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Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

segunda-feira, 10 de agosto de 2020

“Não existe bolsonarismo; só bolsonaristas” - João Cezar de Castro Rocha (FSP)

Bolsonarismo é a mais perversa máquina de destruição de nossa história republicana

Professor comenta os elementos que compõem a visão de mundo bélica, expressa numa retórica de ódio, do presidente

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JOÃO CEZAR DE CASTRO ROCHA
Professor de literatura comparada na Uerj (Universidade do Estado do Rio de Janeiro) e ensaísta. Lança o livro ‘Guerra Cultural e Retórica do Ódio (Crônicas de um Brasil Pós-político)’, pela editora Caminhos, até o fim de agosto
[resumo] Professor argumenta que o bolsonarismo, ao contrário do que dizem seus críticos, é um poderoso sistema de crenças resultante do encontro de três fatores: a Doutrina de Segurança Nacional, um livro secreto da ditadura e a pregação de Olavo de Carvalho. A combinação, diz, articula uma visão de mundo bélica, expressa numa retórica de ódio alimentada por teorias conspiratórias, que precisa ser decifrada para ser superada.
Se não está conseguindo falar a língua do povo, vai perder mesmo. [...] Tem uma multidão, que não está aqui, que precisa ser conquistada. Ou a gente vai cair num precipício.
Mano Brow
O dilema
A esfinge bolsonarista tem devorado boa parte da melhor intelectualidade brasileira, produzindo o curioso fenômeno do desentendimento inteligente. A última vítima dessa incompreensão elegante foi o cineasta e ensaísta João Moreira Salles.
Em seu artigo “A morte e a morte” (publicado em julho na revista piauí), ele encontrou a fórmula mágica da paz em uma equação cujos ecos tanto surpreendem quanto inquietam: “Não existe bolsonarismo, apenas bolsonaristas”.
Pronto! Tudo resolvido: corpos sem cabeça, pura agitação fisiológica, sem traços ideológicos que não sejam a cópia apressada de conteúdos mal-assimilados. Tranquiliza-nos o ensaísta: “Bolsonarismo implicaria um conjunto coerente de ideias e uma visão de mundo articulada, elementos que faltam à pregação política de Bolsonaro”.
O presidente Jair Bolsonaro de máscara no Palácio do Planalto, em Brasília, no período em que esteve infectado pelo coronavírus
O presidente Jair Bolsonaro de máscara no Palácio do Planalto, em Brasília, no período em que esteve infectado pelo coronavírus - Ueslei Marcelino - 9.jul.2020/Reuters
Portanto, na ausência de um cérebro organizador de ideias que primam pela ausência, os corpos bolsonaristas sofrerão muito em breve o colapso provocado pelo movimento incessante que os comanda, pois não dispõem de rumo claro e muito menos de orientação definida. Se for assim mesmo, “um dia a menos ou um dia a mais, sei lá, tanto faz”, o bolsonarismo que não existe terminará por desfazer no ar os muitos bolsonaristas que insistem em se mobilizar.
E se não for tão simples assim? E se o bolsonarismo, ao contrário do que gostaríamos de acreditar, não somente existir, como também tiver articulado uma visão de mundo bélica, expressa em uma linguagem específica, a retórica do ódio, e codificada em uma estrutura de pensamento coesa, composta por labirínticas teorias conspiratórias?
Esses elementos forjaram um poderoso sistema de crenças, responsável pelos míticos 30% que parecem resistir ao mais elementar princípio de realidade. Não importa se o político se esmera em oferecer um remédio mágico a uma atônita ema. Foi um sinal bem triste, mas, apesar da nova sandice cometida pelo Messias Bolsonaro, o apoio ao Jair segue inabalável.
Por quanto tempo? Provavelmente o tempo que levarmos para decifrar a esfinge e inventar uma nova linguagem que ilumine para a sociedade o obscurantismo do projeto bolsonarista.
O projeto
Sem arrumar todas as peças do tabuleiro de xadrez, sem considerar as complexidades do meio-jogo e, sobretudo, sem calcular cuidadosamente as inúmeras variantes dos finais de partida, como sequer imaginar o xeque-mate no adversário inesperadamente forte?
De igual modo, suprimir o tabuleiro não parece uma boa estratégia. Pelo menos, se pensarmos em vitória; caso contrário, “não dá, não deu, não daria de jeito nenhum”.
Vamos, pois, armar o quebra-cabeças bolsonarista? Em lugar de propor paralelos com a ascensão da direita e da extrema direita em todo o mundo, concentro meu estudo do fenômeno em traços prioritariamente brasileiros. Hora de passar da caricatura para a caracterização da lógica interna do movimento.
Em boa medida, o bolsonarismo é o resultado do encontro de três fatores, cuja inter-relação assegura a coerência e a orientação que decidimos ignorar. É bem verdade que a coerência é tão absoluta que se torna paranoica, assim como a orientação privilegia quase exclusivamente a destruição das instituições criadas pela Constituição de 1988. Porém, “cada lugar, uma lei; cada lei, uma razão”. Negar ao bolsonarismo racionalidade imobiliza nossa capacidade de reagir ao irracionalismo metódico de seus propósitos.
O primeiro elemento que define o bolsonarismo é uma insensata tradução de certo aspecto da Doutrina de Segurança Nacional (DSN) para tempos democráticos; trata-se de aberração jurídica que, por exemplo, confere inteligibilidade à vergonhosa reunião ministerial de 22 de abril.
A DSN foi desenvolvida no ambiente da Guerra Fria e sua função era proteger o espaço nacional por meio da obsessiva identificação do inimigo externo. Uma vez descoberto, seguia-se a aplicação criteriosa de seu corolário de ferro: eliminação do inimigo.
A Escola Superior de Guerra adaptou a DSN às circunstâncias da ditadura militar (1964-1985), que promulgou quatro leis de segurança nacional (em 1967, 1969, 1978 e 1983); esta última, aliás, segue vigente e infelizmente tem sido utilizada com entusiasmo nos últimos meses —não esqueçamos sua origem espúria.
Na mentalidade bolsonarista, decisivo é o decreto-lei de 29 de setembro de 1969, cujo espírito draconiano equivalia às arbitrariedades impostas pelo infame AI-5, de 13 de dezembro de 1968. Em 107 artigos, a palavra morte aparece 32 vezes e nada menos que 14 artigos prescrevem a pena de morte.
Voltarei à centralidade da DSN na mentalidade bolsonarista; de imediato, destaco sua razão de ser: identificação e eliminação do inimigo. Eis o cerne da mentalidade bolsonarista.
O segundo elemento é o texto sagrado da família Bolsonaro: trata-se do Santo Graal da extrema direita nos trópicos, que, além de tristes, tornaram-se ressentidos e revisionistas. Refiro-me ao “Orvil”, projeto secreto liderado pelo ministro do Exército de José Sarney, Leônidas Pires Gonçalves.
O livro reúne relatos de vítimas da ditadura, tal como foram registrados nos processos instruídos pela Justiça Militar brasileira. As denúncias encontram-se nos documentos oficiais das Forças Armadas. O golpe foi profundo.
Olho por olho, livro por livro: por três anos, de 1986 a 1989, oficiais vasculharam os arquivos do Centro de Informações do Exército (CIE), temido pela capacidade de infiltrar agentes nos grupos da esquerda armada e, sobretudo, pela brutalidade de seus métodos repressivos. O resultado foi um documento de 953 páginas, cuja leitura exige dedicação beneditina para sobreviver à prosa mais insípida de que se tem notícia.
Se “Brasil: Nunca Mais” elencou as arbitrariedades da ditadura, o “Orvil” enumerou os crimes atribuídos à guerrilha. O livro-vingança nunca foi levado a sério, a não ser por um punhado de oficiais de alta patente e por militantes de extrema direita.
Mesmo após o notável trabalho de Mário Magalhães e de Lucas Figueiredo, jornalistas investigativos que revelaram a existência do Orvil, o documento não chamou a atenção dos historiadores. Contudo, ele é a Bíblia da família Bolsonaro, a verdadeira fonte de sua visão de mundo bélica.
Consulte-se o subtítulo da obra para avaliar sua relevância: "Tentativas de Tomada do Poder". Muito mais que uma lista caótica dos pecados do inimigo, o documento inventou uma matriz narrativa conspiratória que constitui a essência do bolsonarismo, esclarecendo a origem da arquitetura da destruição que define o movimento.
Assim reza a lenda: desde 1922, ano de fundação do Partido Comunista do Brasil, não se passou um dia sequer sem que o movimento comunista internacional, por meio de seus representantes locais, não tenha tentado estabelecer no Brasil a ditadura do proletariado —e que rufem os tambores e soem os clarins!
As três primeiras tentativas recorreram às armas e foram derrotadas militarmente. Entretanto, nos termos do “Orvil”, a iniciativa “mais perigosa” iniciou-se em 1974, quando a esquerda realizou uma autocrítica severa e mudou de estratégia, abandonando os coturnos e abraçando os livros, a fim de conquistar corações e mentes por meio da infiltração lenta, porém segura, nas instituições do Estado e da sociedade civil. Abandona-se a ditadura do proletariado, e entra em cena o jardim da infância da contracultura.
Poderosa matriz conspiratória que não somente antecipou com exatidão os termos e os pressupostos do delírio teórico forjado por Michael Minnicino e William S. Lind, o gelatinoso “marxismo cultural”, como também identificou o inimigo permanente, “nossa bandeira jamais será vermelha”, e outros tantos clichês kitsch que remontam ao anticomunismo pau-para-toda-obra do “Orvil”.
A mentalidade bolsonarista projeta para o presente a eterna ameaça comunista, fantasia que formou a geração do capitão reformado-para-não-ser-expulso Bolsonaro e dos generais Augusto Heleno e Hamilton Mourão. Aliás, o ídolo do presidente e do vice-presidente, o coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, declarado torturador pela Justiça de São Paulo em 2008, escreveu a “apresentação” da versão impressa do “Orvil”, publicada em 2012.
Ora, para compreender a visão de mundo bélica e a estrutura de pensamento conspiratória do bolsonarismo basta associar os dois elementos. A DSN exige uma concepção agônica, que busca identificar e eliminar o inimigo. O “Orvil” oferece a cereja do bolo: o movimento comunista internacional está sempre à espreita, levando à identificação imediata e sempre certeira do adversário infatigável, o “perigo vermelho”, metamorfoseado na era digital em malévolo “globalismo”.
Contudo, como traduzir a DSN em tempos democráticos? Como eliminar adversários, travestidos de inimigos externos?
O “Orvil” explica: se a quarta tentativa de tomada do poder, iniciada em 1974 (e ainda atuante, como prometem os comentários involuntariamente surrealistas do vereador Carlos Bolsonaro), consistiu na infiltração das instituições da cultura, da educação, do entretenimento e da imprensa, então, a tarefa de governar é secundária; a missão prioritária consiste em destruir instituições “aparelhadas” e corroer por dentro as estruturas do Estado democrático.
Em apenas 20 meses, o bolsonarismo tornou-se a mais eficiente e perversa máquina de destruição de toda a história republicana, representando à democracia uma ameaça mais assustadora que os excessos da própria ditadura militar. Os bolsonaristas sabem exatamente o que estão fazendo e sem dúvida se congratulam ao escutar que o bolsonarismo não existe: é mais fácil destruir se não se reconhece sua existência. Por fim, esse ânimo forjou sua linguagem, a retórica do ódio.
Rumo à Estação Brasília
Definida a visão de mundo bélica, reforçada por uma estrutura de pensamento conspiratória, faltava ao bolsonarismo uma linguagem, a fim de propagar os princípios da arquitetura da destruição para além dos círculos militares e do número então ínfimo de militantes de extrema direita.
Chegamos ao terceiro elemento que assegura coesão ao bolsonarismo: o sistema de crenças Olavo de Carvalho. Nos anos 1990, Olavo teve uma atuação decisiva para a ascensão da direita, que perdeu a vergonha de dizer seu nome. A publicação de uma trilogia deu inédita universalidade à matriz narrativa do “Orvil”, mesclada com uma divertida pretensão filosofante e uma excêntrica análise panorâmica da civilização ocidental.
Muitos encontraram nos livros “A Nova Era e a Revolução Cultural” (1994), “O Jardim das Aflições” (1995) e “O Imbecil Coletivo” (1996) idêntico impulso de eliminação do inimigo e o mesmo apego adolescente a teorias conspiratórias, agora multiplicadas na imaginação tão sem freios quanto o uso desinibido do vernáculo por parte de Olavo.
O ingresso nas redes sociais propiciou ao autor de “Apoteose da Vigarice” (2013) o aprimoramento de estratégias discursivas cristalizadas na retórica do ódio, o principal fruto dos cursos ministrados por Olavo; aliás, ele é igualmente responsável pela disseminação do embaraçoso analfabetismo ideológico, muito mais prejudicial que o analfabetismo funcional e produtor das polarizações acéfalas que inviabilizam a discussão de ideias no espaço público brasileiro.
A retórica do ódio é a mais completa tradução das consequências plúmbeas da DSN, limitando o outro ao papel de antagonista, inimigo a ser destruído. É o reino desencantado do vale-tudo travestido de filosofices: xingamentos, desqualificações, corruptelas ginasianas de nomes próprios, redução obscena da língua portuguesa a dois verbos, ir e tomar.
O analfabetismo ideológico consiste em somente ler no texto alheio as projeções de suas convicções políticas: o “Orvil” tornado uma biblioteca de Babel de estantes vazias. Fenômeno ainda mais deletério que a propagação de notícias falsas, ele ocorre sem que a pessoa obrigatoriamente tenha consciência: trata-se de processo similar ao da lavagem cerebral.
O bolsolavismo é um poderoso sistema de crenças, dotado de coerência interna paranoica, tornando-o praticamente imune ao princípio de realidade. Eis a definição da guerra cultural bolsonarista, o verdadeiro centro de gravidade que permitiu a vitória eleitoral de Bolsonaro.
O paradoxo 
A reunião de 22 de abril é o autorretrato involuntário do governo enquanto arquitetura da destruição. Penso no documentário de Peter Cohen, realizado em 1989 e surpreendentemente atual no Brasil bolsonarista.
Naquele dia, chegávamos ao terrível número de 2.906 mortes. Manifestou-se solidariedade aos familiares das vítimas da Covid-19? Planejaram-se ações para conter a peste? Você se recorda, não é mesmo? Paulo Guedes sonhou em esconder “a granada no bolso do inimigo”, isto é, DSN atualizada, o funcionalismo público; Damares Alves entrou em êxtase para prender governadores e prefeitos; Ricardo Salles, sem corar, sugeriu “ir passando a boiada e mudando todo o regramento”.
Chega: só há náusea, flor alguma “furou o asfalto, o tédio, o nojo e o ódio”; aqui, nesse vulgar oportunismo de tragédia, é pura utopia o verso de “A Flor e a Náusea”, de Carlos Drummond de Andrade. Nesta circunstância dramática, é mais oportuno recordar Friedrich Hölderlin e seu poema “Patmos”: “Mas onde há perigo, cresce / Também o que salva”.
A guerra cultural bolsonarista se alimenta de um paradoxo que prenuncia sua ruína. Eis: o êxito do bolsonarismo significa o fracasso do governo Bolsonaro. Sem guerra cultural, não se mantém as massas digitais mobilizadas em constante excitação; contudo, a guerra cultural, pela negação de dados objetivos e pela necessidade intrínseca de inventar inimigos em série, não permite que se administre a coisa pública.
A guerra cultural é a origem e a forma da arquitetura da destruição, marca d’água do bolsonarismo, mas, por isso mesmo, será (ou já é?) a razão do fracasso rotundo do governo Bolsonaro; aliás, como infelizmente ficou demonstrado pela omissão e pelo negacionismo diante da peste da Covid-19.
No entanto, precisamos assimilar a advertência de Mano Brown,  ou a gente vai cair no precipício ”.

domingo, 9 de agosto de 2020

Tragédia no Líbano: contribua em solidariedade ao povo libanês

A tragédia no Líbano é de uma dimensão incomensurável. 
Todos nós temos um amigo, até um familiar que provêm do Líbano.
Por isso considero que todos temos esse dever de solidariedade para com o povo libanês, o que pode ser feito por meio da Câmara de Comércio Árabe Brasileira
Doações:
Banco Santander  – 033
AG 3681
CC 13003341-5
CNPJ 62.659.784/0001-11


Paulo Roberto de Almeida

Câmara Árabe vai enviar 3 toneladas de doações ao Líbano

Instituição encaminhará medicamentos, EPIs e alimentos aos libaneses por meio de avião do governo brasileiro na próxima semana. Produtos foram comprados com recursos próprios e com doações financeiras em campanha apoiada por outras associações e grupos. Contribuições ainda podem ser feitas, pois serão realizadas novas remessas.

Rodrigo Rodrigues/Câmara Árabe

São Paulo – A Câmara de Comércio Árabe Brasileira vai encaminhar remessa inicial de três toneladas de medicamentos, equipamentos de proteção individual e leite em pó para ajudar os libaneses afetados pela explosão ocorrida em Beirute esta semana, que deixou mais de 150 mortos, cinco mil feridos e cerca de 300 mil desabrigados. Os produtos foram comprados com recursos da entidade e com doações financeiras feitas em campanha promovida pela Câmara Árabe com o apoio de associações e grupos.
Os produtos serão transportados ao Líbano na próxima semana por um avião do governo federal, que levará volume ainda maior de doações. O Ministério das Relações Exteriores entrou em contato com o vice-presidente de Relações Internacionais da Câmara Árabe, Osmar Chohfi, para falar sobre doações e abriu espaço na aeronave para os donativos. A entidade vai embarcar inicialmente as três toneladas para as quais ganhou espaço, mas seguirá com a campanha de arrecadações ativa e viabilizará outras formas de envio em breve. O trabalho é feito com o suporte e apoio da Embaixada do Líbano no Brasil.

O presidente da Câmara Árabe, Rubens Hannun, afirma que a campanha e as doações estão sendo feitas porque há uma necessidade humanitária urgente neste momento no Líbano. Ele relata que a Câmara Árabe percebeu que precisava ser uma facilitadora para as muitas entidades e pessoas do Brasil que desejavam ajudar os libaneses e não tinham o caminho para fazê-lo. “É papel nosso sermos facilitadores nesse trâmite, é parte do nosso propósito conectar árabes e brasileiros para o desenvolvimento econômico, social e cultural”, afirma Hannun, destacando o lado social da ação.
A campanha das doações da Câmara Árabe teve seu início nesta quinta-feira (6). Por enquanto é possível apenas fazer contribuições em dinheiro em uma conta disponibilizada pela instituição, mas mais adiante será possível doar produtos. Serão analisados que outros tipos de ajuda os libaneses vão precisar. “A necessidade continuará, inclusive para reconstrução”, afirma Hannun. A explosão destruiu o porto e grande área em sua cercania com casas, lojas, prédios comerciais e residenciais, hotéis, entre outros.
O Comitê de Mulheres da Câmara Árabe, que foi recentemente lançado, está trabalhando ativamente para a campanha das doações. A Associação Médica Líbano-Brasileira (AMLB) foi a primeira parceira da iniciativa e muitos outros grupos brasileiros se juntaram para fazer doações por meio da Câmara Árabe ou divulgar a ação junto a seus conhecidos e membros para que façam contribuições.
Entre os que fazem parte estão a Associação Beneficente Síria e o Esporte Clube Sírio, de São Paulo, e o Conselho dos Embaixadores Árabes no Brasil. No Rio Grande do Sul participam o grupo Os Amigos do Líbano e do Brasil, as Sociedades Libanesas de Porto Alegre, Pelotas e Santa Maria, a União Beneficente de Senhoras Monte Líbano, a Igreja Maronita Nossa Senhora do Líbano e Câmara de Comércio Brasil Líbano, além do empresário e consultor José Eduardo Buchabqui, o deputado estadual Tiago Simon, o ex-governador Pedro Simon e ex-ministro Carlos Marun.
A Federação das Associações Muçulmanas do Brasil (Fambras) está fazendo suas ações em sintonia com a Câmara Árabe para que cada uma atenda diferentes necessidades da população atingida. A iniciativa da Câmara Árabe se junta a várias outras de ajuda ao Líbano no Brasil, formando um grande grupo integrado também por Fambras, AMLB, Câmara de Comércio Brasil-Líbano (SP), Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Instituto Kanoun – Associação de Juristas de Origem Libanesa, Clube Monte Líbano, Hospital Sírio-Libanês, Embaixada do Líbano em Brasília, Fundação Cristã da Diáspora Libanesa (FCDL) e governo federal do Brasil.
A tragédia no Líbano causou grande comoção entre os brasileiros em função da gravidade dos acontecimentos, do grande número de atingidos e também por causa dos fortes laços que unem Brasil e Líbano. Entre os árabes e descendentes que vivem no Brasil, 27% são de origem libanesa. Muitos brasileiros vivem no Líbano atualmente também. As manifestações de apoio e sensibilização estão ocorrendo em várias partes do Brasil oriundas de governos, entidades, cidadãos e empresas.
Doações:
Câmara de Comércio Árabe Brasileira
Banco Santander  – 033
AG 3681
CC 13003341-5
CNPJ 62.659.784/0001-11

COLABOREM!
Paulo Roberto de Almeida

Risco Brasil: sua trajetória de 1995 a 2020 - Ricardo Bergamini

“Risco Brasil” (a diferença entre EMBI e EMBI+)
Ricardo Bergamini


O pioneirismo do EMBI e a confiança que sua forma de cálculo inspirou nos investidores fizeram com que o índice se tornasse a principal referência do mercado sobre o desempenho dos títulos dos países emergentes. Outros bancos de investimento criaram mecanismos próprios de avaliação, mas nenhum deles se tornou um indicador tão conhecido - e consagrado - como o EMBI. O EMBI manteve sua fórmula desde que foi criado, mas foi se modificando para acompanhar a evolução do mercado de dívida externa. Em 1994, o índice EMBI, que chegou a reunir papéis de 11 países, foi descontinuado e cedeu lugar para uma referência mais ampla, o EMBI+, que hoje reúne quase uma centena de títulos de 19 países. A novidade foi a inclusão de alguns emergentes da Ásia, embora os latino-americanos representem mais da metade do indicador.
Só é admitido na base de cálculo do EMBI+ um tipo de país emergente - aquele que apresenta risco pelo menos moderado de não honrar seus compromissos e, em decorrência, seus papéis oferecem retornos maiores para atrair investidores. Esse risco não é estabelecido de maneira aleatória. São usadas como referência as notas que cada país recebe das empresas de classificação de risco - instituições independentes especializadas na determinação e divulgação do risco das corporações, instituições financeiras e países. Os títulos do Brasil respondem por cerca de 23% do peso do EMBI+, mais do que os de qualquer outra nação.
Abaixo as grandes variações históricas do (EMBI+) para reflexão: 
- [1995] Eficácia do Plano Real.
Como as incertezas no país diminuíram a partir de 1995. Saímos de um patamar de risco de 1.689 pontos para 337 pontos em outubro de 1997.
- [1997] Crise Asiática.
O final de 1998 e o início de 1999 ficaram marcados por diversas crises no continente asiático, culminando inclusive na moratória da Rússia em agosto de 1998.
Estas crises afetaram diretamente o Brasil, fazendo com que o (EMBI+ Brasil) saltasse para 1.779 pontos.
- [2002] “Efeito Lula”.
O mundo vivia o auge da crise financeira de 2000-2002 ocasionada pela bolha da tecnologia e pelos ataques terroristas de 2001.
A incerteza era grande. Aqui no Brasil, as eleições presidenciais (“Efeito Lula”) geravam maior volatilidade ao mercado e, consequentemente, um maior Risco País.
Neste período, ele registrou seu maior nível em toda a série histórica, alcançando 2.443 pontos em setembro de 2002.
Vale lembrar que neste período o Dólar era cotado próximo a R$ 4,00 e a Bolsa brasileira (Bovespa) já acumulava uma perda de -30% nos últimos 3 anos.
- [2007] Mínima Histórica.
A recuperação econômica mundial aliada ao fato da maior estabilidade na economia brasileira fez com que o índice alcançasse a mínima de 139 pontos em maio de 2007. 
- [2008] Crise Financeira.
Com a crise de 2008, o índice voltou a superar o patamar dos 500 pontos, atingindo 688 pontos em outubro de 2008, valor que não era alcançado em mais de 4 anos.
Conclusão:
Definitivamente a sociedade brasileira perdeu a sua capacidade de reflexão. Estamos todos seguindo o “estouro da boiada”.

Conclusões ao analisar a série histórica acima: 
1 - Em 02/01/03 o risco Brasil+ era de 1.374 pontos. Em 31/12/10 era de 189 pontos.
2 - Em 03/01/11 o risco Brasil+ era de 181 pontos. Em 31/05/16 era de 404 pontos.
3 - Em 01/06/16 o risco Brasil+ era de 401 pontos. Em 31/12/18 era de 276 pontos.
4 – Em 02/01/19 o risco Brasil+ era de 275 pontos.  Em 06/08/20 era de 323 pontos.
Sem uma análise mais profunda o melhor presidente da república teria sido Lula, ao atingir a mínima histórica de 139 pontos, em maio de 2007, além de ter assumido o governo em 02/01/03 com 1.374 pontos, e entregue em 31/12/10 com 189 pontos. 
Quem acompanha o meu trabalho irá lembrar que nos 8 anos do governo Lula alertava constantemente para o falso milagre brasileiro, baseado na ilusão monetária provocada pelo excesso de liquidez monetária existente no mundo, gerado pelos Estados Unidos, para financiar as guerras do Iraque e do Afeganistão, e que no final seria um desastre, da mesma forma como ocorreu com os governos militares, na época, o mesmo efeito foi provocado pela guerra do Vietnam. 

Cabe lembrar que entre 2002 até 2010 as commodities do Brasil valorizaram 175% em dólares americanos. Era uma histeria coletiva no Brasil, e no mundo. Haja vista o volume de prêmios, medalhas e títulos concedidos ao ex- presidente Lula no Brasil, e no mundo. Estávamos vivendo o segundo falso milagre brasileiro, que terminou da forma como conhecemos.

O primeiro falso milagre brasileiro dos governos militares se encerrou no inicio da década de 1980, conforme gráfico abaixo.

Jamais acreditem em crescimento econômico baseado em ilusão monetária, como está prometendo o populista governo Bolsonaro, na sua campanha politica para reeleição. Pelo menos espero que o Paulo Guedes não participe dessa orgia, desmoralizando ainda mais o liberalismo no Brasil.

Ricardo Bergamini

Philippe Mongin obituary - Society for the History of Economics

Dear friends,  
It is with an immense sadness that the French-speaking community of philosophers of economics and historians of economic thought learned that Philippe Mongin had passed away after a long medical fight on August 5 2020. 
Born in 1950, Philippe had always been an extremely brilliant student. He entered the Literature and Philosophy department of the prestigious French Ecole Normale Supérieure in 1969. In 1973 he was successful at the “agrégation” in Philosophy, and begun a Ph.D. thesis in Social Sciences at the Ecole des Hautes Etudes en Sciences Sociales (EHESS) under Raymond Aron, on Marx’s 1857 and 1858 manuscripts - the Grundrisse: La critique de l'économie politique dans les Grundrisse de Karl Marx.
Visiting scholar at King’s College, Cambridge, between 1975 and 1978, he was close to Frank Hahn and became interested in recent macro and microeconomic theory. Back to France, he worked in the 1980s on Herbert Simon’s notion of bounded rationality (see his « Simon, Stigler et les théories de la rationalité limitée », Social Science Information, 1986).   In 1984, he received a new degree in Mathematics and defended a second Ph.D. thesis in Economics. 
In the 1990s, following Amartya Sen’s work, he focused on normative economics, more specifically on the subjects of collective preferences under uncertainty (see his « Factoring out the impossibility of logical aggregation », Journal of Economic Theory 2008), and on John Harsanyi’s reformulation of utilitarianism. 
Between  1991 and 1996, he was appointed as invited professor at the University of Louvain-la-Neuve, where he co-authored some work with Claude d’Aspremont on the philosophical foundations of utility theory (see Philippe Mongin and Claude d'Aspremont, « Utility Theory and Ethics », Handbook of Utility Theory, Kluwer, 1998,  ch. 10, pp. 371-481), developed some original research in epistemic game theory (see  M. Bacharach, L.A. Gérard-Varet, P. Mongin and H. Shin, eds.,  Epistemic Logic and the Theory of Games and Decisions, Kluwer, 1997) - and met his wife, economist and prominent game theorist Françoise Forges.
After his stay at Louvain, Philippe became member of the THEMA research centre at the University Cergy-Pontoise, where he deepened his research program in normative economics in collaboration with co-authors such as Marc Fleurbaey and Jean-François Laslier (with whom he organised a monthly seminar in the philosophy of economics, « les Midis de l'Economie et de la Philosophie »). 
In the 2000s, Philippe turned to a new field of inquiry: judgment aggregation theory (see his « Value Judgments and Value Neutrality in Economics », Economica, 2006), then developed an interest in the relation between game theory and the principle of rationality, and organized the first conference on Analytical Narratives in France. In 2006, he became Professor in Economics and Philosophy at the Ecole des Hautes Études Commerciales (H.E.C.), where he taught until 2015. 
Throughout his career, Philippe was often appointed as visiting professor or visiting scholar: at the UQAM (Université du Québec à Montréal) in 1986, 1988, 1992 and 2004; at Duke University, University of California at Riverside, University of Chicago, and Stanford University in 1990; at the LSE in 1995 and from 1999 to 2002; at the University of British Columbia and at the Stanford Institute in Theoretical Economics in 1996; at the University of Graz in 1998; at Johns Hopkins in 2002; at the California Institute of Technology in 2003; at the Centre Walras-Pareto of the University of Lausanne in 2006 and 2007; at the Cowles Foundation and at Boston University in 2006 and 2008; at the International Center for Economic Research (ICER), in Torino, in 2007 and 2008; at Brown University in 2011; at the Australian National University in 2013; at the Wissenschaftskolleg zu Berlin in 2015-2016; and at the Max Planck Institut für Wissenschaftsgeschichte (MPIWG) in Berlin in 2016. 
He gave plenary and keynote lectures at numerous international conferences (including the 2002 ESHET conference in Graz), and was member of many editorial boards, for: the Journal of Economic Methodology, the Revue économique, the Revue de philosophie économique, Social Science Information / Information sur les Sciences Sociales, Economics and Philosophy, and Theory and Decision. 
He also wrote two reports for the "Conseil d’analyse économique": on the project of a solidarity labor income (revenu de solidarité active, RSA) in 2008; and on the links between major risks and public action in 2013. 
He was awarded prestigious distinctions: the two French national orders, the Ordre National du Mérite in 1995, and the Ordre National de la Légion d'honneur in 2004; and, recently, in 2019, the Maurice Allais prize in Economics, and the Grammaticakis-Neumann prize of the French Académie des sciences morales et politiques
Philippe was brilliant, innovative and always extremely elegant: we lost both an important thinker and a friend.

Annie L. Cot
University Paris 1 Panthéon-Sorbonne

Among his major publications in english, are: 
- Infinite Regressions in the Optimizing Theory of Decision (with B. Walliser). In Risk, Decision and Rationality, B. Munier, ed., Dordrecht, Reidel, 1987, p. 435-457. 
- A Note on Verisimilitude and Relativization to Problems. Erkenntnis, 33, 1990, p. 391-396. - Social Choice Theory in the Case of Von Neumann-Morgenstern Utilities (with T. Coulhon). Social Choice and Welfare, 6, 1989, p. 175-187. 
- The Early Full-Cost Debate and the Problem of Empirically Testing Profit-Maximization. Journal of Post-Keynesian Economics, 13, Winter 1990-91, p. 236-251. 
- Rational Choice Theory Considered as Psychology and Moral Philosophy. Philosophy of the Social Sciences, 21, 1991, p. 5-37; 
- Some Connections Between Epistemic Logic and the Theory of Nonadditive Probability. In Patrick Suppes: Scientific Philosopher, P. Humphreys, ed., Dordrecht, Kluwer, 1994, t. 1, p. 135-172. 
- The Logic of Belief Change and Nonadditive Probability. In Logic and Philosophy of Science in Uppsala, D. Prawitz and D. Westerstahl, eds., Dordrecht, Kluwer, 1994, p. 49-68. 
- Belief Closure: A Semantics of Common Knowledge for Modal Propositional Logic (with L. Lismont). Mathematical Social Sciences, 30, 1995, p. 127-153. 
- A Non-Minimal But Very Weak Axiomatization of Common Belief (with L. Lismont). Artificial Intelligence, 70, 1994, p. 363-374. 
- Harsanyi's Aggregation Theorem: Multi-Profile Version and Unsettled Questions. Social Choice and Welfare, 11, 1994, p. 331-354. 
- On the Logic of Common Belief and Common Knowledge (with L. Lismont). Theory and Decision, 37, 1994, p. 75-106. 
- Consistent Bayesian Aggregation. Journal of Economic Theory, 66, 1995, p. 313-351. 
- A Note on Affine Aggregation (with B. De Meyer). Economics Letters, 47, 1995, p. 177-183. 
- The Marginalist Controversy. In Handbook of Economic Methodology, J. Davis, W. Hands and U. Mäki, eds., London, Elgar, 1997, p. 558-562. 
- Expected Utility Theory . In Handbook of Economic Methodology, J. Davis, W. Hands and U. Mäki, eds., London, Elgar, 1997, p. 342-350. 
- Economists’ Responses to Anomalies: Full-Cost Pricing versus Preference Reversals (with D. Hausman). History of Political Economy. Annual Supplement, 29, 1998, p. 255-272. 
- Logic and Foundations of the Theory of Games and Decisions . Mathematical Social Sciences, 36, 1998 (1 –2) (co-ed. with G. Bonanno and M. Kaneko). 
- The Modal Logic of Probability (with A. Heifetz). Proceedings TARK VII (7th Conference on Theoretical Aspects of Reasoning About Knowledge), San Mateo, Ca., Morgan Kaufman, 1999 p. 175-185. 
- Does Optimization Imply Rationality?. Synthèse, 124, 2000, p. 73-111. 
- On the Determination of Subjective Probabilities by Choices (with E. Karni). Management Science, 46, 2000, p. 233-248. 
- The Impartial Observer Theorem of Social Ethics. Economics and Philosophy, 17, 2001, p. 147-179. 
- A Note on Mixture Sets in Decision Theory. Decisions in Economics and Finance, 24, 2001, p. 59-69. 
- Probability Logic for Type Spaces (with A. Heifetz). Games and Economic Behavior
, 35, 2001, p. 31-53. 
- The Paradox of the Bayesian Experts and State-Dependent Utility Theory. Journal of Mathematical Economics, 29, 1998, p. 331-361. 
- Constrained Egalitarianism in a Simple Redistributive Model (with J.Y. Jaffray). Theory and Decision, 54, 2003, p. 33-56. 
- Strong Completeness Theorems for Weak Logics of Common Belief (with L. Lismont). Journal of Philosophical Logic, 32, 2003, p. 
- The News of the Death of Welfare Economics is Greatly Exaggerated (with M. Fleurbaey). Social Choice and Welfare, 25, 2005, p. 381-418. 
- Value Judgments and Value Neutrality in Economics. Economica , 72, 2006, p. 257-286. 
- A Concept of Progress for Normative Economics. Economics and Philosophy, 22, 2006, p. 19-54. 
- A Welfarist Version of Harsanyi's Theorem (with C. d'Aspremont). In Justice, Political Liberalism, and Utilitarianism, M. Fleurbaey, M. Salles and J. Weymark, eds., Cambridge, Cambridge University Press (C.U.P.), 2008, ch. 7, p. 184-197. 
- Factoring Out the Impossibility of Logical Aggregation. Journal of Economic Theory, 141, 2008, p. 100-113. 
- Analytic Narrative. In Encyclopedia of Political Science, 2010, G.T. Kurian, J.E. Alt, S. Chambers. G. Garrett, M. Levi, P. McClain, eds., New York, CQ Press, SAGE Publications. 
- The Premiss-Based Approach to Judgment Aggregation (with F. Dietrich). Journal of Economic Theory, 145, 2010, p. 562-582. 
- The Doctrinal Paradox, the Discursive Dilemma, and Logical Aggregation Theory. Theory and Decision, 73, 2012, p. 315-345. 
- Ranking Multidimensional Alternatives and Uncertain Prospects (with M. Pivato). Journal of Economic Theory, 157, 2015, p. 146-171. 
- Approval Voting and Arrow's Impossibility Theorem (with F. Maniquet). Social Choice and Welfare, 44, 2015, p. 519-532. 
- Choice-Based Cardinal Utility: a Tribute to Patrick Suppes (with J. Baccelli). Journal of Economic Methodology, 23, 2016, p. 268-288. 
- Social Evaluation Under Risk and Uncertainty (with M. Pivato). In Oxford Handbook of Well-Being and Public Policy, M. Adler and M. Fleurbaey, eds., Oxford University Press, 2016, ch. 24, p. 711-745. 
- Spurious Unanimity and the Pareto Principle, Economics and Philosophy. 32, 2016, p. 511-532. 
- A Theorem on Aggregating Classifications (with F. Maniquet). Mathematical Social Science, 79, 2016, p. 6-10. 
- The Utilitarian Relevance of the Aggregation Theorem (with M. Fleurbaey). American Economic Journal (Microeconomics), 8, 2016, p. 289-306. 
- Bayesian Decision Theory and Stochastic Independence. In Proceedings of the 16th Conference on Theoretical Aspects of Reasoning About Knowledge (TARK 2017).
- Rethinking Nudge: Not One But Three Concepts (with M. Cozic). Behavioural Public Policy, 2, 2018, p. 107-124. 
- A Game-theoretic Analysis of the Waterloo Campaign and Some Comments on the Analytic Narrative Project. Cliometrica, 12, 2018, p. 451-480. 
- Judgment Aggregation. In Introduction to Formal Philosophy, V.F. Hendrickx et S.O. Hansson, eds., Berlin, Springer, 2018, ch. 38, p. 705-720.
- The Allais Paradox: What It Became, What It Really Was, What It Now Suggests to Us. Economics and Philosophy, 35, 2019, p. 423-459. 
- Bayesian Decision Theory and Stochastic Independence. Philosophy of Science, 87, 2020(1).

sábado, 8 de agosto de 2020

Uma história sincera do Itamaraty? - Paulo Roberto de Almeida

Uma história sincera do Itamaraty


Paulo Roberto de Almeida
[Objetivo: comentário sobre um projeto; finalidade: completar história institucional]
  
Um antigo projeto de livro que tenho em mente, “Uma história sincera do Itamaraty”, só poderá realmente ser conduzido até o marco cronológico de 2018.
Depois disso se entra num “labirinto de sombras” — título, aliás, de meu mais recente livro de ensaios de política externa e sobre a diplomacia brasileira — para o qual o adjetivo “sincera” não mais se aplica, uma vez que interlocutores da ativa enfrentam enormes dificuldades para se expressar com toda clareza e transparência sobre uma das fases mais obscuras e vergonhosas de nosso Serviço Exterior, constrangido e encabulado por mais deformações e mentiras do que no período especial da ditadura militar, quando agentes consulares e diplomatas eram impedidos de sequer expedir certidões e passaportes para adversários exilados do regime ou seus filhos.
Ainda assim relatarei, na maior extensão possível, o verdadeiro “surrealismo exótico” sob o qual o Itamaraty passou a viver desde 2019, quando se passou a cultivar as fantasmagorias demenciais de um guru destrambelhado sobre uma suposta ameaça do “globalismo” mancomunado ao “comunismo”, como sendo, junto com essa coisa bizarra do “climatismo”, os maiores perigos para a sobrevivência da “alma conservadora” do povo brasileiro, além de outras loucuras diplomáticas só capazes de frequentar mentes muito doentias e desequilibradas.
Claro, o lado “sincero” dessa história consiste simplesmente em revelar como o oportunismo rastaquera de certos vira-casacas é capaz de se colocar servilmente a serviço dos agentes mais aloprados de um tal de “movimento conservador”, que na verdade pertence à tribo obscurantista e reacionária dos novos bárbaros.
O trabalho de redação continua, a despeito do pântano circundante...


Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 3731, 8 de agosto de 2020

sexta-feira, 7 de agosto de 2020

A cruzada profana entre EUA e China - Jeffrey D. Sachs

Aqui abaixo o texto em português que eu o li no original, e até transcrevi neste meu blog: https://diplomatizzando.blogspot.com/2020/08/jeffrey-sachs-sobre-o-hegemonismo.html 

Pareceu-me correto no essencial, e “recomendei aos chineses” que procurassem um George Kennan chinês para formular uma doutrina da Contenção da China contra os EUA, que são a potência agressora neste caso.
Eis o que escrevi no Facebook, em duas postagens sobre a mesma questão: 
A China precisa ter uma enorme “paciência estratégica” em face de um gigante que exibe o comportamento de uma criança mimada e briguenta, e tem toda razão em recusar a entrar nesse jogo irracional de uma “nova Guerra Fria” — que não possui nenhum fundamento real, a não ser a paranoia “normal” dos generais do Pentágono, seguidos inacreditavelmente pelos novos paranoicos “anormais” da academia —, mas ela precisa também desenvolver uma doutrina da “contenção”, ou seja, conduzir de forma racional e moderada suas relações com o gigante atrapalhado, até que este volte à razão e se converta num simples primus inter pares, não no pretenso dono do mundo que ele insiste em ser ainda hoje.

Ademais dos conhecidos problemas que afligem grandes e velhos impérios arrogantes — over-extension, over-strecht, over-expenditures, over-zealous, over-control, profligacy, irrealism, hubris, exaggerate ambition, cupidity, militarism, etc. — os EUA já chegaram ao ponto da miopia, talvez até da cegueira, quanto à sua capacidade real de serem aceitos como líderes naturais de um determinado grupo de países (digamos, as democracias de mercado), por sua própria introversão econômica, sua alienação política e o abandono daqueles princípios e valores liberais e humanitários que os faziam serem admirados pelos demais países. Trump agregou àqueles velhos problemas o seu desprezo pelos demais, sua arrogância fatal e sobretudo sua ignorância abissal.
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Paulo R. de Almeida

A cruzada profana entre EUA e China

Agora a nova cruzada tem como alvo o PC chinês

Por Jeffrey D. Sachs
Valor Econômico, 06/08/2020 


Muitos cristãos evangélicos brancos nos Estados Unidos há muito acreditam que o país tem a missão, dada por Deus, de salvar o mundo. Sob influência dessa mentalidade cruzadista, a política externa americana frequentemente passou da diplomacia à guerra. Agora, corre o risco de fazer isso de novo.

Em julho, o secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo, lançou mais uma cruzada evangélica, desta vez contra a China. Seu discurso foi extremista, simplista e perigoso - e poderia muito bem colocar os EUA em rota de conflito com a China.

De acordo com Pompeo, o presidente da China, Xi Jinping, e o Partido Comunista (PC) da China nutrem um “desejo de décadas por hegemonia mundial”. É irônico. Apenas um país, os EUA, têm uma estratégia de defesa na qual se propõe a ser a “potência militar preeminente no mundo”, com “equilíbrios de forças regionais favoráveis no Indo-Pacífico, na Europa, no Oriente Médio e no Hemisfério Ocidental”. A posição oficial chinesa, em contraste, declara que a “China nunca seguirá o caminho usual das grandes potências de buscar a hegemonia” e que “à medida que a globalização econômica, a sociedade da informação e a diversificação cultural se desenvolvem em um mundo cada vez mais multipolar, a paz, o desenvolvimento e a cooperação a benefício de todos continuam sendo as tendências irreversíveis dos tempos”.

Vêm à mente a própria advertência de Jesus: “Hipócrita! Tira primeiro a trave do teu olho; e então verás bem para tirar o argueiro do olho do teu irmão.” (Mateus 7:5). Os gastos militares dos EUA somaram US$ 723 bilhões em 2019, quase o triplo dos US$ 261 bilhões gastos pela China.

Os EUA, além disso, têm cerca de 800 bases militares no exterior, enquanto a China tem apenas 1 (uma pequena base naval no Djibuti). Os EUA têm bases militares próximas à China, que não tem nenhuma perto dos EUA. Os EUA têm 5,8 mil ogivas nucleares; a China, cerca de 320. Os EUA têm 11 navios porta-aviões; a China tem 1.  Os EUA lançaram muitas guerras no exterior nos últimos 40 anos; a China, nenhuma (embora tenha sido criticada por conflitos fronteiriços).

O mundo deu relativamente pouca atenção ao discurso de Pompeo, que não apresentou evidências para sustentar sua declaração sobre a ambição hegemônica da China. A rejeição chinesa à hegemonia dos EUA não significa que a China por si só busque uma hegemonia. Na verdade, fora dos EUA, há pouca convicção de que a China queira o domínio global. Os objetivos nacionais da China explicitamente declarados são ser “uma sociedade moderadamente próspera” até 2021 (o centenário do PC chinês) e um “país plenamente desenvolvido” até 2049 (o centenário da República Popular).

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Presumindo que Trump perca as eleições presidenciais de novembro, o discurso de Pompeo provavelmente não receberá mais atenção. Os democratas certamente criticarão a China, mas sem os exageros insolentes de Pompeo. Se Trump vencer, porém, o discurso de Pompeo poderia ser o prenúncio do caos. O evangelismo de Pompeo é real e os brancos evangélicos são a base atual do Partido Republicano.

Como relembrei em meu recente livro “A New Foreign Policy” os colonos protestantes ingleses acreditavam que estavam fundando um Novo Israel na nova terra prometida, com as bênçãos divinas de Deus. Em 1845, John O’Sullivan cunhou o termo “Destino Manifesto” para justificar e comemorar a anexação violenta [do Oeste] da América do Norte pelos EUA. “Tudo isso será nossa história futura”, escreveu em 1839, "para estabelecer na Terra a dignidade moral e a salvação do homem - a verdade imutável e a benevolência de Deus". “Para essa missão abençoada para as nações do mundo, que estão alheias à revigorante luz da verdade, a América foi escolhida [...]”.

Com base nesses pontos de vista exaltados sobre sua própria benevolência, os EUA se envolveram na escravização em massa até a guerra civil e em um apartheid em massa depois disso; massacraram os índios americanos ao longo do século XIX e os subjugaram depois disso; e, quando terminaram de expandir a fronteira no Oeste, estenderam o Destino Manifesto para o exterior. Posteriormente, com o início da Guerra Fria, o fervor anticomunista levou os EUA a lutar guerras desastrosas no Sudeste Asiático (Vietnã, Laos e Camboja), nos anos 60 e 70, e guerras brutais na América Central, nos 80.

Depois dos ataques terroristas de 11 de Setembro de 2001, o ardor evangélico foi direcionado contra o “islamismo radical” ou o “fascismo islâmico”, com quatro “guerras de escolha” dos EUA (no Afeganistão, Iraque, Síria e Líbia), que até hoje continuam sendo, todas, fracassos. De uma hora para outra, a suposta ameaça existencial do islamismo radical parece ter sido esquecida, e a nova cruzada tem como alvo o PC chinês.


O próprio Pompeo é um literalista bíblico que acredita no fim dos tempos e que a batalha apocalíptica entre o bem e o mal é iminente. Pompeo descreveu suas crenças em discurso em 2015, quando era parlamentar pelo Kansas: os EUA são uma nação judaico-cristã, a maior na história, cuja tarefa é lutar as batalhas de Deus até o arrebatamento, quando os seguidores de Cristo já mortos ou vivos, como Pompeo, serão levados ao céu no Juízo Final.

Os evangélicos brancos representam apenas cerca de 17% da população adulta dos EUA, mas 26% dos eleitores. Eles votam avassaladoramente nos republicanos (estima-se que 81%, em 2016), o que os torna o bloco eleitoral mais importante do partido. Isso lhes dá poderosa influência nas políticas republicanas e, em particular, na política externa quando os republicanos controlam a Casa Branca e o Senado (com seus poderes para ratificar tratados). Entre os congressistas republicanos, 99% são cristãos e, entre eles, cerca de 70% são protestantes, incluindo uma proporção desconhecida, mas significativa, de evangélicos.

Naturalmente, os democratas também têm políticos que proclamam o excepcionalismo americano e lançam guerras cruzadistas (por exemplo, as intervenções do presidente Barack Obama na Síria e na Líbia). No geral, contudo, o Partido Democrata é menos devotado a reivindicações da hegemonia americana do que a base evangélica do Partido Republicano.

A retórica exaltada anti-China de Pompeo poderia tornar-se ainda mais apocalíptica nas próximas semanas, nem que seja apenas para inflamar a base republicana antes das eleições. Se Trump for derrotado, como parece provável, o risco de um confronto entre EUA e China diminuirá. S
e ele permanecer no poder, entretanto, seja por meio de uma vitória eleitoral genuína, de fraude eleitoral ou mesmo de um go

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Jeffrey D. Sachs é professor de Desenvolvimento Sustentável e de Gestão e Políticas da Saúde da Columbia University. É diretor do Centro de Desenvolvimento Sustentável da Columbia University e da Rede de Soluções de Desenvolvimento Sustentável da ONU.