender a importância do voto. Mesmo assim, se as pessoas tivessem se alfabetizado nos últimos 20 anos, se tivessem aumentado o grau de cidadania, a cidadania de verdade, a dos deveres, da compreensão da importância da política, aí as coisas teriam mudado mais rápido. Por isso, a frase do Pelé ainda tem muito de verdade hoje. O aprendizado tem sido na carne e não no cérebro.

O problema de representação no Brasil é muito grave. Aqueles que dizem que o Congresso brasileiro representa o povo estão enganados

Há uma reforma política em andamento no Congresso que poderá incluir o distritão e o fundo eleitoral, entre outras cláusulas polêmicas. Em sua opinião, o que essa reforma política poderá representar para o País?

Ela é um retardamento do que deve ser feito. Já virou até um chavão, mas a reforma política é a mãe das reformas. Ela também foi iniciada nesse período turbulento, de forma fatiada, como se diz por aí. Uma parte da reforma, relacionada ao financiamento das campanhas eleitorais, começou a ser feita pelo Eduardo Cunha, ao meu ver de forma equivocada. Acredito que deveria haver financiamento empresarial, ainda que com limite determinado pelo faturamento de cada empresa. Proibir o financiamento empresarial foi um grande erro. Manter o financiamento de pessoa física deu o resultado que a gente imaginava em 2016: o crescimento de dois tipos de representação, a criminosa e a religiosa, a dos pastores. Este problema gerou outro, que é essa proposta em tramitação no Congresso. Ela tem dois aspectos desastrosos e dois positivos. Os desastrosos são o fundo de financiamento de campanha, de R$ 3,6 bilhões, que é uma aberração, um soco na cara do contribuinte, no momento em que o governo aumenta impostos para arrecadar R$ 10,8 bilhões a mais, e o distritão, que vai matar os partidos políticos. Vai provocar uma guerra de todos contra todos, uma corrida entre parceiros de partido e ideológicos, para ver quem tem mais voto. Quem tiver mais voto levará. O distritão privilegia quem tem fama e história política, os currais eleitorais tradicionais, mesmo em Estados desenvolvidos como São Paulo. É um movimento explícito de manutenção das velhas figuras que precisam de foro privilegiado e por isso precisam ser reeleitas, de todos os partidos. É um movimento de sobrevivência, de autodefesa, que a população não entende direito, mas é o que está acontecendo.

Quais seriam os aspectos positivos da reforma político que o senhor mencionou?

O primeiro é o fim das coligações proporcionais, para evitar os puxadores de voto, os Tiriricas da vida. O outro é a cláusula de barreira ou de desempenho, para evitar que pequenos partidos consigam entrar no Congresso com representação ínfima, o que eu acho correto. Os partidos terão de lutar para ter uma representação de 2% em 14 estados para conseguir a representação parlamentar. Agora, na minha opinião, a reforma deveria ser feita de uma vez só, pelo menos a maior parte dela. Essa história de só passar medidas de acordo com a conjuntura tende a prejudicar o processo e atrasar o fortalecimento institucional das eleições. O problema de representação no Brasil é muito grave, a qualidade, a proporção. Aqueles que dizem que o Congresso brasileiro representa o povo estão enganados. Os brasileiros, na média, são melhores do que o Congresso Nacional, que está totalmente desfocado, descoordenado dos brasileiros.

Há, ainda, o fundo partidário, que também usa recursos públicos, cerca de R$ 820 milhões por ano. Qual é a sua visão sobre o fundo partidário? O Novo é contra o fundo partidário?

A minha posição pessoal e a posição institucional do partido, que acho corretíssima, é de que partido político, assim como sindicato, como qualquer instituição representativa, tem de viver de contribuição voluntária e privada. As pessoas que acreditarem na instituição contribuirão para garantir a sua sobrevivência. Se a instituição não prestar ou não combinar com o que elas pensam, aí simplesmente elas não farão contribuições. Essa decisão deve caber ao indivíduo ou à empresa. Com o partido político, é a mesma coisa. Se o partido apresentar resultados, representar interesses, prestar um bom serviço, tiver bons candidatos, ele crescerá, as pessoas darão recursos para ele funcionar. Desconectar o recurso público da estrutura partidária é um movimento pedagógico. Tenho certeza de que isso também levaria a uma depuração do sistema. Se fosse assim hoje, se o PMDB e o PSDB já tivessem de viver dos recursos de filiados ou simpatizantes, tenho dúvida de que teriam recursos suficientes para pagar o aluguel dos diretórios. Talvez, só o PT conseguisse.

Como o senhor avalia a possibilidade de haver candidaturas avulsas?

Eu não sou contra, mas acho que candidatura avulsa tem de existir num ambiente em que os partidos políticos são fortes, assim como o parlamentarismo. Candidatura avulsa com as regras do jogo existentes hoje significa ter um parlamento como o que a gente tem. Com a fragmentação interna dos partidos existente hoje, é como se a gente já vivesse num ambiente de candidaturas avulsas. Você pega a votação de determinada matéria dentro do PMDB e vê comportamentos completamente diferentes, como se os parlamentares do partido fossem representantes avulsos. Então, não faz muito sentido falar nisso hoje, a não ser do ponto de vista filosófico. Se a estrutura partidária tiver regras que garantam a fidelidade partidária, se houver cláusula de barreira, menos partidos, aí, sim, deve haver espaço para figuras com autoridade moral ou visões de mundo diferentes poderem se candidatar de forma independente dos partidos e representar uma parcela relevante da sociedade no ambiente legislativo.

Como aconteceu com Collor, o nosso Macron, se for eleito, terá de governar com um Congresso muito distante das ideias dele

Do jeito que está a coisa, é difícil imaginar que esses políticos que hoje controlam o Congresso votem medidas contrárias aos próprios interesses e à continuidade do sistema. Como aprovar o fim do fundo partidário se isso depende dos votos dos próprios políticos que se beneficiam dele?

Essa é o grande dilema da nossa democracia. Como aperfeiçoá-la se ela depende da votação de quem está se beneficiando do atual modelo? Só tem uma saída: ou promove um golpe, uma ruptura institucional, que ninguém quer, ou junta um grupo de pessoas que acham que têm de mudar as coisas e pretendem conquistar espaço dentro do Congresso. É por isso que o Novo se propõe a fazer esse trabalho tão difícil, mas que é o único possível, de construir um movimento, que se consolidou a duras penas como partido, para eleger representantes e fazer a mudança.

Hoje, há uma grande demanda por renovação na política. Quais as chances reais de isso acontecer em 2018 com essas regras eleitorais?

A média de renovação do Congresso é de 50% nos últimos 25 anos. Então, a renovação já tem sido grande. A chance de renovar mais ainda no ano que vem é grande. Mesmo assim, a renovação não significa que as coisas vão melhorar, porque a decisão de participar da política não é racional. Pessoas de bem que querem trabalhar na vida pública, exercer um mandato, pelo interesse público, dificilmente vão tomar a decisão de concorrer com as atuais regras do jogo. Haverá renovação, provavelmente maior do que tem sido, mas não sei se qualidade vai melhorar, porque há um problema sério que eu já comentei aqui, da disponibilidade de recursos para o criminoso e também para as Igrejas, que têm uma força incrível para ampliar sua influência e eleger mais gente. Em relação aos candidatos que não são nem de Igrejas nem criminosos, há ainda muitos vícios. Há pouco espaço para quem quer fazer política de verdade, no modelo tradicional, nos partidos maiores. O modelo atual não tem apelo para trazer gente nova para a política.

É difícil, então, imaginar que possa surgir uma figura no Brasil como o Macron, na França, só que de centro-direita?

É mais fácil pensar que um Macron brasileiro possa ser eleito para presidente do que acontecer uma grande mudança no Congresso. O Collor, por exemplo, foi eleito com o PRN e tinha o Congresso todo contra ele. Depois de seis meses, ele teve de iniciar o que chamou de fase soft. Deixou de enfrentar o Congresso, porque sem o Congresso não se governa. Então, o nosso Macron, se for eleito, terá de governar com um Congresso muito distante das ideias dele. Assim aconteceu com Collor e talvez aconteça com o Macron brasileiro, se ele for eleito.

O senhor é filiado ao Partido Novo e possível candidato a senador por São Paulo. Quais são as chances do Novo nesse cenário? 

O Novo terá candidato a presidente, a alguns governos de Estados importantes. Tudo indica que teremos candidatos a governador e senador no Rio Grande do Sul, em São Paulo, no Rio de Janeiro, em Minas e talvez no Ceará. Já há também centenas de candidatos a deputado em processo de avaliação, em 16 Estados. Acredito que o partido possa ter entre 5, na pior hipótese, e 15 representantes no Congresso, o que seria uma revolução na política brasileira.

As conversas com o Bernardinho continuam tanto para a presidência da República como para o governo do Estado ou o Senado no Rio. Essa questão deve se definir até o final do ano

Fala-se que o Bernardinho, ex-técnico da Seleção Brasileira de vôlei, poderá ser não o candidato do Novo para o governo do Rio, mas para a presidência da República. Isso tem fundamento?

Há várias conversas, mas por enquanto de real mesmo só tem a possibilidade de o ex-presidente e fundador do Novo, João Dionisio Amoêdo, ser o candidato. Ele se desvinculou da presidência do partido para poder se candidatar, se não houver outro nome, porque no Novo quem é dirigente partidário não pode ser candidato. Quanto ao Bernardinho, as conversas continuam tanto para a presidência como para o governo do Estado ou o Senado, no Rio. Ele está com o Novo há 2 anos e essa questão deve se definir até o final do ano. Agora, depende um pouco de cada um se sentir confortável para entrar nesse jogo, porque nenhuma dessas pessoas se sente confortável entrando no jogo hoje. Elas sabem o tamanho do desafio, o efeito que isso tem na família, na renda. Se pensar muito, você não vai. Isso vale para qualquer um, tanto para o João como para uma figura pública como o Bernardinho. É uma opção muito difícil, mas tem o caráter de um projeto de longo prazo, que incentiva as pessoas a se animar com a política.

O que o Novo propõe efetivamente de diferente?

O Novo luta para descontruir os interesses corporativos que impedem o Brasil de entrar numa rota de desenvolvimento verdadeira. É preciso dar substância e eficiência para o Estado, pensar no contribuinte como principal figura da sociedade, saber que o recurso público é originário dos impostos que as pessoas e as empresas pagam e tentar administrar as coisas públicas de acordo com a capacidade que o País tem de arrecadar. O Estado brasileiro hoje é uma perversão, mastodonte, canalha, explorador, que só faz garantir benefícios para um grupo ínfimo de brasileiros.

No Brasil, historicamente, as ideias liberais jamais foram hegemônicas. Como tornar essas ideias populares e mostrar para o cidadão que elas permitirão que a sua vida melhore mais do que com as ideias estatizantes que o Lula e o PT defendem?

Não é um trabalho de uma semana. Esse processo já começou e ainda levará um tempo para chegar no ponto ideal. Só o desenvolvimento econômico permitirá que as pessoas possam entender que o modelo de liberdade é melhor do que o de igualdade. Gerar esse desenvolvimento econômico significa retomar o emprego, gerar riqueza, mostrar para as pessoas que, se tiverem acesso à maior parte dos recursos que geram quando trabalham, melhor vai ser para elas. Se, em vez de pagar imposto, elas puderem pagar um seguro saúde privado; se, em vez de esperar que o Estado dê uma escola boa para os seus filhos puderem usar os recursos que pagam em impostos para escolher onde eles vão estudar, melhor. Quanto mais acesso à riqueza criada por si mesmo o indivíduo tiver para cuidar da sua vida, melhor será para ele. Mesmo que ele gaste tudo em festa. O problema é dele. O que se fez até hoje foi dizer que o Estado vai cuidar de você e entregar o que você precisa, sem nunca concretizar o que se prometeu. Nem com a Constituição de 1988, que é apresentada como social, com cobertura universal para a saúde, isso aconteceu. Dos 200 milhões de brasileiros, 50 milhões têm plano de saúde privado e 150 milhões usam o SUS, que nem precisa dizer o que é. Para mim, as únicas áreas em que o Estado tem de atuar e regular são saúde, educação e segurança. O resto a sociedade constrói sozinha. O Estado não tem de cuidar de petróleo, dizer que horas a criança tem de dormir, estabelecer a maneira de viver das pessoas. Só tem de regular para evitar oligopólios e monopólios, excessos do mercado.

O Novo defende a privatização da Petrobras?

A gente nunca fez uma enquete para saber, mas não tenho dúvida de que, se a gente perguntasse hoje aos filiados do Novo o que fazer com a Petrobras, a maioria absoluta será a favor da privatização. Mesmo porque a justificativa de que o petróleo é uma área estratégica, que é a grande desculpa dada para manter o privilégio dos funcionários e dos satélites que orbitam em torno da Petrobras, foi desmascarada com o que fizeram com a empresa no último governo. Quebraram uma das maiores empresas do mundo, porque não havia transparência, com a interferência permanente do Estado e a corromperam até a medula.

Pela racionalidade, contra o salvacionismo na política - Rodrigo Constantino 

Não tenho e nunca vou ter qualquer afiliação partidária. Mas nas democracias imperfeitas -- e elas sempre serão assim -- o exercício da política passa pelos partidos. Dito isto, eu consigo ver nos partidos pessoas que são melhores do que outras para governar, e consigo ver pessoas que, em qualquer partido, seriam as piores soluções da e na política para nos governar.

Por isso, recomendo a leitura do texto abaixo de Rodrigo Constantino.

Por instinto, por conhecimento da história, por experiência vivida, sou contra toda e qualquer concentração de poder, e por isso mesmo SOU CONTRA qualquer tipo de LÍDER SALVACIONISTA, mesmo que ele fosse o ser mais puro, o mais intelectual, o mais preparado de todos. Tudo isso à parte, consigo, por exemplo, farejar quem tem espírito FASCISTA, isso no Brasil, ou numa grande democracia, como os EUA. 

Recomendo, portanto, a leitura deste posicionamento do Rodrigo Constantino, não porque eu seja um liberal (não tenho essa pretensão de me encerrar num rótulo), mas porque esse texto traz todos os argumentos RACIONAIS para evitarmos uma nova aventura salvacionista.

Paulo Roberto de Almeida 

Brasilia, 12/07/2017


A DIFERENÇA ENTRE O PROJETO DE MUDANÇA DO PARTIDO NOVO E O PERSONALISMO SALVACIONISTA DE BOLSONARO

Rodrigo Constantino 

Gazeta do Povo, 11 de agosto de 2017

Quando comentei sobre o pronunciamento de Jair Bolsonaro em evento de lançamento do Patriota, novo nome que o PEN deverá adotar para endossar sua candidatura, abordei como um dos principais pontos de fraqueza o fato de se tratar do “exército de um homem só”. Ou seja, as questões chatas permanecem: como exatamente um herói honesto vai chegar ao poder e fazer toda a diferença?

Para quem quer ficar apenas na primeira etapa do “raciocínio”, entendo que essa seja uma pergunta incômoda. Muitos não chegaram tão longe assim. Bolsonaro é tido como íntegro e honesto, enfrenta com coragem os comunistas, e nada mais importa. Será a solução para nossos problemas, a salvação do Brasil (e é fácil perceber o tom messiânico de muitos dos seguidores ali, que trocaram Deus por um político).

Mas alguns levantaram uma questão legítima: essa dificuldade que apontei vale apenas para Bolsonaro? E o Partido Novo, que, como muitos sabem, eu apoiei desde o começo? Não seria também um caso de um partido pequeno, sem base, que não teria condições de governar sem acordos ou parcerias? Esse texto é uma resposta a essa pergunta.

De cara, a resposta é “sim”, o Novo também teria a mesma dificuldade, assim como qualquer outro partido pequeno. Foi o caso de Collor, lembram? Na verdade, pode-se até argumentar que não se governa sem o PMDB nesse nosso querido e vasto Brasil, ao menos não por enquanto. É o centrão fisiológico que está sempre no poder, e que todos precisam de certa forma engolir.

Serve quase sempre para o mal, para impedir reformas estruturais contra o “deep state” (do qual é o representante) que possibilitariam um avanço maior de nossa economia. Mas de vez em quando serve como poder moderador, para impedir golpes totalitários, como foi o caso com o PT. Se o PMDB nos impede de virar o Chile, também nos livrou de virar a Venezuela, justiça seja feita.

E aqui começa a resposta para valer: os seguidores aguerridos de Bolsonaro querem eliminar o PMDB, o PSDB, certamente o PT, querem destruir “tudo e todos” de forma um tanto jacobina, num passe de mágica, por decreto. Querem detonar o “sistema”, acabar com os “socialistas”. Nesse sentido, são revolucionários também. O discurso é todo antipolítica e personalista: Bolsonaro não precisará desses “conchavos” pois terá ao seu lado o povo!

Basta ler inúmeros comentários no meu texto para ver como não são poucos os que pensam assim. Percebe-se que não se debruçaram sobre as questões delicadas e práticas de um governo efetivo. Ou então são mesmo autoritários e antidemocráticos, não ligam para a democracia representativa e desejam um “déspota esclarecido” (ou, no caso, um “déspota íntegro”, já que esclarecido seria forçar demais a barra). Isso é um perigo!

Por que eu defendi o projeto do Novo desde o começo? Porque o Novo deixa claro que não pretende depender de algumas pessoas, mas sim defender ideias e princípios. Ou seja, trata-se mais de um movimento de mudança da mentalidade do que um projeto de poder político. Até aceito que pode ser meio ingênuo mesmo, que “fazer política” não é trivial, não é coisa para amadores, para engenheiros com boas intenções.

O Novo também tem essa pegada antipolítica, quer trazer os “outsiders”, já que a classe política não goza de credibilidade alguma. Quer evitar carreiristas políticos, o que pode ser romântico, já que uma vez acumulado o capital político, dificilmente ele será jogado no lixo (Bolsonaro está em seu sétimo mandato, não custa lembrar, e com três filhos também na política).

Mas ao menos o Novo tem um projeto de longo prazo calcado mais em ideias do que pessoas, e isso me atraiu (apesar de minhas críticas eventuais). Não é do meu perfil, menos ainda das minhas conclusões de anos de estudo, bajular um político, endeusar uma pessoa, concentrar minhas esperanças num governante. Ao contrário: sou cético com o poder, com a política, e por isso mesmo quero descentralizar o poder, retirá-lo dos políticos em geral e devolvê-lo para a sociedade.

Mas não será com um “déspota do bem” que isso vai acontecer, com uma pessoa, um político, concentrando todo o poder para consertar tudo e depois devolvê-lo para a sociedade. Sim, alguns seguidores de Bolsonaro chegaram a pregar exatamente isso. Eu desconfio de todo candidato a Robespierre. Eu desconfio de quem quer executar uma “limpeza geral” no sistema. Eu certamente desconfio de quem quer acumular poderes tirânicos em nome do povo para depois entregar-nos a liberdade. Era o papinho da “ditadura do proletário” de Marx, que depois aboliria voluntariamente o estado para se chegar ao comunismo, lembram?

Logo, eis aí a diferença básica entre ambos, do ponto de vista da governabilidade. O Novo não depende de uma pessoa, de um político, e não promete salvação milagrosa, não foca apenas nas próximas eleições, não deposita tudo ou nada em 2018. Não é esse seu jogo, sua meta, sua razão de existir. Se o Novo emplacasse algum candidato vitorioso nas próximas eleições, teria o mesmo problema de governabilidade de um Bolsonaro eleito. E teria que fechar com o PMDB também, eis a realidade.

Se alguém de um partido nanico chegar ao poder nesse atual sistema, e antes de uma completa renovação do Congresso (o que só será possível com a mudança da mentalidade do povo e do próprio sistema político, com a adoção do voto distrital, por exemplo), não será capaz de governar sem acordo com os grandes partidos. Isso é óbvio! A alternativa é fechar o Congresso, decretar-se ditador e governar em nome do “povo”. Mas isso nunca acaba bem.

Isso não quer dizer, por certo, que alguém com um perfil melhor, mais honesto e mais liberal ou conservador, não possa realizar mudanças importantes no governo. Pode sim. Mas é preciso ser realista quanto aos limites dessas mudanças. Até porque a expectativa elevada demais produz apenas decepção igualmente alta, o que pode ser um perigo. A frustração excessiva leva justamente à perda de confiança no sistema, na democracia, e é um prato cheio para revoluções sangrentas que costumam acabar mal.

Não descarto uma situação limite em que até essa “saída” seja menos pior do que manter o “sistema”. Basta pensar no caso venezuelano, em que a democracia já foi para o espaço faz tempo, e que pegar em armas contra a ditadura é uma atitude legítima. Mas isso significa que as instituições já faliram por completo, e não creio que o Brasil tenha chegado lá (ainda).

Esse é o discurso, aliás, dos próprios comunistas: acham que o “sistema” é capitalista opressor, dominado pelas elites, uma ditadura disfarçada, e que isso justifica a violência redentora. Daí MST, MTST, black blocs e tutti quanti. Não me agrada o mesmo tipo de pensamento “do lado de cá”, à direita. Por isso defendo o projeto do Novo: por entender que é um projeto realista, de longo prazo, uma maratona em vez de uma corrida de cem metros rasos.

E que depende mais de suas boas ideias do que de estrelas, salvadores de Pátria. Eu definitivamente não sou político-afetivo, não tenho nada de idólatra, e não gosto de ver o tom religioso sendo adotado na política. Políticos não são deuses! Desconfiar deles é sempre saudável. Assim como lutar para que tenham menos, não mais poderes. É o paradoxo de todo liberal, eu sei: defendem menos estado, mas para colocarem em prática isso, precisam também chegar ao poder estatal.

É por isso que os liberais sempre focaram mais no poder das ideias, ainda que não devamos menosprezar a via política. Ela é necessária. Mas sem uma mudança no arcabouço cultural, ficaremos dependendo do tal “déspota esclarecido”. E à exceção da pequena Cingapura, desconheço casos de sucesso. Alguém pode citar Pinochet, mas o custo foi alto demais, em vidas e com a morte da democracia por duas décadas. Não acho que a democracia seja um novo Deus, mas ainda é, como disse Churchill, o pior modelo, exceto todos os outros. É o meio menos sangrento de trocar o comando na política…


Rodrigo Constantino

Rodrigo Constantino <constantino.rodrigo@gmail.com>: Aug 11 11:06AM -0400 

http://www.gazetadopovo.com.br/rodrigo-constantino/artigos/diferenca-entre-o-projeto-de-mudanca-partido-novo-e-o-personalismo-salvacionista-de-bolsonaro/

Uma "grande estratégia" para o Brasil? Acho que não precisa...

Uma "grande estratégia" para o Brasil? Acho que não precisa...
Paulo Roberto de Almeida
Poucos leram meus comentários ao documento da SAE, que causou alguns tremeliques no Itamaraty.
O link segue aqui, num trabalho postado em Academia.edu (link: https://www.academia.edu/33515644/Uma_visao_critica_da_politica_externa_brasileira_a_da_SAE-SG_PR) e em Research Gate (link: https://www.researchgate.net/publication/317636574_Uma_visao_critica_da_politica_externa_brasileira_a_da_SAE-SGPR).
Os comentários adicionais que fiz na plataforma Academia.edu, pouco depois, são estes:
Minha diferença fundamental, filosófica talvez, em relação aos autores do documento da SAE, é a de que eles estão interessados em construir um Estado grande e forte, capaz de projetar internacionalmente o Brasil, que nunca deixará de ser uma potência média, o que quer que façamos. O Brasil só seria um país medíocre, e decadente (como tantos outros na história), se não fizermos nada, ou melhor, deixar que elites predatórias se apossem do Estado, como estão fazendo com sanha de sanguessugas e ratazanas com redobrado vigor, desde a redemocratização. Não creio que os militares construíram um Estado impoluto, mas o patrimonialismo rentista era certamente menor no regime militar.
Na redemocratização, nos tornamos presas de uma casta de políticos rentistas e assaltantes dos recursos públicos, o que foi exacerbado no regime companheiro. Não creio que o reforço da fiscalização do Estado resolva esse problema de apropriação de bens públicos. Só a redução do Estado o fará. À diferença da visão grandiosa do documento da SAE, não creio que tal tipo de projeto estatal transforme significativamente o Brasil. Pessoalmente, estou interessado em construir uma nação próspera, e isso não passa pelo Estado, mas por uma sociedade livre.
Na verdade, eu não estou interessado em construir potência nenhuma, de qualquer tipo. Estou apenas interessado em que o Brasil seja uma sociedade integrada, desenvolvida, capaz de prover uma vida decente à maioria dos seus cidadãos, sem qualquer espírito igualitário, baseado na competição e na maior oportunidade de chances a todos.
Sei que mesmo numa perspectiva smithiana, a defesa, a segurança, as relações exteriores passam inevitavelmente pelo Estado, e por isso concedo em que esses aspectos sejam fortalecidos no âmbito do Estado, mas sempre na perspectiva de que uma sociedade livre e competitiva fará isso melhor que exércitos de burocratas e tecnocratas estatais, que se transformam facilmente numa corporação que vive do Estado, para o Estado, no Estado, e para si e em si, o que vale também para os diplomatas.
Eu acho esse debate sobre uma grande estratégia um desvio de objetivos. Em lugar de focalizar o macro, como feito em tantos documentos de tecnocratas — inclusive o recente “Brasil 2035” do Ipea —, eu focaria o micro, para construir um ambiente de negócios condizente com os requerimentos de desenvolvimento do país. Em uma palavra, acho que os tecnocratas impedem o Brasil de se desenvolver. Por isso sou por “pequenas estratégias” focadas no ambiente de negócios para construir riquezas via mercado, não pela mão torta do Estado.

Voilà, é o que penso. Apenas lamento, sinceramente, que não tenha sido possível organizar um debate, seja na universidade, seja no Itamaraty, seja no IPRI, sobre os principais argumentos desse importante documento.
Paulo Roberto de Almeida
Brasilia, 12 de agosto de 2017

The Rise of the East: and the perils of new conflicts - Gideon Rachman

Novo livro, de acordo com o Zeitgeist:

Easternisation

War and Peace in the Asian Century

Easternisation by Gideon Rachman
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US$ 28.19
Selected as a Book of the Year by Evening Standard

The West’s domination of world politics is coming to a close. The flow of wealth and power is turning from West to East and a new era of global instability has begun.
Easternisation is the defining trend of our age – the growing wealth of Asian nations is transforming the international balance of power. This shift to the East is shaping the lives of people all over the world, the fate of nations and the great questions of war and peace.
A troubled but rising China is now challenging America’s supremacy, and the ambitions of other Asian powers – including Japan, North Korea, India and Pakistan – have the potential to shake the whole world. Meanwhile the West is struggling with economic malaise and political populism, the Arab world is in turmoil and Russia longs to reclaim its status as a great power.
We are at a turning point in history: but Easternisation has many decades to run. Gideon Rachman offers a road map to the turbulent process that will define the international politics of the twenty-first century.
Random House; August 2016
320 pages; ISBN 9781473521162
Read online, or download in secure EPUB
Title: Easternisation
Author: Gideon Rachman

Ministerial da OMC em Buenos Aires (12/2017): papers de doutorandos

Chamo a atenção para este anúncio de conferência aberta a doutorandos e mestrandos interessados em comércio internacional:
https://gallery.mailchimp.com/ac44df64ebfd49bfa33c0ef9c/files/4993a425-c344-4417-b4d8-ca5fb481c121/Call_for_Papers_WTO_11th_Ministerial_Conference_Think_Track_esp_.pdf

THINK TRACK MC11 
“Pensando en una gobernanza global del comercio internacional para el Siglo XXI: desafíos y oportunidades en vísperas de la 11ª Conferencia Ministerial de la OMC”
Buenos Aires, 12 de diciembre de 2017

CONVOCATORIA PARA PONENCIAS Y PROPUESTAS DE PANEL
Instituciones organizadoras: Gobierno de la República de Argentina, Banco Interamericano de Desarrollo (BID), Instituto para la Integración de América Latina y el Caribe (INTAL), Consejo Argentino para las Relaciones Internacionales (CARI), Facultad de Derecho de la Universidad de Buenos Aires (UBA), Master of Laws in International Economic Law and Policy (IELPO LL.M.) de la Universidad de Barcelona, Graduate Institute of International and Development Studies, Instituto para el Derecho y la Justicia Internacionales (IILJ) de New York University School of Law (NYU), Georgetown Law.

CONTEXTO
La Argentina será sede de la Conferencia Ministerial de la Organización Mundial del Comercio por primera vez los días 10-13 de diciembre de 2017 (CM11).
En un contexto de incertidumbre sobre el futuro del comercio internacional, la Argentina está convencida de que el camino a seguir es un sistema multilateral robusto, y que es necesario traer la OMC más cerca de la gente. En la próxima CM11, Argentina quiere ayudar a facilitar un multilateralismo renovado, y la comunidad académica está en una posición única para analizar los desafíos que la OMC enfrenta y las oportunidades que se presentan.

En este contexto, el Gobierno de la República Argentina ha lanzado la iniciativa “Think Track MC11”, destinada a apoyar actividades académicas en el ámbito del comercio internacional que puedan contribuir al éxito de la CM11. Como parte de esta iniciativa, con el apoyo del Banco Interamericano de Desarrollo (BID) y el Instituto para la Integración de América Latina y el Caribe (INTAL), y junto al Consejo Argentino para las Relaciones Internacionales (CARI), la Facultad de Derecho de la Universidad de Buenos Aires (UBA), el Master of Laws in International Economic Law and Policy (IELPO LL.M.) de la Universidad de Barcelona, el Graduate Institute of International and Development Studies, el Instituto para el Derecho y la Justicia Internacionales (IILJ) de New York University School of Law (NYU), y Georgetown Law, el Ministerio de Producción organizará una conferencia titulada
“Pensando en una gobernanza global del comercio internacional para el Siglo XXI: desafíos y oportunidades en vísperas de la 11ª Conferencia Ministerial de la OMC” 
el 12 de diciembre de 2017. 

La conferencia promoverá la presentación y discusión de diferentes perspectivas sobre la CM11 y el futuro de la organización.

CONVOCATORIA PARA PONENCIAS Y PROPUESTAS DE PANEL
Las Instituciones Organizadoras lanzan una convocatoria para ponencias y propuestas de panel con miras a contribuir a la Conferencia sobre la base de tres temas principales:

I. Pensando en la gobernanza global del comercio internacional Los participantes son invitados a discutir el escenario del comercio internacional y a abordar los desafíos y oportunidades de cara al futuro, incluyendo el rol del multilateralismo, la evolución de los acuerdos comerciales regionales, la influencia de la política en el sistema comercial internacional, entre otros.

II. La OMC llega a la mayoría de edad A medida que se aproxima el 23° aniversario de la OMC, las propuestas de reforma abundan. Los participantes son invitados a presentar opiniones e ideas para mejoras de la OMC como institución, tales como cambios en su marco institucional, incluyendo la solución de diferencias, y sobre si la OMC debe lidiar con algunas de las cuestiones más apremiantes en la economía internacional (desarrollo, cuestiones ambientales, deuda y finanzas, entre otras), y cómo.

III. La Conferencia Ministerial de Buenos Aires Las discusiones se centrarán en la agenda para la 11ª Conferencia Ministerial y sus posibilidades de éxito, incluyendo los temas nuevos y sus desafíos, el progreso de las negociaciones, el legado de la Ronda Doha, entre otras.

PROCEDIMIENTO
Presentación de resúmenes Estudiantes de posgrado e investigadores jóvenes interesados en presentar trabajo original en la Conferencia deberán enviar un resumen o sinopsis del artículo propuesto detallando
i) el título;
ii) un resumen de 500 palabras o sinopsis;
iii) cinco palabras clave;
iv) CV actualizado.

Las propuestas de panel deben incluir:
i) 3-5 ponentes (que pueden incluir, inter alia, académicos, profesionales, funcionarios gubernamentales, abogados) que se comprometan a viajar a la Conferencia;
ii) título y resumen de la discusión de los tópicos;
iii) información personal de los ponentes;
iv) moderador propuesto.

Los resúmenes y propuestas de paneles deben ser enviados el 15 de septiembre de 2017 a más tardar, en inglés, español o francés a: a.cuevas@ielpo.org.
En caso de enviarse un resumen o propuesta en español o francés, deberá incluirse una versión en inglés.

Selección
Un comité académico compuesto por especialistas de renombre en el área de comercio internacional seleccionará los resúmenes y las propuestas de panel más relevantes de acuerdo a los criterios siguientes:
a) El carácter apropiado para las metas y los tópicos de la Conferencia;
b) Originalidad, creatividad y potencial para contribución a las discusiones;
c) Relevancia para el contexto de las negociaciones dentro del marco de la OMC y la CM11.

Las Instituciones Organizadoras notificarán su decisión sobre la aceptación de resúmenes y propuestas de panel para el 9 de octubre de 2017.

Envío de artículos y documentos de trabajo Los estudiantes e investigadores cuyas propuestas de artículo hayan sido admitidas para presentar en la Conferencia deberán enviar sus artículos completos o documentos de trabajo de hasta 18.000 palabras para el 1 de diciembre de 2017.

Los documentos de trabajo serán aceptados siempre que constituyan borradores completos y extensivos.

FINANCIAMIENTO PARA PARTICIPANTES
Las Instituciones Organizadoras desafortunadamente no podrán cubrir gastos de traslado o alojamiento para todos los participantes. Sin embargo, un número limitado de becas parciales estará disponibles para gastos de traslado y alojamiento de algunos participantes.
Se dará prioridad a estudiantes de posgrado y doctorandos que no puedan obtener apoyo por otros medios y a académicos de países en desarrollo y menos adelantados.
Aquellos que deseen solicitar una de estas becas deberán enviar una carta personal a.cuevas@ielpo.org (Asunto: “Solicitud de ayuda financiera”) declarando el motivo de la solicitud de beca, junto con una carta de recomendación de un supervisor.

sexta-feira, 11 de agosto de 2017

Encontro de estudos de defesa do Centro-Oeste: PUC-GO, Goiânia, 17-19/10/2017

Estudiosos de questões de defesa, segurança nacional, estratégias militares do Cerrado central: preparai-vos para este encontro:


É com enorme satisfação e orgulho que lançamos o edital e o site do II Encontro Regional da Associação Brasileira de Estudos de Defesa Centro-Oeste (II ERABED Centro-Oeste). O evento resulta de uma ampla parceria interinstitucional, idealizada no final de 2015, e será realizado entre os dias 17 e 19 de outubro de 2017, em Goiânia, nas dependências da Pontifícia Universidade Católica de Goiás.

Em nome da Comissão Organizadora, gostaríamos de convidar a todos os interessados, professores, pesquisadores, profissionais e estudantes, para participar e submeter trabalhos ao II ERABED Centro-Oeste. Nós, da comissão, estamos trabalhando para providenciar um evento de eleva qualidade acadêmica e para recebê-los bem na capital goiana.

E, por fim, convém registrar um agradecimento especial a todos os parceiros que apoiam o II ERABED - Centro-Oeste: Associação Brasileira de Estudos de Defesa (ABED), Centro de Estudos Estratégicos do Exército (CEEEx), Escola Superior de Guerra - Campus de Brasília (ESG-Brasília), Instituto Brasileiro de Defesa-Pandiá Calógeras, do Ministério da Defesa (IBED/MD), Instituto de Relações Internacionais e Defesa (InfoRel) e as instituições de ensino superior das regiões Centro-Oeste e adjacentes, como a PUC Goiás, UFG, UnB, UFGD, UFMS, Unemat, UFU, entre outras.

Todas as informações estão (ou estarão) disponíveis no site www.erabedco2017.com e as dúvidas poderão ser esclarecidas pelo e-mail erabedco207@gmail.com.

Atenciosamente,

Comissão Organizadora II ERABED Centro-Oeste

quinta-feira, 10 de agosto de 2017

Geopolitics in Latin America, old and new - Detlef Nolt, Leslie E. Wehner (2015)

I have just downloaded this interesting paper:

Detlef Nolt, Leslie E. Wehner: 
Geopolitics in Latin America, old and new
Routledge Handbook of Latin American Security
London: Routledge, 2015
Accessed on 9 Aug 2017

https://www.academia.edu/34179647/Geopolitics_in_Latin_America_old_and_new




quarta-feira, 9 de agosto de 2017

Tribunais de direitos humanos - Ian Buruma (NYRBooks)


Fools, Cowards, or Criminals?
The New York Review of Books,

The Memory of Justice

a documentary film directed by Marcel Ophuls, restored by the Academy Film Archive in association with Paramount Pictures and the Film Foundation
available on HBO
AFP/Getty ImagesNazi leaders accused of war crimes during World War II standing to hear the verdict in their trial, Nuremburg, October 2, 1946. Albert Speer is third from right in the back row of defendants; Karl Dönitz is at the far left of the same row.

1.

The main Nuremberg war crimes trials began in November 1945 and continued until October 1946. Rebecca West, who reported on the painfully slow proceedings for The New Yorker, described the courtroom as a “citadel of boredom.” But there were moments of drama: Hermann Göring under cross-examination running rings around the chief US prosecutor Robert H. Jackson, for example. Jackson’s opening statement, however, provided the trial’s most famous words:
We must never forget that the record on which we judge these defendants today is the record on which history will judge us tomorrow. To pass these defendants a poisoned chalice is to put it to our own lips as well. We must summon such detachment and intellectual integrity to our task that this Trial will commend itself to posterity as fulfilling humanity’s aspirations to do justice.
How well humanity lived up to these words, after a good number of bloody conflicts involving some of the same powers that sat in judgment on the Nazi leaders, is the subject of The Memory of Justice, the four-and-a-half-hour documentary that has rarely been seen since 1976 but is considered by its director, Marcel Ophuls, to be his best—even better, perhaps, than his more famous The Sorrow and the Pity (1969), about the Nazi occupation of France, the Vichy government, and the French Resistance.
Near the beginning of The Memory of Justice, the violinist Yehudi Menuhin declares that the barbarism of Nazi Germany can only be seen as a universal moral catastrophe: “I proceed from the assumption that every human being is guilty.” The fact that it happened in Germany, he says, doesn’t mean that it cannot happen elsewhere. This statement comes just after we have seen the Nazi leaders, one after the other, declare their innocence in the Nuremberg courtroom.

We also hear a former French paratrooper recall how the French in Algeria systematically tortured and murdered men, women, and children. There are gruesome images of the Vietnam War. And Telford Taylor, US counsel for the prosecution at Nuremberg, wonders how any of us would cope with the “degeneration of standards under pressures.” Later in the film, Taylor says that his views on Americans and American history have changed more than his views on the Germans whom he once judged.
Such juxtapositions are enough to send some people into a fury. The art critic Harold Rosenberg accused Ophuls in these pages of being “lured…into a near-nihilistic bog in which no one is guilty, because all are guilty and there is no one who is morally qualified to judge.”1 Ophuls, according to Rosenberg, “trivialized” the Nazi crimes and “diluted” the moral awfulness of the death camps.
This is to misunderstand what Ophuls was up to. The film never suggests that Auschwitz and the My Lai massacre, or French torture prisons in Algiers, are equivalent, let alone that the Vietnam War was a criminal enterprise on the same level as the Holocaust. Nor does Ophuls doubt that the judgment on Göring and his gang at Nuremberg was justified. Ophuls himself was a refugee from the Nazis, forced to leave Germany in 1933, and to flee again when France was invaded in 1940. Instead he tries, dispassionately and sometimes with touches of sardonic humor, to complicate the problem of moral judgment. What makes human beings who are normally unexceptional commit atrocities under abnormal circumstances? What if such crimes are committed by our fellow citizens in the name of our own country? How does our commitment to justice appear today in the light of the judgments at Nuremberg? Will the memory of justice, as Plato assumed, make us strive to do better?
Ophuls does not dilute the monstrosity of Nazi crimes at all. But he refuses to simply regard the perpetrators as monsters. “Belief in the Nazis as monsters,” he once said, “is a form of complacency.” This reminds me of something the controversial German novelist Martin Walser once said about the Auschwitz trials held in Frankfurt in the 1960s. He wasn’t against them. But he argued that the daily horror stories in the popular German press about the grotesque tortures inflicted by Nazi butchers made it easier for ordinary Germans to distance themselves from these crimes and the regime that made them happen. Who could possibly identify with such brutes? If only monsters were responsible for the Holocaust and other mass murders, there would never be any need for the rest of us to look in the mirror.
It is true that Ophuls does not interview former Nazis, such as Albert Speer and Admiral Karl Dönitz, as a prosecutor. His role is not to indict, but to understand better what motivates such men, especially men (and women) who seem otherwise quite civilized. For this, too, Rosenberg condemned him, arguing that he should have balanced the views voiced by these criminals with those of their victims, for otherwise viewers might give the old rogues the benefit of the doubt.
There seems to be little danger of that. Consider Dönitz, for example, who makes the bizarre statement that he could not have been anti-Semitic, since he never discriminated against Jews in the German navy, forgetting for a moment that there were no known Jews in Hitler’s Kriegsmarine. When Ophuls asks him whether he really believes that there was no connection between his ferociously anti-Semitic speeches and the fate of the Jews under the government he served, the admiral’s tight little mouth twitches alarmingly before denying everything in the harsh yelp of a cornered dog. This speaks for itself, and needs no “balancing” by another voice.
Ophuls is a superb interviewer, polite, cool, and relentless. His tone is often skeptical, but never moralistic or aggressive. This allows him to get people to say things they may not have divulged to a more confrontational interlocutor. Albert Speer was responsible for, among other things, the ghastly fate of countless slave laborers pulled from concentration camps to work in German armaments factories. Responding to Ophuls’s quiet probing, this most slippery of customers speaks at length about the moral blindness and criminal opportunism that came from his ruthless ambition. Unlike most Germans of his generation, Speer believed that the Nuremberg trials were justified. But then, he could be said to have got off rather lightly with a prison sentence rather than being hanged.
Where Dönitz is shrill and defensive, Speer is smooth, even charming. This almost certainly saved his life. Telford Taylor believed that Speer should have been hanged, according to the evidence and criteria of Nuremberg. Julius Streicher was executed for being a vile anti-Semitic propagandist, even though he never had anything like the power of Speer. But he was an uncouth, bullet-headed ruffian, described by Rebecca West as “a dirty old man of the sort that gives trouble in parks,” a man one could easily regard as a monster. The judges warmed to Speer as a kind of relief. Compared to Streicher, the vulgar, strutting Göring, the pompous martinet General Alfred Jodl, or the hulking SS chief Ernst Kaltenbrunner, Speer was a gentleman. What saved him, Taylor recalls in the film, was his superior class. When Ophuls puts this to him, a ghostly smile flits across Speer’s face: “If that’s the explanation…, then I am only too pleased I made such a good impression.” In the event, Speer got twenty years; Dönitz only got ten.
Ophuls said in an interview that it was easy to like Speer. But there is no suggestion that this mitigated his guilt. The historian Hugh Trevor-Roper, who also interviewed Speer at length, called him “the true criminal of Nazi Germany,” precisely because he was clearly not a sadistic brute but a highly educated, well-mannered, “normal” human being who should have known better than to be part of a murderous regime. This is perhaps the main point of Ophuls’s film as well: there was nothing special about the Germans that predisposed them to become killers or, more often, to look away when the killings were done. There is no such thing as a criminal people. A quiet-spoken young architect can end up with more blood on his hands than a Jew-baiting thug. This, I think, is what Yehudi Menuhin meant by his warning that it could happen anywhere.

2.

Far from being a moral nihilist who trivialized the Nazi crimes, Ophuls was so committed to his examination of guilt and justice that The Memory of Justice had a narrow escape from oblivion. The companies that commissioned it, including the BBC, did not like the rough cut. They thought it was far too long. Since the film was to be based on Telford Taylor’s book Nuremberg and Vietnam: An American Tragedy (1970), they wanted more on the Vietnam War and less on Nuremberg. Rejection only made Ophuls, who never took kindly to being told what to do by the men in suits, stick more stubbornly to his own vision. He was less interested in a specifically American tragedy, or indeed a German tragedy, than in man’s descent into barbarousness, wherever or whenever it happens.
Ophuls was locked out of the cutting room in London. The producers put together a shorter version of the film, with a different spin, which was sold to ZDF television in Germany. Ophuls then traveled all over Europe to save his own version. A German court stopped ZDF from showing the shorter one. The original edit was smuggled to the US, where a private screening reduced Mike Nichols to tears. Hamilton Fish, later a well-known publisher, managed to persuade a group of investors to buy the original movie back and Paramount to distribute it. It was shown at the Cannes Film Festival in 1976, and then in New York and on college campuses, as well as on television in many countries. But for the cussed perseverance of Ophuls and the help of his American backers, The Memory of Justice would never have been seen. In Fish’s words, “You needed his type of personality to make such a film. He took history on personally.”
After its initial run, however, the movie disappeared. Contracts on archival rights ran out. The film stock was in danger of deteriorating. And so a documentary masterpiece could easily have been lost if Martin Scorsese’s Film Foundation had not stepped in with Paramount to put it all back together again, a labor that took ten years and was completed in 2015.
Much has changed, of course, since 1976. Germany is a different country now, geographically, politically, and culturally. When Ophuls talked to Dönitz, the West German establishment was still riddled with former Nazis. Most of the wartime generation masked their dirty secrets with evasions or shabby justifications. The history of the Third Reich, in the words of Eugen Kogon, a Holocaust survivor and the first German historian to write about the camps, was still “the corpse in the cellar.”
Quite ordinary people, like the smiling man encountered by Ophuls in a small town in Schleswig-Holstein, still remembered the Third Reich with great fondness as an orderly time when people knew how to behave and there was “no problem of crime.” Ophuls happened to meet this friendly burgher while he was trying to track down a female doctor who had been convicted at Nuremberg for murdering children in concentration camps by injecting oil into their veins, to name just one of her grisly experiments. After she was released from prison in 1952, she continued for a time to practice as a family doctor. She was, it appears, well respected, even friendly.
When Ophuls finally managed to find her, she very politely declined to be interviewed, since she was in poor health. Another former concentration camp doctor, Gerhard Rose, did agree to talk, however, but only to deny any guilt, claiming that his medical experiments (infecting victims with malaria, for example) served a humanitarian purpose, and that the US Army performed experiments too. Ophuls observes, quite rightly, that American experiments were hardly conducted under the kind of circumstances prevailing in Dachau and Buchenwald. But the hypocrisy of the Western Allies in this matter might have been better illustrated by pointing out that German and Japanese doctors who committed even worse crimes than Dr. Rose were protected by the US government because their knowledge might come in handy during the cold war.2
Perhaps the most disturbing interview in the movie is not with an unrepentant Nazi or a war criminal, but with the gentlemanly and highly esteemed lawyer Otto Kranzbühler. A navy judge during the war, Kranzbühler was defense counsel for Admiral Dönitz at Nuremberg, where he cut a dashing figure in his navy uniform. He later had a successful career as a corporate lawyer, after defending the likes of Alfried Krupp against accusations of having exploited slave labor. Kranzbühler never justified Nazism. But when asked by Ophuls whether he had discussed his own part in the Third Reich with his children, he replied that he had come up with a formula to make them understand: if you were ignorant of what went on, you were a fool; if you knew, but looked the other way, you were a coward; if you knew, and took part, you were a criminal. Were his children reassured? Kranzbühler: “My children didn’t recognize their father in any of the above.”
Dominique Nabokov: Marcel Ophuls, Neuilly, circa 1988
It was a brilliant evasion. But Kranzbühler was no more evasive than the French prosecutor at Nuremberg, the equally urbane Edgar Faure, who had been a member of the Resistance during the Nazi occupation of France. Ophuls asked him about French war crimes during the Algerian War of Independence, when torture was systematically applied, civilians were massacred, and prisoners were thrown out of helicopters, a practice that later became widespread under South American military regimes. “Well,” said Faure, “events do get out of hand. But you can’t really criticize politicians who have the difficult task of running the government.” Edgar Faure was prime minister of France during part of that war.
The 1970s were a critical time in Germany. There were still people, like the son of the former Waffen SS officer interviewed by Ophuls, who believed that the Nazi death camps were a lie, and it was the Americans who built the gas chambers in concentration camps. But the postwar generation had begun to question their parents amid the student revolts of the 1960s. Just a year after The Memory of Justice was completed, radicalism in Germany turned toxic, when members of the Red Army Faction murdered bankers, kidnapped industrialists, and hijacked planes, all in the name of antifascism, as though to make up for their parents’ complicity with the Nazis.
German families were torn apart by memories of the war. Ophuls includes his own not uncomplicated family in the film. His German wife, Regine, the daughter of a Wehrmacht veteran, speaks openly to American students about her own childhood under the Nazis. One of their teenaged daughters talks about the need to come to terms with the past, even though their mother finds seventeen a little too young to be confronted with images of concentration camps. Then Regine says something personal that cuts to the core of her husband’s life and work. She wishes sometimes that Ophuls would make films that were not about such dark matters. What kind of films? he asks. Lubitsch films, she replies, or My Fair Lady all over again. We then hear Cyd Charisse singing “New Sun in the Sky” from The Band Wagon (1953), while watching Ophuls in a car on his way to find the doctor who murdered children in concentration camps.
This is typical of the Ophuls touch, show tunes evoking happier times overlapping with memories of horror. The motive is not to pile on cheap irony, but to bring in a note of autobiography. His father was Max Ophuls, the great director of Liebelei (1933), La Ronde (1950), and Lola Montès (1955). Max was one of the geniuses of the exile cinema. Memories of a sweeter life in imperial Vienna or nineteenth-century France are darkened in his films by a sense of betrayal and perverse sexuality.
Nostalgia for better days haunted his son, who spent his youth on the run from terror with a father whose genius he always felt he couldn’t live up to. He would have loved to direct movies like La Ronde. Instead he made great documentary films about the past that won’t let him go, about Vichy France, or Klaus Barbie, the Gestapo butcher of Lyon, or Nuremberg. The true horror stories are mixed in all his work, as in a collage, with songs from pre-war Berlin music halls and Hollywood movies.
One of the most unforgettable examples of the Ophuls touch is a scene in a film that has almost never been viewed (another bitter fight with producers). November Days (1991) is about the fall of the Berlin wall. One of the people he interviews is Markus Wolf, the former East German spy chief, whose father, the Communist writer Friedrich Wolf, had known Max Ophuls in pre-war Berlin. While Markus dodges every question about his past with blatant lies, we hear music from one of Max’s movies slowly swell on the soundtrack as Marcel thinks out loud to himself how lucky he was that his father decided to move west instead of east.

3.

In the second half of The Memory of Justice, the focus shifts from east to west, as it were, from Germany to France and the US. Daniel Ellsberg, speaking of Vietnam, says that “this war will cause us to be monstrous.” We hear stories from men who were there of American soldiers murdering civilians in cold blood. We hear a Vietnam veteran talk about being told to shut up by his superiors when he reports a massacre of civilians ordered by his commanding officer. We hear Ellsberg say that no one higher than a lieutenant was ever convicted for the mass killing of Vietnamese civilians by US soldiers in My Lai.
On the French side, stories about summary executions and the use of torture during the Algerian War (1954–1962) are followed by a crucial question put by Ophuls to Edgar Faure, the former Nuremberg prosecutor and later prime minister of France: Did he, Edgar Faure, think the French would have accepted an international commission that would judge, on the basis of Nuremberg, what the French did in Algeria? No, said Faure, after a pensive suck on his pipe, since one cannot compare the invasion of another country to the actions taken by a sovereign state in its own colony.
Sir Hartley Shawcross, the British prosecutor at Nuremberg, speaking to Ophuls in his elegant country house in Sussex, remembers how much his American colleagues had believed in justice and the rule of law. Like other British officials at the time, he took a more cynical view: “All law is created by the victors for the vanquished.” What mattered in his opinion, however, was not who made the laws, but whether the principles were right. About this he had little doubt.
Looking back, Otto Kranzbühler shared Shawcross’s memory of American idealism. But he believed that as a model for the future, Nuremberg had been a failure. The trial, as he saw it, presupposed a united world community in which wars would be a thing of the past. This illusion did not last long.
In fact, the trial was tainted from the beginning, not only because among the men who judged the Nazi leaders were Soviet veterans of Stalin’s bloody show trials, but also because Allied war crimes could not even be mentioned. A former British officer involved in the wartime bomber command had no doubt that the destruction of Dresden was a war crime.
If The Memory of Justice has a weakness, it is that this second half of the film, concentrating on French and American war crimes, is not quite as gripping as the first half about the German legacy of Nuremberg. Perhaps Ophuls’s heart was not in it to the same extent. Or perhaps no matter what one thinks of My Lai or Algiers, they are overshadowed by the sheer scale and savagery of the Nazi crimes.
Then again, pace Rosenberg, Ophuls doesn’t suggest that they are equivalent. What is comparable is the way people look away from, or justify, or deny what is done in their name, or under their watch. The wife of a US marine who died in Vietnam, living in a house stuffed with flags and military memorabilia, simply refuses to entertain the idea that her country could ever do anything wrong. More interesting, and perhaps more damning, is the statement by John Kenneth Galbraith, an impeccably liberal former diplomat and economist. His view of the Vietnam War, he tells Ophuls, had been entirely practical, without any consideration of moral implications.
Vietnam was not the Eastern Front in 1943. My Lai was not Auschwitz. And Galbraith was certainly no Albert Speer. Nevertheless, this technocratic view of violent conflict is precisely what leads many people so far astray under a criminal regime. In the film, Ellsberg describes the tunnel vision of Speer as “controlled stupidity,” the refusal to see the consequences of what one does and stands for.
This brings to mind another brilliant documentary about controlled stupidity, Errol Morris’s The Fog of War (2003), featuring Robert McNamara, the technocrat behind the annihilation of Japanese cities in World War II and the escalation of the Vietnam War in the 1960s. To him, the deliberate killing of hundreds of thousands of civilians was a mathematical problem. Only many years later did he admit that if the US had lost World War II, he could certainly have been indicted as a war criminal.
Even more chilling is another documentary by Morris, which received less attention than The Fog of War. In The Unknown Known (2013), we see Donald Rumsfeld, another gentlemanly technocrat, shrug his shoulders about Vietnam, commenting that “sometimes things just don’t work out.” When, as the result of another war in which he was even more intimately involved, Baghdad was convulsed in anarchic violence, he notoriously remarked that “stuff happens.” This is what Hannah Arendt called a “criminal lack of imagination.”
Perhaps the US in 1945 set its ideals too high. But it is a tragedy that the same country that believed in international law, and did so much to establish the norms of justice, has done so little to live up to them. The US is not even a signatory to the International Criminal Court, a flawed institution like the Nuremberg tribunal, but a necessary step in the right direction. No one can hold the greatest military power on earth accountable for what it does, not for torture rooms in Abu Ghraib, not for locking people up indefinitely without trial, not for murdering civilians with drones.
For Germans living under the Third Reich it was risky to imagine too well what their rulers were doing. To protest was positively dangerous. This is not yet true for those of us living in the age of Trump, when the president of the US openly condones torture and applauds thugs for beating up people at his rallies. We need films like this masterpiece by Ophuls more than ever to remind us of what happens when even the memories of justice fade away.
  1. “The Shadow of the Furies,” The New York Review, January 20, 1977; see also the exchange between Rosenberg and Ophuls, The New York Review, March 17, 1977.  
  2. The most notorious case was that of Surgeon General Ishii Shiro of Unit 731, the biological warfare unit of the Imperial Japanese Army, who tortured countless people to death in Manchuria in the course of his experiments. He was shielded by US authorities from prosecution as a war criminal in exchange for data from the experiments. 

Desarmamento nuclear - voto de A. A. Cançado Trindade na CIJ-Haia

FUNAG edita o livro "The Universal Obligation of Nuclear Disarmament" 


A Fundação Alexandre de Gusmão (FUNAG) publica a obra “The Universal Obligation of Nuclear Disarmament” de Antônio Augusto Cançado Trindade, professor e juiz da Corte Internacional de Justiça (CIJ). Trata-se de edição, em inglês, do livro "A Obrigação Universal de Desarmamento Nuclear", com prefácio do embaixador Sergio de Queiroz Duarte, ex-Alto Representante das Nações Unidas para Assuntos de Desarmamento, e apresentação do presidente da FUNAG, embaixador Sérgio Eduardo Moreira Lima.  

O livro está disponível para download gratuito na biblioteca digital da Fundação.

 

Crimes econômicos do lulopetismo - Fellippe Hermes (Spotniks)

Estes são apenas alguns dos incontáveis crimes econômicos do lulopetismo, e muitos são na verdade  e principalmente crimes comuns, como descobrimos desde o Mensalão.

Paulo Roberto de Almeida


BRASIL

Abrimos a caixa-preta do BNDES e estes foram os 8 fatos mais bizarros que encontramos

Felippe Hermes

Spotniks, 8/08/2017


No Brasil, até o passado é imprevisível.

Atribuída ao ex-ministro da Fazenda Pedro Malan, a frase é um resumo de como as contas públicas costumam ser tratadas por aqui. Governo após governo, esqueletos são escondidos no armário e sujeira é jogada para baixo do tapete, tudo para preservar a propaganda oficial.

Na propaganda que estávamos acostumados a ver até pouco tempo atrás, o pré-sal traria uma revolução ao país, injetando R$ 120 bilhões na educação em dez anos e outras centenas de bilhões na saúde. O crescimento da economia estava garantido, graças aos investimentos da Petrobrás e seus fornecedores, que ultrapassavam a barreira de R$ 1 trilhão. Para quem se acostumou a ouvir estes números fantásticos, junho de 2017 mostrou-se um verdadeiro balde de água fria. Foi neste mês que metade do petróleo extraído no país passou a vir do pré-sal.

A previsão de produzir quatro milhões de barris por dia tornou-se apenas miragem. Produzimos apenas 15% mais que no início da febre do óleo. O resultado? A Petrobrás inteira vale hoje R$ 178 bilhões, cerca de 10% menos que o dinheiro injetado pelo governo e pelos acionistas na maior capitalização da história da bolsa brasileira (quando corrigido pela inflação).

Descobrimos, neste meio tempo, que o Fies – outro programa revolucionário – escondia uma inadimplência de 50%, e seu custo saltou de R$ 600 milhões para R$ 11 bilhões, entre 2013 e 2015; ou que empréstimos subsidiados a grandes empresas custaram no mesmo período nada menos do que R$ 223 bilhões; ou que fraudes não auditadas no INSS somam hoje uma fatura de R$ 6 bilhões, apenas em uma modalidade de benefício, o auxílio-doença.

Todos estes números fazem parte de um mesmo escândalo, ainda adormecido: o governo se negou durante anos a incluí-los na contabilidade oficial. Varreu a sujeira para debaixo do tapete e manteve-se fiel à própria propaganda.

Graças à Lava Jato e às demais investigações da Polícia Federal, hoje sabemos que os planos infalíveis para fazer o país prosperar eram na verdade planos infalíveis destinados a fazer prosperar partidos, políticos e alguns poucos privilegiados que mantiveram relação próxima ao governo e ao Congresso.

Na última semana, o mesmo Congresso decidiu abrir a caixa-preta daquele que, pelos números, é de longe nosso maior esquema conhecido, o do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), parte fundamental do crescimento monstruoso de empresas como Odebrecht e JBS. A CPI ainda está em fase inicial, mas adiantamos aqui algumas das descobertas que estão por vir.

1. Entre 2003 e 2016, os grandes empresários receberam R$ 1 trilhão do banco, contra R$ 372 bilhões de todos os programas sociais.

Quando se trata de propaganda oficial, poucas coisas ganharam tanta relevância nos últimos anos quanto os programas sociais. Do Bolsa-Família ao Minha Casa, Minha Vida, passando ainda por Fies, Pronatec, Ciência Sem Fronteiras, etc., quase tudo era uma prova legítima de que o governo estava de fato empenhado em mudar a realidade dos mais pobres.

Na outra ponta, o mesmo governo empenhava-se em garantir financiamentos generosos para um grupo seleto, de pouco mais de 1.000 empresas do país, cujo faturamento passava dos R$ 300 milhões. Sozinhas, estas empresas – que representam 0,00002% das empresas do país – ficaram com 67% de todo o financiamento concedido pelo BNDES. O custo? R$ 1 trilhão em subsídios totais.

Na prática, cada um dos 85 milhões de brasileiros atingidos por algum programa social, recebeu ao longo do mesmo período uma média de R$ 437 por ano em benefícios.

Pequeno detalhe: cada um destes 85 milhões de brasileiros paga mensalmente 53,9% da sua renda em impostos para subsidiar o outro grupo.

2. 80% do lucro gerado pelo programa ficou com os bancos privados.

Com boa parte dos recursos do banco tendo origem no caixa do governo federal, por meio de emissão de dívida pública, o BNDES ainda encontrou um problema para repassá-lo às empresas: o banco não possui agências e sua capacidade de distribuir os recursos é limitada.

Foi aí que grandes bancos privados entraram em cena. Do total de recursos liberados, cerca de 91% se deu através das chamadas operações indiretas. Em outras palavras, o BNDES pegava dinheiro com o governo, repassava-o aos bancos privados e estes realizavam as operações finais.

Todo o risco da operação, realizada com juros menores do que a inflação no período, ficava com o próprio BNDES, enquanto o custo real de captação do dinheiro ficava com o governo. Na parte dos lucros, porém, a coisa mudava de figura.

Apenas no PSI, o Programa de Sustentação do Investimento, que liberou R$ 359 bilhões entre 2008 e 2015, os bancos privados lucraram R$ 8 bilhões, contra R$ 2 bilhões do banco público.

Em inúmeros casos, a taxa de juros praticada pelo banco chegou a ser de 0%, contra 1,5% nos empréstimos de maior risco (valor que se somaria aos 5,5% que o banco era obrigado a pagar ao governo pelo empréstimo dos recursos).

Na prática, o governo criou não apenas um “Bolsa-Empresário”, mas também um “Bolsa-Banqueiro”, com lucros altos e risco zero.

3. As obras realizadas pela Odebrecht no exterior geraram um prejuízo de R$ 1 bilhão por ano aos trabalhadores.

O porto de Mariel, em Cuba, tornou-se a grande estrela das críticas feitas ao financiamento do BNDES a obras no exterior. Trata-se não apenas de apoio a uma ditadura com sérios problemas de violação dos direitos humanos, mas também uma das operações mais privilegiadas já realizadas pelo sistema financeiro mundial.

Para emprestar os recursos à Odebrecht, que construiria o porto, tivemos de aceitar como garantia de pagamento por parte do governo cubano a renda obtida pelo país em exportação de tabaco, além de garantir que os juros se manteriam rigorosamente abaixo dos praticados mundialmente em operações do tipo e atrelar o valor da operação ao peso cubano, e não ao dólar, como seria o padrão.

Como estas, outras 3.000 obras foram realizadas com dinheiro brasileiro, sendo 85% delas feitas pela empreiteira Odebrecht.

Ao contrário das obras realizadas localmente, o banco utilizou recursos do FAT, o Fundo de Amparo ao Trabalhador, para financiar as obras. Ao todo R$ 55 bilhões tiveram este destino.

Graças à diferença entre os juros praticados lá e a inflação aqui, os trabalhadores brasileiros tiveram um prejuízo de R$ 11 bilhões com as operações, ou cerca de R$ 1 bilhão por ano.

Com cerca de 35 milhões de contas ativas no FAT, ligado ao FGTS, o prejuízo médio de cada trabalhador chegou aos R$ 314, apenas com obras como a linha 4 do metrô de Caracas na Venezuela, hidrelétricas na Nicarágua, estradas em Angola e inúmeras outras.

4. As quatro empresas que mais receberam dinheiro do banco no período estão no centro da Lava Jato.

Com a prisão do ex-presidente da Petrobras Aldemir Bendine, a JBS torna-se hoje a única entre as quatro maiores beneficiárias pelo banco a não ter seu presidente ou ex-presidente preso. Eike Batista, que cumpre prisão domiciliar, e Marcelo Odebrecht, condenado a mais de 19 anos de prisão, concluem a lista.

Dentre todas as empresas, nenhuma recebeu tantos recursos quanto a estatal. Foram cerca de R$ 35 bilhões para financiar o ousado plano de investimentos da companhia, em especial obras em refinarias como Abreu e Lima e o pré-sal, além da construção de sondas pela empresa Sete Brasil, formada por um consórcio de fundos de pensão e bancos privados como BTG, Santander e Bradesco.

Segundo se sabe hoje, pelas investigações da força tarefa da operação Lava Jato, foi nestas obras que ocorreram a maior parte dos crimes contra a Petrobras, cujos protagonistas foram as maiores empreiteiras do país.

A maior delas, a Odebrecht, beneficiou-se não apenas indiretamente, como também diretamente ao obter linhas de financiamentos para negócios tão distintos quanto a produção de cana-de-açúcar e etanol e submarinos nucleares. De fato, a Odebrecht – assim como a EBX de Eike Batista – tornou-se uma especialista em tudo.

Onde quer que houvesse uma oportunidade de conseguir um financiamento público e prestar um serviço ao governo, lá estava a empreiteira.

Das empresas de Eike financiadas pelo banco, a Eneva, de energia, e a Prumo, de logística, mudaram de mãos, sendo vendidas para controladores estrangeiros, como o nome já deixa claro (perderam o famoso X colocado pelo empresário nas empresas originais).

O mesmo destino aguarda boa parte do império construído pela família Batista na JBS. Hoje, da empresa de iogurtes à empresa de celulose, quase tudo está à venda.

5. 90% dos recursos do banco são direcionados a empresas que geram 16% dos empregos do país.

Empreender no Brasil não é nada fácil. Gastamos quase oito vezes mais tempo para preencher burocracia e pagar impostos do que a média dos países ricos. Ainda assim, temos quase duas vezes mais empresas que os Estados Unidos.

O motivo desta distorção é bastante simples: no Brasil, empreender e montar o próprio negócio – seja ele um mercadinho ou uma caixa de isopor para vender bebida na praia – pode ser a alternativa entre não ter renda alguma ou conseguir sobreviver no fim do mês.

Há 48 milhões de brasileiros nestas condições, o que na prática significa que há mais patrões do que empregados no Brasil e, na sua maioria, patrões cuja remuneração não chega sequer a dois salários mínimos. 36% deles recebe entre R$ 0 e um salário mínimo no fim do mês (incluindo aí boa parte dos 1,8 milhão que quebram todo ano). Apenas 12% recebe mais de cinco salários mínimos.

Ainda assim, quando decidiu alavancar a economia, o governo decidiu que o melhor a ser feito era alavancar aqueles que, em condições normais, poderiam se financiar por meio de bancos, ou ainda da bolsa de valores.

O resultado é que, desde que os desembolsos do banco começaram a explodir, o número de empresas que abriu capital na Bovespa despencou.

Pense rápido: sendo você um grande empresário, qual a melhor alternativa para captar grana para o seu negócio? Vender parte das suas ações, cumprir regras rígidas de gestão e dar satisfação a acionistas minoritários, ou pegar uma grana em um banco público, gastar como quiser e ainda pagar um valor menor do que a inflação pelos empréstimos? O resultado é uma piora bastante elevada nos padrões de governança de médias e grandes empresas.

A gestão que todo grande empresário gosta de defender como alternativa às crises constantes do governo foi severamente afetada por estas políticas. Tudo isso com a conivência dos representantes empresariais, é claro.

6. As grandes empresas apoiaram estas medidas e você pagou o pato.

O clima de revolta com possíveis aumentos de impostos tem sido canalizado com bastante eficiência por entidades como a FIESP, a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo. O grande problema é o que está em falta, tanto na política quanto na elite brasileira: coerência.

Para Benjamin Steinbruch, dono da CSN e atual vice-presidente da FIESP, o país precisaria de três BNDES para dar conta do recado.

Apoios enfáticos ao que algumas revistas chegaram a chamar de choque de capitalismo não foram nenhuma novidade. Em 2012, o então presidente do BTG, André Esteves, chegou a chamar de revolucionária a medida promovida pela presidente Dilma Rousseff de conceder portos, aeroportos, ferrovias e rodovias à iniciativa privada, tudo financiado com dinheiro do mesmo banco público do qual o BTG foi um dos maiores entusiastas, uma vez que tornou-se um dos 70 agentes repassadores de créditos.

Grandes empresas, como a hoje falida Oi, tiveram crescimento vertiginoso com o crédito amigo e retribuíram com elogios às medidas adotadas até então.

7. Todas as famílias e pequenas e microempresas brasileiras foram forçadas a ficar com menos de 20% do crédito total no país.

Que o Brasil não é um país habituado à poupança também não chega a ser nenhuma novidade. Exatamente por isso, os financiamentos crescentes que impulsionariam o lucro dos bancos tiveram como base a emissão de dívida pública.

Somando os três maiores bancos públicos do país, cerca de 53% do crédito existente passou a ser gerado pelo estado brasileiro, com quase 60% sendo subsidiado, seja para grandes empresas ou para o agronegócio. Durante uma década, praticamente todo mundo que sabia lidar com a tal da burocracia pôde buscar um subsídio pra chamar de seu e jogar a conta pro colo do contribuinte.

Ao todo, empresas e famílias economizam 18% ao ano, em relação ao PIB. O governo gasta 3% a mais do que arrecada e estrangeiros colocam outros 3% do PIB em investimentos. Some tudo e o resultado é uma taxa de investimentos que dificilmente passa dos 18%

Desde que começamos a impulsionar nosso crescimento via crédito, o investimento em máquinas e equipamentos do país não chegou a sofrer grandes alterações.

Saímos de um investimento de 18,3% em 2008, para 18,4% em 2015, com uma pequena diferença: nos endividamos em 15% do PIB para fazer isso.

Ao todo, dos R$ 4,4 trilhões da dívida total brasileira hoje, nada menos do que 20% teve como finalidade financiar e subsidiar empresas.

O resultado é que, para muitas empresas, tornou-se mais lógico não investir recursos próprios e alocar este dinheiro na compra de dívida pública. Desta forma, poderiam lucrar 6% já descontada a inflação, e ainda assim investir, já que sempre poderiam contar com a mão amiga do mesmo governo que lhes pagava polpudos lucros.

Ao todo, 72% do crédito do país hoje é destinado para financiar o governo, enquanto grandes empresas abocanham quase um terço do crédito restante, deixando menos de R$ 1 em cada R$ 5 de crédito existente no país para micro e pequenas empresas e famílias que decidam trocar de carro ou simplesmente comprar um celular parcelado.

8. Você, seus filhos e seus netos ainda pagarão a conta pelo menos até 2060.

Cerca de sete anos foi o tempo necessário para o PSI – Programa de Sustentação do Investimento – ser iniciado e abandonado pelo governo federal. Com as novas discussões sobre o fim da taxa de juros praticada pelo banco, abaixo das taxas de mercado, e a criação de uma nova taxa, que remunere de acordo com os juros praticados pelo próprio governo – a TLP – a expectativa é que os efeitos do programa sejam diluídos, ao menos no curto prazo.

O certo é que, independentemente do que se mude daqui pra frente, tal política deixou um saldo negativo nas contas públicas que, pela previsão mais otimista, terminará de ser pago em 2060.

Com juros de 5,5% ao ano, os empréstimos do tesouro ao banco se estendem por décadas, em uma condição pra lá de generosa. Ainda que R$ 100 bilhões tenham sido adiantados em 2016, o saldo ainda permanece e será rolado até 2060.

Enquanto os recursos do próprio banco continuam sendo rolados, com novos empréstimos, a conta segue pesando, e segundo o próprio governo estima, serão R$ 323,2 bilhões.

Apenas em 2017, o custo será de R$ 31 bilhões, valor superior aos desembolsos do Bolsa-Família, duas vezes maior que os investimentos em saneamento básico, maior do que os gastos com universidades públicas e quase dez vezes o gasto com equipamentos hospitalares para reaparelhar o SUS.

Trata-se definitivamente de uma herança que, na melhor das hipóteses, serve de aviso para toda vez que o governo chegar e disser que tem uma solução para salvar o país. Na hipótese mais realista, uma conta que se somará às próximas tentativas de fazer enfim chegar o país do futuro, tudo capitaneado por um presidente que nos prometerá maravilhas e que certamente não estará aqui quando a conta chegar.