Um ano atrás eu fazia minhas "previsões imprevidentes" para o ano de 2017, e elas não eram muito otimistas. Um trecho, relativo ao Brasil:
"O Brasil, infelizmente, a despeito da brilhante equipe econômica que assessora o governo de transição, ainda não conseguiu traçar, já não digo uma estratégia política, mas um simples consenso nacional, entre dirigentes políticos e lideranças econômicas, para produzir o imenso rol de reformas estruturais de que ele necessita para enveredar novamente por um processo sustentado de crescimento econômico, base indispensável a qualquer ciclo de desenvolvimento social de que o seu povo poderia desfrutar, caso dispusesse de elites dirigentes menos ineptas e corruptas."
Este ano, 2018, não tive tempo de fazer minhas "previsões", mas confirmo a maior parte dos argumentos expostos nesse longo ensaio. Alguns acréscimos podem ser feitos, para o bem -- como a aproximação entre as duas Coreias -- e para o mal, como a ameaça de uma guerra comercial deslanchada por aquele presidente imprevisível. Vou tentar atualizar minha análise do cenário mundial e brasileiro em meados deste ano.
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 7 de maio de 2018
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Surpresas em 2017?
O ano de
2016 terminou com a relativa surpresa da eleição de Donald Trump à
presidência dos Estados Unidos – embora alguns analistas a tivessem
previsto – e o ano de 2017 começou com ainda mais surpresas, ao se
constatar que o presidente, uma vez no poder, pretendia cumprir algumas
de suas piores promessas de uma campanha eleitoral literalmente
heterodoxa para os padrões normalmente menos excitantes das eleições
presidenciais americanas. Todas as suas ações – proibição do ingresso
nos EUA de cidadãos de alguns países islâmicos, construção de um muro na
fronteira com o México, retirada dos EUA da Parceria TransPacífica
(TPP), ameaça de cancelamento, ou reforma, do acordo de livre comércio
da América do Norte (Nafta), reorganização da OTAN, revisão do
posicionamento estratégico dos EUA em diversos cenários que representam
preocupações de segurança militar para os planejadores do Pentágono e
até para os parceiros envolvidos nesses diferentes esquemas, enfim, uma
gama variada de assuntos que interessam, virtualmente, o mundo inteiro –
causaram grande impacto mediático, algum impacto nas relações
bilaterais e nos foros multilaterais, e legítimos sentimentos de
inquietação ao redor do mundo.
O único
país que parece ter recebido bem, pelo menos até agora, a eleição e o
posicionamento do novo presidente dos EUA, é a Rússia, e alguns outros
próximos da linha “quanto pior para os EUA, melhor para o mundo”. Embora
seja previsível algum recuo posterior – inclusive por pressão do
establishment responsável das instituições de governança nos EUA – nas
medidas extremas anunciadas pelo imprevisível presidente, não há nenhuma
dúvida de que neste ano de 2017, e talvez nos próximos três também, o
mundo ainda vai se defrontar com inúmeras, e desagradáveis, surpresas
vindas dessa nova e excitante fonte de notícias ao estilo “acredite se
quiser”. Jornalistas não podem reclamar da pletora de material adicional
em suas caixas de entrada, muito embora a maior parte possa ser
descartada como “besteirol” inconsequente, mas o fato é que a maior
parte da comunidade internacional tem, sim, razão ao ficar preocupada
com as inesperadas e imprevisíveis políticas que o bizarro presidente
promete ainda brindar esta nossa pobre humanidade.
Um apostador inglês, um desses bookmakers
muito presentes naquele país também bizarro que se chama Grã-Bretanha,
diria que nunca alguém perdeu dinheiro apostando na estupidez alheia:
ela sempre se materializa, da pior forma possível. Se juntarmos, digamos
assim, os personagens mais “coloridos” da presente conjuntura
internacional, o constitucional Trump, o czarista Putin, o ditador da
Síria, o projeto de líder bonapartista Erdogan e aquele stalinista
anacrônico da Coreia do Norte, teremos material para uma penca adicional
de surpresas durante todo o decorrer de 2017. Este ano, portanto,
promete muito na política internacional, quando não na mobilização de
tropas, de tanques, de aviões e porta-aviões. Esperemos que não passe
disso, ou seja, apenas mobilização para demonstrações machistas, e um
bocado de retórica vazia.
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E na economia, o que vem pela frente?
Na
economia o quadro é mais complexo, pois embora a globalização, aquela
que se processa ao nível microeconômico, promete continuar sua marcha
irresistível e irrefreável, graças a seus promotores primários –
empresários, grandes e pequenas companhias e o tino individual de
inovadores geniais –, seu ritmo, sua extensão e sua profundidade muito
dependem, de fato, de elementos macroeconômicos que dependem, por sua
vez, em pequena ou grande medida, da ação de governos, que podem ser tão
racionais quanto se deveria esperar de líderes responsáveis, ou tão
irracionais quanto pode ocorrer com populistas altamente irresponsáveis
como parecem ser os citados e vários outros. A demagogia política e o
populismo econômico são características permanentes, atemporais,
regulares, aborrecidamente recorrentes nos assuntos humanos e sociais, e
por isso mesmo podemos contar com a ação deletéria de todos esses
fugazes candidatos a uma glória qualquer nas mídias nacionais e
internacional.
Mas, em
minha modesta opinião, nosso mundo vive tempos não convencionais, talvez
normais doravante, mas ainda assim altamente preocupantes para quem,
como eu e o leitor destas linhas, nos angustiamos ao ver tanto besteirol
correndo solto, tantas ações irrefletidas proclamadas por dirigentes
incompetentes, tanta perda de riqueza e de oportunidades para a criação
de paz e prosperidade, tudo isso ameaçado pela ação desses malucos que
ascenderam ao poder em diversos países nos últimos tempos. Nunca tivemos
tantos ineptos, vários corruptos, tantos demagogos e populistas
exercendo cargos de alta responsabilidade em países que julgávamos ao
abrigo dessas ameaças de retrocessos políticos, econômicos e até morais,
ou éticos. O fato é claramente este aqui: nunca antes na história da
era contemporânea tivemos tantos medíocres no comando de países que
possuem alguma ascendência sobre a agenda mundial, ou seja, sobre a vida
de um número considerável de pessoas, nos mais diversos continentes.
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Alguma nova ordem em vista?
Como
sempre acontece nesses momentos de transição para alguma nova ordem que
não se sabe exatamente qual será, do que será feita, como classificá-la,
descrevê-la ou o que dela esperar, ficamos desarmados ante o aluvião
de más notícias, em nosso país e no mundo, em meio a um pequeno volume
de boas notícias, como a indicar que, no meio de tanta loucura, algum
novo Erasmo pode emergir para nos indicar o modesto caminho da
racionalidade e da melhoria constante nos assuntos humanos, mesmo com a
intervenção frequente de demagogos políticos, brutamontes militares e
outros malucos espalhados pelas mais diversas jurisdições soberanas da
comunidade internacional. Na verdade, salvo nas grandes catástrofes
envolvendo número significativo de atores poderosos – como os conflitos
globais do século XX –, nenhuma nova ordem é construída pela vontade
puramente política de líderes mundiais e seus conselheiros políticos,
mesmo os mais kantianamente bem intencionados. A maior parte das
transições entre modos de organização social e configurações políticas e
institucionais de um novo tipo vai emergindo progressivamente como
resultado da dinâmica econômica desses diferentes atores, a evolução
política das grandes formações e o próprio nascimento de novas propostas
de ordenamento global com base em ideias e propostas de personalidades
influentes.
Os
cientistas políticos podem se desentender sobre os vários conceitos nos
quais podem ser resumidos os cenários existentes e cambiantes do sistema
internacional – unipolaridade imperial, multipolaridade deformada, nova
bipolaridade sino-americana, ascensão das novas potências emergentes,
equilíbrio de potências, balança de poder, o que seja – mas o fato é que
estamos um pouco perdidos sobre o que pode ocorrer neste ano e nos anos
próximos, em termos de situação econômica, de comportamento político
dos principais atores, de encaminhamento das principais questões
inscritas na agenda internacional – comércio, meio ambiente, miséria e
guerras civis nas áreas subdesenvolvidas do globo, evolução dos debates
sobre bens comuns, entre eles epidemias globais, segurança e ameaças
terroristas, crimes transfronteiriços, e até circulação de pessoas
comuns, não apenas homens de negócios – e sobre como todas essas
questões podem ser tratadas com base em alguma autoridade moral que se
eleve sobre todas as outras autoridades.
Quem
possui, hoje em dia, essa autoridade moral? O presidente dos EUA?
Dificilmente. Os líderes das duas grandes autocracias que contestam o
velho poder hegemônico da maior potência econômica do planeta? Duvidoso.
O papa? Não sei. O secretário-geral da ONU? A sua Assembleia Geral? O
comandante militar da OTAN? O comitê do Nobel da Paz? O foro do G20
financeiro? Quem poderá nos salvar de nós mesmos? Não existem
super-heróis, nem um conclave de sábios que possa estar sempre a postos
para salvar a humanidade de seus riscos latentes ou potenciais. Tampouco
existem forças multinacionais – isto é, onusianas – prontas para
combater as ameaças à paz e a segurança internacional, que elimine
guerras remanescentes, sobretudo no Oriente Médio e na África, ou
entidades suficientemente fortes de assistência pública que consiga
promover (nem esse é o caminho) o bem-estar de povos miseráveis e de
populações oprimidas, que assegure a vida de povos ameaçados por
catástrofes naturais ou outros fenômenos causados pela própria mão de
dirigentes ineptos, líderes corruptos, autocratas assassinos, gangues de
meliantes armados, como os piratas marítimos e as grandes redes de
traficantes, por exemplo. O próprio Brasil, sempre saudado como estando
ao abrigo de grandes calamidades naturais, tem sido frequentemente
assaltado pelos mais diferentes tipos de calamidades humanas, se não é
por um simples mosquito.
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E o Brasil, como andou nestes tempos borrascosos?
Aliás,
quem salvou o Brasil da Grande Destruição econômica dos anos recentes,
da enorme desmoralização das instituições políticas provocada pela
administração incompetente e altamente corrupta dos companheiros?
Ninguém, ou pelo menos não tivemos forças oposicionistas ou instituições
de controle aptas a prevenirem ou reprimirem, no devido tempo, as
malversações deliberadas, as políticas equivocadas, a roubalheira
evidente a que estávamos e estivemos submetidos nos últimos treze anos e
meio, quando uma organização criminosa tomou de assalto o país, sua
política e seus órgãos de Estado. Apenas por um acaso – justamente a
Grande Destruição econômica – esses grandes bandidos do sistema político
foram expulsos do poder, mas isso apenas in extremis,
pois se fosse apenas pela corrupção política e pela roubalheira
generalizada, os líderes da organização criminosa não teriam sido
apeados do poder, já que os crimes são partilhados com os políticos. Foi
preciso a intensa mobilização da cidadania consciente para obrigar os
parlamentares a votarem o impeachment, ainda assim pela metade apenas,
sem cuidar de limpar o corpo necrosado do sistema político dessas frutas
podres que contaminam todo o resto. As frutas podres continuam lá…
Como se
pode constatar, não sou muito otimista quanto ao cenário atual ou seus
desdobramentos futuros, e isto por uma razão muito simples. Pela
primeira vez em nossa história estamos enfrentando uma crise econômica
gigantesca, que não possui nenhum vínculo com algum problema
identificado da economia mundial, pois se trata de uma crise produzida
inteiramente no Brasil, por nossas próprias mãos, e pés, uma crise
inteiramente fabricada por dirigentes ineptos e altamente corruptos. À
diferença das crises anteriores – digamos, a crise da bolsa de Nova
York, em 1929, que depois precipitou a Grande Depressão dos anos 1930,
ou as crises inflacionarias alimentadas pelos dois choques do petróleo
dos anos 1970, a crise de balanço de pagamentos que surgiu com o aumento
dos juros internacionais e seus reflexos em termos da dívida externa
brasileira nos anos 1980, as crises financeiras internacionais dos anos
1990 que nos obrigaram a recorrer ao FMI, a crise da Argentina em 2001,
que nos obrigou a ir por uma segunda vez ao FMI, sem mencionar a própria
crise das eleições de 2002, que nos levou ao mesmo FMI por uma terceira
vez, e recentemente a crise imobiliária americana e a crise bancaria
internacional de 2008, que provocou o que se chamou de Grande Depressão –
esta nossa Grande Destruição dos anos 2015 e 2016 pode ser debitada
inteiramente na conta da mais nefasta máfia de dirigentes políticos que
se apossou do país, de seu governo, do Estado brasileiro.
Essa
organização criminosa o fez quase tão completamente, tão absolutamente,
que ela conseguiu comprar um número significativo de parlamentares,
literalmente bancadas inteiras no Congresso, conseguiu aparelhar de modo
amplo o Estado brasileiro, colocar seus militantes nos órgãos os mais
diversos de governo, designar apparatchiks para agências públicas,
fundos de pensão, empresas do Estado e até entidades privadas, que,
todos juntos, se empenharam em saquear o Estado e roubar a sociedade,
numa magnitude jamais vista em toda a história anterior, numa amplitude
jamais imaginada pelos órgãos de controle e de prevenção, que finalmente
despertaram para as escabrosas operações desses meliantes políticos. É
virtualmente impossível contabilizar o gigantesco iceberg de roubos,
falcatruas, desvios, operações de sub e superfaturamento envolvendo
recursos públicos, subsídios, financiamentos irregulares, “doações
legais”, contratos de serviços no Brasil e no exterior, enfim, toda a
gigantesca máquina de malversações perpetradas pelos companheiros e seus
aliados e associados de ocasião ou oportunistas de plantão, como
existem muitos espalhados em todo o sistema político brasileiro. Ainda
assim, espero que o ministério público, auxiliado por economistas,
consiga fazer a contabilidade dos crimes econômicos do lulopetismo.
Esse
quadro lamentável no cenário doméstico ocorre numa conjuntura externa de
ausência de lideranças confiáveis, e competentes, para guiar a política
e a economia mundiais para caminhos não confrontacionista, para
soluções racionais aos problemas de segurança e de cooperação econômica e
política aos conflitos remanescentes ou às disputas sempre existentes
em termos de regulação do comércio, do meio ambiente, da segurança nas
zonas quentes do planeta, enfim, dos obstáculos à prosperidade dos povos
do planeta. A globalização é até favorável à prosperidade dos países
que sabem se abrir e se posicionar corretamente em face das
oportunidades por ela criadas, em termos de comércio, investimentos,
transferência de tecnologias, licenciamento de know-how estrangeiro,
acolhimento de imigrantes produtivos, enfim, um sem número de coisas
boas que sempre ocorrem para quem é receptivo à abertura econômica, à
liberalização comercial, aos investimentos diretos, aos intercâmbios
humanos, sem qualquer censura política, protecionismo comercial,
paranoias nacionalisteiras e outros pecados do gênero. A globalização
arrancou centenas de milhões de pessoas da miséria – que o digam os
pobres da China e da Índia –, trouxe enormes benefícios aos povos
integrados nos fluxos de bens, serviços, ideias que circulam pelo mundo,
desde que libertos das amarras das restrições idiotas, que sempre são
colocadas pelos governos, jamais pelos mercados livres.
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O que é que a globalização pode fazer por nós?
Mas é
óbvio que a globalização não pode fazer muito por aqueles povos e nações
que se enclausuram num protecionismo tão inútil quanto custoso, num
nacionalismo míope, numa atitude defensiva em face das oportunidades e
desafios por ela criados, como é obviamente o caso do Brasil, um país
que não perde oportunidade de perder oportunidades, como dizia Roberto
Campos, o maior estadista e intelectual da segunda metade do século XX
no Brasil, e que estaria completando cem anos no dia 17 de abril (e por
isso homenageado com um livro meu: O Homem que Pensou o Brasil,
pela Editora Appris, de Curitiba). O Brasil, infelizmente, a despeito
da brilhante equipe econômica que assessora o governo de transição,
ainda não conseguiu traçar, já não digo uma estratégia política, mas um
simples consenso nacional, entre dirigentes políticos e lideranças
econômicas, para produzir o imenso rol de reformas estruturais de que
ele necessita para enveredar novamente por um processo sustentado de
crescimento econômico, base indispensável a qualquer ciclo de
desenvolvimento social de que o seu povo poderia desfrutar, caso
dispusesse de elites dirigentes menos ineptas e corruptas.
O mundo é
o que ele é, e não poderemos fazer muito, ou praticamente nada, dada
nossa insignificância internacional em termos de poder econômico ou
militar, para mudá-lo decisivamente em nosso favor. Aliás, o que
significa, exatamente, “mudar o mundo em nosso favor”? Seria torná-lo
ainda menos receptivo à abertura econômica, à liberalização comercial
como nos empenhamos em fazer nas últimas décadas? Seria continuar
apelando para medidas absolutamente idiotas como essa mania de pretender
proibir estrangeiros de adquirir terras, ou quaisquer outros ativos,
como se esses estrangeiros viessem com a intenção de roubar o nosso
patrimônio, dilapidar o nosso meio ambiente, saquear as nossas riquezas,
explorar o nosso povo? Seria, ainda, continuar a proteger a produção
nacional com normas e regulações absolutamente idiotas e nefastas, como
as nossas tomadas jabuticabais, que discrepam de quaisquer outros
padrões normalmente usados para o acoplamento de aparelhos e
dispositivos ligados à corrente elétrica? Seria dotar as nossas escolas
de normas curriculares absurdas, destinadas unicamente a oferecer uma
reserva de mercado a professores ineptos, produzidos pela ideologia
nefasta da Pedagogia do Oprimido, alimentados pelo besteirol ainda mais
nefasto da Teologia da Libertação, por esse marxismo vulgar disseminado
em praticamente todos os cursos de (des)humanidades das faculdades
públicas e privadas?
O Brasil
ainda não percebeu o quão atrasado ele está, em face de tantos exemplos
de adequação, adaptação e acolhimento da modernidade, por tantos povos
ao redor do mundo, aliás até mesmo aqui na região, quando alguns países
da América Latina escolhem se juntar à grande interdependência global,
em lugar de se refugiar numa suposta, e nefasta, identidade
latino-americana de recalcados e de frustrados perdedores da
globalização? Quando é que vamos nos libertar desses políticos
rastaqueras, que prometem defender os “empregos nacionais”, e nos
condenam ao atraso, desses empresários ineptos que proclamam a
necessidade do protecionismo, quando eles querem apenas assegurar
reserva de mercado, dessas construtoras que vivem do rentismo de obras
públicas e de concessões exclusivas, bem como de generosos subsídios
para justamente praticarem corrupção generalizada, no Brasil e no
exterior? Quando é que vamos nos livrar do Fundo Partidário, um convite à
anomia política e à corrupção, simplesmente, uma vez que partidos
políticos são entes de direito privado? Quando é que o Brasil vai virar
um país capitalista normal, sem os “dez vezes sem juros”, sem a opressão
da Receita Federal sobre as empresas privadas, sem que as corporações
de empregados públicos façam dos cidadãos os reféns de seus interesses
corporativos justamente? Quando é que a educação pública vai qualificar
de maneira decente os brasileiros mais humildes para o mercado de
trabalho, permitindo que eles possam contribuir para o crescimento da
produtividade, o que é hoje algo impossível?
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Da Guerra Fria geopolítica à guerra fria econômica
Mas
vamos voltar para a economia política internacional. Muitos analistas
contemporâneos, partindo da constatação, aliás evidente, da nova
agressividade da Rússia de Putin em relação ao Ocidente em geral – isto
é, a UE e os EUA – e da velha desconfiança do Império do Meio, ou seja a
China, em relação a esse mesmo Ocidente, já estão falando de uma nova
Guerra Fria, agravada sobretudo pela invasão russa da Ucrânia oriental e
pela incorporação forçada da Criméia à Rússia, bem como outros gestos
em direção dos bálticos e da Geórgia que, no conjunto, revelam uma
tomada de postura contra a expansão irrefletida da OTAN nos confins
imediatos da Rússia. A China de Xi Jin-ping também tem demonstrado uma
política de maior assertividade na defesa dos seus interesses nacionais,
inclusive no controle da sua própria população, como se pretendesse
demonstrar que sua maior, enorme, inserção econômica mundial não
significa que ela esteja caminhando na direção dos valores e princípios
típicos das economias democráticas de mercado, e que essa atitude
positiva na defesa do livre comércio e da livre concorrência
internacional não se traduz em maior liberalidade no plano político
interno.
Do outro
lado do mundo, confirmando a atitude típica dos militares, em todo e
qualquer lugar do planeta – que é a da paranoia securitária –, o pessoal
do Pentágono e do próprio governo americano elegeu a China como a
substituta da Rússia nos possíveis embates decorrentes de algum choque
futuro de interesses, seja nos mares da China, os do sul e os do leste,
seja na velha questão de Taiwan, ou seja, reforçando a hipótese de uma
nova Guerra Fria, podendo desdobrar-se em algum futuro conflito bélico,
ou seja, uma guerra quente. Alguns analistas, até famosos, acreditam, ou
fingem acreditar, numa Terceira Guerra Mundial, isto é, envolvendo as
grandes potências militares, dotadas de um poder propriamente devastador
em todas as áreas das ferramentas militares, das mais convencionais às
nucleares. Não partilho absolutamente desse tipo de temor.
Não
apenas não acho que haverá uma terceira grande conflagração global, como
tampouco considero que estejamos assistindo a uma nova Guerra Fria no
sentido usual, geopolítico, da expressão. A Guerra Fria foi um episódio
circunscrito das relações internacionais do imediato pós-Segunda Guerra,
e se pode dizer até um aspecto peculiar das relações bilaterais de
competição política estratégica entre os dois grandes atores do sistema
mundial, EUA e URSS, naquela conjuntura histórica específica da história
mundial, que não tem mais chance de se reproduzir atualmente entre os
dois novos grandes atores das relações internacionais contemporâneas, os
EUA e a China. Não creio que estejamos caminhando para uma grande
confrontação estratégica suscetível de configurar uma nova Guerra Fria
entre esses dois gigantes, com atuação de conflitos entre atores
secundários, que seriam o equivalentes dos cenários regionais de
enfrentamento estratégico, do tipo proxy wars,
como vimos naquele período histórico (digamos a guerra civil na Grécia e
a guerra da Coreia, na era Truman-Eisenhower, o episódio dos mísseis
soviéticos em Cuba, nos anos Kennedy, a guerra do Vietnã, que atravessa
diversas administrações americanas, ou diferentes guerras civis na
África, servindo também a essa competição estratégica, notadamente em
Angola).
Essa
Guerra Fria tipicamente geopolítica dos anos 1940 aos 80 passou e não
voltará mais. E nem foi a Guerra Fria que determinou o desaparecimento
de um dos dois grandes atores daquele período, nomeadamente a União
Soviética, dotada de um arsenal militar impressionante, incluindo um
número formidável de ogivas nucleares e seus respectivos meios de delivery.
A União Soviética não desapareceu por causa dessa competição, ou mesmo,
isso ocorreu apenas indiretamente, se considerarmos o efeito da Strategic Defense Initiative,
a “guerra nas estrelas” de Reagan, no enfraquecimento decisivo de sua
capacidade econômica ao tentar competir com a enorme fortaleza do
império americano no plano econômico. A URSS desapareceu por uma espécie
de implosão auto-induzida, pela pressão de suas próprias contradições
internas, por que simplesmente ela não consegui satisfazer
economicamente o seu próprio povo, e também por que a inevitável fome de
liberdade dos povos submetidos ao seu império despótico ajudou na
sublevação geral de todo o sistema coletivista criado na Europa central e
oriental durante a era do moderno socialismo escravocrata.
Segundo o
novo autocrata de Moscou, referindo-se à essa auto-implosão, “o
desaparecimento da União Soviética foi a maior catástrofe geopolítica do
século XX”, uma opinião com a qual se pode facilmente concordar, desde
que se façam os ajustes necessários para medir o real impacto dessa
“catástrofe geopolítica”. Ela teve, de fato, um enorme impacto, não
apenas nas relações internacionais, mas também, e sobretudo, para o
próprio povo russo, até então escravizado sob o jugo soviético do
Partido Comunista. O desaparecimento da União Soviética deu um golpe
fatal na legitimidade do comunismo enquanto forma de governo, retirou as
bases econômicas de um sistema totalmente ineficiente de organização
social da produção e libertou milhões de pessoas da entropia
totalitária, trazendo, talvez, um pequeno acréscimo ao PIB global das
economias de mercado, mas um enorme aporte de trabalhadores podendo,
enfim, serem integrados à divisão internacional do trabalho e aos fluxos
mundiais de consumo. Foi, portanto, uma “catástrofe” eminentemente
positiva para os povos antes submetidos a um regime de exclusão interna e
externa, e para a própria interdependência global.
O que
temos hoje é algo completamente diferente da Guerra Fria geopolítica
daqueles tempos, da velha confrontação entre dois impérios absolutamente
opostos nos planos ideológico e de organização econômica e política,
uma confrontação geopolítica por poder e prestígio entre aqueles dois
gigantes, o que não é o caso, de nenhuma forma, da suposta confrontação
estratégica entre EUA e China. O que temos atualmente, em minha opinião,
é uma Guerra Fria econômica, entre esses dois atores, mas uma que não
significa uma competição entre polos opostos do sistema internacional de
poder: tanto os EUA quanto a China representam dois representantes da
moderna interdependência global, duas jurisdições políticas distintas e
separadas, mas unidas no mesmo universo das economias de mercado, ainda
que, de um lado, tenhamos uma velha democracia política e do outro, uma
ainda mais velha tirania política administrando uma nova economia de
mercado. Trata-se, obviamente uma nova situação política, inédita nas
relações internacionais, que é difícil de ser mentalmente aceita, e
considerada como válida, por aqueles que tendem a visualizar o mundo sob
o prisma das mesmas velhas concepções que vigoraram em períodos
anteriores.
Em
outros termos, não é possível analisar a nova Guerra Fria Econômica
ficando prisioneiro dos mesmos esquemas mentais da velha Guerra Fria
geopolítica, o que é o que parece estar acontecendo com os estrategistas
do Pentágono e com um número considerável de analistas políticos
contemporâneos (mas ainda raciocinando com base em antigos cenários, que
não mais vão se reproduzir na atual fase das relações internacionais
contemporâneas). Esses estrategistas anacrônicos, mais especializados em
desperdiçar os recursos da coletividade do que em analisar as reais
ameaças ao seu país, elegeram a China como o grande contendor da atual
fase da política mundial, o que representa um erro monumental em termos
de alocações orçamentárias e de disposições táticas sobre o terreno,
ademais de investimentos exagerados em novos meios de combate que
provavelmente nunca serão usados nas dimensões imaginadas.
A China é
um império emergente, mas com imensas deficiências internas, o que os
novos mandarins do regime comunista buscam remediar mediante uma
estratégia de desenvolvimento econômico extensivo e intensivo, a única
maneira de conferir alguma aparência de legitimidade a um sistema de
dominação política de caráter despótico, mas profundamente nacionalista e
basicamente defensivo, não ofensivo externamente. A projeção militar em
curso no novo Império do Meio se destina, essencialmente, a garantir o
aprovisionamento da população chinesa em alimentos e em energia, e a sua
base industrial em matérias primas e outros insumos necessários ao
funcionamento contínuo de um imenso aparato produtivo aparentemente
imbatível no plano da concorrência internacional (mas apenas
temporariamente).
As bases
que a China constrói nos mares que ela considera como seus (a Leste e
mais ao Sul de suas águas), assim como margeando o Índico e o Atlântico
Sul, numa miríade de países da Ásia do Sul e do continente africano, se
destinam precisamente a garantir a livre circulação de sua frota
comercial nacional e de todos os demais navios participando desse
abastecimento e dessas rotas comerciais que estão na base de sua
ascensão irresistível para a prosperidade e a modernidade tecnológica.
Essas bases são uma espécie de bem público que deveriam supostamente
servir, igualmente, aos interesses brasileiros nessas mesmas regiões,
uma vez que a segurança e os postos avançados que são construídos pelos
chineses – bem como os portos, ferrovias e outras infraestruturas
materiais e de comunicações – em todos esses países devem aumentar os
fluxos comerciais de todos os participantes da economia global, uma
inserção à qual o Brasil relutantemente busca se adaptar da forma mais
lenta possível.
Se ouso
arriscar uma projeção geopolítica – o que não deveria ser permitido a
diplomatas, mesmo astrólogos –, eu diria que a China vai emergir como
nitidamente vitoriosa dessa Guerra Fria econômica, que não se destina,
obviamente, a confrontar qualquer “adversário estratégico” com a
finalidade de ocupar “espaços vitais” de maneira excludente, ou para
desmantelar a capacidade de resistência desses supostos adversários.
Creio que os analistas sérios saberão reconhecer na Guerra Fria
econômica uma estratégia sofisticada de capacitação própria em “armas
produtivas” e outras ferramentas de projeção estratégica em termos de
serviços, investimentos, finanças, soft power e
outros elementos que integram a interdependência global. A China não
pode se dar ao luxo de criar conflitos até a beira do precipício com
seus principais parceiros, pois é neles que ela se abastece, legal e
ilegalmente, dos bens e da inteligência que são absolutamente
necessários para elevar continuamente o seu povo na escala do bem-estar e
da prosperidade. A potência militar é uma decorrência disso, não o
contrário, como aliás ocorre com qualquer império que se preze (mas
militares e diplomatas tendem a esquecer a verdadeira ordem dos
fatores). Que o Pentágono e seus equivalentes ao redor do mundo,
inclusive na China, mantenham orçamentos superdimensionados e sejam
responsáveis por desperdícios absurdos de recursos, sempre apostando
numa infinita corrida armamentista, mesmo quando não proclamada e
conveniente escondida, tudo isso faz parte da paranoia obrigatória a que
todos os planejadores militares são supostos alimentar, para alimentar
suas próprias carreiras e a irracionalidade das burocracias. A China,
provavelmente, é tão perdulária quanto o Pentágono em seus gastos
militares, e tudo isso se auto-alimenta numa progressão contínua. Mas
ela vai, presumivelmente, ganhar essa guerra fria econômica, pois mantém
a estratégica correta, visando apenas e tão somente o seu interesse
nacional, sem algumas das obrigações “universais”, ou regionais, do
outro grande império (e destinado a sê-lo no futuro previsível).
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O que o Brasil faz, o que ele não faz, e o que ele deveria fazer?
O
Brasil, obviamente, está longe de todos esses cenários estratégicos e,
pelo andar da carruagem, está destinado a permanecer num soberbo
isolacionismo pelos tempos que correm e outros mais à frente. Os
partidários da diplomacia “ativa e altiva” até podem se vangloriar de
terem “colocado o Brasil no mapa do mundo”, mas tudo isso é uma grande
ilusão, fruto da megalomania do grande chefe da organização criminosa e
de alguns assessores diplomáticos. Eles pretendem justificar essa
“grandeza” nacional – mais um resquício da era militar, junto com o
intervencionismo exacerbado, o estatismo irracional, o protecionismo
vergonhoso – agitando a bandeira das chamadas “parcerias estratégicas”,
como Ibas, Brics, com a UE, etc., e alguns outros ativos, como por
exemplo o fato de a China ter se convertido no primeiro parceiro
comercial. Tudo isso, ouso repetir, é uma grande ilusão, a começar por
essa pretensa parceria comercial com a China: a China se abastece no
Brasil como poderia se abastecer em qualquer outro país do mundo nas
mesmas commodities, que, à exceção da jabuticaba (que aliás ainda não
entrou nessa categoria), não são exclusiva de nosso patrimônio natural
ou construído.
A maior
parte dessas alianças, se elas não servem unicamente a fins de prestígio
político dos dirigentes do momento (como é o caso do UE), representa
uma herança mal concebida e mal implementada do lulopetismo diplomático,
com todos os vícios de forma e de substância que isso possa acarretar,
inclusive em termos de passividade diplomática. Os esquemas regionais
constituem, igualmente, um grande empenho de esforços, e portanto de
gastos (sem qualquer análise de custo-benefício), para ganhos muito
circunscritos e que poderiam, nas mais diversas hipóteses, serem
conquistados com uma ação puramente unilateral (abertura voluntária a
todos os parceiros da região, por exemplo, o que conformaria
automaticamente um espaço econômico integrado no continente) ou em bases
bilaterais negociadas com certa generosidade de intenções.
O Brasil
precisa aprender a ficar sozinho, o que não significa ficar isolado do
mundo, muito pelo contrário. O Brasil precisa se integrar ao mundo, e da
maneira a mais ampla possível, mas a maior parte desses grupos age como
um clubinho fechado – desde o Mercosul ao Brics – se congratulando
mutuamente e atuando pela via do mínimo denominador comum, o que é
propriamente péssimo para nosso processo de inserção mundial e de
interdependência global, segundo aqueles melhores valores e princípios
que exibimos frequentemente, pelo menos no plano constitucional. Atuar
em conjunção com ditaduras e autocracias não deveria fazer parte de
nossos exercícios habituais de diplomacia. Ou seja, uma profunda revisão
das escolhas e opções feitas nos últimos quinze anos se impõe de
qualquer maneira aos nossos dirigentes políticos.
O Brasil
não se abre ao comércio internacional, por exemplo, e muitos – não só
no setor privado, mas no âmbito governamental – acham que ele só pode se
abrir a novos patamares de inserção econômica global quando forem
satisfeitas todas estas condições, sucessiva ou simultaneamente: (a) que
se consiga reduzir o “custo Brasil”, que na verdade é o “custo do
Estado brasileiro”, pois até mesmo uma “externalidade” como a (péssima)
educação, em todos os níveis, resulta de falta de ação do Estado, o que
incide sobre nossa baixíssima produtividade; (b) que se possa encontrar
parceiros dispostos a negociar acordos comerciais nos nossos termos (ou
seja, os menos ambiciosos possíveis, descartando todos os penduricalhos
dos acordos de “última geração”); (c) que se observe a mais estrita
reciprocidade em cada um deles.
Não vou
comentar cada um desses aspectos em detalhe, pois isso demandaria uma
outra longa exposição, mas vou dizer simplesmente que a maior parte dos
argumentos em defesa desses requerimentos são francamente ridículos,
pois o esforço próprio, e o interesse também, tem de ser nosso,
unilateralmente, para o nosso próprio bem, não condicionado a quaisquer
pré-condições que se possam estabelecer para nossa integração ao mundo.
Mas o Brasil não falha apenas na área econômica, ele também tropeça, e
se arrasta, penosamente, no domínio político também.
Para
começar, nossa governança é péssima, a despeito de termos construído um
dos Estados mais modernos dentre os países da antiga periferia europeia,
dotado de instituições sofisticadas, mas que funcionam muito mal, em
total descoordenação entre si, a despeito de algumas ilhas de excelência
aqui e ali. Mas, entre nós ainda vigora o velho patrimonialismo de
origem portuguesa, já estudado no clássico de Raymundo Faoro, e
transformado, modernamente, num outro tipo de patrimonialismo, como
estudado, por exemplo, por observadores escrupulosos como Antonio Paim e
Ricardo Vélez-Rodríguez; pode-se até dizer, com base nesses novos
estudos, que já deixamos o velho patrimonialismo tradicional, e
reforçamos tremendamente o “estamento” (à falta de melhor conceito)
burocrático, que chegou até a ser, com os companheiros, um
patrimonialismo de tipo gangster. O Estado brasileiro é hoje um corpo
quase inerme, servindo apenas para a extração de recursos da sociedade
em benefício próprio, com algumas migalhas indo para investimento ou
para fins socialmente úteis, ademais das mais corriqueiras e comezinhas
atividades clássicas. O problema é que ele se colocou demasiadamente à
serviço desses estamentos que o assaltam oficialmente e de uma ampla
gama de capitalistas promíscuos, que o prostram sob os golpes contínuos
de concorrências viciadas, superfaturamentos e propinodutos regulares.
Na área
econômica – mas ela está intimamente vinculada à área política – os
desafios de reformas estruturais são enormes, e o Brasil não decaiu o
suficiente, ainda, ou não teve um choque realmente falimentar, para
obrigar os ineptos e corruptos eleitos e dirigentes a alcançar um
consenso mínimo em vista de reformas significativas. Até quando isso vai
persistir? Difícil dizer: se o Brasil não ficar insolvente,
internamente, nos próximos dois ou três anos, ele vai continuar a se
arrastar penosamente em direção a um futuro incerto, feito de
crescimento medíocre, divisão política exacerbada, ausência de
lideranças suficientemente fortes para catalisar os esforços de uma nova
coalizão política verdadeiramente moderna, e não mentalmente atrasada
como hoje. Ou seja, o Brasil se encontra a meio do caminho entre a
decadência argentina, já longa por sinal, e a inadimplência grega, sem
ter uma coalizão de credores dispostos a salvá-lo do desastre no qual já
se encontra.
Não
tenho muitas razões para ser otimista, inclusive porque vejo outros
países avançando na escala do progresso, enquanto o nosso permanece
paralisado por disputas absolutamente ridículas, algumas até vergonhosas
(como a tentativa da classe política de se safar dos dispositivos
legais que vedam a corrupção nos assuntos públicos). Vamos avançar para
algum lugar? Duvido, pois isso depende de bons diagnósticos e de
prescrições adequadas. Ainda não vi nem uns, nem outros.
Vale!
Sobre o autor
Paulo Roberto de Almeida é diplomata de
carreira e diretor do Instituto de Pesquisa de Relações Internacionais –
IPRI-MRE (paulomre@gmail.com).
Como citar este artigo
Mundorama. "O que esperar de 2017: economia e política internacional, por Paulo Roberto de Almeida".
Mundorama - Revista de Divulgação Científica em Relações Internacionais,. [Acessado em 06/05/2018]. Disponível em: <
https://www.mundorama.net/?p=23347>.