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Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

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segunda-feira, 15 de abril de 2024

Uma história de resistência à violência da ocupação e tirania- Elsie Maréchal (Bélgica, IIGM) - Helen Fry

 Como este espaço é por mim considerado como um “quilombo de resistência intelectual” contra o arbítrio, a prepotência e a violência dos poderosos, eu não posso deixar de homenagear outros resistentes;

From: HelenFry (IIWW Historian)

“Elsie Maréchal was among the few surviving female helpers of the Comet Escape Line, a resistance organisation stretching from Brussels to Paris and down to Bilbao in Spain during the Second World War.

At the age of 16, she enlisted in the Comet Line in 1940, amidst the severe German occupation of Belgium. Bravely, Elsie served as a resistance operative, bearing witness to the atrocities inflicted by the Nazis in her homeland. She observed trains departing daily and witnessed the suffering of her fellow citizens, particularly the Jews.

This only strengthened her resolve to resist. However, tragedy struck in November 1942 when Elsie and her family were betrayed. Despite enduring brutal interrogations and torture, her commitment remained strong and she did not crack.

Although her capture and absence posed temporary setbacks for the Comet Line, Elsie's courage endured as she spent three gruelling years in concentration camps, facing unimaginable suffering.

In recalling her experiences to me in person, Elsie remained modest about her wartime contributions. She collaborated with other inspiring WW2 figures, including Andrée and Elvire de Greef.

Elsie passed away in 2022.”


terça-feira, 28 de março de 2023

Desertores não são todos covardes: há os que protestam contra o absurdo das guerras - John Tagliabue (New York Times)

Bélgica homenageia desertores da Primeira Guerra Mundial 
Monumentos sobre a Grande Guerra são comuns na flamenga Ypres. 
Mas só agora os soldados mortos por recusarem combater têm o seu. 
John Tagliabue, New York Times, em Ypres, Bélgica, 07/12/2008

 Noventa anos após seu fim, a Primeira Guerra Mundial ainda paira sobre essa pequena cidade flamenga, ponto central do massacre ocorrido durante a Grande Guerra, como a chamavam as pessoas, crentes de que aquele seria o último combate de proporções mundiais. Monumentos aos mortos pela guerra brotaram como cogumelos após o cessar-fogo. Mas demorou cerca de 85 anos para se erguer um monumento a um grupo diferente de mortos: soldados executados pelos próprios aliados por terem se recusado a continuar o combate. A oito quilômetros de Ypres, em um tranqüilo pátio no vilarejo de Poperinge, está localizado um poste parecido com aqueles usados para apoiar vinhas de lúpulo, uma cultura comum por aqui. Tem mais ou menos a altura de um homem. Logo atrás dele fica uma placa de aço onde vemos gravado um verso de Rudyard Kipling: "Eu não podia olhar para a morte, mas, como se sabe, homens me levaram para ela, com os olhos vendados e sozinho". 
 Foto: Jock Fistick/The New York Times Monumento aos desertores da Primeira Guerra Mundial no local em que eles eram executados na vila de Popering, na Bélgica, em 28 de novembro. Atrás, uma placa com versos dos 'Epitáfios da Guerra' de Rudyard Kipling. (Foto: Jock Fistick/The New York Times) 

 À medida que a aparente guerra sem fim se arrastava, deserções e revoltas de tropas se tornavam um problema cada vez maior. Para combatê-lo, comandantes começaram a amarrar desertores e soldados rebeldes em postes como esse, onde seriam executados por um pelotão de fuzilamento. Os britânicos atiraram em 320 homens, e os franceses, em mais de 700. Os alemães, contraditoriamente, atiraram em cerca de 50. Em uma das duas celas próximas ao monumento de Poperinge, onde soldados foram amarrados antes da execução, que ocorria pela manhã, visitantes hoje chegam para relembrar não só atos heróicos da guerra, mas também seus horrores. Em uma tarde fria há poucos dias, um pedaço de papel jazia sobre uma cama de madeira onde os homens passavam a última noite. 
Assinado por T.T.S., o bilhete, rabiscado em inglês, era um dos muitos que foram deixados aqui. "Vocês sempre serão lembrados", dizia o bilhete, "Vocês nos deixaram orgulhosos." Com a proximidade do centésimo aniversário da guerra, o monumento de Poperinge marca uma grande mudança na atitude recente de países europeus que sofreram as maiores perdas humanas, relembrando não somente os mortos em combate, mas também aqueles que enfrentaram um pelotão de fuzilamento por protestar, por se recusar a lutar, ou por fugir da frente de batalha. Em Ypres, essa mudança de atitude levou curadores a mudar inteiramente a forma como o museu de guerra local apresenta o conflito, salientando a desumanidade da guerra em vez dos vencedores e dos derrotados. Na Grã-Bretanha, essa mudança levou em 2006 ao perdão póstumo do parlamento aos desertores, após a construção em 2001 de um monumento aos mortos pelo pelotão de fuzilamento. Na França, essa mudança de mentalidade levou o presidente Nicolas Sarkozy a reconhecer em público este ano que os executados também mereciam compaixão – essa foi a primeira vez que um presidente francês fez algo do tipo. 
 No Dia do Armistício em Fort Douaumont, leste da França, onde centenas de milhares de alemães e soldados franceses morreram, Sarkozy disse que os executados "não eram desonrados nem covardes", mas que tinham ido "até o limite extremo de suas forças". No entanto, não houve nenhum perdão em seguida, afirmou mais tarde um porta-voz da presidência. "Foi uma das questões mais difíceis acerca de toda a discussão sobre as execuções", afirmou Jurgen van Lerberghe, membro do conselho municipal que ajudou a promover o monumento de Poperinge. "É algo que não podemos esconder. Não houve somente feitos heróicos." Questionado se o monumento teria sido possível há uma geração, Van Lerberghe disse: "Se você enxerga isso como uma pergunta, o que a guerra pode fazer com as pessoas, teria havido uma discussão difícil". De fato, visões antigas ainda permanecem. "Veteranos da Segunda Guerra Mundial têm problemas com isso", comentou Luc Dehaene, 57 anos e prefeito de Ypress há 11, em relação à mudança de atitude. O museu de guerra daqui, localizado no imenso Cloth Hall, um mercado do século 14 que foi literalmente achatado durante a guerra por um tronco onde ficava sua enorme torre com um relógio, já não é mais chamado de Ypres Salient Museum. Agora, é o In Flanders Fields Museum, intitulado assim em memória do famoso poema e seu do autor, Tenente-Coronel John McRae, além de seus colegas soldados poetas, muitos dos quais morreram na guerra, mas não sem antes denunciar sua desumanidade. 
 Foto: Jock Fistick/The New York Times Visitante no In Flanders Fields Museum, na cidade belga de Ypres, assiste a filme com imagem da execução de um desertor. (Foto: Jock Fistick/The New York Times) 

 "É claro que militarmente e diplomaticamente houve vencedores e perdedores", disse Dominiek Dendooven, historiador de guerra do museu. "Mas o museu tem de lidar com o fato de que nessa guerra, com seus dez milhões de mortos, será que se pode dizer: 'Eles venceram e eles foram derrotados?'" O museu agora tem uma ala dedicada aos desertores, que nasceu de uma série de conferências, com participantes de Grã-Bretanha, França e Alemanha, que incluía familiares dos soldados executados. "Além da injustiça, a maioria deles foi morta para dar o exemplo", disse Dendooven. "Era uma forma de coerção mental", concluiu o historiador. Hoje, cerca de 400 mil visitantes, muitos deles crianças em idade escolar, são atraídos por Ypres a cada ano, o dobro do número de visitantes de dez anos atrás. André de Bruin, 63 anos, sul-africano e guia de passeios nos campos de batalha, disse que a informação disponível na internet permite às pessoas encontrarem parentes que lutaram ou morreram aqui. "De repente, eles se dão conta: "Tio Bertie lutou em Passchendaele'", disse ele, referindo-se à cidade hoje conhecida na língua holandesa moderna, mais simplificada, como Passendale, onde lutas violentas aconteceram. O caso judicial amplamente divulgado do soldado raso Harry Farr, continuou ele, um soldado britânico que sofria de um distúrbio mental causado por experiência violenta em guerra e que foi executado por covardia em 1916, também levantou interesse sobre a guerra. "Em nossa opinião, houve somente perdedores nessa guerra", afirmou Dehaene. "Nossa mensagem é muito simples: veja o que aconteceu aqui. Não é ingenuidade. Sabemos o que podemos e o que não podemos fazer. Sabemos, então, que temos de fazer nosso apelo".

terça-feira, 7 de junho de 2022

A Colônia Belga e seus Descendentes no Vale do Itajaí: exposição em Ilhota, SC: até novembro 2022

 

 

“O povo que perde a noção de seu passado, isto é, da sua história, das suas crenças, dos seus ideais, perde a sua alma e está fadado à decadência e ao desaparecimento” - Migrante belga Gustavo Lebon, 1845 

Após muitos anos de pesquisas documentais e iconográficas no Brasil e na Bélgica, intercâmbios com historiadoras catarinenses e belgas e muita mobilização das famílias descendentes no Vale do Itajaí, será aberta a exposição "A Colônia Belga e seus Descendentes no Vale do Itajaí" que ficará em cartaz de 13 de junho até 27 de novembro de 2022, de segunda-feira até sexta-feira das 8h às 12h e das 13h às 17h, no Casarão Belga, Rua Ricardo Paulino Maes 257 em Ilhota, com entrada grátis.

Como sabemos, embora o Brasil seja um país de imigrantes, a imigração belga é pouco conhecida. Mas fruto de um trabalho conjunto, hoje sabemos que em 24 de agosto de 1844, 114 pessoas (agricultoras, trabalhadores jornaleiros, donas de casa, artesãos e alguns sem profissão), a maioria de origem da região flamenga, partiram rumo a Santa Catarina no barco belga “Jean van Eyck” que partiu do porto de Oostende e chegou ao Rio de Janeiro depois de 67 dias.

A razão dessa migração é que nessa época a Bélgica era um país recentemente independente, em plena transformação de uma economia agrícola para a mecanizada. Com as consequências sociais da revolução industrial, sofria com a pobreza, com uma zona rural superpovoada e alta migração para as cidades em busca de trabalho, onde a única opção era viver em cortiços. De um terço à metade da população das províncias Flandres Ocidental e Oriental, na década de 1840, foi obrigada a mendigar ou pedir ajuda do governo para sua sobrevivência. Somou-se a isso, as epidemias de tifo em 1847-1848 e a de cólera, em 1848-1849 que causaram muitas mortes. Devido a essa situação, muitas pessoas optaram por migrar para vários países na busca por trabalho e melhores condições de vida. Estima-se que, entre 1847 e 1914, 5.000 pessoas se mudaram para o Brasil e 23.000 para a Argentina. 

O personagem central da colonização belga em Santa Catarina foi o belga Charles Maximilien Louis Van Lede nascido em Bruges em 1801 e falecido na mesma cidade em 1875. No fim de 1841, a serviço da Sociedade Comercial de Bruges e proprietário da Companhia Belgo-Brasileira de Colonização, ele veio para o Brasil com a ideia de um grande projeto colonizador e para avaliar o solo e as florestas catarinenses para a exploração de ferro, carvão e outros minérios. 

Desta maneira, em novembro de 1844 foi iniciada uma das primeiras colônias belgas no Brasil e no Vale do Itajaí, em Ilhota. As famílias plantavam batata e uma dúvida até hoje é se elas teriam trazido as mudas da Bélgica Plantavam também mandioca, cana de açúcar, arroz e milho, alimentos até então desconhecidos na época no seu país. Essas famílias sofreram com a árdua travessia no Atlântico - e há quem diga que até ataque de piratas – com a mata, as doenças e as inúmeras enchentes do Rio Itajaí.

Mas os descendentes sobreviveram e possuem hoje muitas memórias, algumas delas compartilhadas em vídeo depoimentos que são parte da exposição. Continuam animados para recuperar as suas origens, relembrar tradições dos antepassados, construir quebra cabeças que são as árvores genealógicas, muito felizes de valorizar as suas raízes. Não existem muitos vestígios materiais dessa imigração, mas ela está presente e pode ser comprovada ao caminharmos pelas inúmeras ruas e avenidas do Vale do Itajaí que possuem sobrenomes belgas, tais como: Maes, Hostin, Maba, Castellain, Vilain, Conink, Gevaerd, Sutter, Wan-Dall...

A exposição conta com a curadoria de Marc Storms, como coordenador do "Patrimônio belga no Brasil” e foi produzida com a Associação Ilha Belga. Ela conta com o efetivo apoio do Embaixador da Bélgica, Sr. Patrick Herman, o Cônsul Geral da Bélgica para São Paulo e região Sul, Sr. Matthieu Branders, o Cônsul Sr. Thomas Maes e o Sr. Jeroen Servaes, Cônsul Honorário em Florianópolis (SC). Foi patrocinada por empresas belgas sediadas no Brasil, Bekaert Deslee, Impextraco e Parafix, por meio de projeto aprovado pela Lei Rouanet.

A exposição será doada à Associação Ilha Belga de Ilhota para que continue o trabalho de divulgação, podendo ser montada integral ou parcialmente em outras cidades da região do vale Europeu, no Estado de Santa Catarina e em outros estados brasileiros. 

Para quem não passar por Ilhota até novembro, a exposição poderá ser visitada digitalmente, por meio de textos, áudios e vídeos: Exposição "Colônia Belga e seus Descendentes no Vale do Itajaí". Acompanhe os nossos boletins para saber mais sobre a atividade de abertura  dia 10 de junho e os desdobramentos das atividades educativas!

 

Ótimo presente! 

Presenteie você mesmo ou os seus entes queridos com o livro Sabores Belgas no Brasil. São 128 páginas de diversão e apetite, onde você aprenderá tudo sobre o chocolate belga, as waffles e batatas fritas, bem como quantas diferentes cervejas a Bélgica produz. O livro contém entrevistas com 10 chefs belgas que mexem as suas panelas no Brasil e um capítulo sobre as saudades dos belgas que vivem no Brasil. Um presente ricamente ilustrado para abrir apetites e conhecimentos, por apenas R$ 70,00, com frete incluído no Brasil.

Faça já o seu pedido em http://www.belgianclub.com.br/pt-br/content/comprar-livros para ter certeza de que o livro chegará antes do Natal!!

Apoie o mapeamento histórico e cultural da atuação das empresas belgas no Brasil

Empresas belgas deixaram e ainda deixam traços materiais de suas atividades e criatividade no Brasil. Referimos-nos, entre outros, à pontes, estradas de ferro, estações e material rodante ferroviário, ladrilhos e azulejos, vitrais e esculturas.

Um inventário dessa herança histórica está sendo criado e pode ser visto no site http://www.belgianclub.com.br. Novas descobertas estão constantemente sendo incluídas no site.
Esta iniciativa tem sido apoiada por trabalho voluntário como por exemplo traduções, edições de textos e fotografias, e patrocinadores. Gostaríamos muito de contarmos, em breve, com o nome e logotipo da sua empresa no site. Mais e detalhadas explicações sobre nossa política de patrocínio podem ser encontradas na página http://www.belgianclub.com.br/pt-br/patrocinador.

segunda-feira, 25 de abril de 2022

Debate sobre livros em Petrópolis, 30/04, "Matrioska de Chita"(poemas), de Cassiana Cardoso, e Os Magadaes, de Luiz de Miranda (novela) - resenha PRA


Neste sábado, 30/04, às 19h30, um encontro literário em Petrópolis com dois autores de romances originais. Não conheço os haicais e outros poemas da Cassiana Lima Cardoso, mas tenho vontade de ler seu livro.

Conheço, e muito bem, Luiz Miranda, meu colega dos tempos da Bélgica, durante a ditadura militar, e o romance que ele fez é ambientado justamente na Bélgica, onde vivemos e convivemos naqueles anos 1970, de terrorismo, repressão e crises econômicas.

Fiz uma resenha de seu livro, que reproduzo abaixo.

3809. “O Balzac da ferrugem na terra dos belgicanos”, Brasília, 3 dezembro 2020, 5 p. Resenha do livro de Luiz de Miranda: Os Magadaes (Rio de Janeiro: Letra Capital, 2020, 120 p.; ISBN: 978-65-87594-19-4). Publicado no Estado da ArteO Estado de S. Paulo (19/12/2020; link: https://estadodaarte.estadao.com.br/magadaes-pra-ea/). Relação de Publicados n. 1478. 


O Balzac da ferrugem na terra dos belgicanos

  

Paulo Roberto de Almeida 

 


  Luiz de Miranda:

Os Magadaes 

(Rio de Janeiro: Letra Capital, 2020, 120 p.; ISBN: 978-65-87594-19-4; formato epub, 1 MB; ISBN: 978-65-990166-3-9)

 

Títulos podem ser crípticos, tanto o do livro quanto o desta resenha. Magadaes são personagens de um conto de Oscar Wilde, “A protected country”, que nascem velhos e se tornam jovens paulatinamente, morrendo quando se tornam crianças, como naquele filme americano Benjamin Button, mas este derivado de um conto de Scott Fitzgerald. Volto ao romance em seguida, assim que terminar de desvendar o título da resenha. O Balzac da ferrugem é o próprio autor do romance, Luiz de Miranda, com quem partilhamos anos felizes na Bélgica, em meados dos anos 1970, enquanto eu dava continuidade a meus estudos de ciências sociais na Universidade de Bruxelas, e ele, já formado, fazia uma tese de doutorado sobre a corrosão, daí a ferrugem, a inimiga mortal das estruturas metálicas e de seus guardiães. “Belgicanos” era como um técnico do Corinthians, Vicente Matheus, chamava os terríveis futebolistas da pequena Bélgica, gigantes selvagens no gramado, como deveriam ser as tribos daqueles dos quais eles descendiam em tempos pré-medievais.

Pois eu e Luiz de Miranda fomos contemporâneos na ULB, ele já com família – a doce e linda Leila, a quem é dedicado o livro, junto com Conrad Detrez, in memoriam, jornalista francófono –, eu leve, livre e solto, andando pela Europa em apoio às campanhas do Front Brésilien d’Information, naqueles anos de chumbo da ditadura militar no Brasil. Como eu era um pobre estudante sem dinheiro, almocei ou jantei várias vezes no apartamento de Luiz e Leila, pois ele tinha uma boa bolsa de doutoramento, e eu tinha de dar um duro lavando pratos, cortando grama ou posando na Académie des Beaux Arts para enfrentar as despesas do dia a dia. Como quase todos os universitários dessa época, em exílio da ditadura ou não, éramos contra o regime, e passávamos boa parte do tempo livre buscando informações sobre o Brasil, curtindo as músicas de Chico Buarque, e formulando hipóteses sobre o final da ditadura militar. 

Como refletido em diversas passagens do romance, eram os tempos da guerra do Vietnã, de tribunal Bertrand Russell sobre os crimes de guerra das tropas americanas, de protestos contra as ditaduras militares latino-americanas, primeiro a do Brasil, depois a do general Pinochet, no Chile e, logo em seguida, a dos militares argentinos, que foram os mais “eficientes” na eliminação dos adversários. Conrad Detrez tinha apoiado os movimentos de esquerda no Brasil e no Chile, e também nos ajudava na transposição para o francês dos textos contra as ditaduras no continente. Mas o que nos atraía, fora dos estudos, eram os passeios pela Bélgica, um pequeno país, que daria para atravessar de carro em pouco tempo, mas que também poderia ser conhecido de bicicleta, como aliás eu fiz, no “plat pays” com certa facilidade, mas com maior esforço nas montanhas das Ardenas, as densas florestas do sudeste da Bélgica que tinham assistido a uma das últimas grandes batalhas da frente ocidental na Segunda Guerra Mundial, quando a Wehrmacht tentou obstar o avanço das tropas americanas em território alemão.

Pois é justamente nas Ardenas belgas que é ambientada a maior parte desta obra de Luiz de Miranda, depois que dois curtos contos dão início ao pequeno livro de 120 páginas, cuja capa tem a reprodução de um curioso quadro do Baron Léon Fredéric, Le Ruisseau (1890), com original no Museu Real de Belas Artes de Bruxelas, que retrata centenas de Magadaes, infantis, nus, banhando-se nas águas frescas de um riacho. O primeiro conto, Genealogia, começa com a viagem da frota de Martim Afonso de Souza que, em 1530, resolve deixar um armeiro, Pero Gonçalves, nas praias da Bahia, a partir de quem começa uma família inacreditável dos mais diferentes personagem que povoaram, anonimamente, ou com certo destaque, as terras e a história do Brasil, passando pela colônia, independência, guerra do Paraguai, coluna Prestes, revolução de 1930 e outros episódios, até a morte do último descendente, 460 anos depois, um traficante do morro do Borel, morto nas mãos da polícia em 1991. O segundo conto, ainda mais curto, Dia da Preguiça, duas páginas e meia de considerações filosófico-religiosas, do tempo relativo de Einstein à reencarnação em pessoas de destaque na sociedade (nenhum mendigo), até terminar com um disco voador pousando displicentemente à beira da estrada. 

A história dos Magadaes, mesmo, começa com um “prefácio à guisa de explicação” no qual o autor tenta nos engabelar dizendo que a história parece fantástica, mas que “é, por incrível que pareça, verdadeira” (p. 19). Ele apela, todavia, para a complacência dos leitores, argumentando que o “artista” é “um eterno fingidor e incompetente contador de casos, porém entusiasta e relativamente honesto” (idem). A história que ele vai contar lhe foi relatada como sendo verdadeira pelo Dr. Dumont, antigo diretor do Asilo dos Lilases, situado em canto recuado das Ardenas belgas, e que abrigou durante várias estações, num tempo situado na primeira metade dos anos 1970, todos os velhinhos protagonistas desta história fantástica, que tenta provar a veracidade da fantástica lenda dos Magadaes (que no entanto nunca aparecem, sendo bem mais apenas uma alegoria). O último capítulo, “Bruxelas, 2016”, dois anos depois da morte do mesmo Dr. Dumont, já coloca o autor num mundo diferente daquele que ele havia frequentado em sua juventude de doutorando: a União Soviética desmoronou, a China da revolução cultural, capitalizou-se, o Vietnã vive em paz com os Estados Unidos e os países da Leste Europeu se incorporaram à União Europeia, que ele descreve como “capitalista, neoliberal, arrogante, direitista, rachada em países de extrema direita, racistas, ao ponto de negar um prato de comida aos refugiados sírios que marcharam mais de duzentos quilômetros, a pé, com seus velhos e coxos” (p. 117). Ao visitar novamente o Asilo dos Lilases constata que ele já tinha desaparecido, substituído por uma plantação de beterrabas. 

Vamos agora ao que interessa, o núcleo dessa história diferente, mas eu não vou desvendar toda a trama, para não impedir ninguém de deliciar-se em sua própria leitura, de um romance que combina bastante Balzac, com seu realismo descritivo, um pouco de Erico Veríssimo, um de nossos melhores escritores psicológicos, e talvez, quem sabe?, Cortazar, com certa tendência a descrever o fantástico com ares de normalidade. Tem tudo isso, numa escrita primorosa de bem cuidada, com palavras e expressões que revelam uma intimidade enorme com a boa literatura, e uma meticulosidade na expressão que deve ser derivada da postura profissional do autor, um “caçador de corrosões”, aqui na alma dos personagens. 

Desde o primeiro capítulo, estamos numa descrição minuciosa da encantadora mansão do Asilo, situado no vale do rio Semois, cuja linguagem é Balzac puro, com toda a graça que uma descrição retirada do Père Goriot, ou de várias outras novelas da Comédie Humaine, pode ser capaz de servir de fotografia em palavras para nos transmitir o charme vetusto daquela nobre construção do final do século XVIII. Vale transcrever o cenário dessa história, começando pela própria história do imóvel que veio a ser o Asilo: 

Antes de se tornar o que é hoje, a mansão conheceu em seus dias juvenis momentos bem mais felizes. Com efeito, Le Site aux-lilás era conhecido até em França, quando propriedade da família Poussin-de-Tassigny. De linhagem nobre, essa família organizava caçadas para as quais nobres franceses não hesitavam em aceitar o convite do marquês e, principalmente, da belíssima marquesa. Era um casal distinto e elegante, e o senhor marquês era tão exímio na caça ao javali quanto a marquesa o era na caça aos prazeres. 

Como todas as mansões nobres daquela época, o asilo ainda contém um pátio central retangular e perimetrado por colunas que sustentam graciosos arcos trabalhados. No centro do pátio, há uma estátua de Diana, a caçadora, sobre uma fonte de bronze, onde se lê com alguma dificuldade a data de 1782. A mansão possui cerca de dezoito dormitórios, três salões, duas cozinhas e as demais dependências usuais como banheiro, quartos para a criadagem, estábulo e até mesmo um pequena estufa onde Joseph, o jardineiro, apesar da idade, conhece as plantas por nomes por ele batizadas.

Site aux-Lilas foi comprado por uma quantia irrisória ao último descendente da família Poussin-de-Tassigny, o barão Emile Charles Louis Poussin-de-Tassigny, pela Sociedade de Montepios Esperança de Nova Vida. (pp. 21-22)

 

Junto com a descrição das peças habitadas por cada um dos residentes no asilo, o autor vai falando de cada um deles, com suas peculiaridades, e com uma decoração ou móveis eventualmente combinando com seus habitantes, como a grande biblioteca do Dr. Dumont, o médico que ficava tomando notas do comportamento de cada um de seus co-moradores. Havia o velho Homero, um revolucionário do entre guerras, cujo anti-imperialismo visceral se manifestava num projeto pouco secreto de aprender a língua dos vietnamitas para lutar contra os americanos nos campos de batalha do Vietnã. Havia a velha Nicole, que vai justamente ficar jovem ao final da história, e mais o “alquimista” Theo, cujo projeto mais relevante era o de produzir rosas azuis, e ainda o velho Jules, que tinha feito fortuna com diamantes extraídos da colônia do Congo Belga, na região do Alto Katanga (que nunca se entendeu com Homero, por razões obviamente ideológicas). Mais adiante na história, que não ouso revelar em sua integridade para não roubar essa satisfação aos leitores, se fala do velho Nestor, “antigo sacristão, até então completamente casto”, que será desviado de sua longeva virgindade pela devassa Nicole, cujos detalhes cabe pudicamente resguardar. Havia ainda, no asilo, outros velhinhos, “em adiantado estado de senilidade”, no número máximo de vinte pessoas, tal como limitado pela Sociedade Esperança de Nova Vida, mas que não participam do enredo e dos principais episódios relatados no cativante texto de Luiz de Miranda. 

O lado balzaquiano da história está presente em todas as descrições dos principais “atores” da história, dos insetos e animais da natureza ao redor do asilo, dos personagens que eventual entram e saem do relato. O lado “Erico Veríssimo” da escrita passa, em parte, pelo perfil psicológico dos personagens, suas motivações pessoais, a maneira pela qual cada um deles participa do enredo, pelas surpresas que se acumulam de um capítulo a outro, dezenove no total, ademais do último, que sai dos anos 1970 e termina em Bruxelas, em 2016. Mas, antes do capítulo XIX, que é o desfecho da toda a história dos residentes do asilo, figura em menos de duas páginas, um capítulo, não numerado, que remete a “Bruxelas 2012”, que é quando o autor volta à Bélgica e tem um último encontro com o Dr. Dumont, sua fonte principal para quase todos os episódios, já com 92 anos, numa casa alugada em Arlon. Sem revelar o desenlace da estranha história, que pende para o lado do escritor Julio Cortazar, e suas liberdades mágicas de novelista, vale transcrever algumas passagens sobre o depoimento do principal “arquivo vivo” sobre o outrora florido asilo dos lilases, deixando Luiz de Miranda de relatar o que teria sido o destino ulterior dos poucos sobreviventes rejuvenescidos por uma dessas diabruras de romancista: 

Estava [o Dr. Dumont] em péssimo estado físico, magro, calvo, com enorme dificuldade de ouvir e praticamente cego. Mas sua memória parecia estar absolutamente em forma. (...) E não foi, sem uma profunda emoção, que encontrei o Dr. Dumont sentado numa cadeira de rodas, portando óculos escuros. E o que ele me relatou foi deveras impressionante. (...) 

O Dr. Dumont pediu-me que me aproximasse mais de seus olhos para fitar-me com atenção. Creio que viu algo de bom, pois logo em seguida serviu-se de uma chávena de chá e ordenou que eu me sentasse à sua frente, com a condição de não tomar nota de nada. Apenas o escutasse. Fiz o que me pediu, à exceção do gravador de meu celular que registrou toda a conversa. Mesmo com a consciência um pouco pesada, não poderia fiar apenas na minha memória. (pp. 111-12)

 

E o que o Dr. Dumont relatou, durante todas as estações vibrantes do asilo nos distantes anos 1970, até seu incêndio trágico no desenlace da história? Isso está no capítulo XIX, que deixo aos leitores descobrir, depois da breve informação sobre os escombros do asilo e sobre o que adveio aos seus residentes sobreviventes, levados a uma espécie de Jardim das Maravilhas, ocupado por muitos Magadaes. Quanto ao Dr. Dumont, morreu “em profunda solidão, em novembro de 2014, dois anos após nosso derradeiro encontro” (p. 117).

A essa altura, o Asilo dos Lilases já tinha sido convertido em campo de beterrabas. Mas Luiz de Miranda sabe terminar sua história com todos os ingredientes balzaquianos e dos demais autores que imagina lhe tenham sido fontes de inspiração na confecção dessa bela e estranha história dos Magadaes. Eu o sigo, mas seletivamente: 

Estava prestes a chegar ao Asilo dos Lilases. Mas o que lá encontrei foi um campo de beterrabas, alinhado para a próxima colheita. (...)

Uma certa nostalgia invadiu minha alma, ainda mais do que podia imaginar... (...) [L]evantei-me e fui caminhando entre as paqueretes azuis e florzinhas brancas que foram ganhando rostos e dançando. Meu cérebro só percebia cores fantasmagóricas avermelhadas, raios azuis e sons inaudíveis. (...) Eu suava frio, coração em disparada e subitamente uma estranha calmaria jamais sentida invadiu meu ser e me deu uma paz interior jamais sentida. Entrei no carro e retornei a Bruxelas. (pp.. 118-19)

 

Deixo a história completa para ser saboreada pelos leitores curiosos, como foi por mim saboreada, levando-me novamente aos melhores anos de minha vida estudiosa, nos distantes anos 1970 em minha segunda pátria, o país de todos os meus diplomas superiores, a Bélgica de Bruxelas, do “plat pays” e das Ardenas. Vale ler Luiz de Miranda.

 

PS.: Na edição eletrônica deste livro, pode-se ouvir os dois trechos musicais inseridos no capítulo XIX – segunda parte da suíte de Ravel, “Daphnis et Chloé” – e no capítulo final, “Bruxelas 2016”, a suíte de Rimsky Korsakov, “A lenda da cidade invisível de Kitezh”. 

 

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 3809, 3 de dezembro de 2020

 

quinta-feira, 24 de setembro de 2020

Documento sobre a pandemia do Covid-19 por médicos e profissionais da saúde da Bélgica

 A carta a seguir, até o momento, foi assinada por 394 médicos belgas, 1.340 profissionais de saúde com treinamento médico e milhares de cidadãos. Como o texto é muito longo e conta com mais de 50 links, tentei abreviá-lo tanto quanto possível, mas a leitura integral é fortemente recomendada. 

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"Nós, médicos e profissionais de saúde belgas, desejamos expressar nossa séria preocupação com a evolução da situação nos últimos meses, em torno do surto do vírus SARS-CoV-2. Apelamos aos políticos para que sejam informados de forma independente e crítica no processo de tomada de decisão e na implementação obrigatória de medidas em relação ao coronavírus. Pedimos um debate aberto, onde todos os especialistas sejam representados, sem qualquer forma de censura. Após o pânico inicial em torno da covid-19, os fatos objetivos agora mostram um quadro completamente diferente - não há mais justificativa médica para qualquer política de emergência.

A atual gestão de crises tornou-se totalmente desproporcional e causa mais danos do que benefícios.

Apelamos ao fim de todas as medidas e pedimos uma restauração imediata da nossa governança democrática normal, estruturas jurídicas e de todas as nossas liberdades civis.

'A cura não deve ser pior que o problema' é uma tese mais relevante do que nunca na situação atual. Notamos, no entanto, que os danos colaterais que agora estão sendo causados à população terão um impacto maior a curto e longo prazo em todas as camadas da população do que o número de pessoas agora sendo protegidas da coroa.

Em nossa opinião, as atuais medidas e as penas severas pelo seu não cumprimento são contrárias aos valores formulados pelo Conselho Superior de Saúde da Bélgica, que, até recentemente, como autoridade sanitária, sempre garantiu uma medicina de qualidade no nosso país: “Ciência - Competência - Qualidade - Imparcialidade - Independência - Transparência”.

Acreditamos que a política introduziu medidas obrigatórias sem embasamento científico suficiente, direcionamento unilateral e que não há espaço na mídia para um debate aberto em que diferentes visões e opiniões sejam ouvidas. Além disso, cada município e província passou a ter autorização para acrescentar medidas próprias, fundadas ou não. (...)

O conceito de saúde

Em 1948, a OMS definiu saúde da seguinte forma: 'Saúde é um estado de completo bem-estar físico, mental e social e não apenas a ausência de doença ou outra deficiência física'.

Saúde, portanto, é um conceito amplo que vai além do físico e também se relaciona com o bem-estar emocional e social do indivíduo. A Bélgica também tem o dever, do ponto de vista dos direitos humanos fundamentais, de incluir esses direitos humanos na sua tomada de decisão quando se trata de medidas tomadas no contexto da saúde pública. (...)

A pandemia prevista com milhões de mortes

No início da pandemia, as medidas eram compreensíveis e amplamente apoiadas, mesmo que houvesse diferenças na implementação nos países ao nosso redor. A OMS previu originalmente uma pandemia que causaria 3,4% das vítimas, ou seja, milhões de mortes, e um vírus altamente contagioso para o qual nenhum tratamento ou vacina estava disponível. Isso colocaria uma pressão sem precedentes nas unidades de terapia intensiva (UTI) de nossos hospitais.

Isso levou a uma situação de alarme global nunca vista na história da humanidade: “achatar a curva” foi representado por um bloqueio que desligou toda a sociedade e economia e colocou pessoas saudáveis em quarentena. O distanciamento social tornou-se o novo normal na expectativa de uma vacina.

Os fatos sobre covid-19

Gradualmente, a campainha de alarme soou de várias fontes: os fatos objetivos mostraram uma realidade completamente diferente.

O curso do covid-19 seguiu o curso de uma onda normal de infecção semelhante a uma temporada de gripe. Como todos os anos, vemos uma mistura de vírus da gripe seguindo a curva: primeiro os rinovírus, depois os vírus da gripe A e B, seguidos pelos coronavírus. Não há nada diferente do que normalmente vemos. (...)

Confinamento

Se compararmos as ondas de infecção em países com políticas rígidas de bloqueio com países que não impuseram bloqueios (Suécia, Islândia ...), vemos curvas semelhantes. Portanto, não há ligação entre o bloqueio imposto e o curso da infecção. O bloqueio não levou a uma taxa de mortalidade mais baixa.

Se olharmos para a data de aplicação dos bloqueios impostos, vemos que os bloqueios foram definidos após o pico já ter passado e o número de casos diminuindo. A queda não foi conseqüência das medidas tomadas.

Como todos os anos, parece que as condições climáticas (clima, temperatura e umidade) e o aumento da imunidade têm maior probabilidade de reduzir a onda de infecção.

Nosso sistema imunológico

Por milhares de anos, o corpo humano foi exposto diariamente à umidade e gotículas contendo microorganismos infecciosos (vírus, bactérias e fungos).

A penetração desses microrganismos é impedida por um avançado mecanismo de defesa - o sistema imunológico. Um forte sistema imunológico depende da exposição diária normal a essas influências microbianas. Medidas excessivamente higiênicas têm um efeito prejudicial em nossa imunidade. Somente pessoas com sistema imunológico fraco ou defeituoso devem ser protegidas por meio de higiene extensiva ou distanciamento social. (...)

A maioria das pessoas, portanto, já tem uma imunidade congênita ou cruzada porque já estiveram em contato com variantes do mesmo vírus. (...)

A maioria das pessoas com teste positivo (PCR) não tem queixas. Seu sistema imunológico é forte o suficiente. O fortalecimento da imunidade natural é uma abordagem muito mais lógica. A prevenção é um pilar importante e insuficientemente destacado: nutrição saudável e completa, exercícios ao ar livre, sem máscara, redução do estresse e nutrição dos contatos emocionais e sociais.

Um vírus altamente contagioso com milhões de mortes sem nenhum tratamento?

A mortalidade acabou sendo muitas vezes menor que a esperada e próxima à de uma gripe sazonal normal (0,2%).

O número de mortes por corona registradas, portanto, ainda parece estar superestimado.

Há uma diferença entre morte por corona e morte com corona. Os seres humanos são frequentemente portadores de vários vírus e bactérias potencialmente patogênicas ao mesmo tempo. Levando em consideração o fato de que a maioria das pessoas que desenvolveram sintomas graves sofria de patologia adicional, não se pode simplesmente concluir que a infecção por corona foi a causa da morte. Isso geralmente não foi levado em consideração nas estatísticas.

Os grupos mais vulneráveis podem ser claramente identificados. A grande maioria dos pacientes falecidos tinha 80 anos ou mais. A maioria (70%) dos falecidos, com menos de 70 anos, apresentava algum distúrbio subjacente, como sofrimento cardiovascular, diabetes mellitus, doença pulmonar crônica ou obesidade. A grande maioria das pessoas infectadas (> 98%) não adoeceu ou dificilmente ficou doente ou se recuperou espontaneamente.

Enquanto isso, existe uma terapia acessível, segura e eficiente disponível para aqueles que apresentam sintomas graves da doença na forma de HCQ (hidroxicloroquina), zinco e AZT (azitromicina). Aplicada rapidamente, essa terapia leva à recuperação e freqüentemente evita a hospitalização. Quase ninguém precisa morrer agora. (...)

Máscaras

As máscaras orais pertencem a contextos onde ocorrem contatos com grupos de risco comprovado ou pessoas com problemas respiratórios superiores, e em um contexto médico / ambiente de lar de aposentados em hospitais. Eles reduzem o risco de infecção por gotículas por espirro ou tosse. As máscaras orais em indivíduos saudáveis são ineficazes contra a propagação de infecções virais.

O uso de máscara apresenta efeitos colaterais. A deficiência de oxigênio (dor de cabeça, náuseas, fadiga, perda de concentração) ocorre com bastante rapidez, um efeito semelhante ao mal-estar da altitude. Todos os dias vemos pacientes reclamando de dores de cabeça, problemas nos seios da face, problemas respiratórios e hiperventilação devido ao uso de máscaras. Além disso, o CO2 acumulado leva a uma acidificação tóxica do organismo que afeta nossa imunidade. Alguns especialistas chegam a alertar para um aumento da transmissão do vírus em caso de uso inadequado da máscara.

O uso impróprio de máscaras sem um arquivo abrangente de teste cardiopulmonar médico não é recomendado por especialistas de segurança reconhecidos para trabalhadores.

Os hospitais possuem ambiente estéril em suas salas cirúrgicas onde os funcionários usam máscaras e há regulação precisa de umidade / temperatura com fluxo de oxigênio devidamente monitorado para compensar isso, atendendo assim a rígidos padrões de segurança.

Uma segunda onda corona?

Uma segunda onda está agora em discussão na Bélgica, com um novo endurecimento das medidas como resultado. No entanto, um exame mais atento dos números da 'Sciensano' (último relatório de 3 de setembro de 2020) mostra que, embora tenha havido um aumento no número de infecções desde meados de julho, não houve aumento de internações ou óbitos naquela época. Portanto, não é uma segunda onda de corona, mas uma chamada “química de caso” devido a um número maior de testes.

O número de internações hospitalares ou óbitos apresentou um aumento mínimo de curta duração nas últimas semanas, mas ao interpretá-lo, devemos levar em consideração a onda de calor recente. Além disso, a grande maioria das vítimas ainda está na faixa populacional> 75 anos.  Isso indica que a proporção das medidas tomadas em relação à população ativa e aos jovens é desproporcional aos objetivos pretendidos.

A grande maioria das pessoas “infectadas” testadas positivamente está na faixa etária da população ativa, que não desenvolve nenhum ou apenas sintomas limitados, devido a um sistema imunológico em bom funcionamento.

Portanto, nada mudou - o pico acabou.

Vacina

Pesquisas sobre vacinação contra influenza mostram que, em 10 anos, tivemos sucesso apenas três vezes no desenvolvimento de uma vacina com uma taxa de eficiência de mais de 50%. Vacinar nossos idosos parece ser ineficaz. Acima de 75 anos de idade, a eficácia é quase inexistente.

Devido à contínua mutação natural dos vírus, como também vemos todos os anos no caso do vírus da gripe, uma vacina é no máximo uma solução temporária, o que requer novas vacinas a cada vez. Uma vacina não testada, que é implementada por procedimento de emergência e para a qual os fabricantes já obtiveram imunidade legal contra possíveis danos, levanta sérias questões. Não desejamos usar nossos pacientes como cobaias.

Em escala global, são esperados 700 mil casos de danos ou morte em decorrência da vacina.

Se 95% das pessoas experimentarem Covid-19 virtualmente sem sintomas, o risco de exposição a uma vacina não testada é irresponsável.

O papel da mídia e o plano oficial de comunicação

Nos últimos meses, os jornais, rádio e TV pareceram apoiar quase sem crítica o painel de especialistas e o governo, onde é precisamente a imprensa que deve ser crítica e impedir a comunicação governamental unilateral. Isso levou a uma comunicação pública em nossa mídia de notícias que era mais uma propaganda do que uma reportagem objetiva.

Em nossa opinião, é tarefa do jornalismo trazer as notícias da forma mais objetiva e neutra possível, visando a descoberta da verdade e o controle crítico do poder, sendo também concedido aos especialistas dissidentes um fórum para se expressarem.

Essa visão é apoiada pelos códigos de ética jornalística.

A história oficial de que um bloqueio era necessário, de que essa era a única solução possível e de que todos estavam por trás desse bloqueio tornava difícil para pessoas com uma visão diferente, bem como especialistas, expressar uma opinião diferente.

Opiniões alternativas foram ignoradas ou ridicularizadas. Não vimos debates abertos na mídia, onde diferentes pontos de vista pudessem ser expressos.

Também ficamos surpresos com os muitos vídeos e artigos de diversos especialistas científicos e autoridades, que foram e ainda estão sendo retirados das redes sociais. Sentimos que isso não se coaduna com um estado constitucional livre e democrático, tanto mais que leva a uma visão de túnel. Essa política também tem um efeito paralisante e alimenta o medo e a preocupação na sociedade. Neste contexto, rejeitamos a intenção de censura aos dissidentes na União Europeia!

A maneira como a Covid-19 foi retratada por políticos e pela mídia também não ajudou em nada a situação. Os termos de guerra eram populares e não faltava linguagem bélica. Freqüentemente, há menção de uma 'guerra' com um 'inimigo invisível' que deve ser 'derrotado'. O uso na mídia de frases como 'heróis do cuidado na linha de frente' e 'vítimas corona' alimentou ainda mais o medo, assim como a ideia de que estamos lidando globalmente com um 'vírus assassino'.

O incessante bombardeio de cifras, que se desatou sobre a população dia após dia, hora após hora, sem interpretar esses cifras, sem compará-los com as mortes por gripe em outros anos, sem compará-las com mortes por outras causas, induziu uma verdadeira psicose de medo na população. Isso não é informação, é manipulação.

Deploramos o papel da OMS nisso, que pediu que o 'infodêmico' (isto é, todas as opiniões divergentes do discurso oficial, inclusive de especialistas com diferentes pontos de vista) fosse silenciado por uma censura da mídia sem precedentes.

Apelamos urgentemente à mídia para assumir suas responsabilidades aqui!

Exigimos um debate aberto em que todos os especialistas sejam ouvidos.(...)

Danos imensos causados pelas políticas atuais

Uma discussão aberta sobre as medidas corona significa que, além dos anos de vida ganhos pelos pacientes corona, devemos levar em consideração outros fatores que afetam a saúde de toda a população. Isso inclui danos no domínio psicossocial (aumento da depressão, ansiedade, suicídios, violência intra-familiar e abuso infantil) 16 e danos econômicos.

Se levarmos em conta esse dano colateral, a política atual está fora de proporção, o proverbial uso de uma marreta para quebrar uma noz.

Achamos chocante que o governo esteja invocando a saúde como uma razão para a lei de emergência.

Enquanto médicos e profissionais de saúde, perante um vírus que, em termos de nocividade, mortalidade e transmissibilidade, se aproxima da gripe sazonal, só podemos rejeitar estas medidas extremamente desproporcionais.

Distribuição desta carta

Gostaríamos de fazer um apelo público às nossas associações profissionais e colegas cuidadores para que deem a sua opinião sobre as medidas em vigor.

Chamamos a atenção e pedimos uma discussão aberta em que os cuidadores possam e ousem falar.

Com esta carta aberta ... convidamos os políticos a se informarem de forma independente e crítica sobre as evidências disponíveis - incluindo as de especialistas com diferentes pontos de vista, desde que com base em ciência sólida - ao implantar uma política com o objetivo de promover a saúde ideal. Link da carta integral:

 https://docs4opendebate.be/en/open-letter/?fbclid=IwAR0nbJk5Mf39ibdw_2Kf38PEfAc98ojKwcv1yPZpz4Lrk7225xJTLExpVLo

quarta-feira, 16 de setembro de 2020

Centenário da visita do rei dos belgas Albert I ao Brasil: 1920 - Vídeos da série

Centenário da visita do rei da Bélgica, Albert I, ao Brasil em 1920

https://www.facebook.com/embaixadadabelgica/live/


Uma série de palestras virtuais sob os auspícios da Embaixada do Reino da Bélgica no Brasil
SES 809 – Lote 32 – Av. Das Nações - 70422-900 Brasilia (DF)
T +55/61/3443 1133 • M +55/61/992047470
http://www.brazil.diplomatie.belgium.be/ - https://twitter.com/BelgiumMFA

O ano de 2020 marca o centenário da visita do rei da Bélgica, Albert I ao Brasil, um marco na história da relações diplomáticas entre os dois países. Por este motivo, a Embaixada da Bélgica no Brasil está realizando uma série de eventos culturais e artísticos a esse propósito. Uma parte desses eventos, para se adequar aos tempos de pandemia da COVID-19, consistiu numa série de palestras virtuais. Distinguido por um gentil convite do embaixador Patrick Hermann, tive a honra de não apenas abrir a série, como apresentada a seguir, como também de preparar um texto para essa ocasião, sobre o qual informarei mais abaixo.

1) 1/5 Série: Visita Real Belga em 1920 - Prof. Dr. Paulo Roberto de Almeida
1,1 mil visualizações Há 7 semanas

2) 2/5 Série: Visita Real Belga em 1920 - Profa. Dra. Janete Fonseca

3) 3/5 Série: Visita Real Belga em 1920 - Profa. Dra. Luciana Fagundes
376 visualizações Há 4 semanas

4)  4/5 Série: Visita Real Belga em 1920 - Profa. Dra. Maria Izabel Ribeiro

5) 5/5 Série: Visita Real Belga em 1920 - Sr. Giannetti e Sr. Storms

Aqui, o trabalho especialmente preparado para esta ocasião, que será disponibilizado pela embaixada da Bélgica numa publicação oficial, mas que já coloco à disposição dos interessados: 

“Da conferência da paz da Haia (1907) às negociações de paz de Paris (1919): Quando o Brasil emergiu para a diplomacia mundial?”, Brasília, 23 julho 2020, 19 p. Ensaio de caráter histórico sobre a construção da postura multilateralista do Brasil no início do século XX. Texto de apoio para palestra em 28 de julho, no quadro do programa comemorativo do centenário da visita do rei Albert ao Brasil (1920), organizado pela embaixada da Bélgica. Divulgado via plataformas Academia.edu (link: https://www.academia.edu/43705254/Da_conferencia_da_paz_da_Haia_1907_as_negocia%C3%A7%C3%B5es_de_paz_de_Paris_1919_Quando_o_Brasil_emergiu_para_a_diplomacia_mundial_2020_) e Research Gate (link: https://www.researchgate.net/publication/343193547_Da_conferencia_da_paz_da_Haia_1907_as_negociacoes_de_paz_de_Paris_1919_Quando_o_Brasil_emergiu_para_a_diplomacia_mundial). Anunciado no blog Diplomatizzando (24/07/2020; link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2020/07/da-conferencia-da-paz-da-haia-1907-as.html). Palestra efetuada em 28/07/2020, transmitida pelo canal da página da Embaixada da Bélgica no Facebook (link: https://www.facebook.com/embaixadadabelgica/videos/388459948792647).

Apresento a seguir algumas imagens desse evento, que produziu uma profusão de  fotos, matérias em revistas e jornais da época, altamente significativas das inúmeras conexões históricas e das relações bilaterais entre o Brasil e a Bélgica.


 












Finalmente, informo que meu amigo e colega acadêmico Marcilio Toscano Franca Filho, professor na Universidade Federal da Paraíba, publicou um artigo sobre essa visita, em colaboração com Georges Martyn: "Quando o Rei Soldado encontrou o Soldado da Lei: O Estado de Direito e os 100 anos da visita dos reis belgas ao Brasil", que eu reproduzi em meu blog e cuja leitura recomendo:

Cem anos da visita do rei Albert, da Bélgica, ao Brasil - Georges Martyn e Marcilio Franca 

Parabéns à embaixada da Bélgica, meus agradecimentos ao embaixador Patrick Hermann pelo convite, e meus votos de sucesso nos futuros grandes eventos comemorativos das relações do Brasil com o Reino da Bélgica.

Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 16 de setembro de 2020

sexta-feira, 24 de julho de 2020

Da conferência da paz da Haia (1907) às negociações de paz de Paris (1919) - Paulo Roberto de Almeida

Meu trabalho mais recente, ainda não publicado: 

3722. “Da conferência da paz da Haia (1907) às negociações de paz de Paris (1919): Quando o Brasil emergiu para a diplomacia mundial?”, Brasília, 23 julho 2020, 19 p. Ensaio de caráter histórico sobre a construção da postura multilateralista do Brasil no início do século XX. Texto de apoio para palestra em 28 de julho, no quadro do programa comemorativo do centenário da visita do rei Albert ao Brasil (1920), organizado pela embaixada da Bélgica. Divulgado via plataformas Academia.edu (link: https://www.academia.edu/43705254/Da_conferencia_da_paz_da_Haia_1907_as_negocia%C3%A7%C3%B5es_de_paz_de_Paris_1919_Quando_o_Brasil_emergiu_para_a_diplomacia_mundial_2020_) e Research Gate (link: https://www.researchgate.net/publication/343193547_Da_conferencia_da_paz_da_Haia_1907_as_negociacoes_de_paz_de_Paris_1919_Quando_o_Brasil_emergiu_para_a_diplomacia_mundial).

Da conferência da paz da Haia (1907) às negociações de paz de Paris (1919): Quando o Brasil emergiu para a diplomacia mundial?

Paulo Roberto de Almeida
 [Objetivo: texto de apoio a palestra; finalidade: Evento Embaixada Bélgica]
Palestra Terça-feira 28 de julho, 17h00 – 17h40 (BRT), no quadro do programa comemorativo do centenário da visita do rei Albert ao Brasil (1920), organizado pela embaixada da Bélgica.

Sumário: 
1. Os conceitos de diplomacia mundial, internacional, global ou multilateral
2. Como o Brasil emerge para a diplomacia mundial, ou multilateral
3. A passagem do Brasil da política regional para a política internacional
4. O Brasil na conferência da paz da Haia (1907)
5. Rui Barbosa defende a neutralidade da Bélgica na Grande Guerra (1916)
6. O Brasil nas negociações de paz de Paris (1919)
7. Encontros entre o presidente Epitácio Pessoa e o Rei Albert

1. Os conceitos de diplomacia mundial, internacional, global ou multilateral
Existem vários sentidos, já consolidados, ao conceito de diplomacia mundial, que pelo seu adjetivo seria algo equivalente a internacional, ou global, embora esse termo seja mais recente. Mas o conceito pode também querer dizer diplomacia multilateral, ou seja, a de organismos internacionais, que podem ser intergovernamentais, de tipo setorial, mas podem também ser de âmbito universal, continental ou regional, ou no sentido plurilateral.
No primeiro sentido, isto é, mundial, significaria uma diplomacia nacional capaz de cobrir todo ou a maior parte do planeta, ou um conjunto significativo de atores relevantes, países, Estados, economias relevantes do ponto de vista das relações internacionais, da dinâmica dos intercâmbios globais, ou tocando aos temas mais sensíveis da comunidade internacional, ou mundial, que tem a ver com a paz (ou a guerra), a segurança, as relações de comércio, de investimentos, de transações financeiras, de movimentos de pessoas, tanto quanto de bens intangíveis (cultura, arte, conhecimento, cooperação), e suas respectivas instituições de suporte. 
Num contexto mais tradicional desse primeiro conceito ele tem a ver com a ação das grandes potências, os chamados poderes hegemônicos, as antigas nações coloniais ou imperiais, ou seja, os grandes atores, definidos pela sua capacidade de projetar poder externamente com base em seus recursos intrínsecos. São atores capazes de imprimir sua vontade num contexto transfronteiras, ou seja, deslanchar guerras de conquista, eventualmente de defesa, incorporar territórios sem jurisdição própria, se constituir um império colonial, ou participar ativamente de ações em âmbito global ou regional, geralmente de cooperação, que também podem ser de caráter unilateral – ou seja, tomadas por sua própria iniciativa – ou em acordo com outros países envolvidos nesse tipo de ação. 
No segundo sentido, multilateral, a diplomacia de um Estado se faz no quadro de acordos estabelecidos, geralmente ao abrigo de alguma instituição dotada de um mandato específico, que pode ser setorial ou “global” (como a ONU), ou estruturais informais de cooperação em torno de um objetivo preciso ou mutuamente acordado. Esta é a forma contemporânea por excelência, que emergiu progressivamente desde o final do século XIX, nas organizações de cooperação técnica, evoluindo progressivamente para o terreno da cooperação política, como por exemplo as duas conferências da paz da Haia (1899 e 1907), com destaque para as negociações de paz de Paris, ao final da Grande Guerra, em 1919, das quais resultaram a criação da Liga das Nações e a formalização do Escritório Internacional do Trabalho. A forma especificamente contemporânea da diplomacia mundial, ou internacional, ou ainda global, se identifica, evidentemente, com a Organização das Nações Unidas, criada na conferência de San Francisco de 1945, e suas agências especializadas, que foram sendo criadas antes ou imediatamente depois da entidade global. 
A conjuntura histórica examinada no presente ensaio sintético refere-se ao início do regime republicano no Brasil, na última década do século XIX, e às duas primeiras décadas do século XX, quando têm lugar os eventos ou processos aqui enfocados: a emergência da nova diplomacia republicana, as conferências da paz da Haia (sendo que o Brasil participou unicamente da segunda, em 1907), a Grande Guerra e as negociações de paz de Paris, em 1919, com referência especial para as relações do Brasil com o Reino da Bélgica, em vista da solidariedade demonstrada por ilustres brasileiros – com destaque para Rui Barbosa – por ocasião da invasão do país pelas forças militares do Império Alemão e para as relações pessoais entre o presidente Epitácio Pessoa e o rei Albert, que visitou o Brasil em 1920. A melhor síntese sobre a posição internacional do Brasil nesse período foi oferecida na obra do embaixador Rubens Ricupero, na seção “As novas tendências da política exterior”, parte VI, “A Política Externa da Primeira República (1889-1930), como segue: 
A evolução do panorama externo agiu nessa fase sobre a diplomacia brasileira por meio de três fatores estruturantes, capazes de fazer surgir tendências profundas e sistêmicas, destinadas a durar muito além de 1930 como características diferenciadoras da orientação da política exterior do Brasil.
primeiro consistiu na emergência e afirmação do poder político e da irradiação econômica dos Estados Unidos. O segundo fez-se sentir pela intensificação de um relacionamento mais intenso e cooperativo entre países da América Latina, seja sob a modalidade do pan-americanismo patrocinado por Washington, seja por iniciativas latino-americanas autônomas. Finalmente, o terceiro residiu no aprendizado de novo tipo de ação diplomática nas instâncias do incipiente multilateralismo da Liga das Nações, estágio inicial de uma forte tradição da diplomacia multilateral que se desenvolveria nas fases seguintes. 
Em termos sintéticos, as três transformações estruturais da política exterior na Primeira República resumem-se: 1ª) no estreitamente da relação ou “aliança não escrita” com os Estados Unidos; 2ª) na sistemática solução das questões fronteiriças e na ênfase em maior cooperação com os latino-americanos; e 3ª)  nos primeiros lances da diplomacia multilateral, na versão regional, pan-americana, ou global, da Liga das Nações. (Ricupero, 2017: 258). 

2. Como o Brasil emerge para a diplomacia mundial, ou multilateral?
         (...)

Texto na íntegra nos links: