quinta-feira, 21 de maio de 2020

Remembering Stephen Jay Gould - American Museum of Natural History

Meu tributo ao grande biólogo evolucionista, precocemente desaparecido, de quem eu li quase tudo, e até fiz um grande artigo de resenha – antes de suas últimas obras – para homenagear o cientista que muito ensinou, que figura em meu próximo livro, como vou informar oportunamente. Eis ao artigo: 
Um Darwinista Heterodoxo: Stephen Jay Gould e a Sobrevivência dos (Cientistas) mais Aptos”, Genebra, 19 abril 1988, 25 p. Ensaio sobre a obra do naturalista norte-americano, com destaque para a teoria dos “equilíbrios pontuados” e suas conexões com o processo histórico. Revisto em 12 junho 1988, com base em comentários e observações de consultores encaminhados pelo Comitê Editorial da revista mensal da SBPC. Publicado em Ciência e Cultura (São Paulo: vol. 40, n. 12, dezembro de 1988, p. 1154-1163). Disponível neste link: 
https://www.academia.edu/5804779/159_Um_Darwinista_Heterodoxo_Stephen_Jay_Gould_e_a_Sobreviv%C3%AAncia_dos_Cientistas_mais_Aptos_1988_?sm=a
Paulo Roberto de Almeida

Remembering Stephen Jay Gould

by American Museum of Natural History (New York) 
on 
https://www.amnh.org/explore/news-blogs/news-posts/remembering-stephen-jay-gould

The Museum mourns the death of Stephen Jay Gould, among the most influential paleontologists and evolutionary biologists of the late 20th and early 21st centuries.
Dr. Gould's long-standing association with the Museum began as a doctoral student in the joint American Museum-Columbia University program working under the advisement of the eminent paleontologist and Museum Curator Norman Newell. As a student he also began a lifelong collaboration with Niles Eldredge, Curator Emeritus in the Division of Paleontology, on the theory of punctuated equilibrium.
The theory argues that evolutionary history is a pattern of rapid shifts followed by stasis rather than a slow and steady process of change. His association with the Museum continued with his regular contributions to Natural History magazine between 1974 and 2001, resulting in over 300 essays, many of which were collected in books such as Ever Since Darwin and Bully for Brontosaurus. He was also named the Frederick P. Rose Honorary Curator in the Museum's Division of Paleontology.
Gould began teaching at Harvard University in 1967 where he spent his entire career. At Harvard he held the titles Alexander Agassiz Professor of Zoology, Curator of Invertebrate Paleontology in the Museum of Comparative Zoology, and Professor of Geology. He was also Vincent Astor Visiting Research Professor of Biology at New York University. His honors included the prestigious Schuchert Award for excellence in paleontological research by a scientist under 40, the MacArthur Foundation "Genius" Fellowship, and "Scientist of the Year" by Discover magazine for the theory of punctuated equilibrium that he co-authored with Niles Eldredge. Gould was also a frequent contributor to Discover magazine.
He served as the President of the Paleontological Society and President of the American Association for the Advancement of Science. Gould won the National Magazine Award for Essays and Criticism in 1980 and in 1981 received both the American Book Award for The Panda's Thumb and the National Book Critic's Circle award for The Mismeasure of Man. His other books include The Flamingo's Smile, Hen's Teeth and Horse's Toes, An Urchin in the Storm, and Wonderful Life: The Burgess Shale and the Nature of History and his recently published comprehensive volume The Structure of Evolutionary Theory.
Gould regarded himself primarily as an evolutionary biologist, where his queries explored subjects from fossils to growth and development, speciation, extinction, adaptation as well as many more facets of the field. As a writer of science, philosophy, and history his interests embraced a great range of issues pertinent to both science and society. He wrote with passion, facility and clarity about such topics as racial stereotyping, the human genome, health and longevity, evolution and creationism, art, poetry, music, and baseball.
While a highly influential scientist in the areas of his specialty, he also made, through his writing and speaking, an unparalleled connection to the public concerning many aspects of science and its impact on humanity.
In Dr. Gould's memory, we present three essays from Natural History magazine:
This View of Life: Size and Shape
The introductory essay in Stephen Jay Gould's column "This View of Life," from the January 1974 issue of Natural History magazine.
This View of Life: The Creation Myths of Cooperstown
Or, why the Cardiff Giants are an unbeatable and appropriately named team.
This View of Life: I Have Landed
In the final essay of this twenty-seven-year series, the author reflects on continuity—from family history to the branching lineage of terrestrial life.

Listagem de trabalhos sobre relações internacionais, de política externa e de história da diplomacia brasileira - Paulo Roberto de Almeida

Listagem de trabalhos de Paulo Roberto de Almeida
Ensaios de relações internacionais, de política externa e de história da diplomacia brasileira e sobre personalidades nessas áreas (para fins de seleção)



Listas preliminares (para verificação):
2195. “Diplomatizando, I e II: ensaios de relações internacionais, de economia política internacional, de política regional e de diplomacia brasileira”, Shanghai, 29 setembro 2010, 7 p. Esquemas de dois livros a serem editados com base em materiais já elaborados (à exceção de prefácios e posfácios), para integrar coletâneas pessoais a serem distribuídas diretamente aos interessados. A desenvolver, revisar, editar.
2576. Economia Política do Desenvolvimento Brasileiro: ensaios de história econômica e de relações internacionais, Hartford, 28 fevereiro 2014, 308 p. Coletânea de ensaios produzidos nos últimos dois anos; revisto, e refeito com textos unicamente de relações internacionais e de política externa do Brasil. Refeito como As relações econômicas internacionais do Brasil: Uma perspectiva histórica de sua inserção na economia mundial, ainda sem numeração própria. Inédito.

Primeira parte: ensaios de caráter histórico e sociológico
1)      Relações internacionais: ensaio de síntese sobre os primeiros 500 anos (718: 25/12/1999, 17 p.)
2)      A formação econômica brasileira a caminho da autonomia política: uma análise estrutural e conjuntural do período pré-independência (1793: 2/09/2007, 22 p.)
3)      O que Portugal nos legou? Um balanço de 1808-1822 e as perspectivas do presente (1846: 16/12/2007, 13 p.)
4)      A herança portuguesa e a obra brasileira: um balanço e uma avaliação de dois séculos (1857: 7/02/2008, 20 p.)
5)      Um “imenso Portugal”? A hipótese de um império luso-brasileiro no contexto internacional do início do século XIX (3538: 15/11/2019, 48 p.)
6)      Padrões e tendências das relações internacionais do Brasil em perspectiva histórica: uma síntese tentativa (2522:1910/2013, 32 p.)
7)      O Brasil e o abolicionismo tardio, nunca completado (3667: 10 maio 2020, 10 p.)
8)      A diplomacia regional americana do Brasil durante o Império: entre a Europa e os vizinhos hemisféricos (1114: 16/09/2003, 25 p.)
9)      O serviço exterior brasileiro ao longo do século XIX: Organização funcional e remuneração da diplomacia imperial (1503: 11/12/2005, 34 p.)
10)   Os investimentos estrangeiros e a legislação comercial brasileira no século XIX: retrospecto histórico (992: 26/12/2002, 36 p.)
11)   A construção do direito internacional do Brasil a partir dos pareceres dos consultores jurídicos do Itamaraty: do Império à República (3023: 26/08/2016, 49 p.)
12)   Dinâmica da economia no século XX (772: 4/022001, 28 p.)
13)   Mudanças de regime econômico na história do Brasil: transformações estruturais, evolução institucional (2701: 25/10/2014, 44 p.)
14)   A economia do Brasil nos tempos do Barão (2372: 4/03/2012, 32 p.)
15)   As relações econômicas internacionais do Brasil na primeira fase da era republicana (1889-1945) (838: 12/12/2001, 37 p.)
16)   Brazil and the 1919 peace negotiations: a newcomer among the greats (3474: 7-16/06/ 2019, 21 p.)
17)   O Sindicalismo Internacional e o Movimento Operário no Brasil: a experiência dos anos vinte (062: 4-15/07/1979, 30 p.)
18)   O Brasil na conferência econômica de Londres de 1933 (3457: 2/05/2019, 27 p.)
19)   O Brasil no turbilhão da guerra civil espanhola (3535: 11/11/2019, 22 p.)
20)   A democratização da sociedade internacional e o Brasil: ensaio sobre uma mutação histórica de longo prazo (1815-1997) (597: 2/12//1997, 32 p.)
21)   O Brasil e o sistema de Bretton Woods: instituições e políticas em perspectiva histórica, 1944-2002 (882: 28/03/2002, 36 p.)
22)   A Diplomacia do Liberalismo Econômico: As relações econômicas internacionais do Brasil durante a Presidência Dutra (208: 20/081991, 61 p.)
23)   O Mito do Liberalismo Econômico: Uma revisão da política econômica brasileira durante o período Dutra (216: 9/11/1991, 83 p.)
24)   O Brasil no sistema multilateral de comércio: do GATT à OMC (3464: 13/05/2019, 20 p.)
25)   A Política da Política Externa: os partidos políticos nas relações internacionais do Brasil, 1930-1990 (327: 14/03/1993, 85 p.)
26)   A Política da Política Externa: os partidos políticos nas relações internacionais do Brasil, 1930-1990 (383: 25/09/1993, 79 p.)
27)   As relações econômicas internacionais do Brasil dos anos 1950 aos 80 (1825: 19/10/2007, 22 p.)
28)   As relações Brasil-Estados Unidos em perspectiva histórica (1056: 29/05/2003, 28 p.)
29)   Finanças internacionais do Brasil: uma perspectiva de meio século (1954-2004) (1329: 22/09/2004, 43 p.)
30)   Por que o Brasil ainda não é um país desenvolvido? (3359: 8/11/2018, 11 p.)
31)   O Fim de Bretton-Woods? A longa marcha da Organização Mundial do Comércio (427: 4//05/1994, 27 p.)
32)   Desconstruindo Bretton Woods: a fragmentação do multilateralismo (3513: 19/09/2019, 9 p.)
33)   O governo Goulart e o mito das reformas de base (2580: 6/03/2014, 15 p.)
34)   As relações internacionais do Brasil na era militar (1964-1985) (3078: 25/01/2017, 22 p.)
35)   O processo econômico na era militar: crescimento e crises (3174: 8/10/2017, 40 p.)
36)   Do alinhamento recalcitrante à colaboração relutante: o Itamaraty em tempos de AI-5 (1847: 31 dezembro 2007, 32 p.)
37)   As Relações Internacionais na Ordem Constitucional (166: 20/11/1988, 36 p.)
38)   A Estrutura Constitucional das Relações Internacionais e o Sistema Político Brasileiro (193: 7/08/1990, 29 p.)
39)   O Brasil e o processo de formação de blocos econômicos: conceito e história, com aplicação aos casos do Mercosul e da Alca (1091: 3/08/2003, 22 p.)
40)   Liderança presidencial em política externa: o caso do Brasil (2471: 8/03/2013, 32 p.)
41)   Presidentes na política externa brasileira: da retração ao ativismo (2735: 22/12/2014, 42 p.)
42)   O Brasil nas relações internacionais do século 21: fatores externos e internos de sua atuação diplomática (1858: 11/02/2008, 50 p.)
43)   Paradoxos das relações internacionais contemporâneas (3510: 6/09/2019, 13 p.)
44)   Pandemia global e pandemia nacional: um futuro pior que o passado (23/04/2020)
45)   A arte da diplomacia e da negociação (29/04/2020)
46)   A política externa e a diplomacia em tempos de pandemia global (20/05/20)
47)   O mundo pós-pandemia: contextos políticos e tendências internacionais (3670: 15/05/2020, 13 p.)


Segunda parte: diplomatas, intelectuais, historiadores
1)      Diplomates brésiliens dans les lettres et les humanités (3411, 19/02/2019, 8 p.)
2)      Diplomatas brasileiros nas letras e nas humanidades (3657: 30/04/2020, 6 p.)
3)      Os intelectuais da diplomacia brasileira: uma justa homenagem (3586: 20/02/2020, 9 p.)
4)      Hipólito da Costa e o nascimento do pensamento econômico no Brasil (834: 3/12/2001, 26 p.)
5)      O intelectual Hipólito José da Costa como pensador econômico (1243: 12/04/2004, 11 p.)
6)      Hipólito da Costa: o primeiro estadista do Brasil (3317: 8 agosto 2018, 25 p.)
7)      O patriarca da nação: José Bonifácio de Andrada e Silva (3515: 22 setembro 2019, 8 p.)
8)      Tobias Barreto: um intelectual em sua própria escola de inteligência (3478: 16/06/2019, 11 p.)
9)      A economia política do Barão, na obra de L. C. Villafañe (3408: 7/02/2019, 13 p.)
10)   O Brasil e os Estados Unidos antes e depois de Nabuco: uma avaliação de desempenho relativo no plano do desenvolvimento social (2046: 16/09/2009, 23 p.)
11)   Oliveira Lima e a diplomacia brasileira no início da República: um intelectual com ideias fora do lugar ou com propostas fora da época? (991: 24/12/2002, 22 p.)
12)   Oswaldo Aranha: estadista político (3162: 13/09/2017, 9 p.)
13)   Oswaldo Aranha: estadista econômico (1931-34, 1953-54) (3161: 10/11/2017, 21 p.)
14)   O chanceler no conflito global (1939-1945): a Segunda Guerra Mundial e a campanha pela democracia (3160: 8/09/2017, 26 p.)
15)   Oswaldo Aranha como estadista visionário: construindo o futuro do Brasil em plena guerra (3138: 9/07/2017, 14 p.)
16)   Renato Mendonça, um intelectual na diplomacia (2424: 19/09/2012, 33 p.)
17)   Rubens Ferreira de Mello: o primeiro tratado brasileiro de direito diplomático (3421: 3/03/2019, 20 p.)
18)   Roberto Campos, um humanista da economia na diplomacia (3329: 18/09/2018, 32 p.)
19)   Em busca da simplicidade e da clareza perdidas: Delgado de Carvalho e a historiografia diplomática brasileira (600: 12/12/1997, 25 p.)
20)   Afonso Arinos de Melo Franco e a política externa independente (3585: 16-18/02/2020, 23 p.)
21)   José Guilherme Merquior: o esgrimista liberal (3577: 7-19 fevereiro 2020, 48 p.)
22)   Amado Luiz Cervo e a historiografia brasileira de relações internacionais (3669: 14/05/2020, 8 p.)
23)   Rubens Ricupero: um intelectual na diplomacia (2353: 7/01/2012, 5 p.)
24)   Rubens Ricupero: um intelectual na diplomacia (3169: 27/09/2017, 5 p.)
25)   Em busca do livro perdido: homenagem a Rubens Ricupero (3167: 22/09/2017, 6 p.)
26)   Construindo a nação pelos seus diplomatas: resenha do livro de Rubens Ricupero (3168: 27/09/2017, 3 p.)
27)   Personagens da Diplomacia Brasileira: em poucas palavras (2520: 16/10/2013, 105 p.) 

Apêndices:
História e historiografia das relações internacionais do Brasil: um empreendimento em construção” (3479: 23/06/2019, 43 p.)
Um guia bibliográfico cronológico, 1945-2020



[Brasília, 21/05/2020]

quarta-feira, 20 de maio de 2020

Os ossos do Barão estremecidos - Letícia Borges - Os Divergentes

Os ossos do Barão estremecidos

É um chanceler ou um militante???

Não sei onde está enterrado o corpo do Barão do Rio Branco (ok, podemos recorrer ao Google), mas tenho certeza de que há tremores enormes por ali. No túmulo dele e de todos os seus sucessores que aqui já não se encontram.
Ver aquela cena do atual chanceler, como um simples tarefeiro, um mero militante, descendo a rampa do Planalto pra buscar e estender uma bandeira para o chefe, foi de doer, foi de dar muita, mas muita vergonha. Não é preciso ter punhos de renda pra sentir engulhos com a imagem de um homem pequeno, que não entende a função e a importância do cargo.
O ex ministro das Relações Exteriores, Olavo Setúbal – Foto Orlando Brito
Foi o que fez Ernesto Araújo no último domingo, na rampa do Palácio do Planalto. Apequenou-se, diminuindo também a relevância histórica do Ministério das Relações Exteriores, do qual é titular. Uma lista dos que ocuparam a principal cadeira do Itamaraty apenas da redemocratização pra cá pode dar uma ideia do que se está falando: Olavo Setúbal, Abreu Sodré, Francisco Rezek, Celso Lafer, Fernando Henrique Cardoso, Luiz Felipe Lampreia, Celso Amorim, Seixas Corrêa (interino e sogro do atual) … Faltam um ou outro, mas basta. Uns ficaram mais tempo, outros menos. Teve até quem ocupou o lugar do Barão mais de uma vez.
Até os de fora da carreira e com menos afinidade com o tema, como Abreu Sodré, demonstraram mais dignidade e respeito ao cargo. Por cinco anos, como setorista de dois jornais no Itamaraty, acompanhei de perto o trabalho de diplomatas e seus chefes.
Sodré foi muita coisa na vida; era um homem rico, com uma belíssima fazenda em São Paulo e apartamento na chiquérrima Avenue Foch, em Paris. Mas não entendia nada de diplomacia, misturava as coisas (inclusive a pronúncia de muitas palavras, para deleite dos jornalistas e caras envergonhadas dos diplomatas), às vezes falava o que não devia… Merece uma crônica à parte, mas aí é uma outra história.
Sodré, no entanto, sabia das suas limitações. Deu autonomia ao seu secretário-geral, o experiente embaixador Paulo Tarso Flecha de Lima, ouvia os assessores, tinha consideração pelo corpo técnico do ministério.
Quanto aos ex-chanceleres oriundos da carreira, podiam enfrentar em maior ou menor grau alguma resistência interna ou as maldades vindas daquele ofidiário, como também é conhecido o Itamaraty. Mas isso faz parte.
Não sei se seria muita ousadia dizer que o atual chanceler é uma unanimidade. Talvez ele tenha sua turma. Ou os que eternamente bajulam os de cima pra avançarem na carreira. Isso é pouco, muito pouco.
Assim que ele assumiu, perguntei a um amigo diplomata, já aposentado, o que ele poderia me contar de Ernesto Araújo. Recebi uma resposta tipicamente itamarateca: “Não havia nada para contar até pouco tempo atrás, agora há demais….
E isso foi no começo. Hoje, estão todos horrorizados com o que diz, o que não diz, o que escreve e o que fala o chanceler. Cabe sobretudo aos aposentados verbalizarem as críticas. E alguns ex-ministros, que recentemente assinaram um manifesto contra as sandices ditas por Araújo.
O embaixador Marcos Azambuja
Ex-secretário-geral do Ministério das Relações Exteriores, Marcos Azambuja resumiu o constrangimento – ou, mais que isso, a indignação – com que os antigos diplomatas enxergam a atual gestão: “Nós estamos tendo uma política externa simplesmente lunática, que causa danos a nós mesmos, que é injustificável à luz dos nossos interesses e valores”.
Os desatinos de Ernesto Araújo – do “comunavírus” e outras teorias conspiratórias às agressões a aliados, passando pelo absurdo corte dos jornais brasileiros para os postos no exterior – podem ser conferidos no noticiário. E dariam pano pra muita manga. Mas há analistas mais qualificados se ocupando disso.
A mim, apenas, fica o choque com o registro da imagem, que custei a acreditar ser verdadeira, daquele homem minúsculo a correr pela rampa, resfolegando, pra agradar o chefe. Nem os seguranças faziam este papel…
Que vergonha, senhor chanceler!


Livros digitais: um mercado florescente - Rodolfo Borges (El Pais)

LIVROS DIGITAIS
Eles publicaram os próprios livros e descobriram não precisar de editoras

Autopublicação, que atrai até famosos como Paulo Coelho, ganha espaço com crise do mercado editorial. Autores mais lidos de plataformas como o Kindle chegam a ganhar 50.000 reais em um mês

MAIS INFORMAÇÕES

John Kennedy Toole ganhou o prêmio Pulitzer de ficção de 1981 por A Confederacy of Dunces (Uma confraria de tolos), mas não pôde celebrar. Doze anos antes, o autor do livro que se tornaria uma referência de Nova Orleans tinha tirado a própria vida, sem conseguir lidar com a rejeição do editor Robert Gottlieb a sua obra. A trágica história de Toole, conhecida porque sua mãe persistiu anos depois no projeto de publicar o livro, soa distante numa época em que é possível publicar livros por conta própria sem qualquer custo — e quando fazê-lo pode ser até melhor (e mais rentável) do que aguardar por editoras que possivelmente não teriam tempo ou dinheiro para sequer avaliá-los.
A economista Eliana Cardoso, já com dois livros de ficção publicados pela Companhia das Letras, chegou a buscar uma editora para publicar o terceiro, Dama de paus. Diante da negativa, partiu para o Kindle Direct Publishing (KDP), plataforma de autopublicação da Amazon que chegou ao Brasil em 2012. Meses depois, a escritora recebeu a notícia de que tinha ganhado o concurso anual promovido pela gigante do varejo desde 2016 no Brasil. "É um luxo ter o livro revisto e editado por uma grande editora. Por outro lado, a autopublicação através do KDP é uma saída espetacular", celebra Cardoso, que embolsou o prêmio de 30.000 reais e verá seu livro impresso pela editora Nova Fronteira. Ela conta que o aplicativo de edição disponibilizado pela Amazon é muito fácil de usar, que o processo não apresenta nenhum custo para o autor e que cabe a ele definir o valor a ser cobrando, do qual ele pode ficar com até 70% do preço de capa — as editoras costumam repassar cerca de 10% para seus autores por livros físicos e 25% pelos digitais.
O negócio é tão bom que até escritores de grande sucesso, como Paulo Coelho, publicam seus livros pela plataforma. Enquanto a Companhia das Letras distribui seus livros físicos no Brasil, os e-books são vendidos diretamente pela Amazon em todo o mundo (com exceção dos EUA), o que lhe permite ficar com 35% do valor de cada volume, já que a venda não é exclusiva da Amazon. Gerente para o KDP da Amazon no Brasil, Talita Taliberti destaca que outros sucessos literários, como Mário Sergio Cortella e Augusto Cury, também já publicaram pela ferramenta, e diz que da lista dos 100 livros mais vendidos pela empresa no Brasil, em torno de 30 costumam ser de autopublicação.
Entre eles dificilmente não estará um livro de Nana Pauvolih, uma professora que trocou as aulas de história pelo sucesso literário (e financeiro) em 2013. Em seu segundo mês de KDP, a autora de literatura erótica já ganhava mais do que nos seus dois empregos como professora, nas redes pública e privada do Rio de Janeiro. O sucesso de livros como A coleira e de séries como Redenção acabou chamando a atenção da agente literária Luciana Villas-Boas, que fez a ponte da autora com editoras como Rocco e Planeta, que hoje publicam suas obras. Sete anos depois de começar a publicar suas histórias em blogs, Pauvolih conta 29 livros, 25 deles autopublicados, e mais de 100.000 e-books vendidos — além disso, a mencionada série Redenção está para virar minissérie da Rede Globo.
Autores de sucesso como Nana Pauvolih podem ganhar até 20.000 reais mensais, com picos de 50.000 reais em um bom mês de lançamento, mas precisam se empenhar na divulgação das próprias obras, ressalva Janice Diniz, outra autora independente de sucesso. Ex-professora de português, a autora de livros sobre histórias com cowboys como Casamento sem amor calcula em cerca de 48 os seus títulos publicados. "Publico mês sim, mês não. Só no último ano [2018], quando tive de escrever para a Happer Collins, que eu fiquei três meses sem publicar", conta.
Hoje, Diniz publica pelo selo Harlequin da editora, com quem tem contrato até 2020, mas diz que vive bem desde 2015 apenas com os rendimentos da autopublicação. “Peguei todas as fases do preconceitos. De autora independente, em relação à literatura erótica e ao livro digital”, lembra a autora, que começou sua carreira literária pagando para imprimir seus livros. "Era inviável. Não tinha lucros, só gastos. E eu ainda comecei com uma trilogia. Tinha de manter um estoque dos dois primeiros e ainda pagar pela impressão do terceiro", conta. Ela estava quase desistindo de se tornar escritora quando surgiu a possibilidade de publicar em meio digital.
Hoje, Janice Diniz conta com o auxílio de três amigas para administrar os cerca de 100 grupos de Facebook utilizados para divulgar sua obra, que, para ela, está acomodada confortavelmente na plataforma de publicação da Amazon. A escritora diz que até tentou utilizar outra opção, a Kobo Writing Life, mas o fato de os valores das vendas serem repassados aos autores apenas duas vezes por ano a afastou — já o KDP repassa os valores mensalmente e ainda remunera os autores por página lida, a partir de um fundo global que hoje gira em torno de 88 milhões de reais. A eficiência da Amazon, cujo serviço de venda direta chegou ao Brasil neste ano, contrasta com a crise do mercado editorial brasileiro.

Mercado editorial

No ano passado, Saraiva e Livraria Cultura, duas da maiores redes de varejo de livros do país pediram recuperação judicial — a Cultura, aliás, é a representante da plataforma Kobo no Brasil. O mesmo ocorreu com a distribuidora BookPartners. Além disso, a rede de livrarias Laselva, que tinha pedido recuperação judicial em 2013, enfim decretou falência em 2018. A crise obviamente reverbera nas editoras, que não recebem os pagamentos devidos. Quando pediu recuperação judicial, a Saraiva informou à Justiça ter uma dívida de 675 milhões de reais.
Foi nesse contexto que a editora Cosac Naify fechou as portas melancolicamente em 2015. Um ano depois, em mais uma demonstração de força, a Amazon comprou parte do passivo, de 230.000 livros, e poupou a falida editora do fardo de estocá-los, mas não do desconforto de lidar com as notícias de que a outra parte do acervo teria de ser destruída e transformada em aparas.
Ao lamentar em seu blog os "dias mais difíceis" para os livros no Brasil, o presidente do Grupo Companhia das Letras, Luiz Schwarcz, escreveu em novembro do ano passado que "as editoras ficaram sem 40% ou mais dos seus recebimentos" por conta da crise nas redes de livrarias. "Passei por um dos piores momentos da minha vida pessoal e profissional quando, pela primeira vez em 32 anos, tive que demitir seis funcionários que faziam parte da Companhia há tempos", escreveu o editor, acrescentando linhas depois: "Numa reunião para prestar esclarecimentos sobre aquele triste e inédito acontecimento, uma funcionária me perguntou se as demissões se limitariam àquelas seis. Com sinceridade e a voz embargada, disse que não tinha como garantir".
Numa situação dessas, não é de se espantar que um autor estreante como J. L. Amaral tenha buscado refúgio na autopublicação. Após trabalhar 20 anos como bancário, esse publicitário por formação resolveu parar tudo para tentar uma carreira literária. Em janeiro de 2017, enviou seu Entre pontos para cinco editoras. Em setembro daquele ano, como não tinha recebido nenhuma resposta, resolveu publicar o livro por conta própria, no KDP. Três meses depois, estava entre os finalistas do Prêmio Kindle daquele ano. “Enquanto o mercado não se estabilizar, vai ser difícil ter um espaço à sombra”, constata o autor, que publicou Borboletas azuis pela mesma plataforma no ano passado e, enquanto escreve o terceiro livro, tenta aprimorar sua formação como escritor e roteirista.
Em contraste com as redes físicas de livros, os ambientes virtuais têm celebrado crescimento. A Amazon não revela seus números, mas só no prêmio promovido neste ano foram 1.500 livros inscritos. O Clube de Autores, que permite publicar livros digitais e físicos, diz lançar 40 obras por dia em sua plataforma e celebrou no ano passado um crescimento de 30%, como registra o portal Publishnews. A Bibliomundi, outra plataforma digital, publicou 931 livros no ano passado e diz que dobrou seus registros de autores independentes. São poucos, contudo, os que conseguem andar com as próprias pernas no mundo da literatura. Eliana Cardoso, que ganhou o último Prêmio Kindle, confessa expectativa quando à relação que pode vir a desenvolver com a Nova Fronteira após a publicação de Dama de paus, mas seu próximo projeto literário, um livro infantil, já tem destino certo: o Kindle Direct Publishing. “A Nova Fronteira não está trabalhando nesta área, e o KDP oferece um aplicativo só para livros infantis”.

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