O que é este blog?

Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

segunda-feira, 2 de setembro de 2019

Cidades de acesso a textos PRAlmeida na plataforma Academia.edu


Onde estão os que acessam textos PRAlmeida em Academia..edu?

Levantamento efetuado apenas para os três últimos dias, em 2/09/2019

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Postura de um general de reserva sobre as ameaças à Amazonia - Carlos Alberto Pinto Silva (Defesanet)

Creio que este general reflete bastante do pensamento dos militares brasileiros no tocante a supostas ameaças à soberania nacional, no caso, mais uma vez, a famosa "internacionalização" da Amazônia.
Não tenho tempo, nesta madrugada de segunda-feira (02:31 da madrugada) de comentar em detalhe seus argumentos, mas eles são reveladores de certas reações primárias compatíveis com a paranoia normal dos militares no tocante a supostas ameaças à soberania do Brasil.
Não creio que vá mudar muito, pois a obrigação dos militares é, por definição, cultivar a paranoia, inclusive por razões orçamentárias.
Lamento pela descoordenação com uma política internacional sensata por parte do Brasil.
Estamos em tempos paranoicos, mais do que o normal.
Paulo Roberto de Almeida

Texto de fundamental importância do Gen Ex R1 Pinto Silva para os leitores de DefesaNet

MACRON E AS AÇÕES HOSTIS AO BRASIL  
“O Brasil para ser desenvolvido e respeitado pelos os demais Estados têm de lutar em defesa de sua soberania e por ideias que exerçam apelo além de suas fronteiras”[1].

Carlos Alberto Pinto Silva[2]

Defesanet, 1/09/2019

A cobiça sobre as incalculáveis riquezas da Amazônia não é uma exclusividade dos dias atuais. O objetivo de integrá-la definitivamente ao contexto nacional tem sido buscado ao longo das gerações, sem ser, contudo, alcançado plenamente.

Dissociada do restante do território nacional, a Amazônia tem sofrido fortes ameaças que atentam contra a soberania nacional, como é o caso da atual cometida pelo Presidente Macron, da França.

O presidente francês afirmou que está “em aberto o debate sobre a internacionalização jurídica da floresta amazônica”.

A situação vivida na atual conjuntura brasileira é a de paz relativa, uma Guerra Política[3] Permanente, não há inimigo e sim estados com ações hostis em defesa dos seus interesses. Está acontecendo um “Conflito na Zona Cinza”, caracterizado por uma intensa competição política, econômica, informacional, mais acirrada que a diplomacia tradicional, porém inferior à guerra convencional, realizada por Estados[4] que têm seus interesses desafiados pelo Brasil.

Ninguém começa uma Guerra Política contra um país amigo do seu povo, ou melhor, ninguém de bom senso deve fazê-lo, sem ter bem claro em sua mente o que com ela pretende alcançar. França e Alemanha motivadas pela assinatura do acordo MERCOSUL e União Europeia, acusam o Brasil de estar destruindo a Amazônia e de não cumprir com acordos relativos ao meio ambiente, e ameaçam com retaliações políticas e econômicas, mal disfarçando o verdadeiro motivo que é o de proteger suas economias.

A decisão de empreender uma “Guerra Política” contra o Brasil poderia ser baseada numa avaliação de custos e benefícios, ser empreendida com vistas a alcançar-se um objetivo político que fosse de interesse do Estado Frances, e nunca para atender a necessidade do Presidente Macron de se projetar internacionalmente como “defensor da humanidade”, e recuperar sua reputação na política interna protegendo seus agricultores. 

O centro de gravidade da ação dos Estados hostis ao Brasil, na atual conjuntura, está voltado a desestabilizar o governo, a desacreditar autoridades, a criar o caos na sociedade com o auxílio do potencial de protesto da oposição e da imprensa simpática à social democracia, sucedendo-se a uma inevitável crise política.

Devido às nossas possíveis atividades de defesa serem de um país em desenvolvimento contra países do G7, as ações devem ter um objetivo político claramente definido e responsabilidades políticas firmemente estabelecidas. Devemos criar, com a participação da sociedade, uma “Frente Nacional” de defesa do país.

Existem certas medidas fundamentais, entre elas, como manobra interior:
  
- despertar o interesse da sociedade pelos assuntos de defesa;

- buscar a harmonização dos três Poderes em assuntos de defesa e política externa;

 - buscar a integração das diversas ferramentas do Poder Nacional e dos grupos não estatais em benefício da defesa dos interesses nacionais do país, forçando o oponente a confrontar vários campos de batalha, simultaneamente;

 - permitir usar todos os elementos do Poder Nacional, em uníssono e com a combinação certa de instrumentos diplomáticos, econômicos, militares não cinéticos, políticos, jurídicos e culturais para cada situação;

- buscar a participação da própria população na defesa da soberania da nação;

- todos os fatores do Poder Nacional possuem uma estreita dependência do poder econômico, a ciência de bem aplicá-los na defesa da nossa soberania está na sua integração e harmonização;

- buscar a excelência nas atividades de guerra em rede, de inteligência artificial, segurança cibernética, e espionagem eletrônica;

- buscar que todos os brasileiros saibam o que é um “Conflito na Zona Cinza[5]”;- usar a Guerra Assimétrica Reversa [6] e a Assimetria Estratégica [7];
  

Indicação sem diplomacia (Dudu Bolsonaro em Washington) - Marco Aurelio Nogueira

Indicação sem diplomacia

Blog Marco Aurélio Nogueira, 7/07/2019
embaixada 1
O presidente da República, Jair Bolsonaro, compareceu a uma solenidade na Câmara dos Deputados, segunda-feira 15/7, para declarar, entre outras coisas, que as críticas feitas à possibilidade de indicar seu filho Eduardo (PSL-SP) para assumir a embaixada do Brasil em Washington são a melhor prova de que a indicação está correta. Se o filho “está sendo criticado, é sinal de que é a pessoa adequada”, afirmou Bolsonaro na tribuna da Câmara.
Nos últimos dias, várias vozes se levantaram para criticar a pretensão presidencial, interpretada como incompatível com as normas democráticas, a política externa brasileira e suas tradições de pragmatismo e independência, e também como uma atitude de nepotismo. Em sua esmagadora maioria, as críticas foram feitas sem qualquer recorte político-partidário.
A pretensão do presidente não é só nepotismo. É uma mistura de nepotismo com falta de visão estratégica (dos interesses nacionais) e com espírito de provocação. Revela falta de quadros e teimosia. Embaixadores são agentes do Estado, não podem ser reduzidos à condição de preferidos do presidente, especialmente se são seus familiares. Precisam de estofo técnico e intelectual e devem ser indicados a partir de avaliações criteriosas, que levem em conta a formação dos candidatos e sua capacidade de representar adequadamente os interesses do País. Isso tudo é mais do que sabido, e causa espanto que o presidente dê de ombros para obviedade tão grande.
Eduardo Bolsonaro não tem credenciais para representar o Estado brasileiro em Washington. Faltam-lhe experiência, vivência mundana, conhecimento técnico e histórico, consistência e maturidade intelectual. Também não se caracteriza por ter particular disposição para o diálogo, que é a essência da diplomacia. Não é um negociador “natural”, mas um provocador, que pratica a hostilidade permanente e vê inimigos por toda parte.
Ao Brasil em nada interessa que seu embaixador em Washington seja cegamente alinhado com as políticas de Trump, pois isso trava a soberania do País, pode implicar desrespeito aos interesses nacionais e colide com o tradicional pragmatismo da política externa brasileira. O gesto do presidente vem com sabor de “vingança” contra a parcela do corpo diplomático que resiste ou é contra as novas orientações. É mais ressentimento que outra coisa, com uma dose extra de desejo de promover o filho.
Hoje em dia, confusão pouca é bobagem. No episódio, ela se repõe, ampliada. Quanto mais atrito e dissonância, melhor. Como quem nada quer, o bolsonariano extremista Olavo de Carvalho buscou dar sua contribuição ao debate. Para ele, Eduardo não deveria aceitar a embaixada pois, caso o fizesse, deixaria de dar continuidade à investigação sobre o Foro de São Paulo, que, na sua opinião, tem muito maior relevância para o ajuste de contas com a esquerda, meta estratégica do governo. Em sua obsessão anticomunista e do alto da soberba de se achar qualificado para opinar sobre tudo e todos, o astrólogo parece vetar Eduardo porque deseja ficar com o campo livre para continuar posando de “embaixador informal” nos EUA.

Palestra de Rubens Ricupero na ABL: esperando o vídeo...

Ainda não pude assistir, pois não foi colocado no site da ABL.

Diplomata Rubens Ricupero discorre sobre o tema “Um futuro pior que o passado? Reflexões na antevéspera do bicentenário da Independência”

O diplomata e ex-ministro da Fazenda Rubens Ricupero foi o palestrante convidado da última conferência do ciclo O que falta ao Brasil?, que tem como coordenadora a Acadêmica e escritora Rosiska Darcy de Oliveira. O tema foi Um futuro pior que o passado? Reflexões na antevéspera do bicentenário da Independência. O evento ocorreu no dia 29 de agosto, quinta-feira, no Teatro R. Magalhães Jr. (Avenida Presidente Wilson, 203 - Castelo, Rio de Janeiro).
A Acadêmica e escritora Ana Maria Machado é a coordenadora geral dos Ciclos de Conferências de 2019.
Os Ciclos de Conferências, com transmissão ao vivo pelo Portal da ABL, têm o patrocínio da Light.
Foram fornecidos certificados de frequência.

O Convidado

Rubens Ricupero nasceu em São Paulo (1.° de março de 1937), foi diplomata de carreira e aposentou-se após ocupar a chefia das embaixadas do Brasil em Genebra, Washington e Roma. Exerceu os cargos de Ministro do Meio Ambiente, da Amazônia Legal e da Fazenda (governo Itamar Franco). Entre 1995 e 2004, dirigiu, como Secretário-Geral, a Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD) em Genebra. No mesmo período, foi Subsecretário-Geral da Organização das Nações Unidas (ONU).
Atualmente é Diretor da Faculdade Armando Álvares Penteado (FAAP) em São Paulo. Foi professor de História das Relações Diplomáticas do Brasil do Instituto Rio Branco e de Teoria das Relações Internacionais da Universidade de Brasília. É autor de vários livros e ensaios sobre história diplomática, relações internacionais, desenvolvimento econômico e comércio mundial. Seu livro A diplomacia na construção do Brasil recebeu o Prêmio Senador José Ermírio de Morais.

Leitura complementar

Biblioteca Rodolfo Garcia disponibiliza seu acervo para pesquisa e leitura de obras relacionadas ao tema desta conferência, como "A Crise Internacional e seu Impacto no Brasil;""Intérpretes do pensamento desenvolvimentista" e "Bicentenário da Independência".
Para consultar mais materiais como os citados, acesse o link abaixo e visite os "Levantamentos bibliográficos" realizados para este evento.

domingo, 1 de setembro de 2019

Marco Aurelio Nogueira: artigos disponíveis no seu blog

O professor Marco Aurelio Nogueira, colaborador habitual do Estadão, envia uma lista de seus artigos das últimas semanas:

Convido-o a acessar os artigos publicados nos últimos dois meses em meu site. São os seguintes: 


Jorge Nagle: A educação como valor permanente

O risco Bolsonaro e o País que se despedaça

Cálculos ocultos e busca por hegemonia

Indicação sem diplomacia

Impropérios internacionais

A política como maldade e grosseria

A hostilidade como procedimento

Defender a cultura, sempre: a arte e a vida de Virginia Artigas


Por que Moro não sai

 

Os artigos podem ser acessados clicando nos títulos em azul. Ou diretamente em https://marcoanogueira.pro/

O governo como principal estimulador das queimadas - Natalie Unterstell, Paulo Gontijo e Gabriel Santos

Por uma resposta à altura da nossa potência ambiental

Comissão vai ajudar o país a retomar políticas públicas adequadas e transparentes

​O Governo do Amazonas declarou estado de emergência em função do alastramento das queimadas em agosto. Mesmo sem nenhuma queimada legal ter sido autorizada neste ano, ainda assim o número de focos de calor alcançou níveis sem precedentes. 
No vizinho estado do Acre, foi a população que reagiu rápido, depois de sofrer com problemas respiratórios. Um grupo de Rio Branco iniciou uma petição pela instalação da CPI das Queimadas que já alcançou 4 milhões de assinaturas. A urgência do tema mobilizou a sociedade civil no Brasil e no exterior, que foi às ruas cobrar por uma resposta à emergência climática. E o que fez o governo?
Bolsonaro chegou atrasado. O número de queimadas atingiu maior nível o nesta década —acima dos 80 mil focos no Brasil e mais de 43 mil na Amazônia— enquanto o país acumulava milhões de reais em prejuízo. E nós estamos apenas na metade da estação seca na região Norte do país. Historicamente, é na segunda metade dela que a situação piora.
O que nos levou ao nível de emergência não foram ventos fortes associados a extremos climáticos. Também tem pouco a ver com o uso produtivo: em geral, quem realiza atividades no ambiente amazônico costuma dominar técnicas de manejo do fogo ou fazer agricultura sem queimar. Segundo a bióloga Erika Berenger, da Universidade de Oxford, a Amazônia não sofre incêndios espontâneos. De acordo com os nossos melhores climatologistas, este não é um ano de seca em função de eventos climáticos.
Queimadas iniciadas de forma intencional e criminosa são a causa e têm como objetivo arrebatar ilegalmente terras públicas. A sensação de impunidade motivou e cresceu a olhos vistos, uma vez que os principais interlocutores do governo com a sociedade afirmaram para quem quisesse ver, ler ou ouvir, o intento de acabar com a fiscalização e o cumprimento das leis ambientais. Um governo que se elegeu com o discurso de combate à corrupção, fecha os olhos para as ilegalidades ambientais e se torna aliado e protetor de quem destrói a biodiversidade do país.
Até hoje, o Ministério do Meio Ambiente não apresentou nenhuma estratégia, plano ou política pública para cuidar da nossa biodiversidade. O orçamento destinado à prevenção e ao controle de queimadas foi cortado pela metade neste ano. Distribuídos nos estados, a maioria dos cargos de superintendentes do IBAMA continuam vagos por decisão do ministro. 
Os planos de controle do desmatamento sumiram. A área responsável por adaptação climática foi excluída da estrutura e hoje não há um único servidor cuidando do assunto. E há um forte negacionismo do conhecimento já acumulado por instituições na gestão das florestas e na agricultura de vanguarda. Todos esses fatores já ameaçam o acordo entre o Mercosul e a União Europeia, para o qual o compromisso ambiental é essencial.
Diante da inação governamental e da falta de diálogo, os movimentos cívicos Acredito, Agora! e Livres propuseram uma resposta imediata, com base nas milhões de assinaturas, pedindo providências concretas. Propõe-se a instalação de uma comissão externa, que terá papel fiscalizatório, envolvendo as duas casas legislativas federais sobre o Ministério do Meio Ambiente. Precisamos que o Brasil priorize uma política ambiental efetiva e eficiente.
Não é sobre colocar agentes públicos para apagar fogo, tampouco proibir por decreto as queimadas —que mais parece uma ação para inglês ver.  O verdadeiro desafio é assegurar que, em matéria ambiental, o poder público aja com responsabilidade e transparência. O Brasil, país megadiverso e rico em natureza, só se tornará a potência ambiental que é se tiver política pública adequada para isso.

Da mediocridade em seu estado presidencial - editorial Estadão

O Brasil já conheceu grandes presidentes e também, infelizmente, presidentes medíocres ou ineptos.
O próprio Deodoro, inaugurador da linhagem republicana, foi um presidente medíocre, autoritário, mas que acabou renunciando. Um outro, também militar, aliás Marechal, que derrotou Rui Barbosa com jogo sujo e eleições fraudadas, mandou bombardear a capital da Bahia.
João Goulart podia ser um político experiente no jogo sujo do populismo, mas como presidente foi um completo inepto, deixando o país sangrar num grevismo irresponsável e com sua economia destruída pela inflação desenfreada. Sarney também era um político matreiro, mas entregou o poder ao seu sucessor com uma inflação de 80% AO MÊS! Este último continuou a obra de erosão inflacionária, além de ser corrupto.
Mais recentemente tivemos o chefe de uma organização criminosa que organizou o maior esquema de corrupção de que já se teve notícia no hemisfério ocidental. Sua sucessora, um poste complacente, não apenas foi totalmente tolerante com o gigantesco esquema de corrupção, mas também lançou o Brasil na maior recessão de sua história econômica, uma Grande Destruição feita de uma inépcia exemplar (sic), com malversações no trato das contas públicas que a deveriam ter levado à cadeia.
Agora temos um presidente grotesco, que combina diversas más qualidades, algumas evidenciadas neste Editorial do Estadão: grosseiro, autoritário, vulgar, mentiroso, descortês, antidiplomático ao extremo, ignorante, agressivo, tendo já acumulado vários atentados ao decoro e à dignidade do cargo, quando não um prova cabal de total despreparo para a alta função que exerce. Uma junta médica poderia descobrir traços de insanidade e julgá-lo inapto para o cargo.
Como sempre, assino embaixo do que escrevo.
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 1/08/2019

O presidente que nos envergonha

A degradação da Presidência
Faria bem ao presidente Jair Bolsonaro aprender a ter modos no exercício do cargo
Editorial — Notas e Informações
O Estado de S.Paulo, 28 de agosto de 2019

O presidente Jair Bolsonaro só diz as barbaridades que diz porque não lhe são interpostos a contento os devidos freios, se não jurídicos, de natureza ética. A rigor, o que ocorre é exatamente o oposto. De seus fiéis apoiadores, uma parcela estimada em 30% dos eleitores, e de seu círculo próximo de colaboradores - alguns deles, na verdade, meros bajuladores -, o presidente tem recebido o incentivo incondicional e barulhento para agir exatamente como tem agido, ou seja, estimulando conflitos em vez de ser o agente primaz da pacificação de um país esgarçado.

De outros segmentos da sociedade, incluindo algumas autoridades, o que se observa é, no máximo, uma certa resignação diante da absoluta inadequação de Jair Bolsonaro para o elevado cargo ao qual foi alçado. Com frequência, costuma-se dizer que “ele (o presidente) é isso”, “ele é assim mesmo”, como se a aceitação de um padrão de comportamento que amesquinha a Presidência da República não fosse muito grave.

É evidente que há focos de indignação na sociedade, até mesmo entre aqueles que votaram em Bolsonaro, diante dos impropérios do presidente, cada vez mais frequentes. Mas estes nem de longe são capazes de levá-lo à reflexão sobre suas palavras e ações. Fiel à sua conhecida natureza autoritária, Jair Bolsonaro desqualifica qualquer opinião diferente da vassalagem ou da adulação.

O resultado não poderia ser pior. Sentindo-se à vontade para proceder como se a dignidade do cargo fosse um luxo excessivo e descartável, o presidente Bolsonaro tem impingido constrangimentos atrás de constrangimentos aos brasileiros ciosos da moralidade pública, da ética e da altivez que deve ter o ocupante da Presidência da República.

Há poucos dias, um desses apoiadores mais santanários de Jair Bolsonaro publicou no perfil oficial do presidente no Facebook uma inominável grosseria contra a primeira-dama da França, Brigitte Macron. Na visão do sujeito, a recente animosidade entre Emmanuel Macron e o presidente brasileiro, por conta da crise ambiental na Região Amazônica, seria fruto da “inveja” do presidente francês diante da “beleza” da primeira-dama brasileira, Michelle Bolsonaro. O mínimo que se poderia esperar é que a tolice de um fã destrambelhado fosse ignorada. Mas o presidente Jair Bolsonaro não só a comentou, como a endossou. “Não humilha, cara. Kkkkkkk”, respondeu o chefe do Poder Executivo, usando linguagem de um adolescente carente de riqueza vocabular.

A baixeza do presidente do Brasil mereceu pronta resposta de sua contraparte francesa. O presidente Emmanuel Macron veio a público na segunda-feira passada dizer que tem “amizade e respeito pelo grande povo brasileiro” e disse esperar que o Brasil “tenha rapidamente um presidente que se comporte à altura”.

Este foi apenas mais um lamentável episódio de uma série de atitudes do presidente Jair Bolsonaro que, pouco a pouco, têm degradado a Presidência da República. Não faltam exemplos nesses pouco mais de oito meses de mandato, indo desde a defesa da tortura como ação de Estado até a negação da Ciência.

O presidente Jair Bolsonaro, ao contrário do que possa parecer, não age irrefletidamente. Não é crível supor que tenha feito o comentário que fez a respeito dos atributos físicos da primeira-dama francesa, apenas para ficar no caso mais recente, sem sopesar as reações às suas baixarias. Se não há cálculo político, no mínimo há um desleixo moral que só viceja no mais alto cargo executivo da República porque a ele não é dado o devido combate.

Parece cada vez mais claro que Jair Bolsonaro optou por radicalizar ainda mais seu discurso e suas ações a fim de manter acesa a chama do que acha ser a militância mais aguerrida. Essa é uma atitude infantojuvenil que não cabe ao presidente da República, representante constitucional do povo brasileiro. O País já assistiu a essa prática e os resultados não foram bons. Faria bem ao presidente Jair Bolsonaro aprender a ter modos no exercício do cargo. Se não por educação e liturgia, por proveito pessoal.

sábado, 31 de agosto de 2019

Livre comércio SEMPRE é a melhor política - Donald Boudreaux

Livre comércio é a melhor política, não importa o que aconteça

A citação de hoje é do ensaio de janeiro de 1832 de Albert Gallatin, “Memorial of the Committee of the Free Trade Convention” (disponível na íntegra aqui), uma parte da qual é citada na página 169 do livro de Douglas Irwin de 2017, “Clashing Over Commerce” (ênfase adicionada pelo autor):
Que, ao se multiplicar em qualquer país os caminhos da indústria doméstica, maior escopo é dado à sua utilização, um mercado mais diversificado e menos propenso de ser alagado com seus produtos, e um campo maior é aberto a todas as espécies de habilidade e talento é, sem dúvida, verdadeiro. Mas direcionar essa indústria para atividades não lucrativas que não podem ser sustentadas sem exagerado fardo pago pelo consumidor, e uma perda nacional correspondente, não abre novos caminhos para a indústria produtiva, mas apenas a desvia de atividades lucrativas para não lucrativas para a comunidade. É realmente notável que os defensores do sistema restritivo devam fingir considerar seus memorialistas como teóricos ousados, quando não pode haver uma questão mais clara do que o fato que se um homem paga dois dólares a mais por seu casaco, seu arado ou os implementos de seu comércio, isto é uma perda para ele, que ele deve pagar com o produto de seu trabalho, e que a soma dessas perdas individuais é na verdade uma perda nacional.
Do final de setembro até o início de outubro de 1831, houve na Filadélfia uma Convenção de Livre Comércio, sobre a qual sei muito pouco além do que é revelado neste ensaio de Albert Gallatin.
Albert Gallatin (1761 – 1849)

Ontem e hoje

Durante o segundo quarto do século XIX nos Estados Unidos, Henry Clay, do Kentucky, foi o mais poderoso, vigoroso e (sim) inflexível oponente do livre comércio. Seu “sistema americano”, como era chamado, não passava de uma versão do início do século XIX de um nacionalismo econômico. Clay e seus seguidores viam os negócios e empregos possibilitados pelos gastos do governo e pelas tarifas protecionistas; eles eram cegos para os negócios e empregos – e bens de consumo – negados ao povo americano por essas intervenções.
Uma das realidades que ficaram claras com o relato de Douglas Irwin sobre o debate a respeito de políticas comerciais que ocorreu na época é que o passado é de fato um prólogo. As questões de hoje são as mesmas que eram na época, mesmo que o “temido” parceiro comercial hoje seja diferente. (Naquela época, o temido parceiro comercial era a Grã-Bretanha, hoje é principalmente a China.) As falácias econômicas que alimentaram Henry Clay e seu movimento são idênticas àquelas que hoje alimentam a hostilidade ao livre comércio por pessoas como Donald Trump, Wilbur Ross, Peter Navarro e Steve Bannon. E muitas das acusações lançadas contra o livre comércio pelos protecionistas daquela época não diferem substancialmente das acusações feitas hoje.
Houve o ad hominem. Por exemplo, Clay grosseiramente acusou o ativista pró (mais) livre mercado Albert Gallatin de ser hostil aos interesses americanos porque ele, Gallatin, nasceu na Suíça.
E houve os que estavam simplesmente enganados – um exemplo frequente do qual é belamente exposto na parte acima em negrito da citação de Gallatin. Os protecionistas (aqueles que Jon Murphy chama mais precisamente de “escassistas”), erroneamente supondo serem profundos, na época, como hoje, acusavam os ativistas pró-comércio de serem idealistas cujas teorias os cegavam para a realidade. No entanto, como está implícito na resposta de Gallatin, a teoria que os protecionistas rejeitam por ser especulativa e pouco confiável é, na verdade, uma aplicação direta de aritmética simples e análise econômica básica: tarifas que forçam para cima os preços que os cidadãos pagam por bens e serviços são uma perda para estes cidadãos, e porque as empresas e os setores domésticos que existem apenas por conta das restrições comerciais e dos subsídios são geralmente aqueles que operam com menos eficiência do que aquelas empresas e aqueles setores domésticos que são destruídos por tais intervenções, a quantidade de recursos necessários para sustentar qualquer padrão de vida (ou taxa de crescimento econômico) é maior com tais intervenções do que sem. Em suma, tais intervenções tornam a maioria das pessoas mais pobres do que seriam de outra forma.

O livre comércio não comprovado é um mito

É um mito que o livre comércio não seja comprovado na prática. Esqueça que os países com comércio mais livre têm tanto renda per capita mais alta como taxas de crescimento econômico mais rápidas. Olhe, em vez disso, para o essencial da questão. Todos os dias você negocia livremente com muitos comerciantes. Você acha que você e sua família enriqueceriam se seu vizinho extraísse pagamentos punitivos de você sempre que você comprasse algum item que ele julgasse ser de um vendedor localizado muito distante de sua vizinhança? Todos os dias, os habitantes do Arizona negociam livremente com os texanos e os habitantes de Rhode Island. Você acha que os habitantes do Arizona seriam enriquecidos se o governo desse estado obstruísse sua capacidade de negociar como preferirem com pessoas localizadas em outros estados?
As pessoas negociam livremente inúmeras vezes, todos os dias. Sim, sim, estou bem ciente de que esse tipo de comércio não é livre como o ideal. Licenças ocupacionais, por exemplo, obstruem injustamente e prejudicialmente o comércio interno. Mas o fato permanece que hoje dentro de cada país – inclusive nos EUA – o comércio não é tipicamente obstruído com base na localização geográfica ou em fronteiras políticas. E, portanto, as pessoas compram e vendem livremente dentro dos países. Se a defesa de uma política de livre comércio não fosse prática – se fosse apenas uma curiosidade teórica – então seria verdadeiro que as pessoas comuns seriam ainda mais ricas se o Estado obstruísse suas capacidades de negociar umas com as outras internamente.
É também um mito que o argumento econômico para uma política de livre comércio em qualquer país requer que outros governos também pratiquem o livre comércio. A defesa de uma política de livre comércio é, no fundo, uma defesa do livre comércio unilateral: embora quase todos no mundo se beneficiariam se todos os governos adotassem políticas de livre comércio, quase todos no país de origem seriam beneficiados se o seu governo adotasse uma política de livre comércio, independentemente das políticas de outros governos.
O protecionismo é uma mistura desagradável de falácias lógicas, meias-verdades, arrogância, ignorância econômica e apologia ao clientelismo.

Esse artigo foi originalmente publicado como Free Trade Is the Best Policy, No Matter What para o Cafe Hayek.

Destruição da Petrobras pelo PT: onde estamos no ressarcimento?

Esta notícia é de exatos dois anos atrás, ou seja, 1/09/2017.
O que aconteceu desde então?
A Justiça recuperou o dinheiro, ou tudo continua com o cenário habitual: recursos intermináveis?

Multas e indenizações contra os que saquearam a Petrobras.
Pergunta inocente: o PT vai fazer uma vaquinha para ajudar o ex-presidente da Petrobras? Afinal de contas, ele colocou a companhia a serviço do Partido...

”Gabrielli e Cerveró terão que devolver US$ 79,9 milhões” - O Tribunal de Contas da União (TCU) condenou ontem o ex-presidente da Petrobras José Sérgio Gabrielli e o exdiretor da Área Internacional Nestor Cerveró a ressarcirem os cofres da Petrobras em US$ 79,89 milhões e a pagarem multa de R$ 10 milhões em razão de prejuízos na compra da refinaria de Pasadena, no Texas. Esse é o primeiro resultado de uma das tomadas de contas especiais abertas no tribunal para tentar reaver o dinheiro perdido no negócio. Ao todo, foram instauradas três tomadas de contas — a que resultou na condenação de Gabrielli e Cerveró diz respeito à aquisição da segunda metade da refinaria. O ressarcimento dos US$ 79,89 milhões é solidário, a ser compartilhado entre Gabrielli e Cerveró. Os dois têm 15 dias, contados a partir da notificação, para comprovar o depósito do dinheiro à estatal. Cerveró, segundo a conclusão do TCU, comandou as negociações da aquisição da segunda metade da refinaria e elaborou uma carta de intenções sem “delegação do colegiado diretor nem do conselho de administração’’. Gabrielli, por sua vez, autorizou as tratativas comandadas pelo então diretor da Área Internacional, segundo o TCU. Já a multa de R$ 10 milhões é individual e deve ser recolhida ao Tesouro Nacional, também num prazo de 15 dias. As irregularidades foram consideradas graves e, por essa razão, os dois foram condenados pelo tribunal a ficarem inabilitados para cargos públicos por um período de oito anos. O TCU também pediu que a Advocacia-Geral da União (AGU) e a presidência da Petrobras adotem “medidas necessárias ao arresto dos bens dos responsáveis, tanto quanto bastem para o pagamento do débito”.
Outros investigados que teriam concordado com o negócio devem se explicar em audiência no tribunal. Entre eles está a ex-presidente da Petrobras Maria das Graças Foster.
Nessa tomada de contas especial, o TCU eximiu de responsabilidade os conselheiros de administração da Petrobras, uma vez que o colegiado não deu aval ao negócio, conforme o tribunal. O TCU já determinou o bloqueio de bens de dez ex-gestores da Petrobras apontados como responsáveis por um prejuízo de US$ 792 milhões na compra da refinaria de Pasadena. Entre eles estão Gabrielli, Cerveró, Paulo Roberto Costa e Renato Duque — esses três últimos investigados na Lava-Jato.