O que é este blog?

Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

segunda-feira, 17 de junho de 2024

Países que assinaram a Declaração final da conferência de paz na Ucrânia na Suíça: todos os parceiros do Mercosul, entre 82 países e organizações internacionais

 A lista dos países que assinaram o comunicado final da Cúpula da Paz na Ucrânia (o Brasil recusou participar na cúpula): 

África: (11 países)

1. Benim -

2. Cabo Verde - 

3. Comores - 

4. Costa do Marfim - 

5. Gâmbia - 

6. Gana - 

7. Quênia - 

8. Libéria - 

9. Ruanda - 

10. São Tomé e Príncipe - 

11. Somália 

 

Europa: 47 países, incluindo Hungria e Georgia

12. Albânia - 

13. Andorra - 

14. Áustria - 

14. Bélgica - 

16. Bósnia e Herzegovina - 

17. Bulgária - 

18. Croácia - 

19. Chipre - 

20. República Tcheca - 

21. Dinamarca - 

22. Estônia - 

24. Comissão Europeia - 

25. Conselho Europeu - 

26. Parlamento Europeu - 

27. Finlândia - 

28. França - 

29. Geórgia - 

30. Alemanha - 

31. Grécia - 

32. Hungria - 

33. Islândia - 

34. Irlanda - 

35. Itália - 

36. Kosovo - 

37. Letônia - 

38. Liechtenstein - 

39. Lituânia - 

40. Luxemburgo - 

41. Malta - 

42. Moldávia - 

43. Mônaco - 

44. Montenegro - 

45. Países Baixos (Holanda) - 

46. Macedônia do Norte - 

47. Noruega - 

48. Polônia - 

49. Portugal - 

50. Romênia - 

51. San Marino - 

52. Sérvia - 

53. Eslováquia - 

54. Eslovênia - 

55. Espanha - 

56. Suécia - 

57. Suíça - 

58. Ucrânia - 

59. Reino Unido 


Ásia:  9 países

60. Iraque - 

61. Israel - 

62. Japão - 

63. Jordânia - 

64. Coreia do Sul - 

65. Filipinas - 

66. Catar - 

67. Singapura - 

68. Turquia 


Oceania:  3 países

69. Austrália - 

70. Fiji - 

71. Nova Zelândia  


Américas:  11 países

72. Argentina - 

73. Canadá - 

74. Chile - 

75. Costa Rica - 

76. República Dominicana - 

77. Equador - 

78. Guatemala - 

79. Paraguai - 

80. Peru - 

81. Estados Unidos - 

82. Uruguai


domingo, 16 de junho de 2024

A falta de importância da América Latina no comércio mundial - The Economist

A falta de importância da América Latina no comércio mundial

A maior cordilheira do mundo e a maior floresta tropical tornam o comércio um desafio

Por The Economist

15/06/2024 | 17h00

Seguindo um caminhão carregado com carros de fabricação brasileira enquanto desce as curvas fechadas do Paso Internacional Los Libertadores até o Chile, os desafios do comércio na América Latina ficam claros. Por quatro vezes o caminhão precisa parar enquanto os trabalhadores consertam a estrada à frente; neve, gelo e avalanches em breve destruirão a pista novamente.

A demora é tanta que os motoristas saem para fumar, olhando para os picos ao redor. Há pelo menos um acidente por semana, avalia um funcionário da fronteira. Esta é a travessia comercial mais movimentada entre a Argentina e o Chile, mas o gelo traiçoeiro significa que, no inverno, ela opera apenas 12 horas por dia. Durante cerca de 40 dias por ano, coberta de neve, a estrada é completamente fechada.

comércio internacional da América Latina, medido por exportações mais importações como porcentagem do PIB, aumentou ao longo das duas décadas mais recentes, mas ainda fica atrás da maioria dos mercados emergentes. Se retirarmos a superforça do México na indústria manufatureira para exportação destinada aos Estados Unidos, o quadro fica ainda pior. Na América do Sul, o comércio de mercadoriasrepresenta menos de 30% do PIB. Em outros mercados emergentes, representa cerca de 50%.

Os países latino-americanos são ainda piores em se tratando do comércio entre si. A região é muito mais rica do que a África Subsaariana, mas o comércio intrarregional representa apenas 7% do PIB em ambos os locais. Medido de forma diferente, apenas 14% do comércio total de bens da América Latina ocorre dentro da região, o valor mais baixo do mundo.

O baixo comércio em geral é um problema. Os lugares mais ricos tendem a comercializar mais, e o comércio internacional tem sido um poderoso motor de desenvolvimento em todos os lugares, da Europa à Ásia. Contudo, é discutível se o baixo comércio regional é uma preocupação.

Para além do México, o crescimento comercial da América Latina nos anos mais recentes se baseou na crescente procura chinesa por commodities como cobre, soja e lítio. Muitos governos ainda estão ansiosos por se concentrarem nesta oportunidade, em vez de fomentarem o comércio com os vizinhos.

Mas a relação tensa entre os Estados Unidos e a China representa um risco. Se as tensões envolvendo Taiwan aumentarem, por exemplo, a América Latina poderá ter dificuldades em manter relações comerciais com seus dois parceiros mais importantes.

O comércio internacional da América Latina, medido pexportações mais importações como porcentagem do PIB, aumentou ao longo das duas décadas mais recentes, mas ainda fica atrás da maioria dos mercados emergentes. Se retirarmos a superforça do México na indústria manufatureira para exportação destinada aos Estados Unidos, o quadro fica ainda pior. Na América do Sul, o comércio de mercadorias representa menos de 30% do PIB. Em outros mercados emergentes, representa cerca de 50%.

Deixando de lado o México, as exportações para os EUA se mantiveram estáveis no ano passado. Se o nearshoring estiver em curso, mas ainda não aparecer nas estatísticas de exportação, seria de esperar um aumento do investimento direto estrangeiro (IDE). Isso tampouco está acontecendo. Em porcentagem do PIB, o IDE recebido não é perceptivelmente superior à média de longo prazo na maior parte da América Latina. Comparemos isso com o Sudeste Asiático, que também procura se beneficiar das empresas que fogem da China, onde o IDE está aumentando rapidamente.

O estímulo ao comércio intra-regional poderia proteger as economias latino-americanas da desaceleração da demanda chinesa, bem como das tensões entre as superpotências. Também poderia ajudar a tornar a América Latina mais competitiva globalmente. Se as peças e os produtos pudessem ser fabricados nas áreas da região onde é mais barato fazê-lo, sendo depois comercializados, combinados e vendidos, eles formariam as chamadas cadeias de valor regionais e impulsionariam as exportações. Por que, então, os países latino-americanos são tão ruins no comércio entre si?

Algumas razões são estruturais. “Não negociamos uns com os outros porque queremos consumir coisas que não produzimos”, diz Ricardo Hausmann, da Universidade Harvard. O baixo comércio intra-regional deve-se, em parte, à falta de produção de artigos sofisticados. Pior ainda, os países latino-americanos produzem frequentemente as mesmas coisas: commodities.

O maior artigo de exportação do Chile é o cobre. O mesmo acontece com o Peru. Nenhum dos dois jamais venderá muito para o outro. A geografia também importa. A América do Sul abrange quase 18 milhões de quilômetros quadrados, quatro vezes o tamanho da União Europeia. A maior cordilheira do mundo e a sua maior floresta tropical tornam grande parte do continente intransitável para todos, exceto condores e onças.

Estes fatores restringem o potencial do comércio intrarregional, mas são apenas parcialmente responsáveis pela sua pobreza. O FMI avalia que o comércio de bens na América Latina é 40% inferior ao que seria esperado quando o comparamos com outras partes do mundo com desafios econômicos e geográficos semelhantes. A semelhança das cestas de exportações desses países explica mais a diferença, mas as exportações podem mudar, e mudam ao longo do tempo.

O comércio intra-regional poderia melhorar se os governos abordassem os problemas básicos. Construir melhor infraestrutura aliviaria as dores de cabeça da geografia. A Argentina, por exemplo, ocupa a 73ª posição no índice de desempenho logístico do Banco Mundial, uma medida da qualidade da infraestrutura física e da eficiência aduaneira. O FMI estima que reduzir pela metade a lacuna entre a infraestrutura da América Latina e a dos países ricos poderia aumentar as exportações em 30%.

Base do Aconcágua

De tempos em tempos, a ideia de cavar um vasto e longo túnel atravessando os Andes ressurge. Mas isso continua sendo um sonho impossível. Enquanto isso, caminhoneiros como Ricardo Emmanuel, de 38 anos, um homem de Mendoza, na Argentina, continuam transportando mercadorias para cima e para baixo em rotas perigosas e lentas. “Daquele lado a pista nunca é consertada”, reclama ele, apontando para a estrada em direção à Argentina, do alto do Paso Internacional Los Libertadores.

Ele elogia o elegante complexo alfandegário do Chile, situado no alto dos Andes, mas diz que os argentinos às vezes abrem apenas um dos seus muitos postos de controle, gerando uma fila de caminhões. Por que? “Eles não querem trabalhar!” grita ele, frustrado.

Uma melhor política comercial também ajudaria. À primeira vista, o quadro parece bom: quase 90% do comércio intrarregional já é isento de tarifas. Mas esses números são lisonjeiros e enganosos. Há dois grandes problemas. Primeiro, não existe um acordo comercial preferencial adequado entre o México, a segunda maior economia da região, e o Brasil e a Argentina, a maior e a terceira maior.

Em segundo lugar, grande parte do comércio livre se baseia em um emaranhado de acordos bilaterais. Isto é importante porque a maioria desses acordos obriga os produtores a utilizar matérias-primas e insumos produzidos quase exclusivamente no seu país de origem, em vez de provenientes de países terceiros, potencialmente mais baratos, da região. “Este é um enorme obstáculo à criação de cadeias de valor regionais”, afirma Antoni Estevadeordal, da Universidade Georgetown. Ele avalia que essas regras equivalem a uma tarifa extra de cerca de 15%.

Alguns líderes latino-americanos simplesmente não querem um comércio mais livre. Brasil e Argentina são os dois mercados emergentes mais protecionistas do mundo, diz Marcel Vaillant, da Universidade da República, no Uruguai. Com uma população de mais de 200 milhões de habitantes, o Brasil é o maior mercado do continente, mas o protecionismo significa que, para muitas empresas na América Latina, as vendas para o país são limitadas.

A Argentina cobra atualmente um imposto de 17,5% sobre compras de moeda estrangeira para a maioria das importações, e tributa diretamente vastas áreas das suas exportações (os impostos de exportação também são populares no Cazaquistão, mas são vistos como uma loucura nos países ricos). As barreiras não tarifárias são abundantes em toda a região. Os produtores chilenos de tudo, desde abacate a salmão, têm de realizar processos de vigilância sanitária separados para cada mercado para o qual exportam. “Isso representa tempo e dinheiro”, salienta Ignacio Fernández Ruiz, chefe da ProChile, a agência de promoção de exportações do país.

Este protecionismo também destruiu grandes esperanças para o Mercosul, a união aduaneira entre Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai. Em vez disso, o bloco tem barreiras tarifárias elevadas para o restante do mundo e está repleto de barreiras internas. O Mercosul impulsionou brevemente o comércio entre seus membros, mas o comércio dentro do grupo não é atualmente melhor do que entre outros países da região. O comércio entre o Mercosul e o resto da América Latina é miseravelmente baixo.

A volatilidade política é outra dor de cabeça. A Aliança do Pacífico, um acordo de comércio livre entre o Chile, a Colômbia, o México e o Peru, foi lançada por quatro líderes de centro-direita em 2011. Esperava-se que fosse um modelo de como a integração regional também poderia impulsionar o comércio global. Mas a eleição de líderes de esquerda na Colômbia, no Chile e no México minou o dinamismo da organização.

O México se recusou a passar a liderança rotativa da Aliança para a presidente Dina Boluarte do Peru, alegando que a nomeação dela era ilegítima depois de ter substituído seu antecessor, envolvido em um impeachment. A Aliança do Pacífico está no seu ponto mais baixo desde que foi fundada, afirma Felipe Lopeandía, antigo negociador comercial principal do Chile, agora na Deloitte, uma empresa de consultoria.

Ainda assim, é mais fácil resolver estes problemas do que mover os Andes. E mesmo os dois impedimentos estruturais ao comércio na América Latina – a geografia e o fato de os seus países produzirem bens semelhantes – parecem diferentes da perspectiva da parte do comércio global que está se expandindo mais rapidamente: os serviços.

A Amazon não impede que consultorias equatorianas vendam seus serviços no Brasil. Para as empresas chilenas de engenharia de minas, o fato de o Peru também produzir cobre representa uma tremenda oportunidade. O comércio intra-regional de serviços da América Latina ainda é baixo, mas o potencial é óbvio.

As exportações de serviços do Chile também são pequenas, mas, no ano passado, cresceram 51%, principalmente na América Latina. O potencial para crescer entusiasma Fernández Ruiz, que trouxe dezenas de grandes empresas de toda a América Latina para conhecer prestadores de serviços chilenos. Não é a primeira vez que a região poderá aprender com o Chile pró-comércio. /


056) Estratégias da Política Externa Brasileira (1978) - Paulo Roberto de Almeida (inédito)

 Estratégias da Política Externa Brasileira


[Paulo Roberto de Almeida] (autoria não identificada)

Brasília, agosto de 1978, 6 p.

Análise das diversas etapas da diplomacia brasileira, preparada como texto de apoio à campanha presidencial do PMDB, inserido no documento “Justificativas para uma possível reformulação da política externa brasileira na África”. Entregue, em setembro de 1978, ao staff do candidato do Partido, General Euler Bentes Monteiro. Inédito. Documento constando dos fundos do Arquivo Nacional, sob o título: “Justificativa para uma possível reformulação da política externa no Brasil na África”, como tendo sido elaborado por “grupo subversivo de esquerda”; Fundo: SNIG; AC_ACE_11577_78.PDF; A1157711-1978; DATA: 17/9/1978; 30 páginas.

[Nota PRA: Algumas expressões, como por exemplo chamar o golpe militar de 1964 de “Revolução”, deve-se ao fato de o documento destinar-se a ser lido por um general, ainda que da oposição, daí o cuidado na terminologia.]

 


JUSTIFICATIVAS PARA UMA POSSÍVEL REFORMULAÇÃO

POLÍTICA EXERNA DO BRASIL NA ÁFRICA

TEXTO PRELIMINAR

O Brasil é, nas palavras de seus dirigentes, candidato efetivo ao status de “Grande Potência” nas próximas duas ou três décadas. O rápido processo de modernização e de crescimento econômico assistido nos últimos anos parece, realmente, ter dado consistência ao projeto, acalentado em determinados setores, de fazer do Brasil um membro do “fechado e seleto clube das nações industriais”.

Atualmente, a designação “potência emergente” já encontra ampla utilização nas mais variadas declarações oficiais, garantindo assim a prévia aceitação do objetivo traçado para este país: torná-lo “potência mundial” num futuro previsível. Mesmo o orgulho decorrente da pretensão acima referida, antes privilégio exclusivo das elites dirigentes, já começa agora a ser insuflado em camadas mais amplas da população.

A diplomacia brasileira conquistou maturidade nos últimos anos, libertando-se de antigos complexos oriundos do nível relativamente baixo do desenvolvimento econômico e social brasileiro. É na política externa, aliás, que os resultados, avaliados em termos de conquistas reais, podem ser classificados de gratificantes, já que em todos os outros terrenos – da situação social da população à democratização das instituições políticas nacionais – o saldo é de nítidos fracassos e frustrações. Mas ela tampouco deixa de ser atingida pelo falso otimismo que campeia nas altas esferas da administração: ao lado dos avanços reais obtidos por nossa diplomacia, paira um esquema conceitual – o do “Brasil Grande Potência” – nem sempre adequado à plena realização das aspirações nacionais e à defesa dos interesses do país no cenário internacional.

A análise da política externa brasileira, desde a década de 60, revela inflexões significativas a cada governo, em função das forças políticas dominantes em cada período. A “política externa independente”, por exemplo, significou a introdução de novos padrões no relacionamento do Brasil com a comunidade internacional: abandonou-se a política de alinhamento estrito e automático com o Ocidente, antes de mais nada com os Estados Unidos, e esboçou-se uma posição de liderança do Terceiro Mundo, através de uma filosofia mais avançada de desenvolvimento econômico e social.

A Revolução de 1964 trouxe não apenas um retorno às normas tradicionais de política externa como, em muitos casos, um verdadeiro retrocesso no que concerne a defesa de determinados princípios da diplomacia brasileira. O primeiro governo da Revolução procedeu a uma revisão do processo de elaboração da política externa brasileira, submetendo-a aos conceitos e diretivas emanados do Conselho de Segurança Nacional. Assistiu-se, assim, a um retorno ao período da guerra fria e a formulação de novos esquemas conceituais suscetíveis presumivelmente de guiar a ação externa do Brasil: a política externa tornou-se igualmente militar e a teoria dos “círculos concêntricos de atuação” veio somar-se aos conceitos de “fronteiras ideológicas” e de “segurança coletiva” para diminuir a importância atribuída até então aos princípios de independência e soberania.

Essa “política externa dependente” foi abertamente contestada no governo Costa e Silva e substituída por um esquema conceitual que reatava em grande parte com os princípios seguidos anteriormente. A suposta “confrontação bipolar”, pela qual o Brasil estaria indefectivelmente ligado ao irmão americano, deu lugar a uma situação tendente ao policentrismo e os problemas de segurança cedem prioridade aos de desenvolvimento. A origem da maior parte dos conflitos e tensões no cenário internacional passou a ser o “’subdesenvolvimento’” e não mais a ação insidiosa do “comunismo internacional”: o enfrentamento Leste-Oeste cedia assim lugar ao conflito Norte-Sul.

O terceiro governo da revolução não prosseguiu, contudo, a ação multilateral empreendida pela administração anterior no sentido de lutar contra a divisão do mundo entre desenvolvidos e subdesenvolvidos. Apesar de pronunciar-se contra as grandes potências que pretendiam, segundo se dizia, o “congelamento do poder mundial”, a política externa do governo Medici rejeitou a “diplomacia da prosperidade conjunta” proposta na administração anterior, introduzindo em seu lugar a “diplomacia do interesse nacional”. O fundamento da nova atitude era precisamente o projeto do “Brasil Grande Potência”, que levaria ao abandono da ênfase dada às ações multilaterais e do papel de líder do Terceiro Mundo, tal como praticado na Conferência da UNCTAD de 1969.

 

A euforia criada pelo chamado “milagre econômico” contribuiu para sustentar a tese de que o país deveria atuar de maneira autônoma no cenário internacional, diversificando e ampliando suas relações como forma de eliminar os obstáculos à expansão de seu Poder Nacional. O bilateralismo cresceu na própria medida em que o progresso econômico permitia visualizar a crescente projeção do Brasil no cenário internacional e, já no âmbito regional, se faziam alusões à hegemonia que resultaria do fortalecimento do poder econômico.

No governo Geisel assistiu-se, contraditoriamente, a expansão e afirmação crescente dos interesses nacionais, mas também ao renascimento das perspectivas terceiro-mundistas. A política externa voltou a proclamar a impossibilidade de “alinhamentos automáticos”, abandonando-se inclusive os “laços afetivos e políticos” (sic) que nos uniam a Portugal, que haviam imposto um retrocesso na política anticolonialista seguida de 1961 a 1964. A política do “pragmatismo ecumênico e responsável” tornou-se cada vez mais a manifestação de um bilateralismo atuante, como forma de garantir a expansão dos interesses nacionais no âmbito da comunidade internacional.

A atual diplomacia, aparentemente inovadora e original, é na verdade profundamente conservadora, já que intenta reproduzir o caminho seguido pelas atuais grandes potências na busca de um maior prestígio internacional. Isto se revela claramente na adoção de elementos da política tradicional (entre eles a expansão da capacidade militar do país e a associação crescente com o capital internacional para fins de crescimento econômico) como forma de promover o “poder nacional” e conduzir o Brasil à condição de parceiro privilegiado no cenário internacional.

Ao proclamar como intenção o projeto “Brasil Grande Potência”, a atual diplomacia não apenas isola o país da comunidade dos países em desenvolvimento (que encontram maiores razões para acusar de oportunista a política externa brasileira), como também justifica, paradoxalmente, a teoria do “congelamento do poder mundial”, já agora condicionando este processo à acessão do Brasil ao “seleto clube das nações industriais”.

Apesar de procurar diversificar as relações internacionais do Brasil, como meio de introduzir maior flexibilidade no jogo diplomático, a atual política externa tem se caracterizado por sua atitude passiva nos foros multilaterais, contrastando assim com a agressividade observada no âmbito das relações bilaterais.

A retração e a timidez, seguidas pela diplomacia brasileira na atualidade, são dificilmente explicáveis quando se observa o conjunto imenso de problemas afrontados pelos países em desenvolvimento no plano internacional. Os graves problemas do desenvolvimento econômico e social desses países, que não encontraram solução depois de duas décadas de desenvolvimento promovidas pela ONU, continuam a ser fonte permanente de tensões e conflitos.

A crise econômica internacional, de cuja eclosão deveria sair o grande debate sobre a nova ordem econômica internacional, apenas se constituiu em nova fonte de sofrimento para os povos dos países em desenvolvimento, após as manobras realizadas pelos países ricos para transferirem aos mais pobres a maior parte de sua carga.

No plano político, parece assistir-se a um renascimento do conflito Leste-Oeste a um novo período de guerra fria, cujo palco atual seria a África. Os enfrentamentos localizados e episódicos não deveriam, contudo, servir para que seja deixada de lado a questão global e multiforme do desenvolvimento econômico. Às nações do Terceiro Mundo não interessa a permanência do confronto Leste-Oeste, causando o adiamento das soluções a serem propostas pelo diálogo Norte-Sul.

O Brasil, como país líder do conjunto de nações em desenvolvimento, tem precisamente uma grande responsabilidade e um grande papel a cumprir na superação dos atuais obstáculos à cooperação internacional, em prol do desenvolvimento e do estabelecimento de uma nova ordem internacional, mais justa e mais igualitária.

A emergência do Brasil no cenário internacional deriva precisamente do grande impulso econômico observado no país nos últimos anos, mas também do papel importante desempenhado por sua diplomacia no sentido de promover a reformulação das estruturas econômicas a nível mundial. Se a atuação diplomática do Brasil não é, na atualidade, tão ativa quanto foi pelo passado, pelo menos no âmbito multilateral e na defesa de propostas inovadoras, devem existir condicionantes que explicam a presente situação.

Uma primeira ordem de respostas pode ser encontrada no modelo de desenvolvimento econômico seguido pelo Brasil há mais de uma década. Com efeito, o processo de dependência externa, que vem se agravando continuamente, impõe limitações à ação internacional do Brasil, tornando sua política externa igualmente dependente dos resultados alcançados na esfera econômica.

O equilíbrio precário do balanço de pagamentos, com o consequente aumento nos volumes absoluto e relativo da dívida externa e o crescente processo de desnacionalização das empresas brasileiras, são alguns dos problemas criados pelo modelo de crescimento econômico adotado pelos últimos governos e que parece constituir-se em ameaças ao desenvolvimento equilibrado do país e ao bem-estar de sua população.

O aprofundamento da dependência externa contribui igualmente para aumentar a fragilidade da posição negociadora do Brasil, diminuindo em consequência seu poder de barganha face aos grupos financeiros internacionais.

Será o Brasil absolutamente imune ao tipo de pressão que impõe, hoje, severas regras de conduta, no campo da política econômica, aos governos do Zaire e do Peru, para citar apenas dois exemplos? Estará o país livre de condicionamentos externos eu possam influir na política em relação ao capital estrangeiro aqui instalado? Até que ponto são compatíveis soberania e dependência externa?

Estas e outras perguntas poderiam, talvez, elucidar algumas das características da atual política externa, como por exemplo a substituição da cooperação econômica multilateral em prol da nova ordem econômica internacional, por um bilateralismo excessivamente voltado para os interesses imediatos da conjuntura econômica brasileira.

Estas características, mesmo disfarçadas sob o manto de uma terminologia aparentemente engajada e comprometida, têm dado lugar a que diversos países acusem a política externa brasileira de oportunista e voltada meramente para interesses lucrativos a curto prazo.

Ainda que se reconheça a gravidade de determinados problemas enfrentados atualmente pelo Brasil, e o equilíbrio de suas contas externas é apenas um deles, sua ação diplomática não deveria servir de respaldo a um modelo de crescimento que, ele mesmo, não serve ao bem-estar da população brasileira, como não atende às aspirações fundamentais da nação.


Brasília, setembro de 1978


[Paulo Roberto de Almeida

Brasília, agosto de 1978, 6 p.

Inédito na ocasião.

Divulgado na plataforma Academia.edu (link: https://www.academia.edu/121102667/056_Estrategias_da_Política_Externa_Brasileira_1964_1978_1978_).


Cem novos institutos federais ? - Simon Schwartzman (OESP)

Cem novos institutos federais?

Concentrar recursos em atividades estratégicas de relevância, qualidade e equidade parece fazer mais sentido do que insistir em, simplesmente, fazer mais do mesmo

Por Simon Schwartzman

O Estado de S. Paulo, 14/06/2024

Em março, o Ministério da Educação (MEC) anunciou a criação de cem novos Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia. Alguns jornais saudaram a iniciativa, dizendo que, finalmente, o governo estava dando atenção à educação técnica e profissional. Fiquei sem entender: como é que o governo federal, que mal consegue manter suas universidades e seus institutos que existem funcionando, vai criar mais cem? E será que, criando, vai fazer diferença?

Esses institutos foram criados em 2008, a partir de uma rede de Centros Federais de Educação Técnica (Cefets) de nível médio que existiam em vários Estados. Seus professores e funcionários foram equiparados aos das universidades federais, novos cargos foram criados, e, além de cursos técnicos de nível médio, eles passaram também a poder dar cursos superiores e de pós-graduação. Hoje, são 39 institutos e dois que continuam como Cefets. É difícil saber exatamente o que fazem, os dados são escassos e confusos, mas, pelas estatísticas do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), eles têm cerca de 230 mil alunos em cursos de graduação e 320 mil na educação média, matriculados em cerca de 600 locais diferentes, a grande maioria em cursos integrados com o ensino profissional. Além disso, têm cerca de 4 mil estudantes em cursos de pós-graduação, quase todos de mestrado. O projeto do MEC não é, na verdade, de criar cem institutos, mas cem novos locais para os cursos de ensino médio, o que poderia significar cerca de 50 mil matrículas adicionais.

Para entrar nesses cursos médios, é preciso passar por um processo seletivo, e as vantagens para os que conseguem são grandes. Eles estudam em tempo integral e os colegas são mais qualificados, criando um ambiente mais estimulante. Os professores também são mais qualificados, ganham mais do que os das redes estaduais, o número de alunos por professor é menor e as instalações são melhores. E, quando fazem o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), os formados entram nas cotas de estudantes das redes públicas, ficando nos primeiros lugares. Esses cursos têm sido propostos como o modelo ideal para o ensino técnico médio no Brasil, mas os alunos, por serem selecionados e estudarem em escolas de qualidade, tratam de ingressar em universidades em vez de se profissionalizarem como técnicos.

Para os cursos superiores, seria de esperar que os alunos estivessem sobretudo em cursos aplicados de curta duração (o que no Brasil se chama de “cursos tecnológicos”). Isso ocorre, mas bem menos do que seria de esperar: 26%, comparado com 30% em cursos de formação de professores (licenciaturas) e 44% em cursos tradicionais de bacharelado. Das áreas de estudo, um terço está em educação, 44% em cursos de engenharia e computação, e os demais dispersos em outras áreas. Esses institutos sofrem com uma praga conhecida que afeta o ensino profissional em muitas partes, a pressão para se tornarem o mais parecido possível com universidades, à custa das missões originais para as quais teriam sido criados.

O caso dos institutos é semelhante ao das universidades federais. Começa-se com um modelo idealizado, caro e em pequena escala, e depois não se consegue expandir, seja pelas limitações do modelo, que se desvirtua, seja pela falta de recursos. Os institutos federais são uma gota d’água: cerca de 2% a 3% das matrículas, tanto do ensino médio quanto do ensino superior e tecnológico. Daria para aumentar? Os institutos federais custaram, em 2022, cerca de R$ 18 bilhões, comparados com os R$ 56 bilhões das demais 80 instituições superiores federais. A quase totalidade desses custos vai para pessoal, sobrando quase nada para investimentos e custeio.

Nos cursos de graduação, partiu-se com a ideia de uma universidade pública, universal, gratuita e fundada na pesquisa. Hoje, quase 80% das matrículas do ensino superior estão no setor privado, e poucas universidades públicas conseguem manter atividades de pesquisa mais significativa. A educação superior tecnológica vem se expandindo, mas sobretudo no setor privado. Na pós-graduação, criou-se um sistema controlado e subsidiado para formar mestres e doutores, mas a maioria de seus estudantes não tem interesse em fazer carreira em pesquisa, as matrículas estão caindo e a pós-graduação lato sensu é muito maior, desregulada e não se sabe bem o que faz.

A questão central é qual o papel adequado para o governo federal e os Estados quando não tem mais como expandir os gastos públicos e as demandas e necessidades da sociedade vão muito além do que os governos podem proporcionar. A criação de dez novos campi universitários no modelo tradicional, anunciada nesta semana, assim como as restrições recentes aos cursos de educação a distância, mostra que o governo federal ainda não entendeu o problema. Melhorar o papel regulatório, estimular boas práticas, concentrar os recursos existentes em atividades estratégicas de relevância, qualidade e equidade e estimular Estados e municípios e o setor privado a canalizar melhor suas energias parece fazer mais sentido do que insistir em, simplesmente, fazer mais do mesmo.

*SOCIÓLOGO, É MEMBRO DA ACADEMIA BRASILEIRA DE CIÊNCIAS

 

055) Alternativas de Política Externa (1978) - Paulo Roberto de Almeida

 Alternativas de Política Externa (1978) 

 

Paulo Roberto de Almeida, diplomata, professor.

Esquema analítico para a elaboração de trabalho propositivo sobre a política externa brasileira

 

Introdução em 16 de junho de 2024: 

Em abril de 1977, eu havia retornado ao Brasil depois de mais de seis longos anos de autoexílio na Europa, tendo interrompido o segundo ano do curso de Ciências Sociais na FFLCH-USP em vista da participação em atividades de oposição ao regime militar e viajado para a Europa no final de 1970. Poucos meses depois, já associado ao trabalho de resistência democrática em São Paulo, resolvi fazer concurso para o Itamaraty, no formato direto, tendo em vista a ausência de concursos em universidades públicas aos quais eu poderia concorrer. Os exames se processaram de agosto a outubro, entre São Paulo e Brasília, e fui convocado para a posse em 1 de dezembro de 1977, tendo obtido o segundo lugar no concurso direto daquele ano. Imediatamente, também, passei a me associar aos movimentos de anistia e de retorno à democracia em Brasília, no contexto da “disputa presidencial” entre o candidato do regime, o general Figueiredo, e o apresentado pela oposição (MDB), o general Euler Bentes Monteiro. 

Requisitado para escrever algo sobre uma política externa alternativa ao do regime, formulei primeiro algumas notas manuscritas, nada mais do que um esquema prévio a um trabalho mais completo que eu pretendia escrever logo em seguida (esse foi o trabalho imediatamente subsequente: 056. “Estratégias da política externa brasileira entre 1960/1978”, Brasília, agosto 1978, 6 p.).

O que segue, portanto, é a transcrição, pela primeira vez, de minhas notas manuscritas redigidas em algum momento no mês de agosto de 1978, e que permaneceram inéditas até que eu redigisse o trabalho 056, encaminhado a meus contatos na assessoria do candidato oposicionista. Não tenho a menor ideia do que foi feito desse trabalho de 6 páginas, mas o fato é que ele foi preservado pelos serviços de informação (SNI) do regime, ao qual sou, ironicamente grato pela preservação de um texto que de outra forma se teria perdido.

Mas, vejamos, em primeiro lugar, o esquema preliminar redigido para aquela finalidade, o que será objeto de transcrição subsequente.

Paulo Roberto de Almeida (Brasília, 16 de junho de 2024)

 

 

Alternativas de Política Externa (1978)

 

Paulo Roberto de Almeida, diplomata, professor.

Esquema analítico para a elaboração de trabalho propositivo sobre a política externa brasileira; agosto de 1977.

 

1. Conjuntura Atual do Plano Internacional

(a) polarização do confronto Leste-Oeste

(b) África como palco desse confronto

(c) período de nova guerra fria

(d) às nações periféricas emergentes não interessa a permanência do confronto Leste-Oeste, causando o adiamento do problema Norte-Sul

(e) Brasil como potência emergente e seu papel na superação da guerra fria

(f) o papel do presidente na cena internacional como reforço da política interna

(g) viagem não convencional à África e papel do Brasil no diálogo Norte-Sul

(h) viagem do presidente à África como penetração do Brasil na cena internacional

 

[Outro esquema, mais elaborado]

 

ALTERNATIVAS DE POLÍTICA EXTERNA

 

I. O BRASIL NAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS

1.Os grandes princípios da política externa brasileira e sua evolução no período recente

     - Independência, soberania, autodeterminação

     - Ampla convivência com os parceiros internacionais

     - A política externa dos governos do regime militar

 

2. A conjuntura atual no plano internacional 

     - Polarização do confronto Leste-Oeste e novo período de guerra fria

     - África como palco atual desse confronto

     - Às nações periféricas não interessa a permanência do confronto Leste-Oeste, causando o adiamento dos problemas Norte-Sul

 

3. A emergência do Brasil no cenário internacional 

     - Situação do ponto de vista do desenvolvimento econômico

     - Situação imprecisa do ponto de vista internacional

     - Atuação diplomática: desvinculação dos EUA, atuação própria, crescente autonomia

     - Os condicionantes atuais: dependência, dívida externa, balanço de pagamentos, modelo exportador, fragilidade frente às finanças internacionais (exemplos de outros países)

 

II. CARACTERISTICAS DA DIPLOMACIA BRASILEIRA ATUAL

1. O “pragmatismo ecumênico e responsável”

     - Conquistas alcançadas nos últimos anos, mas condicionantes (modelo econômico de abertura externa, agravamento da dependência, dívida externa, desnacionalização)

     - Características da ação diplomática brasileira

     - O Brasil como “potência emergente” e o “clube dos ricos”

     - Bilateralismo e multilateralismo: necessidade do bilateralismo 

 

2. O processo de formulação da política externa brasileira

     - A doutrina de segurança nacional, ESG

     - Os gabinetes militares e o Itamaraty

     - O papel do presidente e a política interna

 

III. ALTERNATIVAS DE POLÍTICA EXTERNA

1. O Brasil e a Nova Ordem Econômica Internacional

     - Estado atual do diálogo Norte-Sul

     - Ação multilateral do Brasil

     -Maior agressividade nos foros internacionais

 

2. Os grandes problemas políticos contemporâneos

     - África 

     - Congelamento do poder mundial

     - Instituições financeiras internacionais

 

3. A inflexão no modelo de desenvolvimento

     - A importância do mercado interno

 

4. As grandes linhas da política externa alternativa

 

 

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 055, agosto 1978, 3 p., manuscritas.


 

 

O Brasil e a conferência da paz na Ucrânia- Um Jornalista e Paulo Roberto de Almeida

 O Brasil poderia ter participado da conferência a que foi convidado pela chancelaria da Suíça no nível adequado, ou seja, chefe de Estado e de governo, como corresponde ao status de Lula.

Este decidiu não participar, alegando um motivo pueril, na verdade totalmente equivocado: a parte agressora não foi convidada (de fato declarou que não aceitaria participar).

Lula poderia ter ido e dito o que o Brasil já disse na ONU (ainda que em meias palavras): a Rússia é responsável pela guerra. Ponto! Este é um FATO!

Um jornalista que cobre o Itamaraty, mas que não quer se indispor com a chefia da Casa e com quem manda na Casa, me escreveu isto, mas pediu para omitir o seu nome:

“A ausência de liderança brasileira na Conferência sobre a Ucrânia na Suiça é uma evidência de que o Brasil escolheu um lado no conflito: a Russia.

O PT defendeu todo tempo a invasão russa na Ucrânia.

Zelensky tem razão quando diz que Lula não é parte isenta e portanto não tem o que contribuir para a resolução do conflito.“

Ele tem inteiramente razão. Eu até diria que Lula e o PT torcem pela vitória da Rússia, por muitas razões sobre as quais já escrevi neste mesmo espaço, mas que podem resumidas a duas: antiamericanismo genético e anacrônico — pois vem dos tempos da Guerra Fria, quando todos os comunistas apoiavam a URSS, contra o imperialismo americano— e pertencimento ao BRIC, BRICS, BRICS+, que foi o maior erro estratégico da diplomacia lulopetista (e já escrevi um livro inteiro sobre isso).

Acredito que diplomatas como eu, na ativa ou já aposentados, discordam da postura de Lula, pois aprenderam o mínimo sobre a Carta da ONU e sobre o que são valores e princípios da diplomacia brasileira, que aliás estão na própria Constituição. Imagino que diplomatas corretos estejam escandalizados pela escolha de Lula e do PT.

Apenas evitam dizê-lo. Eu digo. Estou horrorizado d envergonhado pelo Brasil e por sua diplomacia.

Paulo Roberto de Almeida 

Brasília, 16/06/2024


Paz na Ucrânia? Basta aplicar a Carta da ONU: discurso da primeira ministra da Estônia, Kaja Kallas

 A speech to learn from by Prime Minister Kaja Kallas at the opening plenary of the Summit on Peace in Ukraine.

« Principles such as sovereignty, territorial integrity and discrediting aggression as a tool of statecraft are the most important elements. They must at all costs be preserved. 

Hence, it is critical that these principles are also upheld in case of Ukraine.

That is why I am concerned to hear about so-called peace plans or initiatives that don’t even mention these core principles of the UN Charter – the principles that form the basis for securing peace globally. 

We should be very careful not to leave an impression that some topics and principles, such as especially Ukraine’s territorial integrity, are somehow secondary to others. 

They clearly are not. Upholding these principles is the most important way towards a just and lasting peace. They must be at the core of any future peace framework.

The Russian war of aggression against Ukraine has lasted for ten years. For the bigger part of it, the world ignored it.  

Some hoped back then and are hoping right now that territorial concessions to the aggressor would bring peace. This logic echoes the appeasement policies of the 1930s. However, rather than securing peace, the Munich Agreement emboldened Hitler, leading to further aggression and eventually to World War II.  

History has proved that giving up territory for peace has too often led and will lead to further aggressions. To achieve peace, we will have to learn from our own mistakes – failure to do so would bring a colossal cost in human lives across the globe.

Excellencies, ladies and gentlemen,

Many countries have suffered under colonial wars. So has mine. I know that Russia isn't typically thought of as a colonial power. 

Estonia, my own country, went through Russia’s colonisation and occupation for almost half a century, up until 1991.

I grew up during the last part of that time. My own mother, forcefully deported to Siberia as a baby, has suffered from war crimes that Russia inflicted upon far too many. In theory, it was called peace, but it was peace on Russian terms – meaning mass atrocities, repressions, colonisation. 

So, witnessing the continuation of Russia’s colonialist landgrab policy today in Ukraine is a heartbreaking reminder of how history can repeat itself. I really hope this time we’re able to learn from our past mistakes. »


A Argentina volta às “relações carnais” - Roberto López (Pagina 12)

 La errática política exterior y de defensa de Javier Milei

Socio global de la OTAN y miembro del grupo Ramstein: la irresponsabilidad como factor común


Desde la asunción del presidente Javier Milei, la política de Defensa Nacional en Argentina ha experimentado cambios significativos, particularmente, tal cual señaló el pasado martes de 11 de junio el Secretario de Asuntos Internacionales de la Defensa -Juan Battaleme- en la Comisión de Defensa Nacional, donde había sido citado para que brinde explicaciones, en torno las alianzas y compromisos internacionales.

Practicando el ejercicio de recorrer la exposición del citado funcionario, se puede apreciar que cada uno de los eventos que, tomando estado público, sin dudas, obedecen a una planificación que tiene un sentido nítido de alineamiento irrestricto –y sobreactuado-- a las políticas emanadas desde Washington. Hasta acá ninguna novedad.

Ahora bien, en esa imaginaria línea de tiempo se pudo observar que, en abril de 2024, el ministro de Defensa, Luis Petri, llevó a cabo una misión diplomática clave ante la Organización del Tratado del Atlántico Norte (OTAN) por instrucción del presidente Milei. El objetivo principal fue operativizar el proceso de aprobación para que Argentina pueda adquirir la categoría de "socio global" de la alianza hemisférica.

Durante una reunión en Bruselas, sede de la OTAN, Petri entregó una carta de intención que expresaba la solicitud de Argentina para convertirse en un socio global de la organización.

Simultáneamente, el Ministerio de Defensa -y la cancillería- terminaban de darle forma a un nuevo Plan Anual de Ejercitaciones Combinadas y Conjuntas de las FF. AA. para el período 1° septiembre 2024/31 agosto 2025. Este proyecto enviado de apuro esta última semana -PE008-2024- debió haber ingresado al Congreso de la Nación en el mes de marzo de 2024, es decir, con un atraso significativo que pudo estar atado a los retoques que le imprimió la nueva gestión de la Defensa Nacional.

La principal novedad estuvo dada en la incorporación del Ejercicio XIV “GUINEX”, una ejercitación a desarrollarse en el Golfo de Guinea. Tal cual surge del marco situacional y objetivos descriptos en el proyecto, esta actividad tiene como foco central aquellas técnicas y tácticas en operaciones navales asociadas a la vigilancia y el control del mar, especialmente la que se desarrolla con más frecuencia en esa parte del globo, la piratería. 

Vale recordar, una vez más, que en nuestro país la autoridad marítima está en manos de la Prefectura Naval Argentina, y que la piratería, un fenómeno relacionado a la seguridad, debería estar en la órbita de acción de la esta última fuerza de seguridad. Todo ello previsto en las leyes 23. 554, 24.059, Decreto Reglamentario 727/2006 y otras normas conexas y concatenantes.

Sobre este particular, el licenciado Juan Battaleme indicó que el gobierno nacional está trabajando sobre una modificación del decreto reglamentario de la ley de Defensa Nacional y, en particular, sobre la Directiva Política de Defensa Nacional (DPDN). En ese sentido, agregó el funcionario, que existen actividades de Defensa Nacional que operan en “zonas grises” en cuanto a que podrían ser consideradas de Seguridad Interior. 

Finalmente, Battaleme sostuvo como argumento central, que el Ejercicio “Guinex” era liderado por la Marina brasileña, entendiendo que esto ofrecía una mirada legitimadora para la ejecución de éste. Vale recordar que en Brasil la autoridad marítima es la Marina de Brasil, así lo contempla la legislación de ese país.

En ese recorrido imaginario de la exposición del Secretario de Asuntos Internacionales de la Defensa, conviene resaltar los ejes en los cuales fijó la centralidad de su argumento respecto a la petición de incorporar a la Argentina como socio global de la OTAN.

Battaleme sostuvo que esto obedecía a una directiva estratégica ordenada por el presidente de la nación. En estrictas palabras del funcionario: "Esto significa integrarse a Occidente poniendo, de este modo, en funcionamiento un mecanismo de coordinación política con los miembros de la Organización militar multinacional (sic)”. Agregó, además, la conveniencia de "tener un oído en esa mesa de decisiones (sic)”.

Profundizando en ese concepto, sostuvo que Argentina había tenido un “gesto” hacia occidente y que esto era en el marco de una clara elección: Trabajar asociado a Estados Unidos. Nuestro país exhibió ese estatus similar a partir de 1998 hasta que la Dra. Nilda Garré ordenó poner fin a esa asociación durante su mandato al frente a esa cartera.

En términos de adquisición de materiales para defensa, cerrado el capítulo de la compra de los cazas multirrol F-16, el ministro de defensa, según publicaciones de esta semana, sostiene conversaciones con Italia por la compra de un buque de asalto anfibio clase San Giorgio que la Marina Italiana está próximo a desprogramar. Esta nave, que además cuenta con una cubierta para operar helicópteros, es una capacidad que la Armada Argentina había perdido con la baja del buque ARA San Antonio. Con coherencia, Juan Battaleme sostuvo el pasado martes que su aspiración es que las Fuerzas Armadas recuperen la proyección naval y el largo alcance.

Esta lógica obedece más a un concepto de una Defensa Nacional del tipo “ofensiva” y no “defensiva-disuasiva” como establece el complejo normativo argentino. Detalle no menor si se tiene en cuenta que la OTAN realiza operaciones de proyección de fuerzas a lo largo y ancho del globo.

Por último, Battaleme sostuvo que pertenecer a la OTAN como socio global no le generaba obligaciones en torno a los conflictos en que la organización tomaba parte; estrictamente dijo: “Si Argentina no quiere meterse en un conflicto, no lo va a hacer". Al mismo tiempo, indicó que en Ucrania la única misión que llevaría a cabo nuestro país iba a ser de índole humanitaria.

Dicho esto, ocurrieron dos cosas: Argentina fue incluida oficialmente en el Grupo Ramstein, un grupo de países que apoyan la defensa a Ucrania mediante el envío de equipo y entrenamiento militar. Por otro lado, trascendió que existe la intención de enviar los cinco aviones Super Etendard Moderinsé -comprados en la gestión del ingeniero Macri- y que nunca volaron por tener vencidos los cartuchos pirotécnicos de los asientos eyectores (esto último con una triangulación con Francia). Aquí sí parece que el discurso y las acciones entran en colisión.

Algunas consideraciones

Es evidenciable, en el relato del secretario de Asuntos Internacionales de la Defensa, que el gobierno argentino ha fijado su rumbo en política exterior. Este rumbo va a estar determinado por las decisiones en esta materia que surjan desde Washington. Así lo expresó claramente cuando sostuvo que habían elegido ser socios de Estados Unidos, visto las asimetrías entre ambas naciones es factible poner en duda el carácter de “socios”. En ese mismo orden, vale decir, existe coherencia entre lo escrito por el Ministerio y las acciones ejecutadas, en materia de política exterior.

Las inconsistencias aparecen cuando la sobreactuación, antes declamada, irrumpe en la escena internacional y genera posicionamientos que ponen en riesgo a la seguridad de la nación. Mientras Battaleme sostenía que Argentina solo apoyaría operaciones humanitarias en Ucrania, resulta que su jefe, el ministro Petri, era recibido por el secretario de Defensa de Estados Unidos, Lloyd Austin, en la 23ª reunión del Grupo de Contacto de Defensa de Ucrania. Por otra parte, se comenzaba el estudio del citado traspaso de material aeronaval en triangulación con Francia, actual proveedora de material bélico a Ucrania. 

Es acá donde la inconsistencia, entre en el relato y las acciones, pone en una situación peligrosa, inestable y poco asertiva a la República Argentina. Romper las tradiciones, en este caso la neutralidad en conflictos que no atañen intereses u objetivos directos de la nación, implica no solo un hecho disrruptivo de la liturgia del Palacio San Martín, sino que compromete el destino del país y de todos los que vivimos en él. La incorporación al Grupo Ramstein debería ser tratada en el Congreso de la Nación, toda vez que ese grupo es el que apoya el esfuerzo militar de Ucrania y coordina, al mismo tiempo, las acciones de los países que apuntalan a esta nación en la guerra contra Rusia. 

En resumen, es necesario recuperar la sensatez en el modo de vincularse con las grandes potencias sin la necesidad de dividir al mundo, adolescentemente, entre “buenos” y “malos”; entendiendo que las relaciones se mueven por intereses nacionales y no por gustos personales. Eso queda en evidencia con el anuncio del próximo viaje del presidente Milei a China, luego de las desafortunadas declaraciones del mismo presidente y su canciller, Diana Mondino.

En síntesis, volver a la senda de la racionalidad en asuntos de política exterior y defensa de la mano de una planificación adecuada que observe, particularmente, la soberanía e independencia de la Nación Argentina, su integridad territorial y capacidad de autodeterminación, y, finalmente, protegiendo la vida y la libertad de sus habitantes. 

*El autor es abogado, magíster en Defensa Nacional. Asesor parlamentario en la Comisión de Defensa Nacional en la Honorable Cámara de Diputados y en la Comisión Bicameral de Inteligencia del Honorable Congreso de la Nación.


Minha ficha no SNI em 1978: "diplomata subversivo" - Paulo Roberto de Almeida (Diretório do SNI no Arquivo Nacional de Brasilia)

 Eis minha ficha no SNI, tal como feita em 1978. Explicarei depois as circunstâncias.




De repente, tout se complique, para 2026 - Pesquisa Atlas Intel: popularidade de Lula

 A aprovação de Lula é maior na região Nordeste (66,3%), segundo pesquisa do instituto AtlasIntel produzida em parceria com a CNN Brasil e divulgada neste sábado (15).

APROVAÇÃO

Nordeste: 66,3%;

Norte: 58,5%;

Sul: 46,7%;

Sudeste: 39%;

Centro-Oeste: 29,2%.

DESAPROVAÇÃO

Centro-Oeste: 70,7%;

Sudeste: 60,8%;

Sul: 52,5%;

Norte: 41,3%;

Nordeste: 27,2%.

A pesquisa AtlasIntel ouviu 3.601 brasileiros entre os dias 7 e 11 de junho. O levantamento tem margem de erro de um ponto percentual para mais ou para menos e nível de confiança de 95%. (CNN Brasil)