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Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

domingo, 26 de julho de 2020

Arnaldo Godoy "liquida" o Conselheiro, na sua segunda postagem sobre Canudos

EMBARGOS CULTURAIS

Euclides da Cunha e a Troia de taipa dos jagunços


Em 1883 um pensador alemão dissertou sobre as diferenças nos métodos utilizados nas ciências naturais e nas ciências do espírito. Para esse pensador, William Dilthey (1833-1911), as ciências naturais são causais, centradas nas categorias dos antecedentes, enquanto que a história, que é uma ciência do espírito, seria compreensiva, focada na apreensão dos vários significados da ação humana. Euclides da Cunha, de algum modo, desafiou essa linha divisória. Era sobretudo um cético. Mas era também um cientista que escrevia com arte. E era um artista que escrevia com base na ciência ou, melhor, no que reputava científico.
Em carta a José Veríssimo, datada de 1902, Euclides defendia-se de uma crítica feita aos Sertões, observando que “o escritor do futuro será forçosamente um polígrafo; e qualquer trabalho literário se distinguirá dos estritamente científicos, apenas, por uma síntese mais delicada, excluída apenas a aridez característica das análises e das experiências”. Euclides agregou à formação de engenheiro uma densa formação literária. Formalmente, segundo o sempre lembrado Roberto Ventura, Euclides estudou álgebra, geometria analítica, cálculo diferencial e integral, física experimental, química, desenho topográfico, tática, estratégia, história militar, fortificações, noções de balística, direito militar, desenho e análise da Constituição do Império. Não se pode exagerar a aderência de Euclides aos esquisitos do positivismo1. Euclides, em carta ao pai, criticou Benjamin Constant, um dos grandes nomes do positivismo entre nós, a quem então reputou como seu “antigo ídolo”. A carta é de 14 de junho de 1890. Euclides distanciou-se do positivismo que conheceu no Exército.
A leitura dos vários textos de Euclides (“Os Sertões”, “À margem a História”, “Contrastes e Confrontos”) revela a inexistência de fronteiras epistemológicas nesse importante autor nacional. Euclides pretendia-se múltiplo, transdisciplinar. Era criminólogo, sociólogo, antropólogo, historiador, historiador militar, botânico, jornalista, geólogo, a par, naturalmente, de estilista incomparável. Segundo Walnice Nogueira Galvão, na minha opinião a mais abalizada intérprete de Euclides da Cunha, o escritor sabia “quase tudo pela rama, coisas que tinha aprendido nos bancos escolares da Escola Militar e que costumava citar de ouvido, deturpando-as”. Essa a razão pela qual há muita informação inconsistente nas seções mais científicas desse grande livro.
Uma tentativa de estação em alguns desses atributos de Euclides é o tema da presente intervenção. É preciso estudar os autores brasileiros. Comecemos com o criminólogo. Canudos, escreveu Euclides, “era o homizio de famigerados facínoras”. A lei era o arbítrio do chefe, Antonio Conselheiro. A justiça era o conjunto de suas “decisões irrevogáveis”. Na cadeia, que os sertanejos chamavam de “poeira”, “viam-se, diariamente, presos pelos que haviam cometido a leve falta de alguns homicídios os que haviam perpetrado o crime abominável de faltar às rezas”. O homicídio, naquele interior que assustou Euclides, o delito religioso (falta às rezas) era objeto de maior reprimenda do delito maior, em todas as culturas, isto é, o homicídio: uma constatação criminológica vazada sob a forma de ironia.
De acordo com o narrador dos Sertões a justiça no reduto do conselheiro era “inexorável para as pequenas culpas, nulíssima para os grandes atentados”. Buscava-se a punição de uma certa delinquência, especialíssima, pelo que em Canudos ocorria “uma inversão completa do conceito de crime”. Proibia-se o alcoolismo, que o preciosismo semântico de Euclides denominava de “dipsomania”. As penas para quem usasse da aguardente eram severas: “ai daquele que rompesse o interdito imposto”.
Euclides era também um sociólogo, provocação de Antonio Candido, em conferência na semana euclidiana, já no distante ano de 1947. Segundo Antonio Candido, “para Euclides, a população sertaneja é um bloco étnico e cultural; uma sociedade insulada em cujo corpo não se processou a divisão intensa do trabalho social, diferenciador e enriquecedor”. Euclides pormenorizou a organização de Canudos, “o lugar sagrado, cingido de montanhas, onde não penetraria a ação do governo maldito”. Era a “urbs monstruosa, de barro”, a “civitas sinistra do erro”, um povoado novo, que em algumas semanas já era um lugar velho, um punhado de ruínas.
Na descrição de Euclides em Canudos não se distinguiam as ruas. Havia becos estreitíssimos, “mal separando o baralhamento caótico dos casebres feitos ao acaso”. Descreveu um desconforto permanente, uma pobreza repugnante, “traduzindo de certo modo, mais do que a miséria do homem, a decrepitude da raça”. Adiantando-se na apresentação de um tipo próximo ao Jeca Tatu, de Monteiro Lobato, Euclides tratava de “cômodos exíguos” nos quais havia “trastes raros e grosseiros: um bando tosco, dois ou três banquinhos com a forma de escabelos; igual número de caixas de cedro, ou canastras; um jirau pendido do teto; e as redes (...) era toda a mobília”.
Euclides apresentava uma população que “jugulada pelo seu prestígio” contava com “todas as condições de estádio social inferior”. Era o mundo de um sertanejo simples que “transmudava-se, penetrando-o, no fanático destemeroso e bruto”. Não havia apego à propriedade, vingando uma “forma exagerada do coletivismo tribal dos beduínos; apropriação pessoal apenas de objetos móveis e das casas, comunidade absoluta da terra, das pastagens, dos rebanhos e dos escassos produtos das culturas”.
Euclides também se revela um antropólogo. É o que lemos na descrição pormenorizada que fez de Antonio Conselheiro, na segunda parte de seu livro sobre a campanha de Canudos. O Conselheiro, segundo Euclides, somente poderia ser entendido no contexto psicológico da sociedade que o criou. Era um psicótico, perdido na turba dos neuróticos vulgares. Para Euclides, o Conselheiro não apresentava necessariamente uma moléstia grave, era o aspecto de um mal social gravíssimo. Em excerto de efeito, observava que o Conselheiro foi para a história do mesmo modo que poderia ter ido para um hospício.
O Conselheiro representava um misticismo feroz e extravagante, calcado em crenças ingênuas, em um fetichismo bárbaro, em aberrações de católicos fanáticos, em “tendências compulsivas de raças inferiores”, bem como na indisciplina geral da vida sertaneja. Para Euclides, “a vida resumida do homem é um capítulo instantâneo da vida em sociedade”. O autor dos Sertões acreditava que o Conselheiro era documento vivo de atavismo; era “uma regressão ao estádio mental dos tipos ancestrais da espécie”. Entendia que o Conselheiro receberia diferentes análises de um médico e de um antropólogo: para o médico seria um caso de delírio sistematizado, para o antropólogo um “fenômeno de incompatibilidade com as exigências superiores da civilização”. O Conselheiro, segundo Euclides, entendia-se como protagonista-delegado de uma vontade dos céus, com função de apontar os pecados e prescrever o caminho para a salvação.
O Conselheiro, prossegue Euclides, significava-se em uma zona indefinida. Estava no limbo que separa facínoras de heróis, reformadores brilhantes e aleijões tacanhos, gênios e degenerados. O Conselheiro fora traído pela esposa, circunstância peculiar que o ligava a Euclides, como se sabe da tragédia que levou o escritor à morte prematura. A mulher do Conselheiro havia fugido com um policial, que supostamente a raptara. A mulher de Euclides, Ana, apaixonara-se por um jovem militar, Dilermando de Assis. Comentarei o caso em intervenção próxima futura, sob um prisma jurídico, e não passional. Não me sinto autorizado a perscrutar a intimidade sentimental das pessoas, vivas ou mortas. E nem tenho interesse.
Euclides descreve a trajetória do Conselheiro, sua origem no ambiente de famílias inimigas (Macieis e Araújos), um mundo de tocaias, emboscadas, vingança, amor e ódio. A descrição do Conselheiro é a que toca nosso imaginário nacional: “cabelos crescidos até os ombros, barba inculta e longa; face escaveirada; olhar fulgurante; monstruoso, dentro de um hábito azul de brim americano; abordoado ao clássico bastão, em que se apoia o passo tardo dos peregrinos”. Era um homem estranho, que andou muito tempo sem rumo certo. Euclides conta que o Conselheiro era indiferente à vida e aos perigos, alimentava-se “mal e ocasionalmente, “dormindo ao relento e à beira dos caminhos, numa penitência desnuda e rude”. Vivia de esmolas, mas não aceitava excessos. Um homem sofrido, que “anestesiara-se com a própria dor”. Carregava a indiferença superior de um estoico.
Euclides mostrou-se também como um constitucionalista. Analisou a relação dos canudenses com a República, no contexto do tema então espinhoso do casamento civil. A Constituição de 1891 era uma transposição de algum modo descarada dos arranjos institucionais norte-americanos, e que sabemos hoje predicada na influência de Rui Barbosa. Adiantou-se na teoria da transposição, de grande prestígio nos estudos de direito constitucional comparado.
Em “À margem da história”, ao comentar em excurso histórico a Constituição de 1824, Euclides observou que “uma constituição, sendo uma resultante histórica de componentes seculares, acumuladas no revolver das ideias e dos costumes, é sempre um passo para o futuro garantido pela energia conservadora do passado”. O legislador constitucional de 1824, segundo Euclides, elaborava um trabalho todo subjetivo, um “capricho de minoria erudita discorrendo dedutivamente sobre alguns preceitos abstratos, alheia ao modo de ser da maioria”. Tratava-se de um “projeto constitucional, quase abortício ou temporão, precipitado nas votações atropeladas, ou tangidas pelos ultrarradicais”. O projeto não avançou. Sabemos que D. Pedro I interveio e que da intervenção resultou o texto constitucional de 1824. Trata-se de um bem concebido texto político, para os limites conceituais da época, sobressaindo-se a possibilidade de alteração constitucional por legislação ordinária, se o objeto da reforma não fosse matéria substancialmente constitucional. Já se dividia empiricamente o texto constitucional temas formais e materiais.
Euclides, talvez mais do que tudo, foi também um historiador militar, como assinalado, entre outros, por Umberto Peregrino2. As descrições das batalhas são precisas (acredita-se) e isentas de qualquer forma de sectarismo. No entanto, ao fim da empreitada, percebe-se a revolta de Euclides para com o massacre que se desatava. O fecho dos Sertões é antológico: “Canudos não se rendeu. Exemplo único em toda a História, resistiu até o esgotamento completo. Expugnado palmo a palmo, na precisão integral do termo, caiu no dia 5, ao entardecer, quando caíram os seus últimos defensores, que todos morreram. Eram quatro apenas: um velho, dois homens feitos e uma criança, na frente dos quais rugiam raivosamente cinco mil soldados”.
Euclides era um cético. Com o socorro de Sérgio Milliet posso me lembrar, a propósito de Euclides, que o ceticismo não exclui a paixão, que a dúvida não quer dizer incapacidade de amar, porque quanto maior o amor, maior pode ser a dúvida. O ceticismo, especialmente em Euclides, era um método de trabalho, muito mais do que uma filosofia. É o que percebo no estudo descritivo e compreensivo da Troia de taipa dos jagunços.

1 Devo essa expressão “esquisitos do positivismo”, bem como o alerta da posição de Euclides em relação aos positivistas a Bruno de Cerqueira, historiador, filólogo, etimólogo e antropólogo que vive em Brasília, atualmente trabalhando na Funai. Bruno é autor de várias obras que tratam da monarquia no Brasil, um dos campos de sua vasta erudição.
2 Devo essa percepção a Roberto Rosas, cultíssimo advogado militante em Brasília, que foi Ministro do TSE, historiador do direito, e que gentilmente me encaminhou textos raríssimos sobre Euclides da Cunha, com especial referência ao próprio Umberto Peregrino e a estudos sobre a passagem de Euclides no Itamaraty, redigido por Renato Almeida.
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 é livre-docente pela Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP) e doutor pela PUC-SP.

Revista Consultor Jurídico, 26 de julho de 2020, 8h00

The New Cold War, for electoral purposes (NYT)

HAWKS SET CHINA AND U.S. ON PATH TO LASTING DIVIDE
HARD TURN IN RELATIONS
Aides to Trump, Fearing 2020 Defeat, Seek an Irreversible Shift
By EDWARD WONG and STEVEN LEE MYERS
The New York Times, July 26, 2020

Edward Wong reported from Washington, and Steven Lee Myers from Seoul, South Korea. Claire Fu contributed research from Beijing.

WASHINGTON — Step by step, blow by blow, the United States and China are dismantling decades of political, economic and social engagement, setting the stage for a new era of confrontation shaped by the views of the most hawkish voices on both sides.
With President Trump trailing badly in the polls as the election nears, his national security officials have intensified their attack on China in recent weeks, targeting its officials, diplomats and executives. While the strategy has reinforced a key campaign message, some American officials, worried Mr. Trump will lose, are also trying to engineer irreversible changes, according to people familiar with the thinking.
China’s leader, Xi Jinping, has inflamed the fight, brushing aside international concern about the country’s rising authoritarianism to consolidate his own political power and to crack down on basic freedoms, from Xinjiang to Hong Kong. By doing so, he has hardened attitudes in Washington, fueling a clash that at least some in China believe could be dangerous to the country’s interests.
The combined effect could prove to be Mr. Trump’s most consequential foreign policy legacy, even if it’s not one he has consis- tently pursued: the entrenchment of a fundamental strategic and ideological confrontation between the world’s two largest economies.
A state of broad and intense competition is the end goal of the president’s hawkish advisers. In their view, confrontation and coercion, aggression and antagonism should be the status quo with the Chinese Communist Party, no matter who is leading the United States next year. They call it “reciprocity.”
Secretary of State Mike Pom- peo declared in a speech on Thursday that the relationship should be based on the principle of “distrust and verify,” saying that the diplomatic opening orchestrated by President Richard M. Nixon nearly half a century ago had ultimately undermined U.S. interests.
“We must admit a hard truth that should guide us in the years and decades to come: that if we want to have a free 21st century, and not the Chinese century of which Xi Jinping dreams, the old paradigm of blind engagement with China simply won’t get it done,” Mr. Pompeo said. “We must not continue it and we must not return to it.”
The events of the past week brought relations to yet another low, accelerating the downward spiral.
On Tuesday, the State Department ordered China to shut down its Houston consulate, prompting diplomats there to burn docu- ments in a courtyard. On Friday, in retaliation, China ordered the United States to close its consulate in the southwestern city of Chengdu. The Chinese Foreign Ministry the next day denounced what it called “forced entry” into the Houston consulate by U.S. law enforcement officers on Friday afternoon.
In between, the Department of Justice announced criminal charges against four members of the People’s Liberation Army for lying about their status in order to operate as undercover intelligence operatives in the United States. All four have been arrested. One, Tang Juan, who was studying at the University of California, Davis, ignited a diplomatic standoff when she sought refuge in the Chinese Consulate in San Francisco, but was taken into custody on Thursday night.
This comes on top of a month in which the administration announced sanctions on senior Chinese officials, including a member of the ruling Politburo, over the mass internment of Muslims; revoked the special status of Hong Kong in diplomatic and trade relations; and declared that China’s vast maritime claims in the South China Sea were illegal.
The administration has also imposed a travel ban on Chinese students at graduate level or higher with ties to military institutions in China. Officials are discussing whether to do the same to members of the Communist Party and their families, a sweeping move that could put 270 million people on a blacklist.
“Below the president, Secretary Pompeo and other members of the administration appear to have broader goals,” said Ryan Hass, a China director on President Barack Obama’s National Security Council who is now at the Brookings Institution.
“They want to reorient the U.S.- China relationship toward an all-encompassing systemic rivalry that cannot be reversed by the outcome of the upcoming U.S. election,” he said. “They believe this reorientation is needed to put the United States on a competitive footing against its 21st-century geostrategic rival.”
From the start, Mr. Trump has vowed to change the relationship with China, but mainly when it comes to trade. Early this year, the negotiated truce in the countries’ trade war was hailed by some aides as a signature accomplishment. That deal is still in effect, though hanging by a thread, overshadowed by the broader fight.
Beyond China, few of the administration’s foreign policy goals have been fully achieved. Mr. Trump’s personal diplomacy with Kim Jong-un, the North Korean leader, has done nothing to end the country’s nuclear weapons program.
His withdrawal from the Iran nuclear deal has further alienated allies and made that country’s leaders even more belligerent. His effort to change the government in Venezuela failed. His promised withdrawal of all American troops from Afghanistan has yet to occur.
In Beijing, some officials and analysts have publicly dismissed many of the Trump administration’s moves as campaign politics, accusing Mr. Pompeo and others of promoting a Cold War mentality to score points for an uphill reelection fight. There is a growing recognition, though, that the con- flict’s roots run deeper.
The breadth of the administration’s campaign has vindicated those in China — and possibly Mr. Xi himself — who have long suspected that the United States will never accept the country’s growing economic and military might, or its authoritarian political system.
“It’s not just electoral considerations,” said Cheng Xiaohe, an associate professor at the School of International Studies at Renmin University in Beijing. “It is also a natural escalation and a result of the inherent contradictions between China and the United States.”
Already reeling from the coronavirus pandemic, some Chinese officials have sought to avoid open conflict with the United States.

A broad realignment of relations toward a ‘systemic rivalry.’

They have urged the Trump administration to reconsider each of its actions and called for coopera-tion, not confrontation, albeit without offering significant concessions of their own.
“With global anti-China sentiment at its highest level in decades, Chinese officials have indicated an interest in exploring po- tential offramps to the current death spiral in U.S.-China relations,” said Jessica Chen Weiss, a political scientist at Cornell Uni- versity who studies Chinese foreign policy and public opinion.
“Beijing isn’t spoiling for an all-out fight with the United States,” she said, “but at a minimum the Chinese government will retaliate to show the world — and a pro- spective Biden administration — that China won’t be intimidated or pushed around.”
Given the size of each nation’s economy and their entwinement, there are limits to the unwinding of relations, or what some Trump officials call “decoupling.” In the United States, tycoons and business executives, who exercise enormous sway among politicians of both parties, will continue to push for a more moderate approach, as members of Mr. Trump’s cabinet who represent Wall Street interests have done. China is making leaps in science, technology and education that Americans and citizens of other Western nations will want to share in. In his Thursday speech, even Mr. Pompeo acknowledged, “China is deeply integrated into the global economy.”
Only two weeks ago, the foreign minister, Wang Yi, called on the United States to step back from confrontation and work with China. In reality, officials in Beijing appear resigned to the likelihood that nothing will change for the better before next year.
“There is very little China can do to take the initiative,” said Wu Qiang, an independent analyst in Beijing. “It has very few proactive options.”
Mr. Trump whipsaws in his language on China. He has called Mr. Xi “a very, very good friend” and even privately encouraged him to keep building mass internment camps for Muslims and handle the Hong Kong pro-democracy protesters his way, according to a new book by John R. Bolton, the former national security adviser. When he last spoke with Mr. Xi, he expressed “much respect!” on Twitter.
With the election looming, Mr. Trump’s tone has changed. He has returned to bashing China, as he did in 2016, blaming Beijing for the pandemic and even referring to the coronavirus with a racist phrase, “Kung Flu.” His campaign aides have made aggressive rhetoric on China a pillar of their strategy, believing it could help energize voters.
The heated language, combined with the administration’s policy actions, could actually be having a galvanizing effect on Chinese citizens, some analysts and political figures in Beijing say.
“I strongly urge American people to re-elect Trump because his team has many crazy members like Pompeo,” Hu Xijin, the editor of the nationalist newspaper Global Times, wrote on Twitter on Friday. “They help China strengthen solidarity and cohe- sion in a special way.”
The relationship might not change course even if former Vice President Joseph R. Biden Jr. defeats Mr. Trump in November. The idea of orienting American policy toward competition with China has had robust bipartisan support over the last three-and-a-half years.
The Chinese government’s initial mishandling of the coronavirus outbreak and its actions in Hong Kong, which is widely seen as a beacon of liberal values within China, have been signal moments this year, contributing to the tectonic shift in views across the political spectrum.
The China hawks in the administration have seized on them to publicly push their perspective: that the Chinese Communist Party seeks to expand its ideology and authoritarian vision world-wide, and that citizens of liberal nations must wake up to the dangers and gird themselves for a conflict that could last for decades.
Since late June, the administration has rolled out four top officials to make that case.
Attorney General William P. Barr accused American companies of “corporate appeasement,” while Christopher Wray, the F.B.I. director, said his agency was opening a new China-related counterintelligence investigation every 10 hours.
Mr. Trump’s national security adviser, Robert O’Brien, warned that the Chinese Communist Party aimed to remake the world in its image. “The effort to control thought beyond the borders of China is well underway,” he said.
Mr. Pompeo’s speech on Thursday was meant as the punctuation mark. He chose the presidential library of the man credited with opening up U.S.-China relations to declare the policy a failure.
“President Nixon once said he feared he had created a ‘Frankenstein’ by opening the world to the C.C.P.,” Mr. Pompeo said, referring to the Chinese Communist Party, “and here we are.”

Política externa e diplomacia no contexto das liberdades democráticas - Paulo Roberto de Almeida

Um trabalho preparado para uma palestra online, como explicitado nestas coordenadas: 

Neste domingo, dia 26/07, às 17hs, terei o prazer de falar sobre “Política externa e diplomacia no contexto das liberdades democráticas”, no 1o. Colóquio Sertanejo pela Liberdade, organizado pelo Instituto Libercracia (URL de acesso: https://www.youtube.com/watch?v=aRAzDtPiVXM).



Política externa e diplomacia no contexto das liberdades democráticas
  
Paulo Roberto de Almeida
[Objetivo: palestra no I Colóquio Sertanejo pela Liberdade, no dia 26 de julho, Instituto Libercracia; finalidade: exposição e debate]


Esquema da palestra:
Introdução: como a diplomacia interage com as liberdades e a democracia
1. As conferências da paz da Haia de 1899 e de 1907: Rui Barbosa e a igualdade soberana das nações; Corte Arbitral Internacional; possibilidades e limites
2. A Grande Guerra e os 14 Pontos de Wilson; a denúncia bolchevique dos acordos secretos;
3. A Liga das Nações e o Acordo Briand-Kellog: o recurso obrigatório a meios pacíficos de solução de controvérsias e de disputas entre os Estados
4. O nascimento oligárquico da ordem internacional do pós-Segunda Guerra: a ONU
5. O processo de multilateralização da ordem política e econômica internacional
6. A descolonização, o fim do socialismo e a triplicação dos Estados membros da ONU
7. A busca de justiça nas relações internacionais: de Nuremberg ao TPP, passando pelas guerras civis nos Balcãs, por Ruanda e na África e Oriente Médio
8. A responsabilidade de proteger (R2P), limites da soberania estatal e a responsabilidade ao proteger
9. Progressos limitados da ordem democrática no contexto internacional
10. O Brasil no contexto global das liberdades democráticas: da ditadura à democracia e aos retrocessos do multilateralismo-globalista.

Leiam a íntegra neste link:

https://www.academia.edu/43713456/Pol%C3%ADtica_externa_e_diplomacia_no_contexto_das_liberdades_democraticas_2020_


sábado, 25 de julho de 2020

O multilateralismo agonizando, na indiferença das grandes potências - Patrick Wintour (The Guardian)

Importatíssimo artigo do editorialista diplomático do TheGuardian


What is the future of the UN in the age of impunity?
As the laws of war become optional and crimes in Syria and Libya go unpunished, there are fears the body has no teeth

Patrick Wintour, diplomatic editor
The Guardian, Thu 23 Jul 2020 

Some countries are questioning whether the UN, set up after the second world war, is still relevant or holds any power. 

Even at the best of times, there is a wide scope for misunderstanding in modern international relations, says António Guterres, the UN secretary general. “When two diplomats meet”, he says, “there are at least six perceptions to manage: how the two perceive themselves, how they perceive each other – and how they think the other perceives them”.
Four months into the coronavirus epidemic and it is the worst of times – and the opportunities for misperception have multiplied. The virus has left the UN members talking past one another, and advocates of multilateralism increasingly looking anywhere but the security council to promote liberal democracy, seek compromise or campaign for accountability.
For Guterres, this is deeply frustrating. He was one of the first world leaders to grasp the seriousness of the pandemic, and saw an opportunity for the 15-strong UN security council to play a convening role.
He tried, for instance, to make the UN relevant back in late March by calling for a worldwide ceasefire to give the doctors space and time to save lives. It was unashamedly idealistic, but some militias in Cameroon, Thailand and the Philippines, agreed to time out.
But then arguments between China and the US over Covid-19 held up the resolution for months. The US objected to any positive reference to the UN World Health Organization in the text. The only body to be demobilised, Guterres discovered, was the UN itself.

 UN secretary general: recovery from the coronavirus crisis must lead to a better world
António Guterres


Three months later, the resolution was finally agreed, excluding any direct reference to the WHO. In the meantime, 12 million people had been infected by the virus and 500,000 had died – and momentum on the ceasefire had been lost. By contrast, in 2014 the security council had passed a resolution on Ebola in one day.
Similarly, a declaration drafted to mark the UN’s 75th birthday, due to be adopted at the September general assembly, led to long disagreements in the security council. The US opposed references to the climate change. The west, including Britain, also suspected China was trying to slip some Chinese communist thinking into the resolution, and objected. Agreement was finally reached, but for most people it was a theological dispute comprehensible to a handful of diplomats
Guterres admits the security council at this supremely global moment had offered little but paralysis. “Relations between the most important powers, the USA, China and Russia, are more dysfunctional than ever. Unfortunately, where there is power, there is no leadership, and where there is leadership, there is lack of power. Furthermore, when we look at multilateral institutions, we have to recognise that they have no teeth. Or, when they do, they don’t have much of an appetite. They don’t want to bite”.
This degree of gridlock has had consequences way beyond the loss of an abstract concept – the liberal rules-based order. We are, in the words of David Miliband, CEO of the international rescue committee and a former Labour foreign secretary, “living through the age of impunity”.

“Anything goes. And the law is for suckers. A time where war crimes go unpunished and the laws of war become optional. A time when militaries, militias, and mercenaries in conflicts around the world believe they can get away with anything, and because they can get away with anything, they do everything,” he said.
Syria acts as exhibit A to illustrate Miliband’s point. Geir Pedersen, the fourth UN special envoy since the civil war started in 2011, already questions his value. “When I asked friends and colleagues should I take on this job, they said you must be crazy, I thought maybe after eight years of conflict the time was getting more ripe for settling the conflict,” he says. “What I expected was the lack of trust between the parties, but not the deep distrust between the international parties and that is something I am struggling with”.
Russia has used its veto power an astonishing 16 times in Syria, twice in the last month to block humanitarian aid into the country.
Pedersen says: “I brief the council every month and sometimes I think there is not much new to say. There is a deep frustration that after nine and a half years the political process has not been able to deliver any progress. No progress on the economy, detainees or what you can do for the dignified return for refugees.
“I told the UN security council ‘I need your help if we are to make progress’. With a conflict that has been going on for so long, I worry it becomes part of the normal scenery. I struggle with this. We have thousands of people killed and it is not even close to headlines anymore.”
Libya could act as exhibit B. It, too, has been locked in an on-off civil war since 2011, while the UN watches its own arms embargo openly flouted.
Ghassan Salamé, the former UN special envoy for Libya, makes a brutal wider analysis of what is going wrong. “In the cold war, the security council was blocked by the mutual veto. Nowadays we are blocked by the disintegration of the idea of collective security. It is not there in the council. We went in the 80s through a period of financial deregulation, what is called neo-liberalism … We are now going through a period of de-regulation of force. Now everybody who has the means to do something – and a lack of internal constraints, such as a parliament – has the means to act and there is no one to tell them ‘you cannot do that’. Let’s face it, it makes democracies weaker. Why do we not say that publicly?

“It is not because democracies produce weak regimes, but democracy needs multilateralism. It needs everyone to have domestic and internal constraints, to put limits to behaviour. If you can ignore your constitution, your parliament and public opinion and you do not have an external power constraint, whether it is the security council or the great powers, then it is a free-for-all.
“As a result, the constraints on external meddling by medium-rank powers no longer exist.”
Europe, he confides, is powerless, and has been reduced to the role of the peace banker, offering to finance reconstruction once others finish the fighting.
Harold Koh, legal adviser to the State Department under Barack Obama and professor of international law at Yale University, argues that we are living through a pivotal moment, second only to the second world war. “Back in the 1790s Immanuel Kant made a very simple argument. He said we do not need world government. What we need is democratic nations committed to human rights and the rule of law cooperating for shared ends.
“Essentially he was calling for a United Nations system. The alternative, less clearly expressed, is Orwell’s 1984 – spheres of superpower influence where there are no values, people lie, change enemies and friends day to day. Leaders are authoritarian at home, and pat dictators on the back abroad.”
Most believe that the Orwellians are winning – if only because China and the US’s visions of the post-imperial world order appear so incompatible.
But Mary Robinson, the chair of the Elders, the group of senior former UN leaders, says it is too soon to read the last rites for multilateralism. The movement has gone through a bumpy undefended period, she recently told Chatham House, the non-profit organisation that aims to analyse and promote the understanding of major international issues. But as recently as 2015 the world came together on climate change and global development goals, she said.
“No event could have more clearly made the case for multilateralism – the simple idea of cooperation between countries to solve problems that are too big for one country,” she says. Populists, salesmen of distrust and nationalism have been found wanting faced by a pandemic without a passport. Even in America, Trump’s familiar tunes play to emptying stadiums.

The state we're in: will the pandemic revolutionise the role of government?

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But what would renewal of multilateralism look like?
If Joe Biden wins the US election this November, probably the most pro-Atlanticist politician in America will enter the White House. He has already said he will review Donald Trump’s troop withdrawal from Germany and promised to hold a summit of democracies, a proposal that might dovetail with the UK’s plans to create a democratic 10 group of nations. Above all, the whole tone of transatlantic discussion would change.
But a Biden White House would not end the trade or political rivalry with China and Russia, or restore the rare period of American hegemonic power at the end of the cold war.
Nor would it lift the roadblocks to reform at the UN and its subsidiary bodies such as the WHO. All sides agree the 15-strong security council is a museum piece built to reward the winners of the second world war, and does not reflect the modern balance of power. Most people, including Ban Ki-Moon, the previous UN secretary general, agree there is no point relaunching efforts to reform the security council or the veto.
But a widening of security council membership was proposed by another former UN secretary general, Kofi Annan, in 2003-2005. Annan thought he could catch a wave and seize the opportunity to rush through change of the security council, but his vision was crushed by the entrenched interests of security council members unwilling to cede any power to the likes of India or Nigeria.
Samantha Power, the former US ambassador to the UN, told the UK foreign affairs select committee that if the main multilateral institutions could not be reformed, the task would be to find “workarounds”, or what she described as hustling for liberal democracy outside the UN security council.
And progress can be made outside the framework of the council, argues Stephen Rapp, former US ambassador-at-large for global criminal justice, and the chief prosecutor of the special court for Sierra Leone from 2007 to 2009.
The wider general assembly voted by 105 to 15 to set up the international independent mechanism to look into war crimes in Syria. And despite frantic Russian objections last year, the UN chemical weapons watchdog, the OPCW, was given powers to investigate and attribute responsibility for chemical attacks in Syria. It has started doing so.
The UN human rights council – where the debilitating veto does not exist – has launched an investigation into war crimes in Libya, as well as in Venezuela. The president of Kosovo, Hashim Thaçi, has felt obliged to attend a special war crimes court. In April in Germany Anwar Raslan and Eyad al-Gharib, two Assad regime torturers, were put on trial for war crimes.

Mitchell says Scotland Yard can do the same with five Rwandans accused of mass genocide living in the UK. London has signed up to the new breed of Magnitsky human rights sanctions, already pioneered in the US, and the EU is following suit.
Joseph Nye, the first exponent of “soft power” and professor at Harvard’s Kennedy school of government, has developed such examples into the outline of a new order. Writing in Project Syndicate, he said: “If Joe Biden is elected, the question he will face is not whether to restore the liberal international order. It is whether the US can work with an inner core of allies to promote democracy and human rights while cooperating with a broader set of states to manage the rules-based international institutions needed to face transnational threats such as climate change, pandemics, cyber-attacks, terrorism, and economic instability.”
Such a new order would involve two tiers of multilateralism for the US, one with allies and the other with rivals. China and Russia would have to be treated as revisionist participants in the existing international order, not solely as enemies standing outside of it.
This may require some decoupling economically, but not politically. Instead, in the view of the former Australian prime minister Kevin Rudd, it will require the same level of political engagement with China, but operating with clearer guide rails.
America has to move from unpredictable episodic strategic competition with China, the custom under Trump, to systematic strategic competition. Clearer red lines between China and the west would paradoxically allow multilateralism to thrive.
Europe is desperate for a new world order. “If we want to be seen and respected by China as an equal partner we need to organise ourselves,” Emmanuel Macron, the French president, has said.
In 2019 France and Germany formed the alliance for multilateralism, an informal ad hoc grouping of 50 or so members (though not the UK) that was instrumental in ensuring the WHO passed a resolution backing a review of its handling of Covid-19.
The UK talks of a D10 – the G7 democracies plus Australia, Korea and India. It is a version of an idea first proposed at the end of 2018 by James Lindsay, the director of studies at the council on foreign relations, in what he described as “the committee to save the world order” .
In Europe, there is a surprising optimism bubbling under the surface. Arancha González, the Spanish foreign minister, said: “We are at an incredible moment in Europe deciding whether we want to make a huge investment in EU institutions to protect our citizens.”
She describes it as the invention of a new social contract between government and people. “I do not see a world that is de-globalising. It is re-globalising but we do not yet have a system of governance for this re-globalised world. There is an absence of global rules.”
Similarly, the EU foreign affairs chief, Josep Borrell, feels Europe is ready to step up to the plate. “We need to reset our mind to stop being the nice guy in all circumstances and learn to say ‘no’,” he recently told the European council on foreign relations.
“Europe has to learn the language of power. If you have to learn it means at present we do not know. Other actors know how to use not just the language of power, but power itself. In Libya and Syria, Turkey and Russia have been using power and not the language of power. Like it not, they have become the masters of the game.”
Remarkably, one of the optimistic views on the future of international co-operation comes from the man who oversaw the aftermath of the Rwandan genocide. Roméo Dallaire, the Canadian former general and senator who served as force commander for UNAMIR, the UN peacekeeping force in Rwanda, between 1993-1994, said: “I think we are in a revolutionary time … The under-25s are going to start to be very active and they are going to start demanding that humanity is treated as one.
“They are a generation without borders. This generation will have the means through the incredible weapons of social media. They have the power to push aside the leaders that hold them back.”

sexta-feira, 24 de julho de 2020

Quais são as ameaças ao Brasil que fazem as Forças Armadas pedirem mais investimento? - Leonardo Desideri (Gazeta do Povo)

Gazeta do Povo comenta superficialmente as novas características dos três documentos do MD enviados ao Congresso: END. PND e LB. A grande diferença talvez seja o crescimento da tensão mundial, essencialmente derivado da confrontação bipolar China-EUA, que eu chamaria de conflito artificial criado pelo Trump contra a China. Do lado do Brasil a diferença é a inexistência atual de qualquer mecanismo de diálogo e cooperação de âmbito regional, em parte derivado da oposição do governo ao multilateralismo em geral, como ao próprio bolivarianismo hoje em declínio.
Paulo Roberto de Almeida


Defesa nacional
Quais são as ameaças ao Brasil que fazem as Forças Armadas pedirem mais investimento?
Por Leonardo Desideri - Brasília
Gazeta do Povo, 24/07/2020 ; 10:45

Forças Armadas querem mais investimentos para enfrentar ameaças externas 
As novas versões da Política Nacional de Defesa (PND) e da Estratégia Nacional de Defesa (PND), apresentadas pelo governo ao Congresso na quarta-feira (22), trazem as diretrizes do país para os próximos quatro anos na área militar. Os documentos deste ano alertam para novas tensões geopolíticas que poderiam afetar o país. E vão servir para embasar um pleito importante do Ministério da Defesa: a busca por mais investimentos nas Forças Armadas.

O Brasil ocupava até 2018 o sétimo lugar na América do Sul em investimentos na área de defesa na proporção do PIB. O Brasil, à época, gastava 1,47% do PIB com as Forças Armadas – proporção que o colocava atrás de países bem menores como Equador (2,4%), Guiana (1,7%) e Bolívia (1,5%). A Colômbia liderava o ranking, com investimentos em defesa na faixa de 3,2% do PIB.

Desde então, o Brasil aumentou os gastos militares e hoje estima-se que a proporção esteja em cerca de 2% do PIB. As Forças Armadas querem, no mínimo, manter esse patamar.

O novo documento da Estratégia Nacional de Defesa diz que é “prioritário assegurar a continuidade e a previsibilidade na alocação de recursos orçamentários e financeiros para o setor de Defesa”. “O Brasil deve estar em condições de ampliar rapidamente seus recursos humanos e meios materiais disponíveis em prol da Defesa Nacional”, diz o texto.

O Congresso não tem prazo para aprovar a nova Política Nacional de Defesa.
Quais são os argumentos para que o Brasil aumente os gastos com Forças Armadas
Em linhas gerais, a nova estratégia de defesa do Brasil é semelhante à última, de 2016. Mas apresenta um tom menos ameno que a anterior, pintando um cenário internacional menos pacífico e mais conflituoso que o de quatro anos atrás.

O plano estratégico de 2020 diz que “nos últimos anos tem crescido o espectro do conflito estratégico militar entre as maiores potências e ressurgido a competição pela supremacia global”. Afirma ainda que “as relações internacionais se mantêm instáveis” e podem ter “desdobramentos, por vezes, imprevisíveis”. Faz, contudo, a ressalva de que “persiste um nível de interdependência econômica mundial que favorece a busca por soluções negociadas de controvérsias”.

O documento ressalta que o Brasil pode ser afetado por "desdobramentos" de tensões em países vizinhos. O texto ainda afirma que o Brasil poderá ter de intervir em nações vizinhas ou reagir militarmente a uma eventual agressão. "O País poderá ver-se motivado a contribuir para a solução de eventuais controvérsias ou mesmo para defender seus interesses", diz o texto

A PND não cita nominalmente onde estariam esses riscos. Mas, nos bastidores, sabe-se que a grande preocupação é com a Venezuela, país comandado pelo ditador Nicolás Maduro que passa por uma grave crise institucional e econômica.

Enquanto a oposição venezuelana conta com o apoio de países como o Brasil e os Estados Unidos, Maduro firmou uma aliança com Rússia e China – nações cuja presença na América do Sul também causam preocupação nas Forças Armadas brasileiras, embora isso não esteja descrito na estratégia de defesa nacional.

A Amazônia, região em que o Brasil faz fronteira com a Venezuela, é elencada na estratégia de defesa nacional como uma das áreas de maior ameaça para o país.

Mas não apenas por causa da ditadura de Maduro. Embora isto não esteja descrito no documento, historicamente os militares brasileiros sempre consideraram a floresta amazônica como alvo da cobiça de outros países. E, atualmente, o país sofre um desgaste internacional por causa da política do governo para o meio ambiente – o que, em alguns setores das Forças Armadas, pode ensejar movimentos de interferência na soberania do Brasil sobre a Amazônia.

Outra área elencada no documento como de risco para o país é o Atlântico Sul. As principais jazidas de petróleo do Brasil ficam em seu mar territorial. E a defesa das plataformas de extração contra eventuais ataques militares estrangeiros, o que causaria graves danos à economia brasileira, é uma das grandes preocupações das Forças Armadas. Para a proteção do mar territorial, a Marinha aposta no programa de desenvolvimento de submarinos – e está desenvolvendo a tecnologia de propulsão nuclear para esses veículos subaquáticos.

"A Amazônia, assim como o Atlântico Sul, é uma área de interesse geoestratégico para o Brasil", diz o texto da Estratégia de Defesa Nacional. "A proteção da biodiversidade, dos recursos minerais, hídricos, além do potencial energético, no território brasileiro é prioridade para o País."

Sobre a situação na América do Sul, a nova estratégia de defesa nacional sugere que o Brasil não aposta mais em organismos multilaterais sul-americanos como instâncias para solucionar conflitos. O documento de 2016 citava esses organismos multilaterais sul-americanos como facilitadores de um processo de integração que promovia uma convivência pacífica no continente. O atual não os cita organismos.

O documento também fala em "pandemias" e "mudanças climáticas" como ameaças ao país, destacando as "consequências ambientais, sociais, econômicas e políticas, que exigem pronta resposta do Estado".

Plano estratégico militar fala que população desconhece ameaças
A nova PND diz ainda que a população brasileira “tem a percepção desvanecida das ameaças” e diz que a situação do povo brasileiro era semelhante nas épocas das duas Guerras Mundiais. “O ambiente de falta de percepção de ameaças reinante no Brasil, naquelas ocasiões, não permitiu uma adequada prontidão dos aparatos militares”, afirma o documento.

O texto destaca também que, “para proteger o seu povo e o seu patrimônio”, o Brasil “deve considerar a possibilidade de se defrontar com antagonismos que venham a pôr em risco seus objetivos nacionais”.

Embora a PND fale de uma “vocação [brasileira] para a convivência harmônica com outros países” como “parte da identidade nacional”, cita, logo em seguida, a máxima do Barão do Rio Branco de que “nenhum Estado pode ser pacífico sem ser forte”.

Defesa diz que investimentos são para substituir o que está obsoleto
Na quarta-feira (22), ao fazer um balanço da situação das Forças Armadas, o ministro da Defesa, general Fernando Azevedo e Silva, destacou a necessidade de novos investimentos no setor: "Apresentei o que estamos fazendo, as operações que estamos participando, e mostrei quais são os meios de que dispomos para fazer isso, assim como a situação em que se encontram as Forças", disse Azevedo e Silva ao jornal O Estado de S. Paulo.

Mesmo admitindo que 2019 foi um ano em que o orçamento de Exército, Marinha e Aeronáutica não sofreu contingenciamento, disse que é preciso enfrentar essa situação de "defasagem".

"Falei dos nossos projetos e das nossas defasagens porque estamos com material muito antigo. Nossas fragatas, aeronaves e carros de combate estão muito antigos, todos com idade entre 40 e 50 anos. Então, temos de implementar nossos projetos, não para aumentar as Forças, mas para substituir o que está ficando obsoleto e antigo", afirmou o titular da Defesa, que apresentou um plano estratégico de modernização dos equipamentos.

A nova estratégia de defesa nacional foi entregue ao Congresso em uma reunião entre o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), e os membros do Conselho de Defesa Nacional (CDN), órgão tradicionalmente comandado pelo presidente da República e por ministros.

Atualmente, o CDN é chefiado pelo presidente Jair Bolsonaro e tem como secretário-executivo o general Augusto Heleno, ministro do Gabinete de Segurança Institucional.

A reunião ocorreu no Palácio do Planalto e contou com a participação de Heleno, do vice-presidente Hamilton Mourão, do ministro da Defesa, general Fernando Azevedo e Silva, além de outros ministros e dos comandantes do Exército, da Marinha e da Aeronáutica. Em videoconferência, o presidente Jair Bolsonaro justificou a ausência por ter contraído a Covid-19 e falou sobre a importância das Forças Armadas.

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Da conferência da paz da Haia (1907) às negociações de paz de Paris (1919) - Paulo Roberto de Almeida

Meu trabalho mais recente, ainda não publicado: 

3722. “Da conferência da paz da Haia (1907) às negociações de paz de Paris (1919): Quando o Brasil emergiu para a diplomacia mundial?”, Brasília, 23 julho 2020, 19 p. Ensaio de caráter histórico sobre a construção da postura multilateralista do Brasil no início do século XX. Texto de apoio para palestra em 28 de julho, no quadro do programa comemorativo do centenário da visita do rei Albert ao Brasil (1920), organizado pela embaixada da Bélgica. Divulgado via plataformas Academia.edu (link: https://www.academia.edu/43705254/Da_conferencia_da_paz_da_Haia_1907_as_negocia%C3%A7%C3%B5es_de_paz_de_Paris_1919_Quando_o_Brasil_emergiu_para_a_diplomacia_mundial_2020_) e Research Gate (link: https://www.researchgate.net/publication/343193547_Da_conferencia_da_paz_da_Haia_1907_as_negociacoes_de_paz_de_Paris_1919_Quando_o_Brasil_emergiu_para_a_diplomacia_mundial).

Da conferência da paz da Haia (1907) às negociações de paz de Paris (1919): Quando o Brasil emergiu para a diplomacia mundial?

Paulo Roberto de Almeida
 [Objetivo: texto de apoio a palestra; finalidade: Evento Embaixada Bélgica]
Palestra Terça-feira 28 de julho, 17h00 – 17h40 (BRT), no quadro do programa comemorativo do centenário da visita do rei Albert ao Brasil (1920), organizado pela embaixada da Bélgica.

Sumário: 
1. Os conceitos de diplomacia mundial, internacional, global ou multilateral
2. Como o Brasil emerge para a diplomacia mundial, ou multilateral
3. A passagem do Brasil da política regional para a política internacional
4. O Brasil na conferência da paz da Haia (1907)
5. Rui Barbosa defende a neutralidade da Bélgica na Grande Guerra (1916)
6. O Brasil nas negociações de paz de Paris (1919)
7. Encontros entre o presidente Epitácio Pessoa e o Rei Albert

1. Os conceitos de diplomacia mundial, internacional, global ou multilateral
Existem vários sentidos, já consolidados, ao conceito de diplomacia mundial, que pelo seu adjetivo seria algo equivalente a internacional, ou global, embora esse termo seja mais recente. Mas o conceito pode também querer dizer diplomacia multilateral, ou seja, a de organismos internacionais, que podem ser intergovernamentais, de tipo setorial, mas podem também ser de âmbito universal, continental ou regional, ou no sentido plurilateral.
No primeiro sentido, isto é, mundial, significaria uma diplomacia nacional capaz de cobrir todo ou a maior parte do planeta, ou um conjunto significativo de atores relevantes, países, Estados, economias relevantes do ponto de vista das relações internacionais, da dinâmica dos intercâmbios globais, ou tocando aos temas mais sensíveis da comunidade internacional, ou mundial, que tem a ver com a paz (ou a guerra), a segurança, as relações de comércio, de investimentos, de transações financeiras, de movimentos de pessoas, tanto quanto de bens intangíveis (cultura, arte, conhecimento, cooperação), e suas respectivas instituições de suporte. 
Num contexto mais tradicional desse primeiro conceito ele tem a ver com a ação das grandes potências, os chamados poderes hegemônicos, as antigas nações coloniais ou imperiais, ou seja, os grandes atores, definidos pela sua capacidade de projetar poder externamente com base em seus recursos intrínsecos. São atores capazes de imprimir sua vontade num contexto transfronteiras, ou seja, deslanchar guerras de conquista, eventualmente de defesa, incorporar territórios sem jurisdição própria, se constituir um império colonial, ou participar ativamente de ações em âmbito global ou regional, geralmente de cooperação, que também podem ser de caráter unilateral – ou seja, tomadas por sua própria iniciativa – ou em acordo com outros países envolvidos nesse tipo de ação. 
No segundo sentido, multilateral, a diplomacia de um Estado se faz no quadro de acordos estabelecidos, geralmente ao abrigo de alguma instituição dotada de um mandato específico, que pode ser setorial ou “global” (como a ONU), ou estruturais informais de cooperação em torno de um objetivo preciso ou mutuamente acordado. Esta é a forma contemporânea por excelência, que emergiu progressivamente desde o final do século XIX, nas organizações de cooperação técnica, evoluindo progressivamente para o terreno da cooperação política, como por exemplo as duas conferências da paz da Haia (1899 e 1907), com destaque para as negociações de paz de Paris, ao final da Grande Guerra, em 1919, das quais resultaram a criação da Liga das Nações e a formalização do Escritório Internacional do Trabalho. A forma especificamente contemporânea da diplomacia mundial, ou internacional, ou ainda global, se identifica, evidentemente, com a Organização das Nações Unidas, criada na conferência de San Francisco de 1945, e suas agências especializadas, que foram sendo criadas antes ou imediatamente depois da entidade global. 
A conjuntura histórica examinada no presente ensaio sintético refere-se ao início do regime republicano no Brasil, na última década do século XIX, e às duas primeiras décadas do século XX, quando têm lugar os eventos ou processos aqui enfocados: a emergência da nova diplomacia republicana, as conferências da paz da Haia (sendo que o Brasil participou unicamente da segunda, em 1907), a Grande Guerra e as negociações de paz de Paris, em 1919, com referência especial para as relações do Brasil com o Reino da Bélgica, em vista da solidariedade demonstrada por ilustres brasileiros – com destaque para Rui Barbosa – por ocasião da invasão do país pelas forças militares do Império Alemão e para as relações pessoais entre o presidente Epitácio Pessoa e o rei Albert, que visitou o Brasil em 1920. A melhor síntese sobre a posição internacional do Brasil nesse período foi oferecida na obra do embaixador Rubens Ricupero, na seção “As novas tendências da política exterior”, parte VI, “A Política Externa da Primeira República (1889-1930), como segue: 
A evolução do panorama externo agiu nessa fase sobre a diplomacia brasileira por meio de três fatores estruturantes, capazes de fazer surgir tendências profundas e sistêmicas, destinadas a durar muito além de 1930 como características diferenciadoras da orientação da política exterior do Brasil.
primeiro consistiu na emergência e afirmação do poder político e da irradiação econômica dos Estados Unidos. O segundo fez-se sentir pela intensificação de um relacionamento mais intenso e cooperativo entre países da América Latina, seja sob a modalidade do pan-americanismo patrocinado por Washington, seja por iniciativas latino-americanas autônomas. Finalmente, o terceiro residiu no aprendizado de novo tipo de ação diplomática nas instâncias do incipiente multilateralismo da Liga das Nações, estágio inicial de uma forte tradição da diplomacia multilateral que se desenvolveria nas fases seguintes. 
Em termos sintéticos, as três transformações estruturais da política exterior na Primeira República resumem-se: 1ª) no estreitamente da relação ou “aliança não escrita” com os Estados Unidos; 2ª) na sistemática solução das questões fronteiriças e na ênfase em maior cooperação com os latino-americanos; e 3ª)  nos primeiros lances da diplomacia multilateral, na versão regional, pan-americana, ou global, da Liga das Nações. (Ricupero, 2017: 258). 

2. Como o Brasil emerge para a diplomacia mundial, ou multilateral?
         (...)

Texto na íntegra nos links: