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segunda-feira, 5 de agosto de 2024

Intelectuais ainda têm influência nos debates públicos? - Carlos Benedito Martins, Felipe Maia (FSP)

Intelectuais ainda têm influência nos debates públicos?

Carlos Benedito Martins, Felipe Maia*

Folha de S. Paulo,  segunda-feira, 5 de agosto de 2024

 

A figura de intelectual público, simbolizada por pessoas com amplo repertório cultural, destreza na escrita e na interação com o público e disposição para se engajar em discussões que mobilizam a sociedade, ganhou popularidade no século 20, tendo em Jean-Paul Sartre uma de suas mais célebres expressões. Nas últimas décadas, contudo, mudanças sociais, sobretudo na produção e difusão de conhecimento nas universidades, acarretaram o declínio desse modelo e apontam novas modalidades de intervenção intelectual

 

Ao escrever sobre a representação do intelectual, Edward Said destacou que sua imagem foi moldada pelo caso do capitão Alfred Dreyfus, durante o qual o romancista Émile Zola mobilizou diversos homens de letras —sim, quase todos, homens— em uma causa política e moral que colocava em questão os fundamentos e a dinâmica da República francesa.

Em vista disso, o intelectual, na visão de Said, teria como missão confrontar ortodoxias, atuar de forma crítica na sociedade e agir com base em princípios universais. Essa categoria social surgiu no final do século 19, em um contexto de transformações sociais, como o processo de urbanização na Europa, o desenvolvimento de universidades e a industrialização da imprensa e da atividade editorial.

Esses eventos contribuíram para a formação de um espaço público aberto a debates políticos e culturais e, igualmente, propiciaram a autonomia da esfera da produção intelectual. Assim, os escritores e os artistas puderam se libertar da chancela de diversas modalidades de mecenato e passaram a viver de seus trabalhos e a se inserir na arena pública, ao lado de professores universitários, cientistas e profissionais liberais.

O nascente modelo de intelectual público passou a ser simbolizado por figuras que conquistaram visibilidade na arena cultural e política, combinando habilidades como o conhecimento humanista, a capacidade de escrever bem, de falar em público e de se engajar em causas sociais, éticas e políticas.

São personagens que falam "a verdade diante do poder", na expressão de Said —e que tiveram na figura de Jean-Paul Sartre uma de suas mais célebres expressões. Este modelo dominou o imaginário social e foi considerado, em larga medida e em muitos lugares, a forma legítima de atuação dos intelectuais na sociedade.

Durante o século 20, como detentores de um capital cultural adquirido nas instituições escolares e/ou no meio familiar, os intelectuais conquistaram visibilidade participando de eventos significativos nas arenas cultural e política de diversas sociedades pelo mundo.

Para tanto, combinaram suas capacidades de produzir ideias com ações que permitiram que elas circulassem para além dos meios profissionais ou literários, afetando a compreensão e a motivação de audiências amplas. Isso tornou os intelectuais personagens públicos associados a representações coletivas sobre crises, questões sociais e alternativas de mudanças.

Alguns deles viraram figuras icônicas a partir de uma combinação de performance na arena pública e de elaboração de narrativas persuasivas a respeito da vida social, contando com uma infraestrutura de comunicações composta por editoras, revistas, jornais, organizações políticas ou de mídia. No entanto, seria enganoso imaginar que o espaço intelectual se restringe aos intelectuais que se tornaram célebres.

Transformações sociais em escala global reverberaram na reconfiguração nas modalidades de participação dos intelectuais nos dias correntes e impactaram suas articulações com a esfera pública, com as instituições de produção e transmissão de conhecimento, em especial com a universidade e com a própria vida cultural e política.

Nesta direção, ao longo do tempo, ocorreu uma crescente diversificação do espaço intelectual. Além de escritores, artistas, cientistas, acadêmicos, passou a contar com a presença de administradores públicos, especialistas em meios de comunicação, jornalistas, blogueiros, entre outras categorias.

Diante deste cenário, no qual estes atores travam uma acirrada luta concorrencial em busca do significado legítimo da figura do intelectual, qualquer definição social a priori sobre este grupo corre o risco de efetuar um "coup de force", incluindo ou excluindo de forma arbitrária os atores deste espaço.

Isso posto, a esfera intelectual ficou mais heterogênea, menos centralizada em personalidades consagradas e mais matizada no que diz respeito aos modos de intervenção ou engajamento destes atores, o que significa também uma intensificação da disputa em torno dos atributos de legitimidade para lidar com questões públicas, assim como em suas relações com as instituições de produção de conhecimento e as organizações políticas ou da sociedade civil.

Os trabalhos de Richard Posner, "Public Intellectuals: A Study of Decline", e de Russell Jacoby, "The Last Intellectuals: American Culture in the Age of Academe", ressaltaram que a expansão das universidades no pós-guerra passou a absorver uma parte expressiva dos intelectuais em seu interior. Para eles, as universidades contemporâneas impulsionaram a diversificação e a especialização do conhecimento, ao mesmo tempo em que profissionalizaram a carreira acadêmica.

Assim, os intelectuais que gradativamente tornaram-se acadêmicos organizaram suas vidas em função dos critérios de suas carreiras e encontram-se submetidos de forma crescente a formas de avaliação institucional.

Ao mesmo tempo, passaram a divulgar seus trabalhos em periódicos especializados, utilizando uma linguagem acessível basicamente aos membros de uma determinada área ou sub-área de conhecimento, tendo como audiência prioritária seus colegas de profissão. Com isso, perderam a comunicação com uma audiência mais ampla.

Atualmente, o ambiente cultural se tornou menos favorável ao tipo de intelectual que marcou o século passado. Patrick Baert, em seu trabalho sobre a figura de Sartre, "The Existentialist Moment: The Rise of Sartre as Public Intellectual", mostrou que as condições de reprodução da figura do intelectual público "universal" ou, como ele prefere, do "intelectual com autoridade" para tratar de temas diversos, para além de sua especialidade profissional, ficaram cada vez mais problemáticas.

Para ele, essa modalidade de intelectual surgiu em sociedades nas quais o capital cultural encontra-se concentrado numa pequena elite e, ao mesmo tempo, em que o meio acadêmico possui uma estrutura amorfa, indicando uma limitada especialização do conhecimento.

A institucionalização das ciências sociais e o surgimento do estruturalismo na França, a partir de 1950, abalaram a posição destacada que ocupava a filosofia, disciplina que constituía em larga medida o celeiro dos intelectuais públicos. Desde então, esses processos de institucionalização e profissionalização das ciências sociais, que ocorrem em várias partes do mundo, têm criado obstáculos para a atuação do intelectual público "universalista", que trata de questões sociais, políticas e culturais desprovido do treino adequado à respectiva área do conhecimento.

No mesmo sentido, a expansão mundial do ensino superior, que vem se processando desde os anos 1970, incrementou o volume da produção, circulação e difusão de conhecimento disponível para a esfera pública, contribuindo também para a disseminação de um sentimento de ceticismo com relação à plausibilidade das formulações realizadas por este tipo de intelectual.

Essas considerações não significam que os intelectuais públicos desapareceram. Ao contrário, trata-se de reconhecer o surgimento de novas formas de intervenção na vida social, transformando o registro de narrativas de declínio ou decadência numa narrativa de mudança na atuação intelectual.

Se determinadas transformações sociais e acadêmicas tornaram mais complexo o surgimento do intelectual público universalista, precisamos indagar o que surgiu em seu lugar. Na esteira da segmentação do conhecimento produzido nas universidades, cujo primado tem norteado a organização dos departamentos, dos laboratórios de pesquisas e direcionado a contratação do corpo docente, crescem as oportunidades de atuação de intelectuais públicos especializadosque utilizam seu conhecimento profissional, proveniente de suas investigações nas ciências sociais ou naturais, para se envolver em debates precisos e relevantes.

A especialização não significa um abandono da crítica ou da preocupação com valores que procuram defender no espaço público. Diferentemente de experts que procuram apoiar suas intervenções na suposta neutralidade de seus conhecimentos, como indício de cientificidade, os intelectuais públicos especializados desenvolvem a crítica sem se identificar com a figura do intelectual universal.

Na década de 1970, quando Michel Foucault formulou sua concepção de intelectual específico, em oposição à figura do intelectual universal, tinha em mente essa forma de engajamento, de tal modo que sua pesquisa sobre a história da punição, exposta em "Vigiar e Punir", estava vinculada à sua luta contra o sistema prisional.

Em sua visão, a função do intelectual não é dizer aos outros o que fazer, tampouco modelar a vontade política dos atores, mas sim repensar, por meio de sua competência profissional, as categorias de análises do mundo social, interrogar as evidências e os postulados rotineiros.

Para ele, a função do intelectual consiste em diagnosticar o presente, longe de raciocinar em termos de totalidade para formular promessas de um tempo vindouro. Busca lutar, a partir de questões circunscritas, contra as diversas formas de poder em situações nas quais ele é mais invisível e insidioso.

Alguns dias após a morte de Foucault, em junho de 1984, Pierre Bourdieu publicou no jornal Le Monde um artigo em sua homenagem. Nele ressaltou que, ao elaborar a noção de intelectual específico, Foucault aliou de forma recorrente a realização de seus trabalhos pontuais com engajamentos políticos, mas abdicou, de forma deliberada, do papel de portador da verdade e da justiça.

Bourdieu, diante do avanço da "restauração conservadora neoliberal", expressão cunhada por ele mesmo, percebeu a necessidade de criar a figura do intelectual coletivo.

Nesse ponto de vista, as intervenções individuais dos intelectuais deixaram de ser suficientes diante da forte presença do neoliberalismo, daí a premência de criar um trabalho de equipe, apoiado nos conhecimentos das ciências sociais, em defesa dos dominados e contra a destruição de uma civilização, conforme ele manifestou em intervenção pública realizada na estação ferroviária de Lyon, durante as greves de 1995. Em sua perspectiva, a ação do intelectual coletivo envolve o difícil equilíbrio entre as atividades de pesquisador e a participação em intervenções públicas sobre temas polêmicos de interesse geral.

Não seria improcedente afirmar que a questão do sucesso dos intelectuais ocupa posição destacada no imaginário social e na opinião pública, em função, principalmente, da visibilidade e celebridade adquiridas pela alta exposição e projeção na mídia.

No entanto, essa obsessão pelo êxito de intelectuais que se destacam na arena pública tende a ofuscar a participação importante de milhares de outros que atuam em espaços locais da vida social. Por não receberem os holofotes da mídia, tornam-se menos visíveis em escala nacional ou planetária.

Esses intelectuais anônimos estão presentes em diversos movimentos, envolvem-se com as comunidades locais e influenciam aspectos sociais, culturais e políticos de suas sociedades. Cada um desses ambientes envolve a interação com um público específico, diversificado e, muitas vezes, denso para a reflexividade social em torno de problemas e formas de ação.

Nessas situações, a relação do intelectual e do saber especializado com outros saberes, tais como aqueles que se desenvolvem em movimentos sociais, organizações e em grupos de profissionais, beneficia-se da dissolução da hierarquia e da autoridade em favor de práticas que levam ao aprendizado mútuo e a um sentimento de participação. São aspectos valorizados na concepção de uma "sociologia pública", tal como defendida por Michael Burawoy, que tem ganhado difusão e variações locais na prática disciplinar.

Os intelectuais também estão inseridos em comunidades epistêmicas, ou seja, em redes formais e/ou informais, localizadas em diversas sociedades nacionais, das quais fazem parte profissionais de diferentes áreas do conhecimento, que operam em dimensões locais e nacionais. Dado que tendem a compartilhar princípios e crenças comuns a respeito de determinadas questões sociais, políticas e culturais, encontram-se inclinados a identificar e intervir em assuntos que consideram de relevância geral.

Com o processo de globalização da esfera cultural e da vida acadêmica, propiciando o intercâmbio de ideias e de informações entre os países, essas comunidades epistêmicas atuam também em plano global, em diversidade de temas, tais como direitos humanos, imigração internacional, aquecimento global, entre outros. Ainda que pouco visíveis individualmente, esses intelectuais contribuem para projetar uma série de questões relevantes para o debate público.

Essas transformações na modalidade de intervenção na sociedade incidem também nas relações com a audiência pública mais ampla, em situações que lidam com causas e questões semelhantes àquelas que marcaram a história dos intelectuais.

Como exemplo, podemos citar os dilemas postos pelas múltiplas dimensões das crises contemporâneas: das emergências climáticas às guerras na Ucrânia e na Palestina, da pandemia à crise das democracias. Em todas elas, o conhecimento especializado constitui um elemento fundamental, porém necessita ser suplementado por uma articulação mais geral de perspectivas éticas, políticas e culturais, que excedem os procedimentos estritamente controlados da pesquisa científica e do trabalho acadêmico mais restrito.

A mobilização do capital cultural e do reconhecimento adquiridos no meio científico são valorizados e podem ser úteis para o acesso à esfera pública, mas não fornecem, por si mesmos, condições de autoridade e para uma intervenção eficaz.

Uma compreensão mais democrática dos intelectuais aponta que seu engajamento no debate público se dá, necessariamente, na condição de um participante que não detém uma posição de enunciação privilegiada, mas está sujeito ao confronto com outros pontos de vista. Apenas assim podem favorecer o autoentendimento das sociedades e de seus problemas.

Assim como determinadas condições sociais propiciaram o surgimento dos intelectuais como uma categoria social no final do século 19, atualmente um conjunto de transformações ocasionou a emergência de novas modalidades de suas presenças na vida social.

São formas mais descentralizadas de intervenções e de modos de participação, possivelmente menos visíveis, quando comparadas com décadas passadas, e que são realizadas, crescentemente, de forma coletiva, em diferentes esferas da sociedade.

Longe de serem insignificantes, esses novos formatos de atuação expressam uma renúncia a uma posição do intelectual como legislador, sem, no entanto, abrir mão de uma postura crítica diante das conjunturas.

Ao mesmo tempo, torna-se oportuno assinalar a persistência de um ethos anti-intelectualista conduzido por parte de grupos políticos de extrema direita, que procuram desacreditar socialmente o conhecimento científico, atacar às produções artística e literária e depreciar a figura de seus autores. Representam, enfim, a contraparte cultural de uma aversão à democracia política.

Essa disposição anti-intelectualista possui uma longa tradição que perpassa a investida de Maurice Barrés, que acusava os apoiadores de Alfred Dreyfus de serem maus franceses, inimigos do instinto vital da nação.

Em tempos recentes, essa perspectiva evidenciou-se, por exemplo, em livros como "Os Intelectuais", de Paul Johnson, que os caracterizam como seres ilógicos, arrogantes, que deveriam ser objeto de constante suspeita e mantidos longe do poder, uma vez que procurariam impor de forma obstinada suas ideias abstratas a homens e mulheres.

No Brasil, essa visão intolerante sobre a vida acadêmica e a produção cultural esteve presente em vários momentos históricos, como durante a ditadura militar instaurada em 1964 e o governo passado que manifestou profunda aversão ao trabalho intelectual.

Diante desse cenário de intimidação, é preciso proteger a liberdade de produção de conhecimento nas esferas artística, literária e científica, assim como seus modos de participação no espaço público.

A autonomia da produção cultural pressupõe a existência de uma sociedade plural, na qual as intervenções dos intelectuais, ao estabelecerem relações entre problemas específicos e questões de interesse público, possuem fundamental relevância social e contribuem igualmente para a preservação de uma sociedade democrática.

 

*Carlos Benedito Martins, professor titular do Departamento de Sociologia da UnB (Universidade de Brasília)

*Felipe Maia, professor Associado do Departamento de Sociologia da Universidade Federal de Juiz de Fora

 

Um comentário:

 

Alberto Aggio disse...

O texto é bem interessante, mas lacunar. Não há sequer uma menção a Antonio Gramsci e suas reflexões sobre os intelectuais na construção da esfera política, por assim dizer, onde aparece a figura do intelectual orgânico. Se poderia fazer uma crítica a essa figura, mas nem a isso os autores se deram o trabalho. Uma outra observação lateral é a de que o texto registra o anti-intelectualismo como apenas uma manifestação recente da "extrema direita". Não seria fora de propósito observar que na trajetória do Partido do Trabalhadores, por exemplo, e nas manifestações do núcleo duro da sua principal liderança (nela inclusive) persistiu uma forte marca anti-intelectual, abrindo espaço somente para os intelectuais instrumentais, úteis, mas desprezíveis.

Mundo Fraturado: reflexões sobre a crise da ordem liberal, Diogo Ramos Coelho, lançamento em Brasilia, 15/08

 Aguardando o lançamento: 


Deste autor eu já conheço este livro: 

Diogo Ramos CoelhoMundo em crise: a história da crise financeira, seus impactos nas relações internacionais e os atuais desafios (Brasília: Editora Universidade de Brasília, 2014)

Mini-resenha que eu fiz para o Boletim da Associação dos Diplomatas Brasileiros - ADB (ano 22, n. 88, janeiro-fevereiro-março 2015, p. 31-32; ISSN: 0104-8503). Postado no Blog Diplomatizzando (4/04/2015; link: http://diplomatizzando.blogspot.com/2015/04/prata-da-casa-mini-resenhas-de-livros.html). Republicado no Diplomatizzando (29/04/2015; link: http://diplomatizzando.blogspot.com/2015/04/boletim-adb-miniresenhas-de-livros-de.html). Relação de Publicados n. 1170.

 

O capitalismo está em crise, à beira da morte? Muitos pensam assim. O livro trata da crise financeira e das reações dos governos; o autor acha que as democracias não têm sabido realizar as reformas necessárias, pois existem custos políticos e sociais, que também atingem países em desenvolvimento. A diversidade de interesses dificulta uma globalização plena e a coordenação de respostas. Quais são os desafios? Conciliar democracia e mercados, o que não é fácil, como demonstra cada nova crise. E o Brasil? Se ele não sofreu tanto com a crise de 2008 (a despeito da queda em 2009), sofre agora com erros de política econômica doméstica. Mas o Brasil aparece mais no prefácio de Matias Spektor, e brevemente na introdução do autor, do que no resto do texto. Trata-se, em todo caso, de excelente introdução ao estudo da grande depressão que anda por aí.

 

Autocracy Inc. de Anne Applebaum, Introdução (Inteligência Democrática)

 Autocracy Inc. de Anne Applebaum

Inteligência Democrática4/08/2024

 

Reproduzimos abaixo, numa tradução automática do ChatGPT4, a introdução do mais recente livro de Anne Applebaum (2024), Autocracy Inc. Os ditadores que querem governar o mundo. O PDF com o texto integral pode ser baixado aqui: APPLEBAUM Autocracy, Inc.


 

INTRODUÇÃO

Todos nós temos em nossas mentes uma imagem caricatural de um estado autocrático. Há um homem mau no topo. Ele controla o exército e a polícia. O exército e a polícia ameaçam o povo com violência. Existem colaboradores malignos e, talvez, alguns dissidentes corajosos.

Mas, no século 21, essa caricatura pouco se assemelha à realidade. Hoje em dia, as autocracias não são dirigidas por um único homem mau, mas por redes sofisticadas que dependem de estruturas financeiras cleptocráticas, um complexo de serviços de segurança — militares, paramilitares, policiais — e especialistas tecnológicos que fornecem vigilância, propaganda e desinformação. Os membros dessas redes estão conectados não apenas entre si dentro de uma dada autocracia, mas também a redes em outros países autocráticos, e às vezes em democracias também. Empresas corruptas controladas pelo estado em uma ditadura fazem negócios com empresas corruptas controladas pelo estado em outra. A polícia em um país pode armar, equipar e treinar a polícia em muitos outros. Os propagandistas compartilham recursos — os fazendeiros de trolls e as redes de mídia que promovem a propaganda de um ditador também podem ser usados para promover a de outro — bem como temas: a degeneração da democracia, a estabilidade da autocracia, o mal dos Estados Unidos.

Isso não quer dizer que há uma sala secreta onde os caras maus se encontram, como em um filme de James Bond. Nem nosso conflito com eles é um concurso binário preto-e-branco, uma “Guerra Fria 2.0.” Entre os autocratas modernos estão pessoas que se autodenominam comunistas, monarquistas, nacionalistas e teocratas. Seus regimes têm raízes históricas diferentes, objetivos diferentes, estéticas diferentes. O comunismo chinês e o nacionalismo russo diferem não apenas entre si, mas também do socialismo bolivariano da Venezuela, do Juche da Coreia do Norte ou do radicalismo xiita da República Islâmica do Irã. Todos eles diferem das monarquias árabes e outros — Arábia Saudita, Emirados, Vietnã — que em sua maioria não buscam minar o mundo democrático. Eles também diferem das autocracias mais suaves e democracias híbridas, às vezes chamadas de democracias iliberais —Turquia, Cingapura, Índia, Filipinas, Hungria — que às vezes se alinham com o mundo democrático e às vezes não. Ao contrário de alianças militares ou políticas de outras épocas e lugares, este grupo opera não como um bloco, mas sim como uma aglomeração de empresas, vinculadas não pela ideologia, mas sim por uma determinação implacável e única de preservar sua riqueza e poder pessoal: Autocracia, Inc.

Em vez de ideias, os homens fortes que lideram a Rússia, China, Irã, Coreia do Norte, Venezuela, Nicarágua, Angola, Mianmar, Cuba, Síria, Zimbábue, Mali, Bielorrússia, Sudão, Azerbaijão e talvez outras três dúzias compartilham uma determinação de privar seus cidadãos de qualquer influência ou voz pública reais, de lutar contra todas as formas de transparência ou responsabilidade, e de reprimir qualquer um, em casa ou no exterior, que os desafie. Eles também compartilham uma abordagem brutalmente pragmática da riqueza. Ao contrário dos líderes fascistas e comunistas do passado, que tinham máquinas partidárias atrás deles e não exibiam sua ganância, os líderes da Autocracia, Inc., muitas vezes mantêm residências opulentas e estruturam grande parte de sua colaboração como empreendimentos lucrativos. Seus vínculos entre si e com seus amigos no mundo democrático são cimentados não por ideais, mas por negócios — negócios projetados para atenuar as sanções, trocar tecnologia de vigilância, ajudar uns aos outros a enriquecer.

(...) 

(+ 11 páginas)

Leia a íntegra neste link: 

https://www.academia.edu/122602843/Autocracy_Inc_Anne_Applebaum_Introdu%C3%A7%C3%A3o_2024_



Lula e Boric não devem formar consenso sobre Maduro durante encontro - Ingrid Soares, Victor Correia (Correio Braziliense)

Ao final, transcrição de algumas declarações minhas aos jornalistas.

Lula e Boric não devem formar consenso sobre Maduro durante encontro

Mesmo sendo ambos de esquerda, chefes de Estado divergem quando o assunto é Venezuela. Petista busca reafirmar papel de liderança em viagem ao Chile nesta segunda-feira (5/8)

Ingrid Soares, Victor Correia

Correio Braziliense,  04/08/2024 03:55 

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva conversa nesta segunda-feira (5/8) com o líder chileno Gabriel Boric em meio à tensão regional causada pelas eleições venezuelanas. Apesar de o Itamaraty afirmar que o assunto não configura como temática central do encontro, a expectativa é de que os chefes de Estado aproveitem a ocasião para debater o cenário. Do ponto de vista da política externa e interna, o petista enfrenta um dos maiores testes diplomáticos e de gestão de seu mandato enquanto busca manter o papel de liderança política na América do Sul. Na avaliação de especialistas, porém não haverá concordância política na visita.

"É mais do que natural que dois presidentes conversem sobre a região, especialmente em um encontro privado. É o momento de falar mais livremente", respondeu a secretária de América Latina e Caribe do Itamaraty, embaixadora Gisela Maria Figueiredo Padovan, ao ser questionada por jornalistas durante o briefing da viagem.

Os presidentes divergem. Boric adotou uma posição mais dura contra o regime Maduro, dizendo ser "difícil de acreditar" na reeleição do ditador. O Chile se alinhou com países, como a Argentina, Uruguai, Estados Unidos e Peru.

Como consequência, as nações tiveram seus corpos diplomáticos expulsos. O Brasil assumiu a embaixada argentina a pedido do governo de Javier Milei, para proteger os seis opositores de Maduro que estão refugiados no local, e que foram ameaçados de prisão pelo governo chavista. Questionada se o Brasil pode assumir a Embaixada do Chile, que também foi esvaziada, Gisela não comentou.

Lula e Boric dificilmente vão formar um consenso sobre as eleições na Venezuela, mesmo sendo ambos líderes de esquerda. Vale lembrar que o chileno já fez, publicamente, duras críticas à proximidade entre o petista e Maduro.

Em março do ano passado, quando Lula chamou de "narrativas" as acusações de violação dos direitos humanos pelo regime chavista, Boric rebateu. "É uma realidade séria. Eu tive a oportunidade de vê-la nos olhos de centenas de milhares de venezuelanos que vivem na nossa pátria e que exigem uma posição firme e clara de respeito aos direitos humanos em todo o lugar, independentemente da coloração política do governante do momento", disse na ocasião.

Cooperação bilateral

Segundo a embaixadora Gisela, a visita de amanhã marca a reaproximação entre os dois países e o objetivo é diversificar uma relação que já é sólida. O Brasil é o terceiro maior sócio comercial da nação vizinha, com um fluxo de US$ 12 bilhões, levemente superavitário para o lado brasileiro. "Temos um comércio relativamente equilibrado com o Chile, mas acho que falta um pouco de diversificação. Nós exportamos basicamente petróleo, automóveis e carne, e importamos cobre, pescados e minério."

Um dos objetivos do Brasil é construir uma base de indústria de Defesa na região, considerando que os dois países já possuem parcerias militares. Por exemplo, o Chile negocia com a Embraer desde os anos 1970, e opera 22 caças brasileiros Super Tucano. O Brasil se coloca à disposição para quando o governo chileno renovar sua frota, e pretende também vender o cargueiro C-390.

Por sua vez, os interesses chilenos incluem segurança pública, segurança cibernética, combate ao crime e atuação em desastres naturais, já que o país é frequentemente atingido por terremotos, deslizamentos e outras catástrofes.

Segundo o chefe da divisão de Argentina, Uruguai e Chile, ministro Carlos Fernando Gallinal Cuenca, pelo menos 17 acordos de cooperação estão prontos para serem assinados em Santiago, e outros 10 estavam na fase final de negociação. "Nesse sentido, o adiamento facilitou para que uma lista que já era grande ficasse ainda mais longa", brincou o diplomata.

Os acordos incluem a certificação eletrônica de vinhos e bebidas, na agricultura, mineração, turismo, cooperação entre as academias diplomáticas dos dois países sobre questões de gênero — área em que o Chile lidera — cooperação em saúde pública, direitos humanos, governo digital, ciência espacial, e um novo acordo de extradição.

Outro projeto de interesse que será discutido com o governo chileno é a finalização do Corredor Bioceânico de Capricórnio, que ligará Campo Grande, capital do Mato Grosso do Sul, ao litoral norte do Chile. A meta é criar um caminho rodoviário mais barato para escoar a produção do Centro-Oeste para a China e outros países da Ásia, por meio do Oceano Pacífico. A rota envolve Brasil, Chile, Argentina e Uruguai, e a estrada já está praticamente pronta. As nações discutem agora a modernização dos serviços aduaneiros e logísticos.

"Sem contar o desenvolvimento do próprio corredor. Ou seja, ao existir uma estrada, tem posto de gasolina, restaurante, então você vai criando um movimento ao longo da própria estrada", argumentou Gisela. 

Sem concordâncias

Para a professora de direito internacional da Universidade de São Paulo (USP) Maristela Basso, a tomada de posição brasileira e da América Latina sobre a situação do pleito venezuelano certamente será tema da reunião.

"Lula deve buscar uma posição concertada. Daí porque Chile, Colômbia, Bolívia e Peru são países importantes. O Brasil não pode ficar numa posição isolada de apoio a Maduro nem de neutralidade. Terá que se posicionar. A guerra da Ucrânia e os últimos acontecimentos no Oriente Médio também estarão na pauta das reuniões", acredita.

O Brasil reivindica o papel de líder regional e usa essa estratégia para se cacifar como player global, como um representante dos países da região nos fóruns multilaterais e como representante de países periféricos de modo geral. Para tanto, precisa costurar um consenso representativo na América do Sul, analisa a professora de Ciência Política da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Mayra Goulart.

"Para que Lula seja bem-sucedido nessa dinâmica é fundamental que exerça um papel de ente estabilizador nos conflitos da região, ele não pode ser visto como um ator que coloca fogo na disputa, mas sim um player que atua para garantir a institucionalidade, e é dessa maneira o presidente brasileiro tem buscado se posicionar", observa.

"Lula tem deixado bem claro que nenhum outro país ou mesmo a OEA pode intervir de modo a exigir recontagem ou interferir de maneira deliberada na realização de processos e escolhas de outros países, no sentido de respeitar a autodeterminação dos povos. Para exercer essa função de liderança, cabe ao presidente fazer o que ele está fazendo no Chile, encontrar-se com as outras lideranças, articular um posicionamento o mais comum possível, o mais representativo de todos os entes aqui da região. Acredito que essa viagem deve ser entendida nessa direção", acrescenta.

O diplomata e professor Paulo Roberto de Almeida ressalta que Boric e Lula pertencem a duas famílias diferentes da esquerda.

"Boric é de uma esquerda renovada, democrática. Lula, pela formação do PT, que é um partido socialista esquerdista atrasado, adere a concepções anacrônicas do velho anti-imperialismo latino-americano. No caso da Venezuela, desde a reunião de líderes da América do Sul feita em Brasília no fim de maio de 2023, alguns representantes da esquerda e vários da direita condenaram a leniência com que Lula recebeu o ditador Nicolás Maduro. Ali, já ficaram bastante claras as diferenças entre as concepções dos dois dirigentes", aponta.

Na visão de Almeida, não há que se esperar concordância entre os presidente sobre questões políticas. "Veremos a retórica vaga geral em favor da integração, do desenvolvimento, da unidade latino-americana e do tratamento político dos conflitos, mas o encontro não configura uma reaproximação, uma vez que Lula e o PT continuam confirmando o apoio ao ditador Maduro enquanto que Boric e outros dirigentes já reafirmaram que as eleições não foram legítimas", frisa

"Não cabe esperar uma aproximação simpática entre ambos. Na minha previsão, será um encontro um pouco hipócrita da parte de ambos. O Boric vai se esforçar pra não chocar muito o Lula sobre o apoio que este dá a Maduro e outras ditaduras. Evidentemente, o presidente vai se esforçar para não confrontar a posição mais decisiva de Boric no confronto com a Venezuela", conclui.


A voz bolivariana no PT - Elio Gaspari (FSP)

Interessante: no mesmo país, tem três diplomacias, talvez mais: a do Itamaraty, que não conta muito, a do Lula, que conta muito, mas é confusa, contraditória, hesitante, personalista ao extremo, a do assessor presidencial, que é o chanceler de fato, e a do PT, esquizofrênica, como sempre. Acho que tem outras variantes, como a da ministra Marina Silva, que diz que aquilo é uma ditadura, e a do ministro dos Direitos Humanos, que não diz absolutamente nada e que acha que matar menos de 120 ainda não requer nenhuma declaração (esticando até 500, vai).

PRA

A voz bolivariana no PT

Lula é uma metamorfose ambulante, mas exagerou

 Elio Gaspari

Folha de S. Paulo, 4/08/2024

https://www1.folha.uol.com.br/colunas/eliogaspari/2024/08/a-voz-bolivariana-no-pt.shtml

Alguma coisa aconteceu no coração do governo. No dia 17 de julho, o presidente venezuelano Nicolás Maduro disse que o resultado da eleição de domingo passado poderia levar a um "banho de sangue" com "uma guerra civil fratricida". Ele batalhava por um terceiro mandato.

No dia 22, durante uma entrevista a agências internacionais de notícias, Lula declarou-se "assustado" com a fala do colega: "Eu já falei para o Maduro duas vezes, e o Maduro sabe, que a única chance da Venezuela voltar à normalidade é ter um processo eleitoral que seja respeitado por todo o mundo".

Recebeu um imediato contravapor de Maduro que, sem citá-lo, recomendou-lhe tomar chá de camomila.

No dia 28, veio a eleição e foi o que se viu.

Na terça-feira (30), Lula assustou quem o ouvia ao dizer que "não tem nada de grave, nada de anormal" e recorreu a um precedente nacional: "Sempre que tem um resultado apertado as pessoas têm dúvidas. Aqui no Brasil você viu o que aconteceu. Mesmo quando o Aécio (Neves) perdeu para a Dilma e entrou com recurso para anular a eleição".

Paralelo absurdo. Em 2014, ninguém mais contestou a lisura da reeleição de Dilma Rousseff. Ela não fechou as fronteiras terrestres, nem barrou a entrada de observadores internacionais. Anos depois, o próprio Aécio revelou que entrou com a ação "só para encher o saco".

Mesmo para uma pessoa que se declara "uma metamorfose ambulante", Lula foi de uma ponta a outra na questão, como se estivesse tratando de algo sem importância.

Desde domingo passado já morreram dezenas de pessoas na Venezuela e mais de mil foram encarceradas. O Centro Carter, instituição criada pelo ex-presidente americano Jimmy Carter, vinha acompanhando a campanha, declarou que "a eleição presidencial da Venezuela de 2024 não se adequou a parâmetros e padrões internacionais de integridade eleitoral e não pode ser considerada democrática". (A presença do Centro Carter tinha sido apresentada pelo embaixador Celso Amorim como indicação da lisura de Maduro).

É visível que desde domingo o governo de Lula se equilibra como uma Rebeca Andrade na prova das barras assimétricas. Não houve nada de grave, mas Brasília teve que garantir a segurança da embaixada da Argentina em Caracas.

As repórteres Marianna Holanda e Catia Seabra lançaram luz sobre a metamorfose.

Na noite de segunda-feira (29), antes da fala de Lula, a executiva nacional do PT reconheceu a vitória de Maduro. Horas antes, Gleisi Hoffmann e Cleide Andrade, presidente e tesoureira do PT, estiveram com Lula no Palácio da Alvorada.

Esta não foi a primeira vez que Lula e a máquina do PT tomaram caminhos diferentes. Quando a crise lhe dá tempo, Lula apara as arestas e prevalece. A encrenca venezuelana foi muito rápida. Nesse caso, o ronco bolivariano de uma parte do PT prevaleceu.

Assim como na reeleição de Maduro, há outras áreas de atrito entre o governo de Lula 3.0 e correntes do PT. A crise venezuelana um dia poderá sair da agenda nacional, mas a gestão da economia, com seus reflexos políticos, continuará viva.

Apoiar Maduro é uma coisa, minar a gestão da economia é outra. Bem outra é sabotar uma política de contenção dos gastos públicos ou flertar com uma polícia que possa chamar de sua.

Lula e a imprensa

Na sua fala de terça-feira (30), Lula disse: "Vejo a imprensa brasileira tratando como se fosse a Terceira Guerra Mundial. Não tem nada de anormal".

Noves fora a anormalidade da eleição venezuelana, fica a impressão de que o problema estava na imprensa, essa malvada.

Para um país que ralou quatro anos de Bolsonaro, Lula é um campeão na sua relação com os jornalistas. Mesmo assim, ele mostrou que ainda tem a alma envenenada com a espécie.

O líder de seu governo no Congresso, Randolfe Rodrigues, disse o seguinte: "Uma eleição em que os resultados não são passíveis de certificação e onde observadores internacionais foram vetados é uma eleição sem idoneidade".

E Marina Silva, ministra do Meio Ambiente, também falou: "Na minha opinião pessoal, eu não falo pelo governo, não se configura como uma democracia. Muito pelo contrário. O Brasil está muito correto quando diz que quer ver o resultado eleitoral, os mapas, todas as comprovações de que de fato houve ali uma decisão soberana do povo venezuelano".


domingo, 4 de agosto de 2024

Carter Center: eleições venezuelanas não atingem padrões fiáveis

Carter Center: possibidade ataque hacker impossível 

El subjefe de la misión en Venezuela del Centro Carter, Patricio Ballados, dijo en la Entrevista DW que "un ataque vía internet es prácticamente imposible”, al referirse a las denuncias por parte del Gobierno de Nicolás Maduro. Ballados recalcó las “graves” irregularidades que se presentaron en el proceso electoral en Venezuela y subrayó que es “indispensable” que la autoridad electoral presente las actas de las mesas.

https://youtu.be/6CF91QRWdkk?si=7MZoPf29up2c1Vrn

Crise ditatorial na Venezuela: posturas contraditórias da diplomacia lulopetista - Google Alerts

Meu Google Alert sobre a "diplomacia brasileira" me traz sempre muitas matérias interessantes para se ler, e eu leio quase todas elas. 

Só os títulos já revelam o que há de contraditório na diplomacia brasileira, e o processo reverte a uma única oposição, que não é mais esquerda e direita, e sim ditadura ou democracia.

Paulo Roberto de Almeida


diplomacia brasileira
Atualização diária  4 de agosto de 2024
NOTÍCIAS 
diplomacia brasileira trabalha para manter Maduro no poder. Jornalistas simpáticos a Lula tentaram distanciar o presidente de seu partido, o PT, que ...
Segue a crise na Venezuela a partir dos resultados das eleições, com impactos diretos na política interna e na diplomacia brasileira.
Magnotta relata uma conversa recente com um diplomata brasileiro de alto escalão, que expressou o desafio constante de “manter o equilíbrio e o ...

Entre os atores que mais protagonizam o imbróglio das eleições na Venezuela está o Brasil. Sob a cautela costumeira da diplomacia, deposita-se no ...
Leia tudo sobre o tema e siga: América do Sul · América Latina · Caracas · diplomacia brasileira · Eleições na Venezuela · Itamaraty · Lula · Nicolás ...
... brasileiro é outra. Lula e o PT amam Maduro e outros ditadores da mesma espécie. Mas o povo brasileiro não. A diplomacia brasileira, sob Lula, PT 

diplomacia brasileira está sob desafio. A eleição presidencial na ... brasileiro. Mas, isso acontece, porque Lula vacila ao proteger Maduro ...


Venezuela: denunciada pela esquerda e pela direita (WP)

Left and right have denounced Venezuela’s Maduro. Not the authoritarians

After the strongman claimed reelection Sunday, even leftist allies distanced themselves. Russia, China, Iran and Cuba continue to stand by their man.

In Nicolás Maduro, the United States and its allies see a tyrant: an authoritarian socialist who has brought economic ruin to oil-rich Venezuela, persecuted and imprisoned political opponents, grown rich on narcoterrorism, and repeatedly and brazenly stolen elections.


Russia, China, Iran and Cuba see their type of guy.

In return for a strategic foothold in the Western Hemisphere, Maduro’s closest allies have sent him weapons and oil-refining technology, provided his government with billions of dollars in loans and backed him in each of his confrontations with the West — including now.

Washington and its European partners are questioning the strongman’s claim that he won reelection Sunday. Exit polling and, according to the opposition, the government’s records indicate challenger Edmundo González trounced him. Even his leftist allies in Brazil, Colombia and Mexico are reserving judgment.


But Moscow, Beijing, Tehran and Havana were all quick to congratulate Maduro.

The divided response to Maduro’s election claim has made Venezuela the latest battlefield in an emerging global ideological conflict that’s not between left and right so much as authoritarianism and democracy.


From Ukraine to Taiwan, Yemen to Syria, the authoritarian bloc is upending global norms, working to hinder the advance of democracy and transforming what in other times might have been isolated regional disputes into protracted proxy struggles between the liberal and illiberal worlds.

“It used to be that you could get together a few interested parties and manage a crisis,” said Eric Farnsworth, a senior analyst at the Council of the Americas and the Americas Society. “But Russia, Iran and Cuba complicate everything. Their interests are not to manage the crisis, but disrupt the system, to make the management more difficult.”


Their support of Maduro has undermined the international community’s efforts to force Maduro’s exit through diplomatic isolation and economic sanctions. The strongman, the handpicked successor of Hugo Chávez, the founder of Venezuela’s socialist state, has ruled Venezuela for more than a decade, despite widespread belief that he stole the 2018 election.

“Maduro is largely immune from Western pressure,” said Oliver Stuenkel, a political analyst at the Getulio Vargas Foundation, a university in Brazil. “He doesn’t depend much on friendly relations with them.”


Some of the support is rhetorical. Iran, North Korea and Nicaragua have offered solidarity, forming a de facto support circle among what might otherwise be isolated pariah states. Venezuela and North Korea, Maduro’s Foreign Ministry says, will forge a “new world order.” Iranian President Ebrahim Raisi, hosting Maduro in Tehran in 2022, said the countries were “friends in difficult times” who were “resisting cruel imperialism.” (Raisi was killed in a helicopter crash in May.)

Others have offered more than words. Russia, for instance, pledged $5 billion to improveVenezuela’s oil refineries, $1 billion for its gold mining industry — and firepower. Moscow — long one of Venezuela’s biggest arms suppliers — has sold it armored vehicles, tanks, air-defense systems and helicopters, a group of Colombian researchers reported last year in the International Social Science Journal.

At Maduro’s most critical moments, when his grip on power appeared most at risk, Moscow has sent additional military aid. In 2019, when the Trump administration declared him a usurper and recognized opposition leader Juan Guaidó as Venezuela’s rightful leader, the Kremlin dispatched military planescarrying military equipment and roughly 100 “military technicians.” In the lead-up to the presidential election Sunday, Russia twice sent warships into Caribbean waters — once to dock at a Venezuelan port.

Other support has been less public. In 2019, the Wagner Group, the Russian mercenary firm then closely tied to Russian President Vladimir Putin, sent hundreds of contractorsinto Venezuela to beef up Maduro’s security forces, Reuters reported at the time.


This week, video spread on social mediasuggesting the group’s return to Venezuela. A man wearing what appears to be a Wagner arm patch is shown among Maduro’s security forces.

“One of the reasons Maduro is surviving is because of Russian support,” said Vladimir Rouvinski, a Russian political scientist at Colombia’s Icesi University. “Russia sees itself as a great constructor of a new world order, and they need Maduro.”

Cuba is also believed to have providedsignificant military support. Chávez, who brought socialism to Venezuela in 1999, enjoyed closed ties with Fidel and Raúl Castro; the communist island remains Venezuela’s closest ideological ally.

In 2019, exiled former Venezuelan general Antonio Rivero told Diálogo Américas, a publication of U.S. Southern Command, that the countries had signed several agreements to promote the “Cubanization” of Venezuela’s armed forces. Maduro’s personal security force is reportedly staffed largely by Cubans. In 2019, when Guaidó led an attempted uprising against Maduro, then-White House national security adviser John Bolton accused Cuba of having dispatched more than 20,000 security agents to Venezuela.


But most crucial to Maduro’s survival has been Chinese patronage.


Beijing has long been Venezuela’s economic benefactor, its principal creditor and largest oil purchaser. Venezuela has been the largest recipient in Latin America of Chinese loans — an estimated $60 billion, according to the Council on Foreign Relations.

When U.S.-led sanctions threatened to maim Venezuela’s oil-dependent economy, China evaded the restrictions by trading through third parties.

It’s difficult to know China’s ambitions in Venezuela. It could be that they want to cultivate and bolster a friend who can help undermine Western interests in South America, a continent rich in natural resources sought by both China and the United States. Or they might just want to make sure they can collect on their loans.


 It’s very difficult to disentangle how much of this is a financial strategy versus geopolitical in nature,” said Stephen Kaplan, a political economist at George Washington University.

Other analysts see clear political motives. Several say Russia, China and others are pursuing a campaign of political reciprocity in Venezuela to retaliate against the United States for its support of their adversaries inUkraine, Taiwan and other countries.

“This needs to be seen through the prism of a superpower conflict between the U.S., Russia and China, and a complete eroding of the world order,” said Ulf Thoene, a political scientist at La Sabana University in Colombia. “What’s happening in Venezuela is a fight between a candidate clearly backed by Russia, China and Iran — and an opposition that is obviously supported by the United States and Europe.”


That dynamic, he said, has fueled violent quagmires around the world, complicating efforts to usher authoritarian leaders to the exits.

Syrian President “Bashar al-Assad is still in power,” he said. “We were promised he would be gone in weeks, but he’s actually stronger now than he was years ago.”

The same, Thoene fears, could happen in Venezuela.

“With every passing day,” he said, “the likelihood grows that Maduro will remain in power.”



Terrence McCoy is The Washington Post's Rio de Janeiro Bureau Chief. He has twice won the George Polk Award and was named a finalist for the Pulitzer Prize in 2023.



Autocracy Rising: How Venezuela Transitioned to Authoritarianism - Javier Corrales - Reviewed by Richard Feinberg

Autocracy Rising: How Venezuela Transitioned to Authoritarianism

By Javier Corrales

Brookings Institute Press, 2023, 256 pp.

Reviewed by Richard Feinberg

 

May/June 2023 (Published on April 18, 2023)

 

Aworthy sequel to Corrales’s earlier classic Dragon in the Tropics: Venezuela and the Legacy of Hugo Chávez (2011), Autocracy Rising rigorously examines the paradox of the perseverance of the Venezuelan dictator Nicolás Maduro in the midst of economic collapse and severe international sanctions. Corrales offers three compelling explanations for Maduro’s survival: asymmetric party system fragmentation, wherein the strength of the ruling party (rooted in deep networks of clientelism and cronyism) eclipses a fragmented opposition; institutional destruction and colonization, with the state exercising tremendous control over the electoral authorities, the coercive apparatus, and the courts (what Corrales labels “autocratic legalism”); and, most originally, institutional innovation (“functional fusion”) in which institutions begin to multitask. The military acquires business functions, a constituent assembly becomes a legislature, local political councils become food distribution networks, and criminal syndicates acquire some of the functions of the state. In addition, Corrales provides valuable comparative case studies: Nicaragua offers a similar story of ascendant authoritarianism, but Colombia and Ecuador suggest that liberal democracy can fight back. Somewhat surprisingly, Corrales concludes that Maduro’s rule remains tenuous, well short of true autocratic consolidation.