O artigo abaixo não é recente, a despeito de estar sendo publicado apenas agora pelo jornal Valor Econômico, que não indica a fonte original e sua data. Lembro-me de tê-lo lido há algum tempo, provavelmente no Financial Times.
Mesmo tarde, o debate que ele promove, conserva toda a atualidade e mantém seu "frescor", digamos assim (sem nenhuma intenção de fazer jogo de palavras ou trocadilhos infames).
Os acadêmicos não são tão inconsequentes assim. Muitos previram, sim, avisaram, vários anos antes, mas, no meio da euforia, não quiseram acreditar...
O preço a pagar pela temeridade e descuido irresponsável foi muito alto, sobretudo para os EUA, que terão uma herança pesada pela frente, em termos de desemprego (que vai ser reabsorvido, em algum momento) e de dívida pública (que vai ficar pelas duas próximas gerações, pelo menos).
Paulo Roberto de Almeida
A academia não previu a crise?
Raghuram Rajan
Valor Econômico, 21/02/2011
No auge da crise financeira, a rainha da Inglaterra fez uma simples pergunta a meus colegas na London School of Economics, mas uma pergunta para a qual não havia resposta fácil: Por que os economistas acadêmicos deixaram de prever a crise?
Há várias respostas para essa pergunta. Uma é que os economistas não tinham modelos capazes de levar em conta o comportamento que levou a essa crise. Outra é que eles tiveram a visão obscurecida pela ideologia de que mercados livres e irrestritos não podiam fazer nada errado. Por fim, a resposta que vem ganhando terreno é a de que o sistema subornou os economistas para que silenciassem. Para mim a verdade é outra.
Não é verdade que nós acadêmicos não tínhamos modelos aplicáveis para explicar o acontecido. Se você acreditar que a crise foi provocada por falta de liquidez, tínhamos modelos de sobra analisando a escassez de liquidez e seus efeitos nas instituições financeiras. Se você acreditar que a culpa foi de banqueiros gananciosos e investidores descuidados, confiantes na promessa de resgates governamentais, ou de um mercado que enlouqueceu com a exuberância irracional, também havíamos estudado tudo isso, detalhadamente.
Economistas haviam analisado até a economia política da regulamentação e desregulamentação, portanto, poderíamos ter compreendido por que alguns políticos americanos encorajaram o setor privado a financiar residências acessíveis, enquanto outros desregulamentavam as finanças privadas. Ainda assim, de alguma forma, não trouxemos esse conhecimento à luz nem gritamos em coro nossas advertências.
Talvez o motivo tenha sido a ideologia: estávamos muito devotados à ideia de que os mercados são eficientes, que os agentes do mercado são racionais e que os altos preços se justificavam por fundamentos econômicos. Mas parte dessas críticas ao "fundamentalismo de mercado" reflete um engano. A "teoria dos mercados eficientes" dominante diz apenas que os mercados refletem o que é conhecido publicamente e que é difícil ganhar dinheiro em mercados de forma consistente - algo verificado pelo golpe desferido pela crise na maioria das carteiras de investimento dos investidores. A teoria não diz que os mercados não podem despencar se as notícias forem ruins ou se os investidores se tornarem avessos ao risco.
O verdadeiro motivo pelo qual os economistas deixaram de prever a crise pode ser bem mais mundano do que modelos inadequados, cegueira ideológica ou corrupção e, portanto, muito mais preocupante: muitos apenas não estavam prestando atenção!
Críticos argumentam que os fundamentos estavam nitidamente se deteriorando e que o mercado (e economistas) os ignoraram. Mas olhar de forma retrospectiva distorce essa análise. Não podemos citar uma única Cassandra, como Robert Shiller, da Yale University, que regularmente alertava para a insustentabilidade dos preços imobiliários, como prova de que a verdade foi ignorada. Sempre há fatalistas e, com frequência, eles estão errados. Era bem maior o número de economistas dizendo que os preços imobiliários, apesar de altos, dificilmente cairiam de forma generalizada.
Certamente, essas expectativas podem ter sido distorcidas pela ideologia - é difícil saber o que se passava pela mente dos economistas. Mas há um motivo melhor para ser cético quanto às explicações que recaem na questão ideológica. Como grupos, nem os economistas comportamentais, para quem a eficiência dos mercados é uma piada, nem os economistas progressistas, que não confiam nos livres mercados, previram a crise.
Seria, então, a corrupção? Alguns acadêmicos são consultores de bancos ou agências avaliadoras de risco de crédito, proferem discursos em conferências de investidores e desenvolvem análises patrocinadas. Seria natural suspeitar de nossa imparcialidade. A tendenciosidade pode ser implícita: nossa visão de mundo é modelada pelo que nossos amigos no setor profissional acreditam. Ou pode ser explícita: um economista pode escrever um informe influenciado pelo que o patrocinador quer ouvir ou dar um testemunho que seja puramente mercenário.
Há casos suficientes de possível tendenciosidade para que a questão não possa ser ignorada. Um remédio seria proibir toda a interação entre economistas e o mundo empresarial. Mas se os economistas ficassem confinados em sua torre de marfim, até poderíamos ficar imparciais, mas também ignoraríamos as questões práticas - e, portanto, ficaríamos ainda menos capazes de prever problemas. Uma forma de recuperar a confiança pode ser a transparência - que os economistas declarem interesse monetário em determinadas análises e que, de forma mais geral, expliquem quem os pagam. Várias universidades começam a seguir esse caminho.
Acredito, no entanto, que a corrupção não foi o principal motivo que levou a profissão a deixar de prever a crise. A maioria dos economistas tem pouca interação com o mundo empresarial e esses economistas "imparciais" não se saíram nada melhor em antecipar a crise.
Eu argumentaria que três fatores explicam nosso fracasso coletivo: especialização, a dificuldade de se fazer previsões e o descolamento entre boa parte da profissão e o mundo real.
Assim como a medicina, a economia tornou-se altamente compartimentalizada - os macroeconomistas normalmente não prestam atenção ao que os economistas financeiros ou economistas do setor imobiliário estudam e vice-versa. Para ver a crise chegando seria necessário alguém que conhecesse todas essas áreas- da mesma forma que é necessário um clínico geral para reconhecer alguma doença exótica. Como a profissão recompensa apenas análises cuidadosas e bem fundamentadas, mas necessariamente restritas, poucos economistas tentam atravessar subcampos.
Mesmo se o fizessem, teriam receio em fazer previsões. A principal vantagem dos economistas acadêmicos em relação aos profissionais das previsões talvez seja seu forte conhecimento das relações estabelecidas entre fatores. O mais difícil de prever, contudo, são os pontos de inflexão - quando as antigas relações existentes se desmancham. Embora possam existir alguns fatores que indiquem esses pontos de virada - o acúmulo na alavancagem de curto prazo e os preços dos ativos, por exemplo, pressagiam crises -, não são indicadores infalíveis de problemas por vir.
Os poucos benefícios profissionais recompensando a amplitude das análises, aliados à imprecisão e risco de reputação associadas às previsões, desmotivam a maioria dos acadêmicos. E também, perfeitamente, pode ser que os economistas acadêmicos tenham pouco a dizer sobre movimentos econômicos de curto prazo, de forma que achem melhor deixar as previsões, com todos seus erros, aos profissionais das projeções.
O perigo é que o descolamento em relação aos acontecimentos de curto prazo leve economistas acadêmicos a ignorar tendências de médio prazo que eles têm condições de abordar. Nesse caso, o verdadeiro motivo pelo qual os economistas deixaram de prever a crise poderia ser bem mais mundano do que modelos inadequados, cegueira ideológica ou corrupção e, portanto, muito mais preocupante: muitos, simplesmente, não estavam prestando atenção!
Raghuram Rajan é professor de Finanças na Booth School of Business, da University of Chicago, e autor de "How Hidden Fractures Still Threaten the World Economy" ("Como as fraturas ocultas ainda ameaçam a economia mundial", em inglês).
Temas de relações internacionais, de política externa e de diplomacia brasileira, com ênfase em políticas econômicas, viagens, livros e cultura em geral. Um quilombo de resistência intelectual em defesa da racionalidade, da inteligência e das liberdades democráticas. Ver também minha página: www.pralmeida.net (em construção).
segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011
domingo, 20 de fevereiro de 2011
"Progressos" da educacao brasileira: continuando um velho debate
Tem gente que não gosta de contemplar a realidade. Eu prefiro ver o mundo como ele é.
Por isso, de vez em quando, sem tempo para elaborar a respeito, permito-me postar aqui comentários de um jornalista conhecido que tem o dom de atrair almas ingênuas, que se sentem violentadas em seu desejo de ver em Paulo Freire e outros epígonos da idiotice nacional sumidades extraordinárias, quando eles só serviram para atrasar nossa educação.
Enfim, segue a provocação...
Paulo Roberto de Almeida
CAI DE NOVO A MÁSCARA DOS PETISTAS: MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO QUER PROGRESSÃO CONTINUADA NO BRASIL INTEIRO; NA CAMPANHA, PARA ATINGIR SP, DILMA E MERCADANTE ATACARAM MODELO
Reinaldo Azevedo, 20/02/2011
Alguns leitores até de boa-fé me indagam de vez em quando se não exagero nas críticas ao PT. Bem, a resposta vai nos meus textos. Se eu achasse que sim, certamente mudaria de rumo. A exemplo da maioria dos que me lêem, também me quero um homem justo. O que posso fazer se a amoralidade dessa gente me enoja? Se vocês quiserem saber, incomoda-me menos o que pensam os petistas — embora absolutamente não me agrade — do que o que eles não pensam. “O que eles NÃO PENSAM o incomoda, Reinaldo? O que isso quer dizer?” Que seu escandaloso oportunismo corrói as noções elementares da civilidade política e impede o confronto honesto de idéias. São, antes de mais nada, agentes da vulgarização da mentira e da trapaça política. Seu único princípio — único — é conquistar o poder e nele permanecer. Os adversários de véspera podem se tornar aliados fraternos desde que aceitem se submeter às diretrizes do partido — e, nesse caso, o PT também sabe ser generoso. Lula, por palavras oblíquas, já chamou José Sarney de bandido em palanque. Hoje, o amor entre ambos é inquebrável e inquebrantável. Quem mudou? Nenhum dos dois! Feita essa consideração inicial, peço que vocês leiam um trecho de reportagem da VEJA desta semana.
Uma nova diretriz do Ministério da Educação (MEC) pode levar a uma transformação radical nas escolas brasileiras - públicas e particulares. Trata-se de abolir a repetência até o 3° ano do ensino fundamental, fase crucial da vida escolar, em que as crianças são alfabetizadas e começam a cultivar curiosidade pelos estudos. Caberá às escolas e às redes de ensino decidir se adotarão o sistema, mas, à luz da experiência com esse tipo de sinalização oficial, pode-se esperar que a maioria siga o ministério. É notícia que, à primeira vista, causa apreensão quanto à preservação da cobrança e do mérito, ingredientes essenciais para o progresso acadêmico. O bem-sucedido exemplo internacional pode ser útil ao Brasil. Países que aplicam modelo semelhante, como França e Japão, têm alcançado ótimos resultados, renovando o interesse pela sala de aula entre os alunos com mais dificuldade e reduzindo a evasão escolar”.
Voltei [RA]
Vocês leram direito. O ministro Fernando Haddad, da Educação, recomenda que se estenda ao Brasil inteiro a progressão continuada. Os leitores — e eleitores — de São Paulo, onde vigora o modelo, devem estar escandalizados. Aloizio Mercadante, hoje ministro da Ciência e Tecnologia (Jesus!), candidato ao governo de São Paulo, atacava a progressão com unhas, dentes e bigode — idéias, não, que seria pedir demais! Ela seria fonte de todos os males da educação no estado.
Em seu primeiro pronunciamento oficial, Dona Dilma Primeira, a Muda, falou sobre educação. E lá está uma menção oblíqua — e crítica — ao modelo vigente em São Paulo. Nos debates eleitorais, a então candidata do PT fustigou o sistema. No governo há menos de dois meses, ficamos sabendo que a prática deve ser estendida a todo país. E essa gente se olha no espelho e deve gostar do que vê! É um misto de psicopatia com sociopatia.
Atenção, leitores! Eu, pessoalmente, não gosto da dita progressão. Gente que entende da área me diz, no entanto, que, bem-aplicados um modelo ou outro (este ou o seriado), os resultados são mais ou menos equivalentes. A vantagem da progressão está em evitar a repetência numa fase em que o correto é aproximar o aluno da escola. Pois é… Por razões puramente políticas, por vigarice partidária, o modelo foi impiedosamente espancado na campanha eleitoral. Aderindo ao discurso mais bucéfalo, mas atrasado, mais canalha, os petistas passaram a chamá-lo de “aprovação automática”. Boa parte da imprensa, sempre tão apegada ao “progressismo”, assistiu calada à depredação dos fatos e da verdade.
O mais impressionante é que foi o PT que introduziu o modelo no país: Paulo Freire, então secretário da educação de Luíza Erundina na Prefeitura de São Paulo, implementou a progressão nas escolas municipais. Outras cidades aderiram. E então se expõe, mais uma vez, a natureza desse partido: o modelo que ele mesmo abraçou pode ser alvo do ataque mais feroz se for para atingir um adversário. A lista das “coisas que o PT não pensa” é gigantesca. O partido vai fazendo escolhas segundo as necessidades da hora.
Haddad vai tentar escapar: a resolução em favor da progressão continuada é do Conselho Nacional de Educação, não dele. Não tem força de lei. Trata-se de uma recomendação — RECOMENDAÇÃO ESTA QUE, ATENÇÃO, FOI HOMOLOGADA PELO MINISTRO AINDA NO FIM DO GOVERNO LULA. Vale dizer: enquanto Mercadante descia o sarrafo na progressão em São Paulo e Dilma fazia o mesmo em rede nacional, o ministro da Educação do PT, referendado no governo Dilma, abraçava a… progressão continuada!
Onde estava essa gente?
Informa o Estadão:
“O ensino fundamental tem 31 milhões de alunos estudando em 152 mil escolas, segundo o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep). Desse total, aproximadamente dez milhões estão matriculados nos três primeiros anos desse ciclo. Em 2009, a taxa de reprovação desses dez milhões de alunos foi de 5,1%. O índice é considerado alto pelos especialistas em pedagogia. ‘Isso mostra que, de cada cem crianças, cinco ainda são reprovadas logo que ingressam na escola. As pesquisas apontam que, se o aluno é reprovado nessa fase, dificilmente terá sucesso. A recomendação do CNE é para garantir que todas as crianças estejam alfabetizadas até os oito anos’, diz a secretária de Educação Básica do MEC, Maria do Pilar Lacerda.”
Onde estava Maria do Pilar durante a campanha eleitoral? Assistiu, então, calada à depredação da verdade? “Ah, mas progressão precisa de programas que estimulem os alunos e professores…” Pois é! Justamente o que havia e há ainda em São Paulo: dois professores no primeiro ano da alfabetização, programa de reciclagem de professores, promoção por mérito, premiação para as escolas que atinjam metas… Fez-se tábula rasa de tudo isso: permitiram que os hunos, especialmente o de bigode, atacassem o modelo da maneira mais primitiva, ignorando-se, inclusive, os números positivos que a reestruturação da educação em São Paulo passou a exibir.
Vejam este vídeo com Mercadante na sabatina da Folha. Ele promete acabar com a “progressão continuada” que, àquela altura, já havia sido homologada pelo também petista Fernando Haddad. Assistam. Volto em seguida:
(ver neste link)
Mercadante prometia dar o que já existe aula de reforço. É claríssimo: poria fim à progressão continuada, mas “sem reprovação, gente!”. Ah, entendi! E, como se nota, o Rio, que Dilma tomou como modelo de segurança pública, era o modelo de educação do petista… Todo esse talento está agora a serviço da “ciência e tecnologia”… Ao fim de quatro anos, talvez os brasileiros já tenham aprendido a subir em árvores. Andar de cipó, só no estágio seguinte!
“Ah, mas por que você pega no pé dos petistas?” Acho que esse texto responde. E corrijo: pego “nos pés” — em todos os que eles têm!
Por isso, de vez em quando, sem tempo para elaborar a respeito, permito-me postar aqui comentários de um jornalista conhecido que tem o dom de atrair almas ingênuas, que se sentem violentadas em seu desejo de ver em Paulo Freire e outros epígonos da idiotice nacional sumidades extraordinárias, quando eles só serviram para atrasar nossa educação.
Enfim, segue a provocação...
Paulo Roberto de Almeida
CAI DE NOVO A MÁSCARA DOS PETISTAS: MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO QUER PROGRESSÃO CONTINUADA NO BRASIL INTEIRO; NA CAMPANHA, PARA ATINGIR SP, DILMA E MERCADANTE ATACARAM MODELO
Reinaldo Azevedo, 20/02/2011
Alguns leitores até de boa-fé me indagam de vez em quando se não exagero nas críticas ao PT. Bem, a resposta vai nos meus textos. Se eu achasse que sim, certamente mudaria de rumo. A exemplo da maioria dos que me lêem, também me quero um homem justo. O que posso fazer se a amoralidade dessa gente me enoja? Se vocês quiserem saber, incomoda-me menos o que pensam os petistas — embora absolutamente não me agrade — do que o que eles não pensam. “O que eles NÃO PENSAM o incomoda, Reinaldo? O que isso quer dizer?” Que seu escandaloso oportunismo corrói as noções elementares da civilidade política e impede o confronto honesto de idéias. São, antes de mais nada, agentes da vulgarização da mentira e da trapaça política. Seu único princípio — único — é conquistar o poder e nele permanecer. Os adversários de véspera podem se tornar aliados fraternos desde que aceitem se submeter às diretrizes do partido — e, nesse caso, o PT também sabe ser generoso. Lula, por palavras oblíquas, já chamou José Sarney de bandido em palanque. Hoje, o amor entre ambos é inquebrável e inquebrantável. Quem mudou? Nenhum dos dois! Feita essa consideração inicial, peço que vocês leiam um trecho de reportagem da VEJA desta semana.
Uma nova diretriz do Ministério da Educação (MEC) pode levar a uma transformação radical nas escolas brasileiras - públicas e particulares. Trata-se de abolir a repetência até o 3° ano do ensino fundamental, fase crucial da vida escolar, em que as crianças são alfabetizadas e começam a cultivar curiosidade pelos estudos. Caberá às escolas e às redes de ensino decidir se adotarão o sistema, mas, à luz da experiência com esse tipo de sinalização oficial, pode-se esperar que a maioria siga o ministério. É notícia que, à primeira vista, causa apreensão quanto à preservação da cobrança e do mérito, ingredientes essenciais para o progresso acadêmico. O bem-sucedido exemplo internacional pode ser útil ao Brasil. Países que aplicam modelo semelhante, como França e Japão, têm alcançado ótimos resultados, renovando o interesse pela sala de aula entre os alunos com mais dificuldade e reduzindo a evasão escolar”.
Voltei [RA]
Vocês leram direito. O ministro Fernando Haddad, da Educação, recomenda que se estenda ao Brasil inteiro a progressão continuada. Os leitores — e eleitores — de São Paulo, onde vigora o modelo, devem estar escandalizados. Aloizio Mercadante, hoje ministro da Ciência e Tecnologia (Jesus!), candidato ao governo de São Paulo, atacava a progressão com unhas, dentes e bigode — idéias, não, que seria pedir demais! Ela seria fonte de todos os males da educação no estado.
Em seu primeiro pronunciamento oficial, Dona Dilma Primeira, a Muda, falou sobre educação. E lá está uma menção oblíqua — e crítica — ao modelo vigente em São Paulo. Nos debates eleitorais, a então candidata do PT fustigou o sistema. No governo há menos de dois meses, ficamos sabendo que a prática deve ser estendida a todo país. E essa gente se olha no espelho e deve gostar do que vê! É um misto de psicopatia com sociopatia.
Atenção, leitores! Eu, pessoalmente, não gosto da dita progressão. Gente que entende da área me diz, no entanto, que, bem-aplicados um modelo ou outro (este ou o seriado), os resultados são mais ou menos equivalentes. A vantagem da progressão está em evitar a repetência numa fase em que o correto é aproximar o aluno da escola. Pois é… Por razões puramente políticas, por vigarice partidária, o modelo foi impiedosamente espancado na campanha eleitoral. Aderindo ao discurso mais bucéfalo, mas atrasado, mais canalha, os petistas passaram a chamá-lo de “aprovação automática”. Boa parte da imprensa, sempre tão apegada ao “progressismo”, assistiu calada à depredação dos fatos e da verdade.
O mais impressionante é que foi o PT que introduziu o modelo no país: Paulo Freire, então secretário da educação de Luíza Erundina na Prefeitura de São Paulo, implementou a progressão nas escolas municipais. Outras cidades aderiram. E então se expõe, mais uma vez, a natureza desse partido: o modelo que ele mesmo abraçou pode ser alvo do ataque mais feroz se for para atingir um adversário. A lista das “coisas que o PT não pensa” é gigantesca. O partido vai fazendo escolhas segundo as necessidades da hora.
Haddad vai tentar escapar: a resolução em favor da progressão continuada é do Conselho Nacional de Educação, não dele. Não tem força de lei. Trata-se de uma recomendação — RECOMENDAÇÃO ESTA QUE, ATENÇÃO, FOI HOMOLOGADA PELO MINISTRO AINDA NO FIM DO GOVERNO LULA. Vale dizer: enquanto Mercadante descia o sarrafo na progressão em São Paulo e Dilma fazia o mesmo em rede nacional, o ministro da Educação do PT, referendado no governo Dilma, abraçava a… progressão continuada!
Onde estava essa gente?
Informa o Estadão:
“O ensino fundamental tem 31 milhões de alunos estudando em 152 mil escolas, segundo o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep). Desse total, aproximadamente dez milhões estão matriculados nos três primeiros anos desse ciclo. Em 2009, a taxa de reprovação desses dez milhões de alunos foi de 5,1%. O índice é considerado alto pelos especialistas em pedagogia. ‘Isso mostra que, de cada cem crianças, cinco ainda são reprovadas logo que ingressam na escola. As pesquisas apontam que, se o aluno é reprovado nessa fase, dificilmente terá sucesso. A recomendação do CNE é para garantir que todas as crianças estejam alfabetizadas até os oito anos’, diz a secretária de Educação Básica do MEC, Maria do Pilar Lacerda.”
Onde estava Maria do Pilar durante a campanha eleitoral? Assistiu, então, calada à depredação da verdade? “Ah, mas progressão precisa de programas que estimulem os alunos e professores…” Pois é! Justamente o que havia e há ainda em São Paulo: dois professores no primeiro ano da alfabetização, programa de reciclagem de professores, promoção por mérito, premiação para as escolas que atinjam metas… Fez-se tábula rasa de tudo isso: permitiram que os hunos, especialmente o de bigode, atacassem o modelo da maneira mais primitiva, ignorando-se, inclusive, os números positivos que a reestruturação da educação em São Paulo passou a exibir.
Vejam este vídeo com Mercadante na sabatina da Folha. Ele promete acabar com a “progressão continuada” que, àquela altura, já havia sido homologada pelo também petista Fernando Haddad. Assistam. Volto em seguida:
(ver neste link)
Mercadante prometia dar o que já existe aula de reforço. É claríssimo: poria fim à progressão continuada, mas “sem reprovação, gente!”. Ah, entendi! E, como se nota, o Rio, que Dilma tomou como modelo de segurança pública, era o modelo de educação do petista… Todo esse talento está agora a serviço da “ciência e tecnologia”… Ao fim de quatro anos, talvez os brasileiros já tenham aprendido a subir em árvores. Andar de cipó, só no estágio seguinte!
“Ah, mas por que você pega no pé dos petistas?” Acho que esse texto responde. E corrijo: pego “nos pés” — em todos os que eles têm!
Trem bala: nao dou uma bala por ele - Roberto Macedo
Já que estamos falando do "assalto (não ao, mas) do trem pagador", segue mais um artigo contra esse empreendimento criminoso.
Eu só teria uma pergunta aos economistas do BNDES (sim, ainda deve existir economistas, e não apenas funcionários públicos nessa entidade): eles não têm nada a dizer sobre esse tipo de empreendimento maluco, não existe nenhum com honestidade suficiente para se colocar contra esse projeto criminoso (e vários outros mais) ?
Será que o país está totalmente consumido pela ação estatal que as pessoas de bem, cidadãos que pagam impostos, não conseguem mais pensar, ou expressar o que pensam?
Paulo Roberto de Almeida
Trem-bala, trem doido
Roberto Macedo
O Estado de S.Paulo, 17 de fevereiro de 2011
Pode parecer estranho que este mineiro seja contrário ao projeto do Trem de Alta Velocidade (TAV) que ligaria Campinas ao Rio de Janeiro via São Paulo, porque sabidamente gostamos de trens. Contudo, esse TAV merece a execração de todos os que se empenham no uso de recursos públicos em projetos que econômica e socialmente se justifiquem. E que também não se conformam em ver um projeto deste alcance - e de nome também apropriado à ligeireza de seu preparo - que se quer empurrar goela abaixo da sociedade sem uma ampla e profunda discussão, provavelmente temida pelo governo pelo que traria de contraditório.
Como economista, sou também alérgico a uma proposta que não passaria pelo exame de um curso de análise econômica e social de projetos, tamanhos os despautérios que apresenta. Em Portugal, 28 economistas de prestígio assinaram em 2009 manifesto contrário a projetos locais desse tipo. Na linguagem típica de seu país, e com fundamentos nessa análise, há um diagnóstico que vejo também aplicável ao Brasil. Assim, afirmam que "...estudos parcelares disponibilizados sobre a sua rentabilidade econômica e social (mesmo se baseados em pressupostos optimistas), mostram que sua contribuição previsível para a essência econômica do País é muito diminuta, e pode ser até amplamente negativa em termos de Rendimento Nacional. E tem elevados custos de oportunidade no que toca aos fundos públicos, aos apoios da União Europeia e aos financiamentos (dívida externa) da Banca Nacional e do Banco Europeu de Investimentos. ...Tais estudos também evidenciam que, pelo menos na primeira década de exploração, não haverá procura suficiente para a rentabilização econômica e social de tão pesados investimentos. Irão originar, por conseguinte, prejuízos de exploração significativos, a serem suportados pelo contribuinte." (www.static.publico.clix.pt/docs/economia/apelo_economistas.pdf).
Transpondo essa avaliação para o projeto do TAV brasileiro, quanto aos fundos públicos eles serão imensos. Estima-se que o valor presente do custo para o erário seria, na hipótese mais otimista, de R$ 14 bilhões e, na mais pessimista, de R$ 36,4 bilhões. Ora, a própria discrepância desses números revela os enormes graus de incerteza e de risco que marcam o projeto, além de a experiência nacional mostrar que hipóteses pessimistas de custo são as mais atingidas, e frequentemente ultrapassadas.
Quanto ao "custo de oportunidade", ou seja, relativamente a projetos alternativos, não é preciso muita ciência para perceber que nessa área de transportes os recursos previstos para o TAV poderiam encontrar retorno econômico e social muito maior. Em particular, se aplicados nas grandes cidades ao transporte de passageiros que nelas gastam várias horas se locomovendo no vaivém de casa para o trabalho, entre outros movimentos.
Não há como resolver esse problema, que exige redes metroviárias entre outros vultosos investimentos, apenas com recursos estaduais e municipais. Supondo que o custo do TAV alcançasse perto de R$ 40 bilhões, isso daria para fazer 100 km de metrôs nessas cidades, a um custo estimado para São Paulo. Contudo, o governo federal, com os muito maiores recursos de que dispõe relativamente a esses outros entes federativos, deixa-os à míngua nessa área, e quer porque quer levar adiante esse TAV baseado em benefícios no plano das miragens.
Quanto à Banca Nacional, no caso o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), prevê-se que este abriria suas torneiras de recursos e subsídios para o financiamento do TAV, a um custo de R$ 4,8 bilhões só no segundo item. E há mais subsídios, pois, para garantir a realização do leilão do TAV, o governo vem estimulando interessados, que não são bobos, por meio de garantia da demanda de passageiros, a um custo que poderá alcançar R$ 5 bilhões.
Em contraponto ao projeto, no Brasil o economista que mais se tem destacado é Marcos Mendes, doutor em Economia pela USP e consultor legislativo do Senado. A última versão de sua importantíssima contribuição, da qual retiramos alguns dos números acima, pode ser consultada em www.senado.gov.br/senado/conleg/textos_discussao/NOVOS%20TEXTOS/Texto82-Marcos%20Mendes.pdf.
Na mais recente cartada para atrair interessados na empreitada, o governo federal novamente forçou a barra e na aventura envolveu tanto os Correios como a Eletrobrás como participantes. O grande mistério do projeto é que forças o levam adiante em Brasília. Transparecem governantes megalomaníacos, políticos inescrupulosos, construtoras e investidores em alvoroço e traços de uma futura grande festa regada a doações para campanhas eleitorais.
De estranhar também a atitude do tradicional lobby ecológico, estimulado também de fora para dentro do País, que se manifesta tão agressivamente contra novas hidrelétricas na Amazônia, mas tem praticamente ignorado o TAV, apesar dos enormes danos ambientais que traria à região de seu trânsito. Ele não admite passagens de nível, exige cercas fortificadas, muitas linhas retas e curvas de grande arco, atropelando assim o que viesse pela frente, como nascentes, córregos, rios, várzeas, mata nativa e tudo o mais. Tampouco as comunidades em torno do trajeto projetado acordaram para esses e outros danos, inclusive a possibilidade de sua divisão em partes.
E mais: com o projeto e seu leilão para abril retomando velocidade, o TAV já segue na contramão fiscal mesmo antes de ser construído. A atitude do governo, que hoje se diz seriamente empenhado em ajustar suas contas a uma grave realidade, inclusive no plano da inflação, não condiz com seu renovado empenho no projeto. Sua tarefa hoje é recuperar a confiança da sociedade na sua política econômica, o que é indispensável à eficácia dela e que um trem doido como esse só pode atrapalhar.
ECONOMISTA (UFMG, USP E HARVARD), PROFESSOR ASSOCIADO À FAAP E VICE-PRESIDENTE DA ASSOCIAÇÃO COMERCIAL DE SÃO PAULO.
Eu só teria uma pergunta aos economistas do BNDES (sim, ainda deve existir economistas, e não apenas funcionários públicos nessa entidade): eles não têm nada a dizer sobre esse tipo de empreendimento maluco, não existe nenhum com honestidade suficiente para se colocar contra esse projeto criminoso (e vários outros mais) ?
Será que o país está totalmente consumido pela ação estatal que as pessoas de bem, cidadãos que pagam impostos, não conseguem mais pensar, ou expressar o que pensam?
Paulo Roberto de Almeida
Trem-bala, trem doido
Roberto Macedo
O Estado de S.Paulo, 17 de fevereiro de 2011
Pode parecer estranho que este mineiro seja contrário ao projeto do Trem de Alta Velocidade (TAV) que ligaria Campinas ao Rio de Janeiro via São Paulo, porque sabidamente gostamos de trens. Contudo, esse TAV merece a execração de todos os que se empenham no uso de recursos públicos em projetos que econômica e socialmente se justifiquem. E que também não se conformam em ver um projeto deste alcance - e de nome também apropriado à ligeireza de seu preparo - que se quer empurrar goela abaixo da sociedade sem uma ampla e profunda discussão, provavelmente temida pelo governo pelo que traria de contraditório.
Como economista, sou também alérgico a uma proposta que não passaria pelo exame de um curso de análise econômica e social de projetos, tamanhos os despautérios que apresenta. Em Portugal, 28 economistas de prestígio assinaram em 2009 manifesto contrário a projetos locais desse tipo. Na linguagem típica de seu país, e com fundamentos nessa análise, há um diagnóstico que vejo também aplicável ao Brasil. Assim, afirmam que "...estudos parcelares disponibilizados sobre a sua rentabilidade econômica e social (mesmo se baseados em pressupostos optimistas), mostram que sua contribuição previsível para a essência econômica do País é muito diminuta, e pode ser até amplamente negativa em termos de Rendimento Nacional. E tem elevados custos de oportunidade no que toca aos fundos públicos, aos apoios da União Europeia e aos financiamentos (dívida externa) da Banca Nacional e do Banco Europeu de Investimentos. ...Tais estudos também evidenciam que, pelo menos na primeira década de exploração, não haverá procura suficiente para a rentabilização econômica e social de tão pesados investimentos. Irão originar, por conseguinte, prejuízos de exploração significativos, a serem suportados pelo contribuinte." (www.static.publico.clix.pt/docs/economia/apelo_economistas.pdf).
Transpondo essa avaliação para o projeto do TAV brasileiro, quanto aos fundos públicos eles serão imensos. Estima-se que o valor presente do custo para o erário seria, na hipótese mais otimista, de R$ 14 bilhões e, na mais pessimista, de R$ 36,4 bilhões. Ora, a própria discrepância desses números revela os enormes graus de incerteza e de risco que marcam o projeto, além de a experiência nacional mostrar que hipóteses pessimistas de custo são as mais atingidas, e frequentemente ultrapassadas.
Quanto ao "custo de oportunidade", ou seja, relativamente a projetos alternativos, não é preciso muita ciência para perceber que nessa área de transportes os recursos previstos para o TAV poderiam encontrar retorno econômico e social muito maior. Em particular, se aplicados nas grandes cidades ao transporte de passageiros que nelas gastam várias horas se locomovendo no vaivém de casa para o trabalho, entre outros movimentos.
Não há como resolver esse problema, que exige redes metroviárias entre outros vultosos investimentos, apenas com recursos estaduais e municipais. Supondo que o custo do TAV alcançasse perto de R$ 40 bilhões, isso daria para fazer 100 km de metrôs nessas cidades, a um custo estimado para São Paulo. Contudo, o governo federal, com os muito maiores recursos de que dispõe relativamente a esses outros entes federativos, deixa-os à míngua nessa área, e quer porque quer levar adiante esse TAV baseado em benefícios no plano das miragens.
Quanto à Banca Nacional, no caso o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), prevê-se que este abriria suas torneiras de recursos e subsídios para o financiamento do TAV, a um custo de R$ 4,8 bilhões só no segundo item. E há mais subsídios, pois, para garantir a realização do leilão do TAV, o governo vem estimulando interessados, que não são bobos, por meio de garantia da demanda de passageiros, a um custo que poderá alcançar R$ 5 bilhões.
Em contraponto ao projeto, no Brasil o economista que mais se tem destacado é Marcos Mendes, doutor em Economia pela USP e consultor legislativo do Senado. A última versão de sua importantíssima contribuição, da qual retiramos alguns dos números acima, pode ser consultada em www.senado.gov.br/senado/conleg/textos_discussao/NOVOS%20TEXTOS/Texto82-Marcos%20Mendes.pdf.
Na mais recente cartada para atrair interessados na empreitada, o governo federal novamente forçou a barra e na aventura envolveu tanto os Correios como a Eletrobrás como participantes. O grande mistério do projeto é que forças o levam adiante em Brasília. Transparecem governantes megalomaníacos, políticos inescrupulosos, construtoras e investidores em alvoroço e traços de uma futura grande festa regada a doações para campanhas eleitorais.
De estranhar também a atitude do tradicional lobby ecológico, estimulado também de fora para dentro do País, que se manifesta tão agressivamente contra novas hidrelétricas na Amazônia, mas tem praticamente ignorado o TAV, apesar dos enormes danos ambientais que traria à região de seu trânsito. Ele não admite passagens de nível, exige cercas fortificadas, muitas linhas retas e curvas de grande arco, atropelando assim o que viesse pela frente, como nascentes, córregos, rios, várzeas, mata nativa e tudo o mais. Tampouco as comunidades em torno do trajeto projetado acordaram para esses e outros danos, inclusive a possibilidade de sua divisão em partes.
E mais: com o projeto e seu leilão para abril retomando velocidade, o TAV já segue na contramão fiscal mesmo antes de ser construído. A atitude do governo, que hoje se diz seriamente empenhado em ajustar suas contas a uma grave realidade, inclusive no plano da inflação, não condiz com seu renovado empenho no projeto. Sua tarefa hoje é recuperar a confiança da sociedade na sua política econômica, o que é indispensável à eficácia dela e que um trem doido como esse só pode atrapalhar.
ECONOMISTA (UFMG, USP E HARVARD), PROFESSOR ASSOCIADO À FAAP E VICE-PRESIDENTE DA ASSOCIAÇÃO COMERCIAL DE SÃO PAULO.
Moleskine: nao saia de casa sem ele (ou mais de um...)
Eu, por exemplo, sempre levo dois, quando estou de "uniforme de trabalhador": um pequeno, no bolso da camisa, ao lado da caneta fina, outro, médio, no bolso do paletó, com pelo menos mais duas canetas (para que nenhuma falhe). Não saio de casa sem eles, e se saio sem paletó, com camisa, claro, vai sempre o pequeno, mesmo para passear os cachorros.
São um "segundo computador", ou na verdade, um bloco de notas, para não deixar escapar nenhuma dessas ideias que teimam em desaparecer tão pronto eventos externos nos trazem de volta à realidade ambiente.
Mas, eles são, sobretudo, um "companion" de leituras, em bibliotecas e livrarias, para anotar referências, frases, e sobretudo começar trabalhos que depois serão terminados no computador.
Já tenho dezenas deles acumulados, cada um de um lugar, um período, agora não mais divididos tematicamente como meus antigos cadernos de leituras: Brasil, Política, Antropologia, História, Economia, Marxismo, etc... Os Moleskines são de fato uma das grandes invenções da humanidade, ao lado do tear mecânico e do motor à explosão (vejam até onde chego).
Eles são, para mim, o companheiro de todas as horas, e enquanto escrevo tenho o meu pequeno aqui bem na minha frente, um vermelho quase acabando (mas eu já abri um outro pequeno, preto, desta vez). O meu grande preto já está acabando também, e já tem um vermelho na fila...).
Bem, o texto abaixo é algo no estilo que eu mesmo gostaria de ter escrito, não o tendo feito por absoluta falta de tempo. Uma traição, que meus Moleskines não perdoarão...
Paulo Roberto de Almeida
Entre livros e Moleskines
Marta Barcellos
Digestivo Cultural, Sexta-feira, 11/2/2011
Entro em uma livraria e esbarro com um aramado repleto de Moleskines. Os sóbrios agora são minoria. Com capas coloridas, elásticos pretos selando o conteúdo vazio, permanecem suspensos, entre os livros que deveriam ser soberanos. Deveriam?
Antes, uma breve explicação a quem não conhece as míticas cadernetas. Segundo a empresa criada para explorar o filão, os Moleskines foram usados por escritores como Bruce Chatwin e Ernest Hermingway, e serviam para não deixar escapulir as boas ideias. Estavam sempre à mão. Caracterizavam-se pela cor preta, a capa dura, a lombada costurada.
Os candidatos a escritor passaram a adotá-los como se a inspiração viesse junto com os caderninhos ― nada condenável, já que os rituais acompanham a literatura desde que a escrita era a arte de psicografar mensagens divinas. Os escritores consagrados sempre são perguntados sobre a sua liturgia, e as histórias variam bastante: enquanto alguns revelam blocos à cabeceira, para anotar lampejos no meio da noite, outros preferem confiar na seleção natural da memória, apostando que as boas ideias sempre voltam.
Eu acrescentaria que as boas ideias voltam também recicladas, saídas de livros já escritos e redescobertas em Moleskines ainda em branco. Escrever e ler são atividades tão próximas que deixo a rabugice de lado para aprovar a diversificação de produtos na livraria (mas sem exageros: não deixemos que virem papelarias). Afinal, todo bom leitor é um potencial escritor. O boom de blogs e cursos de escrita criativa demonstra que, a exemplo da oportunidade descoberta pelas modernas livrarias, só faltava a tendência ser devidamente explorada.
Muito, muito antes dos Moleskines, os filósofos antigos já recomendavam aos discípulos a escrita como atividade intercalada à leitura. Os hypomnemata, surgidos como livros de contabilidade, se tornaram agendas pessoais utilizadas pelos filósofos como "livros da vida", cadernos nos quais anotavam suas leituras e considerações sobre os mais variados temas.
Vamos a um exemplo. Depois de descobrir os hypomnemata no ensaio "Entre o cristal e a chama", de Flávio Carneiro, lembro-me do aramado de Moleskines na livraria e de meus próprios caderninhos de anotações ― abandonados na adolescência, transformados em bloquinhos de entrevistas e retomados graças ao estímulo dos blogs e das oficinas literárias. A ideia de transformar a avalanche de pensamentos e associações em uma coluna do Digestivo surge. Vai embora. Volta.
Volta, talvez, porque os ensinamentos de Sêneca a Lucílio atingem em cheio à minha emoção. Queria ter sido o discípulo para perceber antes a importância da busca pelo equilíbrio entre escrita e leitura. "Escrever em demasia esgota o estilo, distende a tessitura do que se escreve...", me ensina Carneiro, minha ponte até o filósofo romano, dando conta do efeito que minha prática (demasiada?) como jornalista pode ter tido em meu texto. Para minha surpresa, sou apresentada ao outro prato da balança: "...do mesmo modo que ler em excesso dispersa o pensamento." E eu agindo como se fosse preciso fazer uma opção.
É preciso ler, mas também escrever. Interromper a leitura para se dedicar à escrita. Ao menos registrar as próprias observações e associações, frutos de uma leitura sempre pessoal, que reflete a cultura, o imaginário e a experiência de cada leitor. Lembro que sempre senti a necessidade de registrar minha "própria leitura" das leituras mais estimulantes que fazia. As anotações iam parar em cadernos que se perdiam ou no diário da ocasião. Talvez o fizesse apenas pelo temor respeitoso que me impedia de escrever em margens de livros (sequer sublinhados, para estarem como novos em mãos de outros estudantes/leitores).
O fato é que fazia anotações, e, tão logo ouvi falar dos Moleskines, me interessei pelo assunto. No primeiro momento, tracei comparações entre os formatos: eu usava cadernos de tamanho médio, com lombada em espiral, cujas páginas diminuíam cada vez que a autocrítica exacerbada identificava, em alguma linha, uma suposta bobagem. Assim como a tecla "delete" do computador é considerada por muitos escritores sua maior aliada, o arame em espiral e a lata de lixo também me pareciam fundamentais para depurar diários e cadernos de anotações. Com um Moleskine sempre à mão, os escritores pareciam bem mais confiantes...
Bloquinhos ainda mais descartáveis que os primeiros diários passaram a fazer parte de minha prática profissional. Ali ficavam rabiscadas entrevistas e impressões que, uma vez publicadas no jornal, podiam ser imediatamente descartadas. As outras anotações, as "leituras da vida", já não pareciam ter tanta importância, comparados às entrevistas com leitores garantidos e atentos no dia seguinte.
Hoje, a leitura que faço sobre teorias da leitura acontece no momento em que minhas anotações voltaram a ser guardadas com algum esmero, em cadernetas práticas como Moleskines (na verdade, imitações mais baratas) e sem os espirais da adolescência. Penso que a volta do hábito aconteceu, sobretudo, por causa do novo espaço que encontrei para organizar e valorizar os meus escritos: a internet.
Carneiro diz que os hypomnemata não eram simples auxiliares da memória, mas um exercício, "um ensaio cotidiano visando ao autoconhecimento pela observação e reflexão colocadas no papel, não como um tratado mas como recortes: o exercício regular de uma escrita fragmentada". Substitua a palavra "papel" por "blog", e teremos uma boa definição do fenômeno surgido na internet. Como uma via de mão dupla, a possibilidade de publicação, e reconhecimento, me levou também a organizar melhor as anotações de meus "Moleskines": já não me esqueço das referências bibliográficas, nem de destacar o que por mim já foi transformado.
Porque é nela, na caderneta, que começa a tomar forma o meu trabalho de abelha, é onde se inicia o meu diálogo pessoal entre leitura e escrita. A imagem de abelha, que escolhe o pólen das flores (leituras) para transformá-lo em um mel singular (texto) é de Sêneca, que aconselha ainda: "Não consintamos que nada do que penetra em nossa mente permaneça intacto; assim, talvez jamais venha a ser assimilado. Devemos digerir a matéria, pois de outro modo passará à nossa memória, mas não à nossa inteligência. Devemos aderir de coração a esses pensamentos alheios e saber fazê-los nossos, a fim de unificar cem elementos diversos ― como a adição faz de números isolados um número único, total que compreende somas menores e desiguais entre si". Agora que sou como Lucílio, seguirei tentando.
Nota do Editor
Marta Barcellos mantém o blog Espuminha.
Marta Barcellos
Rio de Janeiro, 11/2/2011
São um "segundo computador", ou na verdade, um bloco de notas, para não deixar escapar nenhuma dessas ideias que teimam em desaparecer tão pronto eventos externos nos trazem de volta à realidade ambiente.
Mas, eles são, sobretudo, um "companion" de leituras, em bibliotecas e livrarias, para anotar referências, frases, e sobretudo começar trabalhos que depois serão terminados no computador.
Já tenho dezenas deles acumulados, cada um de um lugar, um período, agora não mais divididos tematicamente como meus antigos cadernos de leituras: Brasil, Política, Antropologia, História, Economia, Marxismo, etc... Os Moleskines são de fato uma das grandes invenções da humanidade, ao lado do tear mecânico e do motor à explosão (vejam até onde chego).
Eles são, para mim, o companheiro de todas as horas, e enquanto escrevo tenho o meu pequeno aqui bem na minha frente, um vermelho quase acabando (mas eu já abri um outro pequeno, preto, desta vez). O meu grande preto já está acabando também, e já tem um vermelho na fila...).
Bem, o texto abaixo é algo no estilo que eu mesmo gostaria de ter escrito, não o tendo feito por absoluta falta de tempo. Uma traição, que meus Moleskines não perdoarão...
Paulo Roberto de Almeida
Entre livros e Moleskines
Marta Barcellos
Digestivo Cultural, Sexta-feira, 11/2/2011
Entro em uma livraria e esbarro com um aramado repleto de Moleskines. Os sóbrios agora são minoria. Com capas coloridas, elásticos pretos selando o conteúdo vazio, permanecem suspensos, entre os livros que deveriam ser soberanos. Deveriam?
Antes, uma breve explicação a quem não conhece as míticas cadernetas. Segundo a empresa criada para explorar o filão, os Moleskines foram usados por escritores como Bruce Chatwin e Ernest Hermingway, e serviam para não deixar escapulir as boas ideias. Estavam sempre à mão. Caracterizavam-se pela cor preta, a capa dura, a lombada costurada.
Os candidatos a escritor passaram a adotá-los como se a inspiração viesse junto com os caderninhos ― nada condenável, já que os rituais acompanham a literatura desde que a escrita era a arte de psicografar mensagens divinas. Os escritores consagrados sempre são perguntados sobre a sua liturgia, e as histórias variam bastante: enquanto alguns revelam blocos à cabeceira, para anotar lampejos no meio da noite, outros preferem confiar na seleção natural da memória, apostando que as boas ideias sempre voltam.
Eu acrescentaria que as boas ideias voltam também recicladas, saídas de livros já escritos e redescobertas em Moleskines ainda em branco. Escrever e ler são atividades tão próximas que deixo a rabugice de lado para aprovar a diversificação de produtos na livraria (mas sem exageros: não deixemos que virem papelarias). Afinal, todo bom leitor é um potencial escritor. O boom de blogs e cursos de escrita criativa demonstra que, a exemplo da oportunidade descoberta pelas modernas livrarias, só faltava a tendência ser devidamente explorada.
Muito, muito antes dos Moleskines, os filósofos antigos já recomendavam aos discípulos a escrita como atividade intercalada à leitura. Os hypomnemata, surgidos como livros de contabilidade, se tornaram agendas pessoais utilizadas pelos filósofos como "livros da vida", cadernos nos quais anotavam suas leituras e considerações sobre os mais variados temas.
Vamos a um exemplo. Depois de descobrir os hypomnemata no ensaio "Entre o cristal e a chama", de Flávio Carneiro, lembro-me do aramado de Moleskines na livraria e de meus próprios caderninhos de anotações ― abandonados na adolescência, transformados em bloquinhos de entrevistas e retomados graças ao estímulo dos blogs e das oficinas literárias. A ideia de transformar a avalanche de pensamentos e associações em uma coluna do Digestivo surge. Vai embora. Volta.
Volta, talvez, porque os ensinamentos de Sêneca a Lucílio atingem em cheio à minha emoção. Queria ter sido o discípulo para perceber antes a importância da busca pelo equilíbrio entre escrita e leitura. "Escrever em demasia esgota o estilo, distende a tessitura do que se escreve...", me ensina Carneiro, minha ponte até o filósofo romano, dando conta do efeito que minha prática (demasiada?) como jornalista pode ter tido em meu texto. Para minha surpresa, sou apresentada ao outro prato da balança: "...do mesmo modo que ler em excesso dispersa o pensamento." E eu agindo como se fosse preciso fazer uma opção.
É preciso ler, mas também escrever. Interromper a leitura para se dedicar à escrita. Ao menos registrar as próprias observações e associações, frutos de uma leitura sempre pessoal, que reflete a cultura, o imaginário e a experiência de cada leitor. Lembro que sempre senti a necessidade de registrar minha "própria leitura" das leituras mais estimulantes que fazia. As anotações iam parar em cadernos que se perdiam ou no diário da ocasião. Talvez o fizesse apenas pelo temor respeitoso que me impedia de escrever em margens de livros (sequer sublinhados, para estarem como novos em mãos de outros estudantes/leitores).
O fato é que fazia anotações, e, tão logo ouvi falar dos Moleskines, me interessei pelo assunto. No primeiro momento, tracei comparações entre os formatos: eu usava cadernos de tamanho médio, com lombada em espiral, cujas páginas diminuíam cada vez que a autocrítica exacerbada identificava, em alguma linha, uma suposta bobagem. Assim como a tecla "delete" do computador é considerada por muitos escritores sua maior aliada, o arame em espiral e a lata de lixo também me pareciam fundamentais para depurar diários e cadernos de anotações. Com um Moleskine sempre à mão, os escritores pareciam bem mais confiantes...
Bloquinhos ainda mais descartáveis que os primeiros diários passaram a fazer parte de minha prática profissional. Ali ficavam rabiscadas entrevistas e impressões que, uma vez publicadas no jornal, podiam ser imediatamente descartadas. As outras anotações, as "leituras da vida", já não pareciam ter tanta importância, comparados às entrevistas com leitores garantidos e atentos no dia seguinte.
Hoje, a leitura que faço sobre teorias da leitura acontece no momento em que minhas anotações voltaram a ser guardadas com algum esmero, em cadernetas práticas como Moleskines (na verdade, imitações mais baratas) e sem os espirais da adolescência. Penso que a volta do hábito aconteceu, sobretudo, por causa do novo espaço que encontrei para organizar e valorizar os meus escritos: a internet.
Carneiro diz que os hypomnemata não eram simples auxiliares da memória, mas um exercício, "um ensaio cotidiano visando ao autoconhecimento pela observação e reflexão colocadas no papel, não como um tratado mas como recortes: o exercício regular de uma escrita fragmentada". Substitua a palavra "papel" por "blog", e teremos uma boa definição do fenômeno surgido na internet. Como uma via de mão dupla, a possibilidade de publicação, e reconhecimento, me levou também a organizar melhor as anotações de meus "Moleskines": já não me esqueço das referências bibliográficas, nem de destacar o que por mim já foi transformado.
Porque é nela, na caderneta, que começa a tomar forma o meu trabalho de abelha, é onde se inicia o meu diálogo pessoal entre leitura e escrita. A imagem de abelha, que escolhe o pólen das flores (leituras) para transformá-lo em um mel singular (texto) é de Sêneca, que aconselha ainda: "Não consintamos que nada do que penetra em nossa mente permaneça intacto; assim, talvez jamais venha a ser assimilado. Devemos digerir a matéria, pois de outro modo passará à nossa memória, mas não à nossa inteligência. Devemos aderir de coração a esses pensamentos alheios e saber fazê-los nossos, a fim de unificar cem elementos diversos ― como a adição faz de números isolados um número único, total que compreende somas menores e desiguais entre si". Agora que sou como Lucílio, seguirei tentando.
Nota do Editor
Marta Barcellos mantém o blog Espuminha.
Marta Barcellos
Rio de Janeiro, 11/2/2011
Trem bala e "tlem-bala": dois artigos sobre realidade na China e projeto no Brasil
O "tlem-bala" é obviamente o chinês, sobre o qual transcrevo um artigo do Shanghai Daily. Já está pronto e começa a funcionar entre Shanghai e Beijing (mas já funciona entre Shanghai e Nanjing). Eu mesmo andei em trem magnético do aeroporto de Pudong-Shanghai e a cidade (na verdade uma estação de metro, bem antes do centro): deve ser completamente deficitário, mas serviu para testar tecnologia chinesa (em parte pirateada, claro) nessa área.
Quanto ao nosso trem bala, do qual sou um total opositor, por diversas razões, transcrevo um artigo do economista Mansueto de Almeida (no relationship), cujos argumentos acato inteiramente, e até acrescentaria mais um: politicos adoram esses super-projetos, pois onde mais haveria como oportunidades de superfaturamento e desvios de dinheiro?
Paulo Roberto de Almeida
Bullet train testing set to begin on Beijing link
By Dong Zhen
Shanghai Daily, February 21, 2011
CHINA'S high-speed railway development took another stride forward yesterday with the power being switched on in Shanghai and nearby cities to enable test runs on the Shanghai-Beijing high-speed rail link to start.
The line will be fully tested from March 20 when bullet trains traveling at more than 400 kilometers per hour will make the trip to iron out any problems and make adjustments before the new line opens to the public on June 20.
The trains will run between Shanghai's Hongqiao Railway Station and Beijing's South Railway Station during the tests, the national railway authority said yesterday.
The 1,318-kilometer link will cut the journey between Shanghai and the capital to less than five hours from the current 10 to 18 hours.
The line, which runs through Tianjin Municipality and Hebei, Shandong, Anhui and Jiangsu provinces, will also increase capacity in the northern, eastern and middle regions of the country.
There will be 24 stops on the route including regional transport hubs such as Bengbu Station in Anhui Province and Xuzhou in Jiangsu Province.
There will be some non-stop shuttles between Shanghai and Beijing in the future and the railway authority also plans to launch direct trains between Shanghai and other major cities along the way, including Tianjin, Jinan and Nanjing.
The power grid to facilitate the train operation in Shanghai and nearby cities was switched on yesterday, the authority said, and warning signs and posters have been erected along the route. The grid will be carrying 27,500 volts of electricity and people have been warned not to get near the power supply facilities. Balloon and kite flying is also prohibited in an area 300 meters from the tracks.
The new line is designed with a travel speed of 350kph and above. A train reached 486.1kph during a previous test on a stretch between Shandong and Anhui provinces, the railway authority said.
It is not yet known how much tickets will cost. Flights between Shanghai and Beijing cost around 1,200 yuan at present with a journey time of 1.5 hours.
The Shanghai-Beijing bullet train project is said to have cost 220.9 billion yuan (US$33.6 billion), the highest expenditure on a national infrastructure project to date.
Liu Zhijun, a leading initiator of high-speed railway expansion, was removed from his post as railways minister earlier this month in connection with a probe into suspected corruption. Liu said last month that another 700 billion yuan would be invested in construction this year to build more high-speed links and improve facilities.
The railway ministry said it was to boost capacity on the Shanghai-Nanjing and Shanghai-Hangzhou high-speed rail lines to make travel to the city's two neighboring provinces easier. There will be an increase in the number of train services from beginning of next month and the extra trains will stop at Changzhou and Wuxi in Jiangsu Province, as well as Haining and Hangzhou in Zhejiang Province.
===========
Trem Bala: o debate
Blog do Mansueto, 19/02/2011
Para aqueles intressados no debate sobre a construção do Trem Bala recomendo a leitura do meu artigo (“Hoje, projeto não é prioritário“) publicado no Jornal Folha de São Paulo contra esse projeto, que reproduzo abaixo, e o artigo do diretor-geral da Agência Nacional de Transportes Terrestres, Bernardo Figueiredo (“o Brasil precisa e merece“), a favor do projeto.
A minha posição neste debate é direta e simples. Acho esse meio de transporte muito agradável, mas acho que hoje temos outras prioridades. O Brasil é um país com muitos recursos, mas esses recursos não nos tem propiciado melhora substancial da nossa educação, serviços de saúde, invstimentos em infraestrutura e desoneração tributária da folha salarial e do investimento.
Trens de alta velocidade são investimentos muitos caros e precisam de subsídios para sua operação (é assim no mundo todo). Como no Brasil as pessoas acham que nada tem custo, o debate correto deveria ser colocado talvez nestes termos: “Você apoiaria a volta de uma CPMF para finaciar a construção e subsidiar a operação de trens de alta velocidade no Brasil”?
Recomendo também a leitura do artigo (High-Speed Rail Is a Fast Track to Government Waste) do colunista da Newsweek, Robert Samuelson, que mostra vários furos dos projetos de trem bala nos EUA. Em um momento no qual os estados americanos estão cortando gastos com educação e serviços sociais, o governo que construir uma rede nacional de trens de alata velocidade por US$ 53 bilhões.
Por fim, em condições normais de temperatura e pressão, já sabemos que no próximo ano, pela regra atual, o salário mínimo irá para valor próximo a R$ 620, o que siginifca uma gasto extra de R$ 22,5 bilhões sem contar com o crescimnto vegetativo da folha do INSS. Ou a receita cresce muito este ano ou descofio também em uma possível volta da CPMF.
O trem-bala deve ser construído?
NÃO: Hoje, projeto não é prioridade
MANSUETO ALMEIDA
Folha de São Paulo, 19 de fevereiro de 2010
Não há dúvida de que é agradável viajar em trens de alta velocidade. Esse tipo de transporte é pouco poluente, rápido e confortável. No entanto, sabe-se também que é ainda melhor morar em um país que possui escolas públicas de boa qualidade para qualquer criança, independente do local de nascimento ou do poder aquisitivo da família, como ocorre na Finlândia.
É também agradável morar em um país em que os hospitais são tão bons que não se sabe quais deles são públicos ou privados, como acontece na Alemanha. O ideal seria morar em um país que possuísse boa infraestrutura, inclusive com disponibilidade de trens de alta velocidade, boas escolas, com professores capacitados, e excelente serviço de saúde pública.
Infelizmente, o Brasil ainda está longe de ser esse país; assim, não pode se dar ao luxo de embarcar em aventura de elevado custo, cujo retorno social é altamente incerto. O projeto do trem-bala não é prioritário para um país que ainda sofre para melhorar a qualidade do seu ensino, melhorar os serviços de saúde e recuperar a infraestrutura que tira a competitividade do setor privado, devido à carência de investimentos em portos, aeroportos, energia e rodovias, como mostraram vários estudos do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (comunicados nº 48, 50, 51, 52 e 54).
Projetos de trens de alta velocidade são caros em qualquer lugar do mundo, e o Brasil não é exceção. O projeto do trem-bala brasileiro está orçado em R$ 33 bilhões, mas nesse valor não está incluída a parcela de reserva de contingência para arcar com eventuais custos não programados do projeto.
Some-se a isso os fatos de o projeto envolver subsídios de até R$ 5 bilhões para as concessionárias e de a maior parcela do financiamento ser de recursos do BNDES, que não os tem e vai precisar de mais um empréstimo do Tesouro Nacional, como autorizado pela medida provisória nº 511, de 5 de novembro de 2010, que empresta R$ 20 bilhões para o BNDES financiar o projeto.
É bom olhar o exemplo dos casos dos trens de alta velocidade da Itália, que começaram como projetos de parceria público-privada e terminaram sendo absorvidos integralmente pelo setor público, devido a sucessivos aumentos no custo de tal projeto. Isso levou a um aumento da dívida pública e do deficit público em mais de um ponto percentual do PIB.
No Brasil, o custo do trem-bala é tão incerto que a medida provisória acima mencionada dá carta branca para que o ministro da Fazenda renegocie esse empréstimo para 20, 30, 40 anos ou mais para compatibilizar o fluxo caixa do banco ao financiamento do projeto.
Adicionalmente, o artigo 4º dessa mesma medida estabelece que, no caso de não pagamento, o BNDES será perdoado da dívida, que será arcada, integralmente, pelo Tesouro Nacional (leia-se nós, contribuintes).
Projeto de trens de alta velocidade têm elevado custo fiscal e não se sustentam sem elevados subsídios públicos. Esse não é um investimento prioritário para o Brasil neste e nos próximos anos, principalmente quando se reconhece que ainda precisamos avançar, além dos investimentos em saúde, educação e infraestrutura, na agenda de desoneração tributária da folha salarial e do investimento, que ainda não avançou por conta da impossibilidade de o governo abrir mão de receita fiscal.
Insistir no projeto do trem-bala é mais uma prova de que ainda sofremos um pouco da megalomania do “Brasil do futuro” da década de 70, que nos levou à década perdida.
MANSUETO ALMEIDA é pesquisador do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).
Quanto ao nosso trem bala, do qual sou um total opositor, por diversas razões, transcrevo um artigo do economista Mansueto de Almeida (no relationship), cujos argumentos acato inteiramente, e até acrescentaria mais um: politicos adoram esses super-projetos, pois onde mais haveria como oportunidades de superfaturamento e desvios de dinheiro?
Paulo Roberto de Almeida
Bullet train testing set to begin on Beijing link
By Dong Zhen
Shanghai Daily, February 21, 2011
CHINA'S high-speed railway development took another stride forward yesterday with the power being switched on in Shanghai and nearby cities to enable test runs on the Shanghai-Beijing high-speed rail link to start.
The line will be fully tested from March 20 when bullet trains traveling at more than 400 kilometers per hour will make the trip to iron out any problems and make adjustments before the new line opens to the public on June 20.
The trains will run between Shanghai's Hongqiao Railway Station and Beijing's South Railway Station during the tests, the national railway authority said yesterday.
The 1,318-kilometer link will cut the journey between Shanghai and the capital to less than five hours from the current 10 to 18 hours.
The line, which runs through Tianjin Municipality and Hebei, Shandong, Anhui and Jiangsu provinces, will also increase capacity in the northern, eastern and middle regions of the country.
There will be 24 stops on the route including regional transport hubs such as Bengbu Station in Anhui Province and Xuzhou in Jiangsu Province.
There will be some non-stop shuttles between Shanghai and Beijing in the future and the railway authority also plans to launch direct trains between Shanghai and other major cities along the way, including Tianjin, Jinan and Nanjing.
The power grid to facilitate the train operation in Shanghai and nearby cities was switched on yesterday, the authority said, and warning signs and posters have been erected along the route. The grid will be carrying 27,500 volts of electricity and people have been warned not to get near the power supply facilities. Balloon and kite flying is also prohibited in an area 300 meters from the tracks.
The new line is designed with a travel speed of 350kph and above. A train reached 486.1kph during a previous test on a stretch between Shandong and Anhui provinces, the railway authority said.
It is not yet known how much tickets will cost. Flights between Shanghai and Beijing cost around 1,200 yuan at present with a journey time of 1.5 hours.
The Shanghai-Beijing bullet train project is said to have cost 220.9 billion yuan (US$33.6 billion), the highest expenditure on a national infrastructure project to date.
Liu Zhijun, a leading initiator of high-speed railway expansion, was removed from his post as railways minister earlier this month in connection with a probe into suspected corruption. Liu said last month that another 700 billion yuan would be invested in construction this year to build more high-speed links and improve facilities.
The railway ministry said it was to boost capacity on the Shanghai-Nanjing and Shanghai-Hangzhou high-speed rail lines to make travel to the city's two neighboring provinces easier. There will be an increase in the number of train services from beginning of next month and the extra trains will stop at Changzhou and Wuxi in Jiangsu Province, as well as Haining and Hangzhou in Zhejiang Province.
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Trem Bala: o debate
Blog do Mansueto, 19/02/2011
Para aqueles intressados no debate sobre a construção do Trem Bala recomendo a leitura do meu artigo (“Hoje, projeto não é prioritário“) publicado no Jornal Folha de São Paulo contra esse projeto, que reproduzo abaixo, e o artigo do diretor-geral da Agência Nacional de Transportes Terrestres, Bernardo Figueiredo (“o Brasil precisa e merece“), a favor do projeto.
A minha posição neste debate é direta e simples. Acho esse meio de transporte muito agradável, mas acho que hoje temos outras prioridades. O Brasil é um país com muitos recursos, mas esses recursos não nos tem propiciado melhora substancial da nossa educação, serviços de saúde, invstimentos em infraestrutura e desoneração tributária da folha salarial e do investimento.
Trens de alta velocidade são investimentos muitos caros e precisam de subsídios para sua operação (é assim no mundo todo). Como no Brasil as pessoas acham que nada tem custo, o debate correto deveria ser colocado talvez nestes termos: “Você apoiaria a volta de uma CPMF para finaciar a construção e subsidiar a operação de trens de alta velocidade no Brasil”?
Recomendo também a leitura do artigo (High-Speed Rail Is a Fast Track to Government Waste) do colunista da Newsweek, Robert Samuelson, que mostra vários furos dos projetos de trem bala nos EUA. Em um momento no qual os estados americanos estão cortando gastos com educação e serviços sociais, o governo que construir uma rede nacional de trens de alata velocidade por US$ 53 bilhões.
Por fim, em condições normais de temperatura e pressão, já sabemos que no próximo ano, pela regra atual, o salário mínimo irá para valor próximo a R$ 620, o que siginifca uma gasto extra de R$ 22,5 bilhões sem contar com o crescimnto vegetativo da folha do INSS. Ou a receita cresce muito este ano ou descofio também em uma possível volta da CPMF.
O trem-bala deve ser construído?
NÃO: Hoje, projeto não é prioridade
MANSUETO ALMEIDA
Folha de São Paulo, 19 de fevereiro de 2010
Não há dúvida de que é agradável viajar em trens de alta velocidade. Esse tipo de transporte é pouco poluente, rápido e confortável. No entanto, sabe-se também que é ainda melhor morar em um país que possui escolas públicas de boa qualidade para qualquer criança, independente do local de nascimento ou do poder aquisitivo da família, como ocorre na Finlândia.
É também agradável morar em um país em que os hospitais são tão bons que não se sabe quais deles são públicos ou privados, como acontece na Alemanha. O ideal seria morar em um país que possuísse boa infraestrutura, inclusive com disponibilidade de trens de alta velocidade, boas escolas, com professores capacitados, e excelente serviço de saúde pública.
Infelizmente, o Brasil ainda está longe de ser esse país; assim, não pode se dar ao luxo de embarcar em aventura de elevado custo, cujo retorno social é altamente incerto. O projeto do trem-bala não é prioritário para um país que ainda sofre para melhorar a qualidade do seu ensino, melhorar os serviços de saúde e recuperar a infraestrutura que tira a competitividade do setor privado, devido à carência de investimentos em portos, aeroportos, energia e rodovias, como mostraram vários estudos do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (comunicados nº 48, 50, 51, 52 e 54).
Projetos de trens de alta velocidade são caros em qualquer lugar do mundo, e o Brasil não é exceção. O projeto do trem-bala brasileiro está orçado em R$ 33 bilhões, mas nesse valor não está incluída a parcela de reserva de contingência para arcar com eventuais custos não programados do projeto.
Some-se a isso os fatos de o projeto envolver subsídios de até R$ 5 bilhões para as concessionárias e de a maior parcela do financiamento ser de recursos do BNDES, que não os tem e vai precisar de mais um empréstimo do Tesouro Nacional, como autorizado pela medida provisória nº 511, de 5 de novembro de 2010, que empresta R$ 20 bilhões para o BNDES financiar o projeto.
É bom olhar o exemplo dos casos dos trens de alta velocidade da Itália, que começaram como projetos de parceria público-privada e terminaram sendo absorvidos integralmente pelo setor público, devido a sucessivos aumentos no custo de tal projeto. Isso levou a um aumento da dívida pública e do deficit público em mais de um ponto percentual do PIB.
No Brasil, o custo do trem-bala é tão incerto que a medida provisória acima mencionada dá carta branca para que o ministro da Fazenda renegocie esse empréstimo para 20, 30, 40 anos ou mais para compatibilizar o fluxo caixa do banco ao financiamento do projeto.
Adicionalmente, o artigo 4º dessa mesma medida estabelece que, no caso de não pagamento, o BNDES será perdoado da dívida, que será arcada, integralmente, pelo Tesouro Nacional (leia-se nós, contribuintes).
Projeto de trens de alta velocidade têm elevado custo fiscal e não se sustentam sem elevados subsídios públicos. Esse não é um investimento prioritário para o Brasil neste e nos próximos anos, principalmente quando se reconhece que ainda precisamos avançar, além dos investimentos em saúde, educação e infraestrutura, na agenda de desoneração tributária da folha salarial e do investimento, que ainda não avançou por conta da impossibilidade de o governo abrir mão de receita fiscal.
Insistir no projeto do trem-bala é mais uma prova de que ainda sofremos um pouco da megalomania do “Brasil do futuro” da década de 70, que nos levou à década perdida.
MANSUETO ALMEIDA é pesquisador do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).
sábado, 19 de fevereiro de 2011
Villafane e a construcao do Brasil: um "founding academic"?
Revisões de mitos sempre são bem-vindas. Eu, pelo menos, me considero um iconoclasta e um anarquista histórico, ainda que o revisionismo, para ser consistente, necessite estar embasado em sérias pesquisas e frutificar ao longo de uma reflexão bem argumentada. Esse é o caso do livro do historiador Luis Claudio Villafane, aqui resenhado por um jornalista.
Ele simplesmente começa a revisar um dos nossos maiores mitos, já que figura no Panteão virtual da pátria, junto com Tiradentes e alguns poucos mais.
Até 2012, quando comemoraremos os cem anos da morte do barão, no Carnaval justamente, teremos oportunidade de voltar ao assunto. Louve-se, em todo caso, o início deste debate na obra de Villafane, que poderia ser designado, desde já, como nosso "founding academic".
Cheers!
Paulo Roberto de Almeida
Como Rio Branco inventou o Brasil
MARCOS GUTERMAN
O Estado de S.Paulo, 19 de fevereiro de 2011
Em tempos de ufanismo revisitado, que a propaganda estatal reduz ao "orgulho de ser brasileiro" em relação ao resto do mundo, o livro recém-lançado O Dia em Que Adiaram o Carnaval (Unesp), do diplomata e historiador Luís Cláudio Villafañe Gomes Santos, revela-se um ensaio precioso, ao reconstituir a invenção da nacionalidade brasileira.
O título da obra diz respeito à curiosa ordem do governo republicano de adiar o carnaval em respeito à morte de José Maria da Silva Paranhos Júnior, o Barão do Rio Branco, em 10 de fevereiro de 1912. Rio Branco tinha status de astro, porque lhe era atribuído o feito de ter desenhado as fronteiras do País - isto é, de ter dado um "corpo" à pátria que estava sendo criada.
Villafañe faz uma reflexão sobre o mito do Barão como construtor da nacionalidade e sua identificação com uma "certa ideia de Brasil" quase um século depois da independência. Trata-se de uma "paralisadora herança", como comentou o embaixador Rubens Ricupero a propósito da persistente imagem de um país que atua no exterior tendo como lastro o genoma da "tolerância natural do brasileiro", descrito por Stefan Zweig em Brasil, País do Futuro (1941).
O modo como o Brasil se enxerga no mundo, traduzido em sua política externa, é portanto o eixo em torno do qual Villafañe trabalha. A construção política dessa entidade, mostra o autor, começa como afirmação antilusitana e, ao mesmo tempo, como contraponto monárquico "ordeiro" ao "caos" republicano dos vizinhos latino-americanos. A "nação brasileira" que surge daí é formada por brancos europeus ricos. A escravidão criará o desconforto de uma imensa massa de pessoas que estão em toda parte, mas não integram a nação.
O sentido nacional só se completará no período republicano, mas a desigualdade social dificultou drasticamente a legitimidade do Estado. A "invenção" do Brasil, naquela oportunidade, dividia-se entre o passado português e a afirmação do mundo americano, sem lugar, contudo, para os brasileiros comuns.
Mesmo a república, porém, não ofereceu à massa, de imediato, um lugar na construção da identidade nacional brasileira. Foi preciso que houvesse a difusão das culturas ditas "subalternas", contaminando a atmosfera da elite com o carnaval e o futebol como elos da nacionalidade. Foi necessário ainda criar "heróis" para representar o evangelho republicano - e Tiradentes foi o primeiro deles, embora tenha sido representante de um movimento que nem de longe era nacionalista; mas o alferes (ou a imagem que foi criada para ele) era alguém construído para simbolizar a união dos cidadãos, a participação popular e a luta autêntica pela independência.
A identidade internacional do Brasil, diz o autor, tem como referência fundamental, desde seu início como país independente, a América - entendida primeiramente como os EUA e depois como as repúblicas latino-americanas. O Brasil foi o único país americano que, em sua independência, não desenvolveu proximidade com a ideia de ruptura com o modo de vida europeu. Com a república, o antiamericanismo monárquico foi substituído pela defesa do "espírito americano". É justamente com Rio Branco que a aliança com os EUA se consolida, sob a perspectiva de domínio geral estadunidense nas Américas e na hegemonia brasileira no nível sul-americano.
A partir de Getúlio Vargas, e desde então com esporádicos intervalos, a política externa brasileira se fundaria na dimensão do desenvolvimento econômico nacional em contraponto ao Hemisfério Norte, num apenas aparente afastamento do evangelho de Rio Branco. No início da Guerra Fria, o Brasil viu-se em condições de invocar o americanismo do Barão para cobrar tratamento preferencial dos EUA. A frustração com a resposta vaga de Washington a esse pleito - e também à promessa de um assento permanente no Conselho de Segurança da ONU, feita pelo presidente Franklin Roosevelt a Vargas - empurrou o Brasil para uma aproximação maior com os demais países latino-americanos e para a ideia de que havia um bloco regional de subdesenvolvidos, entre os quais os brasileiros passaram a se incluir, que precisavam ser ouvidos.
Esse bloco se considerava moralmente superior às potências globais, porque seria vítima da corrida armamentista e das guerras imperialistas. Tal movimento rompeu a bipolaridade Leste-Oeste da Guerra Fria e estabeleceu a complexidade do debate Norte-Sul, com a defesa de um modelo de desenvolvimento fortemente estatal, em contraponto à doutrina democrático-liberal que se consideraria vitoriosa na queda do Muro de Berlim e que se fazia representar pelos EUA, justamente o "outro" na relação com a América Latina ao longo do século 20.
A identificação latino-americana, de tão importante para a nova etapa da ideia de nação brasileira, foi inscrita na Constituição de 1988. O discurso do Brasil hoje, sobre seu lugar no mundo, é fincado essencialmente na afirmação da liderança continental, ainda tendo como referência os EUA, numa inequívoca demonstração da resistência, mesmo controversa, da herança do Barão do Rio Branco - o nosso "Founding Father".
Ele simplesmente começa a revisar um dos nossos maiores mitos, já que figura no Panteão virtual da pátria, junto com Tiradentes e alguns poucos mais.
Até 2012, quando comemoraremos os cem anos da morte do barão, no Carnaval justamente, teremos oportunidade de voltar ao assunto. Louve-se, em todo caso, o início deste debate na obra de Villafane, que poderia ser designado, desde já, como nosso "founding academic".
Cheers!
Paulo Roberto de Almeida
Como Rio Branco inventou o Brasil
MARCOS GUTERMAN
O Estado de S.Paulo, 19 de fevereiro de 2011
Em tempos de ufanismo revisitado, que a propaganda estatal reduz ao "orgulho de ser brasileiro" em relação ao resto do mundo, o livro recém-lançado O Dia em Que Adiaram o Carnaval (Unesp), do diplomata e historiador Luís Cláudio Villafañe Gomes Santos, revela-se um ensaio precioso, ao reconstituir a invenção da nacionalidade brasileira.
O título da obra diz respeito à curiosa ordem do governo republicano de adiar o carnaval em respeito à morte de José Maria da Silva Paranhos Júnior, o Barão do Rio Branco, em 10 de fevereiro de 1912. Rio Branco tinha status de astro, porque lhe era atribuído o feito de ter desenhado as fronteiras do País - isto é, de ter dado um "corpo" à pátria que estava sendo criada.
Villafañe faz uma reflexão sobre o mito do Barão como construtor da nacionalidade e sua identificação com uma "certa ideia de Brasil" quase um século depois da independência. Trata-se de uma "paralisadora herança", como comentou o embaixador Rubens Ricupero a propósito da persistente imagem de um país que atua no exterior tendo como lastro o genoma da "tolerância natural do brasileiro", descrito por Stefan Zweig em Brasil, País do Futuro (1941).
O modo como o Brasil se enxerga no mundo, traduzido em sua política externa, é portanto o eixo em torno do qual Villafañe trabalha. A construção política dessa entidade, mostra o autor, começa como afirmação antilusitana e, ao mesmo tempo, como contraponto monárquico "ordeiro" ao "caos" republicano dos vizinhos latino-americanos. A "nação brasileira" que surge daí é formada por brancos europeus ricos. A escravidão criará o desconforto de uma imensa massa de pessoas que estão em toda parte, mas não integram a nação.
O sentido nacional só se completará no período republicano, mas a desigualdade social dificultou drasticamente a legitimidade do Estado. A "invenção" do Brasil, naquela oportunidade, dividia-se entre o passado português e a afirmação do mundo americano, sem lugar, contudo, para os brasileiros comuns.
Mesmo a república, porém, não ofereceu à massa, de imediato, um lugar na construção da identidade nacional brasileira. Foi preciso que houvesse a difusão das culturas ditas "subalternas", contaminando a atmosfera da elite com o carnaval e o futebol como elos da nacionalidade. Foi necessário ainda criar "heróis" para representar o evangelho republicano - e Tiradentes foi o primeiro deles, embora tenha sido representante de um movimento que nem de longe era nacionalista; mas o alferes (ou a imagem que foi criada para ele) era alguém construído para simbolizar a união dos cidadãos, a participação popular e a luta autêntica pela independência.
A identidade internacional do Brasil, diz o autor, tem como referência fundamental, desde seu início como país independente, a América - entendida primeiramente como os EUA e depois como as repúblicas latino-americanas. O Brasil foi o único país americano que, em sua independência, não desenvolveu proximidade com a ideia de ruptura com o modo de vida europeu. Com a república, o antiamericanismo monárquico foi substituído pela defesa do "espírito americano". É justamente com Rio Branco que a aliança com os EUA se consolida, sob a perspectiva de domínio geral estadunidense nas Américas e na hegemonia brasileira no nível sul-americano.
A partir de Getúlio Vargas, e desde então com esporádicos intervalos, a política externa brasileira se fundaria na dimensão do desenvolvimento econômico nacional em contraponto ao Hemisfério Norte, num apenas aparente afastamento do evangelho de Rio Branco. No início da Guerra Fria, o Brasil viu-se em condições de invocar o americanismo do Barão para cobrar tratamento preferencial dos EUA. A frustração com a resposta vaga de Washington a esse pleito - e também à promessa de um assento permanente no Conselho de Segurança da ONU, feita pelo presidente Franklin Roosevelt a Vargas - empurrou o Brasil para uma aproximação maior com os demais países latino-americanos e para a ideia de que havia um bloco regional de subdesenvolvidos, entre os quais os brasileiros passaram a se incluir, que precisavam ser ouvidos.
Esse bloco se considerava moralmente superior às potências globais, porque seria vítima da corrida armamentista e das guerras imperialistas. Tal movimento rompeu a bipolaridade Leste-Oeste da Guerra Fria e estabeleceu a complexidade do debate Norte-Sul, com a defesa de um modelo de desenvolvimento fortemente estatal, em contraponto à doutrina democrático-liberal que se consideraria vitoriosa na queda do Muro de Berlim e que se fazia representar pelos EUA, justamente o "outro" na relação com a América Latina ao longo do século 20.
A identificação latino-americana, de tão importante para a nova etapa da ideia de nação brasileira, foi inscrita na Constituição de 1988. O discurso do Brasil hoje, sobre seu lugar no mundo, é fincado essencialmente na afirmação da liderança continental, ainda tendo como referência os EUA, numa inequívoca demonstração da resistência, mesmo controversa, da herança do Barão do Rio Branco - o nosso "Founding Father".
Aquecimento global (antropico): a visao cetica... (800 papers)
A coleção de artigos (centenas) referenciada (parcialmente) abaixo, pretende se oferecer como um contrapeso ao "pensamento único" atualmente dominante quanto aos efeitos catastróficos do aquecimento global antrópico (ou seja, criado pelo homem). Não que ele não possa ser catastrófico, mas é que se formou uma coalizão de ecologistas, cientistas e profetas do apocalipse que nos anunciam, todo santo dia (com perdão dos crentes) que "o fim está próximo" (vocês sabem: aqueles malucos barbudos, de túnicas brancas, carregando um cartaz: "The End is Near", ao que os milenaristas e salvacionistas agregariam "Repent Yourself!").
Transcrevo aqui apenas a parte introdutória e o link para o conjunto.
Paulo Roberto de Almeida
850 Peer-Reviewed Papers Supporting Skepticism of "Man-Made" Global Warming (AGW) Alarm
Popular Technology Net, FRIDAY, JANUARY 14, 2011
The following papers support skepticism of AGW or the negative environmental or socio-economic effects of AGW. Addendums, comments, corrections, erratum, replies, responses and submitted papers are not included in the peer-reviewed paper count. These are included as references in defense of various papers. There are many more listings than just the 850 counted papers. This list will be updated and corrected as necessary.
AGW Alarm: (Defined) negative environmental or socio-economic effect of AGW, usually exaggerated as catastrophic.
Criticisms: All criticisms of this list have been refuted or a change made to correct the issue. Please see the notes following the list for defenses of common criticisms. I make every attempt to defend the list where possible, in many cases my comments correcting the misinformation stated about the list are deleted and I am blocked from replying. Please email me if you have any questions or need me to address something, populartechnology (at) gmail (dot) com.
Disclaimer: The inclusion of a paper in this list does not imply a specific personal position to any of the authors. The reason for this is a small minority of authors on the list would not wish to be labeled skeptical yet their paper(s) or results from their paper(s) support skeptic's arguments against AGW alarm.
Formatting: All papers are cited as: "Paper Name, Journal Name, Volume, Issue or Number, Pages, Date and Authors". All "addendums, comments, corrections, erratum, replies, responses and submitted papers" are preceded by a " - " and italicized. Ordering of the papers is alphabetical by title except for the Hockey Stick, Cosmic Rays and Solar sections which are chronological.
Peer-Reviewed: (Defined) of or being scientific or scholarly writing or research that has undergone evaluation by other experts in the field to judge if it merits publication.
Purpose: To provide a resource for peer-reviewed papers that support skepticism of AGW or the negative environmental or socio-economic effects of AGW and to prove that these papers exist contrary to widely held beliefs.
Todos os papers neste link.
A 2000-year global temperature reconstruction based on non-treering proxies (PDF)
(Energy & Environment, Volume 18, Numbers 7-8, pp. 1049-1058, December 2007)
- Craig Loehle
- Correction to: A 2000-Year Global Temperature Reconstruction Based on Non-Tree Ring Proxies (PDF)
(Energy & Environment, Volume 19, Number 1, pp. 93-100, January 2008)
- Craig Loehle, J. Huston McCulloch
Transcrevo aqui apenas a parte introdutória e o link para o conjunto.
Paulo Roberto de Almeida
850 Peer-Reviewed Papers Supporting Skepticism of "Man-Made" Global Warming (AGW) Alarm
Popular Technology Net, FRIDAY, JANUARY 14, 2011
The following papers support skepticism of AGW or the negative environmental or socio-economic effects of AGW. Addendums, comments, corrections, erratum, replies, responses and submitted papers are not included in the peer-reviewed paper count. These are included as references in defense of various papers. There are many more listings than just the 850 counted papers. This list will be updated and corrected as necessary.
AGW Alarm: (Defined) negative environmental or socio-economic effect of AGW, usually exaggerated as catastrophic.
Criticisms: All criticisms of this list have been refuted or a change made to correct the issue. Please see the notes following the list for defenses of common criticisms. I make every attempt to defend the list where possible, in many cases my comments correcting the misinformation stated about the list are deleted and I am blocked from replying. Please email me if you have any questions or need me to address something, populartechnology (at) gmail (dot) com.
Disclaimer: The inclusion of a paper in this list does not imply a specific personal position to any of the authors. The reason for this is a small minority of authors on the list would not wish to be labeled skeptical yet their paper(s) or results from their paper(s) support skeptic's arguments against AGW alarm.
Formatting: All papers are cited as: "Paper Name, Journal Name, Volume, Issue or Number, Pages, Date and Authors". All "addendums, comments, corrections, erratum, replies, responses and submitted papers" are preceded by a " - " and italicized. Ordering of the papers is alphabetical by title except for the Hockey Stick, Cosmic Rays and Solar sections which are chronological.
Peer-Reviewed: (Defined) of or being scientific or scholarly writing or research that has undergone evaluation by other experts in the field to judge if it merits publication.
Purpose: To provide a resource for peer-reviewed papers that support skepticism of AGW or the negative environmental or socio-economic effects of AGW and to prove that these papers exist contrary to widely held beliefs.
Todos os papers neste link.
A 2000-year global temperature reconstruction based on non-treering proxies (PDF)
(Energy & Environment, Volume 18, Numbers 7-8, pp. 1049-1058, December 2007)
- Craig Loehle
- Correction to: A 2000-Year Global Temperature Reconstruction Based on Non-Tree Ring Proxies (PDF)
(Energy & Environment, Volume 19, Number 1, pp. 93-100, January 2008)
- Craig Loehle, J. Huston McCulloch
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