O que é este blog?

Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

sexta-feira, 15 de janeiro de 2021

Como será a posse de Joe Biden? Sem povo, por razões de segurança; tem muito terrorista trumpista...

 

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There’ll be no arguments about crowd size at Joe Biden’s inauguration — because there won’t be a crowd.

 

In an extraordinary move that reveals the extreme state in which President Donald Trump has left the nation, the entire monument-dotted National Mall in Washington will be closed on Wednesday. There are fears that violent pro-Trump mobs that stormed the US Capitol will return — and concern for the safety of Biden, Vice President-elect Kamala Harris and other dignitaries at the open-air ceremony.

 

Past presidents took the oath of office before huge, carnival-like crowds that stretched as far as the eye could see down the Mall, in a powerful national unifying moment. Whatever the party, the sight of a new first couple exiting the presidential limo and walking down Pennsylvania Avenue, yet to be beaten down by the burdens of office, crushed ideals and White House scandals, was a symbol of political renewal.*

 

But this year, there are more US troops in Washington than in Iraq and Afghanistan. Massive iron and concrete barriers have been erected blocks away from the inaugural platform on the West Front of the Capitol. One official said well-wishers would be lucky to even glimpse the top of the Capitol's white dome if they show up. 

 

It was always going to be an unusual inauguration, with mass gatherings now lethally dangerous due to the coronavirus pandemic, which Trump ignored. And the outgoing President, still lying about his election defeat, has said he won’t show up, denying Biden yet another important legitimating symbol. 

 

When the world watches on Wednesday, it will take away a tragic truth: Two great icons of US democracy, the Capitol and the White House, must now be sealed inside a vast cage to protect them from the people they serve.

* True, Trump's inauguration also lacked the traditional sense of joy, as he warned the country of “American carnage" in an address reportedly described by ex-President George W. Bush as “some weird sh**t.

quinta-feira, 14 de janeiro de 2021

Governo Biden coloca em xeque futuro de Ernesto Araújo como chanceler - UOL notícias

Governo Biden coloca em xeque futuro de Ernesto Araújo como chanceler
UOL Notícias | Últimas Notícias, 14/02/2021

Joe Biden, eleito novo presidente dos Estados Unidos, toma posse no próximo dia 20. Com ele, chega a incerteza de como o Brasil comandará a sua política externa nos próximos anos. O chanceler brasileiro, Ernesto Araújo, é o expoente de uma política alinhada a Donald Trump. Com a saída do aliado do poder no país vizinho, o ministro pode não sobreviver ao cargo.

Após os frequentes ataques de Jair Bolsonaro (sem partido) ao novo presidente americano, será preciso um sinal de paz se o país quiser continuar com uma relação amigável com os EUA. Um grande sinal de mudança de tom na política externa seria a demissão do atual ministro de Relações Exteriores, indicam especialistas ouvidos pelo UOL.

"A gente nunca tinha tido um chanceler declaradamente fã de um presidente americano dessa forma, a ponto de chamá-lo de a 'última esperança' do mundo ocidental e coisas do tipo. Então a situação do Ernesto é muito complicada", explica o professor da FGV (Fundação Getúlio Varga), Guilherme Casarões.

Chanceleres já caíram por muito menos na história do Brasil." Guilherme Casarões, professor da FGV.

Araújo se tornou chanceler com a promessa de trazer uma "nova política externa" ao Itamaraty -- uma política de alinhamento automático aos Estados Unidos e contra o globalismo. Porém, para analistas em relações internacionais, o alinhamento na verdade foi ao presidente Trump, o que se provou problemático especialmente após suas ações nos últimos dias no cargo.

Para Ernesto e a ala chamada ideológica do governo Bolsonaro, Biden é um globalista, já que defende as instituições internacionais como a ONU (Organização Mundial da Saúde). Portando, seria um "inimigo" desse grupo. Com Biden agora no poder, será necessário repensar essa política externa proposta pelo chanceler.

Caso haja a vontade do governo de corrigir essa rota e manter o que o próprio governo traçou que é um alinhamento aos Estados Unidos, a troca de ministros certamente terá um impacto positivo rápido. Seria uma forma bastante viável de resolver a questão." Pedro Feliú, professor de Relações Internacionais da USP (Universidade de São Paulo)

A dúvida, no entanto, é qual sinal Bolsonaro pretende passar para o novo governo americano. Os setores não ideológicos do governo, como agronegócio, indústria e demais elites econômicas devem pressionar o presidente para manter uma boa relação com os EUA e até pela troca de chanceler. Não se sabe se ele atenderá.

Pressões no passado já funcionaram para derrubar ministros inclusive ideologicamente alinhados a Bolsonaro. O principal exemplo neste caso é o ex-ministro da Educação, Abraham Weintraub.

"Eu esperava que o presidente tivesse já a essa altura sinalizando uma troca de chanceler para fortalecer uma ala mais pragmática", diz o coordenador do curso de Relações Internacionais da FGV, Eduardo Mello. "Mas o presidente não fez isso, pelo menos não até agora e não deu sinais de que está pronto para fazer isso. É espantoso e vai ter um custo enorme para o Brasil."

As críticas a Araújo também abordam sua atuação como chanceler, que não tem sido de protagonismo nas relações exteriores do Brasil. "Como chefe da diplomacia, ele deveria ter feito um trabalho minimamente diplomático para garantir que o governo brasileiro não entrasse no novo governo americano com o pé esquerdo. E não foi isso que ele fez", lembra Casarões.

Na posse do dia 20, Ernesto Araújo estará de férias. Um despacho publicado na terça-feira (12) no Diário Oficial da União informou que ele se ausentará do dia 16 ao dia 22 da semana que vem.

Mourão a frente da diplomacia

Outra possibilidade levantada pelos especialistas é de que Ernesto não seja removido do cargo, mas perca ainda mais a sua relevância nos assuntos internacionais. Nesse sentido, o vice-presidente Hamilton Mourão seria um candidato a assumir a tarefa.

O Mourão tentou ocupar espaço, foi vetado pelo Bolsonaro. Mas numa lógica de correção de rota é muito mais provável que a vice-presidência tenha um papel mais relevante que o ministro." Pedro Feliú, professor de Relações Internacionais da USP

Porém, segundo o professor da USP, um ponto a favor de Araújo em comparação com Mourão é a baixa possibilidade de o atual chanceler representar uma ameaça eleitoral a Bolsonaro.

UOL já mostrou como o Itamaraty é utilizado pelo governo como plataforma eleitoral e Araújo não rouba o protagonismo do presidente. Mourão, por outro lado, já foi advertido por Bolsonaro outras vezes por ganhar destaque demais. Ministros como Sérgio Moro e Luiz Henrique Mandetta caíram justamente por ameaçar politicamente o presidente.

Ricardo Salles também na corda-bamba

Outro ministro do governo que ficaria por um fio durante o governo de Joe Biden seria Ricardo Salles, líder da pasta de Meio Ambiente. Segundo especialistas, a questão ambiental será central no novo governo americano e é onde ele bate de frente com o Brasil.

"Assim como o Araújo, o Salles representa a ala mais ideológica e que tem que ser trocado se o Brasil quiser fazer controle de danos e administrar essa situação", diz Eduardo Mello. "Se quiser abrir canais com os democratas, facilitaria muito tirar o Salles e colocar uma pessoa que tem algum trânsito com a questão ambiental".

Já nos debates presidenciais o então candidato democrata chegou a citar o Brasil como má exemplo de gestão da Amazônia devido às queimadas. Salles, por outro lado, é visto como um ministro negacionista das mudanças climáticas e que vai contra as políticas ambientais democratas.

O Ricardo Salles é a cara da área mais sensível hoje do governo brasileiro, que é justamente a questão ambiental. E essa é a prioridade absoluta do governo americano. Ou Ricardo Salles modera o seu discurso, o que eu pessoalmente acho improvável a essa altura do campeonato, ou ele é demitido também." Guilherme Casarões, professor da FGV.

Assim como Araújo, o que pode contar a favor do ministro é a baixa ameaça eleitoral para Bolsonaro em 2022, além da forte proximidade ideológica com o presidente. Isso garantia a permanência do cargo, mas ainda poderia jogá-los na irrelevância.

"No caso dos ministros, o Ricardo Salles [Meio Ambiente] e o Araújo cumprem bem esse papel. Eles, politicamente, não ameaçam o Bolsonaro. Eu acho que eles têm esses dois fatores favoráveis: a proximidade ideológica e não ameaça política. Então isso pode garantir ainda um pouco a sustentabilidade deles", diz Pedro Feliú.

Resistência a Bolsonaro por parte do presidente da CD: vai continuar assim? - Editorial Estadão

 A NECESSÁRIA RESISTÊNCIA DE MAIA!


Editorial O Estado de S. Paulo, 13/01/2021

Finalmente, depois de 24 meses no cargo, o presidente Jair Bolsonaro começa a encontrar a devida resistência ao modo como vem governando o País. Ao longo da semana passada, por exemplo, o presidente da Câmara, deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ), fez declarações assertivas sobre o presidente da República.

No dia 9 de janeiro, Maia escreveu no Twitter: “Bolsonaro é covarde”. O presidente da Câmara referia-se a uma notícia da revista Veja com o título Bolsonaro culpa Pazuello por perda de popularidade e atraso da vacina.

Não cabe dúvida quanto à responsabilidade de Jair Bolsonaro pelo modo como o Ministério da Saúde vem enfrentando a pandemia de covid-19. Os dois ministros da Saúde, Luiz Henrique Mandetta e Nelson Teich, que pretenderam enfrentar o novo coronavírus de forma minimamente técnica e não aceitaram as ordens preconceituosas e negativistas do presidente da República foram sumariamente demitidos.

Para evitar novos incômodos, Jair Bolsonaro colocou o intendente Eduardo Pazuello na chefia do Ministério da Saúde. As condições eram claras: obedecer ao chefe, sem contestar. Além disso, sempre que quisesse, Jair Bolsonaro poderia repreender ou desmentir o intendente em público.

Em outubro de 2020, o intendente afirmou que o governo federal negociava com o Instituto Butantan a compra de 46 milhões de doses da vacina chinesa Coronavac. Imediatamente, Bolsonaro mostrou quem mandava. “Tenha certeza, não compraremos vacina chinesa”, disse. Não é de estranhar que o presidente tenha de ouvir agora coisas desagradáveis sobre seu comportamento.

Rodrigo Maia também reagiu à declaração de Bolsonaro de que, sem voto impresso em 2022, “nós vamos ter problema pior que os EUA”. O presidente referia-se nada mais nada menos que à invasão do Congresso americano por apoiadores de Donald Trump.

“A frase do presidente Bolsonaro é um ataque direto e gravíssimo ao TSE e seus juízes. Os partidos políticos deveriam acionar a Justiça para que o presidente se explique. Bolsonaro consegue superar os delírios e os devaneios de Trump”, escreveu o presidente da Câmara no dia 7 de janeiro.

Na mesma semana, ao comentar uma notícia do jornal Folha de S.Paulo (Brasil deixa de pagar banco do Brics e governo acusa Congresso), Rodrigo Maia escreveu: “Governo transferindo responsabilidade. É prática de um governo incompetente. É sempre assim”.

Um dos alicerces do regime democrático é a responsabilidade de quem exerce o poder. Por isso, é especialmente perniciosa a desinformação que tenta culpar um Poder por erros, confusões e omissões que são de autoria de outro Poder. A população tem direito a saber a verdade dos fatos. Só assim, poderá depois exercer conscienciosamente seus direitos políticos. A mendacidade é inimiga da democracia – que também é um regime de responsabilidade.

Diante de desarranjos populistas e autoritários, é muito bom que haja resistência da sociedade e dos partidos políticos que a representam. É também alvissareiro constatar a prontidão do Judiciário para proteger, quando acionado, a Constituição e o Direito. Mas é especialmente importante que também o Congresso, por meio de suas lideranças, se manifeste perante assuntos de tamanha relevância pública.

A política não pode se ausentar da tarefa de recordar os limites e responsabilidades do chefe do Executivo. Assim como toda autoridade num Estado Democrático de Direito, o presidente da República não pode se esquivar das responsabilidades do cargo, tampouco pode usar sua posição de destaque para proferir ameaças, explícitas ou veladas.

Houve quem se escandalizasse com as palavras de Rodrigo Maia. Afinal, os posts do presidente da Câmara no Twitter escancararam aspectos um tanto complicados do comportamento do presidente da República. A rigor, no entanto, escandalosa é a falta de contestação por parte de Jair Bolsonaro. Como já havia ocorrido em outras situações, o presidente Bolsonaro, que tanto gosta de falar, simplesmente se calou quando confrontado. Deu a entender que, apesar de suas dificuldades cognitivas, captou o fundamento das acusações.

Ultimos dias, perigosos, de Trump: um projeto de destruir a democracia internamente e precipitar conflitos externamente - Nouriel Roubini

Tanto quanto Bolsonaro, Trump atua por diretivas presidenciais que podem ter consequências nefastas para o país e o mundo.  


America Is the New Center of Global Instability

Following the storming of the US Capitol, President Donald Trump is desperate for an exit ramp that will preserve both his fragile ego and his future political influence. Unfortunately, that conundrum leaves him with few options other than to foment even more chaos both at home and abroad.

Nouriel Roubini

Straits Times, Singapura – 13.1.2021

 

New York - Whether the storming of the US Capitol was an attempted coup, an insurrection, or an assault on democracy is merely a question of semanticsWhat matters is that the violence was aimed at derailing a legitimate transition of power for the benefit and at the behest of a dangerous madman. President Donald Trump, who has never hidden his dictatorial aspirations, should now be removed from power, barred from public office, and prosecuted for high crimes.

After all, the events of January 6 may have been shocking, but they were not surprising. I and many other commentators had long warned that the 2020 election would bring civil unrest, violence, and attempts by Trump to remain in power illegally. Beyond his election-related crimes, Trump is also guilty of a reckless disregard for public health. He and his administration bear much of the blame for the massive COVID-19 death toll in the United States, which accounts for only 4% of the global population but 20% of all coronavirus deaths.

Once a beacon of democracy, rule of law, and good governance, the US now looks like a banana republic that is incapable of controlling either a contagious disease – despite spending more on health care per capita than any other country – or mobs incited by a wannabe dictator. Authoritarian leaders around the world are now laughing at the US and scoffing at American critiques of others’ political misrule. As if the damage done to US soft power over the past four years was not immense enough, Trump’s failed insurrection has undermined America’s standing even more.

Worse, although President-elect Joe Biden will be inaugurated in about a week, that is plenty of time for Trump to create more mayhem. Right-wing militias and white supremacists are already planning more acts of protest, violence, and racial warfare in cities across the US. And strategic rivals such as Russia, China, Iran, and North Korea will be looking to exploit the chaos by sowing disinformation or launching cyber-attacks, including potentially against critical US infrastructure.

At the same time, a desperate Trump may try to “wag the dog” by ordering a strike – perhaps with a tactical nuclear warhead – on Iran’s main nuclear facility in Natanz, on the grounds that it is being used to enrich uranium. Far from this being out of the question, the Trump administration has already held drills with stealth bombers and fighter jets – loaded, for the first time, with tactical nuclear weapons – to signal to Iran that its air defenses are no defense at all.

No wonder Speaker of the House Nancy Pelosi felt the need to reach out to the chairman of the US Joint Chiefs of Staff to discuss steps to prevent a nuclear strike by the Dr. Strangelove in the White House. Whereas an unwarranted order to launch a nuclear attack on a target with a large civilian population would be rejected by the military as obviously “illegal,” an attack on a military target in a non-populated area might not be, even if it would have dire geopolitical consequencesMoreover, Trump knows that both Saudi Arabia and Israel would tacitly support an attack on Iran (indeed, the US may avail itself of Saudi logistical and ground support to carry one out, given the shorter range of nuclear-armed fighter jets).

The prospect of an attack on Iran may give Vice President Mike Pence the pretext he needs to invoke the 25th Amendment and remove Trump from power. But even if this were to happen, it would not necessarily be a win for democracy and the rule of law. Trump could – and likely would – be pardoned by Pence (as Richard Nixon was by Gerald Ford), allowing him to run for president again in 2024 or be a kingmaker in that election, given that he now controls the Republican party and its base. Removing Trump with the promise of a pardon may be a Faustian deal that Pence strikes with Trump.

Because the self-pardon that Trump has been considering might not pass constitutional muster, it is reasonable to assume that he will be groping around for other creative outs. He cannot simply resign and allow Pence to issue a pardon, because that would make him look like a “loser” who accepted defeat (the worst insult in Trump’s egomaniacal lexicon). But if the president were to order an attack on Iran and then become a (pardoned) martyr, he could both preserve his base and avoid accountability. By the same token, Trump cannot risk being impeached (again), because that would open up the possibility of his being disqualified from holding office in the future. By this reasoning, he has every incentive to go out with a bang and on his own terms.

If this all sounds like the final days of Nero “fiddling while Rome burned,” that’s because it is. The decay of the American empire appears to be hastening rapidly. Given how politically, socially, and economically divided the US is, four years of sound leadership under Biden will not be enough to reverse the damage that has been done. Most likely, the Republicans will do everything they can to sabotage the new administration, as they did with former President Barack Obama.

Even before the election, US national-security agencies were warning that domestic right-wing terrorism and violence would remain the primary home-grown threat to the US. With Biden in office, this risk will be higher still. For the last four years, heavily armed white-supremacist militias have been kept relatively at bay by dint of the fact that they had an ally in the White House. But once Trump is gone, the groups whom he has instructed to “stand back and stand by” will not simply accept Democratic control of the presidency and Congress. Trump, operating from Mar-a-Lago, will continue to incite the mob with more lies, conspiracy theories, and falsehoods about a stolen election.

The US will thus most likely be the world’s new epicenter of political and geopolitical instability in the months and years ahead. America’s allies will need to hedge their bets against a future return of Trumpism, and strategic rivals will continue to try to destabilize the US through (P.S,)

 

Nouriel Roubini, Professor of Economics at New York University's Stern School of Business and Chairman of Roubini Macro Associates, was Senior Economist for International Affairs in the White House’s Council of Economic Advisers during the Clinton Administration. He has worked for the International Monetary Fund, the US Federal Reserve, and the World Bank. His website is NourielRoubini.com, and he is the host of NourielToday.com.

 

Itamaraty, Brasil: projeto de país "pária" de EA continua - Matheus Leitão, Paulo Roberto de Almeida

 Projeto ‘país pária’ do Ernesto Araújo continua em marcha

Declarações de Bolsonaro e do chanceler, apoiando a invasão ao Capitólio, só contribuem para o isolamento internacional do Brasil

Matheus Leitão

Veja | 13/1/2021, 19h39

A violenta invasão ao Capitólio, e os posicionamentos do presidente Jair Bolsonaro e do ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, serviram para consolidar o isolamento internacional do Brasil, dando mais um passo em direção ao “país pária”. Ao flertarem perigosamente com o apoio aos manifestantes de extrema-direita, o presidente e o chefe da diplomacia dão outro sinal de hostilidade ao governo americano que está começando.

Na visão do embaixador Paulo Roberto de Almeida, o Brasil está cada vez mais isolado, reflexo de uma política externa fracassada. “Neste momento, Jair Bolsonaro e Ernesto Araújo estão sozinhos no mundo. Não têm mais diálogo com ninguém. Como o presidente insiste na sua loucura de confrontar a todos, o Ernesto Araújo segue atrás para se mostrar fiel. Creio que é uma coisa doentia, e profundamente psicológica. O Olavo [de Carvalho] continua xingando Joe Biden”.

O efeito dessa escolha pode ser muito perigoso para o país porque, neste momento, qualquer diplomacia consequente estaria tentando abrir alguma ponte com a nova administração, mas eles se agarram a Donald Trump, que está afundando. Trump está a 7 dias de deixar o cargo de presidente dos Estados Unidos e termina o mandato enfrentando um processo de impeachment. Nesta quinta-feira, 14, a Câmara começa a julgar o impedimento, que passou a contar com o apoio de congressistas republicanos. O processo deve prosseguir mesmo com o término de sua gestão.

Trump corre o risco de perder seus direitos políticos para sempre, conforme previsto na 14ª Emenda da Constituição americana. Citada no processo de impeachment, a legislação proíbe de ter cargo público qualquer pessoa que participou de insurreições ou rebeliões contra a Constituição. A desabilitação política  também será votada na Câmara e no Senado e, para ser aprovada, precisa apenas de maioria simples.

Enquanto isso, o Brasil mais uma vez se posiciona erroneamente, ao tomar partido de Trump, e não tentar uma aproximação junto ao presidente eleito Joe Biden. Ao justificar a invasão do Capitólio, Bolsonaro disse que foi por falta de confiança nos votos. Ainda subiu o tom e afirmou que algo pior pode acontecer no Brasil se o voto permanecer eletrônico em 2022.

Já o chanceler tentou colocar panos quentes, dizendo que é preciso distinguir o processo eleitoral da democracia. “Duvidar da idoneidade de um processo eleitoral não significa rejeitar a democracia. Ao contrário, uma democracia saudável requer, como condição essencial, a confiança da população na idoneidade do processo eleitoral”.

“Sozinhos no mundo”

Diante de todo o cenário, Paulo Roberto de Almeida analisa que o discurso de Ernesto Araújo durante a posse de novos diplomatas do Instituto Rio Branco, no fim do ano passado, no qual afirmou que era melhor ser um país pária do que se render ao “banquete no cinismo interesseiro dos globalistas, dos corruptos e semicorruptos”, foi uma forma de o chanceler justificar seu fracasso.

“Ernesto Araújo não tem um projeto. Aquele discurso na formatura foi uma espécie de faux pas, que revela o tremendo desconforto e pressão psicológica com todos os fracassos e crescente isolamento do Brasil. Nem europeus, nem chineses, os vizinhos regionais e os próprios americanos não querem saber de Bolsonaro e Ernesto. Ele está sozinho, no Itamaraty, no Brasil, na região e no mundo. Aquilo foi uma espécie de autojustificação para um fracasso”, destacou.

Infelizmente, a política externa equivocada de Ernesto Araújo já tem tido consequências. Na Europa, por exemplo, o presidente francês, Emmanuel Macron, prometeu trabalhar contra a importação de soja brasileira para ajudar a reduzir o desmatamento na Amazônia. A chegada do governo Biden poderia ser uma oportunidade de reformulação dessa forma de fazer política, mas não é o que deve acontecer.

https://veja.abril.com.br/blog/matheus-leitao/projeto-pais-paria-do-ernesto-araujo-continua-em-marcha/


Itamaraty: mudança na estrutura afeta uma tradição de 200 anos: "assessores" externos poderão ser designados - Bruno Carazza, Paulo Roberto de Almeida

 Bruno Carazza postou no Twitter, de onde copio, agregando um link para o decreto do governo Bolsonaro, que afetará profundamente a estrutura e o funcionamento do Itamaraty.

Paulo Roberto de Almeida

Bruno Carazza (em 13/01/2021)

“Sempre que posso eu resolvo analisar os decretos que alteram a estrutura organizacional dos Ministérios, pois eles indicam movimentos sutis no jogo de forças do governo.
No Diário Oficial de hoje, o Decreto nº 10.598 traz mudanças no Ministério das Relações Exteriores. ⬇️
2 coisas me chamaram a atenção:
1. O Instituto Rio Branco, encarregado da realização de concursos e capacitação dos diplomatas, sai da esfera da Secretaria-Geral do Itamaraty (ocupada por Otávio Brandelli) e passa a responder diretamente ao ministro Ernestro Araújo.⬇️
2. As áreas de gestão, governança e logística do MRE (inclusive licitações e contratos) deixam de ser privativas das carreiras do Itamaraty (assistentes e oficiais de chancelaria), permitindo a nomeação de servidores de outros órgãos (inclusive militares) para essas funções.⬇️
A íntegra do novo Decreto nº 10.598 pode ser obtida aqui:

Presidência da República
Secretaria-Geral
Subchefia para Assuntos Jurídicos
DECRETO Nº 10.598, DE 11 DE JANEIRO DE 2021
Vigência
Altera o Decreto nº 9.683, de 9 de janeiro de 2019, que aprova a Estrutura Regimental e o Quadro Demonstrativo dos Cargos em Comissão e das Funções de Confiança do Ministério das Relações Exteriores, remaneja funções de confiança, transforma funções de confiança e substitui cargo em comissão do Grupo-Direção e Assessoramento Superiores - DAS por Função Comissionada do Poder Executivo - FCPE.
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, no uso da atribuição que lhe confere o art. 84, caput, inciso VI, alínea “a”, da Constituição,
DECRETA:
Art. 1º Ficam remanejadas, na forma do Anexo I, as seguintes Funções Comissionadas do Poder Executivo - FCPE:
I - da Secretaria de Gestão da Secretaria Especial de Desburocratização, Gestão e Governo Digital do Ministério da Economia para o Ministério das Relações Exteriores:
a) uma FCPE 101.4;
b) quatro FCPE 101.3; e
c) uma FCPE 101.2; e
II - do Ministério das Relações Exteriores para a Secretaria de Gestão da Secretaria Especial de Desburocratização, Gestão e Governo Digital do Ministério da Economia, três FCPE 102.2.
Art. 2º Ficam transformadas, na forma do Anexo II, nos termos do disposto no art. 8º da Lei nº 13.346, de 10 de outubro de 2016, duas FCPE-2 e quatro FCPE-1 em três FCPE-3.
Art. 3º Fica substituído, na forma do Anexo III, nos termos do disposto na Lei nº 13.346, de 2016, um cargo em comissão do Grupo-Direção e Assessoramento Superiores - DAS-4 por uma FCPE-4.
Parágrafo único. Fica extinto um cargo em comissão do Grupo-DAS, conforme demonstrado no Anexo III.
Art. 4º Os ocupantes das funções de confiança que deixam de existir na Estrutura Regimental do Ministério das Relações Exteriores por força deste Decreto ficam automaticamente dispensados.
Art. 5º O Anexo I ao Decreto nº 9.683, de 9 de janeiro de 2019, passa a vigorar com as seguintes alterações:
“Art. 2º ........
I - ...................

c) Assessoria Especial de Relações Federativas e com o Congresso Nacional;
d) Consultoria Jurídica;
e) Secretaria de Controle Interno; e
f) Instituto Rio Branco;
....................................
III - ...................
g) .................................
1. Departamento Cultural e Educacional; e
2. Departamento de Comunicação Social;
.........................................
VI - ..............................................
...........................................
c) Comitê Estratégico de Tecnologia da Informação;
d) Comissão Permanente de Avaliação da Documentação Sigilosa; e
e) Comitê de Governança, Integridade, Riscos e Controles; e
.................................................” (NR)
“Art. 5º À Assessoria Especial de Relações Federativas e com o Congresso Nacional compete:
.....................................................
II - promover a articulação entre o Ministério e os Governos estaduais e municipais, as Assembleias estaduais e as Câmaras municipais, com o objetivo de assessorá-los em suas iniciativas externas e de providenciar o atendimento às consultas formuladas;
III - coordenar os Escritórios de Representação do Ministério no País; e
IV - realizar outras atividades determinadas pelo Ministro de Estado.” (NR)
“Art. 7º-A Ao Instituto Rio Branco compete o recrutamento, a seleção, a formação e o aperfeiçoamento do pessoal da Carreira de Diplomata.
Parágrafo único. O Instituto Rio Branco promoverá e realizará os concursos públicos de provas ou de provas e títulos e os cursos que se fizerem necessários ao cumprimento do disposto no caput.” (NR)
“Art. 13. ....................................................
II - coordenar e acompanhar as atividades dos órgãos da bacia do Prata e da Hidrovia Paraná-Paraguai;
III - acompanhar as atividades da Organização do Tratado de Cooperação Amazônica; e
IV - coordenar e acompanhar as atividades relacionadas com a demarcação de limites territoriais entre o Brasil e seus países vizinhos.” (NR)
“Art. 38. À Secretaria de Comunicação e Cultura compete assessorar o Secretário-Geral das Relações Exteriores nas questões relacionadas com a política educacional e cultural e com a comunicação social.” (NR)
“Art. 62-A. Ao Comitê de Governança, Integridade, Riscos e Controles, presidido pelo Ministro de Estado e integrado pelo Secretário-Geral das Relações Exteriores, pelos Secretários e pelo Chefe de Gabinete do Ministro de Estado, compete:
I - institucionalizar estruturas adequadas de governança, de gestão de riscos, de controles internos e de gestão da integridade;
II - elaborar e aprovar a política de planejamento estratégico do Ministério;
III - aprovar o Planejamento Estratégico Institucional; e
IV - promover políticas de governança, de gestão de riscos, de controles internos e de gestão da integridade no Ministério.” (NR)
“Art. 70. ....................................................
V - Chefe da Assessoria Especial de Relações Federativas e com o Congresso Nacional.
........................
“Art. 72. ...................................
II - os servidores de nível superior pertencentes às carreiras do Serviço Exterior Brasileiro poderão exercer o cargo de Chefe do Setor de Legislação de Pessoal;
III - os servidores de nível superior pertencentes às carreiras do Serviço Exterior Brasileiro ou os servidores não pertencentes às carreiras do Serviço Exterior Brasileiro, desde que portadores de habilitação técnica para o desempenho de suas funções, poderão exercer os seguintes cargos:
..........................................................
j) Assessor Especial do Ministro de Estado;
k) Coordenador de Planejamento de Contratações, Coordenador de Seleção de Fornecedores e Coordenador de Gestão de Contratos da Coordenação-Geral de Licitações e Contratos da Secretaria de Gestão Administrativa; e
l) Assistente da Coordenação-Geral de Gestão e Governança da Secretaria de Gestão Administrativa; e
IV - os servidores de nível superior pertencentes ao quadro do Ministério ou as pessoas não pertencentes àquele quadro, desde que portadoras de habilitação técnica para o desempenho de suas funções, poderão exercer os seguintes cargos:
.......................” (NR)
Art. 6º Aplica-se o disposto no art. 13 ao art. 19 do Decreto nº 9.739, de 28 de março de 2019, quanto ao regimento interno, ao registro de dados no Sistema de Organização e Inovação Institucional do Governo Federal - Siorg, à permuta entre DAS e FCPE e à realocação de cargos em comissão e funções de confiança na Estrutura Regimental do Ministério das Relações Exteriores.
Art. 7º O Ministro de Estado das Relações Exteriores publicará, no Diário Oficial da União, no prazo de trinta dias, contado da data de entrada em vigor deste Decreto, relação nominal dos titulares dos cargos em comissão e das funções de confiança a que se refere o Anexo II ao Decreto nº 9.683, de 2019, que indicará, inclusive, o número de cargos e funções vagos, suas denominações e seus níveis.
Art. 8º O Anexo II ao Decreto nº 9.683, de 2019, passa a vigorar na forma do Anexo IV a este Decreto.
Art. 9º Ficam revogados:
I - os seguintes dispositivos do Anexo I ao Decreto nº 9.683, de 2019:
a) o item 3 da alínea “g” do inciso III do caput do art. 2º;
b) o art. 41; e
c) as alíneas “a”, “b” e “c” do inciso II do caput do art. 72; e
II - o Anexo II ao Decreto nº 10.021, de 17 de setembro de 2019.
Art. 10. Este Decreto entra em vigor em 1º de fevereiro de 2021.
Brasília, 11 de janeiro de 2021; 200º da Independência e 133º da República.
JAIR MESSIAS BOLSONARO
Ernesto Henrique Fraga Araújo
Paulo Guedes
Este texto não substitui o publicado no DOU de 12.1.2021.

ANEXO I
REMANEJAMENTO DE FUNÇÕES COMISSIONADAS DO PODER EXECUTIVO - FCPE
(...)

ANEXO II
FUNÇÕES COMISSIONADAS DO PODER EXECUTIVO - FCPE TRANSFORMADAS NOS TERMOS DO DISPOSTO NO ART. 8º DA LEI Nº 13.346, DE 10 DE OUTUBRO DE 2016
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ANEXO III
SUBSTITUIÇÃO DE FUNÇÃO COMISSIONADA DO PODER EXECUTIVO - FCPE E DEMONSTRATIVO DO CARGO EM COMISSÃO DO
GRUPO-DIREÇÃO E ASSESSORAMENTO SUPERIORES - DAS EXTINTO NO PODER EXECUTIVO FEDERAL NOS TERMOS DO DISPOSTO NA LEI Nº 13.346, DE 10 DE OUTUBRO DE 2016
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ANEXO IV
(Anexo II ao Decreto nº 9.683, de 9 de janeiro de 2019)
“a) QUADRO DEMONSTRATIVO DOS CARGOS EM COMISSÃO E DAS FUNÇÕES DE CONFIANÇA DO MINISTÉRIO DAS RELAÇÕES EXTERIORES:
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b) QUADRO RESUMO DE CUSTOS DOS CARGOS EM COMISSÃO E DAS FUNÇÕES DE CONFIANÇA DO MINISTÉRIO DAS RELAÇÕES EXTERIORES:
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