domingo, 24 de novembro de 2024

O que pode dar errado, dará, com consequências devastadoras: Livro sobre tomada de decisões equivocadas na política externa - H Diplo

 


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sábado, 23 de novembro de 2024

Marc Bloch será homenageado no Panteão francês, anuncia Macron - Bruno Leal (Café História)

Mais do que merecido, acaba de me dizer Carmen Lícia Palazzo, quando lhe li a notícia. 


Marc Bloch será homenageado no Panteão francês, anuncia Macron

Neste sábado (23), durante as celebrações do 80º aniversário da libertação de Estrasburgo, o presidente francês Emmanuel Macron anunciou que Marc Bloch, renomado historiador e membro ativo da Resistência Francesa durante a Segunda Guerra Mundial, será trasladado para o Panteão de Paris. “Pelo seu trabalho, pelo seu ensinamento e pela sua coragem, decidimos que Marc Bloch entrará no Panteão”, disse o Macron. Confira aqui. (abaixo)


Café História, 23 novembro 2024

A agência AFP, conta o Le Monde teve acesso a uma carta enviada pela família de Bloch a Marcon, na qual solicita que “a extrema-direita, em todas as suas formas, seja excluída de qualquer participação na cerimônia” de entrada no Panteão. “A obra deste patriota convicto é profundamente antinacionalista, construída contra o romance nacional e a redução da história francesa às fronteiras nacionais”, escrevem a sua neta Suzette Bloch e o seu bisneto Matis Bloch. A família também quer que a homenagem seja “puramente civil”, como Marc Bloch solicitou em seu testamento.

Marc Bloch será homenageado no Panteão francês, anuncia Macron

Historiador e membro da resistência francesa durante a Segunda Guerra Mundial, Bloch terá lugar de honra entre os grandes nomes da França.


Neste sábado (23), durante as celebrações do 80º aniversário da libertação de Estrasburgo, o presidente francês Emmanuel Macron anunciou que Marc Bloch, renomado historiador e membro ativo da Resistência Francesa durante a Segunda Guerra Mundial, será trasladado para o Panteão de Paris.“Pelo seu trabalho, pelo seu ensinamento e pela sua coragem, decidimos que Marc Bloch entrará no Panteão”, disse o Macron.

A cerimônia, ainda sem data oficial, simboliza o reconhecimento da nação à contribuição de Bloch tanto para a história quanto para a luta contra o nazismo. No evento deste sábado, o presidente francês disse ainda que Bloch, no início da carreira professor na Universidade de Estrasburgo, foi “o homem do Iluminismo no exército das sombras”.

Morto pelos nazistas

Bloch, cofundador da Escola dos Annales e autor de obras fundamentais como A Sociedade Feudal, destacou-se por sua abordagem inovadora na historiografia e por sua dedicação patriótica. Durante a ocupação alemã, foi afastado da Sorbonne pelo regime de Vichy devido às leis antissemitas, unindo-se posteriormente à Resistência. Capturado pela Gestapo, foi torturado e executado em 1944 junto a outros resistentes, poucos meses antes da libertação da França.

A decisão de incluir Bloch no Panteão reflete uma homenagem ao papel dos intelectuais na luta contra o fascismo. Ex-combatente na Primeira Guerra Mundial e autor de obras fundamentais como “Apologia da História” e “A Estranha Derrota”, ele analisou as causas do colapso francês em 1940, denunciando a complacência das elites frente à ascensão do nazismo. Segundo historiadores, sua entrada no Panteão destaca o compromisso da França em preservar a memória da resistência intelectual e militar contra a ocupação.

Família pede que extrema-direita não participe de cerimônia

Segundo o jornal francês Le Monde, a família de Marc Bloch acolheu com satisfação a sua panteonização do historiador, 80 anos após a sua morte, pela qual os líderes políticos e historiadores há muito requisitavam. 
“É uma grande emoção e orgulho. Ele se entregou de corpo e alma pela liberdade e contra o nazismo”, disse sua neta Suzette Bloch.

A agência AFP, conta o Le Monde teve acesso a uma carta enviada pela família de Bloch a Marcon, na qual solicita que “a extrema-direita, em todas as suas formas, seja excluída de qualquer participação na cerimônia” de entrada no Panteão. “A obra deste patriota convicto é profundamente antinacionalista, construída contra o romance nacional e a redução da história francesa às fronteiras nacionais”, escrevem a sua neta Suzette Bloch e o seu bisneto Matis Bloch. A família também quer que a homenagem seja “puramente civil”, como Marc Bloch solicitou em seu testamento.

Le Monde lembra que o pedido da família ocorre depois que, em 19 de fevereiro, a presença de Marine Le Pen na panteonização de Missak Manouchian, contra o conselho dos seus descendentes e do presidente, causou polêmica. Alguns dias antes, porém, ela havia desistido de ir ao tributo nacional a Robert Badinter.

Historiador brasileiro comenta

O Café História conversou neste sábado com o historiador Jougi Guimarães Yamashita, doutor em História pela Universidade Federal Fluminense (UFF), com uma tese intitulada As guerras de Marc Bloch: nacionalismo, memória e construção da subjetividade.

“A escolha de Macron, em comemoração aos 80 anos da libertação de Estrasburgo, parece inconteste. Ainda que a escolha de Bloch seja óbvia, uma vez que é considerado um dos maiores historiadores do século XX, tendo passado boa parte da vida profissional em Estrasburgo, exercendo um papel fundamental na Resistência Francesa a partir de Lyon, chama muito a atenção a polêmica subjacente ao anúncio de Macron”.

Guimarães também destacou o pedido da família de Bloch quanto à interdição da extrema-direita na cerimônia que irá acontecer:

“A família Bloch deixou claro ao presidente que não deseja que a extrema-direita francesa participe da cerimônia no Panteão. O reclame não surpreende, se lembrarmos que a família Le Pen já tentou por diversas vezes tirar proveito político da memória de Marc Bloch em seus discursos xenófobos e racistas. Lembremos que Macron, há pouco, precisou mobilizar uma coalizão de partidos para tentar frear o avanço da extrema-direita no país – e na Europa”.

Bruno Leal

Fundador e editor do Café História. É professor adjunto de História Contemporânea do Departamento de História da Universidade de Brasília (UnB). Doutor em História Social. Tem pós-doutorado em História Social pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Pesquisa História Pública, História Digital e Divulgação Científica. Também desenvolve pesquisas sobre crimes nazistas e justiça no pós-guerra.


Bolsonaro e o bolsonarismo - Augusto de Franco (Revista Identidade Democrática)

Bolsonaro e o bolsonarismo


E o perigo que atualmente representam para a democracia


Augusto de Franco

Revista Identidade democrática, Nov 22, 2024


Bolsonaro e o bolsonarismo são expressões do populismo-autoritário ou nacional-populismo - dito de extrema-direita - que floresceu mais amplamente na segunda década do século 21. 

Na Itália, inicialmente, com Bepe Grillo e Gianroberto Casaleggio do movimento 5 Stelle, Matteo Salvini com a Lega Nord (e, depois, Lega per Salvini Premier) até chegar à forma, hoje mais moderada, de Giorgia Meloni, do Fratelli d'Italia. 

Na Polônia com os irmãos Lech e Jaroslaw Kaczynski e, depois, com Andrzej Duda, do partido Lei e Justiça. Na Hungria com Viktor Orbán, do Fidesz. Na Turquia, com Recep Erdogan, do partido Justiça e Desenvolvimento. Na França, com Marine Le Pen, da Rassemblement National. No Reino Unido, com Nigel Farage, do Reform UK e o movimento do Brexit. Nos Estados Unidos, com Donald Trump e o movimento MAGA, que colonizou o partido Republicano. Na Alemanha, com Tino Chrupalla e Alice Weidel, com a AFD - Alternativa para a Alemanha. Na Holanda, com Geert Wilders, do Partido para a Liberdade. Na Finlândia, com Riika Purra, do partido Verdadeiros Finlandeses. Em El Salvador com Nayib Bukele, do Nuevas Ideas. Em Israel, com Benjamin Netanyahu, do Likud, em aliança com supremacistas como Bezalel Smotrich do Partido Sionista Religioso e Itamar Ben-Gvir do partido Poder Judaico. Em Portugal, com André Ventura, do Chega. Na Espanha, com Santiago Abascal, do Vox. No Brasil, com Jair Bolsonaro e o movimento olavista-bolsonarista. 

Ocupam posições especiais (com alguns casos ainda em exame): na Índia, Narendra Modi, do Partido do Povo Indiano, com seu projeto autocrático, de fundo mítico-religioso, chamado Bharat; na Argentina, Javier Milei, do Partido Libertário; na Eslováquia, Roberto Fico, do Smer, que embora seja dito de esquerda, virou quase um fantoche de Putin.

Desses todos, estão atualmente no governo apenas nove atores: Orbán, Erdogan, Meloni, Netanyahu, Bukele, Modi, Fico, Milei e Trump (a partir de 2025). 

Quase todos esses foram apoiados ou estimulados por Vladimir Putin, do partido Rússia Unida - que não se enquadra bem como direita ou esquerda.

Pois Putin também apoia ou estimula: a) ditadores de esquerda, ditos socialistas, como Xi Jinping da China, Kim Jong-un da Coreia do Norte, Minh Chính do Vietnam, Díaz-Canel de Cuba, Nicolás Maduro da Venezuela, Daniel Ortega da Nicarágua, Sonexay Siphandone do Laos; b) ditadores islâmicos, como Ali Khamenei do Irã, Bashar al-Assad da Síria; c) ditadores seculares, como Alexander Lukashenko da Bielorrussia, Paetongtarn Shinawatra da Tailândia; e d) neopopulistas ditos de esquerda - não autoritários, mas também não-liberais - como Obrador e Sheinbaum do México, Xiomara e Manuel Zelaya de Honduras, Gustavo Petro da Colômbia, Lula da Silva do Brasil, Cyril Ramaphosa da África do Sul e, talvez, Prabowo Subianto da Indonésia.

Pode-se dizer que Bolsonaro surfou na onda do populismo-autoritário, mas que ele - em si - é apenas um oportunista eleitoreiro reacionário, um passadista saudoso da ditadura militar e de seus métodos truculentos e anacrônicos. Não fosse o olavismo, o bolsonarismo não teria nenhuma substância ideológica considerável (o que era a opinião do próprio Olavo de Carvalho).

O fato de Bolsonaro e seus seguidores, civis e, sobretudo, militares, tramarem um golpe de Estado à moda antiga, com fechamento de instituições pela força bruta e, ao que se diz, planejamento de assassinato de representantes eleitos, não se coaduna com o comportamento da imensa maioria dos populistas-autoritários atuais, listados acima. Seus métodos para chegar ao poder e nele se manter são outros, por erosão democrática, com o desmonte dos sistemas de freios e contrapesos das democracias que parasitam.

O golpe bolsonarista, embora tenha sido planejado e intentado, tinha pouquíssimas chances de se concretizar e perdurar (caso tivesse sucesso). Em primeiro lugar porque não havia força político-militar para tanto (como ficou demonstrado). Em segundo lugar porque a maioria do sistema político - mesmo a sua parcela governista - não o apoiava (porque seria um suicídio para quem vive do jogo eleitoral). Em terceiro lugar porque não haveria apoio internacional para a aventura esdrúxula.

Evidentemente, os golpistas bolsonaristas devem responder pelos seus crimes. Mas essa é uma tarefa da polícia, do ministério público e da justiça e não da política, na medida em que a ameaça de golpe de Estado não existe mais na atualidade. Tratar o assunto como se a ameaça fosse atual e esticar os processos judiciais com o fito de colher vantagens eleitorais em 2026 é a pior coisa que se pode fazer agora. Significa investir, por mais dois anos, na polarização tóxica que está dilacerando a sociedade brasileira.

O "perigo" que o bolsonarismo representa, no curto prazo, é apenas o de seus próceres, antigos ou novos, vencerem as próximas eleições. Mas tirar o PT do poder pelo voto, em eleições limpas, não é golpe de Estado: faz parte do jogo democrático. Tentar impedir isso com artimanhas político-judiciais, restringindo direitos políticos e liberdades civis (como a liberdade de expressão: aparelhando os meios de comunicação profissionais e praticando censura prévia nas mídias sociais), terá como efeito inevitável acelerar um processo de autocratização do nosso regime político.


Revista ID é uma publicação apoiada pelos leitores.

Bestializado: os brasileiros e o G20 - Simon Schwartzman (Estadão)

 Bestializado

By Simon Schwartzman on Nov 22, 2024 07:19 am

(Versão modificada de artigo publicado em O Estado de São Paulo, 22 de novembro de 2024)

José Murilo de Carvalho, em “Os bestializados”, lembra como como o povo do Rio de Janeiro, sem saber do que se tratava,  assistiu à mobilização dos militares que implantaram a República em 1889. Foi assim que me senti ao acompanhar de perto, na Zona Sul do Rio de Janeiro, as grandes movimentações da reunião G20, só comparáveis às da Olimpíada e da Copa do Mundo em 2014 e 2016. Mais uma vez o Brasil, e especialmente o Rio de Janeiro,  se colocavam no centro do mundo, e eu, tão pertinho, não havia sido convidado…

Não é que o povo, desta vez, tivesse ficado totalmente de fora. A Cúpula Social do G20, alguns dias antes, contou com a presença de milhares de participantes de 271 entidades da sociedade civil, que em três dias aprovaram um documento que foi encaminhado ao Presidente Lula para ser incluído na pauta da reunião. Além disso, inúmeros grupos de trabalho e de engajamento foram mobilizados, e a declaração final foi um documento com 85 recomendações e compromissos assinados pelos chefes de estado das maiores economias do mundo, sob a coordenação do governo brasileiro. A proposta de taxação das grandes fortunas não foi aprovada, mas em compensação ficou registrada a criação da Aliança Global Contra a Fome e a Pobreza. Fala-se em mais de 40 bilhões de dólares a serem mobilizados até 2030, com recursos já existentes em agências como o Banco Interamericano de Desenvolvimento e outros a serem levantados. Para gerenciar a aliança, o Brasil desde já vai financiar a instalação de um escritório em Brasília e outro em Roma. Um grande sucesso, e mais uma vez não só a Europa, como o mundo, se curvam diante do Brasil

Será? Criado 25 anos atrás como um fórum para lidar com as crises financeiras internacionais, reunindo ministros de finanças e presidentes de bancos centrais das grandes potências e países emergentes, o G20 evoluiu para uma reunião anual de chefes de Estado e de Governo, tendo como prioridade o fortalecimento da governança internacional da economia, mas ampliando a agenda para temas como crescimento sustentável, redução da pobreza e desigualdade e clima.  Na reunião do Rio de Janeiro predominou a ideia de que ela deveria contribuir para a instalação de uma nova ordem internacional, baseada no consenso e na participação ampla de países do “sul global” e da sociedade civil, que substituiria a ordem criada depois da Segunda Guerra, com as Nações Unidas, o FMI e o Banco Mundial. Nesta nova ordem países de porte médio, ou “emergentes”, como o Brasil, Índia, México, África do Sul e Indonésia, assumiriam posições de liderança em um sistema multipolar no qual os Estados Unidos e a Rússia teriam menos importância do que até agora. Com a Rússia isolada pela guerra da Ucrânia e a eleição de Trump apontando para um novo isolacionismo americano, esta nova ordem seria claramente liderada pela China. Não é à toa que a figura em destaque da reunião foi Xi Jinping, que vem liderando os esforços de criação de uma um novo sistema internacional multipolar e globalizado liderada por Pequim.

Sem Vladimir Putin e com John Biden em final de mandato, nada de novo surgiu em relação às guerras da Ucrânia e de Gaza, e as propostas de reformular as Nações Unidas, reforçando o peso da Assembléia Geral e a composição do Conselho de Segurança, simplesmente reiteram o que representantes do Brasil e de outros países vêm dizendo há anos, e não há nenhuma indicação de que elas serão implementadas desta vez. Neste como nos temas de mudança climática e as questões emergentes das novas tecnologias de informação e da inteligência artificial, a maioria das decisões e compromissos do documento final são recomendações gerais,  inexequíveis  ou já em andamento de alguma outra forma.

A pergunta que fica é se grandes mobilizações de pessoas e recursos como esta, que culminou com dois dias de caos na Zona Sul do Rio de Janeiro – com tropas e caminhões do exército nas esquinas, aeroporto fechado, motocicletas e sirenes abrindo caminho para as autoridades, sem falar no dinheiro gasto – produz resultados que justificam o esforço, ou não são simplesmente um grande exemplo de turismo diplomático. A resposta está em algum lugar entre os extemos do entusiasmo e do ceticismo total, e eu tendo a ficar mais próximo do segundo. Não há dúvida que juntar pessoas para discutir e elaborar propostas sobre temas importantes é sempre útil, e contatos entre representantes de governos e outras entidades públicas e privadas podem gerar novas modalidades de cooperação. As reuniões servem também para colocar em evidência alguns temas relevantes que algum dia podem gerar políticas e mecanismos específicos de cooperação.

O velho sistema bipolar do pós-guerra já não existe, mas a construção desta nova ordem é uma tarefa difícil, que passa entre outras coisas pela capacidade de a comunidade internacional administrar conflitos locais como as guerras da Ucrânia e Gaza e cooperar efetivamente em grandes temas de comércio, meio ambiente, pobreza e valores democráticos.  É uma construção complexa e incerta, que depende mais de negociações técnicas bi e multilaterais do que por conferências de grande visibilidade como as do G20.

Tomara que as recomendações da reunião do Rio de Janeiro se cumpram. Enquanto isto, se houver lugar, me candidato para trabalhar no novo escritório em Roma que o governo brasileiro vai abrir.


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