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Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

quinta-feira, 30 de novembro de 2023

O legado de Henry Kissinger (2008) (antecipei-me) - Paulo Roberto de Almeida

 O Metternich do século XX finalmente faleceu. Eu já tinha feito uma espécie de obituário 15 anos antes; ele me venceu...

1894. “O legado de Henry Kissinger”, Brasília, 1 junho 2008, 5 p. Comentários sobre a obra prática e intelectual do estadista americano. Publicado em Mundorama (Brasília, 31/05/2008); em Meridiano 47 (n. 94, maio de 2008, p. 29-31). Relação de Publicados n. 838.
Divulgado no blog Diplomatizzando (11/05/2020); link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2020/05/o-legado-de-henry-kissinger-paulo.html

O legado de Henry Kissinger

 

Paulo Roberto de Almeida

 

Não, o velho adepto da realpolitik ainda não morreu. Mas tendo completado 85 anos em maio de 2008, o ex-secretário de Estado e ex-conselheiro de Segurança Nacional dos EUA Henry Kissinger aproxima-se das etapas finais de sua vida. Seus obituários – não pretendendo aqui ser uma ave de mau agouro – devem estar prontos nas principais redações de jornais e revistas do mundo inteiro, e os comentaristas de suas obras preparam, certamente, revisões de análises anteriores para reedições mais ou menos imediatas, tão pronto este “Metternich” americano passe deste mundo terreno para qualquer outro que se possa imaginar (na minha concepção, deverá ser o mundo das ideias aplicadas às relações de poder). 

Talvez seja esta a oportunidade para um pequeno balanço de seu legado, que alguns – por exemplo Cristopher Hitchens, em The Trial of Henry Kissinger  querem ver por um lado unicamente negativo, ou até criminoso, como se ele tivesse sido apenas o inimigo dos regimes “progressistas” e um transgressor consciente dos direitos humanos e da autodeterminação dos povos. Ele certamente tem suas mãos manchadas de sangue, mas também foi o arquiteto dos acordos de redução de armas estratégicas e da própria tensão nuclear com a extinta União Soviética, além de um mediador relativamente realista nos diversos conflitos entre Israel e os países árabes, no Oriente Médio. Sua obra “vietnamita” é discutível, assim como foi altamente discutível – ou francamente condenável – o prêmio Nobel da Paz concedido por um simplesmente desengajamento americano, que visava bem mais a resolver questões domésticas do que realmente pacificar a região da ex-Indochina francesa. 

Pode-se, no entanto, fazer uma espécie de avaliação crítica de sua obra prática e intelectual, como reflexão puramente pessoal sobre o que, finalmente, reter de uma vida rica em peripécias intelectuais e aventuras políticas. Sua principal obra de “vulgarização” diplomática, intitulada de maneira pouco imaginativa Diplomacia simplesmente, deve constituir leitura obrigatória em muitas academias diplomáticas de par le monde. Seu trabalho mais importante, uma análise do Congresso de Viena (1815), é mais conhecido pelos especialistas do que pelo grande público, mas ainda assim merece ser percorrido pelos que desejam conhecer o “sentido da História”.

 O legado de Henry Kissinger é multifacético e não pode ser julgado apenas pelos seus atos como Conselheiro de Segurança Nacional de Richard Nixon, ou como Secretário de Estado desse presidente e do seguinte, Gerald Ford, quando ele esteve profundamente envolvido em todas as ações do governo americano no quadro da luta anticomunista que constituía um dos princípios fundamentais da política externa e da política de segurança nacional dos EUA. Esse legado alcança, necessariamente, suas atividades como professor de política internacional, como pensador do equilíbrio nuclear na era do terror – doutrina MAD, ou Mutually Assured Destruction –, como consultor do Pentágono em matéria de segurança estratégica, e também, posteriormente a seu trabalho no governo, como articulista, memorialista e teórico das relações internacionais.

A rigor, ele começou sua vida pública justamente como teórico das relações internacionais, ou, mais exatamente, como historiador do equilíbrio europeu numa época revolucionária, isto é, de reconfiguração do sistema de poder no seguimento da derrocada de Napoleão e de restauração do panorama diplomático na Europa central e ocidental a partir do Congresso de Viena (1815). Sua tese sobre Castlereagh e Metternich naquele congresso (A World Restored, 1954) é um marco acadêmico na história diplomática e de análise das realidades do poder num contexto de mudanças nos velhos equilíbrios militares anteriormente prevalecentes. Depois ele foi um fino analista dessas mesmas realidades no contexto bipolar e do equilíbrio de terror trazido pelas novas realidades da arma atômica. Ele se deu rapidamente conta de que não era possível aos EUA manter sua supremacia militar exclusiva, baseada na hegemonia econômica e militar e no seu poderio atômico, sem chegar a algum tipo de entendimento com o outro poder nuclear então existente, a União Soviética, uma vez que, a partir de certo ponto, a destruição assegurada pela multiplicação de ogivas nucleares torna ilusória qualquer tentativa de first strike ou mesmo de sobrevivência física, após os primeiros lançamentos.

Daí sua preocupação em reconfigurar a equação dos poderes – aproximando-se da China, por exemplo – e em chegar a um entendimento mínimo com a URSS, através dos vários acordos de limitações de armas estratégicas. O controle da proliferação nuclear também era essencial, assim como evitar que mais países se passassem para o lado do inimigo principal, a URSS (o que justifica seu apoio a movimentos e golpes que afastassem do poder os mais comprometidos com o lado soviético do equilíbrio de poder). Numa época de relativa ascensão da URSS, com governos declarando-se socialistas na África, Ásia e América Latina, a resposta americana só poderia ser brutal, em sua opinião, o que justificava seu apoio a políticos corruptos e a generais comprometidos com a causa anticomunista. Não havia muita restrição moral, aqui, e todos os golpes eram permitidos, pois a segurança dos EUA poderia estar em jogo, aos seus olhos. 

Ou seja, todas as acusações de Christopher Hitchens estão corretas – embora este exagere um pouco no maquiavelismo kissingeriano – mas a única justificativa de Henry Kissinger é a de que ele fez tudo aquilo baseado em decisões do Conselho de Segurança Nacional e sob instruções dos presidentes aos quais serviu. Não sei se ele deveria estar preso, uma vez que sua responsabilidade é compartilhada com quem estava acima dele, mas certamente algum julgamento da história ele terá, se não o dos homens, em tribunais sobre crimes contra a humanidade. Acredito, pessoalmente, que ele considerava as “vítimas” de seus muitos golpes contra a democracia e os direitos humanos como simples “desgastes colaterais” na luta mais importante contra o poder comunista da URSS, que para ele seria o mal absoluto. 

O julgamento de alguém situado num plano puramente teórico, ou “humanista” – como, por exemplo, intelectuais de academia ou mesmo jornalistas, para nada dizer de juízes empenhados na causa dos direitos humanos ou de “filósofos morais” devotados à “causa democrática” no mundo –, tem de ser necessariamente diferente do julgamento daqueles que se sentaram na cadeira onde são tomadas as decisões e tem, portanto, de julgar com base no complexo jogo de xadrez que é o equilíbrio nuclear numa era de terror, ou mesmo no contexto mais pueril dos pequenos golpes baixos que grandes potências sempre estão aplicando nas outras concorrentes, por motivos puramente táticos, antes que respondendo a alguma “grande estratégia” de “dominação mundial”. Desse ponto de vista, Kissinger jogou o jogo de forma tão competente quanto todos os demais atores da grande política internacional, Stalin, Mao, Kruschev, Brejnev, Chu Enlai, Ho Chi-min e todos os outros, ou seja, não há verdadeiramente apenas heróis de um lado e patifes do outro. Todos estão inevitavelmente comprometidos como pequenos e grandes atentados aos direitos humanos e aos valores democráticos.

Não creio, assim, que ele tenha sido mais patife, ou criminoso, do que Pinochet – que ele ajudou a colocar no poder – ou de que os dirigentes norte-vietnamitas – que ele tentou evitar que se apossassem do Vietnã do Sul (e, depois, jogou a toalha, ao ver que isso seria impossível cumprir pela via militar, ainda que, na verdade, os EUA tenham sido “derrotados” mais na frente interna, mais na batalha da opinião pública doméstica, do que propriamente no terreno vietnamita). Ou seja, Kissinger não “acabou” com a guerra do Vietnã: ele simplesmente declarou que os EUA tinham cumprido o seu papel – qualquer que fosse ele – e se retiraram da frente militar.

Seu legado também pode ser julgado como “comentarista” da cena diplomática mundial, como memorialista – aqui com imensas lacunas e mentiras, o que revela graves falhas de caráter – e como consultor agora informal de diversos presidentes, em geral republicanos (mas não só). Ele é um excelente conhecedor da História – no sentido dele, com H maiúsculo, certamente – e um grande conhecedor da psicologia dos homens, sobretudo em situações de poder. Trata-se, portanto, de um experiente homem de Estado, que certamente serviu ardorosamente seus próprios princípios de atuação – qualquer que seja o julgamento moral que se faça deles – e que trabalhou de modo incansável para promover os interesses dos EUA num mundo em transformação, tanto quanto ele tinha analisado no Congresso de Viena.

Desse ponto de vista, pode-se considerar que ele foi um grande representante da escola realista de poder e um excelente intérprete do interesse nacional americano, tanto no plano prático, quanto no plano conceitual, teórico ou histórico. Grandes estadistas, em qualquer país, também são considerados maquiavélicos, inescrupulosos e mentirosos, pelos seus adversários e até por aliados invejosos. Esta é a sina daqueles que se distinguem por certas grandes qualidades, boas e más. Kissinger certamente teve sua cota de ambas, até o exagero. Não se pode eludir o fato de que ele deixará uma marca importante na política externa e nas relações internacionais – dos EUA e do mundo – independentemente do julgamento moral que se possa fazer sobre o sentido de suas ações e pensamento.

Por uma dessas ironias de que a História é capaz, coube a um dos presidentes mais ignorantes em história mundial (Ronald Reagan) enterrar, praticamente, o poder soviético com o qual Kissinger negociou quase de igual para igual durante tantos anos. Ele, que considerava o resultado de Viena um modelo de negociação – por ter sido uma paz negociada, justamente, não imposta, como em Versalhes – deve ter sentido uma ponta de inveja do cowboy de Hollywood, capaz de desmantelar o formidável império que tinha estado no centro de suas preocupações estratégicas – e que ele tinha poupado de maiores “desequilíbrios” ao longo dos anos. Seu cuidado em assegurar o “equilíbrio das grandes potências” saltou pelos ares com o keynesianismo militar praticado por Reagan, um desses atos de voluntarismo político que apenas um indivíduo totalmente alheio às grandes tragédias da História seria capaz. Talvez Kissinger tivesse querido ser o arquiteto do grande triunfo da potência americana, mas ele teve de se contentar em ser apenas o seu intérprete tardio. Nada mau, afinal de contas, para alguém que foi, acima de tudo, um intelectual...

 

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 2 de junho de 2008

Divulgado no blog Diplomatizzando (11/05/2020; link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2020/05/o-legado-de-henry-kissinger-paulo.html).

 

 

quarta-feira, 29 de novembro de 2023

O Tamoio: o jornal da independência do Brasil, da família dos Andradas: lançamento na CD

 


Pronunciamento do presidente Lula na cerimônia de formatura do Instituto Rio Branco, 2023

Pronunciamento do presidente Lula na cerimônia de formatura do Instituto Rio Branco

Transcrição do pronunciamento do presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, na cerimônia de formatura do Instituto Rio Branco, no Palácio Itamaraty, em 21 de novembro de 2023


Meu querido companheiro Mauro Vieira, ministro das Relações Exteriores, por meio de quem cumprimento os demais diplomatas que completaram 50 anos de serviço público. General Marcos Antônio Amaro, ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional, Jean Baptista, o Núncio Apostólico do Brasil, por meio de quem cumprimento os demais chefes de missão diplomática. Embaixadora Maria Laura da Rocha, secretária-geral do Itamaraty, embaixadora Glivânia Maria de Oliveira, diretora do Instituto Rio Branco e embaixadora Maria Elisa Teófilo de Luna, paraninfa da turma Mônica de Menezes Campos, formandos, e familiares, amigos e amigas.

Eu, por conta do discurso do Essi Rafael, resolvi deixar meu discurso lá e vim falar um pouco com vocês, não da história da fundação do Itamaraty, ou da história da nossa diplomacia, porque não fui tão longe como esse. Mas eu queria falar para jovens que estão adentrando essa carreira de diplomata que, nesses anos todos, eu aprendi a ter uma relação de muito respeito com o Itamaraty.

Muitas vezes, eu nem era presidente da República, nos anos oitenta, era apenas um dirigente sindical, e quase todas as vezes que eu viajava para o exterior eu tinha um assessor, um grande companheiro de muitos de vocês, chamado Marco Aurélio Garcia, que toda vez que eu ia viajar ele comunicava ao Itamaraty que a gente ia viajar. Não importa se o presidente fosse Figueiredo, fosse Geisel, fosse Sarney, quem quer que seja, a gente comunicava ao Itamaraty que a gente ia viajar ao exterior.

E muitas vezes, Mauro, muitas vezes mesmo, sempre tinha alguém do Itamaraty esperando a gente no aeroporto, e muitas vezes a gente era convidado até para almoçar ou para jantar na embaixada. Isso me fez aumentar o orgulho que eu já tinha do Itamaraty, porque muitas vezes nós somos acusados, e muita gente até merece essa acusação, de termos complexo de vira-lata, de não termos autoestima, de não defendermos as coisas que nós acreditamos, e muitas vezes dizem que a gente se subordina demais, às vezes, à vontade de países mais importantes que nós.

Eu não acho que seja assim. Eu acho que não é o Itamaraty que determina a política externa dele. O Itamaraty cumpre as estratégias determinadas por um governo. E se o governo tiver estratégia de política internacional, eu posso dizer pra vocês que o Itamaraty tem mulheres e homens altamente capacitados para exercer qualquer que seja a tarefa determinada pelo governo. E isso é motivo de orgulho pra vocês que estão entrando nessa carreira.

Não é uma carreira fácil. Dizem que a gente pensa de acordo com o chão que os nossos pés pisam, e aí a gente precisa sempre ter cuidado de fazer com que os embaixadores possam conhecer, desde o início, a diversidade da função. É muito importante que a gente faça com que o Brasil tenha uma política muito altiva e ativa na América do Sul e no Caribe, e na América Latina. É muito importante estrategicamente, para um país como o Brasil, ter uma aproximação muito forte com o continente africano.

Se não por outra razão, é porque nós temos origem naquele continente. É porque nós devemos parte da nossa cultura àquele continente. Porque nós devemos parte do que nós somos àquele continente. E porque eles precisam que a gente retribua, não com dinheiro porque também não temos, mas com transferência de tecnologia, sabe, tudo aquilo que a gente pode ajudá-los. É esse o papel de um país do tamanho do Brasil, que faz fronteira seca de quase 16.800 km na América do Sul, e que tem como fronteira marítima todo o continente africano. Vai de Cabo Verde à Cidade do Cabo, ou seja, que a gente tem que tratar isso com muito carinho, muito respeito e com muita diplomacia, sem o complexo da arrogância daquele que acha que alguém é inferior a nós.

Eu vivi muitas histórias aqui no Itamaraty. Muitas. E muitas alegrias, e poucas tristezas. Eu tive oportunidade de viver isso aqui quando a gente resolveu não permitir que a ALCA se implantasse na nossa querida América do Sul, e que a gente fortalecesse o Mercosul, que tinha sido criado pelo presidente Sarney e pelo presidente Alfonsin (ex-presidente da Argentina, Raúl Alfonsin). Eu lembro da importância que foi a gente criar a UNASUL. Nunca, em nenhum momento da história desse país, os países da América do Sul estiveram tão irmanados como nós tivemos durante um período de quase 16 anos.

E não era irmanado porque pensávamos politicamente a mesma coisa, porque pensávamos ideologicamente a mesma coisa. Não. Éramos irmanados porque, em determinado momento da nossa história, o povo elegeu um agrupamento de dirigentes que tinha noção de que era preciso que a gente construísse um grupo, um conjunto de países, que resolvesse se fortalecer para negociar com aqueles que eram mais fortes do que nós. Para negociar com os Estados Unidos, para negociar com a China, para negociar com a União Europeia, para negociar com o Japão. Ou seja, era preciso que a gente se fortalecesse e que tivesse decisões comuns em determinadas ações de políticas externas.

E nós conseguimos viver o melhor momento. Foi aqui no Itamaraty que nós decidimos fazer a primeira reunião da história entre países árabes e países da América do Sul. Em que os Estados Unidos ficaram assustados achando que nós estávamos fazendo um movimento contra Israel. E a gente não queria fazer um movimento contra Israel, a gente queria fazer o movimento pró-Brasil, pró-América do Sul, para que a gente pudesse adentrar nesse mundo árabe e tentar estabelecer negociações e relações políticas mais maduras.

Foi aqui também que nós tomamos a decisão de fazer a primeira reunião entre o continente africano e o continente sul-americano para que a gente pudesse permitir, sabe, que os pobres do mundo se conhecessem, e que pudessem estabelecer relações, e que a gente pudesse descobrir que, mesmo sendo pobre, muita gente tem muito a oferecer para nós e nós temos muito a oferecer para eles. É por isso que nós fizemos a maior investida de embaixadores que já teve na história da África. Foram 19 embaixadas novas criadas, foram 34 países visitados. Levamos para Gana a Embrapa. Levamos para Moçambique a Universidade aberta, levamos uma fábrica de remédios retrovirais. Ou seja, na perspectiva de que o Brasil tinha que cumprir um papel muito forte para não permitir que a África continuasse sendo refém dos colonizadores, ou refém de uma atuação muito forte da China, que estava procurando lugares para poder comprar os alimentos que tanto eles precisavam.

E foi assim que o Brasil foi conquistando respeito no mundo, e foi assim que o Brasil foi ficando importante, e foi assim que eu tenho muito orgulho de ter sido o único presidente do Brasil convidado para participar de todas as reuniões do G7, menos uma que foi em São Francisco que foi o segundo ano já no governo Bush. E aí tem coisas interessantes para contar: a primeira vez que eu participei, em junho de 2003, eu tinha apenas seis meses de governo, e eu fui convidado a participar do G7 em Evian. Cheguei em Evian, um metalúrgico recém-eleito presidente da República, olhei pra dentro de uma sala cercada por vidros blindados para tudo quanto é lado, estavam lá grandes figuras que eu só via lá na televisão. Estava lá o Bush, estava lá o Tony Blair, estava lá o primeiro ministro da Itália e estava lá o convidado rei da Arábia Saudita, estava lá o Koizumi, do Japão. E eu fiquei pensando: "o que que eu vou fazer dentro dessa reunião?". E mais: não podia entrar intérprete. Eu nem entendia e nem falava. E eu falei: "o que que eu vou fazer?". Aí eu fiquei lá fora, o Sérgio Ferreira, que está aqui até hoje, e eu falei: "Sérgio, que que eu vou fazer lá dentro? Eu não consigo nem falar bom dia em inglês". Em espanhol eu ainda consigo falar “hola, que tal? Buenos dias”. O que é que eu vou fazer lá dentro?

Aí me baixou uma coisa, que eu acho que é uma coisa que deve nortear vocês, que é não esquecer o que vocês são, é não esquecer o que vocês querem, porque a gente não compra nem honra nem caráter em shopping. A gente traz de família, a gente traz de berço. Eu lembro que ver aquela gente toda importante, que eu só via na televisão, porque é engraçado, a gente vê mais o presidente americano na televisão brasileira do que o brasileiro mesmo. É uma capacidade de comunicação extraordinária. E eu fiquei pensando: "bem, desses presidentes que estão aí, alguém já viveu desempregado? Alguém já trabalhou no chão de fábrica? Alguém já viveu num bairro que dava enchente? Alguém já acordou com rato, com barata, com um metro e meio de água dentro de casa? Alguém já passou fome? Alguém já morou na periferia de algum país?", e eu pensava “acho que não”. E eu me enchi de orgulho para falar, e sabe o que eu vou falar? Eu vou falar o que eu sei falar. E eles vão me entender porque o Sérgio ia interpretar cada palavra que eu falasse. E eu entrei. Nunca me senti tão à vontade na vida, porque eu tinha definido antes de qualquer coisa que eu não era inferior a eles. Que eu não era melhor, que eu representava não o Lula, não a quantidade de diploma, eu representava o Brasil, o povo brasileiro e que, portanto, eu tinha que ter orgulho. Isso fez com que a gente ganhasse a respeitabilidade que eu acredito que tenha sido o melhor momento da história desse país.

Eu posso dizer aos jovens diplomatas, e aos velhos também. Velhos, não, experientes. De que eu estou voltando agora, estou apenas há 10 meses no governo, eu acho que nós estamos em uma fase melhor do que a gente estava quando eu deixei a presidência. Se bem que nós estamos vivendo algumas confusão na América do Sul. Não é mais a mesma de 2002, 2004, 2006. Nós vamos ter problemas políticos e, ao invés de reclamar dos problemas políticos, a gente precisa ser inteligente e tentar resolvê-los. Tentar conversar. Tentar fazer com que as pessoas aprendam a viver democraticamente na diversidade. Eu não tenho que gostar do presidente do Chile, da Argentina, da Venezuela. Ele não tem que ser meu amigo. Ele tem que ser presidente do país dele e eu tenho que ser presidente do meu país. Nós temos que ter políticas de Estado brasileiro e ele política do estado dele. Nós temos que sentar na mesa, cada um defendendo os seus interesses, como não pode ter supremacia de um sobre o outro, a gente tem que chegar num acordo. Essa é a arte da democracia, a gente ter que chegar a um acordo.

E aí é preciso ter capacidade de negociação, ter capacidade de convencimento, ter capacidade de ceder. É por isso que historicamente eu comparo democracia a um casamento. Nada é parecido com a democracia do que um casamento. Porque no casamento, na hora que você casa, na hora que você tem uma companheira, ou a companheira tem um companheiro, e você tem filhos, todo dia a gente faz concessão. É a gente que faz concessão pra mulher, é mulher que faz concessão pra gente, é a gente que faz concessão pra filho, é filho que faz concessão pra gente. Porque se não for assim, acaba o casamento.

E se não for assim, acaba a grandiosidade de uma coisa chamada diplomacia brasileira, que quer queira ou não é uma das mais respeitadas e mais elogiadas no mundo inteiro. Se tem uma coisa que a gente tem que ter orgulho, é da diplomacia brasileira. Eu posso não gostar de um diplomata, mas se o Brasil tiver política correta, esse diplomata vai exercer a sua função como funcionário do Estado brasileiro, e a gente vai ter orgulho do trabalho que ele prestou.

Eu lembro, Mauro, você já estava no Itamaraty, eu lembro quando começou a briga com Estados Unidos e Iraque. Eu lembro que o nosso representante na agência de armas químicas, me parece, ou armas atômicas, era o embaixador Bustani. E eu lembro que o embaixador Bustani disse publicamente, várias vezes, que não tinha armas químicas no Iraque. Disse isso com todo o poder da voz que ele tinha. Mas como os americanos precisavam prestar contas ao seu povo, de que era preciso derrotar alguém ligado ao terrorismo, era preciso consagrar a mentira de que o Iraque tinha armas químicas. E esse caso é fantástico porque mentiu Saddam Hussein pro seu povo, passando a ideia que tinha, e mentiu os Estados Unidos dizendo que tinha. Aí eu lembro que foi sacado do cargo o nosso companheiro Bustani, e eu fui conversar com um amigo embaixador. Não vou dizer nem aonde e nem quando, e ele me dizia assim: "Presidente, tá correto tirar o Bustani. O Brasil não tem que estar naquela agência, o Brasil não põe dinheiro lá". Eu achei uma atitude tão pequena, eu achei uma atitude tão subserviente, porque não se trata do Brasil colocar dinheiro ou não, se trata de um Brasil que faz parte de um conjunto de países que compõem a ONU. E que, portanto, o Brasil tem o direito de participar e tentar ocupar o cargo. Senão, fica uma coisa estranha.

Quando eu tomei posse em 2003, em setembro eu fui fazer meu discurso e o Brasil estava devendo todas as instituições. Todas. Pense no que que é um presidente chegar para falar e eu fiquei vendo a hora de o Kofi Annan falar: "ô baixinho, para de falar grosso e paga o que você deve, pô". Porque é vergonhoso, é vergonhoso você participar de uma série de coisas e não pagar. Você perde a autoridade moral. E durante todo o meu período de governo, sabe, quem foi diplomata no meu tempo, a gente fazia questão de pagar para que a gente tivesse autoridade de interferir em qualquer espaço que a gente estivesse.

Agora me parece que estava atrasado outra vez. Nós vamos ter que colocar em dia. Porque a gente tem que chegar nos lugares e andar de cabeça erguida. Porque se não você chega, vai sentar, e o cara fala: "o baixinho, você não pagou, fica de pé". E não é possível, assim a gente perde o respeito internamente entre nós.

Então eu queria dizer pra vocês que estão se formando, que a gente vai tentar fazer com que o Brasil tenha uma política externa mais ativa e mais altiva. Obviamente que a gente tem debilidades financeiras, nem sempre a gente tem a quantidade de dinheiro que a gente gostaria de ter, mas, por exemplo, eu tinha visitado, nos meus dois primeiros mandatos, todos os países da América do Sul e do Caribe. Não ficou um que eu não visitasse. E alguns mais de uma vez. A gente, pra manter uma boa relação com a Venezuela, a gente tinha quatro reuniões por ano com a Venezuela. Eram duas lá e duas cá. Era quase um bolero.

A gente fazia muita reunião com a Argentina, porque a Argentina é um país parceiro, o Brasil tem uma relação extraordinária com a Argentina. Foi o primeiro país que eu visitei para dar uma demonstração, em 2003, de que a gente ia ter uma forte política para a América do Sul. Porque quando eu não era ainda candidato, eu já percebia que, durante muito tempo, o Brasil olhava para os Estados Unidos e para União Europeia de costas viradas para a América do Sul. Isso aqui não tinha importância, isso aqui era problema. Pra que cuidar do Uruguai, do Paraguai, da Bolívia? É tudo problema. Não, gente. Se a gente não cuida de quem está perto da gente, muito menos a gente cuida de quem está longe. A gente olhava pro continente europeu e não via a África. Se bem que foi no regime militar, que foi no governo Geisel que a gente foi o primeiro país a reconhecer a independência de Angola.

É essa diplomacia que nós temos que levar em conta. É vocês saberem que vocês estão sendo respeitados por aquilo que vocês fazem. Pelo trabalho, e é preciso que o governo tenha a política, porque se alguém chegar pra vocês e falar "o embaixador não faz nada", não acreditem. O que falta é orientação política. Se o governo tiver orientação política e o Itamaraty receber a orientação política correta, todos os diplomatas serão competentes e irão executar essa política. Portanto, é esse presidente que vai, nesses próximos quatro anos, se relacionar com vocês.

A gente vai voltar a ter orgulho de ter orgulho. A gente vai voltar a ter orgulho de ser respeitado. A gente vai voltar a ser um país que não se sente menor do que ninguém, e nem queremos ser maiores. Queremos apenas compartilhar com os nossos irmãos aquilo que a gente pode fazer em conjunto. Mesmo na questão do desenvolvimento, eu sempre imaginava que o Brasil não pode crescer sozinho. Um país que tem uma fronteira que tem o Brasil, o Brasil precisa compartilhar muitas de suas políticas de desenvolvimento com outros países. Se a gente produz um avião, que alguém produza a asa, que alguém produza a hélice. Se a gente produz um barco, que alguém produza alguma parte do navio para que a gente possa gerar oportunidade pra todo mundo.

Eu não quero que o Brasil seja uma nação rica cercada de pobre por todos os lados. Eu não quero repetir o padrão América do Norte. Não é comum que a gente não tenha na América do Norte aquele monte de país do Caribe vizinho dos EUA, nenhum país ficou rico ao longo de 500 anos. É porque não tem política de compartilhamento. Vocês veem todo dia na televisão se construindo um muro para evitar que latino-americano vá para os Estados Unidos. A melhor forma de evitar, e mais barata, é fazer com que tenha desenvolvimento nos países da América Latina e do Caribe.

As pessoas viram nômade porque as pessoas querem viver, porque as pessoas querem comer. Essa é a origem da espécie humana. A gente vivia atrás de comida, as pessoas querem comer, as pessoas querem emprego. E se nos seus países não oferecem, as pessoas tentam buscar onde tem. É com essa ideia que eu gostaria de terminar meu discurso dizendo para vocês: vocês já faziam parte da história desse país, agora vocês escolheram uma função que vocês vão representar o Brasil. Não importa a grandiosidade da função, até porque ninguém nasce grande e ninguém começa grande. Ninguém. Mas vocês podem crescer na carreira, e vocês podem não só ter orgulho da função de vocês, como nós, brasileiros, poderemos ter orgulho de vocês.

Eu acho que no nosso governo, Mauro, o Itamaraty tem que receber orientação: qualquer autoridade brasileira que chegar no exterior e precisar do Itamaraty, o Itamaraty tem que atendê-lo sem saber quem é, se ele gosta do governo, se não gosta, se gosta do Lula, se não gosta, até porque ninguém é obrigado a gostar de ninguém. Nós somos obrigados a conviver de forma civilizada, democrática e respeitosa entre os seres humanos. É esse o mundo que nós poderemos construir. E é esse mundo que está agora começando na mão de vocês. Uma evolução, muitas meninas, ainda menos do que a gente precisa, vários estados estão aqui, não está mais apenas no Rio e em São Paulo. E aos poucos a gente vai fazendo com que... a gente já fez com que as universidades ficassem a cara do Brasil.

Outro dia eu fui na USP, e era um ato público, e na hora da fotografia a reitora falou assim pra mim: "Ô presidente, dá uma olhada na foto como mudou a cara da universidade". Antes, era só uma cor, era só um tipo de gente, e agora é uma coisa muito diversa. E o Itamaraty, Mauro, também tem que ser assim. O Itamaraty não tem que ter problema de gênero, o Itamaraty não tem que ter preconceito. O Itamaraty, e é por isso que vamos continuar investindo na educação, o Itamaraty tem que ser a cara do Brasil. Portanto, parabéns a vocês. Que Deus possa dar a vocês a sabedoria que o Brasil precisa desses novos representantes. E parabéns às famílias de vocês. Um abraço e boa sorte na carreira de vocês.


Discurso do Ministro Mauro Vieira por ocasião do Dia do Diplomata, 2023

 

Discurso do Ministro Mauro Vieira por ocasião do Dia do Diplomata - Brasília, 21 de novembro de 2023

Excelentíssimo Senhor Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva,

Senhora Secretária-geral das Relações Exteriores, embaixadora Maria Laura da Rocha,

Excelência reverendíssima, Arcebispo Giambattista Diquattro, Núncio Apostólico

Senhora Diretora-Geral do Instituto Rio Branco embaixadora Glivânia Maria de Oliveira,

Senhora paraninfa da Turma Mônica de Menezes Campos, embaixadora Maria Elisa Teófilo de Luna,

Senhor orador da Turma Mônica de Menezes Campos, Secretário Essí Rafael Mongenot Leal, 

Colegas do serviço exterior brasileiro,

Formandos, familiares, amigos, senhoras e senhores,

Estendo aos formandos da Turma Mônica de Menezes Campos as mais calorosas boas-vindas a esta cerimônia tão aguardada.

Os novos colegas participaram do concurso de admissão à carreira diplomática em período especialmente desafiador para o Brasil, marcado por graves retrocessos políticos, sociais e econômicos, e pela pandemia de COVID-19.

Felizmente para todos nós, eles perseveraram, e hoje somam-se, oficialmente, a essa grande missão em prol do povo brasileiro que é o serviço exterior.

Permitam-me ilustrar, com uma experiência recente, a complexidade e a urgência dessa missão, bem como a relevância dos servidores que a desempenham.

Há cerca de uma semana, quando a aeronave VC-2, da Força Aérea Brasileira, abriu suas portas no aeroporto de Brasília, o país comoveu-se diante da alegria das crianças que, junto com suas famílias, pisavam, finalmente, o solo brasileiro.

Vinham da Faixa de Gaza, zona conflagrada do Oriente Médio da qual conseguiram partir em segurança após semanas de gestões incansáveis do governo federal, em todos os níveis – desde os funcionários de nossas embaixadas na região, até o próprio Presidente Lula.

Esse foi o décimo voo da Operação Voltando em Paz, por meio da qual foram repatriados 1477 brasileiros e familiares afetados pelo mais recente capítulo do conflito e da ocupação que seguem, há décadas, pendentes de resolução entre Israel e a Palestina.

Essa rápida resposta à crise mobilizou os principais instrumentos da política externa: da diplomacia bilateral, que cultiva o diálogo com todos os países, à diplomacia multilateral, que expressa nossa voz nos foros internacionais; da assistência a brasileiros no exterior à cooperação humanitária; das mais discretas tarefas administrativas a uma pujante diplomacia pública e presidencial.

Todas essas linhas de ação dependem de uma infraestrutura comum: a imprescindível rede de embaixadas, consulados e missões do Brasil no exterior. Essa presença política, logística e, sobretudo, humana no mundo, onde quer que estejam em jogo os interesses nacionais e globais do país, tem importância existencial para o nosso povo.

Senhoras e senhores,

Vinte anos separam a formatura de hoje da cerimônia da Turma Sérgio Vieira Melo, em 2003, a primeira das oito presididas pelo Presidente Lula ao longo de seus dois primeiros mandatos.

Naquela ocasião, assim dirigiu-se Vossa Excelência, Senhor Presidente, aos formandos, e cito: “Vocês ingressaram na carreira diplomática em um momento de mudanças, em que o Brasil se afirma com crescente desenvoltura e confiança perante o mundo. (...) Ao mesmo tempo, é preciso que lutemos por um sistema internacional mais justo”.

Essas foram as bases da política externa que magnificaria a grandeza do Brasil no mundo, a partir de um reencontro consigo mesmo e com nossa região, e redefiniria os termos do debate sobre relações internacionais em nosso país neste primeiro quarto do século XXI.

Seu principal expoente, o chanceler, e caro amigo, Celso Amorim, definiria essa exitosa política como “desassombrada e solidária”, ao dirigir-se aos formandos do seu último ano à frente do Ministério das Relações Exteriores, em 2010.

A passagem do tempo confirmou o acerto dessa visão arrojada. Ensinou, também, que nenhuma conquista é suficiente, nem definitiva: todas requerem atenção contínua ao seu aprofundamento, bem como à sua proteção contra retrocessos.

A afirmação, pelo Presidente Lula, de que “nossa guerra é contra a fome” é tão pertinente hoje quanto o fora em 2003. A ordem internacional segue incapaz de “preservar as gerações vindouras do flagelo da guerra”, objetivo principal da quase octogenária Carta das Nações Unidas.

Países em desenvolvimento são crescentemente pressionados a alinhamentos automáticos. Nossa tradição diplomática é o melhor antídoto contra esse mau caminho. Ao longo de sua história, o Brasil soube navegar soberanamente a política do mundo, tendo como bússola os seus próprios valores, interesses e aspirações, além do direito internacional.

Recordo, aqui, um preceito de grande atualidade do ex-chanceler à época em que tomei posse como diplomata, Antonio Francisco Azeredo da Silveira, sob cuja liderança tive a honra de trabalhar em meu primeiro posto no exterior: o Brasil nunca será satélite de nenhum país ou bloco.

Como tem dito o Presidente Lula, o Brasil está de volta. Voltou, antes de tudo, a si mesmo, retomando o projeto da Constituição Federal de 1988 em sua plenitude. Voltou ao seu entorno geoestratégico na América do Sul e no Atlântico Sul e, a partir dele, ao contato com parceiros de todas as regiões do globo. Voltou, enfim, ao palco dos grandes debates internacionais.

A intensidade dessa correção de rumos evidencia-se nas mais de 200 interações do Presidente da República com autoridades estrangeiras, desde 1º de janeiro até o momento, na forma de participação em cúpulas e em reuniões bilaterais às suas margens; visitas realizadas e recebidas; telefonemas e videoconferências.

A recuperação do universalismo da política externa não poderia ter expressão mais clara.

Assim como o Brasil voltou ao mundo, o mundo também voltou ao Brasil. Nosso país será, nos próximos anos, a capital de foros internacionais da mais alta relevância, como o G20, a COP30 do Clima, o BRICS e a Zona de Paz e de Cooperação do Atlântico Sul, entre vários outros. Seguirá, igualmente, recebendo importantes visitas bilaterais.

Já no próximo mês, assumiremos duas imensas responsabilidades nessa caminhada.

A primeira delas será a assunção da presidência do G20, agrupamento que reúne as maiores economias do mundo e debaterá iniciativas concretas para enfrentar os principais desafios contemporâneos.

A segunda será a formalização da presidência brasileira da COP30 do Clima, a ser realizada em 2025, mas cuja preparação já começou. A COP constituirá oportunidade única para revitalizar o regime multilateral do clima; buscar limitar o aumento da temperatura global em 1,5 graus centígrados; e acelerar nossa própria transição ecológica e energética.

Essas duas linhas de ação receberão tratamento prioritário em 2024, em conjunto com uma terceira, de caráter permanente: seguir fortalecendo a integração regional, por meio do adensamento das relações bilaterais com os países latino-americanos e caribenhos e do seguimento dos resultados das cúpulas aqui sediadas no Brasil em 2023.

A aposta brasileira na integração, princípio constitucional que rege as relações internacionais do Brasil, seguirá sendo conduzida como projeto de Estado, que atende aos interesses de longo prazo do povo brasileiro, e transcende governos e orientações políticas.

Senhoras e senhores,

O ideal de política externa aqui enunciado, há 20 anos, pelo Presidente Lula segue mais atual do que nunca. Retomá-lo, em novas circunstâncias, exige análise atualizada do contexto internacional, atento aos desafios e aspirações contemporâneos de cada região e de cada país.

O sexagésimo aniversário do discurso proferido pelo chanceler Araújo Castro nas Nações Unidas, em 1963, sobre desenvolvimento, desarmamento e descolonização, convida-nos a reimpulsionar iniciativas diplomáticas voltadas para uma ordem internacional mais justa, pacífica, e capaz de reduzir desigualdades entre países e entre pessoas.

Os próprios parâmetros do exercício da diplomacia também devem ser atualizados, para internalizar o reconhecimento do protagonismo de mulheres, pessoas negras, LGBTQIA+, com deficiência e povos indígenas na história, e nos destinos, do Brasil e das relações internacionais.

A igualdade de gênero e a igualdade racial serão objetivos prioritários e transversais da política externa. O Brasil está em posição única para contribuir com formulações próprias para esse debate, a partir de suas múltiplas identidades como país do Sul, latino-americano, e da diáspora africana.

Prezados colegas,

A dedicação exemplar de seus servidores possibilitou que o Itamaraty conseguisse acompanhar a súbita, e muito bem-vinda, mudança do ritmo da política externa em janeiro deste ano – de um estado de inanição para o reengajamento simultâneo com todos os foros, temas e continentes.

Não obstante, é imperativo reconhecer um limite operacional inegável: a insuficiência de pessoal na Secretaria de Estado das Relações Exteriores.

A agenda da política externa para 2024 nos exigirá ainda mais: além do intenso trabalho habitual em suas áreas, os servidores farão o seguimento de iniciativas lançadas; realizarão cerca de 100 reuniões do G20; e prepararão, para as cúpulas a serem sediadas no Brasil em 2025, algo em torno de cem processos negociadores da COP30 do Clima e dezenas de reuniões do BRICS e do MERCOSUL.

Nesse quadro, questões relativas à gestão de pessoas – incluindo o ingresso, a alocação e a progressão de carreira dos servidores – revestem-se de fundamental importância para o êxito da política externa.

Serão tomadas medidas sistêmicas para, de um lado, mitigar o déficit de funcionários, a exemplo dos concursos já convocados para diplomatas e oficiais de chancelaria; e, de outro, para alocar a força de trabalho do Itamaraty de modo mais eficiente e alinhado com as prioridades estabelecidas pelo senhor Presidente da República.

o planejamento institucional do ministério para o período 2024-2027 conferirá especial atenção à ampliação da diversidade no quadro dos servidores, avançando a partir de conquistas já realizadas como o Programa de Ação Afirmativa do Instituto Rio Branco e da criação, neste governo, do sistema de diversidade e inclusão.

Trabalharemos para aprimorar a qualidade de vida no ambiente de trabalho, com particular atenção à segurança e à saúde física e mental de servidores, e a uma política robusta de prevenção e combate a assédios e a qualquer forma de discriminação.

Tais medidas – combinadas a uma abordagem inclusiva na gestão do patrimônio físico, histórico e artístico da diplomacia – fortalecerão o Itamaraty, e os serviços que presta à sociedade, como espaço de pertencimento físico, político e simbólico para todos os brasileiros.

A diplomacia pública e as relações com os demais ministérios, o Congresso Nacional, e os entes federativos, serão intensificadas. Em seu governo, Presidente Lula, o Itamaraty será mais diverso e permeável ao diálogo com o Estado, a academia e a sociedade brasileira.

Caros formandos,

Compraz-me receber os novos diplomatas ao lado de colegas com quem iniciei minha carreira e com quem compartilho a celebração hoje de 50 anos de serviço público.

Deixo uma palavra de reconhecimento e afeto aos colegas Carlos Antonio da Rocha Paranhos, João Almino de Souza Filho e Andréia Cristina Nogueira Rigueira, e aos colegas de turma do meu curso do Instituto Rio Branco: Piragibe dos Santos Tarragô, Carlos Alberto Lopes Asfora, Eduardo Prisco Paraíso Ramos e Moira Pinto Coelho.

Esse encontro entre as turmas de 2023 e 1973 confere sentido especial a uma palavra muito cara ao Itamaraty: tradição, a qual expressa um ato de entrega. A importância simbólica dessa formação de vínculos, dessa troca de saberes entre gerações, reside tanto em quem passa o bastão, como em quem o recebe.

É nesse espírito que peço aos jovens colegas que recebam as múltiplas matrizes da tradição viva da diplomacia brasileira: prontos a conhecê-la, a honrá-la e a transformá-la quando necessário. E a construir, a partir dela, as novas tradições que conduzirão o futuro do Brasil e do Itamaraty.

É, igualmente, nesse espírito que peço a todos os servidores do Ministério que recebam os formandos: abertos a seus valiosos aportes e ideias, dos quais todos temos muito a nos beneficiar.

Muitas felicidades a todos e muito obrigado.



A visão pró-Rússia do grande conflito geopolítico da atualidade - James Rickards (DailyReckoning.com)

 Por enquanto sem comentários: 

The Recipe For $150 Oil

TUESDAY, NOV 28, 2023 - 10:10 AM

Authored by James Rickards via DailyReckoning.com,

How do the wars in Ukraine and Gaza impact global economic growth and the U.S. economy in particular?

Both wars are ongoing and cataclysmic impacts may yet be felt. Here’s where events stand at the moment. Let’s start with the war in Ukraine…

From a strategic perspective, the situation in Ukraine resembles a smaller-scale version of the situation in Europe in late 1944. At that point, the Allies had successfully completed the D-Day invasion and liberated Paris.

On the Eastern Front, the Russians had annihilated the combined armies of the German Wehrmacht and were advancing through Poland toward Berlin.

Hard fighting remained. The Allies had to fight the Battle of the Bulge in December 1944, and the Russians encountered stiff German resistance in Poland even though they had superiority in numbers, supplies and weapons.

Still, no one doubted that the tide had turned, and Germany was on its way to defeat.

Russia Is Winning on Two Fronts

Likewise, the Russians are clearly defeating the Ukrainians despite the fact that a lot of hard fighting remains. Ukraine’s so-called spring offensive that began in early June was a complete and utter failure.

Nearly six months after it began, Ukraine only captured a few pinprick villages it was expected to take within the first few days.

Casualties are horrendous and Ukraine is reduced to calling up young teenagers, women and old men. The average age of a Ukrainian soldier is 43.

Russia has also demonstrated that NATO weapons systems are hardly wonder weapons.

Russian mines, drones and artillery have destroyed the most advanced German Leopard and U.K. Challenger tanks. The U.S. has held back on letting Ukraine use its Abrams tanks for fear they’ll end up burning on the battlefield like the Leopards and Challengers.

On the economic front, the Russian victory is even more clear-cut than on the military front.

U.S. economic sanctions have failed across the board. The Russian economy is expected to grow at a 5% annualized rate in the fourth quarter of 2023. The best estimate for the U.S. economy in Q4 is 2%, although one can expect that rate to drop as the quarter progresses.

The Russian ruble has withstood Russia’s ejection from global payments networks; it is trading only about 25% lower than when the war began after holding its level against the U.S. dollar over the first 15 months of the war. Inflation in Russia is low.

The Russian economy is on a complete war footing. There are even labor shortages as Russians take jobs in the weapons factories or enlist in the military.

Morale is high, and Putin’s approval rating is above 80% (compare that with Joe Biden’s approval ratings, which are about 37%). To the extent that Putin is unpopular, it’s mostly because many complain he’s not pursuing the war aggressively enough.

Meanwhile, Russian energy sales are at all-time highs. Russia simply sold to India and China any oil and gas that Europe did not want. Meanwhile, Germany is in deep recession even as Russia booms.

Russia’s Also Winning on the Technological Front

Russian technology has proved superior to Western technology on the battlefield. The Russian Kh-47M2 Kinzhal hypersonic missile has destroyed U.S. Patriot anti-missile batteries (about $1 billion each) and has proved unstoppable against Western air defenses.

Russia has also dramatically expanded drone production since the war began. Russia’s even developed advanced drones equipped with AI, which enables coordinated swarm attacks on enemy tanks and armored vehicles.

Russian jamming devices have disabled the GPS systems on the U.S. HIMARS precision artillery systems, which has dramatically impacted their effectiveness.

Russian tech advances have not been confined to weaponry. They’re moving quickly in the areas of semiconductor manufacturing, aeronautics, telecommunications and robotic manufacturing.

So U.S. sanctions have not only failed to stop Russia, but they have also prompted Russia to become a formidable competitor to the collective West.

I said in early 2022 right after the war began that U.S. sanctions would not only fail against Russia, but they would also boomerang and hurt the U.S.

The forecast has proved exactly right.

An Economic Blunder of Epic Proportions

As if Russian advances on the battlefield and Russian economic success were not enough, the U.S. may be about to commit the greatest economic blunder in history, one that could accelerate the flight from the U.S. dollar and destroy confidence in the U.S. Treasury securities market.

Here’s the backstory:

After several weeks of chaos in October, the House of Representatives finally elected a new speaker of the House, Mike Johnson, a mild-mannered but solidly conservative and relatively new member from Louisiana.

He got off to a good start by separating financial support for Israel from support for Ukraine. Both bills will probably pass, but by separating them, Johnson avoided the trap of having to vote for Ukraine in order to support Israel.

Many members support the latter but oppose the former, and now they can make their voices heard with separate votes. So far, so good.

Now Johnson has committed a blunder so egregious that it could rock the global financial system and cause a financial panic. Unfortunately, Johnson’s lack of experience in international monetary affairs has left him blind to the dangers.

Pure Stupidity

Right now, the U.S. holds about $300 billion of Russian assets that were frozen after the Ukraine war broke out in February 2022. Most of those assets came from the Central Bank of Russia and consist of U.S. Treasury securities.

Technically, those assets have not been converted to U.S. ownership. They have merely been frozen and still belong to Russia even though Russia cannot use them.

Now, Johnson wants to convert those assets to U.S. ownership and use the proceeds to pay for the war in Ukraine. Johnson said, “It would be pure poetry to fund the Ukrainian war effort with Russian assets.”

Pure stupidity is more like it. Such an action would amount to a default on U.S. government debt since the securities were legally owned by Russia. Nations around the world would take note and accelerate their dumping of Treasury securities and their flight from the U.S. dollar.

This would increase interest rates in the U.S. and hurt everyone from homebuyers to everyday consumers. It would make U.S. debt permanently more difficult to sell and less desirable to hold.

It would introduce a new risk premium on U.S. debt over and above the existing inflation premium. At its worst, it could trigger a dollar panic and full-scale flight from the dollar.

Johnson is playing with fire and has no idea what he is doing. Let’s hope he receives some sound advice before he goes too far.

Hamas and Israel

The war between Israel and Hamas in Gaza has been more contained from a global economic perspective, but it also has potential to spin out of control and rock the global economy.

The potential for economic calamity in Gaza is not the fighting in Gaza itself but the possibility of escalation.

Israel faces an enemy 10 times more powerful than Hamas in the form of Hezbollah, which is located in Lebanon on Israel’s northern border, and which is heavily subsidized by Iran in terms of money, weapons and intelligence.

In addition to Hezbollah, the Houthi rebels in Yemen are firing missiles at Israel. The Houthis are a direct Iranian proxy intended to threaten Saudi Arabia, but are equally capable of threatening Israel.

If Hezbollah and Houthi attacks on Israel escalate, Israel will not limit their response to those two groups. They are likely to launch attacks on Iran itself going to the root of the problem. At that point, Iran may fire missiles at Israel and close the Straits of Hormuz.

$150 Oil

In anticipation of that, the U.S. has moved two aircraft carrier battle groups to the Eastern Mediterranean and stationed one Ohio-class nuclear submarine in the Red Sea. The idea is to deter Iran from attacking Israel, but they can be used to attack Iran if the war escalates to that level.

Russia is watching on the sidelines and will support Iran if necessary.

Saudi Arabia and Qatar, two of the world’s largest energy producers, are caught in the middle.

If those escalation scenarios play out even in part, expect oil prices to go to $150 per barrel or higher. That would put the U.S. and Western Europe in a recession worse than 2008 and the earlier oil shock of 1974.

In the 1974 recession, the Dow Jones index fell 45%. That would equate to a crash of over 15,000 Dow points from today’s levels.

I’m not making a hard prediction that this scenario will occur, but don’t rule it out.

It’s a good time to reduce your exposure to stocks, keep a lot of cash on hand and get your hands on physical gold and silver.

 

terça-feira, 28 de novembro de 2023

Venezuela-Guiana: GRAVE CRISE REGIONAL - Rubens Barbosa (O Estado de S. Paulo)

 Venezuela-Guiana


GRAVE CRISE REGIONAL
Rubens Barbosa
O Estado de S. Paulo, 28/11/2023

No próximo domingo, será realizado referendum, convocado pelo governo da Venezuela sobre a incorporação de 74% do território da Guiana. Com previsível resultado favorável para criar a província do Esequibo, a decisão estimulou uma crise externa para mostrar a força do governo, abalada com o apoio maciço da população `a previa de oposição para a escolha do candidato contra Maduro nas eleições presidenciais de 2024. Maduro, que está sob pressão internacional para participar de eleições livres, reiterou seu interesse no diálogo e no respeito do direito histórico do povo venezuelano, enquanto o governo de Georgtown reafirmou que a área contestada pertence a Guiana por herança e séculos de luta e que Caracas quer rejeitar a jurisdição da Corte Internacional de Justiça (CIJ) e antecipar um julgamento futuro, minando a autoridade da CIJ.
Ao contrário das fronteiras entre as possessões espanholas e portuguesas, definidas nos Tratados de Madri (1750) e Santo Ildefonso (1777), os limites entre espanhóis e holandeses no Norte da América do Sul permaneceram indefinidos, situação que herdaram Venezuela e Grã-Bretanha. Durante o século XIX e XX continuou a disputa com gestões junto a Londres e Washington, negociações e juízos arbitrais. Mais recentemente, a partir de 2015, a ONU passou a tratar dessa questão e em 2018 a Guiana pediu para a CIJ declarar a validade do Acordo Arbitral de 1899, cujo laudo favoreceu a Guiana, definindo uma linha que incluiu território brasileiro, objeto de decisão do Rei da Itália, contestado pelo Brasil. Por isso, a Venezuela decidiu rejeitar a competência da CIJ. Em 2020, a CIJ declarou-se competente para tratar da questão. A decisão da Corte ainda pendente, ganha importância pela convocação do referido referendum.
A antiga controvérsia entre a Venezuela e a Guiana é hoje, a maior ameaça a estabilidade regional. A ameaça `a integridade territorial da Guiana introduz um elemento de incerteza nos países anglófonos do Caribe, na Colômbia, em razão da controvérsia entre os dois países para a definição de limites na região do Golfo da Venezuela, e com os EUA, em atrito com Caracas nos últimos 40 anos e com quem Maduro acaba de negociar um acordo para a suspensão das sanções econômicas, com a promessa de transparência das eleições presidências de 2024. A questão pode desestabilizar região sensível para a segurança brasileira em termos de atividades ilegais, como narcotráfico, tráfico de armas e imigração. Para a Guiana é uma questão existencial, pois significaria a perda de cerca de 2/3 de seu território e de área importante de zona marítima adjacente, onde vivem cerca de 300 mil habitantes, do total de um país que tem 800 mil habitantes. É a região mais rica em minérios, inclusive ouro, recursos florestais, agricultura, pesca e potencialmente muito promissora quanto a petróleo e gás. O presidente da Guiana, Irfaan Ali, em encontro como o presidente Lula, em Brasília, no início do mês, solicitou ao Brasil que faça gestões junto a Maduro para impedir a invasão.
É do interesse de todos os países da região, sobretudo do Brasil, que a controvérsia continue a ser discutida no âmbito político e jurídico. O Brasil tem fronteira com os dois países, que historicamente são consideradas legitimamente definidas e demarcadas. O governo Lula normalizou as relações com a Venezuela, com a designação de embaixadora para Caracas, e mantém igualmente relação próxima com a Guiana. Com ambos os países será importante continuar a tratar de temas de interesse comuns, como imigração, repressão a delitos transnacionais, meio ambiente, integração física e energética. Ao Brasil não interessa, por razões históricas e diplomáticas, que se abra uma nova etapa de revisionismo fronteiriço na América do Sul. A segurança jurídica derivada pela aplicação dos tratados e decisões arbitrais é parte da consolidação de um ambiente de paz e entendimento na região, `as voltas com problemas econômicos e social.
No governo Lula, a América do Sul é uma das prioridades da política externa. Por diferentes razões, o Brasil pode e deve exercer uma influência moderadora e construtiva junto aos dois países para que encaminhem soluções que não perturbem a ordem regional. Por meio de sua diplomacia, o Brasil está atuando para uma solução pacífica na disputa pela área de Esequibo. Defendendo uma solução negociada para a controvérsia, o Itamaraty está reiterando o compromisso de todos com a consolidação de uma Zona de Paz e Cooperação entre os Estados americanos. O assunto, neste mês, foi tratado na reunião de Ministros do Exterior e da Defesa da América do Sul, em gestões da Chancelaria junto aos dois governos, e aos demais países da região, em especial a Colômbia, e na visita do Assessor Internacional de Lula a Caracas.
Na prática, dificilmente a Venezuela poderá incorporar pela força parte do território vizinho da Guiana. Os EUA enviaram missão a Georgetown na semana passada. Uma improvável invasão da Guiana teria implicações geopolíticas graves. Os EUA se envolveriam e poderiam instalar uma base militar na Amazônia, em apoio `as empresas americanas que exploram petróleo offshore na Guiana.

Rubens Barbosa, presidente do Instituto de Relações Internacionais e Comércio Exterior (IRICE) e membro da Academia Paulista de Letras

segunda-feira, 27 de novembro de 2023

Homenagem do Centro Brasileiro de Relações Internacionais (CEBRI) a Alberto da Costa e Silva, diplomata, poeta, ensaísta, memorialista e historiador brasileiro.

 O Centro Brasileiro de Relações Internacionais (CEBRI) manifesta profundo pesar pelo falecimento do diplomata, poeta, ensaísta, memorialista e historiador brasileiro, Alberto da Costa e Silva. 

Reconhecido como um dos mais proeminentes intelectuais do país, Alberto era membro da Academia Brasileira de Letras e dedicou-se intensamente ao estudo da cultura e história africanas, tendo atuado como embaixador do Brasil por quatro anos na Nigéria e no Benim. Sua contribuição para o entendimento e apreciação da herança africana é um legado que perdurará através de suas obras e realizações.

Alberto teve uma longa e relevante carreira diplomática, atuando como embaixador em Portugal (1986-1990), na Colômbia (1990-1993) e no Paraguai (1993-1995). Além disso, ocupou o cargo de Inspetor-Geral do Ministério das Relações Exteriores entre 1995 e 1998.

Alberto deixou um vasto legado literário, composto por quase 40 livros, abrangendo poesia, ensaios, memórias e história e foi um intelectual engajado com as questões contemporâneas. Foi eleito para a Academia Brasileira de Letras em 2000 e atuou como seu presidente em 2002 e 2003. Sua notável carreira acadêmica e seus estudos sobre a história africana culminaram em 2014 com o Prêmio Camões, o mais prestigiado reconhecimento literário em língua portuguesa.

Recentemente, um artigo sobre Alberto da Costa e Silva foi publicado na 6ª edição da CEBRI-Revista, com seção especial dedicada ao continente africano. Nele, a autora Marina de Mello e Souza ressalta a importância da obra do Embaixador para o estudo da História da África. Leia o artigo aqui.

O CEBRI transmite suas sinceras condolências à família, especialmente aos seus três filhos, Elza Maria, Antonio Francisco e Pedro Miguel, bem como aos seus sete netos e bisneta.

A partida de Alberto da Costa e Silva representa uma perda tanto para a diplomacia quanto para a cultura brasileira. Sua obra, porém, permanece viva, especialmente para as gerações futuras interessadas no estudo da África, um continente de extrema relevância para o Brasil e sua política externa.