O que é este blog?

Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

quinta-feira, 15 de julho de 2021

Cuba: antes e depois da revolução de Fidel, destruidora da economia - Jayro Longuinho de Franco

Recebido de um amigo do FB, dando o crédito a quem parece merecer...


 Como se sabe, os admiradores da Revolução Cubana costumam pintar um falso quadro da Perla del Caribe, tanto no que se refere a antes de 1959, como no que se refere a depois desta data da grande mudança levada a cabo por El Coma Andante Fidel Castro y los barbudos.

Jayro Longuinho de Franco

Em 1959, Cuba era um país semi-industrializado, mas com um padrão razoável de vida, graças ao intenso turismo com seus magníficos cassinos e suas belas praias. É verdade que ainda tinha grandes bolsões de pobreza, principalmente nas suas grandes fazendas de cana-de-açúcar e de tabaco.

Depois de 1959, Cuba continuou um país semi-industrializado, tendo sua produção agrícola subsidiada pela URSS em troca de produtos industrializados soviéticos. O fato é que a URSS nada fez para promover a industrialização da Ilha.

[Revoluções comunistas só ocorreram, até hoje, em países semiagrários ou semi-industrializados, como Rússia, China, Coreia do Norte, Cuba, países africanos, etc., só para contrariar Karl Marx, o profeta caolho, que aguardava a revolução em países capitalistas avançados, como a Inglaterra e a Alemanha].

Com a dissolução da URSS quarenta anos depois (1989), a situação socioeconômica de Cuba piorou, mas em breve tempo continuou sendo salva da desgraça completa, graças aos petrodólares de Hugorila Chávez.

E hoje parece ter ganho um novo alento com o restabelecimento diplomático feito pelo socialista Barack Obama abençoado por um Papa igualmente socialista. No entanto, é bastante duvidoso que o fim do bloqueio comercial – ainda não aprovado pelo Congresso Americano – venha a produzir um grande desenvolvimento socioeconômico em Cubanacan, misterioso país del amor.

Iremos apresentar em seguida um breve relato dos pontos positivos de Cuba antes da Revolução de 1959. Ao lê-lo, o leitor certamente será levado a perceber que Cuba ficou muito pior do que estava antes de 1969 e que perdeu todas as expectativas que tinha de um futuro promissor.

“A primeira nação da América espanhola, incluindo a Espanha e Portugal, que utilizou máquinas e barcos a vapor foi Cuba, em 1829. A primeira nação da América Latina e a terceira no mundo (atrás da Inglaterra e dos EUA), a ter uma ferrovia foi Cuba, em 1837. Foi um cubano que primeiro aplicou anestesia com éter na América Latina em 1847. A primeira demonstração, em nível mundial, de uma indústria movida a eletricidade foi em Havana, em 1877.

Em 1881, foi um médico cubano, Carlos J. Finlay, que descobriu o agente transmissor da febre amarela e definiu sua prevenção e tratamento. O primeiro sistema elétrico de iluminação em toda a América Latina (incluindo Espanha) foi instalado em Cuba, em 1889. Entre 1825 e 1897, entre 60 e 75% de toda a renda bruta que a Espanha recebeu do exterior veio de Cuba. Antes do final do Século XVIII Cuba aboliu as touradas por considerá-las “impopulares, sanguinárias e abusivas com os animais”.

O primeiro bonde [elétrico] que circulou na América Latina foi em Havana em 1900. Também em 1900, antes de qualquer outro país na América Latina, foi em Havana que chegou o primeiro automóvel.

A primeira cidade do mundo a ter telefonia com ligação direta (sem necessidade de telefonista) foi em Havana, em 1906. Em 1907, estreou em Havana o primeiro aparelho de Raios-X em toda a América Latina. Em 19 maio de 1913, quem primeiro realizou um voo em toda a América Latina foram os cubanos Agustin Parla e Rosillo Domingo, entre Cuba e Key West, que durou uma hora e quarenta minutos.

O primeiro país da América Latina a conceder o divórcio a casais em conflito foi Cuba, em 1918. O primeiro latino-americano a ganhar um campeonato mundial de xadrez foi o cubano José Raúl Capablanca, que, por sua vez, foi o primeiro campeão mundial de xadrez nascido em um país subdesenvolvido. Ele venceu todos os campeonatos mundiais de 1921-1927

Em 1922, Cuba foi o segundo país no mundo a abrir uma estação de rádio e o primeiro país do mundo a transmitir um concerto de música e apresentar uma notícia pelo rádio. A primeira locutora de rádio do mundo foi uma cubana: Esther Perea de la Torre.

Em 1928, Cuba tinha 61 estações de rádio, 43 delas em Havana, ocupando o quarto lugar no mundo, perdendo apenas para os EUA, Canadá e União Soviética. Cuba foi o primeiro no mundo em número de estações por população e área territorial.

Em 1937, Cuba decretou pela primeira vez na América Latina, a jornada de trabalho de 8 horas, o salário mínimo e a autonomia universitária. Em 1940, Cuba foi o primeiro país da América Latina a ter um presidente da raça negra, eleito por sufrágio universal, por maioria absoluta, quando a maioria da população era branca. Ela se adiantou em 68 anos aos Estados Unidos. Em 1940, Cuba adotou a mais avançada Constituição de todas as Constituições do mundo.

Na América Latina foi o primeiro país a conceder o direito de voto às mulheres, igualdade de direitos entre os sexos e raças, bem como o direito das mulheres trabalharem.

O movimento feminista na América Latina apareceu pela primeira vez no final dos anos trinta em Cuba. Ela se antecipou à Espanha em 36 anos, que só vai conceder às mulheres espanholas o direito de voto, o de posse de seus filhos, bem como poder tirar passaporte ou ter o direito de abrir uma conta bancária sem autorização do marido, o que só ocorreu em 1976.

Em 1942, um cubano se torna o primeiro diretor musical latino-americano de uma produção cinematográfica mundial e também o primeiro a receber indicação para o Oscar norte-americano. Seu nome: Ernesto Lecuona. O segundo país do mundo a emitir uma transmissão pela TV foi Cuba em 1950. As maiores estrelas de toda a América, que não tinham chance em seus países foram para Havana para atuarem nos seus canais de televisão.

O primeiro hotel a ter ar condicional em todo o mundo foi construído em Havana: o Hotel Riviera em 1951. O primeiro prédio construído em concreto armado em todo o mundo ficava em Havana: o Focsa, em 1952. Em 1954, Cuba tem uma cabeça de gado por pessoa. O país ocupava a terceira posição na América Latina (depois de Argentina e Uruguai) no consumo de carne per capita. Em 1955, Cuba é o segundo país na América Latina com a menor taxa de mortalidade infantil (33,4 por mil nascimentos).

Em 1956, a ONU reconheceu Cuba como o segundo país na América Latina com as menores taxas de analfabetismo (apenas 23,6%). As taxas do Haiti eram de 90%; e Espanha, El Salvador, Bolívia, Venezuela, Brasil, Peru, Guatemala e República Dominicana, 50%. Em 1957, a ONU reconheceu Cuba como o melhor país da América Latina em número de médicos per capita (1 por 957 habitantes), com o maior percentual de casas com energia elétrica, depois do Uruguai; e com o maior número de calorias (2870) ingeridas per capita.

Em 1958, Cuba é o segundo país do mundo a emitir uma transmissão de televisão a cores. Em 1958, Cuba é o país da América Latina com maior número de automóveis (160.000, um para cada 38 habitantes). Era quem mais possuía eletrodomésticos. O país com o maior número de quilômetros de ferrovias por km2 e o segundo no número total de aparelhos de rádio. Ao longo dos anos cinquenta, Cuba detinha o segundo e terceiro lugares em internações per capita na América Latina, à frente da Itália e mais que o dobro da Espanha.

Em 1958, apesar da sua pequena extensão e possuindo apenas 6,5 milhões de habitantes, Cuba era a 29ª economia do mundo. Em 1959, Havana era a cidade do mundo com o maior número de salas de cinema: 358, batendo Nova York e Paris, que ficaram em segundo lugar e terceiro, respectivamente.

E depois o que aconteceu? Veio a Revolução comunista com seus amigos absolutistas.” 

Jayro Longuinho de Franco, colhido na Internet.

O grande ECOCIDA - Claudio Angelo (Blog da Companhia)

 O jornalista que primeiro detectou que o antiministro do 1/2 ambiente era um ECOCIDA relembra nesta matéria incontornável todos os seus alertas sobre o criminoso que fez mais mal ao Brasil, interna e externamente, do que o patético e pateta do ex-chanceler acidental: Ernesto era apenas ridiculo em suas investidas contra o dragão do comunismo. Salles destruiu o meio ambiente no Brasil, tudo isso a mando do degenerado, genocida e ecocida que lhe encomendou o serviço. Ambos merecem cadeia brava.

Paulo Roberto de Almeida


Ricardo e eu

Claudio Angelo

Da Casa, 14 de Julho de 2021 às 16:20

 

Jamais senti por outro homem o que senti por Ricardo. Ele fazia meu coração disparar como se fosse sair pela boca. Me dava descargas de adrenalina. Ver seu rosto me causava aquela coisa no estômago que a gente tem quando alguém mexe demais com a gente. Depois de um certo tempo, eu tremia só de ouvir sua voz. Minhas mãos suavam. Minha respiração se alterava. Ricardo me virou do avesso. Me deixou prostrado. Me adoeceu.

Não é para me gabar, mas eu já odiava Ricardo antes de isso virar modinha. Anos antes de Alexandre armar aquele barraco com ele em público. Muito antes de jornalistas equilibrados perderem a linha e o chamarem de “sinistro” no Twitter. Muito antes de a imprensa estrangeira se referir a ele como bête noire e de representantes de outras nações pedirem às suas equipes para checar os bolsos depois de reuniões com ele. Antes de o #ForaRicardo virar trending topic. Os neófitos que me perdoem, mas eu faço parte de um seleto grupo de pessoas que não se deixaram enganar por Ricardo nem por um segundo.

Paguei um preço por minha consistência. No dia em que Ricardo foi nomeado, em dezembro de 2018, e minha organização precisou emitir uma nota pública a respeito, um colega achou demais chamá-lo de “ecocida” assim, de cara. Me fez cortar a palavra da nota. Uma pessoa que eu então admirava me fez uma crítica pública pelo tom “agressivo” que eu e Carlos imprimíramos à comunicação da organização sobre Ricardo. André me pediu para “apagar o lança-chamas”. Cláudio perguntava se não estávamos exagerando. Era começo de governo, argumentava-se, e era preciso dar a Ricardo o benefício da dúvida. Bem ou mal, era o que tinha para hoje, era preciso sentar para negociar, não dava para explodir pontes etc. etc.

Só que eu tinha uma bola de cristal. Ela se chamava Maurício Tuffani.

Tuffa, como o chamávamos, era um jornalista experiente que cobriu com régua e compasso as aprontações de Ricardo quando este ocupou a secretaria de Meio Ambiente de seu Estado. Ouviu pesquisadores, servidores públicos, procuradores, levantou documentos ocultos e mostrou, numa série de reportagens, que Ricardo trabalhara consistentemente para desmontar a secretaria de Meio Ambiente em favor de interesses de industriais, mineradores, incorporadoras. O secretário acumulara uma série de inquéritos no Ministério Público até ser pressionado pelo próprio partido (o PP, daquele outro Ricardo) a entregar o cargo, em agosto de 2017. Em dezembro de 2018, foi condenado em primeira instância por improbidade administrativa num processo por fraude ambiental – e feito ministro mesmo assim, apesar de a sentença lhe cassar os direitos políticos por três anos. Não era preciso ter lido Keynes três vezes no original para entender que, ao escalar Ricardo para um ministério que ele desejava fechar, Jair esperava que ele entregasse a segunda melhor coisa possível: desossar a pasta até que, na prática, ela virasse uma casca vazia.

Ricardo cumpriu a missão com louvor. Com o passar dos meses, foi mostrando mais claramente a que viera. Antes de maio de 2019, quando chamou uma coletiva para supostamente denunciar as ONGs por corrupção com o Fundo Amazônia e foi desmentido por ninguém menos que a Controladoria-Geral da União, meus críticos já estavam todos no meu time (à exceção da pessoa que não nomearei, que até hoje não entendeu que a gramática do poder mudou no Brasil). Um diplomata estrangeiro me agradeceu por ter sido a primeira pessoa a alertá-lo sobre com quem ele estava lidando.

Nesse meio-tempo Ricardo me ligou. Eu havia acabado de publicar um artigo sobre ele numa revista de grande circulação, na semana em que ele confessou ao país não saber quem era Chico Mendes e nunca ter lido um livro sobre meio ambiente. Era uma manhã de sábado e eu estava dirigindo quando o celular tocou, a caminho de uma cidade onde fiquei o dia todo sem conexão. Não retornei. Jamais soube o que ele queria.

Em junho, no dia de seu aniversário, Ricardo me levou às lágrimas ao conseguir um feito que todos os observadores da área ambiental no Brasil julgavam impossível: reunir presencialmente sete ex-ministros do Meio Ambiente em São Paulo. Todos denunciaram o desmonte que ele estava promovendo no edifício da governança ambiental brasileira, que desde 1988, com mais ou menos ênfase, vinha sendo construído e aprimorado. Eram pessoas de estilos e formações ideológicas distintas, que em diversas ocasiões já haviam quebrado o pau publicamente. Botar Marina e Izabella numa mesma foto não é para qualquer um. Ricardo conseguiu, ao ameaçar o legado de ambas. Elas descobriram que há muito mais a uni-las do que a separá-las.

Mais do que tudo o que ele fazia, o que me tirava do prumo com Ricardo era a maneira como fazia. O sujeito era tão bom de retórica que poderia estar rico trabalhando honestamente como advogado. Mentia e inventava dados sem enrubescer, a ponto de ter me obrigado a criar um site para checar seus discursos e suas entrevistas. Era um ignorante orgulhoso, um sofista de primeira linha, um mestre da erística como poucos que este país já viu. Todas as vezes que foi convocado a dar explicações no Congresso Ricardo passeou em cima de deputados e senadores – exceto em uma, numa sessão comemorativa ao Dia do Meio Ambiente no Senado, em que foi vaiado, chamado de mentiroso pela plateia e fugiu.

A maneira como manipulava a imprensa mereceria uma disciplina inteira nas faculdades de jornalismo. Primeiro, amordaçou todos os órgãos vinculados ao ministério para que toda a informação sobre a política ambiental federal fosse transmitida exclusivamente por ele. Ensinou o governo de Jair a não responder à imprensa quando questionado, para poder “dar título”, como dizemos, duas vezes no jornal: uma quando levava a paulada e outra quando, no dia seguinte, chamava os jornalistas para dar sua versão dos fatos e dizer que nada do que fora publicado era verdade. Escolhia os profissionais aos quais dava “furos” sobre sua não-gestão (factoides que nunca foram implementados) entre os que tinham muito prestígio nas redações e nenhuma ideia sobre o que era a área ambiental. Até que parassem de cair na patranha se passaram dois anos, e Ricardo conseguiu gerar muito “buzz” na mídia.

Ele era como um mestre de aikidô, a arte marcial em que se usa a força do adversário para derrubá-lo: aproveitava-se dos cânones de trabalho do jornalismo e dos hábitos arraigados dos jornalistas (sempre ouvir o outro lado, buscar acesso a informações privilegiadas junto a pessoas que detêm o poder, entender que tudo o que vem de governo, a princípio, é notícia) para usar a imprensa a seu favor. Funcionou: nunca na história tantos brasileiros souberam o nome e o sobrenome do ministro do Meio Ambiente. O propósito de Ricardo era ficar conhecido para se candidatar a algum cargo eletivo. Sua última campanha para deputado federal, em 2018, aquela em que prometia balas de fuzil contra “a esquerda e o MST”, não tinha dado muito certo.

A casa de Ricardo caiu em junho de 2021. A metafórica, não a da rua Honduras. Franco mandou dar uma batida em sua residência, Alexandre autorizou a quebra de seus sigilos, o outro Alexandre o denunciou para Cármen, que mandou apreender seu passaporte. Ricardo se foi enfim em 23 de junho, mas nos deixou o amigo Joaquim no seu lugar e um ministério que precisará ser reconstruído quase do zero em 2023 – isso se Arthur não derrubar todas as leis ambientais do país até lá. Tuffa, infelizmente, não pôde testemunhar o grande dia: morreu em 31 de maio, aos 63 anos. Ricardo submerge agora, mas anote aí: ele voltará em 22. Se estiver solto.

Nos últimos dias até pensei em ligar para Ricardo, mandar um “oi sumido”, saber como ele vai e perguntar, afinal, o que ele queria comigo naquele sábado de manhã nublado de 2019. Mas aí lembrei que ele está sem telefone: o celular cujo número tenho anotado até hoje aqui, com a foto de Ricardo e seus indefectíveis oclinhos de tartaruga, está na mão da Polícia Federal, sendo periciado nos Estados Unidos. Quem sabe eu não levo uns cigarros para ele qualquer dia desses onde quer que ele esteja.


Claudio Angelo nasceu em Salvador, em 1975. Foi editor de ciência do jornal Folha de S.Paulo de 2004 a 2010 e colaborou em publicações como Nature, Scientific American e Época. Foi bolsista Knight de jornalismo científico no MIT, nos Estados Unidos. Lançou, em 2016, pela Companhia das Letras o livro A espiral da morte, sobre os efeitos do aquecimento global, ganhador do Prêmio Jabuti na categoria Ciências da Natureza, Meio Ambiente e Matemática.

#ForaRicardo

Dida Sampaio/Estadão Conteúdo

 

Vasco Leitão da Cunha: laços diplomáticos entre Brasil e União Soviética durante a ditadura - Lourival Santana (OESP)

 Livro revela laços diplomáticos entre Brasil e União Soviética durante a ditadura

        
Lourival Sant'Anna
O Estado de S. Paulo, 14 de julho de 2021 | 14h35


A União Soviética pressionou em 1964 o recém-instalado regime militar a não abrigar no Brasil um governo cubano no exílio, de oposição a Fidel Castro. A revelação está no novo livro do diplomata brasileiro Henri Carrières, “A gestão de Vasco Leitão da Cunha no Itamaraty e a Política Externa Brasileira”, que reúne, em dois volumes, 170 documentos do período entre 1964 e 1965, muitos deles originalmente sigilosos.

Na insólita data de 30 de dezembro de 1964, o diplomata Celso Diniz, chefe da Divisão de Europa Oriental no Itamaraty, foi convidado para um almoço na embaixada soviética.

De acordo com memorando secreto assinado por Diniz, o embaixador da URSS no Brasil, Andrei Fomin, “declarou-se seriamente preocupado com as especulações ultimamente veiculadas pela imprensa brasileira sobre a possibilidade de constituição de um governo cubano no exílio, com sede no Brasil”.

Fomin advertiu que “tal iniciativa seria certamente interpretada como uma agressão ao campo socialista, com gravíssimas repercussões internacionais”.
Se isso se concretizasse, “os países socialistas poderiam ver-se compelidos, por força do princípio de solidariedade, a interromper suas relações com os países que viessem a apoiar tal governo no exílio, e mesmo a tomar outras medidas mais sérias, em retaliação”.

O chanceler Leitão da Cunha havia se reunido em 17/12/1964, em Washington, com o ex-presidente cubano Carlos Prío Socarrás, que “exortou o Brasil a reconhecer um governo cubano no exílio”. Socarrás foi deposto em 1952 por Fulgencio Baptista, por sua vez derrubado pela Revolução Cubana em 1.º de janeiro de 1959. Leitão da Cunha conhecia bem Cuba: ele era embaixador em Havana na época da revolução, pela qual manifestou simpatia, inicialmente. E chegou a desenvolver certa proximidade com Fidel Castro.

Em entrevista publicada em 2/3/1965 pelo jornal mexicano La Prensa, Leitão da Cunha declarou, a propósito do possível reconhecimento de um governo de exilados cubanos, que “estudaria a solicitação com o critério de um governo revolucionário, que lutou contra o comunismo no Brasil e tem reafirmado sua posição contrária à permanência do comunismo em nosso continente”.

Duas semanas depois, em entrevista ao Jornal do Brasil, o escritor Rubem Braga criticou o chanceler pela “dúbia complacência com que ele encara a possibilidade de se instalar no Brasil um governo cubano de exílio”.

Durante a reunião, antes de fazer a advertência, “o embaixador Fomin se referiu à Revolução brasileira de 31 de março, reafirmando tratar-se de problema exclusivamente brasileiro e que seu país, como tem feito até aqui, se absterá de intervir, sob qualquer forma ou pretexto, no processo político brasileiro, esforçando-se, ao contrário, para melhorar e aperfeiçoar suas relações com o Brasil, em todos os terrenos”.

O golpe militar teve como objetivo declarado evitar que o Brasil sucumbisse ao comunismo e se tornasse mais um satélite da União Soviética, a exemplo do que havia acontecido com Cuba. Entretanto, o governo brasileiro demonstrou preocupação em não romper com a chamada Cortina de Ferro.

Mais que isso, houve uma decepção gradual com a falta de engajamento dos Estados Unidos nas questões latino-americanas, enquanto a Guerra do Vietnã consumia as energias das políticas externa e de defesa americana. “A realidade do relacionamento não se mostrou à altura das expectativas do governo brasileiro”, observa Carrières.

Em 1965, o presidente Humberto Castello Branco chamou de volta ao Brasil o embaixador em Washington, Juracy Magalhães, político experiente e muito alinhado com o governo. Acomodou-o por breve período no Ministério da Justiça e, em seguida, no Itamaraty. Para compensar Leitão da Cunha, de quem gostava pessoalmente, Castello Branco ofereceu-lhe a Embaixada em Washington. Além de ser uma figura de grande prestígio, Leitão da Cunha tinha boas relações com a equipe do presidente americano, Lyndon Johnson.

Ou seja, Leitão da Cunha e Magalhães fizeram um roque. Ambos acreditavam na necessidade de estreitar relações com os Estados Unidos, analisa Carrières, formado em história pela Universidade Federal Fluminense, com parte da graduação cursada na Universidade Paris VII, e hoje servindo justamente na embaixada do Brasil em Washington.

Ao mesmo tempo, numa amostra da dupla estratégia da política externa da época, Magalhães foi um entusiasta da viagem a Moscou do então ministro Roberto Campos, ícone do pensamento liberal e avô do atual presidente do Banco Central.

Em 11/9/1965, Magalhães disse ao presidente Castello Branco, no Palácio das Laranjeiras: “A missão do ministro do Planejamento em Moscou será, por certo, muito proveitosa. Tanto, talvez, quanto a missão Fulbright, que veio introduzir elementos novos na dinamização das nossas relações com os EUA”.

No auge da Guerra Fria, mesmo tendo maior convergência com os Estados Unidos, o regime militar não deixou de cuidar de seus interesses na relação com a superpotência soviética. E vice-versa: a URSS também cultivou o relacionamento com o Brasil.

A versão em PDF do livro está disponível gratuitamente nesse link: http://funag.gov.br/biblioteca-nova/produto/37-1151-1

https://internacional.estadao.com.br/blogs/lourival-santanna/livro-revela-lacos-diplomaticos-entre-brasil-e-uniao-sovietica-durante-a-ditadura/


ISBNs solicitados para livros de Paulo Roberto de Almeida, 2020-21

 ISBNs solicitados para livros de 

Paulo Roberto de Almeida, 2020-21

 

ISBN 

Título 

Subtítulo 

 


978-65-00-26410-4

Antonio Paim: uma homenagem ao grande historiador do liberalismo brasileiro

978-65-00-22215-9

O Itamaraty sob ataque, 2018-2021: a destruição da diplomacia pelo bolsolavismo

978-65-00-19254-4

Uma certa ideia do Itamaraty: a reconstrução da política externa e a restauração da diplomacia brasileira

978-65-00-06753-8

O panorama visto em Mundorama: ensaios irreverentes e não autorizados

978-65-00-06769-9

Pontes para o mundo no Brasil

minhas interações com a RBPI

978-65-00-06768-2

Minhas colaborações a uma biblioteca eletrônica: contribuições a periódicos do sistema SciELO

978-65-00-06752-1

Um contrarianista no limbo

artigos em Via Política, 2006-2009

978-65-00-06750-7

Vivendo com Livros: uma loucura gentil

978-65-00-06751-4

Um contrarianista na academia: ensaios céticos em torno da cultura universitária

978-65-00-05969-4

Marxismo e socialismo no Brasil e no mundo: trajetória de duas parábolas da era contemporânea

978-65-00-05968-7

O Itamaraty num labirinto de sombras: ensaios de política externa e de diplomacia brasileira

978-65-00-05970-0

O Mercosul e o regionalismo latino-americano: ensaios selecionados, 1989-2020

978-65-00-05967-0

A ordem econômica mundial e a América Latina: ensaios sobre dois séculos de história econômica

 

quarta-feira, 14 de julho de 2021

José Carlos Brandi Aleixo (SJ): 60 anos de ordenação - missa comemorativa, 16/07, 18h30

 José Carlos Brandi Aleixo (SJ): 60 anos de ordenação

Grande notícia: um intelectual, professor na UnB, na Católica, no Instituto Rio Branco, sacerdote que presidiu centenas de casamentos, comemorações e funerais de outros colegas professores, de diplomatas, um dos maiores intelectuais da Igreja Católica, da Sociedade dos Jesuitas, completa 60 anos de sacerdócio, uma data a ser festejada com ele.


How Will Brazil Navigate the US-China Rivalry? - Hussein Kalout (Americas Quarterly)

 Americas Quarterly, Washington DC – 14.3.2021

How Will Brazil Navigate the US-China Rivalry?

Both superpowers are pivotal to the country. Choosing is not an option.

Hussein Kalout

 

Historians may one day describe the escalating rivalry between the United States and China as the most important driver of contemporary international relations. As the mightiest power in the Western world since the fall of the Roman Empire, the U.S. is fighting to preserve its hegemony. As a challenger, China aims to restore its imperial might – not only as the greatest empire in the history of the East, but as a rising global superpower in its own right.

Their battle for the 21st century has begun, and – for better and for worse – Latin America has already become a critical staging ground. China seems to have gained the upper hand in recent years as a distracted Washington channeled most of its resources into unsuccessful military interventions in the Middle East, the global “War on Terror” and confronting a resurgent Russia as well as numerous crises at home.Throughout the past three U.S. administrations, the White House and State Department assigned only peripheral importance to Latin American countries, despite occasional rhetoric to the contrary. This strategic inertia has allowed China to overtake the U.S. as the main trading partner of Brazil and Argentina – the two largest economies in South America – and some other countries as well.

In Brazil, a new and pressing question has arisen: How to navigate this growing rivalry?

An array of internal and external actors seeks to frame Brazil’s path forward as a binary choice – that is, forcing Brazil to develop a deep relationship with either Washington or Beijing, but not both. The Donald Trump administration certainly framed this as a mutually exclusive choice. Since taking office in January, the Joe Biden administration seems to perceive Beijing in a broadly similar light. In Brazil, Jair Bolsonaro’s government has welcomed and even encouraged this Manichean view.However, it has met with stiff resistance in Brazil’s National Congress, business sector, and in the Foreign Ministry, where many believe that making such a binary choice violates the Brazilian national interest and reduces Brazil’s leeway amid the intensifying geostrategic clash of titans.

The magnitude and complexity of Brazil-U.S.-China relations are immense. For Brazil, navigating these relationships is not about making a binary choiceIt is about fine-tuning the nation’s indispensable relationships with the two greatest powers in the world.

This may be particularly true at a time when Brazil’s economy, stagnant or shrinking for the past decade, cannot afford to alienate large partners. In the trade sphere, Brazil’s dependence on China is significantly greater than its dependence on the United States. Brazilian exports to China in 2020 were more than triple its shipments to the U.S.

 

Of the 15 most exported Brazilian commodities, China is the main importer of 11, while the U.S. is the main importer of only twoMoreover, U.S. companies are the main competitors of Brazilian companies in the Asian and European markets. And, of the total investments in infrastructure in Brazil – a fundamental part of the country’s continued development – China by far surpasses the U.S., even though the latter continues to be a much larger source of foreign direct investments overall. These numbers reveal Brazil’s deep dependence on China when it comes to structural elements of the economy such as job creation, income, credit and investments.

But of course, trade and business cannot be the only aspects of Brazil’s relationships with foreign powers. The equation facing the country’s foreign policy thinkers is in fact much more complex.

 

A complex relationship

 

U.S.-Latin America relations have gone through numerous ups and downs, despite generally positive sentiment and some improvements in recent years. Today’s political classes are still scarred by the history of U.S. interventions in Latin America, often involving the overthrow of democratically elected governments such as Salvador Allende in Chile and João Goulart in Brazil during the Cold War. More recently, the Trump administration resuscitated the idea of the Monroe Doctrine while making threats of military intervention in Venezuela and lending support to Jeanine Áñez’s coup in Bolivia. Even among friends, the U.S.’ record as a dependable, trustworthy power has been put in doubt because of its history of betraying and abandoning its former allies. The examples in this list are plentiful: Saddam Hussein in Iraq, the Kurds in Syria, and the criticism of NATO and Europe, to name but a few. In contrast, Latin American governments tend to view China as both more consistent in its relationships and more prone to boost the region’s economies without staining its hands with the blood of their people.

At the same time, many Brazilians retain an admiration for the Founding Fathers of the United States – particularly for their construction of a nation based on the rule of law, the unequivocal separation of powers, democratic solidity and an enviable educational system. Similar admiration is not generally expressed towards China, in part because its long and storied history is not widely known or studied in Brazil. China is seen by the public as a faraway, mysterious, and exotic country.

The Brazilian view towards Washington, of course, is not monolithic. Internal political divisions frame many of the differing opinions on how the nation should interact with the United States. For instance, the Brazilian left is divided into two currents. The most radical see the U.S. as a constant threat to regional political stability. The influence of this group in Brazilian policymaking, however, is practically nonexistent. The second current, with a more pragmatic view, understands that despite having valid reasons to distrust the U.S., it is necessary for Brazil to maintain good relations with Washington. This latter group believes that the two countries have considerable room for cooperation, particularly in the fields of human rights, education, trade, and the environment.

We can identify two distinct views on the political right as well. The first, a minority position, claims that the subordination of Brazilian interests to those of the U.S. during the Cold War saved Brazil from “communism” and domestic subversive elements – ostensibly including in that group anyone who opposed Brazil’s authoritarian military regime. Juracy Magalhães, a well-known conservative politician in Brasília and foreign minister under the military regime, had a famous phrase that is sometimes still invoked by adherents of this belief: “What is good for the U.S. is good for Brazil.” Today, the most prominent proponents of these sentiments are President Jair Bolsonaro and his supporters. For them, a close and friendly relationship between Brasília and Washington is not enough. They believe Brazil should instead pledge unconditional alignment to the U.S. policy, something Bolsonaro sought to create while Trump was in office.

The less radical viewpoint found on the Brazilian right – and, I believe, the more commonly held one, frames the relationship with the U.S. as a source of prosperity, opportunity, and development, but still tends to harbor some reticence about the supercilious behavior of the U.S. towards developing countries. Adherents to such a view tend to favor a close bilateral relationship, but not one of automatic and unconditional alignment with Washington.

Critically, the radicals on the left and the right alike constitute only a minority. Taken together, those who prefer unconditional alignment and those who advocate for staunch U.S. containment may represent the views of less than a fifth of the Brazilian population. This minority can be noisy and disruptive, though. The right-wing extremists were able to gain decisive influence in the decision-making process, as we have seen under the Bolsonaro administration and in the beginning of the military cycle inaugurated in 1964. The other two subgroups, more realistic and pragmatic, represent the majority viewpoint of those who find themselves on the right and the left of the political spectrum. The more moderate positions are even stronger in the most influential segments of Brazilian society, such as the private sector, parliamentarians, the military, diplomats, journalists, academics, scientists and public intellectuals. This is not a guarantee that a more moderate view will always prevail, but it is a powerful undercurrent force that should be reckoned with.

Global stage

For Brazilian state institutions, whose raison d’être involves upholding the country’s national interest, the current majority assessment holds that Brazil should not treat the two relationships as mutually exclusive – now or in the future. Any effort to determine a possible preference between the U.S. and China should be based on past practical experiences, objective data, and the treatment of Brazil by each power.

In the view of the Brazilian diplomatic corps, for example, the relationship between Brasília and Washington over the last 20 years has not lived up to expectations. During this period, Brazil has waited for a recognition that has never materialized. The U.S. has consistently supported rivals against Brazilian candidates in elections to multilateral forums such as the WTO and FAO. The Chinese, on the other hand, offered their votes to the Brazilian candidates in these elections. Furthermore, U.S. support for Japan and Germany, and more recently India, to hold permanent seats on the United Nations Security Council in a hypothetical reform has disappointed Brazilian diplomatsBrazil’s own aspirations for such a position were never recognized or supported by the United States. In the Brazilian view, this unequal treatment constitutes a reminder that the United States does not consider Brazil to be a power worth respecting.

Although China has never expressed explicit support for Brazilian claims to become a permanent member of the UN Security Council, Beijing has sought to treat Brazil as a rising power comparable to China – even when China is undoubtedly the more powerful nation. The Chinese establishment, in the last 20 years, has been able to more accurately understand how the hearts and minds of Brazilian public agents work. This is not to say that China never practices protectionist measures or blocks Brazilian interests, but the way in which these actions are carried out and the language used to express them are important. The experience of high-level diplomatic missions to Beijing tends to be more respectful and honorable when compared to the treatment offered by Washington – especially when considering the latter’s far more ceremonious conduct towards officials from nations such as IndiaDeepening diplomatic connections between Brazil and China are reflected in the frequent high-level interactions between the two countries as well. In the last 20 years, the number of Brazilian head of state missions to Beijing was at least double the number of missions to Washington.

Washington’s hesitation to endorse Brazil’s accession to the OECD is an additional example, and another instance appeared when the Bolsonaro administration attempted to support a Brazilian candidate for the presidency of the Inter-American Development Bank. This move was unsuccessful because the United States chose to support Mauricio Claver-Carone, Donald Trump’s candidate for the regional forum. In the view of the Brazilian diplomatic community, this was an unmistakable sign that the U.S. did not have much interest in supporting even the most pro-U.S. Brazilian government in history. The move to support Claver-Carone not only undermined Brazilian regional leadership in the Latin American context, but also reignited the classic distrust of the region’s countries towards the United States.

 

5G conundrum

 

Another important factor is the incessant pressure that Washington has placed on Brazil and other countries to disallow Huawei’s participation in the bidding process for 5G networksFollowing such commands would completely ruin Brazil’s relationship with China. Not to mention that Washington’s warnings of Chinese espionage and data theft – risks that Brazil could potentially be exposed to – seem wildly hypocritical in the face of the U.S. espionage operation against the former Brazilian president, Dilma Rousseff, revealed to the public in 2013. This pressure and the hypocritical argument used to justify it have seriously damaged the U.S.-Brazil diplomatic relationship, in the eyes of Brazilian establishment officials.

This is not to say that past and present Chinese misdeeds are ignored in Brazil. Brazilians certainly view the Chinese government as authoritarian, a regime that engages in serious persecution of minorities and violates the sovereignty of its neighbors. Many Brazilians know that Beijing may have not-so-friendly policies toward Africa (the so-called debt trap) and has supported the Maduro regime, albeit not as decisively as Russia. However, in the Brazilian view, the Chinese government has not tended to invoke moralistic, holier-than-thou rhetoric in the same way the U.S. often has. Despite China’s flaws, Brazilian leaders believe today that they can maintain a pragmatic stance towards Beijing – a decision motivated by much of the same pragmatism that leads Washington to defend allied dictatorships in the Middle East in order to safeguard U.S. economic and political interests.

It is important to remember that Brazil has always offered unwavering solidarity in the most heart-wrenching moments of American national life, such as the Second World War and the terrorist attacks ofSeptember 11. Brazil fought with the Allies with Brazilian soldiers serving alongside American troops in the fight against Nazi forces in Italy. Military cooperation with the U.S. and its allies has long been a cornerstone of Brazilian doctrine. In the eyes of the Brazilian military, the alignment of interests with the U.S. for defense cooperation is infinitely greater than that between Brazil and other powers such as China and Russia. Partnership with these strategic rivals of the U.S. is extremely limited – and even during left-leaning Brazilian governments, this preference remained unchanged.

The U.S. Senate recently passed a unique bipartisan bill – the Innovation and Competition Act – designed to combat China’s growing economic influence around the world. But Washington’s new strategy could also benefit from incorporating a renewed emphasis on Latin America – and especially the largest economy in the region, Brazil. Increasing the bilateral trade between the two countries is certainly possible, but it will ultimately depend on how the U.S. chooses to navigate the issue in the coming years – perhaps, for instance, by gradually eliminating commercial barriers for Brazilian goods, helping to revamp Brazilian infrastructure, connecting Brazilian innovation ecosystem with American tech hubs, and providing incentives for renewable energy and sustainable development. 

When considering areas of potential cooperation, environmental issues have often been an area where visions and goals have overlapped. The current situation is an obvious exception, with the Biden administration making combating climate change a vital priority, while the Bolsonaro government has adopted decidedly non-environmentally friendly policies fueling the destruction of the Amazon. But looking more in the medium term, it is important to emphasize that in this field in particular, Brazil has opportunity to cooperate both with the U.S. and with China.

Vaccine diplomacy will continue to be another important factor. So far, Brazil has made better progress with China following the partnership established between the Butantã Institute and the Chinese company Sinovac Biotech. As the pandemic continues to wreak havoc in Latin America, Brazil’s dependence on China has become increasingly evident. The import of input materials to produce the CoronaVac vaccine in Brazil depended exclusively on supplies from China. The Biden administration has recently made progress in expanding its provision of vaccines around the world, but China still holds a lead in the realm of vaccine diplomacy in Brazil and Latin America in general.

In the last two decades, Brazil’s relations with China have evolved in an unprecedented manner. But these trends are not set in stone. It is time for the U.S. to make up for lost time and bet on a closer relationship with Brazil to reverse this situation in the two decades ahead. While China values ??Brazil among its international priorities, the U.S. continues to attribute low strategic relevance to the country. If this dynamic persists, Brazil will have little choice but to deepen its relationship with the dragon at the expense of the eagle. And trying to impose a binary choice on Brazil, as the Trump administration attempted to do, will not succeed in the long run. The Brazilian governmental and economic establishment will not opt ??for the exclusion of one of the two most powerful countries on Earth. To do so would run contrary to Brazil’s long history of pendular diplomacy – carefully fostering relations with both sides of an international competition for as long as possible to increase Brasília’s strategic leverage. The best strategy, and the one that respects the Brazilian national interest, is certainly one that involves a balanced relationship between both the United States and China. But the precise nature of that balance will depend in large part on how Washington chooses to proceed.

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Kalout is a political scientist and research scholar at Harvard University and a former special secretary of strategic affairs of Brazil (2016-2018)

terça-feira, 13 de julho de 2021

Prioridades possíveis em uma administração racional (2006) - Paulo Roberto de Almeida

Quinze anos atrás, em julho de 2006, eu escrevia um texto chamado: 

Prioridades possíveis em uma administração racional

Figura como capítulo 2 de meu livro: 

Um contrarianista no limbo: artigos em Via Política, 2006-2009 


 Brasília, 26 dezembro 2019, 240 p. Nova coletânea em Edição de Autor, no formato Kindle (ASIN: B083611SC6). Divulgado no blog Diplomatizzando (link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2019/12/um-contrarianista-no-limbo-artigos-em.html) e na plataforma Academia.edu (link: https://www.academia.edu/41459572/Um_contrarianista_no_limbo_artigos_em_Via_Politica_2019_). 

 Transcrevo aqui apenas a parte propositiva e remeto os interessados ao restante do artigo, como acima.

Paulo Roberto de Almeida


Escala de prioridades com o máximo de retorno social e econômico

 

1) Melhoria da qualidade da educação com gerenciamento eficiente dos recursos

     (a) alcançar a cobertura máxima de crianças escolarizáveis, entre 2 e 17 anos, o que implica ampliar a pré-escola e redimensionar a rede escolar espacialmente; concentrar recursos no básico (fundamental e médio) e no técnico-profissional;

     (b) ampliar a permanência escolar no ciclo fundamental público, estendendo o período de estudo efetivo na escola; vincular programas do tipo bolsa-escola aos programas de assistência social;

     (c) aperfeiçoar a formação dos professores dos ciclos infantil, fundamental, médio e técnico-profissional públicos, com incentivos financeiros segundo o desempenho, medido pelo aproveitamento efetivo do estudante (abolido o critério da aprovação automática); recursos de tecnologia de informação devem estar concentrados no professor e nos centros de documentação e bibliotecas das escolas;

     (d) mudanças curriculares de molde a reforçar o núcleo básico de estudos (língua nacional, ciências, matemáticas e estudos sociais), com opções de disciplinas suplementares disponíveis segundo os recursos apresentados, e decisão a ser tomada de forma descentralizada pelos conselhos de educação em nível municipal e associações de pais e mestres nos diversos centros escolares; 

     (e) eficiência na gestão escolar, com estímulos financeiros e funcionais em função da melhoria no desempenho (mais em escala relativa do que absoluta).

 

2) Melhoria dos padrões de saúde da população mais carente

     (a) ampliar a rede de serviços básicos de saúde, num sentido preventivo e educativo; integração dos serviços de saneamento básico para prevenir doenças infectocontagiosas e prover água de qualidade a todas as comunidades;

     (b) programa nacional de nutrição e alimentação, com seguimento das crianças, integrado aos serviços escolares; formação de recursos humanos em economia doméstica e produção local de alimentos; 

     (c) rede integrada de saúde familiar e de hospitais comunitários; equipes volantes permanentes para o controle das doenças transmissíveis e contagiosas; vigilância integrada das gestantes e crianças na primeira idade;

     (d) programas permanentes de riscos de gravidez – com ampla oferta de meios preventivos – e seguimento integral em casos de parto não desejado; programas integrados de abrigo e adoção de crianças;

     (e) melhoria da gestão das redes de saúde e hospitalar, para reduzir a corrupção e os desvios e aumentar a eficiência dos recursos disponibilizados; transparência total das despesas efetuadas, com seguimento integral das operações financeiras e transferências de recursos via Siafi, aberto ao nível das unidades.

 

3) Eficiência na gestão estatal, com redução da carga fiscal

     (a) Reforma tributária para a redução da carga total sobre o sistema produtivo, segundo programa progressivo em dez anos, com redução de dez pontos do PIB, sendo meio ponto a cada semestre;

     (b) Combate à corrupção no sistema público, por meio de redução ampla da mediação dos recursos pela via política e ampliação da transparência dos gastos públicos, com seguimento integral pela internet; elaboração e execução orçamentárias igualmente disponíveis na internet;

     (c) ampliação do sistema de parcerias público-privadas (PPPs), para o maior número possível de setores envolvidos nos serviços públicos (que não necessitam ser estatais); privatização de atividades que não sejam tipicamente estatais ou públicas;

     (d) consolidação da independência da autoridade monetária como guardiã exclusiva da estabilidade da moeda e da defesa do poder de compra da população;

     (e) ampliação e aprofundamento da legislação sobre responsabilidade fiscal, com desdobramento dos mecanismos preventivos de controle de desequilíbrios potenciais;

     (f) reforma administrativa com diminuição do número de ministérios, redução dos gastos com os corpos legislativos federal, estaduais e municipais e da própria representação política, hoje superdimensionada; atribuição de diversas funções estatais a novas agências reguladoras independentes; início progressivo do fim da estabilidade no serviço público, com exceção de algumas carreiras de Estado, estritamente definidas; reforma do sistema judiciário para melhoria de sua eficiência.

 

4) Reformas microeconômicas para a melhoria do ambiente de negócios

     (a) ampla reforma trabalhista num sentido mais contratualista do que com base no diploma legal; eliminação do imposto sindical e da justiça trabalhista, com amplo recurso ao sistema arbitral e criação de varas especializadas na justiça comum;

     (b) redução da informalidade empresarial e trabalhista mediante reformas tributária, regulatória e burocrática; redução dos custos de transação impostos pelo Estado;

     (c) descentralização dos sistemas de compras públicas, com uso ampliado dos mecanismos eletrônicos de oferta, aquisição e controle dos gastos efetuados;

     (d) eliminação dos tratamentos diferenciados entre setores, de maneira a eliminar distorções e competição fiscal danosa aos orçamentos públicos e aos regimes tributários; 

     (e) ampliação da competição interna e externa, com eliminação de cartéis e setores oligopolizados, redução do protecionismo alfandegário e maior integração à economia mundial, com abertura ampliada aos investimentos estrangeiros.

 

5) Segurança pública 

     (a) reformulação dos aparelhos policial, penitenciário e de justiça, num sentido preventivo, repressivo e restaurativo;

     (b) diminuição da idade de imputabilidade legal;

     (c) redução dos casos de prescrição de pena e ampliação dos prazos;

     (d) integração do sistema preventivo com os mecanismos de assistência social e de incorporação escolar, para diminuir a delinquência juvenil e a criminalidade envolvendo crianças.

 (...)

Dicionário político dos novos pecados capitais - Paulo Roberto de Almeida

 Dicionário político dos novos pecados capitais 

 

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 1543: 26 janeiro 2006, 2 p.

Via Política (Porto Alegre, 23/07/2006)

 


Como todos sabem, os sete pecados capitais da tradição cristã são, sem ordem particular de prioridade, os seguintes: 

1) inveja;

2) avareza; 

3) cobiça;

4) orgulho (ou soberba);

5) preguiça;

6) luxúria;

7) gula.

 

Sobre eles não precisamos nos alongar indevidamente, tendo em vista toda a exegese já registrada na história, a começar por São Tomás de Aquino até exemplos mais recentes na literatura. Pode-se questionar, inclusive se esses “pecados” continuam sendo “capitais” ou se a sua presença na vida diária já não vem sendo admitida com alguma tolerância pelos mais diversos personagens da vida pública. Afinal de contas, todos eles, com alguma discrição para a luxúria, vêm sendo exibidos por esses personagens, até mesmo com certa desfaçatez, sem que autoridades morais ou religiosas venham a público condenar atos e atores com a veemência que seria de se esperar.

Deixando de lado esses pecados da velha tradição, proponho-me agora listar alguns novos pecados da moderna vida política, da brasileira em particular. Os políticos, em geral, exibem uma penca deles, não todos os políticos, em bloco, nem todos os pecados, ao mesmo tempo, mas vários desses  personagens da vida pública ostentam alguns de forma cumulativa e, o que é pior, de maneira reincidente.

Não vou deter-me agora sobre casos concretos da vida pública brasileira, tanto porque eles estão sendo expostos de maneira recorrente, nas comissões parlamentares de inquérito e nas páginas da imprensa e em outros meios de comunicação. 

Parafraseando uma frase famosa, pode-se dizer que nunca, tantos podres da vida pública foram assumidos de forma tão aberta, para o conhecimento de tantos cidadãos, estupefatos. Assistimos, desde vários meses, a uma enxurrada de denúncias, várias delas já substanciadas por provas contundentes, sem que se tenha visto, até aqui, nenhuma condenação moral, ou qualquer condenação de fato. Resta saber se velhos e novos pecados serão, de alguma forma, julgados e condenados no futuro previsível. 

Esperando que chegue o “dia do julgamento final”, proponho-me, assim, a apresentar alguns novos pecados da vida política brasileira que, numa lista não exaustiva, poderiam ser identificados com os seguintes:

1) corrupção

2) hipocrisia 

3) fraude 

4) desfaçatez 

5) volubilidade 

6) inconstância 

7) mentira 

8) mediocridade 

9) transferência de encargos para terceiros 

10) ignorância deliberada de fatos de sua competência 

11) irresponsabilidade quanto ao desempenho de funções 

12) pretensão 

13) eleitoralismo desenfreado 

14) propaganda indireta, com meios públicos 

15) uso da máquina estatal para fins particulares 

16) populismo (velho e novo) 

17) demagogia (aparentemente, uma segunda natureza) 

18) arrogância 

19) clientelismo 

20) fisiologia 

21) nepotismo 

22) fuga da realidade (autismo político) 

23) esquizofrenia (defesa de objetivos conflitantes na vida política) 

24) ofensa à inteligência alheia (“eu não sei”, “eu não vi”, “não estou sabendo”...) 

 

Paro provisoriamente por aqui, e não pretendo, no momento, elaborar sobre cada um desses novos pecados, esperando ao menos que eles sejam autoexplicativos. Os fatos que poderiam substanciar cada um desses verbetes do novo dicionário de costumes políticos da vida brasileira são conhecidos de todos e não requerem nova descrição. 

Termino parafraseando Dante Alighieri (1265-1321), o poeta italiano, autor de A divina comédia, que em uma de suas frases memoráveis disse o seguinte: 

“Não menos do que saber, me agrada duvidar.” 

 

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 26 de janeiro de 2006