O que é este blog?

Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

sábado, 23 de abril de 2016

China: depois do horror do Grande Salto Para a Frente, o horror da Revolucao Cultural: Frank Dikotter (Cato Institute)

Se estivesse em Washington, iria pessoalmente, inclusive para comprar o livro pessoalmente. Como não estou, vou assistir a palestra online, como abaixo. Frank Dikotter vive em Hong Kong, e publicou, alguns anos atrás, um novo livro sobre o Grande Salto para a Frente, de Mao, entre 1959 e 1962, revisando para cima o número de mortos, para algo entre 30 e 40 milhões de mortos.
Paulo Roberto de Almeida

The Cultural Revolution: A People’s History, 1962–1976
Book Forum
Monday, April 25, 2016
Cato Institute, Washington, DC, 11:00AM - 12:30PM

Featuring the author Frank Dikötter, Chair Professor of Humanities, University of Hong Kong; with comments by Xia Yeliang, Visiting Fellow, Center for Global Liberty and Prosperity, Cato Institute. Moderated by Marian L. Tupy, Editor, www.humanprogress.org, Cato Institute.

After the economic disaster of the Great Leap Forward that claimed tens of millions of lives from 1958–1962, Mao Zedong launched an ambitious scheme to shore up his reputation and eliminate those he viewed as a threat to his legacy. The stated goal of the Cultural Revolution was to purge China of its bourgeoisie and remaining capitalists. The Cultural Revolution soon resulted in street fighting between rival factions. As China descended into chaos, the military intervened, turning the country into a garrison state marked by bloody purges that killed as many as one in 50 people. After the army itself fell victim to the Cultural Revolution, ordinary people used the political chaos to resurrect the market and hollow out the party’s ideology. In short, they buried Maoism. Please join us for a discussion of the horrors of the Cultural Revolution and its unintended consequences.

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Marshall Eakin recebe prêmio de honra na Universidade Vanderbilt (Vanderbilt News)

Meu amigo Marshall C. Eakin, com quem dirigi e editei os dois volumes de estudos brasileiros nos EUA -- O Brasil dos brasilianistas, na edição brasileira, e Envisaging Brazil, na americana -- acaba de ser novamente distinguido com um prêmio de excelência didática em sua universidade:
Paulo Roberto de Almeida 

Eakin receives 2016 Alumni Education Award

Vanderbilt News, April 14, 2016

Dean Benton, Lauren Duncan, Marshall Eakin, Joel Harrington, Jane Landers, Cary Allyn, and Tim Warnock

Marshall Eakin, professor of history, is the recipient of the 2016 Vanderbilt Alumni Education Award.

The Vanderbilt University Alumni Association Board of Directors selected Eakin for his significant contributions to educational programming as a speaker for Commodore Classrooms and the Vanderbilt Travel program.

Board member Tim Warnock, BA’84, presented the award to Eakin April 5 during a surprise visit to a Latin American Studies class. Lauren Benton, dean of the College of Arts and Science, Joel Harrington, Centennial Professor of History, Jane Landers, Gertrude Conaway Vanderbilt Professor of History, Graham Stewart, associate vice chancellor for Alumni Relations, Cary Allyn, director, Vanderbilt Travel Program, and Lauren Duncan, Alumni Board member, were also in attendance.

“After the U.S. and Cuba restored diplomatic relations in 2015, Eakin provided insight into Cuba’s future during Commodore Classrooms held in three cities,” says Warnock. “He also enriched the experience for Vanderbilt Travel Program participants in Brazil.”

This is the second time Eakin has received the Alumni Education Award, a testament to his long history of supporting educational programs for the Alumni Association.

Eakin began teaching at Vanderbilt in 1983 and became the faculty director of the Ingram Scholarship Program in August 2009. He has taught a wide variety of courses in history and Latin American studies at all levels from first-year to Ph.D. students. He is the recipient of two Fulbright-Hayes fellowships, multiple grants and numerous teaching and advising awards.

The Vanderbilt Alumni Association Board of Directors has chosen a faculty member for this honor each year since 1982. He was given a cash prize and a silver tray.

sexta-feira, 22 de abril de 2016

O que fazer com os gramscianos de academia? Nada, ou quase nada - Paulo Roberto de Almeida


O que vai na cabeça dos gramscianos de academia? 

Paulo Roberto de Almeida


Gramscianos de academia é, obviamente, um título genérico, uma marca de fantasia, que dou aos acadêmicos que se alinham com as posições do partido neobolchevique que nos (des)governa, quaisquer que sejam essas políticas e tomadas de posição. Eles apoiam, evidentemente, o partido e o seu chefe, e o título de gramscianos é até um elogio pois a maioria deles, a quase totalidade jamais leu Gramsci, ou Marx, seriamente. Eles apenas refletem uma certa ideologia, um certo consenso mental, em vigor na academia, de que é preciso estar do lado dos "progressistas", os dispensadores de justiça social, dos líderes das causas redistributivas, aqueles que prometem acabar com a exploração imperialista e a super-exploração dos capitalistas nacionais, enfim, todas essas coisas malvadas que estão invariavelmente ligadas aos mercados e ao neoliberalismo.
Eles têm noções muito rudimentares de como funciona o mundo, não têm quase nenhuma formação econômica, e menos ainda como se organiza uma empresa que pretende ser competitiva nos mercados. Eles são apenas professores, ou seja, vivem entre eles, e seus aluninhos passivos e ainda pouco lidos, vivem de livros que são escolhidos entre a literatura convergente nessas teses que foram acima evidenciadas e acham que estão ajudando os pobres e remediados a tentar expropriar os ricos para distribuir aos pobres.
Por que eles continuam apoiando o partido neobolchevique, a despeito de todas as denúncias de crimes e malversações cometidas contra o Estado e a sociedade, de toda a corrupção envolvida nos negócios públicos e privados nos últimos 13 anos (e mesmo antes), apesar da imensa crise econômica e política em que o Brasil se encontra imerso e submergido? Por que?
Eu não sei dizer com exatidão, mas deve ter raízes nessas crenças de caráter religioso ou ideológico, que não podem ser contraditadas mesmo com todas as evidêncas em contrário. Os acadêmicos gramscianis são os true believers da política moderna, os últimos crentes no poder inato do grande líder em trazer justiça social, bem estar e felicidade ao povo de Deus, contra as perversidades dos mercados, dos capitalistas, das elites.
Creio que escapa ao domínio da racionalidade, e não há maneira de desconverter um true believer. Se tornou impossível convencer um true believer que tudo o que ele acreditou até aqui é totalmente equivocado e fadado ao fracasso. Eles continuam a acreditar.
O que vamos fazer?
Com os acadêmicos gramscianos nada, eles são incorrigíveis.
Só nos resta educar os mais jovens, e nisso cabe uma grande responsabilidade àqueles que possuem uma visão um pouco mais sofisticada do mundo, no sentido de também escreverem, publicarem, esclarecerem os mais jovens (e alguns velhos também).
Acho que é isso que deve ser feito, é isso que estou fazendo.


Paulo Roberto de Almeida 
Brasília, 22 de abril de 2016

The Washington Post se pergunta se o impeachment de DR constitui um soft coup

Em longa matéria sobre o impeachment no Brasil, o jornal Washington Post acha que o desrespeito da legislação fiscal é relativamente pequeno.
Não, não é, WP, e foi isso que precipitou a quebradeira econômica do Estado brasileiro e jogou toda a economia no buraco, pois isso vem no seguimento de várias outras medidas ilegais adotadas pelo partido no poder, que chamaram a atenção de toda a cidadania para o lado criminoso desse partido, e para a inépcia da presidente.
Paulo Roberto de Almeida

The Washington Post, April 20, 2016
Is the impeachment trial of Brazil's Dilma Rousseff a coup?

Supporters of Brazilian President Dilma Rousseff, whom the Chamber of Deputies voted to impeach Sunday night, have been calling the proceedings a "coup." Héctor Perla suggested here on Saturday that they constitute a "soft coup." Is Sunday's vote actually a coup?
The short answer: No.
The long answer: No, but it's not exactly democratic either.
[Here's why some people think Brazil is in the middle of a 'soft coup']
Let's discuss what a coup (also known as a coup d'état) is. There are many definitions of coups out there. All have a few elements. (1) Coups seize executive power. (2) They are led by a small group of military officers or occasionally other social elites. (3) They use unconstitutional or "extralegal" means outside the bounds of the existing political system.
Following a constitutional procedure is better than a military overthrow
So if we think of 367 lawmakers as a "small group," what happened Sunday might fit the first and second components of the definition. It definitely doesn't fit the third component: the use of unconstitutional or "extralegal" means. The impeachment case against Dilma Rousseff has proceeded through constitutional channels, following the letter if not the spirit of the law. This is why experts can explain the series of procedures that will follow over the next several months.
Emphasizing constitutional procedure is not technical quibbling. It matters a lot for understanding Brazil today. Not so long ago, Latin American military and civilian elites alike felt confident entirely sidestepping the constitution if they strongly opposed current officeholders. Fifty or 60 years ago, a military and political coalition might have unceremoniously shown a president like Rousseff - one overseeing a severe recession and at loggerheads with parliament - the exit.
Today, threat of military intervention is low, and politicians can't simply muscle Rousseff out. They have to follow complicated, legalistic procedures with uncertain outcomes.
Yes, Rousseff's opponents - including dominant media outlets - are trying to manipulate public opinion. This is a political weapon of the democratic era. Yes, Federal Judge Sergio Moro improperly released bugged recordings of a conversation between Rousseff and former president Luiz Inácio Lula da Silva in his investigation of the Operation Car Wash scandal. Impeachment itself is still constitutional.
In the 1990s, the influential political scientists Juan Linz and Alfred Stepan explained that democracy becomes "the only game in town" when "even in the face of severe political and economic crises, the overwhelming majority of the people believe that ... political change must emerge from within the parameters of democratic procedures," and when everyone becomes "habituated" to political conflict being "resolved according to established norms."
[Do Americans still believe in democracy?]
The fact that Rousseff's supporters and opponents are both following the same rules is no small victory for the rule of law in Brazil.
But neither is it exactly democratic; it's a misuse of democratic procedure
The actual improprieties named in the impeachment charges - balancing the federal budget by reducing and delaying transfers of funds to a government-owned development bank - are relatively minor. Under most conditions, they wouldn't lead to impeachment. As legislators spoke one by one on Sunday night, though, they largely ignored the actual charges.
Perhaps the lowest point of the evening came when one legislator dedicated his pro-impeachment vote to the general who tortured Rousseff during Brazil's 1964-1985 military dictatorship.
Impeachment is not a popularity contest. In 1993, Brazil held an unusual constitutional referendum to decide whether to switch from a presidential to a parliamentary system of government. If the referendum had passed, Rousseff would have been a prime minister, and Brazil's parliament would have used a vote of no confidence to fire her Sunday. But the referendum didn't pass, and Brazil's president can be dismissed only for a limited number of offenses. Juan Linz famously argued that presidentialism can lead to democratic breakdown because presidents and parliaments don't have a way to fire each other when cooperation fails. By misusing the impeachment process, Brazil's parliament has solved this problem.
[It's not just Trump. Authoritarian populism is rising across the West. Here's why.]
Aníbal Pérez-Liñán shows that politics often affect the way Latin American legislatures handle impeachment charges. Sometimes legislatures fail to impeach the guilty, and other times they gang up on an executive against whom there is little proof. What happened Sunday is analogous to jurors ruling against a defendant based not on the charges, but because they think she is a bad person. This does not constitute a coup, but it is a misuse of democratic procedures.
So if the actual charges are minor, why do legislators want to impeach Rousseff?
The first reason for Rousseff's extreme unpopularity is thecountry's major recession. Arguably more important, though, is the ongoing and enormous Operation Car Washcorruption scandal. Even though there is no evidence Rousseff was directly involved, many people believe she must have known what was going on. Her predecessor and mentor Lula is being investigated. Rousseff attracted wrathwhen she attempted to offer Lula a cabinet post, a move that would have protected him from some forms of prosecution. Many elected officials implicated in the scandal appear to be pursuing her to deflect attention from themselves.
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All of this - combined with Rousseff's poor political skills - has led the PT's coalition of relatively small and unruly parties to fall apart. This makes her highly politically vulnerable.
Will impeaching Rousseff actually help legislators avoid scrutiny?
Latin American history provides little guide. Brazil's President Fernando Collor de Mello was impeached in 1992 in a relatively contained corruption scandal.Venezuela lawmakers in 1993 and Ecuadoran lawmakers in 1997 unsuccessfully attempted to contain widespread crises by impeaching presidents.
Still, the strategy may work this time, given the number of lawmakers implicated in Operation Car Wash. Surely it is not actually possible to throw all the bums out. By focusing popular ire on the executive first, at least some corrupt legislators will likely be able to outlast the current crisis.

Comercio em moedas locais no Mercosul: avanco ou problema? - Parlamento do Mercosul e Paulo Roberto de Almeida

Transcrevo, em primeiro lugar, a posição de um parlamentar paraguaio do Parlamento do Mercosul, que se manifesta favoravelmente ao pagamento do comércio local em moedas nacionais, como aliás já se faz entre outros países do bloco.
Muitos consideram isso um avanço, por 'escapar' do dólar ou do euro, mas eu não tenho tanta certeza assim.
Primeiro transcrevo a "ponencia" do deputado, depois agrego meus comentários.
Paulo Roberto de Almeida 

Pago en monedas locales, un adelanto en la Integración Económica Regional
Parlamentario ALFONSO GONZÁLEZ NÚÑEZ
Presidente de la delegación de Paraguay
Fuente: Parlamento del Mercosur, Abril de 2016
http://www.parlamentodelmercosur.org/innovaportal/v/11611/2/parlasur/pago-en-monedas-locales-un-adelanto-en-la-integracion-economica-regional.html

En momentos en que el proceso de avenencia regional adolece de hechos explícitos que abonen un avance sostenido y aprovechable para sus miembros y el conjunto, la decisión de Brasil y Paraguay de adoptar el Sistema de Pago en Monedas Locales (SML), Guaraní y Real en este caso, como régimen para sufragar su comercio bilateral, es un anuncio positivo dirigido a estructurar paulatinamente una aún distante integración económica total en la zona, pero que con este paso se patentiza la voluntad colectiva de desarrollarse al interior del grupo, a partir del empleo de las divisas nacionales como intermediario financiero en el ámbito de las transacciones.
Este mecanismo que tiende a generalizarse en el MERCOSUR, visto que Argentina y Brasil lo utilizan desde octubre del 2008¸ Uruguay y Argentina, desde el 2014; en tanto que Uruguay y Brasil concertaron lo suyo en junio de 2015; Paraguay y Uruguay suscribieron el acuerdo en octubre de 2015. Estas muestras constituyen un empeño de los actores económicos por reducir la supremacía e incluso sustituir el dólar norteamericano y el euro en los intercambios recíprocos, además de valorizar el poder adquisitivo y operativo de las monedas de la comunidad frente a sus sinónimos de acentuada preponderancia internacional, y sortear las dificultades omnipresentes del tipo de cambio.

El SML que faculta a importadores y exportadores a costear sus respectivos negocios en signos monetarios de su país de origen, intensificará y mejorará la calidad de los vínculos comerciales, generará una apreciable reducción de los costos administrativos y financieros de la rutina aduanera y bancaria, y facilitarán la inserción de los pequeños y medianos empresarios de la producción a los esquemas bilaterales de comercialización, habida cuenta que éstos, por su menor liquidez y potencial de desembolso, preferentemente capitalizan en monedas locales.
El fortalecimiento y el sello de competitividad que se imprime a los diferentes instrumentos de pago de circulación legal en los territorios compartidos, es una certificación de jerarquía, un adelanto sustantivo con perspectivas de proyección exterior a plazo todavía impreciso, y tal vez el fundamento para la creación de la moneda única de MERCOSUR en un futuro no precisamente inmediato, sí en etapas más perfeccionadas de la integración, como se constata en la Unión Europea (UE).
La Presidencia de la Delegación de Paraguay en el Parlamento del MERCOSUR considera acertado que nuestra república se haya conectado a ese módulo conviniendo primeramente con Uruguay y luego con el Brasil, y posteriormente con los otros consocios, la legitimación del Guaraní como moneda operativa del Paraguay en el área común, aclarando que en principio tendrá carácter opcional para los agentes de compra/venta, en consonancia con la modalidad en vigor.

Sabido es que la unidad monetaria nacional destaca por su solidez y estabilidad comparativamente con algunos homólogos hostigados por periódicas depreciaciones y devaluaciones, motivo significante para conferirle confianza y crédito en los negocios pactados entre asociados.
Esta variante de pagos supondrá una evolución cualitativa del Guaraní en el espectro internacional, en tiempos en que la plaza paraguaya es objeto de creciente interés por parte de inversores e industriales foráneos, atraídos por las ventajas y concesiones puestas a disposición de la producción manufacturera.
En definitivas, el mercadeo de Paraguay con los demás socios y viceversa validos del SML comporta una señal de madurez, independencia y saludable empuje de los involucrados, que construyendo una identidad distintiva que los singularice escogen solventar sus actividades comerciales con circulantes propios, proporcionando un matiz de superación a la interacción intra bloque.

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Meu comentário (PRA): 

Não estou tão seguro que tenha sido uma boa decisão, não esta atual, que é mera consequência, mas a original, Brasil e Argentina em 2008.
Difícil fazer uma avaliação criteriosa sem informações fiáveis, ou seja, quanto do comércio intra-Mercosul é feito em divisas (dólar, provavelmente) e quanto em moedas locais. Seria preciso que a Secex e o Banco Central (que administra os pagamentos externos) fizessem um balanço completo dessas operações e explicassem os mecanismos de liquidação dos pagamentos.
Nenhuma das moedas do Mercosul é uma divisa, ou seja, livremente conversíveis, mas são utilizadas com maior liberdade do que no passado, para fins de turismo, de comércio local (ou seja, transfronteiriço) e mesmo para envio entre particulares.
Outra é a situação das transações correntes e das operações comerciais de importação e exportação, ao abrigo de cartas de crédito abertas por bancos privados ou mesmo por bancos estatais em cada um dos países.
Todos esses países possuem um registro dessas operações com o exterior, e procuram concentrar essas operações, e sua liquidação real, em pagamentos efetivos, em alguma moeda exclusiva, para fins de unidade, uniformização e homogeneidade dos registros.
Durante mais de um século, o Brasil operou em libras esterlinas, mas em 1939 passamos para a esfera do dólar, já que o cruzeiro não era, nunca foi (como foram seus sucessores) uma moeda totalmente conversível.
Ora, qualquer operação de pagamento externo, seja para comércio seja para qualquer outra finalidade, envolve certo risco cambial, ou seja, saber se ao contratar a operação a equivalência vai ser mantida ao liquidá-la efetivamente, isto é, a paridade de início e a paridade de finalização. Isso envolve certo risco, e perdas pequenas podem ser admitidas, mas perdas grandes podem ser um grande problema para quem garantiu o câmbio numa determinada paridade e depois precisa desembolsar bem mais para liquidar a operação.
Nos créditos comerciais, se costuma fazer um seguro, um pequeno percentual que fica com o agente encarregado da liquidação, qualquer que seja o câmbio real.
Mas, como as moedas locais do Mercosul são não conversíveis, e geralmente voláteis, quem é que vai liquidar essa operação se os agentes fogem do dólar, e dos seguros comerciais e se refugiam nas moedas locais que precisam ser operadas pelos bancos centrais, que garantiram que essa operação pode ser feita?
Será que é função dos bancos centrais garantir riscos comerciais (isto é, assumi-los, de verdade) de agentes privados? Ou seja, os bancos centrais, ademais de todos os gastos administrativos -- pois precisam abrir novas janelas de contabilização de operações comerciais em outras moedas que não o dólar -- vão passar a garantir também o câmbio para essas operações privadas, ou seja, puramente comerciais? Eles assumem os riscos e cobrem os custos?
Não creio que seja uma boa solução. Preferiria que os países trabalhassem no sentido de tornar suas moedas plenamente conversíveis, o que implica diminuir a inflação, os riscos de volatilidade excessiva, ou simplesmente deixar tudo como está: o dólar é, de fato, uma moeda internacional, e todo mundo sabe quanto vale a todos momento.
Deixem os agentes privados comerciar nas moedas que quiserem, mas os bancos centrais vão continuar registrando em dólares, e o risco fica com os particulares e com os bancos, não com os bancos centrais.
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 22/04/2016