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Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

segunda-feira, 9 de setembro de 2019

Diplomacia bolsonarista: todos os passos estavam cientificamente calculados

Mais uma matéria, de meados de dezembro de 2018, que antecipava quais seriam as principais iniciativas da Bolsodiplomacia, sob condução prática do chanceler acidente, mas guiada pela mesma tropa olavobolsonarista que assegurou enorme influência no governo atual.
Não se pode dizer que não tenhamos sido avisados dos desastres que estavam sendo construidos...


Futuro chanceler propôs a Bolsonaro pacto cristão com EUA e Rússia
Artigo de Ernesto Araújo selou sua nomeação ao novo governo
Tatiana Bilenky
Folha de S.Paulo, 16 dezembro 2018 às 2h00

Um artigo reservado do diplomata Ernesto Araújo com proposições de política externa, tais como a “contestação ao eixo globalista China-Europa-esquerda americana”, selou seu ingresso na equipe ministerial do presidente eleito, Jair Bolsonaro (PSL).
O texto, obtido pela Folha, que Araújo fez chegar ao núcleo da campanha em setembro, foi o primeiro passo para sua posterior nomeação como chanceler do futuro governo.
Intitulado “Por uma política externa do povo brasileiro”, o artigo, de cinco páginas, é propositivo, uma espécie de carta de intenções.
Nele, o diplomata revisa o pacifismo nacional (“não estamos no mundo para ser Miss Simpatia”) e sugere um realinhamento internacional do Brasil com o eixo de direita populista em ascensão.
“É o caso dos Estados Unidos com Donald Trump, da Itália com seu atual governo, de alguns países da Europa do Leste como Polônia e Hungria. É o caso talvez de alguns países não ocidentais que desejam defender suas próprias civilizações e suas nações frente ao globalismo dominante”, escreve.
Em sua interpretação, “há países que resistem à demonização do sentimento nacional, ao esmagamento da fé (principalmente da cristã), que rejeitam o esvaziamento da alma humana e sua substituição por dogmas anêmicos que servem apenas aos interesses de dominação mundial de certas elites”. 
Folha o procurou para comentar o teor. Araújo respondeu que era complicado e que conversaria a respeito depois, o que não ocorreu.
Com a vitória nas urnas, a primeira das sugestões do artigo já foi anunciada: a saída do Brasil do Pacto Mundial para Migração, que propõe a cooperação internacional para enfrentar ondas migratórias.
No texto, Araújo já defendia o que chamou de “dessacralização da imigração, combatendo a ideologia do ‘imigrante intocável’, do direito universal à migração sobrepondo-se à soberania nacional”.
O texto propõe a “renacionalização das políticas comerciais”, alegando não se tratar “de negar o comércio, mas de tornar a política comercial um instrumento do Estado, e não [fazer do] Estado um instrumento da política comercial”. 
Nessa linha, Araújo defende que o Brasil questione os Brics, bloco formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. Sugeriu que se tente, no lugar, constituir “um agrupamento nacionalista Brasil – EUA – Itália – (Rússia?) – (Índia?) – (Japão?) – (países de Visegrado?)”, em suma “um Brics antiglobalista sem a China”.
Os países de Visegrado são Hungria, Polônia, República Tcheca e Eslováquia.
Sem entrar em detalhes, o futuro chanceler faz uma proposição inusitada no campo da geopolítica, que causou estranhamento entre interlocutores de Bolsonaro. Para Araújo, conviria ao governo “explorar a possibilidade de um núcleo composto pelos três maiores países cristãos, Brasil-EUA-Rússia”.
Ele expressa preocupação particular com a questão da fé, requerendo “promoção da liberdade religiosa, notadamente defesa do espaço para o exercício da fé cristã, ameaçada e acuada em todo o mundo”.
À China são reservadas numerosas linhas. Araújo quer impor ao país, principal parceiro comercial do Brasil, “pressão em todas as frentes”. 
“Condicionar qualquer avanço na relação com esses países ao exercício da liberdade religiosa e liberdades políticas básicas”, propõe. “Utilizar os organismos financeiros internacionais para frear a crescente dependência dos países em desenvolvimento em relação ao capital chinês. Virar o jogo da globalização contra a China.”
Em sintonia com o discurso de Bolsonaro, Araújo defende a “liquidação do bolivarianismo nas Américas”. Segundo o diplomata, “o Brasil poderia comandar o processo de deslegitimação do governo Maduro na Venezuela e pressão total, juntamente com os EUA, para sua substituição por um regime democrático”.

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comentários

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1.              EDUARDO DE AZEVEDO SILVA
17.dez.2018 às 2h02
Quanta imbelicidade! Caminhamos a Passos largo para o abismo.
2.              WAGNER CASTRO
16.dez.2018 às 21h36
Defendem ora sectarismos, ora expurgos, ora assassinatos, ora torturas, ora opressões, ora tudo isso, a depender da posição relativa desses atos espúrios do centro ideológico, não obstante sejam espúrios de qualquer lado, e falam cinicamente de "pacto cristão"? "Hipócritas! Bem profetizou Isaías sobre vós, denunciando: Este povo me honra com os lábios, mas seu coração está longe de mim. Em vão me adoram; pois ensinam doutrinas que não passam de regras criadas por homens. (Mt. 15:8,9)
3.              MAURO UMBERTO ALVES
16.dez.2018 às 15h20
A Rússia não é um país com esse nível de primitivismo das vanguardas do atraso do Brasil, reunidas sob Bolsonaro. Religião não deve interferir nas relações entre os estados. a Rússia é aliada da China, influente nos países muçulmanos, mantém boas relações com Israel, Irã e Arábia Saudita, enfim, jamais vai querer estar vinculada a um projeto nefasto para o Brasil e o mundo, como o governo Bolsonaro.
1.                                MIRELLA KOLD
17.dez.2018 às 9h13
Muito bem posto !
4.              ERNESTO PICHLER
16.dez.2018 às 11h11
Esse chanceler representa a ideologia do atraso, com características medievais. Discriminar a China por não ser cristã é apenas uma Bozalidade. O Japão também não é cristão. Mesmo a Europa, é cada vez menos cristã e mais científica, à medida que a educação progride.



A diplomacia brasileira isolada do mundo: alerta de Eliane Cantanhede em Dezembro de 2018!

Dezessete dias ANTES da posse, a jornalista Eliane Cantanhede já antecipava o desastre que seria a diplomacia bolsonarista, com o servilismo total do chanceler acidental às ideias estapafúrdias da tropa olavista.
Cabe republicar novamente o que ela escrevia em meados de dezembro de 2018: 


Risco de isolamento
Brasil torce o nariz para o multilateralismo e aposta num nacionalismo arrogante
Eliane Cantanhêde, O Estado de S.Paulo 
14 Dezembro 2018 | 05h00


Se há três áreas em que o Brasil tem protagonismo consolidado nos foros internacionais, essas áreas são meio ambientedireitos humanos e migração. O temor é o Brasil encolher e retroceder justamente nas três, não só pelo presidente eleito, Jair Bolsonaro, mas também pelo futuro chanceler Ernesto Araújo e suas ideias extravagantes. 
Qualquer um que tenha participado de grandes encontros sobre meio ambiente sabe, viu, constatou como a voz do Brasil é relevante, não só pela Amazônia, mas pela grande biodiversidade brasileira. Como “Deus é brasileiro”, não temos tsunamis nem terremotos, mas, sim, sol o ano inteiro, água doce e salgada, florestas variadas, combustível fóssil e renovável, solo fértil, vento e chuva. E uma das leis mais modernas na área. 
O Brasil também pode se orgulhar de, depois de vinte anos, ter feito a transição do regime militar para a democracia sem um único tiro, uma única gota de sangue, e assim passou a ser uma voz ouvida e respeitada na área de direitos humanos – apesar de tudo, principalmente do horror medieval nas penitenciárias e cadeias comuns. 
Por fim, o povo brasileiro é uma síntese de todas as etnias e dos mais variados sobrenomes do mundo todo. O nosso País é lindamente multiétnico e acolhedor. Isso tem enorme valor, atrai respeito, admiração e espaço nos grandes debates sobre migração, como na construção do Pacto Global de Migração, que reúne 160 países. 
É surpreendente, portanto, a forma como o futuro chanceler (faltam alguns dias...) Ernesto Araújo puxou o tapete do atual, Aloysio Nunes Ferreira. Em Marrakesh, o ainda chanceler subscrevia o pacto em nome do Brasil. Em Brasília, seu quase sucessor anunciava, simultaneamente, que o Brasil vai sair do pacto. Nada poderia ser mais antidiplomático. 
“Foi mais do que surpreendente, foi chocante”, disse Nunes Ferreira por telefone, depois de ter reagido a Ernesto Araújo pelo mesmo veículo que ele usara para negar o pacto de migração: o Twitter. Novos tempos. 
São sinais preocupantes da política externa, já rechaçados pela China, pelo Egito, agora pela Alemanha, que põe o pé no freio no acordo União Europeia-Mercosul, e pela Liga Árabe, que acaba de entregar uma carta no Itamaraty questionando a mudança da embaixada brasileira, de Tel-Aviv para Jerusalém, o que agrada a Israel e irrita todo o mundo árabe. 
Essas manifestações e ações de Araújo – logo, de Bolsonaro – seguem um único mentor, Donald Trump, e uma ideologia, o antimultilateralismo. Sai a adesão aos órgãos multilaterais ou regionais, como ONU, OMC, Mercosul, e entra em cena um nacionalismo a la Trump: voltado para dentro, voluntarioso, arrogante, de confronto. 
Todas as sinalizações externas do governo Bolsonaro replicam, sem tirar nem por, as posições de Trump: contra o Acordo de Paris, contra o Pacto de Migração, beligerância com a China, alinhamento explícito a Israel, implicância com a ONU e a OMC... Só que, assim como o Brasil não são os EUA, Bolsonaro não é Trump. E nem tudo o que é bom para os EUA é bom para o Brasil.  
Se as exportações, a agricultura, a pecuária, os minérios e os programas de cooperação passarem a ser afetados, a coisa pode deixar de ser só pitoresca e ficar séria. Até por isso, já começa o recuo na resistência à China. 
Não falta quem questione o próprio papel do deputado Eduardo Bolsonaro, filho do presidente eleito, e suas credenciais para ser a voz e a cara do Brasil no exterior. Sabatinar o futuro chanceler?! Falar pelo Brasil nos EUA sem passar pela embaixada ou pelos consulados?! 
Se o PT rachou o Itamaraty, essa postura e essas ingerências também vão rachar. A tendência é virar uma guerra e guerras nunca são boas.


domingo, 8 de setembro de 2019

O caso Bolsonaro-Bachelet e a imprensa brasileira - Beatriz Bandeira de Mello e João Feres Jr. (LEMEP)

O CASO BOLSONARO-BACHELET E A REPERCUSSÃO NA IMPRENSA BRASILEIRA

Por Beatriz Bandeira de Mello e João Feres Jr. 
Manchetômetro, Laboratório de Estudos de Mídia e Esfera Pública (LEMEP), 08/09/2019 

Desde que assumiu a presidência, Jair Bolsonaro vem colecionando críticas acerca da maneira como conduz a política externa brasileira. Mantendo uma retórica agressiva, característica de sua trajetória política como parlamentar, o atual presidente já protagonizou episódios que afrontam princípios básicos das relações internacionais do Brasil, como o pacifismo, a não-intervenção e a prevalência dos direitos humanos. Atuando junto ao presidente na definição da agenda da política externa brasileira há um grupo ideologicamente orientado pelo conservador Olavo de Carvalho, no qual figuram o atual Ministro de Relações Exteriores, Ernesto Araújo, o Assessor Especial da Presidência para Assuntos Internacionais, Filipe Martins, e o presidente da Comissão de Relações Exteriores da Câmara, Eduardo Bolsonaro. Adotando premissas questionáveis como o combate ao “globalismo” e ao “marxismo cultural”, o governo Bolsonaro tem buscado manter um alinhamento ideológico, e visivelmente assimétrico, com os Estados Unidos, além da aproximação com países economicamente liberais e politicamente conservadores na América do Sul, tais como Chile, Colômbia, Paraguai e Argentina.
A relação com o Chile é considerada estratégica pelo governo Bolsonaro. Não por acaso, a primeira viagem internacional do mandatário brasileiro foi àquele país.  Assim como o presidente chileno, Sebastián Piñera, Bolsonaro é favorável à liberalização econômica. Ademais, o caso chileno tem servido como referência para os defensores da Reforma da Previdência no Brasil. Os dois mandatários são aliados no PROSUR, sigla para o Fórum para o Progresso e o Desenvolvimento da América do Sul, considerado um substituto da UNASUL, e críticos em relação à Venezuela no Grupo de Lima. Recentemente, Piñera mostrou apoio ao brasileiro na questão das queimadas na Amazônia, que teve forte repercussão internacional. Piñera apareceu, inclusive, em um pronunciamento ao lado do presidente do Brasil. Entretanto, a relação entre os dois países sofreu um revés esta semana.
Em pronunciamento realizado na última quarta-feira (4/9), o presidente brasileiro atacou a ex-presidente do Chile e atual alta comissária de Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas (ONU), Michelle Bachelet. Nas palavras do presidente, “se não fosse o pessoal do Pinochet derrotar a esquerda em (19)73”, hoje “o Chile seria uma Cuba”. Na mesma fala, Bolsonaro atacou o pai da ex-presidente, Alberto Martínez Bachelet, preso e torturado pelo regime Pinochet, dizendo que “a cadeira de Direitos Humanos da ONU” é coisa de “quem não tem o que fazer, como Bachelet”. As declarações do presidente foram uma resposta às falas de Bachelet que foram críticas ao aumento da violência policial no Brasil, aos ataques a defensores de direitos humanos e a instituições de ensino no país, bem como aos discursos que legitimam execuções e a redução do espaço democrático no Brasil.
As loas tecidas por Bolsonaro a ditadores, torturadores e a regimes militares não são uma novidade para aqueles que acompanham sua trajetória política. Em uma simples busca na internet encontramos foto sua ao lado de um cartaz onde se lê “quem procura osso é cachorro”: uma referência aos esforços das comissões da verdade de resgatarem os corpos ou mesmo informações sobre os desaparecidos durante a ditadura no Brasil. Em episódios recentes, Bolsonaro homenageou o torturador Carlos Alberto Brilhante Ustra no plenário da Câmara dos Deputados. Como presidente, tratou como “estadista” o ditador paraguaio Alfredo Stroessner e saudou o ditador chileno Augusto Pinochet na primeira visita ao país.
As recentes declarações do presidente contra Bachelet repercutiram na imprensa brasileira. Abaixo, analisamos o conteúdo dos textos publicados nos jornais Folha de São Paulo, Estado de São Paulo e o Globo sobre o assunto no dia 5 de setembro, com o objetivo de identificar o tratamento conferido pela mídia ao caso Bolsonaro-Bachelet.

A COBERTURA
No dia 5 de setembro o Estado de São Paulo publicou – além de uma pequena chamada de capa – uma reportagem[1] sobre o ataque de Jair Bolsonaro à ex-presidente do Chile, Michelle Bachelet. Segundo o jornal as falas do brasileiro geraram um “atrito” com o país. O Estado deu ênfase às declarações do presidente brasileiro, bem como à repercussão de suas falas no Chile, tanto na ala governista como na oposição. Além disso, enumerou a coleção de “polêmicas internacionais” de Bolsonaro mostrando que estas afetaram cerca de 12 países, dentre os quais: Canadá, Noruega, Alemanha, Dinamarca, Argentina, França e Colômbia, além dos tradicionalmente hostilizados pelo governo brasileiro, Venezuela e Cuba. A mesma reportagem tratou da primeira visita de Bolsonaro ao Chile, destacando a rejeição de parlamentares locais ao atual presidente do Brasil na ocasião. Como forma de mostrar um posicionamento contrário de Bolsonaro, estampou na mesma página uma reportagem contendo trechos de falas de José Serra e Cesar Maia, pai do atual presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, em repúdio às declarações de Bolsonaro.
A Folha de São Paulo também fez uma pequena menção ao caso Bolsonaro-Bachelet na capa do dia 5 de setembro. No interior do jornal, críticas ao presidente brasileiro apareceram no editorial intitulado Borduna na Carta[2]. No texto, a Folha critica o “destempero verbal” e os “flertes confusos com atitudes autoritárias” de Bolsonaro. O caso envolvendo a ex-presidente chilena foi classificado como mais um “incidente diplomático”. O editorial, no entanto, não fez críticas ao conteúdo das declarações presidenciais. Para o jornal, as “bravatas autoritárias” seriam uma suposta “falta de reflexão” do presidente. A coluna assinada por Bruno Boghossian, no entanto, assumiu um tom mais crítico. Para o autor, “Bolsonaro não perde uma oportunidade de enaltecer a tortura e os assassinatos políticos”. Segundo Boghossian, o presidente protagonizou mais um “episódio gratuito de vergonha internacional”. O colunista ainda destacou o fato de até o presidente chileno Sebastián Piñera, considerado um aliado do atual governo, ter discordado das declarações presidenciais, escrevendo que “o elogio a ditadores se tornou política de governo” e sugerindo uma aproximação entre Bolsonaro e o venezuelano Nicolás Maduro. Boghossian conclui argumentando que a manutenção da posição brasileira poderia gerar um “isolamento” do país no cenário internacional.
Em reportagem na seção ‘Mundo’[3], a Folha adotou uma postura semelhante ao Estado de São Paulo, reproduzindo as declarações de Bolsonaro. No entanto, deu mais destaque às falas de Bachelet sobre a atual situação do Brasil. Citou ainda um tweet do Ministro Ernesto Araújo, segundo o qual “o que está encolhendo [no Brasil] é o espaço da esquerda”. A reportagem também sugeriu uma aproximação do presidente brasileiro com Nicolás Maduro e mostrou que as declarações de Bolsonaro favoráveis a ditaduras são características suas desde antes da presidência.
Na capa do dia 5/9, o Globo destacou que “até a direita” chilena repudiou o ataque de Bolsonaro à Bachelet. No interior do jornal, o tom seguido foi o mesmo dos demais periódicos. O Globo cedeu espaço ao posicionamento do presidente chileno, mostrando também que partidos de “direita, centro e esquerda” foram contrários às falas de Bolsonaro. O Globo foi moderado em sua cobertura. As críticas ao governo ficaram por conta dos colunistas. Merval Pereira[4] escreveu que as falas do presidente brasileiro, “além da gravidade em si, de desrespeito a líderes de instituições reconhecidamente representativas, demonstram desprezo alarmante pela vida humana”. O colunista, no entanto, aproveitou a oportunidade para criticar o PT, afirmando que a “divisão rasa de amigos e adversários” seria uma estratégia utilizada tanto pelo atual governo – que considera inimigos como “comunistas” – como pelos governos petistas que, segundo ele, “tacha de direitistas todos os seus críticos”. Merval acrescenta que o Brasil pode se tornar um “pária internacional” e um país à “margem do Mundo Ocidental” com “exceção dos Estados Unidos”. Por fim, argumenta que o comportamento do presidente brasileiro seria uma consequência de um “transtorno de estresse pós-traumático” derivado do atentado que sofreu durante a campanha eleitoral.
Bernardo de Mello Franco[5], por sua vez, comparou Bolsonaro a Maduro argumentando que o brasileiro “não foi o primeiro líder sul-americano a atacar Michelle Bachelet” . Entretanto, ao contrário de seu par venezuelano, Bolsonaro “baixou de vez o nível” ao ofender a memória de Alberto Bachelet, pai da ex-presidente. Para o autor, as declarações de Bolsonaro fazem “Maduro parecer um gentleman”. A crítica mais severa partiu de Miriam Leitão[6] que atribuiu a Bolsonaro o título de “governante com mente autoritária”, chamando de “patológica” sua “compulsão” “pelas ditaduras” e “sua admiração ilimitada pelos regimes tirânicos”. Leitão considerou “desumana” a atitude do presidente brasileiro.

CONCLUSÃO
Como vimos acima, os jornais brasileiros noticiaram o caso Bolsonaro-Bachelet como mais um “incidente diplomático”, mostrando inclusive que as falas do presidente não foram apenas criticadas pela esquerda. Por outro lado, o comportamento do presidente, mesmo quando considerado patológico, é visto como um produto de sua personalidade, e não como uma característica importante da ideologia de extrema-direita que anima o presidente e o grupo de pessoas a ele associado.  As reportagens mantiveram o tom majoritariamente descritivo, cabendo aos colunistas críticas mais diretas ao governo. Parte da cobertura inclusive reforçou o perfil “polêmico” de Bolsonaro, o que contribui para normalizar suas declarações. Cabe destacar que a comparação entre Bolsonaro e Nicolás Maduro, motivo que vem se repetindo na narrativa jornalística brasileira, funcionou para enquadrar o presidente brasileiro como “autoritário”, ao mesmo tempo que reafirma o compromisso dos jornais de rejeição integral da Venezuela. 

[1] “Bolsonaro ataca Bachelet e causa atrito com Chile”. Estado de São Paulo, 5/9/2019, p.A5
[2] Folha de São Paulo, 5/9/2018, p.A2
[3] “Bolsonaro defende repressão do regime chileno”. Folha de São Paulo, 5/9/2019, p.A20
[4] “País pária”. O Globo, 5/9/2019, p.2
[5] “Bolsonaro faz Maduro parecer um gentleman”. O Globo, 5/9/2019, p.5.
[6] “Mente autoritária e seus métodos”. O Globo, 5/9/2019, p.18.

Paulo Francis antecipou Trump e Bolsonaro - Gabriel Trigueiro (Época)

Ler Paulo Francis é um orgasmo de saber e conhecimento (Ricardo Bergamini).

Ignorância é o nosso grande patrimônio nacional (Paulo Francis).
O Brasil é um asilo de lunáticos onde os pacientes assumiram o controle (Paulo Francis).
A melhor propaganda anticomunista é deixar um comunista falar (Paulo Francis).
Não levo ninguém a sério o bastante para odiá-lo (Paulo Francis).

COLUNA | SAUDADES DE PAULO FRANCIS

Escritor que não deixou sucessores, Francis foi 'cancelado' pela esquerda e apropriado pela direita que ignora suas principais virtudes.

07/09/2019 - ÉPOCA


Paulo Francis é um escritor que não deixou sucessores. Nem sequer pode ser dito que, a exemplo de alguém como George Orwell, esquerda e direita disputam o seu espólio. Porque, verdade seja dita, a esquerda o "cancelou" e a direita se apropriou de maneirismos, de cacoetes muito específicos, mas ignora suas principais virtude

Em um livro pouco lido e pouco falado de Francis, Nixon x Mcgovern: As Duas Américas (1972), há uma excelente síntese do apelo de Richard Nixon: "Nixon é o que inúmeros americanos são e têm vergonha de ser: o careta preconceituoso, aquisitivo, isento de imaginação e ideias, tão inseguro de si próprio que recebe qualquer crítica aos EUA como uma ofensa pessoal. De Sinclair Lewis (em verdade, antes) em diante, essa figura protótipo da Middle America é um saco de pancada da intelectualidade que, pequena em números, influi fantasticamente na determinação do estilo e gosto das elites, dominando até o tom dos comentaristas de televisão. Nixon restabeleceu o prestígio do caretismo".

Francis prossegue e aponta, por exemplo, que um filme como Millhouse: a White Comedy, um documentário satírico sobre Nixon, foi capaz de fazer muito sucesso em Nova York, bem como em outros centros urbanos, mas que no interior inclui "o espectador entre os ofendidos". Essa é uma observação muito profunda e sofisticada, sobretudo para a época. Repare, seu livro foi publicado em 1972, e nesse momento Paulo Francis aponta para algo que mesmo nos EUA de Trump e no Brasil de Bolsonaro a classe intelectual progressista teima em não levar em consideração: a principal clivagem que há no debate público é muito menos entre esquerda e direita e muito mais relativa à classe - não à moda dos marxistas, mas classe entendida como uma variável sociológica que meio que informa, ou pelo menos condiciona, a sua percepção do mundo e da realidade (com relação à política mas principalmente à cultura e até a um determinado senso estético).

Dito de outra forma, sempre que um intelectual sóbrio demais, cosmopolita demais, respeitável demais, usando um paletó de tweed com remendos no cotovelo, desautorizava Donald Trump ou, em termos mais gerais, o trumpismo, o tiro saía pela culatra. O que era pensado como um golpe a ser desferido contra um político muito específico, acabava soando e sendo interpretado como uma afetação de classe dirigida por um intelectual esnobe, situado no topo de sua torre de marfim, com nojo do povo.

Movimento análogo ocorreu, e na verdade ainda está em curso, no Brasil com o bolsonarismo. O fato de que Francis tenha tido a perspicácia de ter decodificado essa dinâmica ainda na década de 1970, só atesta que ele, em seus melhores momentos, podia ser um observador atento e muito inteligente.

Outra dinâmica política nixoniana que, infelizmente não nos é estranha, é um certo apelo populista de valorização do homem comum, da sabedoria comum, em oposição ao discurso dos técnicos e especialistas. Ou, trocando em miúdos e sem o uso de eufemismos, uma guerra à ciência: que em determinado momento algumas pessoas mais otimistas (ingênuas?) minimizaram como meras bravatas, mas que rapidamente se deram conta de que se tratava de um conjunto de políticas públicas dotada de certa racionalidade muito específica.

Para citar apenas um caso concreto relativo ao governo Nixon, e apontado por Paulo Francis em seu livro, basta dizer que em determinado momento uma comissão sobre saúde pública, presidida pelo financista e filantropo John D. Rockefeller III, concluiu seus trabalhos com um relatório que recomendava educação sexual, uso de anticoncepcionais e aborto legalizado. "Trata-se de um estudo sociológico e não de um palpite", como Francis pontua. No entanto o relatório acabara sendo integralmente rejeitado pela presidência. Em seu lugar, qual seria a proposta alternativa adotada pelo governo Nixon? A platitude reacionária de se recuperar "os padrões morais do passado" da família americana.

É difícil ler esse tipo de coisa e não lembrar do atual governo Bolsonaro, no qual há uma desvalorização sistemática do discurso científico somada a um desejo mimético de soar como um Trump dos trópicos. Esse tipo de iniciativa fica evidente em um tópico muito específico, como a adesão de uma atitude negacionista diante do aquecimento global, e mesmo da agenda ambiental como um todo.

Em Certezas da Dúvida (1970), outro excelente livro de Francis, este uma antologia de suas colunas, ele argumenta no artigo "A Maioria Silenciosa" sobre o fato de que o conservadorismo, tão bem capitalizado por Nixon durante a década de 1970, poderia ser interpretado não meramente como uma reação política às esquerdas da época, mas mais ainda como uma espécie de reação estética a essas mesmas esquerdas. De acordo com ele, "Porque os jovens universitários e intelectuais são diferentes do resto do povo. Sabem mais, em primeiro lugar, mas isso ainda é o menos intolerável, pois é possível, até certo ponto, isolar da nossa consciência aquilo que não entendemos, e ler, ouvir e compreender só o que queremos. Impossível, porém, é evitar a visibilidade dos pacifistas e revoltosos nos EUA. Suas roupas, barbas e cabelos, hábitos sexuais e drogas, ajudaram mais a arrebanhar a 'maioria silenciosa' sob Nixon do que qualquer polêmica do Dr. Chomsky (...)".

O que a nova direita jamais admite, mas que para mim cada vez mais é um fato insofismável, é que o Paulo Francis trotskista é um Paulo Francis muito mais interessante do que o Paulo Francis, digamos, liberal-conservador. 'Early Francis' era um intelectual original, engraçado e mais rigoroso do que 'late Francis': mero pastiche de intelectual reaça americano. O Francis no início da carreira escrevia melhor, inclusive. Basta cotejar os textos do Correio da Manhã, e mesmo os do Pasquim, com os do Estadão, por exemplo.

De todo modo, Francis foi um dos maiores jornalistas que tivemos, um excelente crítico cultural e um grande analista político. Em uma época como a nossa, de inquestionável triunfo da vulgaridade estética e política, ele faz muita falta. Saudades, Paulo Francis.

GABRIEL TRIGUEIRO: É especialista em teoria política e crítica cultural. Escreve sobre política brasileira, política internacional e cultura.

O fim do mundo está próximo (não, não é brincadeira): os perigos à frente - Umair Haque (Medium)

(Why) The Next 3000 Days Will Decide the Fate of Human Civilization

How The Four Greatest Existential Threats in History Will Conquer Us This Decade — Unless We Conquer Them

Here’s a tiny question. How much does a day really count? I ask because it’s easy to focus on the minutiae these days. Even they’re head-spinning. A President who marks up a map…with a Sharpie…to cover up a hilarious lie? What the? So: our days consist of: what did he tweet? What did Jake and Chris say about it? Did you see what she wore? Wait, what was the latest scandal, outrage, peccadillo of the moment. We live in strange times. Yet we also live in momentous ones. Do we know that part? I’ve come to think the following.
The next three thousand days will be something very much like our judgment days. The next three thousand days — the next decade — will decide the fates of the following things: the planet, life on it, democracy, and freedom. The next three thousand days will decide the fate of human civilization.
Our existential threats right now are the greatest ones in history. Yes, really. Climate change and mass extinction, to name just two, make yesterday’s seem small in comparison. They’re so vast that they’re head-spinning. We don’t know how to process them. They make our hearts pound with an unknown grief and a new kind of sorrow. And yet we barely have time for our feelings. Because our great existential threats will either be defeated this decade — or they will rise like a many-headed monster, a hydra, to overwhelm us, reaching a point where they probably can’t be defeated at all. Tipping point. Breaking point. Turning point. Judgment day.
(By the way, I’m sorry to sound grandiloquent and apocalyptic. I don’t mean to, and I don’t like to. I prefer disco, chocolate, puppies, and walks in the park. But I have to talk to you in these terms — if I’m honest with you, at least, about what I see: four historic existential threats to human civilization, and how they’re linked.)
Let me begin with the obvious judgment — the clearest existential threat — before us. Climate change. The next decade — as the UN’s warned us all — is it. The point at which we either stop climate change — or tip into irreversible catastrophe. Catastrophe of what kind? The truth is that nobody really knows. Will the oceans rise by a few inches — or a few feet? The truth is that in one way, it doesn’t matter so much. Even the smallest level of “irreversible catastrophic climate change” means that most of the following cease to exist: our great cities, our food and water, our economies, stability, our (Western) lifestyles of easy, idle, pointless consumption to make ourselves feel powerful and strong. Poof! All gone in a flash. Climate change is the simplest existential threat whose power and fury will be decided once and for all — this decade. Get it wrong, and we wreck the globe for centuries, millennia, perhaps permanently, producing changes that can never really be undone, forking the paths of the sun, sea, and soil in strange and terrible ways.
The slow death of a habitable planet also means that life as we know it is dying off. We’re in the midst of deep history’s first human-made mass extinction. The problem, of course, is that life as we know it provides, in technical parlance “support services”, or in plain English the stuff that we need to live, too. The trees provide us air, the rivers water, the soil crops. With the ongoing death of the bees, insects, fish — the bottoms are being ripped out of our ecosystems, and they promise to crumble in on themselves. All while being attacked from the literal top, scorched by a furious sun. Mass extinction is an existential threat just like climate change — only it doesn’t have nearly the same recognition yet in pop culture, though it should. And just like climate change, whether we have a colossal mass extinction, or just a terrible one, will be decided this decade, too. Are we going to kill off merely 25% of the species on earth, or close to 50% — or something more like 75%? The tipping point for us, too — for human civilization — lies somewhere in those cold, anodyne numbers.
The hard truth about both climate change and mass extinction, though, is that so far there’s only one political economy that’s proven capable of reducing either. Only Europe — alone in the world — has managed to reduce carbon emissions and (theoretically, at least) increase biodiversity. Why? Because Europe is a social democracy — and a social democracy is capable of investing in its trees, rivers, soil, animals. It is capable of nourishing them, just like it’s capable of nourishing people. Hence, Europe — along with Canada — is an island of sanity in a world crumbling into the abyss.
The rest of the world isn’t a social democracy, though. It’s part of America’s global capitalist system. India, China, the Middle East, Central America, South America. All these regions essentially feed American capitalism’s voracious appetite for raw materials, minerals, oil — at any price. What do all these countries and regions have in common? Well, most of them were bombed, invaded, or destabilized by America — to create that global capitalist system. Any time a people wanted another political system — communism, socialism, social democracy — America would invade, and usually, as in Iraq and Chile, install a dictator capitalism could “do business” with.
That brings me to my third existential threat. American capitalism’s imploding into fascism. America itself is the bellwether, the prime example: it now has all the institutions of a properly fascist society, as much as Americans don’t understand it or can’t admit it — concentration camps, kids tortured in them, “raids” which terrorize entire cities, dehumanization as an everyday feature of public life, second class citizenship, all the stuff above done by private “subcontractors” for profit and power.
But American capitalism isn’t just imploding into fascism in America. It’s imploding into fascism in all the places that bought heavily into America’s capitalist system. It’s not a coincidence that China’s pioneering a kind of techno-fascism, while India’s made millions of people suddenly stateless, in the throes of an aggressive bombastic hyper nationalism. Both these countries were the key suppliers of America’s capitalist global system, China goods, India services — and both are imploding into fascism for exactly the same reason America is.
Capitalism has many ills. And when they all mount at once, the result is fascism.  
Capital’s main effect is obvious: it increases capitals’ share of income, but not labour’s share. The result is a spiral ever growing inequality. A working class aspires to become a middle class and a middle class aspires to become rich — but both only find a perpetual struggle to subsist, to ride a treadmill of status through buying and owning more stuff. Despair, loneliness, social fracture, alienation ensue — as people feel exploited. An intellectual and political class that comes to blame “others” for the resentment and fury exploitation breeds. The whole edifice begins to collapse on itself — because, in the end, most of society remains too poor to consume the very glittering prizes, mansions and superyachts and hypercars, that capitalism perpetually dangles before it as the only measure of a person’s inherent worth.
So fascism is rising around the globe, as America’s global capitalist system implodes, because it produced inequality, exploitation, egotism, greed, rage, and fury — not anything resembling prosperity, fairness, gentleness, wisdom, courage, and truth. It’s hitting nation after nation.. It’s the nations closest to America that are fracturing into fascism — India and China today, tomorrow, second-tier players in America’s system, like Mexico and Brazil.
You might think, if you’re a certain kind of America — “who cares if those countries become fascist?!” Ah, my friends. Countries that were once partners choosing authoritarian-fascisms instead also usually means they become enemies. And so competing fascisms in America, China, and India also set the stage for real, violent, and lasting conflicts between them. That’s the nature of my fourth existential threat:
Now. Perhaps you can see my fourth existential threat already. A world of rising extremisms is also a world where democracy is in retreat. But as troublesome and wearisome as democracy seems — especially today — we should all want more of it.
Why? Because as we’ve discussed, democracy — of the most advanced and sophisticated kind, social democracy — is the only political economy in the world capable of resisting any of my existential threats. Europe hasn’t just been the only region in the world to reduce carbon emissions — it’s also the only in the world to resist fascism successfully so far.
(While Americans point to Europe as a warning, the truth is that Europe’s insulated well from fascism by social democracy — witness Italy’s hard-right government falling recently. It’s America’s capitalist system that’s imploding into fascism. Why is that? Because capitalism and democracy cannot coexist as equals. One must master the other. In social democracy, capitalism is not the equal of society. It has a purpose, a place, and a reason to exist beyond mere profit.)
Democracy should best be seen as a ladder. At the bottom lie nations like America — just a few decades out of being apartheid states, with no real progress to becoming sophisticated democracies at all. At the top lie true social democracies, like European ones, with advanced, cutting-edge human rights constitutionally guaranteed — like healthcare, education, safety, transport, media, income, even dignity.

My fourth existential threat, then, is democratic decay — but it means a very, very different thing than when American pundits say it. In my language, it means: “the world is making little progress up the ladder of democracy. The world should be evolving towards social democracy, which is the most advanced kind of democracy there is, much, much faster. Why? Because social democracy is the only political economy in history that’s proven itself capable of repelling and conquering the existential threats of climate change, mass extinction, and authoritarian-fascism.”
Take it slow and reread that if you need to — it’s the crux of everything. It means something like this.
If we as a world make progress towards social democracy — which means sophisticated democracies in which people have advanced human rights, that then must be invested in, with cutting-edge social contracts and institutions, that provide people healthcare, education, a living, a planet — then, my friends, we have a chance to defeat climate change, mass extinction, and fascism. Climate change, mass extinction, and fascism can only really be undone by looking understanding why our fourth existential threat matters, democratic decline…and building social democracies around the globe. Now is the time in which we either understand that our three existential threats are linked by our fourth — or we don’t, and tomorrow goes on like today…which is too late.
If that happens, if tomorrow ends up like today, then the first three existential threats, climate change, mass extinction, and fascism, will probably rise to levels that they can’t be managed or defeated at all. Then the world enters a period of chaos, of violence, of might making right, of wars for water and air and land by fascist state against fascist state, each of which is trying to shunt off its “others”, it’s “parasites” and “liabilities”, to another weaker nation, using technology, surveillance, drones, bombs, bots, and body-armored paramilitaries. Sound like a pleasant future?
The next three thousand days are our judgment day. Our turning point…or tipping point — or our breaking point. The next three thousand days are going to decide the fates of the planet, life on it, the world, democracy, and freedom. In lethally real and shatteringly concrete ways. The next three thousand days will choose whether human civilization merely endures and perseveres, or prospers and soars, or declines and quite possibly collapses altogether.
The battle for the future has already begun, my friends. You’re part of it whether or not you want to be, or think you are. The question is whether or not you know it. It’s easy to think the days don’t count. To let them slip by in a haze of outrage, fear, and cynicism. But our grandkids and theirs will judge us on what we do every single day now. Days have never counted more than ours.
Umair
September 2019