sábado, 1 de fevereiro de 2014

Socialismo para os incautos - Paulo Roberto de Almeida

Socialismo para os incautos

Paulo Roberto de Almeida

Quem diria?!: o socialismo, temporariamente aposentado e relegado a um esquecido e remoto depósito de alternativas credíveis ao velho e duro capitalismo, parece estar voltando novamente à cena, agora travestido em sua nova roupagem “do século XXI”. Ele passou a ser oferecido, sobretudo, na América Latina, terra de todos os milenarismos.
Com efeito, depois de seu brilhante fracasso no final dos anos 1980, o socialismo tinha ido fazer companhia à roca de fiar e ao machado de bronze, no museu das antiguidades, como pretendia Engels em relação ao Estado. Surpreendentemente, ele parece ensaiar um retorno triunfal nos remakes que vem sendo servidos em tom triunfalista – e a grandes doses de subsídios petrolíferos – por alguns personagens diretamente retirados dos livros de história, ainda que de épocas que se imaginavam enterradas e esquecidas.
Seu retorno em grande estilo se deve, ao que parece, aos fracassos igualmente rotundos do “neoliberalismo” na região, no decorrer das duas décadas seguintes ao desmantelamento do socialismo real na Europa do leste (e um pouco em todas as outras partes do mundo). O fato é que o velho capitalismo continuava a ser, de fato, um sistema injusto e desigual, mas ele se impunha quase que naturalmente como forma de organização econômica e social, uma vez que não tinha sobrado quase nada de alternativo, e que fosse factível, nas reduzidas prateleiras do supermercado da história. Tivemos passar a consumir capitalismo, em doses maciças, de forma praticamente obrigatória.
Para alguns, a experiência de ter de aceitar compulsoriamente o capitalismo deve ter sido traumática. Os órfãos do velho socialismo – tão mais numerosos quando nunca tiveram de viver a experiência do “socialismo real” – devem estar novamente esperançosos, ao assistir os anúncios triunfalistas que são atualmente feitos em nome do novo socialismo, cujos contornos são ainda em grande parte indefinidos, mas que envolvem as fórmulas habituais de estatização e os cacoetes culturais conhecidos em torno da criação do “homem novo”, como convém aos sistemas deliberadamente messiânicos e salvacionistas. Aos velhos socialistas se juntaram vários grupos de jovens idealistas, comumente referidos como antiglobalizadores ou altermundialistas, que acreditam, em grande medida sinceramente, que o capitalismo representa, de fato, a maior soma de iniqüidades possíveis de todas as formas conhecidas de organização econômica e social, entre elas as comunidades primitivas e o feudalismo medieval.
Contemplo essa “nova marcha para a frente”, no sentido da “redenção da humanidade”, com o olhar cético de quem já assistiu a esse filme antes, inclusive por ter me engajado, em outras eras, na luta contras as iniqüidades do capitalismo latino-americano e sua submissão aos ditames do imperialismo colonizador e de ter tido, na seqüência, a oportunidade de conhecer os diversos socialismos reais disponíveis nas lojas de departamento da história, a maior parte nos países do leste europeu, do início até quase o final dos anos 1970. Estou portanto habilitado a pronunciar-me por experiência própria quanto às esperanças de se ter um “novo socialismo”, desta vez sem as habituais bulas marxianas ou leninistas, apenas com roupagens e cenários que me lembram, vagamente, as fórmulas mussolinianas.
Se isto pode servir de consolo aos jovens idealistas da antiglobalização – uma vez que eu considero os “velhos órfãos” do socialismo “irreformáveis” e “intransformáveis” –, eu diria o seguinte: aqueles que hoje condenam o capitalismo por todas as suas iniqüidades, provavelmente nunca conheceram suas alternativas “reais”, que eram as do socialismo de tipo soviético e suas diversas variantes, algumas delas sobrevivendo ainda numa pequena ilha do Caribe e num canto remoto da Ásia. Apenas a falta de informação e uma irracional recusa em se informar, a despeito da massa de conhecimento acumulada a respeito das experiências do socialismo real podem explicar essa demanda, atualmente crescente, por um “socialismo do século XXI”.
Eu, por ter conhecido pessoalmente, se ouso dizer, todos os socialismos reais e o seu modo de funcionamento interno, posso assegurar, com toda a candura de uma alma reconciliada com as supostas iniqüidades do capitalismo, que não há maior miséria moral, maiores atentados à dignidade humana, do que os regimes socialistas que existiram na face da terra até bem pouco. Posso parafrasear o que disse o poeta e revolucionário cubano José Marti dos Estados Unidos, país no qual ele se exilou temporariamente, para escapar dos opressores coloniais de sua pátria: “eu conheci as entranhas do monstro”. De fato, pude conhecer o interior da “baleia socialista” e o que vi não era nada bonito, muito pelo contrário.
O mais chocante, justamente, não eram apenas as pequenas misérias materiais, o aspecto deteriorado dos equipamentos públicos, a falta habitual de produtos de primeira necessidade, as estantes sempre vazias nos comércios, a rudeza de apresentação e o caráter tosco da maior parte dos bens e serviços oferecidos nos “mercados” socialistas, tudo isso era habitual e esperado e não me surpreendeu mais do que a decepção dos primeiros contatos. O que estava por trás de tudo aquilo era muito mais importante, pois tinha a ver, não com a simples miséria material, mas com os comportamentos sociais, com o olhar furtivo das pessoas, com a contenção da linguagem, com a retenção do pensamento, com o permanente estado de vigilância policial, em uma palavra, com a miséria moral que só os verdadeiros regimes socialistas são capazes de exibir.
Não estou me referindo aqui ao Estado policial em estado quimicamente puro, se ouso dizer, uma amostra do qual pode ser conferido na grande “biografia” do Gulag da historiadora Anne Applebaum. Não tem a ver com a repressão direta, estilo Gestapo ou NKVD, apenas com a vida cotidiana num país socialista “normal” do Leste europeu em meados dos anos 1970. Aquilo deve ter me vacinado de maneira eficaz contra minha anterior inclinação revolucionária a querer implantar o socialismo a golpes de martelo, como pretendíamos na nossa juventude de opositores do regime militar brasileiro.
Por isso, quando ouço novamente os novos cantos de sereia sobre o “socialismo do século XXI”, permito-me retrucar modestamente: vamos ficar com as modestas iniqüidades materiais do capitalismo – que permitem, ainda assim, o progresso individual baseado no mérito individual e no esforço próprio – e deixar de lado as tentações totalitárias de pretender implantar a igualdade na base do autoritarismo, o que só pode conduzir às grandes iniqüidades morais do socialismo.
Não existem grandes virtudes no socialismo, apenas “heróis” do povo, devidamente fabricados por ditadores pouco esclarecidos que implantam regimes muito parecidos com os sistemas fascistas existentes na Europa do entre-guerras. Por experiência própria, eu constatei que a ditadura dos medíocres – que caracteriza quase sempre os regimes socialistas – é uma coisa terrível, e a miséria daí derivada é muito superior à eventual miséria material do capitalismo...


Brasília, 1733, 18 março 2007

sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

O Ministerio das Perguntas Cretinas - Carlos Brickmann


Millôr Fernandes criou, em O Cruzeiro, o Ministério de Perguntas Cretinas. Havia perguntas como "xeque-mate pode ser falsificado?" e a resposta: "Com a vantagem de que o sujeito não acaba no xadrez. Já está". Pois retomemos o Ministério, com perguntas (sem resposta) da jornalista Regina Helena Paiva Ramos:

1- - Chanceler brasileiro pode mentir? O nosso disse que a parada em Lisboa foi decidida no sábado e Portugal já estava informado desde quinta-feira.

2 - - Dilma levou 45 pessoas. O presidente do Uruguai viaja com quantas?

3- - De onde saem as ordens para incendiar ônibus em São Paulo? Ainda não deu para a Polícia mais bem equipada do país saber o que ocorre, para agir?

4 - - As mortes nos presídios do Maranhão continuam. Ninguém vai pedir o impeachment da governadora, que não tem controle da situação - ou, pior, tem?

5 - - Quando a Sabesp, estatal paulista de saneamento, vai parar de botar anúncios na TV de que saneou o Litoral, e vai usar o dinheiro saneando o Litoral?

6- - Quando o prefeito paulistano, Fernando Haddad, vai retirar as faixas avisando que certos locais são sujeitos a enchentes, e tocar obras contra enchentes?

7 - - Por que há dinheiro para construir um porto em Cuba e não há para dragar o porto de Santos? A profundidade de Santos é de 13 metros e deveria ser de 17, mas falta verba. O porto cubano tem verba nossa e nasce com 18 metros.
E as respostas? Não precisamos de um Ministério das Respostas Cretinas. As respostas a gente vive recebendo sem que seja criado o 41º Ministério. 

Carlos Brickmann, 31/01/2014

A Involucao dos Estados Latino-Americanos? - "uma cupula inutil", Editorial Estadao

Absolutamente inútil

31 de janeiro de 2014 | 2h 19
Editorial O Estado de S.Paulo
Dos 83 parágrafos da declaração final da 2.ª Cúpula da Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac), não há rigorosamente nenhum que justifique a realização do encontro - salvo, talvez, o 80.º, em que se anuncia a data do próximo. Poucos documentos resumem com tanta clareza a inutilidade de mais esse ajuntado de letras que representa, no discurso grandiloquente de seus líderes, "o espaço adequado para reafirmar a identidade da América Latina e do Caribe, sua história comum e suas lutas contínuas pela justiça e pela liberdade".
O caminho até a Celac foi palmilhado, nesta década, por siglas criadas para dar forma à ideia de integração latino-americana sem a presença dos Estados Unidos, o grande inimigo ideológico a ser combatido. Temos, assim, a Comunidade Sul-Americana de Nações (Casa), que foi rebatizada de União de Nações Sul-Americanas (Unasul), e a Alternativa Bolivariana para as Américas, que depois se tornou a Aliança Bolivariana para os Povos de Nossa América (Alba).
A Celac é, ela mesma, uma espécie de antípoda da Organização dos Estados Americanos (OEA), que, na visão dos bolivarianos, é submissa aos interesses dos Estados Unidos. Tanto é assim que o falecido caudilho Hugo Chávez, idealizador da Celac, queria que ela se chamasse Organização dos Estados Latino-Americanos.
Embora a verborragia vazia das declarações oficiais aborde uma ampla série de temas, como o "reconhecimento do papel dos povos indígenas no desenvolvimento econômico" e o "risco do aquecimento global para os países pobres", a Celac existe apenas para incluir Cuba - que, como se sabe, só poderá voltar à OEA se deixar de ser uma ditadura.
O isolamento cubano, que inspirou a formação da Celac, já nem é tão grande. A aproximação não se resume à relação calorosa de Cuba com a Venezuela, que substituiu a União Soviética como financiadora oficial do regime castrista. Diversos outros países fazem atualmente bons negócios em Cuba, a começar pelo Brasil, e a União Europeia vem há tempos negociando com Havana. O bloqueio americano à ilha, usado como pretexto pela linha-dura cubana para se manter no poder, é, de fato, anacrônico.
Mas o que se pretende com a Celac, e isso ficou claro nessa última cúpula, realizada justamente em Havana, é legitimar a ditadura cubana. Não é à toa que a declaração final principia enfatizando que deve haver respeito "ao direito soberano de cada um de nossos povos para escolher sua forma de organização política e econômica". É uma clara renúncia à imposição de qualquer forma de cláusula democrática, como a que aparece no conjunto de normas da OEA e que pune países nos quais não vigora o "respeito aos direitos humanos e às liberdades fundamentais" e o "acesso ao poder e seu exercício com sujeição ao Estado de Direito", além do "regime pluralista de partidos e organizações políticas" e a "separação e independência dos poderes públicos". É a descrição de tudo o que não há em Cuba - cujo regime mandou prender uma centena de dissidentes às vésperas da realização da cúpula da Celac.
Para não dizer que foi totalmente improdutivo, o desfile das guayaberas teve alguma utilidade ao menos para a Venezuela. O presidente venezuelano, Nicolás Maduro, anunciou que a Celac vai ajudar o país a enfrentar a escassez de diversos produtos, fruto da política econômica suicida praticada pelo chavismo. "Não vão nos chantagear. Estamos rompendo amarras com todos e estamos criando novos fornecedores em países aliados estratégicos", discursou Maduro.
A presidente Dilma Rousseff prestigiou essa farsa, com direito ao manjado beija-mão com Fidel Castro e a um discurso em que elevou Cuba à categoria de grande parceiro comercial - apesar dos apagões, da infraestrutura arruinada e da escassez de quase tudo. Dá-se preferência, assim, apenas à satisfação de compromissos ideológicos, destituídos de qualquer resultado positivo - enquanto iniciativas regionais com verdadeiro potencial, como o Mercosul, padecem há anos de picuinhas e desinteresse.

Por que Cuba e' pobre - Diogo Costa

Por que Cuba é pobre

Uma dica: não é por causa do bloqueio americano
Como escreve João Pereira Coutinho: “O embargo americano existe, sem dúvida, e deve ser condenado pelo seu óbvio anacronismo [...]. Mas é preciso acrescentar a segunda parte da frase: só existe o embargo americano. Que o mesmo é dizer: todo mundo que é mundo mantém relações com Cuba e nem assim a ilha se converteu numa espécie de Suécia do Caribe”.
Antes de 1959, o problema de Cuba era a presença de relações econômicas com os Estados Unidos. Depois o problema se tornou a ausência de relações econômicas com os Estados Unidos.
O embargo americano é obsceno, mas não é a raiz da pobreza cubana. De fato, como indica Coutinho, os cubanos podem comprar produtos americanos pelo México. Podem comprar carros do Japão, eletrodomésticos da Alemanha, brinquedos da China ou até cosméticos do Brasil.
Por que não compram? Porque não têm com o que comprar. Não é um problema contábil ou monetário — o governo cubano emite moeda sem lastro nem vergonha. O que falta é oferta. Cuba oferece poucas coisas de valor para o resto do mundo. Cuba é pobre porque o trabalho dos cubanos não é produtivo.
A má notícia para os comunistas é que produtividade é coisa de empresário capitalista. Literalmente. É o capital que deixa o trabalho mais produtivo. E é pelo empreendedorismo que uma sociedade descobre e realiza o melhor emprego para o capital e o trabalho.
É pelo empreendedorismo que uma sociedade descobre e realiza o melhor emprego para o capital e o trabalho
Mesmo quando o governo cubano permite um pouco de empreendedorismo, ele restringe a entrada de capital. Desde que assumiu o poder em 2007, Raúl Castro já fez a concessão de quase 170.000 lotes de terra não cultivada para agricultores privados. Só que faltam ferramentas e máquinas para trabalhar a terra. A importação de bens de capital é restrita pelo governo. Faltam caminhões para transportar alimentos. Os poucos que existem estão velhos e passam grande parte do tempo sendo consertados. Em 2009, centenas de toneladas de tomate apodreceram por falta de transporte.
Campanhas internacionais contra a pobreza global se esquecem dos cubanos. Parece que o uniforme dos irmãos Castro tem o poder de camuflar a pobreza em meio a discursos de conquista social. Dizem que Cuba tem medicina e educação de ponta. Ainda que fosse verdade, isso seria bom apenas para o pesquisador de ponta. E triste para o resto da população que vive longe da ponta, sem acesso a informação aberta ou aos medicamentos mais básicos, como analgésicos e antitérmicos. É como na saudosa União Soviética. A engenharia era de ponta. Colocava gente no espaço e tanques na avenida. Só não era capaz de colocar carro nas garagens nem máquina de lavar nas casas.
Cuba vai enriquecer quando a sua população se tornar mais produtiva para trabalhar e mais livre para empreender. Ou seja, quando houver capitalismo para os cubanos.
Fonte: Instituto Mises Brasil

Obras uteis para os candidatos 'a diplomacia: dez livros

Dez obras fundamentais para um diplomata

Paulo Roberto de Almeida

Reproduzo uma listagem anterior, indicativa de alguns dos livros que considero importantes para uma boa cultura clássica, ou para uma formação adequada no quadro da cultura brasileira, com uma inclinação especial para os temas de relações internacionais do Brasil:

1) Heródoto: História (440 a.C.)
     Disponível neste link (em inglês): http://classics.mit.edu/Herodotus/history.html

2) Maquiavel: O Príncipe (1513; divulgado pela primeira vez em 1532)

3) Tocqueville: A Democracia na América (1835)

4) Pierre Renouvin: Histoire des relations internationales (1953-58; nova edição em três volumes em 1993; Paris, Hachette)

5) Henry Kissinger: Diplomacy (1994; várias edições posteriores)

6) Manuel de Oliveira Lima: Formação histórica da nacionalidade brasileira (1912; nova edição: Rio de Janeiro: Topbooks, 1997)

7) Pandiá Calógeras: A política exterior do Império (3 volumes, 1927-1933; reedição fac-similar, 1989; Brasília: Câmara dos Deputados)

8) Carlos Delgado de Carvalho: História Diplomática do Brasil (1959; reedição fac-similar, 1998; Brasília: Senado Federal)

9) Marcelo de Paiva Abreu (org.). A Ordem do Progresso: cem anos de política econômica republicana, 1889-1989 (1989; outra edição: Rio de Janeiro: Campus, 1994)

10) Paulo Roberto de Almeida: Formação da Diplomacia Econômica no Brasil: as relações econômicas internacionais no Império (publicado em primeira edição em 2001; reedição em 2005 pela Senac-SP).

Uma última palavra sobre a auto-permissão para o narcisismo, como evidenciado no último livro, justamente: eu poderia indicar algum dos livros de história diplomática do Brasil disponíveis no mercado, mas disponho, aparentemente, de crédito suficiente – em matéria de estudo e pesquisa – para destacar minha própria investigação histórica sobre os fundamentos da nossa moderna diplomacia econômica (com a promessa de que vou continuar esse trabalho de pesquisa em dois volumes subsequentes cobrindo o longo século republicano).

Brasília, 29 de setembro de 2006


Itamaraty diminuido na gestao presidencial - Denise Chrispim Marin (OESP)

ITAMARATY

 

O Estado de S. Paulo - Ô Itamaraty!

Denise Chrispim Marin

 

O desprezo da presidente Dilma Rousseff ao Itamaraty tem sido extravasado em público e a portas fechadas desde seus primeiros dias de governo. No Palácio do Planalto, diplomatas a seu serviço antes chamados pelo nome passaram a ouvir da presidente: “ÔItamaraty!”. No episódio de sua escala em Lisboa e hospedagem no hotel Ritz, quem foi designado por Dilma para dar explicações à imprensa não foi a secretária de Comunicação Social, ministra Helena Chagas. A missão de dar a cara a tapa recaiu ao chanceler Luiz Alberto Figueiredo.

 

Os gastos com a hospedagem de todos os membros da comitiva em Lisboa, como sempre ocorre nas viagens presidenciais, caiu nas contas do Itamaraty. Inclusive os R$ 26 mil da diária da suíte presidencial do Ritz. Figueiredo, com o cuidado de omitir esse fato, explicou que o gasto seria inevitável porque uma parada seria requerida no trajeto da presidente de Davos a Havana. Aluguéis de prédios onde funcionam postos do Brasil mundo afora, enquanto isso, são pagos com atraso, assim como parte dos benefícios para os diplomatas em serviço no exterior.

 

Esse foi apenas um episódio recente e, talvez, o menor de todos. Outros, mais graves, foram registrados ao longo dos últimos três anos. Em junho de 2012, o então chanceler Antônio Patriota foi retirado por Dilma da reunião na qual acabou decidida a suspensão do Paraguai do Mercosul e o ingresso da Venezuela como membro pleno do bloco. Patriota, ciente do fato de a Venezuela estar distante do cumprimento da agenda de adesão, opunha-se a seu ingresso atropelado. Ao humilhá-lo, Dilma humilhou o Itamaraty. O mesmo fez todas as vezes em que pediu a retirada do então chanceler do avião presidencial para acomodar, em seu lugar, um político e nas tantas vezes em que ignorou o embaixador brasileiro no país por ela visitado.

 

Com esses gestos, a presidente desprezou um ministério onde engenheiros – os profissionais de sua preferência – são naturalmente raros. Não se trata de uma formação comum aos diplomatas de nenhum país. Mas Dilma Rousseff parece não saber disso. A presidente – sempre se soube – não dá atenção à política externa e a seus executores. Se ao menos delegasse a formulação e a execução dessa política ao Itamaraty, como muitos de seus antecessores, certamente o Brasil estaria mais bem inserido nos foros internacionais e com uma teia de acordos substanciosos, inclusive para a melhoria da competitividade dos setores produtivos nacionais. Decisões dessa área, como acordos internacionais, dormem em sua centralizadora gaveta.

A emergencia da democracia americana - book excerpt by Delancey


In today's selection -- from The Perennial Philadelphians: The Anatomy of an American Aristocracy by Nathaniel Burt.  At the beginning, the United States was not a democracy. The framers had feared a true democracy, and thus up until 1913 senators were elected largely by state legislators, and the president by the electoral college. Only congressmen were voted on directly by the people. By the early to mid-1800s, attitudes and practices were rapidly changing. Andrew Jackson was elected in 1828, and since he was the first president who was not a member of the East coast establishment, it was viewed as a victory for the common man. Nevertheless, democracy was still opposed by many -- especially those from the elite classes. Here we learn the attitude toward democracy in the mid-1800s of Sidney Fisher, a member of one of the old line Philadelphia families: 

"Says Sidney Fisher: 'The proper pursuit for a man of my position is the life of a gentleman farmer.' ... He was a gentleman of romantic good looks, the best family connections (his grandmother was a Logan) and not enough money, who led a rather querulous and useless life in Philadelphia during the nineteenth century. A representative 'disappointed man,' he dabbled at law and poetry, tried to live beyond his income, married an Ingersoll -- and kept a diary. The diary, discovered among the effects of his son, has almost daily entries from 1834 to 1871, and has been transcribed, all seventy-nine volumes of it, into typescript. ... There is an enormous amount about houses and furniture and parties and people, nothing about God and Mr. Fisher's conscience. ...


Sidney George Fisher

"His feeling about position and family of course was quite unequivocal: 'Luckily my fortune small as it is and my social position command respect from the mass,' and 'I am somewhat proud of my family, as on both sides my ancestors for five or six generations have held the stations of gentlemen and men of property and education -- which is something in this country of parvenus.' This country as opposed, of course, to England, which he never saw and knew only by hearsay, but which he regarded in true Tory-colonial fashion as his spiritual home; the England of the landed gentry, not of Reform Bills and Gladstone and such, whose '... grandeur, wealth and splendour, pervading comfort' (now that the shoe is on the other foot this is usually referred to as 'American materialism') 'make one repine that one's lot is cast anywhere else. We are poor and coarse and unrefined and there are so many things to disgust and feel ashamed of, that I really think the true way is to insist on our claim of relationship to England and feel proud of her glory and greatness, and keep our complacency in that way for the next hundred years.' ...

"Part of this somewhat nauseating snobbism was political; that is, derived from his Federalist hatred of democracy in theory and of Jackson in practice. 

'My hatred of democracy is stronger than my love of country. Truly, as the newspapers say, we live in a favored country. The cold of Russia, the heat of Africa; drought, disease, and democracy make up a combination of blessings. Nothing is done with reference to the wishes or opinions of the educated classes; hence the war against the Bank [of the United States] and the cry against the rich and the 'aristocrats.' I always vote against the popular side on principle. '

"These are sentiments which could have been uttered almost word for word by any good New Deal-hating Old Philadelphian a century later in the 1930's, before the Second World War, like the Civil War, stirred up a latent patriotism. 

"To one with such an attitude, naturally, politicians are a low sort of vermin, and engagement in public life is no fit occupation for a gent. Mr. Ramsey, an acquaintance from Dickinson College days, 

'is now on his way to Washington, a member of Congress. This sounds great but nowadays political success implies little merit of any kind. On the contrary the most educated and virtuous men avoid public life and from the interior of our Boeotian State [that is, western Pennsylvania] the favorites of the democracy are seldom distinguished for anything but vulgarity, want of principle, etc. well ... but he seems more of a gentleman.'

"Having met the Governor of Pennsylvania, Fisher feels kindly disposed, since he is after all not a Democrat and hence at least on the right side. 'Ritner is a bluff good-humored, honest-looking fat Dutchman, without the slightest approach to the appearance or manner of a gentleman. This however is not to be expected in a Governor of Pennsylvania.' ...

"This is all somewhat unfair to ... Sidney, as it presents them at their most exasperated. ... In the end, he even accepted and admired Lincoln, that apostle and representative of dreadful Democracy, and so presumably changed some of his opinions a little bit. 

"On the whole, however, Sidney, and most Old Philadelphians, are more inclined to subscribe to his pithy statement, 'If we must submit to democracy in the government, let us at least keep it away from our social circles.' "


The Perennial Philadelphians: The Anatomy of an American Aristocracy 
Author: Nathaniel Burt 
Publisher: University of Pennsylvania Press
Date: Copyright 1963 by Nathaniel Burt
Pages: 23-26, 29


If you wish to read further: Buy Now

Postagem em destaque

Livro Marxismo e Socialismo finalmente disponível - Paulo Roberto de Almeida

Meu mais recente livro – que não tem nada a ver com o governo atual ou com sua diplomacia esquizofrênica, já vou logo avisando – ficou final...