domingo, 14 de agosto de 2011

Irlanda, da felicidade aos problemas - Colm Tóibín

Ao contrário do que o editor da revista afirma, a Irlanda não voltou à pobreza. Ela representa um dos mais extraordinários exemplos de desenvolvimento econômico e social, arrancando a si mesma da pobreza por políticas corretas. Recentemente, cometeu uma grande bobagem, devido ao excesso de riqueza, justamente: foi garantir a 100% depósitos bancários, atraiu mais capital do que deveria, e foi prejudicada pela crise dos derivativos americanos. Uma bobagem que não deveria ter feito. Mas ela não voltará à pobreza, e sim terá de administrar o buraco financeiro pelos próximos anos. Tem inteligência suficiente para superar um problema conjuntural, e continua a ter boas políticas em outras áreas.
Paulo Roberto de Almeida

O preço da felicidade, o custo da desgraça
por Colm Tóibín
Revista piauí, agosto 2011

Em texto exclusivo para a piauí, o escritor irlandês narra a trajetória de seu país, da pobreza à prosperidade e de volta à pobreza, em apenas quinze anos

Devia ser o verão de 1965, ou talvez um ano antes, e estávamos na praia na costa leste da Irlanda. Eu tinha 9 ou 10 anos. Minha mãe e meus irmãos provavelmente tinham ido nadar e isso significa que eu estava deitado no tapete escutando a conversa do meu pai com a irmã da minha mãe. A irmã da minha mãe gostava de discutir grandes assuntos como religião e política. Agora ela estava perguntando a meu pai, que era um membro ativo do partido do governo, o Fianna Fáil – que desde 1932 esteve quase sempre no poder – se ele apoiava todas as políticas e decisões de seus correligionários. Meu pai disse que sim, e isso me pareceu certo, pois nunca imaginara que ele pudesse pensar de outro modo. Eu sabia a opinião dele sobre o outro partido – o Fine Gael, principal partido oposicionista – que era a de que você podia cumprimentar seus membros quando cruzava com eles na rua, mas se alguma vez votasse neles sua mão direita gangrenaria e seria amputada.

O pai do meu pai era um nacionalista irlandês e tinha lutado contra os britânicos. Participou da rebelião de 1916, que, mesmo sendo derrotada, tornou-se o início do fim do domínio britânico na Irlanda. Em 1922, quando finalmente se retiraram, os ingleses decidiram dividir a Irlanda, ficando com o norte do país, que tinha uma população protestante maior e não queria se separar da Grã-Bretanha. E homens como meu avô eram totalmente contrários a esse arranjo. Meu avô e seus amigos queriam tudo ou nada, uma república formada por toda a ilha; os da outra facção, até ali seus camaradas na luta contra o domínio britânico, queriam aceitar a proposta britânica de uma Irlanda dividida. As duas facções, incluindo irmãos, travaram uma feroz guerra civil. Noventa anos depois, os dois principais partidos – Fianna Fáil e Fine Gael – descendem dessa guerra.

A política de ambos os lados era nacionalista, anti-imperialista e não propriamente de esquerda. O ideário não ia além da vaga noção de uma Irlanda autossuficiente. A guerra que travaram não foi uma guerra de classes. Assim, enquanto alguns ingleses partiram e perderam suas propriedades, a burguesia irlandesa não foi afetada pela independência. Os proprietários rurais mantiveram suas terras; os lojistas, suas lojas; os banqueiros, seus bancos. E a revolução irlandesa foi também comandada principalmente por católicos. O fim da guerra civil viu crescer, ao sul da fronteira, um Estado católico insular profundamente conservador e, ao norte, numa imagem especular, um estado protestante insular profundamente conservador. O partido do meu avô, Fianna Fáil, do qual meu tio também era membro, e no qual meu pai logo ingressaria, tomou o poder no sul em 1932; tornou-se ainda mais conservador e mais católico do que o outro partido, Fine Gael. O Partido Trabalhista continuou pequeno, sempre a terceira força; o movimento sindical também era conservador, e quase não tinha influência.

O problema para o novo Estado irlandês era como proporcionar trabalho à população. Os melhores empregos eram no funcionalismo público. Quase não havia indústria; a Irlanda era ainda um país basicamente agrícola. Dos anos 20 em diante muitos jovens emigraram para a Grã-Bretanha e Estados Unidos em busca de trabalho. Em 1939 Seán Lemass, que se tornaria primeiro-ministro vinte anos mais tarde, disse que os problemas econômicos da Irlanda tinham “criado uma situação em que o desaparecimento da raça era uma possibilidade que não podia ser ignorada”. O isolamento do país se acentuou ainda mais por causa da posição de neutralidade que assumiu durante a Segunda Guerra Mundial. Depois da guerra, enquanto a Europa era reconstruída com dinheiro do Plano Marshall, a Irlanda ficou, assim como a Espanha e Portugal, à margem da nova prosperidade.
Era, nos anos 50, um lugar atrasado, do qual era um alívio, quase um prazer, emigrar. Quatro em cada cinco crianças nascidas na Irlanda entre 1931 e 1941 emigraram. No final daquela década estava claro que era preciso fazer algo para modernizar o país. Em 1958 foi publicado o Primeiro Programa para a Expansão Econômica. A Irlanda tinha sido admitida no Banco Mundial e no Fundo Monetário Internacional em 1957. A partir de 1958, o país se abriu para o investimento estrangeiro e para o capital externo, predominantemente americano.

(leia a íntegra deste artigo neste link)

Cartazes sovieticos do realismo socialista (alguns surreais, na verdade)

A Rede Histórica selecionou 50 posters e pediu para que Irina Starostina traduzisse para o português. Confira o resultado!
http://historica.me/profiles/blogs/50-posters-sovieticos
Nós exigimos paz!

Ubiratan Iorio lanca seu novo livro: Escola Austriaca de Economia

Livraria da Vila - Al. Lorena, 1731 - São Paulo - 24/08/2011 19:00

Algumas frases permanentes, com verdades elementares...

O Socialismo dura até acabar o dinheiro dos outros.
Margaret Thatcher

É impossível levar o pobre à prosperidade através de legislações que punem os ricos pela prosperidade.
Por cada pessoa que recebe sem trabalhar, outra pessoa deve trabalhar sem receber.
O governo não pode dar para alguém aquilo que tira de outro alguém.
Quando metade da população entende a ideia de que não precisa trabalhar, pois a outra metade da população irá sustentá-la, e quando esta outra metade entende que não vale mais a pena trabalhar para sustentar a primeira metade, então chegamos ao começo do fim de uma nação.
É impossível multiplicar riqueza dividindo-a
.
Adrian Rogers (1931)

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Quantos países com governo socialista restam agora em toda a União Européia?
Apenas 3:
- Grécia
- Portugal
- Espanha.
Os 3 estão endividados...

Forum Liberdade e Democracia - Instituto Millenium (BH, 29/08/2011)


Cada um tem o Lula que merece - João Luiz Mauad

O Lula deles
João Luiz Mauad
O Globo, 13/08/2011

O fato de que estamos aqui hoje para debater o aumento do limite da dívida americana é um sinal de fracasso das nossas lideranças. É um sinal de que o governo dos Estados Unidos não pode pagar suas próprias contas. É um sinal de que agora dependemos da assistência financeira de países estrangeiros para financiar as políticas fiscais irresponsáveis do nosso governo.... O aumento do limite da dívida da América nos enfraquece nacional e internacionalmente. Liderança significa responsabilidade pelas próprias decisões. Em vez disso, Washington está jogando o ônus de suas más escolhas de hoje nas costas dos nossos filhos e netos. A América tem um problema com a dívida e uma falha de liderança. Os americanos não merecem isso. Eu, portanto, sou contra o aumento do limite da dívida.”

Sabe de quem são essas duras palavras, caro leitor? Acredite, o discurso acima foi proferido pelo então senador Barak Obama, ainda em 2006, quando o Congresso daquele país discutia o limite da dívida federal, durante o mandato de George W. Bush. Na época, o aumento aprovado trouxe o teto da dívida para US$ 9 trilhões. Sob a presidência de Obama, o número já fora elevado para US$ 14,3 trilhões. Antes do recente aumento, portanto, a dívida já estava 60% maior do que quando ele sinalizava um suposto "fracasso de liderança", há cinco anos.

Malgrado a enormidade dos números, os políticos norte americanos chegaram a um acordo, ao apagar das luzes, evitando assim que o governo daquele país ficasse inadimplente perante os seus credores internos e externos. Entre mortos e feridos, salvaram-se todos – pelo menos por enquanto.

Durante a longa queda de braço, fomos bombardeados por notícias e comentários - ecoados principalmente do notório New York Times, carro-chefe da mídia liberal (esquerdista) americana, à frente o estridente “nobelado” Paul Krugman - acerca do radicalismo e irresponsabilidade dos conservadores, capitaneados pelos fundamentalistas/terroristas do Tea Party, que insistiam numa postura de prudência e parcimônia – oh! Grande heresia! - em relação aos gastos do governo e, consequentemente, em relação à dívida pública. Aliás, os economistas podem discordar sobre o montante da dívida que um governo pode carregar com segurança, mas há certo consenso de que 100% do PIB é demais, especialmente quando se olha para os efeitos sobre a atividade econômica.

Mas os ditos radicais do Tea Party cometeram o supremo pecado de contrariar São Obama e, principalmente, a visão progressista segundo a qual quanto mais o governo gasta e se intromete na vida privada das pessoas, melhor para todo mundo. Embora seja muito difícil para qualquer pessoa de bom senso entender como é possível que um endividamento constante e progressivo do governo possa ser algo sadio, o que se viu foi o linchamento sem trégua dos atrevidos que se recusavam, constitucional e democraticamente, a dar carta branca para o executivo gastar a vontade.

Neste ponto, pode ser útil esclarecer exatamente sobre o quê estavam discutindo os dois lados. A questão não era propriamente se o governo federal deveria ou não expandir os seus gastos. Quase ninguém em Washington propôs o encolhimento do leviatã. Ao contrário, no final de dez anos tanto os gastos nominais quanto a dívida total serão bem maiores do que são hoje. Tenha-se em mente ainda que esses aumentos virão após uma das mais rápidas expansões de gastos federais na história dos EUA – desde que Obama tomou posse, houve um aumento de aproximadamente 30% em relação ao último ano de Bush.

Ademais, pouco se falou sobre isso, mas durante a maior parte do tempo o impasse esteve ancorado não no radicalismo do Tea Party, mas na intransigência do presidente, que insistia, mesmo contra a opinião majoritária do seu próprio partido, em aprovar limites muito maiores, além de aumentos de impostos.

Finalmente, pode-se discutir o que for, mas não é apropriado dizer que não havia legitimidade do legislativo para debater o tema, afinal eles foram eleitos exatamente para isso. Ao contrário da escatologia do NYT, a verdade é que o Congresso americano deu uma lição de democracia ao mundo, apesar do comportamento malsão de Obama, que, com discursos irresponsáveis, insistia em jogar a opinião pública contra os congressistas. Quisera eu que os nossos políticos discutissem os temas importantes da nação como fizeram os yankees, sem barganhas por cargos, liberação de verbas ou mensalões, mas apenas defendendo o que consideram melhor para o país.

Um economista sensato sobre politicas insensatas - Affonso Celso Pastore

Entrevista: Pastore foi presidente do Banco Central de 1983 a 1985
O governo brasileiro terá de se dobrar à realidade, diz ex-BC
Leandro Modé
O Estado de S. Paulo, 13 de agosto de 2011

Segundo Affonso Celso Pastore, se o País tentar garantir a meta de crescimento em meio à crise global, corre o risco de causar desequilíbrios, com alta da inflação ou endividamento

SÃO PAULO - O ex-presidente do Banco Central (BC) Affonso Celso Pastore mal conseguiu dormir nas noites que se seguiram ao rebaixamento da nota de crédito do governo dos EUA. A perda de sono resultou não apenas das preocupações com a piora do cenário global após a decisão da agência Standard & Poor’s, mas, principalmente, da dedicação para entender a complexa conjuntura global. Em momentos como o atual, consultores econômicos como ele são demandados como nunca pelos clientes.

Por mais complicada que seja a situação, eles precisam dar respostas que ajudarão bancos, empresas e até mesmo pessoas físicas a embasar decisões que movimentam cifras enormes. Ainda de olhos vermelhos, fruto das noites quase em claro, Pastore conversou com o Estado em seu escritório, na zona oeste de São Paulo, na tarde de quinta-feira. "Essa foi a primeira das últimas noites em que realmente dormi bem, de tão cansado que estava."

Para Pastore, o que ocorre hoje é parte da crise iniciada em 2008. E o cenário básico traçado por ele não é dos mais animadores, inclusive para o Brasil. "No quadro que vejo hoje da economia mundial, o Brasil vai crescer menos. E o governo vai ter de se dobrar à realidade. Não há o que fazer. Se tentar escapar disso, vai gerar desequilíbrios", afirmou. A seguir, os principais trechos da entrevista.

O que significa a diminuição da nota dos EUA para a economia global?

O rebaixamento da nota dos EUA é um episódio menor. Se só ele tivesse ocorrido, o dólar teria se desvalorizado e teria havido uma subida da taxa de juros americana. Só que ocorreu o contrário. Ou seja, há algo mais. No caso, a Europa, cuja percepção de risco cresceu mais que a americana. Para ter um entendimento completo disso, é preciso olhar para duas crises paralelas. A dos EUA, que já vem de algum tempo, mostra que a capacidade de o país crescer é muito menor do que o mercado pensava.

Por quê?

A crise de 2008 - esta, aliás, é a continuidade daquela - produziu uma destruição de riqueza que nunca aconteceu. Quando a riqueza cresceu durante a bolha, as famílias se endividaram gastando renda futura. Em outras palavras, o grau da alavancagem atingiu níveis sem precedentes - 130% da renda disponível. O estouro da bolha e a crise de 2008 fizeram a riqueza das famílias voltar ao nível em que estava antes de a bolha se formar. Só que o grau de endividamento ficou muito mais alto. Significa que é preciso poupar para pagar as dívidas. É o chamado processo de desalavancagem. (Kenneth) Rogoff, ex-economista-chefe do FMI, chamou a atenção para isso, ao falar em grande contração, e não grande recessão. O erro das pessoas foi achar que se tratava de uma recessão como as passadas.

E quando elas se deram conta de que não era?

Houve três episódios que fizeram essa percepção aumentar. O primeiro foi quando Obama teve de negociar o limite da dívida dos EUA. Ficou patente que ele perdeu o grau de liberdade na execução da política fiscal. O segundo ponto foi o fim do QE2 (quantitative easing, na sigla em inglês, que na prática significa injeção de dinheiro na economia por meio do banco central). Na sequência desses dois episódios, veio a revisão dos dados do Produto Interno Bruto (PIB), que mostrou que a recuperação havia sido muito frágil. A rigor, o PIB dos EUA ainda não voltou ao nível pré-crise. Se não houvesse a questão da Europa, isso deveria ter produzido uma mudança nos preços das ações, que deveriam ter caído.

E a Europa?

A crise europeia é, ao mesmo tempo, uma crise de dívida soberana e um potencial de crise bancária. As duas coisas sempre vêm juntas, como mostra um livro de Rogoff e Carmen Reinhart (Oito Séculos de Delírio Financeiro: Desta Vez é Diferente). Há vários tipos de contágio envolvidos. Há países insolventes, como Grécia, Irlanda e talvez Portugal, e países com dívidas grandes, casos de Espanha e Itália, que começaram a receber contágio dos menores. Segundo Rogoff, esse tipo de crise se resolve de três formas: ou se faz uma reestruturação ordenada das dívidas, ou se tem inflação ou acaba em default (calote).

Em qual dessas três possibilidades o sr. acredita?

Os europeus terão de ir para a reestruturação, que será custosa para os países, que terão de absorver os prejuízos dos bancos quando houver o corte das dívidas. E a Europa terá de ter cabeça fria para conseguir condição política de fazer isso.

Já há quem fale em uma década perdida para as economias desenvolvidas.

A analogia aqui é com o Japão. Houve uma desalavancagem das empresas japonesas, não das famílias, como nos EUA de hoje. Há um livro magistral sobre isso (The Holy Grail of Macroeconomics), escrito por Richard Koo, que mostra o seguinte: quando o Japão foi para taxa de juros nula, não conseguiu fazer a economia crescer porque o melhor uso que as empresas podiam ter era pagar dívida. As empresas nos EUA não estão endividadas, o que tem enganado gestores de fundos. O ponto, tanto nos EUA quanto na Europa, é que as pessoas não consomem. É preciso, portanto, desalavancar as famílias. Esse processo é longo. Pode levar uma década para acertar isso.

Estamos a caminho de uma segunda recessão, o que chamam de double dip?

É possível, sem dúvida, de várias formas. A primeira é a seguinte: os EUA não crescem. Em sua última decisão, o Federal Reserve (Fed, banco central americano) se comprometeu a não mexer no juro básico até 2013. Mas há sinais que pode fazer um QE3. Como o quantitative easing potencialmente produz estímulo de demanda? Há dois canais. O primeiro é gerar um efeito riqueza. Me parece que, hoje, esse efeito é muito pequeno, se é que vai ter. O QE2, por exemplo, não mexeu em um único cent nos preços das casas. O segundo canal de transmissão se dá por meio da desvalorização do dólar (que favorece as exportações americanas e, por tabela, o crescimento econômico). O problema é que o mundo está ficando irritado com a depreciação do dólar. Os países sentem que voltou um comportamento que, no século 19, chamava ‘beggar thy neighbour’, que é a depreciação competitiva da moeda para ganhar mercado do outro.

Mas há reações no mundo.

Sim, hoje, há reações em vários lugares, inclusive no Brasil - ainda que, por aqui, de forma meio atabalhoada. Não quero dizer que o mundo sairá do regime de câmbio flutuante, mas cito um exemplo usando dois países, a Austrália e a China. Os australianos nunca intervêm no câmbio, enquanto os chineses adotam câmbio fixo. Se o Fed anunciar um QE3, é uma nova força para enfraquecer o dólar. Se o mundo se comportar como a Austrália, os EUA atingem o que desejam (aumentar suas exportações). Mas, se reagir como a China, os EUA não conseguem desvalorizar sua moeda. No limite, nesse cenário, poderá haver estagflação (estagnação com inflação) nos EUA. Acho que o mundo não caminhará para nenhum dos extremos - nem Austrália nem China.

E o Brasil?

Deve olhar isso tudo com muita cautela. Pode acontecer no mundo uma coisa extrema. Se houver a solução crítica, desordenada, será reproduzido, em tese, o que houve na fase pós-quebra do Lehman Brothers. Cai comércio mundial, desabam preços das commodities, PIB do mundo e do Brasil caem. Nesse caso, o Brasil terá de reagir de forma semelhante a 2008. Semelhante, frise-se, não igual. Teremos de usar dinheiro das reservas para financiar exportações e comprar recebíveis, reduzir compulsórios se houver empoçamento de liquidez nos bancos. Podemos usar melhor o Fundo Garantidor de Crédito (FGC) para evitar prejuízos. Ainda assim haverá desaceleração mais forte. Em um caso desses, seria preciso baixar a taxa de juros. Mas não é preciso fazer isso no pressuposto de que pode acontecer. Tem de fazer se acontecer.

O sr. acredita que acontece?

O meu cenário base é o de que isso provavelmente não ocorre, apesar do impasse político da Europa. A história recente joga a favor de a Europa ter racionalidade. Pessoas influentes na região sabem que deixar a situação atual convergir para uma crise bancária dispara um fenômeno à la Lehman Brothers.

E a China?

Não adianta dizer que a China vai salvar o mundo porque é um país que está neste globo, não em Marte ou em Vênus. Se EUA e Europa desaceleram, a China desacelera, por mais que a gente ache que a China é um fenômeno inexplicável. Em resumo, desacelera todo mundo e desacelera o Brasil. Com isso, há uma força desinflacionária aqui. Tudo o mais constante, a primeira providência será o Banco Central interromper a alta dos juros e ficar em compasso de espera. Se tiver de baixar, baixa. Independentemente da velocidade que baixe, quando o mercado perceber que entrou em um ciclo de queda, a curva de juros já inclina negativamente, de forma que o BC não pode e não deve ser precipitado nessa redução. Deve ir com cautela. Digo isso explicitamente para não dizerem que estou defendendo redução amanhã. Como, aliás, um bando de gente tem feito.

Qual seria o efeito no Brasil de um eventual QE3?

Um QE3 levaria a uma nova rodada de enfraquecimento do dólar e, como as commodities globais estão correlacionadas com a moeda americana, os preços de commodities subiriam. É claro que há duas forças contraditórias aqui, pois há a desaceleração do mundo. Ao se colocar as duas coisas juntas, não se sabe direito para onde vai (o preço).

Como deve reagir o governo?

Nesse cenário, por que eu defendo que uma reação do governo se dê no campo monetário, e não no fiscal? Em primeiro lugar, porque o campo fiscal já está suficientemente desarrumado. E ficou provado no mundo que a tal reação keynesiana, que muitos economistas têm defendido também no Brasil, provocou tudo isso que estamos vendo nos EUA e na Europa. (John Maynard) Keynes (considerado o mais importante economista do século 20) nunca escreveu que essas políticas levariam ao aumento da dívida pública. Ele nunca prestou atenção a esse fato. O mundo provou depois que déficits aumentam a dívida.

Em se confirmando esse cenário, o Brasil vai crescer menos. Só que o governo brasileiro tem a meta de crescer 4,5% ao ano. Não dá para cumprir essa meta nos próximos anos?

Não vou dizer que vai ou não vai, porque lá pelas tantas a Europa pode resolver seu problema. Mas, no quadro que vejo hoje da economia mundial, o Brasil vai crescer menos. E o governo vai ter de se dobrar à realidade. Não há o que fazer. Se tentar escapar disso, vai gerar desequilíbrios. Ou na conta corrente ou na inflação ou no endividamento. De alguma forma, será algo que trará custos mais adiante.

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