sexta-feira, 18 de abril de 2025

Dia do Diplomata - Rubens Barbosa (Interesse Nacional) - Gustavo Buttes (presidente do Sindicato do Itamaraty)

Dia do diplomata

Rubens Barbosa *

Editorial da revista

Interesse Nacional, 18/04/2025


Comemoração ocorre em momento crítico para a diplomacia em diferentes partes do mundo, o que evidencia a confusão entre os interesses nacionais e os de grupos políticos que colocam a política externa sob pressão ideológica

No próximo dia 20, será celebrado o dia do diplomata. A comemoração ocorre em um momento difícil para a instituição, o que não é um problema isolado do Brasil, haja vista o que acontece, entre outros, no Departamento de Estado, nos EUA, e no Quai D’Orsay, na França.

Nos últimos 20 anos, a formulação e a execução da política externa têm passado por um processo disfuncional em que os interesses nacionais são confundidos com interesses setoriais e políticos. Gradualmente a política externa passou a sofrer interferências ideológicas e partidárias que a afastam dos interesses do Estado. Um recente ministro do exterior aceitou que o Brasil fosse considerado um pária internacional por defender posições políticas vigentes no governo.

O Itamaraty é o principal assessor do presidente da República para a formulação e execução da política externa e sempre foi o órgão que coordena a participação do Brasil no mundo, seja no âmbito bilateral, quanto nos organismos multilaterais. 

As mudanças internas na política brasileira, acarretaram um continuado processo de esvaziamento do Itamaraty. Ao longo dos últimos anos, o Itamaraty perdeu espaço em temas como comércio exterior (mesmo no Mercosul), meio ambiente e mudança de clima, agenda de costumes, direitos humanos, entre outros. 

‘O Itamaraty deve fazer valer sua competência e espírito público para enfrentar o desafio de recuperar o papel central de coordenação em temas que impactem a projeção do Brasil no mundo’

No governo atual, o Itamaraty começou perdendo a Apex e enfrentou, com limitado sucesso, o desafio de tentar coordenar as ações externas das pastas de Meio Ambiente, Direitos Humanos, Mulheres, Igualdade Racial e povos indígenas. O Itamaraty deve fazer valer sua competência e espírito público para enfrentar o desafio de recuperar o papel central de coordenação em temas que impactem a projeção do Brasil no mundo.

As questões relacionadas com o fluxo da carreira e com vencimentos naturalmente preocupam, sobretudo os que estão nas classes iniciais e intermediárias. “A reforma do Regime Jurídico do Serviço Exterior, em discussão desde 2024, é um passo crucial. A atual estrutura piramidal de carreiras, aliada a promoções lentas, quando não paralisadas, pautadas por mecanismos personalistas e pouco transparentes, precisa dar lugar a um modelo de carreira ágil, que valorize mérito, capacitação e experiências multidisciplinares e multiculturais. A proposta em negociação prevê carreiras mais fluidas, progressão justa e capacitação continuada”, como assinala o presidente do sindicato dos diplomatas. 

As reivindicações justas dos jovens para aperfeiçoar a carreira diplomática têm de ser compatibilizadas com as prioridades do Ministério da Gestão e Inovação, que coordena a reforma, e da direção da chancelaria.

O Sindicato dos diplomatas – o único existente entre as carreiras de Estado – considera que “o fortalecimento institucional do Itamaraty passa necessariamente pelo diálogo social e pela participação ativa de suas servidoras e seus servidores. A negociação sindical, longe de ser um obstáculo, é parte essencial do processo democrático de modernização”. As negociações sindicais – cujos objetivos, em diversos casos, podem não ser aceitas por muitos – não podem deixar para um distante segundo plano as prioridades internas sobre os rumos da política externa e para a contribuição substantiva do Itamaraty.

O Ministério das Relações Exteriores se ressente da falta de liderança interna proativa já há alguns anos e da ausência de uma política externa com visão estratégica de médio e longo prazo sobre o lugar do Brasil no mundo, para responder com um trabalho mais eficiente e de resultados. 

Ao celebrar o dia do diplomata, espera-se que a instituição possa superar o risco que corre hoje de perder ainda mais espaço e de deixar de ser vista como um exemplo de excelência dentro do serviço público brasileiro. 

O Itamaraty, como instituição de Estado, não pode se transformar em mais um exemplo de burocracia que apenas defende os interesses pessoais imediatos de seus membros, como acontece, em geral, nos três poderes da Administração Pública. A reforma em discussão não pode resultar em prejuízo para o funcionamento da instituição, que, em consequência, venha a afetar o processo de formulação e de execução da política externa. 

* Rubens Barbosa 

Presidente e fundador do Instituto de Relações Internacionais e Comércio Exterior (IRICE). É presidente do Conselho Superior de Comércio Exterior da FIESP, presidente da Associação Brasileira da Indústria de Trigo (Abitrigo), presidente do Centro de Defesa e Segurança Nacional (Cedesen) e fundador da Revista Interesse Nacional. Foi embaixador do Brasil em Londres (1994–99) e em Washington (1999–04). É autor de Dissenso de Washington (Agir), Panorama Visto de Londres (Aduaneiras), América Latina em Perspectiva (Aduaneiras) e O Brasil voltou? (Pioneira), entre outros.

Artigos e comentários de autores convidados não refletem, necessariamente, a opinião da revista Interesse Nacional

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Responde o presidente do Sindicato dos Diplomatas: 

Estimado Embaixador Rubens Barbosa,

Gostaria de parabenizá-lo pelo excelente artigo publicado no portal Interesse Nacional, especialmente pelos pontos que reforçam a necessidade de fortalecimento do Itamaraty. Concordo plenamente com sua premissa de que é imprescindível investir na valorização, na capacitação e na modernização da nossa diplomacia, para que o Brasil possa atuar de forma mais efetiva no cenário internacional. Sua análise aprofunda questões essenciais, como a importância de consolidar uma carreira diplomática robusta e preparada para os desafios contemporâneos.

As reflexões presentes em seu texto estão alinhadas à perspectiva de que o fortalecimento do Itamaraty é fundamental para reverter a tendência de perda de espaço do Ministério das Relações Exteriores na formulação e execução da política externa brasileira. É necessário criar condições para que o órgão recupere sua centralidade, por meio de uma modernização da estrutura, de uma atualização do regime jurídico e demais legislações que regem a carreira diplomática, e do investimento na formação e na valorização de nossos diplomatas.

Nesse sentido, destaco de seu texto dois outros aspectos complementares, mas não menos importantes, que merecem atenção: a formação de lideranças internas e o fortalecimento da atuação sindical. A capacitação contínua de quadros, com ênfase em habilidades técnicas e estratégicas, é crucial para garantir que o Itamaraty conte com profissionais aptos a enfrentar os complexos desafios da política internacional. Paralelamente, um sindicalismo propositivo e qualificado, como o que a ADB tem buscado construir, é peça-chave para defender os interesses da categoria e, ao mesmo tempo, contribuir para o aprimoramento institucional.

Concordo com o Sr. no sentido de que o Dia do Diplomata é uma efeméride mais que oportuna para trazer essa discussão à ribalta. Celebrar a data vai além do reconhecimento histórico; é uma chance de refletir sobre o futuro da carreira e as mudanças necessárias para que o Brasil tenha uma diplomacia à altura de suas ambições.

Nesse contexto, destaco uma iniciativa do nosso sindicato que busca contribuir para esse fortalecimento. A ADB Sindical iniciou a elaboração do livro “Competências Diplomáticas para o Brasil do Século XXI”. A obra tem o objetivo de criar um debate acadêmico consistente e formar massa crítica sobre os principais pilares da atuação brasileira no exterior. Acreditamos que esse esforço é fundamental para subsidiar as reformas necessárias e consolidar uma diplomacia mais alinhada às demandas do século XXI.

Ao agradecer mais uma vez pela sua valiosa contribuição a esse debate, coloco-me à disposição para colaborar na construção de uma política externa mais forte, moderna e autônoma.

Abraços cordiais, 

Gustavo Buttes


Simpósio Stefan Zweig no caleidoscópio do tempo - Biblioteca Nacional

Participei, como autor-colaborador, do livro que será objeto deste simpósio na Biblioteca Nacional na sexta-feira 25 de abril. Tenho o prazer de oferecer maiores informações sobre o evento. PRA

Simpósio Stefan Zweig no caleidoscópio do tempo

Biblioteca Nacional, 25/04/2025

Biblioteca Nacional, 25/04/2025

Stefan Zweig é mais atual do que nunca e sua universalidade é comprovada pelas reedições e adaptações das suas obras para telas e palcos ao redor do globo. 

O simpósio Stefan Zweig no caleidoscópio do tempo, realizado pela Casa Stefan Zweig de Petrópolis, pela embaixada da Áustria em Brasília e pela Fundação Biblioteca Nacional, joga luz sobre o escritor austríaco que se exilou no Brasil em duas mesas redondas e com a exibição do episódio sobre Zweig da série Canto dos Exilados. 

O evento é gratuito, ocorre sexta-feira, 25 de abril, das 10h às 17h no Auditório Machado de Assis, da Biblioteca Nacional, no Rio de Janeiro, e contará com transmissão ao vivo pelos canais do YouTube do Casa Stefan Zweig (@casastefanzweigdigital) e da FBN (@FundacaoBibliotecaNacional). Estudantes universitários podem solicitar certificado de presença pelo e-mail casastefanzweig@gmail.com

Até hoje, Stefan Zweig (1881-1942) é um dos autores de língua alemã mais publicados e lidos no mundo. Mais de 25 mil pessoas viram a exposição Stefan Zweig, autor universal no saguão da Biblioteca Nacional de meados de dezembro de 2024 a meados de fevereiro deste ano. O simpósio será aberto às 10h30 pelo presidente da Fundação Biblioteca Nacional, Marco Lucchesi, pelo embaixador austríaco Stefan Scholz e pelo presidente da Casa Stefan Zweig de Petrópolis, Israel Beloch e explora os motivos do sucesso e da força da obra e das ideias humanistas de Zweig.

As duas mesas-redondas reúnem alguns dos autores da primeira coletânea de textos de autores brasileiros sobre o escritor que escolheu Petrópolis para passar seus últimos meses de vida. 

“Stefan Zweig no caleidoscópio do tempo” é o título do livro lançado em junho de 2024 pela Casa Stefan Zweig de Petrópolis em parceria com o Laboratório de Estudos Judaicos da Universidade de Uberlândia em Minas Gerais. 

Na primeira mesa-redonda, das 11h às 12h30, os historiadores Israel Beloch e Fábio Koifman falarão respectivamente sobre Zweig e seu “fígado negro” e “Brasil, país do futuro” antes de Stefan Zweig. 

O tema do editor José Luiz Alquéres, conselheiro da Casa Stefan Zweig e membro do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, é Stefan Zweig e a visão da realidade. 

Tradutora de 12 títulos do autor austríaco, a jornalista e diretora executiva da Casa Stefan Zweig, Kristina Michahelles, tem como tema Luminoso e trágico, atual e universal.

A mesa-redonda da tarde será composta pelos professores Maria das Graças Salgado, da UFRRJ (Problemas no paraíso: língua, gênero e emoção no país do futuro), Geovane Souza Melo, da Universidade Federal de Uberlândia (A unidade espiritual do mundo, ou do legado intempestivo de Stefan Zweig) e Rainer Guggenberger, da UFRJ (O drama da voz oprimida e do bom conselho ignorado: o Tersites alternativo de Stefan Zweig no fim do império austro-húngaro).

Depois do coffee-break, exibiremos o episódio Stefan Zweig (Telenews, 2016, 15’38’’), da série Canto dos Exilados, dirigido por Leonardo Dourado. 

O evento se encerra às 17h.


O Brasil caminha para o precipício orçamentário - Carlos Alberto Sardenberg (O Globo)

 O ARCABOUÇO JÁ ERA

Carlos Alberto Sardenberg - O Globo, 18/04/25

Quando o governo Lula criou o arcabouço fiscal, muitos analistas e jornalistas, inclusive o autor desta coluna, sustentaram que a coisa toda só funcionaria com expressivos aumentos de receita. Como a carga tributária já era elevada, parecia uma tarefa impossível. Vá lá que se conseguisse algum ganho inicial, mas imaginar que se poderia tirar mais dinheiro do contribuinte por anos a fio era uma ilusão.

Do outro lado da conta, o arcabouço garantia o crescimento da despesa de 2,5% ao ano, acima da inflação. E esse era o verdadeiro objetivo do governo Lula: voltar à velha política petista do aumento permanente do gasto público. 

Como a dívida pública já estava em níveis muito elevados, foi preciso criar o tal arcabouço, apresentado como um sistema mais sofisticado que o teto de gastos. 

Havia aí um argumento: o teto de gastos havia sido furado no governo Bolsonaro. 

Mas o teto serviu muito bem durante o governo de Michel Temer, com Henrique Meirelles no Ministério da Fazenda. A regra, introduzida naquele mesmo governo, era de uma simplicidade brilhante, facilmente compreensível.

Dizia: o gasto do governo de um ano será igual ao do ano anterior, mais a inflação do período. Ou seja, não haveria aumento real da despesa.

Como a economia normalmente tem crescimento real, com o tempo a despesa diminuiria em proporção do PIB. Assim, não precisava de aumento da carga tributária. O ganho com impostos, resultante de uma maior produção econômica, formaria um superávit primário, com o qual se poderia abater a conta de juros e reduzir o endividamento do governo. Assim funcionou.

Aliás, incluídas as reformas – previdenciária (encaminhada), trabalhista, introdução das Parcerias Público Privadas e revisão a Taxa de Juros de Longo Prazo, eliminando subsídios nos financiamentos do BNDES – o governo Temer deixou uma herança extremamente positiva: um país preparado para crescer em regime de estabilidade fiscal.

O governo Bolsonaro conseguiu concluir a reforma da Previdência, mas foi só. Verdade que teve a pandemia, que exigiu gastos enormes para apoiar famílias e empresas, mas em cima disso o teto começou a ser furado com diversas exceções, as despesas feitas mas não contabilizadas.

No governo Lula, o ministro Fernando Haddad, decretou a morte do teto de gastos, e inventou o arcabouço fiscal, apresentado como uma grande sacada: permitiria o aumento de gastos com equilíbrio fiscal.

Curioso: o ministro dizia que o teto de gastos não tinha como funcionar, pois engessaria um governo que precisava gastar para atender os mais pobres. Mas, na prática, o que fez o ministro? Criou um teto mais alto: a despesa de um ano passou a ser igual à do ano anterior, mais a inflação e mais 2,5% reais. 

Não deu certo. O arcabouço nasceu torto porque o governo criou e/ou aumentou despesas que cresceram mais que 2,5% ao ano. São os gastos obrigatórios com Previdência, funcionalismo e programas sociais (Benefício de Prestação Continuada, abono e seguro-desemprego). 

Ora se a parte maior da despesa cresce mais que os 2,5% permitidos, os demais gastos terão que ser cortados. Como o governo não quer cortar, aumenta os impostos. Como mesmo o aumento de impostos é insuficiente, volta-se à prática de excluir despesas do teto. Não entram na contabilidade, de modo que a meta de equilíbrio está cumprida formalmente, mas a dívida pública aumenta – onde mora o problema maior.

Dá nisso: para equilibrar as contas deste ano, o governo precisa aumentar receitas. Para o ano que vem, conforme o Projeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias, recém enviado ao Congresso, o governo vai precisar tirar mais R$ 118 bilhões dos contribuintes. Não há a menor indicação plausível de como isso será feito. Em 2027, segundo as previsões oficiais, o dinheiro acaba. Feitos os gastos obrigatórios, não sobra dinheiro nem para o cafezinho do pessoal. 

Ou seja, esqueçam isso de equilíbrio ou arcabouço fiscal. O governo vai aumentar o déficit e a dívida. Isso será igual a mais inflação, juros mais altos e menos crescimento.


quinta-feira, 17 de abril de 2025

Lula e Xandão: adeptos da reciprocidade equivocada - Paulo Roberto de Almeida

 Lula e Xandão: adeptos da reciprocidade equivocada

Paulo Roberto de Almeida

Nota sobre a aplicação equivocada do princípio da reciprocidade por dois dirigentes de instituições.


        Reciprocidade é um dos conceitos centrais das relações internacionais. Ela quer dizer que os Estados se tratam igualmente, pelo menos na letra fria dos acordos e dos tratados. Eu abaixo as minhas tarifas se você abaixar as suas. Eu vou abolir os meus vistos de entrada se você abolir os seus. Tudo muito bonito no papel e no território abstrato dos princípios.
        Acontece é que, como não existem duas pessoas absolutamente iguais, tampouco existem países, nações, formações estatais que sejam semelhantes, sequer similares ou próximos, ou seja, equivalentes em poder, capacidade, forças e fraquezas, abertura ou fechamento, cooperativos ou introvertidos. Não existe sequer estabilidade no comportamento dos países e na postura dos Estados, que trocam de governos, assim como as pessoas vão trocando de emprego, de carros, de roupas. Interesses, ganhos e concessões variam muito, desde a família até as relações entre Estados membros da comunidade internacional.
        Reciprocidade é, repetimos, um princípio básico nas relações internacionais, mas jamais isso foi aplicado de maneira uniforme.
        No Congresso de Viena (1815), tudo foi basicamente decidido entre quatro ou cinco grandes potências, inclusive a potência derrotada, a França, já na Restauração. Na conferência de paz de Paris (1919), tudo foi decido entre os chefes de Estado, ou de governo, de quatro países: EUA, Reino Unido, França e Itália, para desgosto de muitos outros. Não foi diferente em Ialta (1945), e o que dela resultou na Carta da ONU e sobretudo no CSNU.
        Já antes, em Bretton Woods (1944), não havia nenhuma distinção entre países ricos e países em desenvolvimento, e todos foram tratados como se fossem iguais, mas quem decidiu tudo, basicamente, foram os EUA e o Reino Unido.
        O Brasil foi, na história da ONU e sobretudo na trajetória do sistema multilateral de comércio, o país que mais lutou CONTRA a reciprocidade, pois que achava injusto o tratamento igual para países ricos e em desenvolvimento. Obteve vitória na reforma do GATT, em 1964, e na criação da Unctad, logrando consagrar o TRATAMENTO DIFERENCIAL E MAIS FAVORÁVEL para países em desenvolvimento, ou seja, estes poderiam receber concessões, vantagens, tarifas baixas ou zero, sem necessidade de reciprocar, ou seja, oferecer concessões equivalentes.
        E continuou assim, defendendo ardorosamente a não reciprocidade, pelo meio século seguinte, aliás até hoje.
        De repente, Lula se empenha a defender a reciprocidade na questão dos vistos, como se todos os países fossem iguais, na oferta e na demanda de viagens de turismo ou a negócios, ou como se todos os países devessem ser absolutamente recíprocos em sua política de fluxos humanos ou migratórios, independentemente das características de cada um, ou seja, SEM TRATAMENTO DIFERENCIAL, para justamente contemplar a não similaridade de situações, ou de competitividade, como na questão do comércio entre distintas economias.
        Depois, em face da ameaça irracional de Trump e seu tarifaço absurdo, Lula volta a falar em aplicar a "reciprocidade", como se isso, ou seja, a aplicação vingativa de tarifas iguais, pudesse melhorar as condições de comércio entre o Brasil e os EUA.
Ninguém importa nada de algum outro país apenas para fazer favor a ofertantes externos, mas simplesmente por uma questão prosaica de qualidade, preço e NECESSIDADE.
        Agora é o ministro da Suprema Corte Alexandre de Moraes que DENEGA a extradição de um criminoso comum, alegando falta de reciprocidade da Espanha na extradição de um criminoso político que não preenche os requisitos estabelecidos na legislação espanhola, ou sequer no tratado "recíproco" de extradição. Em 2010, foi a vez de Lula descumprir um tratado de extradição com a Itália, devidamente mandatado pelo STF, apenas para proteger um terrorista que se abrigava no rótulo de combatente de esquerda (contra um governo democrático).
        Desculpem-me dizer isso, mas ambos são dois desvairados da reciprocidade, um princípio geral, que nunca pode ser aplicado em todo e qualquer caso do relacionamento complexo entre países, assim como não pode ser aplicado entre pessoas, por mais que a Constituição assegure que todos são iguais perante a lei. Aliás, o PT e Lula são os primeiros a pregar e aplicar tratamentos desiguais para pessoas desiguais, na renda, nas oportunidades, nas condições próprias ou na situação pessoal.
        Reciprocidade é um princípio, não uma lei absoluta e obrigatória.

Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 17/04/2025

O julgamento de Eichmann: o encontro do mundo com os monstros “banais” do Holocausto nazista

 Copio do FB de Rossana Mizunski:

“Em abril de 1961, o Tribunal Distrital de Jerusalém realizou a primeira audiência do Caso Criminal 40/61 – o julgamento de Adolf Eichmann, promovido no Beit Ha’am. Foi um evento histórico que marcou profundamente a memória coletiva do Holocausto.

Antes do julgamento, foi montada uma operação especial: a Polícia de Israel criou o “Bureau 06”, uma unidade dedicada à coleta de cerca de 1.600 documentos e provas, muitos assinados pelo próprio Eichmann, além da seleção de 108 testemunhas, incluindo sobreviventes do Holocausto e especialistas.

Embora a acusação tivesse como missão principal provar a responsabilidade direta de Eichmann pelos crimes do Holocausto, ela assumiu também um papel mais amplo: contar ao mundo a história do Holocausto pelas vozes de quem o viveu — pessoas de diferentes países, origens e experiências.

O Julgamento de Eichmann foi um divisor de águas na forma como o Holocausto passou a ser compreendido, tanto em Israel quanto internacionalmente. Ele inaugurou uma nova era na educação, na memória e no reconhecimento das vítimas e sobreviventes, garantindo que suas histórias jamais fossem esquecidas.”

Agreguei este comentário:

PRA: Um momento seminal, o julgamento de Eichmann, de que não tive conhecimento à época, pois ainda era criança. Só soube muitos anos depois, e mais pelo lado da caça aos nazistas dispersos pelo mundo do que pelo lado da Justiça, que muito raramente foi feita.


A “dialogue” with Graham Allison about a new Peloponnesian war - Paulo Roberto de Almeida

 A “dialogue” with Graham Allison about a new Peloponnesian war

Paulo Roberto de Almeida, diplomat, professor.
A response to a note by Graham Allison about the possibility of the current tariff war between U.S. and China turns to a real hot war, based on his thesis on a “Thucydides trap”.

I have just received in my mailer the following post by Professor Graham Allison, from the Belfer Center of the Harvard University (April 17: 2025, 13:33, Graham Allison GTA@comms.hks.harvard.edu):



Could the Tariff War Become a Real Hot War?

Could President Trump’s unprecedented tariff war against China stumble into a hot war with bombs exploding on American and Chinese soil?
The good news is that most tariff or economic wars have not become hot wars. The bad news is that some have.
As Washington Post columnist Max Boot’s op-ed Monday notes, this issue is explored at length in Destined for War: Can the US and China Escape Thucydides’s Trap?
My book was published 8 years ago in 2017 just as President Trump entered the White House for the first time.
Over the weekend, Boot emailed me to ask about what I had written. In a lively back and forth, he and I agreed that we were both hearing eerie echoes of earlier cases in which economic conflict ended in bloody war.
Among the cases that I’ve studied, the most troubling analogue is the US-Japanese confrontation that began with economic sanctions targeting imports of scrap metal and aviation fuel to Japan. This then escalated to limits on raw materials including iron, brass, copper, and finally, oil.
And as Boot notes: “It was the oil embargo that threatened to strangle the Japanese economy that led Japan to its desperate gambit of attacking the US fleet at Pearl Harbor.”
For several other paths from where we are now to real war between the US and China, see Chapter 8 of Destined for War, “From Here to War.”
If you have reactions, I’ll be interested to receive them.
Regards,
Graham Allison
Douglas Dillon Professor of Government
Harvard Kennedy School

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As I was intrigued by his thesis, and provoked by his invitation, I decide to send him my remarks below:

Dear Professor Graham Allison,
Excuse me, and indulge me, before of any other arguments of mine, to induce in a disgusting and objectionable comparison, claiming that your provocative book is, in fact, the most dangerous one since, perhaps, Mein Kampf, from Adolf Hitler, in the second half of the 1920s. Hitler announced, very clearly, all his misconceptions and prejudices, and, less clearly, what Germany have to do to regain its prodigious national itinerary towards becoming a great power among the greats, including the less geopolitical achievements, like riding itself of the large community of Jews, already integrated to Germany and German culture (many fought in the Great War within the Armed Forces of the Empire).
Your book deals with 16 or so clashes between empires, projecting the shadow of the Peloponnesian war in our times. The irony of the “trap” is that the authoritarian power finished as the victor against the “democratic” republic, not out of a simple and direct war, but because of many diplomatic errors made by Athens inside the OTAN-like League, which provoked and led many of its members to move toward Sparta.
I think that you erroneously extended the historical accounts of all those clashes to the current opposition between U.S. and China (because of economic and geopolitical reasons), to a questionable suggestion that the two greatest powers of our days could arrive at a war, like all those conflicts (some global ones) aligned in your book, destined to eliminate the ascending or the consolidated power, one of the two, in a zero sum game of inevitable competition, up to death. That is the “dangerous” side of your book.
Sorry, but history does not serve as a prediction for the current situation, as the nature of competition between the present “Peloponnesian” actors has nothing to do with the Thucydides trap and is not deemed to have the same results or consequences of the Ancient Greece or the sequential clashes between subsequent empires.
U.S.A. is solely responsible for the crazy decision to try to apply the same Kennan containment doctrine to contemporary China, something impossible in first place. U.S.A. was and is the very provocative power that dismantled the Kissinger-Nixonian tactical move consisting in isolating the very expansive power of Slavic and Czarist origin and facilitating the reintegration of the Middle Empire into the modern world, after the foolishness of Maoist years, which finished to debase PRC almost to the ground.
China, because of an idiotic emperor – perhaps like another one in our days – isolated itself from the world. As a consequence, China lost the first, the second and the third industrial revolutions, this one during the foolish Mao years (I do not enter into irresponsible comparisons, but I do know of a new “emperor” that is trying to retrocede a great power toward the second industrial revolution, that of coal, oil, explosion motors, and so on). China, also with the American help, reintegrated itself into the Bretton Woods and multilateral trade system world order, starting in 2001, but with the tragic American attack to China embassy in Beograd in 1999, which moved again the Middle Empire towards the declining, but revisionist, Slavic expansionist Putin new empire. Shanghai Cooperation Organization and BRICS were the results of the fake-Kennan American policy towards China, what a tragic error.
Your book came ten years later, but still leaves in an inexistent Second Cold War, which exists only in the imagination of Putin and Western observers. China does not see world situation by that lens, but your book tries to give this impression, which I consider a real pity, coming from the author of The Essence of Decision, which dealt with a real Cold War, almost converted into a hot war, catastrophic as it could turned to be.
U.S. economic sanctions against Japan in the 1930s have no connection at all with current sanctions against Russia and China because of Crimea or Ukraine, since 2014 and 2022. Talking about appropriation of IP or profiting from advancements of other countries was the American practice since the beginning of the Republic until the IIWW, as many other countries also practiced in their respective development paths, but today, as you perhaps have already concluded, China is ahead of Western technologies in many industrial sectors, including, may be, in AI.
I do not know if you agreed, many years ago, before your book was published, with Niall Ferguson’s suggestion of a “Chimerica” scenario, a positive cooperation between two great powers, not only with reciprocal benefits to both, but also presenting many big chances to eliminate extreme misery and to reduce poverty in developing countries. It is a difficult scenario to imagine, not because of PRC ambitions, but because of American hubris and arrogance, and for its impossible desire to be the only and the exclusive greatest power in History.
I’m not an adept of a Toynbeean perspective for the American empire (only a hundred years since its birth), but History is on the move, and Trumpian America is moving towards the past, not even slouching towards the future. There is not any Thucydides trap in that path, and no possibility of a kind of a “Peloponnesian” war between the two great powers. I sincerely believe that you could revise your book and ideas, based on a simplistic model and a simplified version of past clashes between great powers. History is much more complex and subtle.
With great appreciation for your work in Belfer Center, sincerely yours,
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Paulo Roberto de Almeida
Brazilian diplomat (retired) and professor
(55.61) 99176-9412
pralmeida@me.com
diplomatizzando.blogspot.com
CV Lattes: http://lattes.cnpq.br/9470963765065128
https://unb.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida
https://www.researchgate.net/profile/Paulo_Almeida2

Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 4900, 17 Abril 2025, 3 p.

A national decision? - GOP friends (via Paulo Roberto de Almeida)

A national decision?

Bye, bye all the world, we are leaving you, all that countries that arise and advanced robbing our knowledge and expertise, you have profited from our technology and riches. That is finished for all the profiteurs, China at the top. We, under the guidance of our brilliant leader, Donald Trump, are expelling all those foreigners who came here just to take advantage of our preeminence.

We have decided to make America Great Again, and will do it by ourselves and alone (plus some new lands that fits our great project).

So, adieu, farewell, Aufwiedersehn, adiós, we are leaving the world. Take out your students, immigrants, bandits, traffickers, even tourists.

GOP friends, under DT!


Postagem em destaque

Livro Marxismo e Socialismo finalmente disponível - Paulo Roberto de Almeida

Meu mais recente livro – que não tem nada a ver com o governo atual ou com sua diplomacia esquizofrênica, já vou logo avisando – ficou final...