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segunda-feira, 10 de maio de 2021

Ernesto mina trabalho de novo chanceler e tenta manter influência ideológica no Itamaraty - Ricardo Della Coletta (FSP)

 Nas redes, Ernesto mina trabalho de novo chanceler e tenta manter influência ideológica no Itamaraty


Folha de S. Paulo, 9.mai.2021 às 17h32
Ricardo Della Coletta

Interlocutores apontam ambições políticas como justificativa para comentários de ex-chanceler

Com uma série de publicações nas redes sociais, o ex-ministro das Relações Exteriores Ernesto Araújo e membros da ala ideológica do governo têm criado constrangimentos e minado o trabalho do novo chanceler, Carlos França.

A avaliação foi feita à Folha por interlocutores no governo Jair Bolsonaro, que consideram as recentes publicações de Ernesto um empecilho para a guinada pragmática que França tenta empreender na chancelaria.

No feriado de 1º de maio, Ernesto afirmou que a partir do ano passado, com a pandemia, uma "reação do sistema" começou a "desmantelar" esperanças geradas com a eleição do presidente Bolsonaro em 2018.

"Hoje o povo brasileiro tem a oportunidade de recuperar sua esperança, ao pedir ao presidente Bolsonaro simplesmente que ele volte a ser o presidente eleito em 2018, aquele que prometeu derrotar o sistema, o líder de uma transformação histórica e constitucional, o portador de uma missão", escreveu.

Mas antes disso Ernesto já havia feito manifestações que deixam evidente sua discordância com França, criando no Itamaraty uma situação inusitada: a de um ex-chanceler que, mesmo permanecendo na ativa na carreira, alfineta a atual gestão.

Em uma sequência de publicações em que se defendeu das acusações de que era um empecilho para a obtenção de vacinas, Ernesto disse em 17 de abril que a situação do Brasil no tema “não mudou” desde que deixou o cargo. “Ou mesmo em alguns casos sofreu adiamentos depois disso. Dificuldades seguem no mundo todo. Minha atuação não foi empecilho para nada.”

Ele também destacou que até aquele dia, desde que deixara o cargo, não tinham chegado ao Brasil novas vacinas. E atribuiu sua queda à "armação de uma falsa narrativa" para tirar o ministério das Relações Exteriores de um projeto que, segundo ele, era transformador.

Dez dias depois, em uma sequência de tuítes sobre Mercosul, Ernesto afirmou que um de seus objetivos foi resgatar o “sentimento da liberdade” nas discussões internacionais, mas sugeriu que essa meta foi abandonada.

“O mundo deixou que a ideia e o sentimento da liberdade fossem excluídos do centro das discussões internacionais. O Brasil agora quer ajudar a corrigir isso, em nível global ou regional. E o Mercosul pode fazer parte deste novo mundo com a liberdade em seu centro”, escreveu.

Ernesto é um diplomata da ativa e em tese não poderia emitir opiniões pessoais sobre a condução da política externa brasileira sem autorização.

Mas interlocutores ouvidos pela Folha opinam que França, mesmo que incomodado, não tem condições políticas de repreender seu subordinado.

Isso porque Ernesto ainda conta com apoio de Bolsonaro e do deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), filho do presidente.

Em discursos recentes, por exemplo, Bolsonaro fez questão de elogiar o ex-ministro.

A avaliação entre diplomatas é que Ernesto, alçado à posição de ídolo de movimentos conservadores e do núcleo duro do bolsonarismo, está se preparando para a disputa de um cargo eletivo no Legislativo.

Ainda de acordo com diplomatas, trata-se de uma das poucas opções do ex-ministro, uma vez que ele deixou o comando do Itamaraty sob um intenso desgaste com o Congresso. Nesse quadro, é improvável que ele consiga aval do Senado para assumir alguma embaixada no exterior, ao menos no curto prazo.

Ernesto não é o único que tenta, através das redes sociais, manter a chama do bolsonarismo viva no Itamaraty.

Recentemente, Eduardo Bolsonaro elogiou no Twitter o movimento encampado pelo presidente de El Salvador, Nayib Bukele, pelo qual o Congresso do país destituiu cinco juízes que compõem o Tribunal Constitucional, além do procurador-geral.

Bukele “tem maioria dos parlamentares em seu apoio”, escreveu Eduardo. “Agora, o Congresso destituiu todos os ministros da suprema corte por interferirem no Executivo, tudo constitucional. Juízes julgam casos, se quiserem ditar políticas que saiam às ruas para se elegerem.”

https://www1.folha.uol.com.br/mundo/2021/05/nas-redes-ernesto-mina-trabalho-de-novo-chanceler-e-tenta-manter-influencia-ideologica-no-itamaraty.shtml

quinta-feira, 6 de maio de 2021

O governo Bolsonaro está desmoronando - Celso Rocha de Barros (FSP, 3/05/2021)

Não tenho tanta certeza de que o governo esteja desmoronando. Pensei isso quando Sergio Moro pulou fora do barco, mas os bolsonaristas saíram rapidamente chamando o ex-juiz de "comunista", e se recompondo e continuando a atuar de forma quase normal.

Concordo com a maior parte do artigo, mas talvez não com este trecho: 
"O extremista Ernesto Araújo perdeu o Itamaraty e agora xinga o governo no Twitter."
Não tenho certeza de que o patético ex-chanceler acidental era um extremista, o que seria um pouco redutor para personalidade tão problemática. Para mim era um ultra-ideológico desequilibrado, incapaz de fazer de outra forma; talvez desesperado para ser aceito pelo bando de loucos, ignorantes, aloprados, e ele tinha de se rebaixar ao nível deles, para não demonstrar que os que mandavam nele eram idiotas terminais e cretinos fundamentais.
Paulo Roberto de Almeida

segunda-feira, 3 de maio de 2021

Celso Rocha de Barros – O governo Bolsonaro está desmoronando

- Folha de S. Paulo

Resta-nos confiar no que ainda temos de burocracia profissional no país

No sábado (1º), velhos vacinados pelo Doria foram às ruas em apoio a Bolsonaro. Parabéns para os chineses: os manifestantes pareciam bem fisicamente, e seus evidentes problemas mentais eram claramente preexistentes.

Mesmo a maior manifestação, no Rio de Janeiro, não reuniu mais do que quatro ou cinco dias de brasileiros mortos durante a pandemia por culpa do governo Bolsonaro. Se a ideia era dizer “se tentarem derrubar Bolsonaro, terão de se ver conosco”, ninguém ficou assustado.

A demonstração de força dos bolsonaristas fracassou, mas o que interessa é que precisaram tentá-la. Eles sabem que Bolsonaro está perdendo.

O governo dos extremistas se desfaz a olhos vistos. Pela primeira vez na história, os chefes das Forças Armadas renunciaram conjuntamente em protesto contra o presidente da República. Logo depois, o Supremo Tribunal Federal tomou coragem e cumpriu seu dever constitucional obrigando o Senado a abrir a CPI do assassinato em massa. Bolsonaro manobrou para barrar a CPI, fracassou; manobrou para tirar Renan Calheiros da relatoria da CPI, fracassou.

A equipe econômica está se desintegrando em plena luz do dia, com demissão após demissão, uma fila puxada pelos melhores que só não termina em Guedes porque existe o inacreditável Adolfo Sachsida. O extremista Ernesto Araújo perdeu o Itamaraty e agora xinga o governo no Twitter. O vice-presidente Mourão deu uma entrevista ao jornal Valor Econômico em que declarou que não deve continuar na chapa na campanha da reeleição; defendeu, inclusive, a união em torno de uma terceira via para 2022.

Não há precedente para nada disso. Todo governo brasileiro que chegou perto desse ponto caiu antes de atingir esse grau de degeneração. E, no entanto, o governo Bolsonaro não cai.

No fundo, quem sustenta o governo Bolsonaro no momento é a Covid-19. O vírus impede manifestações de rua dos 70% do eleitorado que rejeitam Bolsonaro. E a mortandade causada pelo governo está tão fora de controle que as forças que poderiam organizar o impeachment não querem assumir responsabilidade pelo número imenso de mortes que Bolsonaro já contratou.

Mas se a Covid-19 segura Bolsonaro no Planalto, também impede que seu governo seja funcional, o que, sejamos honestos, já não seria fácil de qualquer maneira. O Brasil tem um grande problema de cuja solução depende a solução dos outros, a pandemia. Foi justamente esse o problema que Jair Bolsonaro desistiu de solucionar, porque já não comprou a vacina, já sabotou o isolamento social, e, a esta altura, não saberia corrigir-se se o quisesse.

Daí em diante, não há mais governo, só a mímica da rotina administrativa, a máquina rodando no vazio. A grande realização de Bolsonaro em 2021 foi aprovar o orçamento antes de maio.

Não há mais governo, e ninguém se dispõe a derrubar quem já desistiu de governar.

Resta-nos confiar no que ainda temos de burocracia profissional, no SUS, na Anvisa, nos governos estaduais, no Butantã, na Fiocruz. Que o medo da CPI pelo menos impeça Bolsonaro de continuar atrapalhando essa gente.

Minha aposta é que, depois do governo Bolsonaro, alguma palavra do português brasileiro entrará para as outras línguas como sinônimo de desastre.

terça-feira, 30 de março de 2021

Uma carta patética de renúncia do chanceler acidental - Paulo Roberto de Almeida

 Uma carta patética de renúncia do chanceler acidental

 

Paulo Roberto de Almeida

 

 

A inacreditavelmente patética carta do ex-chanceler acidental Ernesto Araújo (reproduzida in fine), sem qualquer dúvida o PIOR ministro das Relações Exteriores de toda a história independente do Brasil – e também do curto período de ministério dos Negócios Estrangeiros português já instalado no Rio de Janeiro desde 1808 –, colocando seu cargo à disposição do chefe de governo contém unicamente falácias e inverdades, sendo todo o seu conteúdo inapelavelmente falso e ridículo, como vou demonstrar nesta nota.

Numa entrevista ao jornal O Estado de São Paulo alguns dias antes, o infeliz e desequilibrado diplomata – cujo epitáfio na tumba deveria ser: “Aqui jaz um pária” – havia dito duas únicas verdades, que o jornal não deixou de sublinhar em seu editorial desta terça-feira, 30 de março de 2021, dedicado à sua saída. Seleciono imediatamente essas únicas frases que expressam alguma verdade, para depois me dedicar a desmontar mais um instrumento da série de falsificações que o submisso funcionário de uma família de ineptos conduziu na provecta instituição também conhecida como a Casa de Rio Branco. Eis as passagens: 

“O presidente Bolsonaro tem confiança no meu trabalho. Meu trabalho não é meu, é a implementação de uma agenda de política externa que o presidente traz desde a campanha. (...) Tenho respaldo (de Bolsonaro) porque desde o começo sempre propus ao presidente maneiras de implementar as ideias dele. (...) O presidente me nomeou por causa do meu compromisso de fazer a política que ele queria, implementar as coisas que ele quer, a visão de mundo”. 

Fecho as citações dessa entrevista que precedeu os últimos desastres conduzidos pelo destrambelhado diplomata colocado como um marionete de ocasião à frente do Itamaraty, e passo a examinar sua carta-renúncia de 29/03/2021.


1) No cargo..., lutei desde o início pela liberdade e dignidade do Brasil e do povo brasileiro, pela nossa soberania e grandeza em todos os aspectos.

 

PRA: Não, rigorosamente não. Conceitos abstratos como “liberdade” e “dignidade” são usados abusivamente por qualquer um desses ditadores de opereta que infernizam a vida de tantos povos, pois que fazem exatamente o contrário, ao retirar-lhes a liberdade e qualquer resto de dignidade. O chanceler, como sofista que é, seguindo nisso seu destrambelhado guru expatriado, o Rasputin de Subúrbio refugiado no exterior, pensa que engana o distinto público ao distorcer o vocabulário. Sem tem uma coisa que ele não defendeu, mas invariavelmente se empenhou em destruir, foi a soberania e a grandeza do Brasil, ao colocar a política externa e a diplomacia a serviço de um dirigente estrangeiro, nisso adotando para si o patético slogan de seu inepto chefe, que chegou a proclamar seriamente: “I love you Trump!”

 

2) Procurei... colocar o Itamaraty a serviço do sonho de um novo Brasil.

 

PRA: Esse “sonho” do desvairado chanceler acidental foi um pesadelo para a quase totalidade dos diplomatas profissionais, que viram o Brasil diminuir a olhos vistos no cenário internacional, até ser reduzido à condição de verdadeiro pária, numa obra conjunta dirigida pelo inepto chefe de governo, sendo que o submisso chanceler acidental era vigiado de longe pelo subsofista da Virgínia e administrado de perto pelo Bananinha 03 e pelo fanático fundamentalista conhecido como Robespirralho. O que ele fez, sim, foi colocar o Itamaraty a serviço de Trump, do ex-conselheiro de Segurança Nacional John Bolton e do igualmente patético e mentiroso Secretário de Estado americano, Mike Pompeo, com os quais tratou do brancaleônico projeto de “invasão humanitária” da Venezuela, para tentar derrocar o governo Maduro. O que ele fez, de fato, foi reduzir o Brasil a um grau de subordinação automática ao governo Trump, o que jamais ocorreu em qualquer momento da Guerra Fria ou da política oficial de Estado no auge da luta contra o “comunismo mundial”. EA, na verdade, alienou completamente a soberania do Brasil a um governo estrangeiro.

 

3) Nessa luta, deparei-me... com correntes frontalmente adversas.

 

PRA: O ex-chanceler acidental é modesto: não foram apenas “correntes”. Jamais ocorreu na história da política externa uma tal unanimidade contra uma política externa subserviente e totalmente contrária aos interesses concretos do Brasil: desde o início, os mais diferentes setores da economia brasileira, da academia e da cultura, da mídia e da opinião pública em geral, alertaram contra as posturas absurdas que estavam sendo sugeridos ou implementados, e se opuseram contra as medidas mais estranhas e prejudiciais a esses interesses. Em raras ocasiões da história política do Brasil desde a independência se registrou tamanha oposição às orientações estapafúrdias do governo. 

 

4) Ergueu-se contra mim uma narrativa falsa e hipócrita, a serviço de interesses escusos nacionais e estrangeiros, segundo a qual minha atuação prejudicaria a obtenção de vacinas.

 

PRA: O ex-chanceler acidental se engana e pretende enganar novamente: todos aqueles preocupados com os reais interesses do país não deixaram de alertar o quanto a sua política externa caótica, feita de agressividade contra os que não partilham de suas teorias conspiratórias, levantou oposição em praticamente todos os setores, sobretudo quanto a ausência completa de uma política concreta de combate à pandemia, e em face da total inoperância do chanceler e do Itamaraty na mobilização de apoios a um programa de prevenção e vacinação que simplesmente não existia, e de um rotundo fracasso na obtenção de um volume suficiente de vacinas, fracasso que é igualmente partilhado com os incompetentes do Ministério da Saúde (mas que, em última instância pode ser atribuído ao negacionismo persistente do chefe de governo).

 

5) ... infelizmente, neste momento da vida nacional, a verdade não importa para as correntes que querem de volta o poder – esse poder que, durante as décadas em que o exerceram, só trouxe ao Brasil atraso, corrupção e desgraça.

 

PRA: A únicas correntes que já trouxeram, de fato, atraso (que é a volta a um tipo de anacronismo anti-iluminista), corrupção (ainda que familiar) e desgraça (e não só por causa da pandemia, mas no armamentismo, na flexibilização dos controles ambientais e do tráfico), foram e são os fanáticos do bolsonarismo mais ignorante e grosseiro, ao qual o chanceler se tem esforçado para se alinhar completamente (inclusive gritando “MITO!”, “MITO!”) e com isso se rebaixa intelectualmente, numa triste demonstração de como maças podres conseguem contaminar todas as outras. Não se tem notícias de que forças políticas adversas ao desgoverno do capitão estejam ativamente empenhados em tirá-lo do poder: nenhum das seis dezenas dos pedidos de impeachment foi sequer considerado pelo anterior ou atual presidente da CD.

E agora chegamos ao ponto alto da alucinante e alucinada carta do chanceler: 

 

6) A verdade liberta e a mentira escraviza. Hoje, a mentira é despudoradamente utilizada para um projeto materialista que visa a escravizar o Brasil e os brasileiros, a escravizar o próprio ser humano e roubá-lo de sua dignidade material e, principalmente, espiritual.

 

PRA: O infeliz e fracassado diplomata, guindado por engano e de forma fraudulenta (uma vez que EA mentiu para o presidente e para os seus patrocinadores), acredita que só ele tem o direito de distinguir entre a verdade e a mentira, o que é próprio dos egocêntricos e dos autoritários. Mas ele vai além: ele pretende que só eles podem ter o monopólio da salvação do país e da população, como se o Brasil e os brasileiros estivéssemos ameaçados a cair sob o domínio de alguma ditadura comunista, caso os ineptos do poder atual não possam impor sua versão dos fatos, a sua “verdade”. EA fez isso diversas vezes ao longo de seus infelizes dois anos à frente do Itamaraty, e não só em direção ao público interno, mas também em direção ao mundo. Ele pensa que engana o público em geral, quando suas mensagens se dirigem mais especialmente aos grupos de fiéis apoiadores do presidente atual. Numa palavra: ele é patético.

Finalmente, o chanceler acidental (e agora acidentado) conclui sua carta ao “querido Chefe”, em tom lacrimoso, dizendo que tem amor ao Brasil e ao seus povo, e que pretende continuar lutando em favor desse povo “até o fim dos meus (seus) dias”. Pode até ser, mas dificilmente ele o fará novamente nos quadros do Itamaraty ou do Serviço Exterior brasileiro, instituição que ele diminuiu sistematicamente, ao colocá-la a serviço de um pequeno grupo de aloprados, humilhando, no mesmo movimento, seus colegas profissionais de carreira. O ministério foi praticamente demolido pela desastrosa gestão do pior chanceler de toda a história independente do Brasil: o processo de reconstrução da política externa e de restauração da diplomacia será duro, lento e longo, pois que a demolição foi muito profunda, como argumentei em um livro precedente: Uma certa ideia do Itamaraty.

Se eu fosse macabro, o que não sou, eu apenas diria a EA: descanse em paz, e leve consigo seu título de pária, pois que ele não cabe ao Brasil e aos brasileiros. 

 

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 30 de março de 2021

 



sábado, 27 de março de 2021

O chanceler acidental encontrou alguém que se condói de sua situação - Autor desconhecido

Recebi de um amigo, mas de fonte não identificada (PRA) 


Obrigado Ernesto! Não esqueça suas pantufas De dentro de um taxi vazio, sai Ernesto Araújo. O indivíduo ocupando a posição de chanceler nunca chegou a ser chanceler. Se consumiu tanto na preparação e construção de uma realidade que teimava em não aparecer (ora..), e se tornou um adjetivo. Não um adjetivo como o do Barão do Rio Branco, que se tornou sinônimo de visão para o Itamaraty. Nem um adjetivo como "Lampreia", sinônimo de elegância, inteligência e conhecimento. "Ernesto" é sinônimo do vácuo,  do nada, da ausência de conhecimento do próprio papel. Completamente ativo e eficiente numa realidade paralela onde a Hungria e a Polônia são gigantes globais, Ernesto nunca entendeu o porquê nos, como sociedade e como comunidade internacional, não nos jogamos de cabeça nesse delírio. Assim, a culpa era nossa, por não embarcar numa viagem que de divertida, intelectual, brilhante e reformadora, não tinha nada. No entanto, não seremos injustos! O legado de Ernesto no Itamaraty permanecera. Talvez não como ele imaginou, mas sua passagem ensinou a duras penas à diplomatas brilhantes a sua volta, que um erro como esse não deverá nunca se repetir. Afinal, aquilo que se torna o simbolo do pior, no extremo contrário de Lampreia entre outros, também tem sua função. Não existe ranking que exalte os melhores sem um firme representante dos piores. Nisso, Ernesto sim é um chanceler. O chanceler do grupo dos fantasmas vivos que afugentou (temporariamente) a credibilidade do nosso glorioso Itamaraty.  

Por fim, não podemos analisar uma política externa que não houve. Não podemos mensurar tentativas de acerto, quando muitos acertos (mesmo partindo de dentro do Itamaraty) não envolveram Ernesto. Seu toque de Midas ao contrário pode sim ser avaliado, mas não nas execuções, pois até mas ideias precisam de alguém capaz para executá-las. Podemos avaliá-los pelas intenções e elocubracoes pseudo-intelectuais, como as de um aluno de filosofia no primeiro semestre da faculdade tentando impressionar. Essas não morrerão com sua demissão, pois Ernesto seguirá produzindo -em quantidade industrial- distorções da realidade em linguagem chula, mascarada com linguajar complexo.  Essas produções são educativas para nosso país, pois quando definimos o que é ruim, sabemos que o único caminho a seguir é longe dali. Obrigado, Ernesto. 


domingo, 14 de março de 2021

Sucesso do chanceler acidental, devidamente "interpretado" pelo cronista misterioso do Itamaraty

Sucesso absoluto de EA, a Era dos Absurdos, graças a Ereto da Brocha, o cronista misterioso do Itamaraty. Vejam vcs: postei a brochura sobre o Brasil como "pária internacional" menos de dois dias atrás, e ela já subiu para terceira posição na lista dos mais vistos, sendo que o primeiro ainda é a 2a. edição  da brochura, sob o simpático nome de "Um Ornitorrinco no Itamaraty". 

EA deve estar orgulhoso de seu sucesso, ainda que seja sob a forma da troça, da derrisão, da gozação, do sarcasmo, e isso graças ao humor, a graça, o talento literário e a ironia combinados do Batman do Itamaraty, que não conheço, mas de quem tive o prazer de editar e divulgar suas crônicas desabusadas.

Que o sucesso continue. Adelante EA, o chanceler bizarro, mostre todo o seu talento em fornecer matéria prima para os petardos contundentes do diplomata que se esconde sob o também bizarro nom de plume de Ereto da Brocha.

Paulo Roberto de Almeida


 

Title

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Um Ornitorrinco no Itamaraty: cronicas do Itamaraty bolsolavista - Ereto da Brocha (2020)

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A Constituicao Contra o Brasil: Ensaios de Roberto Campos

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O Brasil virou um paria internacional? - Ereto da Brocha, o cronista misterioso do Itamaraty (2021)

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13

81

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Permito-me referir aqui à outra brochura que também recolhe material similar, editado pela Afipea, o sindicato dos funcionários do IPEA, que também produziu uma bonita brochura com base no material que eu lhe forneci. Vejam aqui:


https://diplomatizzando.blogspot.com/2021/03/cronicas-tragicomicas-de-um-diplomata.html 


Divirtam-se, graças ao EA, o chanceler acidental da Era dos Absurdos...

Paulo Roberto de Almeida


quarta-feira, 3 de março de 2021

Chanceler acidental “desconfia” que prejudicou a diplomacia (CB)

 Ernesto Araújo diz que existe esforço para prejudicar imagem do Brasil no exterior

Em meio a informações sobre possível troca da chefia do Itamaraty, ministro convocou coletiva para fazer balanço, frisando que existe ideia equivocada de que sua gestão prejudica relações do Brasil

Correio Braziliense | 2/3/2021, 16h10

O ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, disse nesta terça-feira (2/3), que existe um esforço por parte de alguns segmentos para prejudicar a imagem do Brasil no exterior. As falas foram proferidas em entrevista coletiva de quase duas horas, na qual o ministro fez um balanço de sua gestão até o momento e falou sobre as relações do Brasil com países como China e Estados Unidos. A prestação de contas se dá em um momento no qual é ventilado com mais força a possibilidade de troca da chefia do Itamaraty.

“Fala-se que a nossa gestão prejudica a imagem do Brasil no exterior. Hoje, o que nós vemos é um esforço de algumas correntes políticas no Brasil de criar uma má imagem do Brasil no exterior”, disse. Com a formação de uma base governista no Congresso formada por partidos do Centrão, o chefe do Itamaraty passou a ter diversas críticas internas em relação à forma como conduz as relações do Brasil com outros países, como a China. No fim do mês passado, o próprio vice-presidente Hamilton Mourão indicou que Bolsonaro poderia trocar o ministro das Relações Exteriores.

Ao falar sobre essas correntes que tentam passar uma imagem ruim do Brasil, Araújo citou como exemplo uma carta de ex-ministros do Meio Ambiente enviada a países europeus, no mês passado, no qual pedem ajuda para proteger a Amazônia. Conforme o ministro, a ação produz uma imagem ruim e que afeta os interesses brasileiros, prejudicando a execução do acordo do Mercosul com a União Europeia, por exemplo. “São setores que não querem esse processo de abertura no qual estamos engajados”, disse.

De acordo com ele, esses grupos sabem que o ministério está criando “um conjunto de relações que transformam o velho sistema de corrupção, de atraso, a qual essas pessoas estão ligadas”. “Então, a meu ver, essa é a origem da questão da imagem”, disse.

Araújo pontuou que, por vezes, se vê a ideia de que a sua gestão é prejudicial aos interesses nacionais, na dimensão econômica e na diplomacia. Ele afirmou, entretanto, que houve um saldo comercial nos últimos dois anos, e apontou resultados que, segundo ele, são oriundos de uma presença muito grande do Itamaraty nas negociações comerciais e atração de investimentos. Os investimentos aumentaram em 2019, em relação a 2018, conforme o ministro, e diminuíram em 2020 devido à pandemia.

Mercosul

O ministro afirmou, ainda, que o Brasil e outros países do Mercosul estão dispostos a incluir uma declaração sobre compromisso com o meio ambiente para ratificar o acordo de livre comércio com a União Europeia. “Não queremos reabrir a negociação. Foi uma negociação complicada, complexa, e dentro desse parâmetro de não reabrir a negociação do que já está negociado, estamos prontos a abrir com a ideia da União Europeia, o que ajudaria nesse processo de ratificação”, disse.

Ernesto Araújo afirmou que já houve uma pequena declaração, de dois ou três parágrafos, em dezembro do ano passado, dizendo que o Brasil está disposto a avançar nessa área, com combate ao desmatamento, e que isso mostrou uma boa disposição pro parte do país. “Temos falado frequentemente com interlocutores europeus, da União Europeia, países membros, Portugal, outros países-chave, e sempre repetindo que estamos abertos”, afirmou.

https://www.correiobraziliense.com.br/politica/2021/03/4909696-ernesto-araujo-diz-que-existe-esforco-para-prejudicar-imagem-do-brasil-no-exterior.html


quarta-feira, 17 de fevereiro de 2021

O inacreditável "romancista" dadaista-surrealista-confusionista EA, e sua obra estrambótica - resenha de Carlos U. Pozzobon; comentário PRAlmeida

Antes da "Miséria da diplomacia", a "miséria da literatura"

Nesta mesma madrugada, para trás, fiz uma breve apreciação sobre a trajetória do nosso inacreditável chanceler acidental, como registrado nesta postagem: 

3857. “Sobre a resistível ascensão de um oportunista no Itamaraty”, Brasília, 16 fevereiro 2021, 2 p. Comentários sobre a trajetória do chanceler acidental. Divulgado no blog Diplomatizzando (link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2021/02/sobre-resistivel-ascensao-de-um.html).

 Um amigo, colega de redes sociais e grande intelectual, Carlos U. Pozzobon, teve o cuidado (e a pachorra) de postar um comentário que é uma espécie de "resenha" – se isso é possível – sobre uma das obras do dito colega diplomata, mas que eu NUNCA tive curiosidade de ler (pois fui avisado discretamente, por quem comprou ou recebeu, que "não valia a pena"). 

Devo dizer que, entre 2004 e 2020, eu resenhei praticamente TODOS os livros publicados pelos diplomatas, em todos os gêneros, e durante algum tempo passei a receber vários (mas só resenhava aqueles que eu achava que "valiam a pena"). Informo abaixo sobre essas publicações, que estão todas disponíveis aos interessados.

Transcrevo abaixo o "comentário-resenha" de Pozzobon sobre um dos livros do candidato a "Borges de Cabrobó da Serra", seguido de meu próprio comentário na postagem acima, mas que posto aqui, para tornar mais explícito este "exercício literário" tão auspicioso quanto as tiradas diárias do capitão, chefe do chanceler acidental. Não se tem notícia, ainda, de outros "romances" inspirados no desgoverno do capitão, mas o estilo é praticamente o mesmo: confuso, caótico, sem qualquer atratividade.

A sorte me poupou de receber uma dessas "obras". Mas já li toda a "produção" não literária do chanceler acidental, e afirmo que é mais ou menos no mesmo estilo. 

Paulo Roberto de Almeida


Logo que tomou posse encomendei A Porta de Mogar a partir de comentários na imprensa sobre os dotes literários do novo chanceler. Algumas semanas depois comecei a ler o pequeno livro precedido por uma dedicatória a um certo ministro (não cito o nome) pelo apoio literário que recebeu. O ministro deve ter esquecido da dedicatória e o livro foi parar em um sebo e dali nas minhas mãos.
Mas o que se pode dizer de A Porta de Mogar? Trata-se de um samba de uma nota só. Começa assim: 
“A primeira coisa é decidir o teu nome, que imagino pode ser Arétsei, já que nasceste no país de Lham, ao som do realejo do cais de Aleufar. Na verdade nasceste num domingo de janeiro, que eu voltava de uma galeria e encontrei na rua o velho Kedad, que me saudou e ofereceu-me um cigarro. Conversamos um pouco sobre a pontuação e o calendário, e decidimos passar logo ao capítulo 2”.
E de fato, termina o capítulo 1 e começa o 2. E o que diz o capítulo 2? 
“O segredo do homem é fixar limites. E descumpri-los. E dividir-se entre esses dois segredos, que são um só. 
O que se pode conhecer do segredo, senão o seu entorno físico, a paisagem que dele se avista, seu endereço? Se soubermos onde o segredo fica, já estamos sabendo um pouco o que o segredo diz?
– Como é simples – comentou Kedad.
– O que é simples?
– Está vendo? Já complicou”.

E acaba o capítulo 2. Ainda estamos na página 1 e já chegamos ao capítulo 3. 
O leitor não sabe se está na presença de um gênio, um vanguardista, um inovador ou de um idiota. Como não sou de desistir no primeiro embate, criei coragem e avancei na leitura. Depois de páginas e mais páginas, o leitor nota um traço comum: todos os nomes são esquisitos, todos os lugares estrambóticos, a paisagem é desértica, o nonsense invade cada capítulo minúsculo e o tema se repete sempre o mesmo. Parece que o chanceler pretendeu imitar Borges em Ficções no conto Tlön, Uqbar, Orbis Tertius, mas logo percebe que seu texto não diz nada com nada. 
Os personagens trocam de nomes em desfile sucessivo a cada página como Kedad, Ftob, Xirdac, e cidades ou aldeias como Alquizia, Dezlum e Gaidehob e Crechêbiu.
A cada página me pergunto: mas o que é isso? E na minha perseverança continuo atento na expectativa de que em algum momento as futilidades vão acabar, mas nada: 

Na página 52 [que também é o capítulo 52] lemos coisas assim: 
“O momento da flecha de fogo surge uma vez em cada batalha. No meio da retranca e do alarido [o livro é uma repetição de batalhas no deserto com a caracterização do tempo histórico por espadas e flechas disparadas entre tribos] sobrevém um minúsculo silêncio, como um instante de clareza no meio do sono. O capitão, se o percebe, toma o seu arco (que só serve para isso), embebe a flecha no óleo, acende-a e dispara, tal qual uma certeza pelo arco do pensar. [Noto que o arco da flecha é também o arco do pensar, mas não se trata de uma metáfora, pois fico confuso se afinal o arco do pensar é uma certeza ou o arco da flecha propriamente]. “Neste momento, apenas nesse momento, a flecha faz o efeito”. [Lindo, não? “A flecha faz o efeito”]. “Os olhos do inimigo se arregalam, e é a hora de forçar o centro de sua linha. A flecha de fogo, no momento certo, é sempre uma surpresa, para os dois lados, sabida mas inesperada”.

Essas galimatias me faz supor que o autor está bêbado, e que o pileque vai passar, mas não passa. Todo o livro foi feito para se rir do autor e não dos personagens. Ele diz bobagens enfileiradas como “uma nação se aprende na derrota”, ou “civilização é complexidade”. Fiquei desconfiado que o livro foi escrito com alguma finalidade de longo prazo, como o de disputar um lugar na ABL ao término do mandato, se abrir uma vaga entre os imortais.

Chego no capítulo 68 saturado e sôfrego:
"- Tsanash, você tem irmãos?" [Segue- se uma digressão e por fim a resposta:]
"- Tenho.
“Ao que me lembre, além do Tsanash, somente a ti te fiz essa pergunta tremenda". [É uma pergunta tremenda que deixa o leitor tremendo].

Me arrastando chego ao capítulo 86:
"Eu e Ftob ouvíamos ao longe o choque das armas e os relinchos. A primeira linha hestiaque foi rompida e a desordem se espalhou. Ftob juntou-se à tropa e me deixou sozinho. Formou-se uma segunda linha para deter os riombes, mas também foi quebrada. Para o vilarejo indiferente [pode haver indiferença no meio de uma batalha?] era apenas mais um dia úmido. Eu não enxergava nada e não entendia, sentia todos os músculos presos, como se estivesse cercado por quinhentos credores [parece incrível que no meio de uma batalha alguém se lembre dos credores], como se não houvesse nada para ser defendido. Como se eu não valesse nada, como se eu fosse um burro carregando nas costas o incômodo da vida [Pode estar aí uma autorrevelação]. Bandos dispersos de soldados fugiam, procurando esconderijo”. 
Logo adiante (88) um pirueta estonteante: "para ti não existe o amor, mas apenas amar alguém, e para mim amar alguém é apenas um exemplo do amor. Por isso não nos comunicamos"... "pensas que cada ser está preso ao seu sido". [Sido? Isso mesmo, sido].
"Toda a filosofia é um esforço para retraduzir o mundo, de tal modo a poder rasgá-lo". 

Neste caso encontrou seu destino no olavismo. Poderia ser diferente? Não há nada que se salve. O chanceler fez da literatura o que Bolsonaro fez da política. Os gênios sempre se encontram. E encerrei nocauteado no capítulo 90 que por acaso se chama “Para que servem as ideias?” 
As dele, as dele todo mundo sabe.

[Fim de transcrição]


Meu comentário à resenha acima: 

PRA: "Carlos U. Pozzobon

: É inacreditável. Acho que tenho sorte de nunca ter topado com essas aberrações nos 17 anos durante os quais fiz mini-resenhas de (quase) todos os livros publicados pelos diplomatas para o Boletim (agora Revista) da ADB: do que escapei (poderia ter desistido da missão self-assumed). 

Mas tem um que leva o nome de EA como co-autor, junto com seu chefe (meu amigo), embaixador Sergio Florencio: Mercosul Hoje (1996; 2a ed. 1999). Nunca perguntei quem fez o que, mas a resenha é positiva, nos meus requerimentos rigorosos. Está com centenas de outras resenhas, grandes e pequenas, num livro que deveria ter sido publicado pela Funag, muito antes que eu fosse diretor do IPRI: como quiseram censurar duas resenhas (ainda nos tempos do lulopetismo diplomático), me opus aos cortes e publiquei eu mesmo o livro: 

Prata da Casa (2014) e edições sucessivas, com outras organizações: Polindo a Prata da Casa; Codex Diplomaticus Brasiliensis; Rompendo Fronteiras, tudo disponível em Academia.edu. 

Quero agradecer e reconhecer o sacrifício de Carlos Pozzobon por ter enfrentado a “desinteria mental” de um dos “livros” (sic três vezes) do chanceler acidental.

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 16/02/2021


quinta-feira, 14 de janeiro de 2021

Governo Biden coloca em xeque futuro de Ernesto Araújo como chanceler - UOL notícias

Governo Biden coloca em xeque futuro de Ernesto Araújo como chanceler
UOL Notícias | Últimas Notícias, 14/02/2021

Joe Biden, eleito novo presidente dos Estados Unidos, toma posse no próximo dia 20. Com ele, chega a incerteza de como o Brasil comandará a sua política externa nos próximos anos. O chanceler brasileiro, Ernesto Araújo, é o expoente de uma política alinhada a Donald Trump. Com a saída do aliado do poder no país vizinho, o ministro pode não sobreviver ao cargo.

Após os frequentes ataques de Jair Bolsonaro (sem partido) ao novo presidente americano, será preciso um sinal de paz se o país quiser continuar com uma relação amigável com os EUA. Um grande sinal de mudança de tom na política externa seria a demissão do atual ministro de Relações Exteriores, indicam especialistas ouvidos pelo UOL.

"A gente nunca tinha tido um chanceler declaradamente fã de um presidente americano dessa forma, a ponto de chamá-lo de a 'última esperança' do mundo ocidental e coisas do tipo. Então a situação do Ernesto é muito complicada", explica o professor da FGV (Fundação Getúlio Varga), Guilherme Casarões.

Chanceleres já caíram por muito menos na história do Brasil." Guilherme Casarões, professor da FGV.

Araújo se tornou chanceler com a promessa de trazer uma "nova política externa" ao Itamaraty -- uma política de alinhamento automático aos Estados Unidos e contra o globalismo. Porém, para analistas em relações internacionais, o alinhamento na verdade foi ao presidente Trump, o que se provou problemático especialmente após suas ações nos últimos dias no cargo.

Para Ernesto e a ala chamada ideológica do governo Bolsonaro, Biden é um globalista, já que defende as instituições internacionais como a ONU (Organização Mundial da Saúde). Portando, seria um "inimigo" desse grupo. Com Biden agora no poder, será necessário repensar essa política externa proposta pelo chanceler.

Caso haja a vontade do governo de corrigir essa rota e manter o que o próprio governo traçou que é um alinhamento aos Estados Unidos, a troca de ministros certamente terá um impacto positivo rápido. Seria uma forma bastante viável de resolver a questão." Pedro Feliú, professor de Relações Internacionais da USP (Universidade de São Paulo)

A dúvida, no entanto, é qual sinal Bolsonaro pretende passar para o novo governo americano. Os setores não ideológicos do governo, como agronegócio, indústria e demais elites econômicas devem pressionar o presidente para manter uma boa relação com os EUA e até pela troca de chanceler. Não se sabe se ele atenderá.

Pressões no passado já funcionaram para derrubar ministros inclusive ideologicamente alinhados a Bolsonaro. O principal exemplo neste caso é o ex-ministro da Educação, Abraham Weintraub.

"Eu esperava que o presidente tivesse já a essa altura sinalizando uma troca de chanceler para fortalecer uma ala mais pragmática", diz o coordenador do curso de Relações Internacionais da FGV, Eduardo Mello. "Mas o presidente não fez isso, pelo menos não até agora e não deu sinais de que está pronto para fazer isso. É espantoso e vai ter um custo enorme para o Brasil."

As críticas a Araújo também abordam sua atuação como chanceler, que não tem sido de protagonismo nas relações exteriores do Brasil. "Como chefe da diplomacia, ele deveria ter feito um trabalho minimamente diplomático para garantir que o governo brasileiro não entrasse no novo governo americano com o pé esquerdo. E não foi isso que ele fez", lembra Casarões.

Na posse do dia 20, Ernesto Araújo estará de férias. Um despacho publicado na terça-feira (12) no Diário Oficial da União informou que ele se ausentará do dia 16 ao dia 22 da semana que vem.

Mourão a frente da diplomacia

Outra possibilidade levantada pelos especialistas é de que Ernesto não seja removido do cargo, mas perca ainda mais a sua relevância nos assuntos internacionais. Nesse sentido, o vice-presidente Hamilton Mourão seria um candidato a assumir a tarefa.

O Mourão tentou ocupar espaço, foi vetado pelo Bolsonaro. Mas numa lógica de correção de rota é muito mais provável que a vice-presidência tenha um papel mais relevante que o ministro." Pedro Feliú, professor de Relações Internacionais da USP

Porém, segundo o professor da USP, um ponto a favor de Araújo em comparação com Mourão é a baixa possibilidade de o atual chanceler representar uma ameaça eleitoral a Bolsonaro.

UOL já mostrou como o Itamaraty é utilizado pelo governo como plataforma eleitoral e Araújo não rouba o protagonismo do presidente. Mourão, por outro lado, já foi advertido por Bolsonaro outras vezes por ganhar destaque demais. Ministros como Sérgio Moro e Luiz Henrique Mandetta caíram justamente por ameaçar politicamente o presidente.

Ricardo Salles também na corda-bamba

Outro ministro do governo que ficaria por um fio durante o governo de Joe Biden seria Ricardo Salles, líder da pasta de Meio Ambiente. Segundo especialistas, a questão ambiental será central no novo governo americano e é onde ele bate de frente com o Brasil.

"Assim como o Araújo, o Salles representa a ala mais ideológica e que tem que ser trocado se o Brasil quiser fazer controle de danos e administrar essa situação", diz Eduardo Mello. "Se quiser abrir canais com os democratas, facilitaria muito tirar o Salles e colocar uma pessoa que tem algum trânsito com a questão ambiental".

Já nos debates presidenciais o então candidato democrata chegou a citar o Brasil como má exemplo de gestão da Amazônia devido às queimadas. Salles, por outro lado, é visto como um ministro negacionista das mudanças climáticas e que vai contra as políticas ambientais democratas.

O Ricardo Salles é a cara da área mais sensível hoje do governo brasileiro, que é justamente a questão ambiental. E essa é a prioridade absoluta do governo americano. Ou Ricardo Salles modera o seu discurso, o que eu pessoalmente acho improvável a essa altura do campeonato, ou ele é demitido também." Guilherme Casarões, professor da FGV.

Assim como Araújo, o que pode contar a favor do ministro é a baixa ameaça eleitoral para Bolsonaro em 2022, além da forte proximidade ideológica com o presidente. Isso garantia a permanência do cargo, mas ainda poderia jogá-los na irrelevância.

"No caso dos ministros, o Ricardo Salles [Meio Ambiente] e o Araújo cumprem bem esse papel. Eles, politicamente, não ameaçam o Bolsonaro. Eu acho que eles têm esses dois fatores favoráveis: a proximidade ideológica e não ameaça política. Então isso pode garantir ainda um pouco a sustentabilidade deles", diz Pedro Feliú.

segunda-feira, 14 de dezembro de 2020

A Estranha Metamorfose de EA, 1 (novela distópica)

 A Estranha Metamorfose de EA

(novela distópica)

Um dia, pela manhã, EA acordou sobressaltado, mas não saiu logo da cama. Estava tomado por certa sensação febril, não tinha vontade de levantar-se para iniciar a mesma rotina diária de todos aqueles anos. Ainda deitado, mas olhando para o teto, não teve vontade, nem disposição para calçar os chinelos, ao pé da cama, ir ao banheiro, completar a rotina matutina, tomar o café da manhã e sair para o trabalho. Não que o corpo pesasse, ou que apresentasse qualquer mudança estranha, fisiológica, isso não. Tudo parecia em ordem com os seus braços e pernas, com as costas e a cabeça, nada diferente, tudo parecia conforme ao que sempre fora, desde que saiu da juventude para a maturidade, e continuava antenado nas mesmas coisas de sempre: o trabalho, regular, aborrecido, mas de vez em quando uma nova tarefa, os livros no mesmo lugar, as roupas sóbrias de sempre, nada parecia predispô-lo a uma grande mudança.

E, no entanto, sentia que era chegada a hora de adotar uma nova atitude, operar uma verdadeira metamorfose em sua vida, começar a se comportar como realmente queria, não como os outros, os colegas, os amigos, os professores e os chefes queriam que ele fosse: um funcionário cumpridor dos seus deveres, sempre engajado no mesmo processo, nas mesmas rotinas, fazendo sempre o que lhe era demandado, e o que diziam que era o certo, mesmo não entendendo bem porque teria de ser daquela maneira, e não de outra, de acordo ao seu verdadeiro ser, a coisa em si, o mundo como ele achava que deveria ser, de acordo com a sua vontade, não o mundo como representação, de acordo com a vontade dos outros.

Ainda deitado na cama, e fitando o teto, resolveu tomar de coragem para começar a sua metamorfose: não mais seria como eles queriam que ele fosse, e sim seria como estava decidido a ser, o seu verdadeiro eu interior, aquele que tinha brotado da figura paterna, austera, responsável, temente a Deus, mas que tinha ficado submerso naquele universo de seres enquadrados na verdade do momento, que tinha de ser apenas figuração, porque na faculdade eram assim, e no trabalho também, todos convergentes para um universo espiritual com o qual não estava de acordo, mas com o qual tinha de concordar, tinha de aceitar, para não ser o discordante, o diferente, o verdadeiro.

Foi ainda deitado que começou a remontar o pensamento que lhe havia aflorado à mente quando se deitou para dormir, e que aparentemente ficou remoendo entre um sonho e outro, até que acordou com aquela sensação febril. Mas era uma febre diferente: em lugar de abatê-lo, de enfraquecê-lo, ela encheu-o de força, de vontade, e foi assim que decidiu assumir plenamente a mudança, em direção do seu verdadeiro eu, sua metamorfose. 

Levantou-se da cama com energia, esqueceu até de calçar os chinelos, e foi até o telefone e chamou aquele que lhe tinha sugerido, na noite anterior, que deixasse toda aquela figuração de lado, aquelas duas décadas e meia de representação, de falsa conformidade, de hipocrisia, ao ter de servir ideias, homens e políticas com as quais não concordava, e que assumisse de uma vez a sua personalidade real, aquela legada por seu pai, e que correspondia aos seus sentimentos profundos.  Disse, rapidamente, que tinha pensado muito naquilo, e que concordava, que estava decidido a anunciar uma nova etapa de vida, juntar-se ao movimento, para salvar o país da opressão  e da mentira. Estava pronto, afinal. Disse que se arrumaria rapidamente e que poderiam combinar um encontro, naquela mesma manhã, para conversar sobre a melhor maneira de efetivar sua metamorfose. 

(Continua…)