O que é este blog?

Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

sexta-feira, 1 de novembro de 2024

O que é o PT? - Augusto de Franco ( Revista ID)

Para quem ainda não sabe o que é o PT

Um resumo do que é esse partido e do que ele defende

PT assina resolução do Foro de São Paulo que defende Maduro

Façamos um resumo do que é o PT e do que esse partido defende.

O PT se diz - e é dito - de esquerda, mas não de uma esquerda democrática (como a de Boric, no Chile) e sim de uma esquerda populista que, no plano externo:

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  • Reconhece a eleição fraudulenta de Maduro (ou não reconhece a vitória da oposição roubada pelo ditador), não critica as violações de direitos humanos na Venezuela e nunca teve a decência de chamar aquele regime pelo que ele de fato é e todo mundo sabe: uma ditadura.

  • Diz que Israel é genocida e vê o Hamas como uma força de libertação (na prática, apoia a guerra do Irã para destruir a democracia israelense - uma ilha de liberdade cercada por quinze autocracias do Oriente Médio).

  • Apoia Putin e afirma que Zelensky é nazista (e não move uma palha para defender, nem mesmo com palavras, a resistência ucraniana à invasão militar da ditadura neoczarista russa).

  • Aplaude a entrada do país no cafofo de ditaduras chamado BRICS (uma articulação anti-OTAN e anti-UE disfarçada de bloco econômico).

  • Concorda e aplaude efusivamente o alinhamento do Brasil ao eixo autocrático (Rússia, China, Irã etc.) contra as democracias liberais.

No plano interno, o lulopetismo, quer dizer, o neopopulismo que caracteriza o comportamento político do PT:

  • É contra a autonomia do banco central e das agências reguladoras.

  • É contra uma reforma administrativa que viabilize corte de gastos e, portanto, é contra o equilíbrio fiscal. 

  • É contra as privatizações.

  • É contra a lei das estatais.

  • É inclinado a fazer uso político dos bancos públicos. 

  • É a favor da escolha governamental de "complexos industriais estratégicos" para privilegiar investimentos públicos.

  • É espalhador da falsa narrativa de que o mensalão, o petrolão, o impeachment de Dilma e a prisão de Lula (e de outros dirigentes petistas, como Dirceu) fazem parte de um mesmo "projeto articulado de fora", de um golpe das elites, apoiadas pela CIA e pelo FBI, para destruir a Petrobrás e as empreiteiras, tomar o pré-sal e tirar o Lula da eleição de 2018.

  • É uma força política minoritária no Brasil, que depende hoje totalmente do judiciário e da televisão: é minoria nos governos e parlamentos estaduais e municipais, no Congresso Nacional, nas mídias sociais, nas ruas e nas urnas. Só não é minoria no STF e em alguns canais de TV (além da máquina do governo federal aparelhada, é claro).

No plano das concepções e práticas e, consequentemente, em termos de comportamento político, o PT:

  • Toma a ordem (uma ordem "mais justa") - e não a liberdade - como sentido da política.

  • Concebe e exercita a política como continuação da guerra por outros meios (na base do "nós contra eles") para implantar uma ordem mais justa (pré-concebida pela teoria ou pela ideologia).

  • É estatista (ou tem uma visão estadocêntrica do mundo).

  • É antiliberal e antipluralista.

  • Crê numa imanência histórica, na existência de leis da história que podem ser conhecidas por quem tem a teoria verdadeira ou o método correto de interpretação da realidade e na luta de classes (ou na luta identitária: a afirmação da diferença convertida em separação) como motor da história.

  • Acredita que a igualdade (ou a redução da desigualdade) socioeconômica é precondição para a liberdade (ou para a igualdade política).

  • Defende que há uma equivalência entre democracia e cidadania (ou reduz a democracia à cidadania para todos).

  • Como horizonte utópico propõe a fuga para um futuro (idealizado) onde a vida, supostamente, será melhor.

  • Usa a democracia contra a democracia (concorrendo à eleições não como quem quer fazer parte do metabolismo normal da democracia, capaz de realizar o princípio da rotatividade ou alternância, e sim como quem se aproveita de um instrumento, um meio para alcançar e reter o poder).

Saber é melhor do que não saber. Sabendo de tudo isso cabe às pessoas decidir, baseadas em seu próprio juízo, se devem apoiar esse partido.

O PT sempre foi assim? Mais ou menos. O partido surgiu da confluência de três vertentes: i. o sindicalismo dito “autêntico” do ABC paulista e associados, ii. o marxismo-leninismo dos intelectuais revolucionários que ficaram clandestinos, foram presos ou exilados durante a ditadura militar e iii. o basismo de setores da igreja católica que fizeram uma opção preferencial pelos pobres, animados pela ideologia (chamada de teologia) da libertação (de fundamentos marxistas). Inicialmente a primeira vertente carregou uma espécie de banditismo social das corporações sindicais; a segunda transfundiu para a nova agremiação a ideia de revolução, de acumulação de forças e de ruptura, e a concepção e a prática da política como uma continuação da guerra por outros meios; a terceira introduziu o “pobrismo” (a crença de que ser pobre continha uma virtude especial) e aproximou o partido de setores sociais urbano-periféricos e rurais (para além da esfera de influência da aristocracia operária). Evidentemente os quadros dirigentes do partido saíram das duas primeiras vertentes, numa espécie de aliança tácita para empalmar o poder na organização, simbolizada pelo conluio de “inimigos íntimos”’ Lula-Dirceu.

Bem… não vou recontar, mais uma vez, a história. Já publiquei dezenas (talvez mais de uma centena) de artigos sobre o tema a partir de 2005. Vale a pena espiar um ou dois desses artigos; um deles, de maio de 2016, intitulado O PT e a Irmandade Muçulmana: isomorfismos; e outro, de julho de 2017, intitulado Para começar a entender o PT. Adicionalmente, também pode ser importante ler a pequena nota, de outubro de 2018: PT nunca mais, Bolsonaro jamais. E, como uma síntese quase exaustiva, mais dois artigos recentes: um de fevereiro de 2023, Há algum fundo de verdade na alucinação anticomunista?, e outro, de julho de 2024, A estratégia de conquista de hegemonia do neopopulismo no Brasil. Para quem não dispõe de muito tempo, talvez baste ler apenas este último.

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Intelectuais na diplomacia brasileira: a cultura a serviço da nação - Os intelectuais e os autores - Paulo Roberto de Almeida (organizador)

 Intelectuais na diplomacia brasileira:

a cultura a serviço da nação

Organizador: Paulo Roberto de Almeida


Livro em publicação pela Francisco Alves e pela Editora da Unifesp

 

Índice

 

Prefácio , 13

            Celso Lafer

 

Apresentação: intelectuais brasileiros a serviço da diplomacia , 23

            Paulo Roberto de Almeida

 

Bertha Lutz: feminista, educadora, cientista ,  35

            Sarah Venites

 

Afonso Arinos de Melo Franco e a política externa independente , 57

            Paulo Roberto de Almeida

 

San Tiago Dantas e a oxigenação da política externa , 83

            Marcílio Marques Moreira

 

Roberto Campos: um humanista da economia na diplomacia , 105

            Paulo Roberto de Almeida 

 

Meira Penna: um liberal crítico do Estado patrimonial brasileiro , 143

            Ricardo Vélez-Rodríguez

 

Lauro Escorel: um crítico engajado , 169

            Rogério de Souza Farias

 

Sergio Corrêa da Costa: diplomata, historiador e ensaísta ,  191

            Antonio de Moraes Mesplé

 

Wladimir Murtinho: Brasília e a diplomacia da cultura brasileira , 235

            Rubens Ricupero

 

Vasco Mariz: meu tipo inesquecível , 249

            Mary Del Priore

 

José Guilherme Merquior, o diplomata e as relações internacionais ,  277

            Gelson Fonseca Jr. 

 

A coruja e o sambódromo: sobre o pensamento de Sergio Paulo Rouanet  , 307

            João Almino

 

Apêndices: 

1. O Itamaraty na cultura brasileira (2001), sumário da obra , 323

2. Introdução de Alberto da Costa e Silva à edição de 2001 ,  325

3. Alberto da Costa e Silva – 1931-2023, Celso Lafer ,  341

 

Sobre os intelectuais na diplomacia ,  347

Sobre os autores ,  351

 

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Sobre os intelectuais na diplomacia

 

Bertha Lutz (1894-1976)

Bertha Maria Júlia Lutz nasceu em São Paulo, aos 2 de agosto de 1894. Filha do médico e cientista Adolpho Lutz e da enfermeira inglesa Amy Fowler, teve uma trajetória muito singular, que dificilmente encontra paralelo entre as mulheres do início do século XX. Formada em ciências naturais pela Sorbonne, passa a trabalhar com o pai, no Instituto Oswaldo Cruz, e logo se torna a segunda mulher brasileira a ingressar no serviço público federal, por meio de concurso para o cargo de secretária do Museu Nacional. No Brasil, ficou conhecida por defender o direito ao voto feminino; no exterior, tem sido reverenciada por seu papel na defesa da igualdade de gênero, sobretudo quanto a previsões relativas aos direitos das mulheres no texto da então nascente Carta das Nações Unidas, em 1945. Sua atuação, no entanto, foi muito mais ampla, na medida de sua versatilidade intelectual, como tradutora, botânica, zoóloga, educadora, feminista e advogada. 

  

Afonso Arinos de Melo Franco (1905-1990)

Filho de Afrânio de Melo Franco, representante brasileiro na Liga das Nações e primeiro chanceler no governo provisório de Getúlio Vargas, iniciou-se na vida profissional no final dos anos 1920 como promotor de Justiça em Belo Horizonte, mas teve uma carreira sobretudo intelectual, desempenhando como professor em diversas faculdades brasileiras, inclusive no Instituto Rio Branco nos anos da redemocratização. Eleito deputado por seu estado por três legislaturas, sob a Constituição de 1946, foi também senador a partir de 1958, adquirindo grande prestígio na área constitucional e política, na qual possui diversos livros. Foi chanceler no governo efêmero de Jânio Quadros, e também sob o regime parlamentarista durante o interregno João Goulart, quando assentou as bases da Política Externa Independente. Foi o primeiro chanceler brasileiro a visita a África, recentemente descolonizada. Na nova redemocratização, a partir de 1985, também deu impulso ao processo de elaboração constitucional, presidente uma Comissão de Estudos, como seu pai já o tinha feito em 1934, a pedido do presidente da República. Membro da Academia Brasileira de Letras, deixou muitos livros de memórias, inclusive de suas várias missões diplomáticas e como chanceler duas vezes.

 

San Tiago Dantas (1911-1964)

Natural do Rio de Janeiro, sempre esteve ligado a atividades advocatícias e acadêmicas, desde os anos 1930, deixando para trás uma orientação de direita para aproximar-se do trabalhismo a partir dos anos 1940. Foi eleito deputado pelo PTB nos anos 1950, mas também participou de missões diplomáticas. Sua fase mais notável se deu quando se tornou chanceler no governo parlamentarista de João Goulart, depois como ministro da Fazenda, já no retorno ao presidencialismo, em 1963. Junto com Afonso Arinos – que sob Jânio Quadros, reatou relações diplomáticas com a União Soviética, rompidas desde 1947 – foi um dos principais defensores das ideias da Política Externa Independente. Na Fazenda, renegociou a dívida externa do Brasil e tentou um programa de estabilização, já num ambiente exageradamente polarizado. Faleceu de câncer no pulmão cinco meses depois da deposição de João Goulart. Deixou muitas obras jurídicas e conferências diplomáticas. Seus textos sobre a Política Externa Independente constituem referência na área.

 

Roberto de Oliveira Campos (1917-2001)

Nascido no Mato Grosso, de família modesta, estudou em seminário e foi um dos primeiros a ingressar no Itamaraty depois da criação dos concursos do DASP, sob o Estado Novo, em 1938. Nomeado para Washington durante a guerra, estudou economia na Universidade George Washington, defendendo em 1947 uma dissertação de mestrado sobre ciclos econômicos que o professor de Harvard Joseph Schumpeter classificou como sendo uma verdadeira tese. De volta ao Brasil, trabalhou na Comissão Econômica Mista Brasil-Estados Unidos, da qual resultaram várias propostas institucionais, entre elas a criação de um banco de fomento: foi diretor e depois presidente do BNDE, tendo sido um cos autores do Programa de Metas do governo JK. Demitiu-se do cargo quando JK rompeu as negociações com o FMI, a propósito do desequilíbrio nas contas públicas. Renegociou a dívida externa brasileira e foi designado embaixador em Washington por Jânio Quadros, com pouco mais de quarenta anos. Sem participar do golpe militar de 1964, foi convidado pelo presidente Castelo Branco para ser ministro do Planejamento, administrando com o ministro da Fazendo Octavio Gouvêa de Bulhões um programa bem-sucedido de estabilização econômica e des reformas tributária e administrativa, do qual resultou a criação do Banco Central. Serviu depois como embaixador em Londres, para iniciar uma carreira política como senador por Mato Grosso e deputado pelo Rio de Janeiro. Deixou extensa obra econômica, sobretudo suas memórias, cobrindo o itinerário econômico do Brasil no século XX. Foi membro da Academia Brasileira de Letras.

 

José Osvaldo de Meira Penna (1917-2017)

Colega de Roberto Campos e brilhante intelectual, fez acompanhar suas primeiras etapas de carreira diplomática no Extremo Oriente por livros de história e de interpretação da China e do Japão. Defensor de ideias liberais, ligou-se à Société du Mont Pelèrin e escreveu intensamente sobre o patrimonialismo, o mercantilismo e o protecionismo brasileiro. Serviu em missões diplomáticas na Costa Rica, no Canadá e nas Nações Unidas, antes de ser designado sob o governo Jânio Quadros como embaixador na Nigéria. Serviu depois em Israel, durante a “guerra dos seis dias” (1967), seguindo depois para a Noruega, Equador e Polônia, quando se aposentou (1981). Continuou produzindo extensivamente sobre diferentes assuntos, inclusive sobre o darwinismo, mas foi na promoção das ideias liberais que se distinguiu como um dos mais importantes intelectuais brasileiros. Fundou a Sociedade Tocqueville e colaborou durante décadas com os principais jornais nacionais. Morreu aos 100 anos em Brasília. 

 

Lauro Escorel (1917-2002)

Nascido em São Paulo, ingressou na carreira diplomática em 1943, já tendo iniciado uma carreira paralela como crítico literário. Serviu nos Estados Unidos (Boston e Washington) entre 1946 e 1953, seguindo, depois de breve estada no Rio de Janeiro, para o Vaticano, entre 1954 e 1957; sua estada na Itália lhe serviu para compor um brilhante estudo sobre o pensamento política de Maquiavel. Entre 1957 e 1960 esteve em posto na embaixada em Buenos Aires, passando depois a chefiar o Departamento Cultural no Itamaraty do Rio de Janeiro, quando promoveu um intenso programa no exterior sobre a cultura brasileira. Depois de postos em Belgrado e novamente em Roma, na embaixada, entre 1963 e 1965, serviu como embaixador em La Paz, de 1965 a 1967. Embaixador no Paraguai entre 1970-72, assistiu aos primeiros passos do projeto de aproveitamento hidroelétrico no rio Paraná. No posto, escreveu uma interpretação da poesia do colega João Cabral de Melo Neto, “A Pedra e o Rio”. Nos anos 1980 foi diretor do Instituto Rio Branco.

 

Wladimir Murtinho (1919-2002)

Nascido em San José (Costa Rica), Wladimir Murtinho teve uma vida excepcionalmente movimentada entre artes e cultura, áreas nas quais mais se distinguiu, sobretudo como presidente da Comissão de Transferência do velho Itamaraty no Rio de Janeiro, entre 1963 e 1969, para o novo Palácio em Brasilia, para onde o Itamaraty se transferiu em 1970. A decoração da nova sede foi uma obra exclusivamente sua, combinando peças modernas e arte e mobiliário tradicional, com obras expressamente compostas por renomados artistas. Logo em seguida foi embaixador na Índia. Também combinou parcialmente a presidência da Fundação Alexandre de Gusmão (1981-1983) com a de diretor do Instituto Rio Branco (1982-1985). 

 

Sergio Corrêa Affonso da Costa (1919-2005)

Nasceu no Rio de Janeiro em 19 de fevereiro de 1919, filho de Israel Affonso da Costa e Lavínia Corrêa da Costa; faleceu na mesma cidade em 29 de setembro de 2005. Bacharel em Ciências Jurídicas e Sociais pela Faculdade Nacional de Direito da Universidade do Brasil (1942); curso da Escola Superior de Guerra (1951); pós-graduação na University of California at Los Angeles (UCLA, 1948-1950). Tornou-se diplomata em 1939, sendo promovido a cônsul de terceira-classe em 1943, por merecimento, e ao título de conselheiro em 1952; ministro de segunda-classe em 1954, e de primeira-classe em 1962, sempre por merecimento. Serviu em Buenos Aires, Washington, Los Angeles, Nova York, Roma, Ottawa (embaixador), Londres, representante do Brasil junto à ONU em Nova York e como embaixador em Washington. Autor de muitas obras de história diplomática desde 1942. Membro da Academia Brasileira de Letras em 1983.

 

Vasco Mariz (1921-2017)

Um dos maiores historiadores e memorialistas do Itamaraty, sua carreira como intelectual é vastamente superior a seus finos dotes de diplomata, na qual também se distinguiu, deixando relatos e produzindo obras que enriquecem a bibliografia diplomática e a literatura histórica. Serviu em diferentes postos das Américas e da Europa, sempre produzindo extensivamente sobre os países, as personalidades e os bastidores da diplomacia. Representou o Brasil como embaixador nas embaixadas no Equador, em Israel, no Peru e na República Democrática Alemã. Mas foi sobretudo um musicólogo, um dos maiores do Brasil, deixando uma obra de primeira grandeza nessa área. Também escreveu sob pseudônimos, para comentar sobre o lado político da diplomacia, sem afetar os interesses brasileiros no relacionamento bilateral. Membro da Academia Brasileira de Música.

 

Alberto da Costa e Silva (1931-2023)

Filho do poeta Antonio Francisco da Costa e Silva, ele mesmo poeta, diplomata, ensaísta, memorialista e historiador, autor e vasta obra literária (poesia e memórias), de história do Brasil e de história, cultura e antropologia do continente africano e organizador de antologias poéticas. Foi embaixador na Nigéria, em Portugal, na Colômbia e no Paraguai. Membro do IHGB, da Academia Brasileira de Letras, acadêmico correspondente da Academia de Ciências de Lisboa. Prêmios Juca Pato (2003) e Camões (2004). Diversas ordens honoríficas. Professor no Instituto Rio Branco e presidente do Curso de Altos Estudos do IRBr.

 

Sergio Paulo Rouanet (1934-2022)

Brilhante aluno do Instituto Rio Branco, diplomata conhecido por suas qualidades intelectuais, Rouanet fez doutorado em filosofia e escreveu bastante sobre cultura brasileira e os fundamentos do pensamento ocidental moderno: foi dos gregos aos iluministas e filósofos contemporâneos. Também foi ministro da Cultura, deixando uma lei de apoio às atividades culturais que leva seu nome. Um de seus livros mais importantes se chama A Razão Cativa.

 

José Guilherme Merquior (1941-1991)

Um dos mais brilhantes intelectuais brasileiros, de estatura mundial, deixou obra de referência nos terrenos da crítica literária (De Anchieta a Euclides: breve história da literatura brasileira), da sociologia (Rousseau and Weber) e da filosofia (Foucault, Wester Marxism). Polemista temido, não hesitou em terçar armas críticas com importantes intelectuais brasileiros e estrangeiros. Se não tivesse falecido precocemente, aos 50 anos, teria deixado uma obra ainda mais vasta, sobretudo sobre o liberalismo (Liberalism, Old and New), seus derradeiros focos de interesse. 

 

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Os autores

 

Antonio de Moraes Mesplé é diplomata, graduado em Direito e Mestre pelo Programa de Pós-Graduação em Direito da Universidade de Brasília; serviu em diversos postos no exterior, desempenhou funções na Secretaria de Estado das Relações Exteriores e atuou como colaborador no Instituto de Pesquisas de Relações Exteriores da Fundação Alexandre de Gusmão (2016-201); foi gerente de projeto na Comissão Nacional da Verdade, atuando sobre a vertente internacional da repressão política aos opositores do regime militar. 

 

Celso Lafer é advogado, jurista, professor, membro da Academia Brasileira de Ciências, da Academia Brasileira de Letras e da Academia Paulista de Letras; ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (1999-2000), ministro das Relações Exteriores (1992 e 2001-2002); chefe da Delegação Permanente do Brasil em Genebra (1995-1998); dirigiu os trabalhos da Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (Rio-92). Graduado em Direito pela Universidade de São Paulo (1964), mestre (1967) e doutor (1970) em Ciência Política pela Universidade Cornell, livre-docente em Direito Internacional Público na USP (1977), professor titular de Filosofia do Direito e professor emérito da USP; ex-presidente da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp); presidente do Conselho Deliberativo do Museu Lasar Segall e da Fundação Ema Klabin. Autor de vasta obra nos campos da Filosofia do Direito, Direitos Humanos, Direito Internacional; grande conhecedor da obra de Norberto Bobbio e de Hannah Arendt, de quem foi aluno e cuja obra introduziu no Brasil. Doutor Honoris Causa de várias universidades.

 

Gelson Fonseca Jr. foi diplomata de carreira de 1968 a 2016, quando se aposentou. Graduou-se em Ciências Jurídicas pela Universidade da Guanabara e possui mestrado em Ciência Política pela Georgetown University. Foi professor no Instituto Rio Branco, na Universidade de Brasília; membro fundador do Centro Brasileiro de Relações Internacionais (CEBRI). Defendeu tese no Curso de Altos Estudos do Itamaraty sobre as interações entre a academia e a diplomacia, que suscitou a criação do Instituto de Pesquisa em Relações Internacionais (IPRI), órgão da Fundação Alexandres de Gusmão, no Itamaraty de Brasília. Possui vasta obra publicada sobre temas de relações internacionais, multilateralismo e política internacional: A legitimidade e outras questões internacionais (1998); Rousseau e as relações internacionais (2003); O interesse e a regra: ensaio sobre o multilateralismo (2003); Constantes e variações: a diplomacia multilateral do Brasil(2015). Foi representante do Brasil na ONU (NY, 1998-1999) e embaixador em diversos outros países. Na Secretaria de Estado foi presidente da Funag, entre vários outros cargos. Atualmente é diretor do Centro de História e Documentação Diplomática (CHDD), órgão da Funag, no Itamaraty do Rio de Janeiro.

 

João Almino é escritor e diplomata, com doutorado em Paris, orientado pelo filósofo Claude Lefort. Ensinou na UNAM (México), UnB, Instituto Rio Branco, Berkeley, Stanford e Universidade de Chicago. Autor dos inúmeros romances, vários traduzidos para o inglês, o francês, o espanhol, o italiano, o holandês e outras línguas: Cidade Livre (Prêmio Passo Fundo de Literatura 2011 de melhor romance publicado no Brasil entre 2009 e 2011), Ideias para Onde Passar o Fim do Mundo (indicado para o Prêmio Jabuti, ganhador de Prêmio do Instituto Nacional do Livro e do Prêmio Candango de Literatura), Entre facas, algodão (2017), As Cinco Estações do Amor (Prêmio Casa de las Américas 2003), e Homem de Papel (2022). Seus escritos de história e filosofia política são referência para os estudiosos do autoritarismo e a democracia; entre estes, incluem-se os livros Os Democratas Autoritários (1980), A Idade do Presente (1985), Era uma Vez uma Constituinte (1985) e O Segredo e a Informação (1986). Em 2017 foi eleito para a Academia Brasileira de Letras.

 

Marcílio Marques Moreira, filho de diplomata, estudou em Viena, Berna, Budapeste e Berna; bacharel em Direito pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro em 1957 e em mestre em Ciência Política pela Georgetown University (Washington), em 1963. Ingressou na carreira diplomática em 1954; começou como professor de Direito Internacional na Universidade Cândido Mendes em 1956. De 1957 a 1961 serviu como secretário na Embaixada do Brasil em Washington, quando também foi diretor temporário no FMI e no BID. Foi assessor do Ministro da Fazenda na gestão de San Tiago Dantas e, até fins de 1965, assessor-geral de Operações Internacionais do BNDE. Foi embaixador do Brasil em Washington (1987-1992) e ministro da Fazenda (1991-92). De 2001 a 2005 foi Presidente da Associação Comercial do Rio de Janeiro. Possui inúmeras obras publicadas e pertence a diferentes instituições acadêmicas e culturais.

 

Mary del Priore é historiadora, escritora e professora, autora de mais de meia centena de livros sobre história do Brasil, vencedora de mais de 20 prêmios literários, nacionais e internacionais, entre os quais, três Jabutis. Concluiu o doutorado em História Social na USP e pós-doutorado na École de Hautes Études en Sciences Sociales da França. Ex-professora da FFLCH/USP e da PUC/RJ, leciona, atualmente, na pós-graduação de História da Universidade Salgado de Oliveira. Sócia do IHGB, IHGRJ, Pen Club do Brasil, e da Academia Carioca de Letras entre outras academias nacionais e internacionais, colabora com jornais e revistas científicos e não científicos, nacionais e internacionais. Laureada com prêmios e títulos como Casa Grande e Senzala, da Fundação Joaquim Nabuco, e o Jabuti, da Câmara Brasileira do Livro. Ocupa uma cadeira na Academia Paulista de Letras.

 

Paulo Roberto de Almeida é doutor em ciências sociais (Université Libre de Bruxelles, 1984), mestre em planejamento econômico (Universidade de Antuérpia, 1977), diplomata de carreira de 1977 a 2021. Foi professor no Instituto Rio Branco e na Universidade de Brasília, diretor do Instituto Brasileiro de Relações Internacionais e, de 2004 a 2020, professor de economia política no Programa de Pós-Graduação (Mestrado e Doutorado) em Direito no Centro Universitário de Brasília (Uniceub); serviu em diversos postos no exterior (Genebra, Paris, Washington) e na Secretaria de Estado. De 2016 a 2019 foi Diretor do Instituto de Pesquisa de Relações Internacionais (IPRI), da Fundação Alexandre de Gusmão (Funag), autarquia vinculada ao Ministério das Relações Exteriores. Ministra cursos regulares ou na qualidade de professor convidado em universidades brasileiras e estrangeiras; faz pesquisas e publicou em diversas áreas – entre as quais relações internacionais do Brasil e da América Latina, história econômica e desenvolvimento comparado – e tem experiência prática em negociações comerciais internacionais, integração regional e questões financeiras. É diretor de relações internacionais do Instituto Histórico e Geográfico do Distrito Federal.

 

Ricardo Vélez Rodríguez é membro fundador da Academia Brasileira de Filosofia. Membro do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro e do Pen Club do Rio de Janeiro, professor emérito da ECEME, membro do Conselho Técnico da Confederação Nacional do Comércio no Rio de Janeiro, docente da Universidade Positivo em Londrina.

 

Rogério de Souza Farias é doutor em Relações Internacionais pela Universidade de Brasília (2012), onde é pesquisador do seu Instituto de Relações Internacionais; ganhou concurso de teses e dissertações da Associação Brasileira de Relações Internacionais (ABRI) e tem menção honrosa pela Capes. Trabalhou na Câmara de Comércio Exterior (Camex), no Ministério do Planejamento, na Escola Nacional de Administração e no Instituto de Pesquisa de Relações Internacionais (IPRI), da Fundação Alexandre de Gusmão (Itamaraty). Foi visiting scholar em diversas instituições do exterior. Publicou extensamente em revistas de prestígio na área de relações internacionais e de história diplomática. É autor de diversos livros, entre eles: A palavra do Brasil no sistema multilateral de comércio (1946-1994) (2013) e Edmundo P. Barbosa da Silva e a construção da diplomacia econômica brasileira (2017); organizou as obras Oswaldo Aranha: um estadista brasileiro (2017) e A palavra dos chanceleres na Escola Superior de Guerra (1952-2012) (2018).

 

Rubens Ricupero foi diplomata de carreira. Chefiou o Departamento das Américas (1980-85) do Ministério das Relações Exteriores, tendo em 1984 atuado como assessor de política externa do candidato e presidente-eleito Tancredo Neves. Durante o governo Sarney, foi subchefe da Casa Civil da Presidência da República e assessor especial do presidente. Em 1991, tornou-se embaixador do Brasil em Washington, passando dois anos depois para a chefia do Ministério do Meio Ambiente. Assumiu o Ministério da Fazenda em 1994 e, no mesmo ano, passou para a Embaixada do Brasil em Roma e tornou-se secretário-geral da Unctad por uma década. Publicou enormemente, entre os livros, A diplomacia na construção do Brasil, 1750-2016 (2017) e Memórias (2024).

 

Sarah de Andrade Ribeiro Venites é mestre em História pela Universidade de Brasília (UnB), onde foi orientada pelo professor doutor Francisco Doratioto (2022), e bacharel em Direito pela Universidade de São Paulo (2009). Ingressa na carreira diplomática em 2016. Na Secretaria de Estado, trabalhou com temas relacionados a países africanos de língua portuguesa e propriedade intelectual. Foi responsável pelos Setores Econômico e Político, na Embaixada do Brasil em Camberra. É segunda-secretária, atualmente lotada na Secretaria de Assuntos Econômicos e Financeiros do Itamaraty, em Brasília.

 


quinta-feira, 31 de outubro de 2024

A posição transparente da esquerda sobre a crise diplomática Brasil-Venezuela - Opera Mundi

Poucas vezes, consegui ler um posicionamento da esquerda brasileira, sobre a política externa de um governo de esquerda, com tal transparência quanto esse artigo não assinado de Opera Mundi, um dos canais tradicionais da esquerda mais fiel ao que pensam os chamados "petistas raiz".

Tudo se explica, segundo o artigo, pela "falência histórica da política de colaboração de classes", que na visão da esquerda falhou e precisa ser substituida por uma política de enfrentamento ao imperialismo, o responsável por todos os nossos problemas, que estariam melhor encaminhados na colaboração com os países do BRICS+, e sobretudo com os países de esquerda da AL, como a própria Venezuela.

Só nos cabe agradececer ao redator pela transparência de opinião. 

Paulo Roberto de Almeida

Política externa em cima do muro é reflexo da esquerda brasileira e pode abreviar Governo Lula

O Brasil não precisava ter vetado a entrada da Venezuela como parceiro do BRICS. É sabido que essa decisão foi tomada para não ficar mal com os Estados Unidos. Mas poderia muito bem ter se abstido e justificado que seria errado ir contra a vontade de todos os outros membros. Não era difícil ter deixado passar a decisão da maioria. Lula demonstrou fraqueza e isso é o pior que um chefe de Estado pode fazer. O inimigo viu que Lula fraquejou e isso vai animá-lo a aumentar as pressões. Essa é uma síndrome da esquerda nacionalista e reformista. Só que a fraqueza que Lula demonstrou foi muita - foi uma capitulação totalmente desnecessária.

Ao lado da Fazenda e Defesa, o Itamaraty é um dos três principais ministérios do governo brasileiro. Como tratam o Brasil como uma colônia, os EUA precisam ter o controle sobre esses três ministérios-chave. É inadmissível que algum deles seja independente do controle imperialista. A composição social do Itamaraty é perfeita para a penetração da influência imperialista: uma casta burocrática e familiar formada pela burguesia e os extratos superiores da pequena burguesia. Sempre foi assim.

Como uma entidade extremamente tradicional e de elite, ela é inerentemente conservadora, mesmo reacionária, que visa manter o status quo e seus privilégios absolutamente inalterados.

O imperialismo americano se aproveita disso e já há mais de 100 anos, quando começou a dominar a política brasileira, cooptou e colocou em sua folha de pagamentos senão toda a estrutura desse ministério, ao menos uma parte importante dos seus integrantes.

Como em tudo, o PT não conseguiu (se é que tentou) mudar o quadro da instituição. Os embaixadores e diplomatas de primeiro escalão colocados por Lula e Dilma foram rifados logo quando Bolsonaro assumiu o governo. Trocou muitos "petistas" por olavistas ou semi-olavistas.

Dividiram o controle com os burocratas tradicionais da corporação, deixando os poucos "esquerdistas" de canto. Agora que Lula voltou, ao invés de fazer a mesma limpeza que Bolsonaro fez e retirar os bolsonaristas e direitistas de cena, praticamente não mexeu no Itamaraty. O Itamaraty não está sob o controle do presidente da República - como deveria estar, sendo um dos principais ministérios e, portanto, devendo obedecer fielmente ao presidente.

Política de conciliação esgotada

A vida política institucional de Lula já está indo para o seu desfecho e ele tem a chance de deixar um legado positivo histórico, conduzindo o Brasil para um caminho soberano em relação ao jugo imperialista. Não há sucessor na esquerda e, se Lula falhar na tarefa (que ele talvez almeje e a qual seus apoiadores acreditam que ele é capaz de realizar) de abrir as portas do Brasil para a nossa soberania, a esquerda pagará um preço enorme. Haverá uma crise histórica de lideranças absolutamente adaptadas à submissão imperial, que só não se abateu com toda a força porque Lula ainda existe.

O veto do Brasil à Venezuela no BRICS é consequência da insistência da esquerda em manter a política não apenas de conciliação, mas de colaboração com a direita tradicional, vendida como a "menos pior" - que se expressa, novamente, no apoio aos candidatos dessa direita contra os "mais piores" bolsonaristas no segundo turno das eleições municipais.

As eleições municipais consolidaram a ressurreição dessa direita (o centrão). Depois da débâcle histórica de 2018, a direita conseguiu se recuperar aos poucos, graças ao resgate proporcionado pela esquerda. As eleições de 2022, com a formação de uma frente ampla desnecessária para eleger Lula, levaram este à presidência, mas ao custo de que essa direita tradicional se apoderasse do governo.

Centrão, sempre no poder

Na verdade, o centrão nunca saiu do poder. É a grande chaga que mantém o Brasil como uma semicolônia do imperialismo desde a proclamação da república. Nenhuma revolução ou contrarrevolução o tirou do poder - no máximo reduziu ou fortaleceu o seu domínio, mas nunca o erradicou. A maior parte do tempo do governo Bolsonaro já havia sido, de fato, de um governo do centrão.

A direita tradicional conseguiu neutralizar a força avassaladora da extrema-direita ao longo da primeira metade do governo Bolsonaro, e foi ainda mais rápida em neutralizar o governo Lula. Há mais de um ano o presidente não passa de um refém do centrão, da direita oligárquica e dependente do imperialismo americano.

O último bastião da resistência de Lula dentro do governo - a política externa - já está sendo conquistado pela direita. O imperialismo não pode tolerar uma política brasileira na cena mundial que apoie a resistência palestina e tampouco o fortalecimento de Rússia, China e do enfrentamento ao seu domínio, representado pelo BRICS. As engrenagens pró-imperialistas do Itamaraty já foram ativadas a fim de completar o cerco do próprio aparelho do Estado brasileiro ao presidente Lula e àquilo que ele representa.

Há, ainda, um problema crucial: a extrema-direita, apesar de suas contradições internas, está com sua força e popularidade praticamente intactas já há uma década. E, como sempre, é favorecida pela sabotagem e propaganda da direita tradicional (centrão, imprensa, bancos e grandes capitalistas) contra Lula. Além do mais, a forte presença da extrema-direita influenciou a política da própria direita tradicional, agora ainda mais reacionária.

Política de não-alinhamento

O presidente, assim, vive uma situação muito delicada. Há quem acredite que ele está certo em buscar uma suposta equidistância tanto dos Estados Unidos quanto da China. Mas um país como o Brasil, uma semicolônia do imperialismo americano submetida atualmente a uma crescente pressão de Washington, não pode se dar ao luxo de buscar uma pretensa neutralidade, ao contrário de outros, como Índia ou Turquia, que são geograficamente distantes dos EUA e vizinhas de China e Rússia e cuja dependência política e econômica do imperialismo americano (embora ainda seja grande) não é tanta quanto a nossa.

Mesmo países fronteiriços com a Rússia não suportaram as pressões contra a aplicação de uma política não-alinhada e tiveram seus governos derrubados por golpes de Estado promovidos pelo imperialismo. Foi o caso da Ucrânia, em 2014, e é o que tende a ocorrer na Geórgia novamente. Essa também é a tendência do Brasil, se Lula continuar cedendo e não tomar um rumo verdadeiramente soberano, o que significa se aliar com China e Rússia e deixar de depender dos Estados Unidos.

O imperialismo americano tem o controle do Brasil. Tanto o centrão quanto a extrema-direita são seus aliados contra Lula. Ainda que tenham desavenças (às vezes encarniçadas), na hora H eles deixarão essas discordâncias de lado e lutarão juntos contra o inimigo comum, como a história já demonstrou em incontáveis ocasiões. E os aparelhos burocráticos do Estado, como o Judiciário - principal ferramenta do imperialismo no Brasil, junto com a grande imprensa burguesa -, marcharão ao seu lado.

Falência histórica

Aparece com crescente saliência, novamente, a falência histórica da política de colaboração de classes. Sua estabilização já não é mais viável desde que foi rompida com o golpe de 2016 e a ascensão da extrema-direita por obra da burguesia e do imperialismo. O que temos hoje é um monstrengo: a ala pretensamente nacionalista da burguesia, a quem Lula e o PT insistem em se apegar, sente-se ainda mais pressionada pelo imperialismo do que Lula - e cede muito mais facilmente e com muito menos hesitação do que o presidente.

Quaisquer coincidências de interesses com a classe operária e as demais classes populares que ainda possam existir se esvaem em uma situação de polarização política continuada e que volta a crescer, elevando particularmente as contradições das camadas populares com o imperialismo americano.

A burguesia "nacional", os aliados civilizados, democráticos e progressistas de Lula vão pular fora do barco (mesmo que não o façam abertamente) porque sabem que não há futuro nenhum dentro dessa aliança anti-histórica, na expressão usada por Mário Pedrosa ao analisar um cenário parecido, a crise do PTB de Jango com o PSD poucos anos antes do golpe de 1964.

Lula também vai ter de abandonar essa ambivalência na política externa e escolher um lado. Se não fizer, não vai durar. E se capitular definitivamente para o imperialismo, tampouco terá algum sucesso. O problema é que não dá para adotar uma política externa e uma política interna antagônicas. Para adotar uma política externa independente e, portanto, oposta ao controle do imperialismo, ele vai ter de se voltar contra os agentes do imperialismo dentro do próprio país, começando por aqueles que infestam o governo mesmo.

Pressões

Mas, se na política externa Lula sofre a pressão positiva do BRICS ampliado em contraposição à pressão negativa dos Estados Unidos, no cenário interno, a pressão popular - a única que poderia contrapor a pressão da direita - quase não existe, ao menos de forma organizada.

Daí também a parcela de culpa da esquerda, dos partidos (a começar pelo próprio PT), dos sindicatos e da imprensa progressista na política capituladora de Lula com relação ao BRICS e à América Latina. Na realidade, as posições de Lula, em geral, ainda são mais acertadas do que as da maioria da esquerda.

Não é Lula, somente, quem está na corda bamba. É toda a direção da esquerda brasileira. Sua política medíocre e rebaixada é a grande responsável pelos erros cometidos por Lula e pelo governo. Os movimentos populares precisam dar um giro de 180 graus em sua política e começar a combater de fato os inimigos de Lula, ou seja, os agentes do imperialismo no Brasil, pressionando o presidente e as suas próprias direções. Porque as pressões do outro lado da corda são cada vez mais fortes e Lula não vai conseguir se equilibrar por muito tempo.

 

Siete tesis equivocadas sobre el desarrollo de América Latina” - Rodolfo Stavenhagen

Rodolfo Stavenhagen foi um grande sociólogo mexicano, cuja cobra eu conheci na Europa, publicada em francês, entre outras as Sete Teses Equivocadas sobre o Desenvolvimento Latino-americano. Por isso, quando vi o anúncio de um seminário para comemorar meio século da publicação dessa importante obra, eu logo me inscrevi. Depois enviei meu trabalho, mas ele não foi publicado neste livro. Abaixo os registros relativos ao mau trabalho. PRA (3/11/2024)

El 25 y 26 de junio de 1965 aparecieron en el periódico El Día las “Siete tesis equivocadas sobre el desarrollo de América Latina”, del gran intelectual Rodolfo Stavenhagen. Con una visión continental y comparativa, proponía hacer un balance crítico y forjar una interpretación genuina de los procesos de cambio ocurridos en América Latina. El libro que hoy publica El Colegio de México retoma, entre otros temas, un aspecto fundamental del trabajo académico de Rodolfo Stavenhagen: la vigencia de sus interpretaciones y la persistencia de ciertas problemáticas que señaló a lo largo de su trayectoria intelectual.


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2768. “Siete Tesis Equivocadas sobre Brasil en el contexto latinoamericano: una relectura de las tesis de Stavenhagen aplicadas a Brasil”, Hartford, 9 fevereiro 2015, 2 p. Propuesta de presentación de articulo y de exposición para seminario de los 50 años de la publicación de “Siete Tesis Equivocadas sobre América Latina” de Rodolfo Stavenhagen; “Nuevas Miradas Tras Medio Siglo de La Publicación de Siete Tesis Equivocadas sobre América Latina”; Colegio de México, Centro de Estudios Sociológicos (http://ces.colmex.mx/convocatoria-siete-tesis; e-mail: seminario7tesis@colmex.mx); Resumen: 27/02/2015; Artículo hasta: 30/04/2015; Confirmada recepción de los documentos el 19/02/2015 (seminario7tesis@colmex.mx).


2795. “Sete teses equivocadas sobre o Brasil no contexto latino-americano: uma releitura das teses de Stavenhagen aplicadas ao Brasil”, Hartford, 24 março 2015, 22 p. Paper preparado para o Seminário: Nuevas Miradas Tras Medio Siglo de La Publicação Sete Teses Equivocadas sobre América Latina (Colegio de México; 25-26 junio 2015). ; enviar em espanhol, para o e-mail: seminario7teses@colmex.mx; Seminário: http://ces.colmex.mx/convocatoria-sete-teses. 


2827. “Siete Tesis Equivocadas sobre Brasil en el contexto latinoamericano: una relectura de las tesis de Stavenhagen aplicadas a Brasil”, Brasília, 26 maio 2015, 26 p. Paper em Espanhol, com base no esquema n. 2768, escrito originalmente em Português, a partir do trabalho n. 2795, para o Seminário: Nuevas Miradas Tras Medio Siglo de la Publicación de Siete Teses Equivocadas sobre América Latina (Colegio de México; 25-26 junio 2015). Revisto por Sabrina Duque em 29/05/2015. Enviado em 30/05/2015, para o e-mail: seminario7teses@colmex.mx; Seminário: http://ces.colmex.mx/convocatoria-sete-teses. Enviado também por carta ao Diretor do Centro de Estudios Sociológicos do Colegio de Mexico, Dr. Arturo Alvarado Mendoza, com pedido de desculpas por ter ultrapassado as 20 páginas do ensaio. Revisão geral em Anápolis, em 3/06/2015, para inclusão de bibliografia. Correspondência recebida em 21/06/2015, de Serena Chew Plascencia (schewp@colmex.mx) para confirmar presença. Feito resumo do trabalho em 10 p., para ser lido, e feita carta informando sobre não comparecimento (22/06/2015). Revisão final, Hartford, 9/08/2015 (enviado a: schewp@colmex.mx). Texto original e completo disponibilizado na plataforma Academia.edu (20/08/2016; link: https://www.academia.edu/s/da95137307/siete-tesis-equivocadas-sobre-brasil-en-el-contexto-latinoamericano-una-relectura-de-las-tesis-de-stavenhagen-aplicadas-a-brasil-2015). Resumo postado no blog Diplomatizzando (20/08/2016; link: http://diplomatizzando.blogspot.com.br/2016/08/siete-tesis-equivocadas-sobre-al-de.html). Recebida comunicação em 23/11/2016, da revista Latin American Perspectives, transmitindo parecer negativo quanto à publicação nessa revista da California, mas indicando que ele seria publicado pelo Colégio de México, em volume em homenagem a Stavenhagen. Escrito em 27/11/2016 a Serena Schew. Comentários ao parecer negativo da LAP enviados a Ronald Chilcote.