“O povo que perde a noção de seu passado, isto é, da sua história, das suas crenças, dos seus ideais, perde a sua alma e está fadado à decadência e ao desaparecimento” - Migrante belga Gustavo Lebon, 1845 Após muitos anos de pesquisas documentais e iconográficas no Brasil e na Bélgica, intercâmbios com historiadoras catarinenses e belgas e muita mobilização das famílias descendentes no Vale do Itajaí, será aberta a exposição "A Colônia Belga e seus Descendentes no Vale do Itajaí" que ficará em cartaz de 13 de junho até 27 de novembro de 2022, de segunda-feira até sexta-feira das 8h às 12h e das 13h às 17h, no Casarão Belga, Rua Ricardo Paulino Maes 257 em Ilhota, com entrada grátis.
Como sabemos, embora o Brasil seja um país de imigrantes, a imigração belga é pouco conhecida. Mas fruto de um trabalho conjunto, hoje sabemos que em 24 de agosto de 1844, 114 pessoas (agricultoras, trabalhadores jornaleiros, donas de casa, artesãos e alguns sem profissão), a maioria de origem da região flamenga, partiram rumo a Santa Catarina no barco belga “Jean van Eyck” que partiu do porto de Oostende e chegou ao Rio de Janeiro depois de 67 dias. A razão dessa migração é que nessa época a Bélgica era um país recentemente independente, em plena transformação de uma economia agrícola para a mecanizada. Com as consequências sociais da revolução industrial, sofria com a pobreza, com uma zona rural superpovoada e alta migração para as cidades em busca de trabalho, onde a única opção era viver em cortiços. De um terço à metade da população das províncias Flandres Ocidental e Oriental, na década de 1840, foi obrigada a mendigar ou pedir ajuda do governo para sua sobrevivência. Somou-se a isso, as epidemias de tifo em 1847-1848 e a de cólera, em 1848-1849 que causaram muitas mortes. Devido a essa situação, muitas pessoas optaram por migrar para vários países na busca por trabalho e melhores condições de vida. Estima-se que, entre 1847 e 1914, 5.000 pessoas se mudaram para o Brasil e 23.000 para a Argentina. O personagem central da colonização belga em Santa Catarina foi o belga Charles Maximilien Louis Van Lede nascido em Bruges em 1801 e falecido na mesma cidade em 1875. No fim de 1841, a serviço da Sociedade Comercial de Bruges e proprietário da Companhia Belgo-Brasileira de Colonização, ele veio para o Brasil com a ideia de um grande projeto colonizador e para avaliar o solo e as florestas catarinenses para a exploração de ferro, carvão e outros minérios. Desta maneira, em novembro de 1844 foi iniciada uma das primeiras colônias belgas no Brasil e no Vale do Itajaí, em Ilhota. As famílias plantavam batata e uma dúvida até hoje é se elas teriam trazido as mudas da Bélgica Plantavam também mandioca, cana de açúcar, arroz e milho, alimentos até então desconhecidos na época no seu país. Essas famílias sofreram com a árdua travessia no Atlântico - e há quem diga que até ataque de piratas – com a mata, as doenças e as inúmeras enchentes do Rio Itajaí. Mas os descendentes sobreviveram e possuem hoje muitas memórias, algumas delas compartilhadas em vídeo depoimentos que são parte da exposição. Continuam animados para recuperar as suas origens, relembrar tradições dos antepassados, construir quebra cabeças que são as árvores genealógicas, muito felizes de valorizar as suas raízes. Não existem muitos vestígios materiais dessa imigração, mas ela está presente e pode ser comprovada ao caminharmos pelas inúmeras ruas e avenidas do Vale do Itajaí que possuem sobrenomes belgas, tais como: Maes, Hostin, Maba, Castellain, Vilain, Conink, Gevaerd, Sutter, Wan-Dall... A exposição conta com a curadoria de Marc Storms, como coordenador do "Patrimônio belga no Brasil” e foi produzida com a Associação Ilha Belga. Ela conta com o efetivo apoio do Embaixador da Bélgica, Sr. Patrick Herman, o Cônsul Geral da Bélgica para São Paulo e região Sul, Sr. Matthieu Branders, o Cônsul Sr. Thomas Maes e o Sr. Jeroen Servaes, Cônsul Honorário em Florianópolis (SC). Foi patrocinada por empresas belgas sediadas no Brasil, Bekaert Deslee, Impextraco e Parafix, por meio de projeto aprovado pela Lei Rouanet. A exposição será doada à Associação Ilha Belga de Ilhota para que continue o trabalho de divulgação, podendo ser montada integral ou parcialmente em outras cidades da região do vale Europeu, no Estado de Santa Catarina e em outros estados brasileiros. Para quem não passar por Ilhota até novembro, a exposição poderá ser visitada digitalmente, por meio de textos, áudios e vídeos: Exposição "Colônia Belga e seus Descendentes no Vale do Itajaí". Acompanhe os nossos boletins para saber mais sobre a atividade de abertura dia 10 de junho e os desdobramentos das atividades educativas! |