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Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

sexta-feira, 13 de janeiro de 2023

Exercito foi no mínimo conivente com o golpismo - Rodrigo Rangel (Metropoles)

 Uma adesão aberta ao bolsonarismo da parte de boa parte do Exército

Rodrigo Rangel

Oficial do Exército que defendeu invasores chefia batalhão encarregado de proteger o Planalto

A constatação é só uma das faces da tensão reinante entre Lula e a cúpula militar. Entenda

 atualizado 12/01/2023 19:47

O coronel do Exército Paulo Jorge da Hora, comandante do Batalhão da Guarda Presidencial

É delicado o ponto da tensão entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o comando do Exército desde a eclosão dos atos golpistas do último domingo.

O Palácio do Planalto trata do assunto com contenção e comedimento para não acirrar os ânimos, mas a avaliação reinante, inclusive no gabinete presidencial, é a de que o Exército não agiu a contento para evitar a tragédia — seja por ter sido condescendente com os acampamentos bolsonaristas à porta dos quartéis, seja por sua cota de responsabilidade nas falhas de segurança que permitiram aos radicais vandalizar o coração do poder.

Em condições normais de temperatura e pressão, providências já teriam sido adotadas para afastar oficiais, de alta patente inclusive, que na avaliação do entorno presidencial teriam sido no mínimo coniventes com os golpistas.

Prevalece, porém, o entendimento de que neste momento é preciso agir com cautela para não ampliar o estresse e escalar a crise.

O diagnóstico de Lula

Nesta quinta-feira, num café da manhã com jornalistas, Lula avançou na crítica aos militares pela primeira vez desde a invasão das sedes dos três poderes .

Queixou-se do engajamento da caserna com a cartilha bolsonarista e do envolvimento do Exército no questionamento das urnas eletrônicas, das ameaças de militares contra ele próprio e contra outros petistas e da participação de familiares de generais nos acampamentos que pediam intervenção das Forças Armadas.

“Não quero saber se um soldado qualquer votou no Bolsonaro ou Lula, se um general não votou no Lula. Minha preocupação é que quem participa de carreira de Estado tem que pensar e servir ao país. Não pode ter lado”, declarou.

 lado deles é cumprir o que está garantido nLula admitiu, também pela primeira vez, que se recusou a assinar um decreto de Garantia da Lei e da Ordem — a propalada GLO — nas horas que se seguiram aos atos golpistas para não transferir para os generais o poder de governar.

“As Forças Armadas não são poder moderador como eles pensam que são”, afirmou. Ele também se disse convencido de que a porta do Planalto foi aberta para que os bolsonaristas radicais entrassem.

“Eu estou convencido que a porta do Palácio do Planalto foi aberta para essa gente entrar porque não tem porta quebrada. Ou seja, alguém facilitou a entrada deles aqui”, declarou.

Comandante do BGP protegeu golpistas?

Esse é um ponto especialmente sensível — e é uma das questões que, não fosse o momento delicado, já teria resultado em corte de cabeças.

O presidente não disse com todas as letras, mas era do Exército a tarefa de proteger o palácio — mais especificamente, do Batalhão da Guarda Presidencial, o BGP.

Imagens da invasão ao Planalto publicadas pelo Metrópoles mostram um coronel da corporação, devidamente fardado, discutindo com policiais que tentavam prender os invasores.

O vídeo indica que o coronel do Exército estava agindo para proteger os radicais bolsonaristas.

O coronel em questão é ninguém menos que o comandante do Batalhão da Guarda Presidencial, a unidade do Exército responsável pela proteção dos palácios presidenciais. Paulo Jorge Fernandes da Hora (foto em destaque) é o nome dele.


Se o que ocorreu foi mesmo o que o vídeo dá a entender, não é algo trivial. Pelo contrário, é um escândalo: em vez de atuar para deter os manifestantes, o oficial que deveria guardar o Planalto teria agido em defesa dos golpistas. Ali, o oficial era o Exército.

Perguntas sem respostas

Desde segunda-feira a coluna tenta falar com o coronel, sem sucesso.

Ao Exército e ao Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República, perguntamos se ele permanece no posto. Sobre isso, não houve resposta oficial.

Extraoficialmente, nesta quinta um militar da ativa ligado ao comando do Exército disse que Paulo Jorge da Hora segue no comando do BGP.

Esse mesmo militar tratou de defender o coronel. Disse que os ânimos estavam exaltados e que o colega “não impediu” a prisão dos invasores.

Em nota, o Exército limitou-se a dizer que “os fatos estão sendo apurados pelas autoridades competentes”.

A “guerra fria” entre GSI e Exército

Embora todas as evidências corroborem a impressão de Lula e de seu entorno de que a ação dos criminosos foi facilitada, inclusive pelos militares, para o Planalto adotar providências como a saída imediata do coronel e de outros integrantes de sua cadeia de comando poderia agravar ainda mais a tensão com a cúpula das Forças Armadas.

Na prática, a medida seria entendida como uma condenação ao Exército.

Em outra frente, igualmente ilustrativa da tensão reinante neste momento, o Exército e o GSI, comandado desde 1º de janeiro pelo general da reserva Marco Gonçalves Dias, homem de confiança de Lula, têm tratado com dedos tudo o que diz respeito às responsabilidades pela proteção do palácio.

Desde segunda, a coluna enviou uma série de perguntas tanto ao comando do Exército quanto ao Gabinete de Segurança Institucional da Presidência para tentar entender, com precisão, a sucessão de erros que permitiu a invasão.

Sem dar detalhes, o Exército jogou a responsabilidade para o GSI: ao responder se houve demora ou inação do BGP, afirmou em nota que “a segurança do Palácio do Planalto é coordenada pelo Gabinete de Segurança Institucional” e que “todas as demandas do GSI nesse sentido, apresentadas ao Exército Brasileiro, foram atendidas oportunamente na ocasião”. O GSI não respondeu.

José Múcio e a cara da crise

Outro faceta da crise entre Planalto e militares (leia mais aqui) envolve o ministro da Defesa de Lula, José Múcio Monteiro, que nos bastidores tem sido torpedeado por petistas graduados e outros aliados do governo.

A leitura desses críticos é a de que Múcio, escolhido por ter perfil moderado e ser bem aceito entre os comandantes militares, está agindo para blindar as Forças Armadas e deixando de levar em conta os interesses do governo.

Nos últimos dias, petistas e seus satélites fizeram circular o rumor de que o ministro estaria demissionário. Múcio negou. Lula também — até porque perder o ministro a esta altura seria outro fator capaz de degradar ainda mais o já deteriorado ambiente.

À coluna, uma pessoa próxima do ministro disse que ele está trabalhando “na conciliação”. Um general que até pouco tempo cerrava fileiras com o núcleo do bolsonarismo e transita bem entre os integrantes da atual cúpula militar dá a medida do ponto da crise: “A sociedade precisa se unir e jogar água na fervura”. Fervura define.


quinta-feira, 12 de janeiro de 2023

Relação do presidente Lula com os militares é de forte desconfiança mútua - William Waack CNN

 Relação do presidente Lula com os militares é de forte desconfiança mútua

William Waack

CNN, 11/01/2023

 

Lula está se queixando abertamente da politização das Forças Armadas, um dos mais nocivos legados de Jair Bolsonaro; parte dos comandantes enxerga a vitória de Lula nas últimas eleições como resultado da atuação de tribunais superiores, STF e TSE

A relação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) com os militares é de forte desconfiança mútua. Que não diminuiu depois dos acontecimentos do último domingo (8).

Os comandantes militares têm reiterado em conversas particulares –além de pronunciamentos públicos– que respeitam a hierarquia. Por isso, cumpririam sempre as ordens do comandante em chefe das Forças Armadas, que é Lula.

Mas Lula não está tão convencido disso assim. Assume que o grau de politização entre os militares promovido por Jair Bolsonaro (PL) abriu, sim, a possibilidade de que ordens possam não ser respeitadas. Como a ordem para operações de Garantia de Lei e Ordem (GLO).

Foi o que aconteceu domingo. O governo queria encerrar já na noite desse dia o acampamento em frente ao QG do exército, frequentado também por parentes de oficiais. Mas se desse uma ordem direta, temia-se que não fosse cumprida.

Prevaleceu nesse caso a solução de compromisso, acatada pelo ministro da Defesa. Os acampamentos foram desfeitos na segunda-feira (9), depois da saída de parentes de oficiais.



Lula está se queixando abertamente da politização das Forças Armadas, um dos mais nocivos legados de Jair Bolsonaro. Parte dos comandantes enxerga a vitória de Lula nas últimas eleições como resultado da atuação de tribunais superiores, STF e TSE.

Nisso tudo, passaram a ver no ministro da Defesa José Múcio Monteiro um interlocutor confiável. Quanto mais Múcio apanha do PT, mais aumenta entre os comandantes a aceitação de Múcio.

Uma operação política foi montada nas últimas horas para proteger o ministro da Defesa. Mas a desconfiança continua.”

 

 

China en el orden global: ¿socio comercial, competidor o alternativa sistémica? - Uwe Optenhögelm (Nueva Sociedad)

 Opinión 

Nueva Sociedad 9FES), Enero 2023

China en el orden global: ¿socio comercial, competidor o alternativa sistémica?

https://nuso.org/articulo/china-en-el-orden-global-socio-comercial-competidor-o-alternativa-sistemica/ 

El exitoso modelo chino de recuperación del desarrollo ha eliminado un viejo dogma: que modernización debía equivaler a «occidentalización». Sin embargo, queda por ver si un proceso de toma de decisiones recentralizado, repolitizado y reideologizado puede ser lo suficientemente eficiente para competir en la economía global.

Hoy, China participa en todos los órganos de las Naciones Unidas, así como en formatos informales como los BRICS o el G-20, y trata de moldearlos o transformarlos según sus intereses. El rápido progreso de China en las instituciones internacionales y la creciente confianza en sí misma que conlleva este programa solo pueden entenderse en el contexto del desarrollo extraordinariamente exitoso de su economía.

El modelo de desarrollo chino se basaba en la orientación exportadora, la inversión masiva (tanto estatal como extranjera), la transferencia de tecnología occidental, la represión financiera, los controles de capital y una moneda no convertible. Tras un largo periodo con tasas de crecimiento a veces de dos dígitos, este sendero de crecimiento cuantitativo alcanzó su límite durante el mandato del primer ministro Wen Jiabao (2003-2013). Las tres décadas de hipercrecimiento hicieron que la economía de China fuera considerada cada vez más como «inestable, desequilibrada, descoordinada e insostenible». Desde entonces, volver a equilibrar la economía y al mismo tiempo ponerla en un sendero de crecimiento cualitativo, sostenible y más orientado al mercado interno ha sido el desafío central de los líderes chinos, que el presidente Xi Jinping en particular ha convertido en su programa desde que asumió el cargo en 2012.

El exitoso modelo de desarrollo, bajo presión de todos lados

La desglobalización que se inició con la crisis financiera (2008-2010), y que se aceleró por la pandemia de covid-19 y, desde febrero de 2020, por la guerra de Rusia contra Ucrania, marca un cambio clave en las condiciones marco para el desarrollo de China. No solo Estados Unidos ha visto a China como un adversario geopolítico clave desde el gobierno de Donald Trump, sino que, también según la percepción de la Unión Europea, China ha pasado de ser el mercado más grande a ser un «rival estratégico». A su vez, el Parlamento Europeo ha suspendido la ratificación de un acuerdo de inversión con China que implicó largas negociaciones antes de la guerra. Frente a la agresión rusa contra Ucrania, Estados Unidos, Europa, Japón y algunos otros países han dejado de regir sus políticas únicamente según la economía. También están pasando a primer plano aspectos de política de seguridad y defensa. Además, la nueva dimensión de las sanciones occidentales, que van más allá de todo lo previamente conocido, ya está teniendo efectos de largo alcance en la economía mundial. China es vulnerable aquí. Si se restringe el acceso a lo que habían sido los mercados de exportación más grandes, se necesitan otros mercados o el propio mercado interno, nada de lo cual está actualmente a la vista.

Además de la reducción de los mercados de exportación, también se está dificultando el acceso chino a la alta tecnología de Occidente. No solo Estados Unidos impuso sanciones contra Huawei, fabricantes de semiconductores o microchips, sino que también algunos gobiernos europeos han prohibido recientemente que China adquiera tecnología de punta. No están siendo cuestionadas solo las inversiones chinas, sino también los subsidios del gobierno chino para empresas de ese país, que distorsionan la competencia, y el trato desigual de las inversiones occidentales en China.

 El atractivo del desarrollo se está desvaneciendo

 Paralelamente a los desafíos para la política de comercio exterior, también tambalea la «Iniciativa de la Franja y la Ruta», el principal y muy prestigioso proyecto de política de desarrollo de China. Golpeados por las secuelas de la pandemia, la inflación y las ramificaciones de la guerra en Ucrania, muchos países del Sur global están teniendo dificultades para pagar sus préstamos. Una de las razones se encuentra en las políticas de préstamos que lleva adelante China en su propio interés. Parece que la República Popular está conduciendo a sus socios de la Ruta de la Seda a la trampa del endeudamiento. También se acusa a China de estar acaparando tierras, violando los derechos humanos y contaminando el medio ambiente. Y los gerentes de la Ruta de la Seda a menudo parecen comportarse de una manera que no es menos «colonialista» que la de sus contrapartes occidentales. Hoy, China es el mayor prestamista del mundo: si Beijing no quiere perder reputación entre los países del Sur global y al mismo tiempo desea evitar que una gran cantidad de préstamos fracasen (están en riesgo aproximadamente 118.000 millones de dólares), tiene que mostrar si puede ser más responsable en el manejo de los desafíos del desarrollo que Occidente, al que critica.

 Los problemas también se están acumulando en el mercado interno

 El mercado interno del país se enfrenta a grandes desafíos cíclicos y estructurales: las elevadas deudas pública y privada, un sector inmobiliario en implosión, bancos sobreendeudados con una supervisión bancaria que no funciona, el envejecimiento progresivo de la población y casi 20% de desempleo juvenil son un lastre para el crecimiento. En simultáneo se registra una extrema desigualdad de ingresos, corrupción persistente, una explosión en los costos de la vivienda e instituciones del Estado de Bienestar subdesarrolladas que podrían compensar y amortiguar socialmente la caída de la demanda. Ya hay cierres de fábricas a causa de la caída de las exportaciones, lo que complica aún más la situación. A esto se suma el costo cada vez mayor de la política china de covid cero. Los recientes confinamientos en Shanghái y Chengdu han dejado sus huellas en la economía, que creció solo 0,4% en el segundo trimestre de 2022 en comparación con el mismo periodo del año anterior. Esto aleja mucho el objetivo de crecer 5,5% que estipulaban los políticos.

También está quedando claro que el país no está preparado para la variante Ómicron y que sus propias vacunas no pueden competir con las de Occidente. La aplicación brutal de las reglas de cuarentena reveló una dimensión política de la estrategia de covid adoptada por China, que fue reafirmada por Xi en el XX Congreso del Partido Comunista que tuvo lugar entre el 16 y el 22 de octubre de 2022. Sin embargo, la población china reaccionó con una notoria y creciente incomprensión y contradiciendo la dureza aparentemente sin sentido del gobierno. A fines de diciembre, el gobierno tomó la abrupta decisión del partido de abandonar su política de covid cero. Si la decisión se tomó debido a la creciente protesta popular que atacaba abiertamente al gobierno o si se consideró que el precio económico de la política estaba siendo demasiado alto seguirá siendo un secreto de la dirección gubernamental comunista. En cualquier caso, el pragmatismo mostrado con este cambio radical de rumbo conduce a la aventura de la exposición total a la pandemia a una población con una baja cobertura de vacunación, una vacuna nacional comparativamente ineficaz y un sistema sanitario mal preparado. Los efectos humanos y económicos todavía están por verse. Pero parece evidente que este cambio de política no puede considerarse una medida de confianza entre los dirigentes y la población. 

Los años de covid junto con los problemas económicos descritos anteriormente dan la impresión de que la confianza del pueblo en el gobierno y sus líderes se ha erosionado por primera vez en décadas. El pacto de desarrollo chino entre el pueblo y los líderes establece que «nosotros (el gobierno/Partido) aseguramos un aumento continuo de la prosperidad; a cambio, ustedes (el pueblo) renuncian a la participación política y a tener voz», pero este pacto aparentemente está perdiendo su brillo y su poder para asegurar identidad. Ya hay economistas en Occidente que sospechan que China puede estar avanzando hacia una «japonización» de su economía (en alusión a las dos décadas perdidas de Japón, caracterizadas por un bajo crecimiento y deflación), o que se encontrará en una «trampa de ingresos medios» en un futuro no muy lejano.

En este contexto, está claro que la guerra rusa contra Ucrania llega en un mal momento para China. El país ya tiene bastante con sus propios problemas. A diferencia de Rusia, a China no le interesa destruir el orden internacional existente. La actitud contradictoria de China ante la guerra de Ucrania (apoyando verbalmente a Rusia en todo lo que perjudique a Occidente, pero negándole al mismo tiempo apoyo militar y respetando las sanciones occidentales) es cada vez más difícil de transmitir a nivel internacional. Está erosionando la imagen de China. Vladímir Putin lo vivió cuando, en septiembre, se reunió con Xi Jinping en el marco de la cumbre de la Organización de Cooperación de Shanghái (OCS) en Samarcanda.  Xi Jinping le hizo a su «mejor amigo» una advertencia sobre el comportamiento responsable de una gran potencia y las condiciones marco de la globalización: él está «dispuesto a trabajar con Rusia para demostrar la responsabilidad de las grandes potencias», pero esto debe hacerse «para infundir estabilidad y energía positiva en un mundo caótico». Y Beijing también ha rechazado claramente las amenazas rusas de usar armas nucleares: lo hizo primero durante la visita del canciller alemán, Olaf Scholz, a Beijing y nuevamente durante la cumbre del G-20 en Bali en noviembre de 2022.

 Responder a vientos desfavorables en un mundo caótico

 Esta compleja mezcla dio el trasfondo para el XX Congreso del Partido Comunista Chino (PCCh), donde quedó claro cómo quiere enfrentar el Partido los múltiples desafíos. Inicialmente, el foco estuvo puesto en el aumento de poder del presidente Xi: prueba de esto fue el tercer mandato sin precedentes que se le otorgó. Al mismo tiempo, los tecnócratas orientados al mercado fueron reemplazados en la jefatura del Partido por funcionarios leales a Xi. En el discurso público, el lema de Deng Xiaoping de «dejar que algunos se enriquezcan primero» ha sido reemplazado por el lema de Xi Jinping de «prosperidad común». Hay un mayor vigor en el combate contra la corrupción desmesurada, y los multimillonarios chinos están desapareciendo temporalmente y/o siendo «puestos en línea»: en la más genuina tradición de la autocrítica comunista. En resumen, desde que Xi asumió el cargo en 2012, en el Reino del Medio hay una tendencia más pronunciada a la recentralización, la repolitización, la reideologización y una mayor represión. La nueva jefatura del Partido simboliza la renuncia a los elementos de liderazgo colectivo y el Partido vuelve a convertirse otra vez en la correa de transmisión de la economía y la sociedad. 

Los nuevos jefes no cuestionan su propia política. Lo que sí es ostensible es el cambio hacia un dominio de la racionalidad política sobre la racionalidad económica. Esto se da a pesar de que muchos observadores nacionales y extranjeros del éxito de China en las últimas cuatro décadas coinciden en que la descentralización, la delegación de decisiones económicas, la competencia y la creatividad en la economía, y cierto pluralismo interno en la política y reglas no escritas para la gobernabilidad (como los límites en los mandatos de los tomadores de decisiones) han sido elementos constitutivos en el rápido ascenso de China.

Con la China de Xi, una vieja pregunta del debate sobre políticas de desarrollo parece estar regresando a la arena política: ¿pueden una economía y una sociedad manejadas de forma autocrática superar a las democracias de libre mercado en términos de innovación y crecimiento? En el contexto de su integración a las instituciones internacionales, su poder económico, el nivel tecnológico que ha alcanzado, su creciente poderío militar y la vigilancia sobre sus ciudadanos, posibilitado por el sistema de crédito social, China parece estar respondiendo a esta pregunta con un sí.

Con la República Popular, ha surgido un actor en la política global que propaga su propia vía al desarrollo y se distingue claramente de las ideas occidentales sobre la universalidad de los derechos humanos, la democracia como la mejor forma posible de gobierno o un papel constructivo para las organizaciones de la sociedad civil. en una comunidad funcional. El exitosísimo modelo chino de recuperación del desarrollo ha eliminado uno de los dogmas del debate sobre el desarrollo –que modernización debía equivaler a occidentalización– y ha demostrado que puede accederse a la modernización de otras maneras.

Sin embargo, desde una perspectiva occidental, queda por ver si un proceso de toma de decisiones recentralizado, repolitizado y reideologizado puede ser lo suficientemente eficiente para competir en la economía global. 

En este sentido, la puesta en escena final del XX Congreso del PCCh ha dado señales simbólicas sobre la idea de liderazgo partidario en la era Xi: seis hombres mayores de 60 años aplaudieron a un solo líder. La «otra mitad del cielo» (Mao Zedong) permanece invisible. Veremos qué tan atractivo y eficiente demuestra ser este modelo de gobierno en el mundo globalmente conectado del siglo XXI. 

Fuente: The Progressive Post

Traducción: Carlos Díaz Rocca


Ukraine-Russia war: briefing do NYT

 January 12, 2023:

Welcome to the Russia-Ukraine War Briefing, your guide to the latest news and analysis about the conflict.

Ukrainian rocket launchers near Soledar in the Donetsk region today.Libkos/Associated Press

Putin’s military reshuffle

Russia has shaken up its military command in Ukraine, demoting its top commander after just three months in the job.

The change reflects the difficulty that Russia finds itself in: Gen. Sergei Surovikin, who has largely failed to achieve any progress on the battlefield, will be replaced by Gen. Valery Gerasimov, who was one of the key architects of Moscow’s ill-fated invasion in the first place.

Surovikin, who was appointed in October after the disastrous rout of Russian forces in the Kharkiv region, is now one of Gerasimov’s three deputies, according to a statement released today by the Russian Defense Ministry. Gerasimov has served as Russia’s chief of general staff for over a decade.

“They have taken someone who is competent and replaced him with someone who is incompetent, but who has been there a long time and who has shown that he is loyal,” said Dara Massicot, senior policy researcher at the RAND Corporation in Washington. “Whatever is happening in Moscow, it is out of touch with what is happening on the ground in Ukraine.”

The shake-up came after announcements this week of new deliveries of weapons from the West, which could strengthen Ukraine’s capabilities on the battlefield.

The British Defence Ministry said in an intelligence update that Gerasimov’s appointment was “a significant development” in President Vladimir Putin’s approach to the war and “a clear acknowledgment that the campaign is falling short of Russia’s strategic goals.”

Analysts said the replacement of Surovikin with a Kremlin apparatchik like Gerasimov showed that Putin remained focused on projecting the appearance of stability. The announcement was met with derision from some nationalist Russian military bloggers, who have compared the reshuffle to a game of musical chairs among Moscow’s ineffectual military old guard.

Valery Gerasimov, right, the chief of the Russian General Staff, overseeing military exercises in September.Mikhail Klimentyev/Sputnik, via Agence France-Presse — Getty Images

After his appointment in October, Surovikin launched waves of missile and drone attacks intended to cripple Ukraine’s energy grid, leaving civilians without power and heat as winter set in. He had previously commanded Russian forces in Syria where he was known for bombing campaigns that targeted civilians.

During his three months in command, the Russian military was forced onto the defensive in the south. Surovikin oversaw a retreat from the city of Kherson after heavy shelling by advancing Ukrainian forces made the Russian position there untenable.

News of the shake-up came as intense fighting continued in the eastern town of Soledar.

Yevgeny Prigozhin, the founder of the paramilitary Wagner Group of mercenaries, who make up a large part of the Russian force battling in Soledar, maintained in a Telegram post yesterday that his forces had seized control of the city, though he added that fighting was continuing.

Ukraine said its forces were still defending Soledar.

A Russian victory in Soledar, a salt-mining town north of Bakhmut, would be Russia’s first tangible gain in the war since July, when its troops took control of Sieverodonetsk and Lysychansk in the Donbas. It would give Russian forces a springboard to press on toward Bakhmut, a ruined city that lies only 10 miles away and is now at the center of the war.

But military experts say that taking Soledar would not signal that Bakhmut is about to fall. The Institute for the Study of War, a Washington-based research group, estimates that even if Russia captured Soledar, Ukraine could defend and resupply soldiers in Bakhmut.

A síntese explicativa do nosso Dia da Infâmia - Estevão Chaves de Rezende Martins

 Transcrevendo, com todos os cumprimentos cabíveis;

8 de janeiro de 2023

Estevão Martins

Abateu-se sobre Brasília a pior das vergonhas, numa escalada do enxovalho e da ignomínia! Aconteceu o que já se sabia ser um risco real: uma horda descontrolada espalhou-se pela Praça dos Três Poderes, cometendo crimes em cascata, profanando de fato as sedes dos poderes da República, poderes que o governo, enfim cessado em 31.12.2022, ultrajava diuturnamente pela palavra, pela incitação ao estupro das instituições. Já faltam palavras para dar voz à indignação, à repulsa pelos lenientes no governo do Distrito Federal, à cumplicidade venal dos políticos que colocam panos quentes e fazem ouvidos moucos ao rosnar das bestas-feras que se travestem de patriotas e conspurcam a bandeira nacional, enxovalhando a dignidade do povo brasileiro. Acobertam com o manto da cumplicidade dolosa o golpismo barato dos que se acham imunes, aparentemente seguros de que nada lhes acontecerá, que se desfarão no ar, sem ser identificados, sem ser indicados, sem ser julgados sem ser punidos. 

Será que se invadissem sua casa e a destruíssem sob o pretexto de que você não agrada à turbamulta descontrolada, você não se sentiria tomado por uma apoplexia de indignação e de revolta? Pois é: invadiram as casas de todos nós, ferindo profundamente a democracia, a moral e o cidadão comum, como você ou eu. A democracia sangra, a moral foi esbofeteada, o cidadão tornado refém numa terra de ninguém, em que a lei do mais forte parece ter tido um surto ainda mais perigoso, sob o olhar leniente de certas autoridades como o Governo do Distrito Federal, a Procuradoria Geral da República e tantos mais.

Precisamos de uma ação judicial de massa, em que os perpetradores, seus mentores, seus financiadores, seus manipuladores, seus acobertadores, seus cúmplices sejam processados com rigor e, com a culpa formada, exemplarmente punidos, inclusive sob o rigor extraordinário aplicável a atos terroristas. Tomara que sejamos capazes de praticar aqui a disciplina policial e judicial que foi aplicada nos Estados Unidos na apuração das responsabilidades pelos crimes do dia 6 de janeiro de 2021.”

Onde andará? (Canta o poeta compositor) - Paulo Roberto de Almeida

 “Onde andará?” aquele genial frasista do “comunavirus”, segundo uma estrofe de Chico Buarque, o compositor preferido dos bolsonaristas-raiz (alguns desenraizados precocemente): 

Paulo Roberto de Almeida

Numa de suas últimas postagens, antes das invasões e depredações do dia 8/01, o patético ex-chanceler acidental (o primeiro do desgoverno Bozo) dizia preferir o caos à “ordem comunista” do governo eleito e empossado. 

Deve estar completamente satisfeito agora, com o caos realizado pelos seus antigos companheiros de jornada e de militância bolsonarista extremada.

EA, o símbolo diplomático da Era dos Absurdos, acompanha os acontecimentos de longe, no conforto invernal de Hartford, CT-USA, doravante como apêndice de sua “conja”, ainda ativa no Serviço Exterior que ele se esforçou para desmantelar, enquanto conspurcou a Casa de Rio Branco.

Onde andarão seus pensamentos vagos, num momento em que as trapalhadas do bolsonarismo-raiz acabam de reforçar, paradoxal e extraordinariamente, a “ditadura da esquerdalha comunista”?

EA estaria preparando um novo romance, distópico, como os dois anteriores, ilisíveis, segundo um jornalista que os resenhou?

Já telefonou para uma simples saudação cordial ao seu ex-chefe, temporariamente “refugiado” num condomínio em Orlando?

Reativou seus contatos com Steve Bannon, o estrategista-chefe do trumpismo ascendente?

E aquela sua brilhante ideia de estabelecer uma nova Santa Aliança entre as três grandes nações cristãs do planeta, o Brasil católico, a América protestante e a Rússia ortodoxa? Não valeria um novo ensaio de história das ideias (malucas?), a exemplo daquele que o fez ascender no cenáculo intelequitual do olavismo triunfante, que tratava Trump como o “salvador do Ocidente”?

Quando termina sua LIP (licença para trato de assuntos particulares) no Serviço Exterior brasileiro? 

O Gabinete do atual chanceler manteve a sua foto na galeria dos ministros das relações exteriores, agora bicentenário, começando por José Bonifácio?

Onde andará?, cantaria Chico Buarque?


Paulo Roberto de Almeida 

Brasília, 12/01/2023


quarta-feira, 11 de janeiro de 2023

O vórtice da demência coletiva: alienação extrema chega ao Brasil sob Bolsonaro - Paulo Roberto de Almeida

 O vórtice da demência coletiva: alienação extrema chega ao Brasil sob Bolsonaro

Paulo Roberto de Almeida 

Raras vezes na história da humanidade se pode ver, tocar, registrar, conviver com um grau de loucura coletiva desenfreada tal como materializado na fúria incontrolável de milhares de fanáticos bolsonaristas que devastaram os três poderes do Estado em Brasília, em 8/01/2023. 

Precedentes podem ser considerados nos casos do suicídio coletivo promovido pelo pastor americano Jim Jones na Guiana (em 1978) e o do fanatismo exacerbado, de fato um delírio coletivo, de parte expressiva da população alemã sob Hitler a partir de 1933.

No caso do Brasil, não ocorreu o tipo de planejamento metódico, como o que Hitler promoveu a partir de sua prisão depois do putsch frustrado da cervejaria e da redação e publicação de Mein Kampf, tanto porque o inepto tenente rejeitado pelo Exército por terrorismo seria incapaz de articular o crescendo de loucura que estimulou desde 2018. Concorreram, no caso brasileiro, a ação golpista-tutelar de altos oficiais das FFAA - que quiseram fazer do medíocre político ex-militar sua alavanca em busca de poder e de benefícios pessoais e corporativos — e a mobilização política e financeira de empresários reacionários, devotados à mesma causa autoritária representada pelo representante da ala mais sombria da ditadura militar que destroçou a frágil democracia brasileira em 1964.

O elo militar-empresarial alimentou e promoveu nossa descida à loucura coletiva.

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 11/01/2023


terça-feira, 10 de janeiro de 2023

Guilherme Casarões tenta encontrar algum sentido na loucura vivida no Brasil nos últimos cinco anos

Brazil insurrection: how so many Brazilians came to attack their own government


Terrorismo em Brasília é obra militar - Rafael Moro Martins (The Intercept)

Terrorismo em Brasília é obra militar

Rafael Moro Martins

The Intercept Brasil

Segunda-feira, 9 de janeiro de 2023

"Políticos, jornalistas e juízes se tornaram o pior pesadelo das forças policiais", disparou Luiz Fernando Ramos Aguiar, major da Polícia Militar do Distrito Federal em 2021. Por escrito e assinado, ele ameaçou autoridades e toda uma classe profissional por terem reagido à maior chacina perpetrada pelas polícias do Rio de Janeiro, na favela do Jacarezinho, em maio passado. 

Mesmo publicado num blog da esgotosfera policial, como foi o caso, o artigo deveria ter sido farejado pelos comandantes de Aguiar e lhe rendido uma punição exemplar. Não foi, e ainda ficou pior: a diatribe chamou a atenção dos editores do jornal paranaense Gazeta do Povo, que a reembalou e republicou para um público muito maior. 

Ainda assim, nada ocorreu a Aguiar. Ao contrário –  ele segue com cargo de confiança na corporação. Recebe, limpos, mais de R$ 18 mil mensais, segundo o Portal da Transparência. 

A leniência das autoridades com a radicalização à extrema direita das forças de segurança vai muito além do major, no entanto. O nome do Corpo de Bombeiros do Distrito Federal, por exemplo, vem sendo há 12 anos usado por um site para vender conteúdo fascista e politicamente enviesado – além de publicidade.

É por isso que surpreende zero pessoas bem-informadas a facilidade com que terroristas invadiram e destruíram o Palácio do Planalto, o Congresso Nacional e o Supremo Tribunal Federal neste domingo, dia 7, em Brasília. Já sabemos que colegas do major Aguiar bebericavam água de coco enquanto assistiam aos terroristas destruírem a Praça dos Três Poderes.

Claro, há alguns protagonistas entre os culpados óbvios pelo maior atentado terrorista já visto no Brasil. O primeiro é Ibaneis Rocha, um advogado ricaço e prepotente que resolveu brincar de político e torrou alguns milhões para se eleger e reeleger governador do Distrito Federal pelo MDB. Espécie de Bolsonaro que prefere vinhos caríssimos a frango com farofa, Ibaneis resolveu zombar do país todo ao renomear o delegado da Polícia Federal Anderson Torres como seu secretário da Segurança Pública.

Torres foi chefe de gabinete do deputado federal Fernando Francischini, do União Brasil paranaense, cassado por mentir sobre as urnas eletrônicas que o elegeram. Como prêmio, foi chamado por Ibaneis para comandar a Segurança do DF, mas deixou o cargo em março de 2021 para ser ministro da Justiça de Jair Bolsonaro. Sob o comando de Torres, a Polícia Rodoviária Federal matou Genivaldo de Jesus Santos numa câmara de gás improvisada no camburão de uma viatura no Sergipe. 

O assassinato não custou o cargo a Torres, que ficou à vontade para tentar roubar a eleição para o chefe Bolsonaro – usando, novamente, a PRF – e ficar de braços cruzados quando golpistas resolveram tocar o terror em Brasília em 12 de dezembro, dia da diplomação de Luiz Inácio Lula da Silva e Geraldo Alckmin no Tribunal Superior Eleitoral. 

Nada disso fez Ibaneis desistir de devolver-lhe a Secretaria da Segurança Pública. O governador tentou salvar o próprio pescoço demitindo Torres no auge da barbárie do domingo – àquela altura, já se sabia que o Batalhão de Choque da PM do Distrito Federal só fora acionado quando golpistas já depredavam os prédios públicos mais importantes do país. Tarde demais, Ibaneis: se houver um resto de institucionalidade no Brasil, você e Torres serão escorraçados da vida pública. E, talvez, presos por prevaricar.

A lista de honra das tchutchucas de terroristas também tem lugar para o ministro da Defesa José Múcio Monteiro, que puxava o saco dos militares nos anos 1970 e inexplicavelmente foi chamado por Lula para seguir fazendo a mesma coisa. Na semana passada, Múcio riu no Salão Nobre do Palácio do Planalto quando precisou falar sobre os amigos e parentes que dizia ter nos acampamentos golpistas protegidos pelo infame Exército brasileiro. 

"Não sabia que iam levar isso tão a sério", divertiu-se o ex-arenista. Neste domingo, perguntei à assessoria de Múcio se ele seguia achando o golpismo bolsonarista "democrático" – e se algum amigo ou parente dele lhe mandou selfies destruindo prédios públicos. Dessa vez, o outrora risonho ministro preferiu o silêncio – a essa altura, indecoroso como os atentados terroristas.


A destruição é militar

O foda-se institucional, justiça seja feita, é obra militar. Eduardo Villas Bôas, Sérgio Etchegoyen, Hamilton Mourão, Walter Braga Netto, Luiz Eduardo Ramos, Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira e Marco Antônio Freire Gomes, todos generais de quatro estrelas do Exército, sonharam reviver a ditadura de seus pares, mas passarão à história como cúmplices da destruição da capital federal. Terão a seu lado os ex-comandantes da Marinha, Almir Garnier Santos, e da Aeronáutica, Carlos Almeida Baptista Junior. 

Tudo isso – a podridão institucional de toda uma geração de altos comandantes militares, as risadas cínicas de Múcio, a prepotência de Ibaneis e a cumplicidade aberta de Torres – se materializou, ontem, na tranquilidade com que PMs assistiram inertes à destruição de Brasília. Nisso, foram seguidos pelos militares do Regimento de Cavalaria de Guardas e do Batalhão da Guarda Presidencial, unidades do Exército cuja ÚNICA função (o grifo é necessário aqui) é proteger a sede do poder Executivo.

Mas só quem acordou ontem se surpreendeu. A fleuma com que fardados se sentem à vontade para atacar a democracia se exibe cotidianamente, por exemplo, nos esbirros golpistas de generais em redes sociais. Ou na tranquilidade com que o guarda da esquina – em nosso exemplo, o major da PM Luiz Fernando Ramos Aguiar – ataca de uma só vez a magistratura, a classe política e toda a imprensa sem temer retaliação e se fazendo cúmplice do terrorismo da extrema direita.

Cada qual dessas categorias profissionais, diga-se, tem seu quinhão de culpa na esbórnia institucional. Juízes – dos circunspectos Luiz Fux e Luís Roberto Barroso ao baixo clero da primeira instância – aplaudiram o vale-tudo jurídico-político da Lava Jato e se fizeram instrumentos da abjeta propaganda ideológica da extrema direita sem serem de fato enquadrados pelo Conselho Nacional de Justiça. 

(Parêntese necessário: o Ministério Público tem como uma de suas funções fiscalizar e controlar a atividade policial. Mas, há alguns anos, o grosso dos promotores e procuradores passou a gostar da sensação de descer o cacete e prender sem provas, tal como fazem os policiais militares brutamontes da Rota paulista. O retrato de Dorian Gray do acanalhamento do parquet está visível para o mundo na cumplicidade franca do procurador-geral da República, Augusto Aras, e sua número dois, Lindôra Araújo, com a extrema direita.)

O quinhão de culpa da classe política é imenso e democraticamente distribuído, mas pode ser resumido em três tristes homens públicos paridos pelo Paraná. Ricardo Barros, deputado federal do PP, um sujeito sempre disposto a servir o governo de turno, tentou culpar Lula, empossado há uma semana, as urnas eletrônicas e o ministro Alexandre de Moraes pela balbúrdia em Brasília.

Deltan Dallagnol, deputado federal do Podemos, acreditou que um Cristo que pertencia a Lula havia sido roubado por ele da Presidência e teve frêmitos de prazer ao imaginar-se lhe passando as algemas. Ontem, só foi balbuciar alguma crítica à depredação generalizada de um patrimônio público e histórico perpetrada por seus irmãos de extrema direita depois das 20h. Com muitos mas, contudos e poréns. 

Sergio Moro, que como juiz foi alicerce fundamental da ascensão da extrema direita, foi ainda pior: atacou o governo Lula por "reprimir protestos". Mais tarde, como a panela de pressão explodindo, disse que os terroristas "precisam se retirar dos prédios públicos antes que a situação se agrave" – sem pedir a prisão deles.

Por fim, é preciso haver uma autocrítica vinda de nós, jornalistas. Neste domingo, a principal coluna política do maior jornal brasileiro, a Folha de S.Paulo, assim arrematou uma nota sobre a chegada de ônibus com golpistas a Brasília: "Os manifestantes contam com uma rede de solidariedade para se manterem acampados". Um par de horas depois, os "manifestantes", amparados por sua "rede de solidariedade", passaram a destruir a capital.

É espantoso que haja alguma surpresa ante o cenário desolador deste domingo. Quem quer que esteja disposto a enxergar as coisas como são já percebeu que as polícias, as Forças Armadas, parte do Ministério Público, do poder Judiciário e da classe política não estão à altura dos papéis institucionais que a Constituição e a sociedade lhes confiaram. Precisarão, todos, ser vigiados de perto pela parcela democrata da sociedade até que sejam devidamente saneados e reconstruídos. Uma tarefa que não é mais adiável – sob pena de sermos, todos, demolidos pelo talibã que veste farda ou camisas da CBF e age cada vez mais às claras no Brasil.


Rafael Moro Martins

Repórter Especial Contribuinte