O que é este blog?

Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida;

Meu Twitter: https://twitter.com/PauloAlmeida53

Facebook: https://www.facebook.com/paulobooks

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Previsoes Imprevisiveis para 2011: um exercício contrarianista

Meu artigo contrariando o senso comum, de previsões pouco astrológicas para 2011, foi publicado em Via Política.

Previsões imprevisíveis para o Brasil em 2011
Resoluções para o novo governo à maneira de Benjamin Franklin

Por Paulo Roberto de Almeida
www.pralmeida.org
Via Política, 17/01.2011
Benjamin Franklin, por Amir Taqi

Todo começo de ano tenho por hábito estabelecer minha pequena lista de previsões imprevisíveis, que são aquelas que, à diferença das generosas promessas dos astrólogos, não correm nenhum risco de acontecer. Como já fiz no passado, vou buscar inspiração num homem que deixou sua marca na vida de todos nós, uma vez que ele figura nas notas de 100 dólares, provavelmente o bilhete mais transacionado da história monetária mundial. Refiro-me, claro, a Benjamin Franklin, sobre quem já li a biografia do historiador H. W. Brands, The First American: The Life and Times of Benjamin Franklin (New York: Anchor Books, 2000), aliás, uma das melhores no mercado.

Percorrendo o livro em busca de “curiosidades intelectuais” sobre o biografado, constatei que Benjamim Franklin estabeleceu para si mesmo, ainda muito jovem, todo um programa de aperfeiçoamento de sua vida pessoal, que ele chamou de “vigoroso e árduo projeto de alcançar a perfeição moral”. Ele primeiro concebeu e redigiu 12 “virtudes cardeais”, às quais agregou, mais tarde, uma 13a (por acaso um número tabu para os americanos, a ponto de poucos edifícios terem o 13º andar). Vão aqui transcritas a título de informação sobre como Franklin pretendia levar uma vida virtuosa:

1. Temperança: Não coma em excesso. Não beba a ponto de perder os sentidos.
2. Silêncio: Só fale o que puder beneficiar os outros ou a si mesmo. Evite conversas vazias.
3. Ordem: Faça com que cada coisa tenha o seu lugar. Faça com que cada parte de suas atividades tenha o seu tempo.
4. Resolução: Decida cumprir aquilo que deve ser feito. Realize sem falhas aquilo que você decidiu fazer.
5. Frugalidade: Faça unicamente despesas que resultem em benefício dos outros ou de si mesmo. Não desperdice nada.
6. Indústria: Não perca tempo. Esteja sempre ocupado com alguma coisa útil. Elimine todas as ações desnecessárias.
7. Sinceridade: Não decepcione ninguém. Pense de maneira inocente e justa, e se você falar, seja consistente.
8. Justiça: Não prejudique ninguém, cometendo ofensas ou omitindo ações que constituem suas obrigações.
9. Moderação: Evite os extremos. Abstenha-se o quanto puder de sentir-se ofendido.
10. Limpeza: Não tolere falta de limpeza pessoal, em suas roupas ou lar.
11. Tranquilidade: Não fique perturbado com coisas menores ou com acidentes comuns ou inevitáveis.
12. Castidade: Recorra ao intercâmbio sexual para manter a saúde ou procriar – nunca em excesso, por fraqueza ou em prejuízo da reputação ou paz de alguém ou de si mesmo.
13. Humildade: Imite Jesus e Sócrates.
(Fonte: Brands, Benjamin Franklin, op. cit., p. 97-98; tradução-adaptação: PRA)
Benjamin Franklin

Pois bem, não creio que possamos seguir, atualmente, todas as regras de Franklin em busca de uma vida virtuosa, sobretudo se pensarmos na esfera política, que é o objeto deste pequeno ensaio. (Por falar nisso, existem políticos virtuosos?) Creio, em todo caso, que esses princípios morais podem servir de inspiração para estabelecermos nossas “previsões imprevisíveis” para 2011. Ou seja: tomando como base o modelo de Benjamin Franklin – que, irônica e involuntariamente, estabeleceu o número mágico de 13 promessas de “bom comportamento” – podemos especular sobre como o governo vai enfrentar suas próprias “resoluções morais”, em termos de gestão pública, a partir de 1º de janeiro de 2011.

Meu desejo sincero é a de o governo siga, mais ou menos fielmente, a maior parte das “recomendações” do jovem Benjamin Franklin, adaptadas, obviamente, à ação dessa entidade coletiva sustentada por todos nós, contribuintes. (Franklin, por acaso, também é o autor daquela famosa frase: “Só existem duas certezas na vida: a morte e os impostos”.) O mais provável, porém, e consoante o espírito desta série, é aquilo que pode não ocorrer, que é justamente o objetivo implícito a estas minhas previsões imprevisíveis (dotadas, alguém poderia dizer, de certo espírito “contrarianista”).

Vejamos, em qualquer hipótese, o que, depois dos exageros do “nunca antes”, o novo governo poderia oferecer, em termos de “virtudes morais”, aos brasileiros contribuintes que todos somos.

1. Temperança (ou, autocontenção)
A recomendação não tem tanto a ver com excessos gastronômicos ou etílicos, e sim com a contenção dos gastos, em especial dos gastos exagerados da máquina pública, que são os que vêm crescendo enormemente nos últimos oito anos. O problema fiscal é, de longe, o mais grave da macroeconomia brasileira, já que o governo vive maquiando suas contas para esconder a diminuição do superávit primário e o aumento da dívida pública, ou seja, o volume de dinheiro que ele deverá pagar em juros e amortizações (o que recairá, na verdade, sobre todos nós, sobrando ainda para nossos filhos e netos).

Como a base de apoio do governo é irremediavelmente gastadora, sobretudo consigo própria – e não em investimentos, como seria desejável – minha previsão pouco imprevisível é a de que não existe nenhuma chance dessa recomendação ser cumprida. Inclusive e principalmente porque os novos donos do poder apreciam sumamente seus gastos privados com dinheiro público. Se não fosse isso, haveria qualquer justificativa moral – para não falar simplesmente de legitimidade ou legalidade política – em que os gastos com cartões corporativos da Presidência da República sejam classificados como “secretos”, como se isso fosse afetar a segurança nacional?

2. Silêncio
Ufa! Desde 2 de janeiro de 2011 estamos livres de três discursos por dia e de um ou dois palanques por semana. Sem exageros: nunca antes na história deste país o ministério da propaganda, o cerimonial do Estado, o pessoal da segurança e todo aquele povo que vive em volta de cerimônias oficiais foram tão mobilizados quanto nos últimos anos para servir de claque obrigatória às perorações infinitas, despejadas sobre todos nós durante oito anos seguidos. Ainda que esses discursos não tenham sido tão longos quanto os de Fidel Castro – que deixava os cubanos ao sol durante seis horas seguidas –, eles foram muito mais numerosos e intensos, repetitivos mesmo. Pode-se apostar que se discursou mais no Brasil, em oito anos, do que na Cuba de Fidel em 50 anos de comunismo.

Nesse particular, pode-se presumir que a “lei do silêncio” tem chances de ser cumprida, pelo menos nos meios oficiais (já que o imitador de Fidel continuará falando pelos cotovelos, como se diz). Melhor seria, na verdade, suprimir completamente o ministério da propaganda, com o que ficaríamos pelo menos livres de toda essa poluição sonora e visual paga com o nosso dinheiro, mas aí a previsão já sai do terreno do imprevisível para o do impossível: poucos governantes dispensam suas máquinas publicitárias (algumas Orwellianas, inclusive).

3. Ordem
Depende do que se entende por ordem. Geralmente se refere, no plano governamental, a um processo decisório bem ordenado, com propostas de políticas setoriais ou de medidas tópicas sendo examinadas cuidadosamente na esfera técnica, com estudos de impacto e previsões de efeitos econômicos ou de outros tipos, enfim, uma análise detida de cada assunto que deva ser objeto de decisão de governo, até que o chefe de Estado (e de governo) se decida por implementá-la, com eventual passagem pelo Legislativo, para discussão, eventuais mudanças e aprovação, antes da sanção presidencial, promulgação e entrada em vigor. Desse ponto de vista, nunca antes neste país tivemos tantas medidas provisórias – com desvio dos requisitos de urgência e relevância nacional – e tantas decisões efetivas sendo adotadas por impulso.

Qualquer que seja o grau de cumprimento desta resolução, impossível não haver uma melhora nos processos, deliberações e debates nos diversos níveis de governo, antes que uma decisão seja efetivamente tomada e implementada. Será um enorme progresso; a menos, claro, que o ministério por cotas, as indicações partidárias e, sobretudo, o “dedaço” carismático contribuam para atribuir a esta previsão o mesmo grau de imprevisibilidade que possuem quase todas as outras.

4. Resolução
Muito simples: todo líder político deve cumprir aquilo com o que se comprometeu publicamente, ainda que não formalmente. Por exemplo: durante a campanha, ocorreram declarações explícitas de bom comportamento tributário, desmentindo a criação de novos impostos e prometendo a não elevação dos existentes. Como cidadãos pagadores de impostos (e como!), vamos constatar se essas declarações, que deveriam valer como resoluções, se mantêm nessa categoria, ou se elas serão, mais uma vez, sepultadas no cemitério das “necessidades inadiáveis” (a pretexto de “melhorar a saúde” ou qualquer outra justificativa esfarrapada).

Mas capacidade de resolução também tem a ver com diversos outros aspectos da vida pública; por exemplo: funcionários públicos dispõem de estabilidade, e são pagos para trabalhar. Seria interessante saber se essa resolução vem sendo cumprida em todas as esferas do poder público. Minha previsão é a de que faltará resolução, nos próximos anos, para empreender o conjunto de reformas de que o Brasil necessita para ter crescimento sustentado e melhorar seus índices de prosperidade social. Espero ser derrotado nesta minha previsão.

5. Frugalidade
Tem a ver, obviamente, com o respeito ao dinheiro do contribuinte, fazendo com que ele seja gasto preferencialmente mais nos fins – isto é, políticas públicas – do que nos meios, ou seja, no próprio governo. Mas isso é difícil de saber atualmente (e talvez no futuro, também), pois até o menu oficial, ou seja, a lista do que se come nas mais altas esferas, é tido como questão de segurança nacional. A julgar, porém, pelo nítido aumento de peso de certos responsáveis políticos – ou seja, o tamanho da cintura – a frugalidade não foi exatamente uma virtude cultivada nos últimos anos.

Benjamin Franklin, aliás, não seria um bom exemplo de sua própria promessa de juventude: enviado como representante das colônias americanas ao parlamento britânico e, depois, como embaixador da nova república na corte francesa, ele adquiriu aquele perfil mais rechonchudo que costuma ser visto nos retratos da maturidade. Em todo caso, minha previsão imprevisível quanto à “frugalidade” brasileira (ou falta de) é a de que ela tampouco será observada nos próximos anos, a julgar pela promessa de compra de mais um avião de luxo, de criação de mais ministérios, de mais cargos públicos, de expansão disso e daquilo, etc. Essa vou acertar em cheio (a conferir dentro de um ano...).

6. Indústria
Benjamin Franklin não se referia à indústria no sentido clássico da palavra, ou seja, um empreendimento manufatureiro, produzindo mercadorias para o consumo de massa. Ele se referia às ocupações individuais, num sentido que poderíamos aproximar da chamada ética protestante no trabalho, tão popularizada por Max Weber (aliás, um leitor de Benjamin Franklin). Creio, sinceramente, que essa ética, hoje, está em baixa, muito em baixa, quase desaparecendo. E isso não tem tanto a ver com as esferas políticas, embora sejam elas que aprovem a criação de feriados em volumes inacreditáveis, sem contar com as pontes que os funcionários públicos organizam, enforcando segundas e sextas sem sequer se dar ao trabalho de compensar os dias parados.

Digamos que o Brasil não é exatamente uma nação de trabalhadores incansáveis, embora no setor privado se trabalhe bastante. Minha previsão é que o Brasil está se “desindustrializando” também do ponto de vista da ética do trabalho. Melhor não contar, portanto, com qualquer evolução positiva neste quesito.

7. Sinceridade
Nunca antes neste país, se abusou tanto da apropriação indébita de realizações de terceiros, de planos econômicos, de mecanismos de ajuste, de programas governamentais, até da própria história. Nunca antes tantas mentiras foram ditas a respeito das heranças malditas de antecessores e das próprias glórias usurpadas. Cabe esperar coisa melhor? Sim, certamente, pois nem todo mundo tem essa compulsão pela incorporação de feitos alheios e pelo falso engrandecimento dos seus próprios, pelo menos não sem corar. Enfim, tem quem consegue, mas não é fácil para os que não cultivam a compulsão pelo panegírico em causa própria.

Minha previsão é a de que a inimputabilidade terminou, mas isso não quer dizer que a sinceridade venha a pautar os procedimentos e declarações políticas, muito ao contrário. Haverá necessidade de fazer “mais e melhor”, como já se ouviu em certas esferas. Como alcançar a perfeição, sem falsear um pouco a realidade? Caberia em todo caso, começar por desmantelar a máquina da propaganda oficial: alguém acredita que isso será feito? Previsão imprevisível, portanto, com 150% de certeza...

8. Justiça
Tem tanto a ver com o funcionamento da própria, estrito senso, como com o tratamento equânime de todos os brasileiros, sem distinções de “raça, cor e religião”, como se diz – e de time de futebol, embora eu tenha a impressão de que os corintianos foram privilegiados nos últimos anos – e sem políticas que pretendam colocar alguns brasileiros contra os outros, como por exemplo atribuir todos os males do povo a elites malvadas ou inconscientes – que de resto não são identificadas, sendo que todas elas estão mesmo é grudadas no poder atual.

Desse ponto de vista, não tenho a menor hesitação em fazer uma previsão de que existe enorme imprevisibilidade nesta resolução também. Hoje, a Justiça, por exemplo, demora mais de oito anos para julgar um caso em seus trâmites finais, o que significa que, tipicamente, um caso pode levar de um mínimo de quatro a um máximo teórico de 16 anos (mas sempre soubemos que na prática a teoria é outra). Tampouco ouso prever o tratamento não discriminatório dos brasileiros, com tantas políticas racialistas sendo implementadas (o que deve, previsivelmente, aumentar muito nos anos à frente).

Também ouso fazer uma previsão ainda mais pessimista do que o racismo oficial: a Lei da Ficha Limpa não vai pegar, ou só pegará parcialmente... Acho que o Judiciário está muito ocupado em aumentar seus próprios salários e em construir palácios de mármore e vidro para se ocupar de coisas realmente importantes.

9. Moderação
O novo governo prometeu ser moderado na edição de novas medidas provisórias? Não me lembro de ter ouvido algo a respeito. Aliás, alguém acredita nisso? A única falta de moderação admissível numa democracia moderna seria o comprometimento com a verdade, com a honestidade intelectual, com a liberdade de imprensa. O governo também precisaria ser moderado no recolhimento do nosso dinheiro para fins de receitas públicas (e de despesas inúteis). Mas alguém acredita nesse tipo de moderação?

Minha previsão é a de que a única moderação a ser observada, nos próximos anos, é a da capacidade e da vontade governamentais na resolução dos problemas da segurança, da falta de infra-estrutura, da tributação excessiva, etc. Alguém quer apostar?

10. Limpeza
Benjamin Franklin se referia à limpeza pessoal, mas creio que possamos estender o conceito à limpeza pública. Não, ela não tem nada a ver com o asseio das ruas e a falta de rabiscos nos monumentos públicos e nas paredes em geral. Ela tem a ver com a podridão que se instala progressivamente no setor público. Atualmente, parece que já não é mais vergonha ser pego roubando, diretamente ou através de ONGs e de fundações supostamente beneméritas. Imediatamente, o político em questão diz que o que aconteceu foi um “erro” de seu assessor, ou que ele “quebrou” sua confiança; assim, continuamos a conviver com a cara de pau desses nossos “representantes”. Até quando?

Minha previsão é a de que o panorama tem tudo para piorar nos próximos anos. Eliminar a corrupção e a roubalheira no setor público equivale a um trabalho hercúleo, do tipo que o herói da mitologia grega se empenhou quando pediram-lhe que limpasse as escuderias de Augias: Hércules teve de desviar um rio inteiro para conseguir cumprir a tarefa, mas o fez. No caso do Brasil, mesmo o desvio de rios, supostamente para “dar água a quem tem sede”, dá lugar a desvio de recursos públicos, provavelmente em volume superior aos metros cúbicos de água canalizada, sob a forma de mais dinheiro para os bolsos dos espertalhões. Infelizmente, não dá para prever o surgimento de algum Hércules da moralidade pública. Continuaremos a viver no mundo da mitologia...

11. Tranquilidade
Essa é uma característica dificilmente presente na esfera governamental, pois os problemas são reconhecidamente imensos, o dinheiro é sempre curto e as vontades humanas infinitas. Minha previsão, que faço tranquilamente, é a de que teremos vários chiliques, ataques de fúria, desesperança e ameaças, no futuro previsível. Dependerá muito da capacidade do ministério da propaganda em propagar tranquilidade, justamente. Minha previsão é a de que não conseguirá, mas ainda assim gastará rios de dinheiro tentando: a tal de propaganda governamental, que na verdade deveria ser completamente extinta. Alguém ainda acha que governo precisa fazer publicidade de si mesmo?

12. Castidade
Não, não é abstinência, como pareceria recomendar Benjamin Franklin, ou seja, de só adentrar naquele tipo de interação para a procriação, algo que nem a Igreja é capaz de assegurar. Aqui se trata de evitar promiscuidade com políticos ladrões, com empresários ávidos por algum dinheiro público facilitado, de eliminar no ato e até na intenção qualquer proposta indecorosa, ou pornográfica, para o uso seletivo do dinheiro público (em benefício de privilegiados e amigos do poder, está claro), enfim, abster-se de qualquer relação que se aproxime da versão vulgar daquilo que Franklin concebia para o seu objetivo virtuoso e casto.

Mas o governo poderia se abster de aumentar impostos, por exemplo, seja diretamente, isto é, por meio de novos tributos, seja indiretamente, por meio do aumento da pressão fiscal e da exação tributária. Minha modesta previsão é a de que não conseguiremos desfrutar desse tipo de castidade governamental. Em outros termos: preparem-se para cenas explícitas de gastança pública e de hipocrisia governamental em 2011 (e mais além). Cada vez que um empresário ou promotor de “ações sociais” visitar a esplanada dos ministérios ou até o palácio das “necessidades”, pode ter certeza de que se estará assistindo algum assalto contra o dinheiro público, que na verdade é o de todos os contribuintes compulsórios, como eu e você.

13. Humildade
Tudo o que não tivemos nos últimos anos, quando as comparações, não com Sócrates, mas com Jesus Cristo eram inevitáveis, até recorrentes. Vaidade pouca é bobagem, mas acredito que depois da experiência recente, todo e qualquer comportamento autocongratulatório será necessariamente humilde e recatado, por comparação, claro. Assim, metade da previsão já está automaticamente garantida, sendo que a outra metade dependerá das bolsas Hermès, dos novos modelos de iPad, dos figurinos famosos que se apresentaram e dos bajuladores de sempre.

Minha previsão imprevisível é a de uma humildade falsamente cultivada, o que talvez já seja um progresso em relação ao “nunca antes” servido em excesso nos últimos tempos. Só isso já será um alivio...

Bom 2011 a todos e a todas, sobretudo aos destinatários destas resoluções de ano novo.

Paulo Roberto de Almeida
15/1/2011

Fonte: ViaPolítica/O autor

Ensaios preparados para OrdemLivre.org

Paulo Roberto de Almeida é Doutor em Ciências Sociais e diplomata de carreira.

Da série Volta ao Mundo em 25 Ensaios, leia também em ViaPolítica:
“Distribuição de renda: melhor fazer pelo mercado ou pela ação do Estado?”
“Por que o Brasil avança tão pouco? Sumário das explicações possíveis”
“Por que a América Latina não decola: alguma explicação plausível?”
“Preeminência, hegemonia, dominação, exploração: realidades ou mitos?”
“Países ou pessoas ricas o são devido a que os pobres são pobres?”
“Orçamentos públicos devem ser sempre equilibrados?”
“Competição e monopólios (naturais ou não). Como definir e decidir?”
“Políticas ativas pelos Estados funcionam? Se sim, sob quais condições?”
“Duas tradições no campo da filosofia social, o liberalismo e o marxismo”
“Individualismo e interesses coletivos: qual a balança exata?”
“Como organizar a economia para o maior (e melhor) bem-estar possível”

Mais sobre Paulo Roberto de Almeida

Israel-Iran: um virus programado como um ataque aereo

Provavelmente mais efetivo do que um ataque aéreo...
Paulo Roberto de Almeida

Israeli Test on Worm Called Crucial in Iran Nuclear Delay
William J. Broad, John Markoff and David E. Sanger.
The New York Times, January 15, 2011

The Dimona complex in the Negev desert is famous as the heavily guarded heart of Israel’s never-acknowledged nuclear arms program, where neat rows of factories make atomic fuel for the arsenal.

Over the past two years, according to intelligence and military experts familiar with its operations, Dimona has taken on a new, equally secret role — as a critical testing ground in a joint American and Israeli effort to undermine Iran’s efforts to make a bomb of its own.

Behind Dimona’s barbed wire, the experts say, Israel has spun nuclear centrifuges virtually identical to Iran’s at Natanz, where Iranian scientists are struggling to enrich uranium. They say Dimona tested the effectiveness of the Stuxnet computer worm, a destructive program that appears to have wiped out roughly a fifth of Iran’s nuclear centrifuges and helped delay, though not destroy, Tehran’s ability to make its first nuclear arms.

“To check out the worm, you have to know the machines,” said an American expert on nuclear intelligence. “The reason the worm has been effective is that the Israelis tried it out.”

Though American and Israeli officials refuse to talk publicly about what goes on at Dimona, the operations there, as well as related efforts in the United States, are among the newest and strongest clues suggesting that the virus was designed as an American-Israeli project to sabotage the Iranian program.

In recent days, the retiring chief of Israel’s Mossad intelligence agency, Meir Dagan, and Secretary of State Hillary Rodham Clinton separately announced that they believed Iran’s efforts had been set back by several years. Mrs. Clinton cited American-led sanctions, which have hurt Iran’s ability to buy components and do business around the world.

The gruff Mr. Dagan, whose organization has been accused by Iran of being behind the deaths of several Iranian scientists, told the Israeli Knesset in recent days that Iran had run into technological difficulties that could delay a bomb until 2015. That represented a sharp reversal from Israel’s long-held argument that Iran was on the cusp of success.

The biggest single factor in putting time on the nuclear clock appears to be Stuxnet, the most sophisticated cyberweapon ever deployed.

In interviews over the past three months in the United States and Europe, experts who have picked apart the computer worm describe it as far more complex — and ingenious — than anything they had imagined when it began circulating around the world, unexplained, in mid-2009.

Many mysteries remain, chief among them, exactly who constructed a computer worm that appears to have several authors on several continents. But the digital trail is littered with intriguing bits of evidence.

In early 2008 the German company Siemens cooperated with one of the United States’ premier national laboratories, in Idaho, to identify the vulnerabilities of computer controllers that the company sells to operate industrial machinery around the world — and that American intelligence agencies have identified as key equipment in Iran’s enrichment facilities.

Seimens says that program was part of routine efforts to secure its products against cyberattacks. Nonetheless, it gave the Idaho National Laboratory — which is part of the Energy Department, responsible for America’s nuclear arms — the chance to identify well-hidden holes in the Siemens systems that were exploited the next year by Stuxnet.

The worm itself now appears to have included two major components. One was designed to send Iran’s nuclear centrifuges spinning wildly out of control. Another seems right out of the movies: The computer program also secretly recorded what normal operations at the nuclear plant looked like, then played those readings back to plant operators, like a pre-recorded security tape in a bank heist, so that it would appear that everything was operating normally while the centrifuges were actually tearing themselves apart.

The attacks were not fully successful: Some parts of Iran’s operations ground to a halt, while others survived, according to the reports of international nuclear inspectors. Nor is it clear the attacks are over: Some experts who have examined the code believe it contains the seeds for yet more versions and assaults.

“It’s like a playbook,” said Ralph Langner, an independent computer security expert in Hamburg, Germany, who was among the first to decode Stuxnet. “Anyone who looks at it carefully can build something like it.” Mr. Langner is among the experts who expressed fear that the attack had legitimized a new form of industrial warfare, one to which the United States is also highly vulnerable.

Officially, neither American nor Israeli officials will even utter the name of the malicious computer program, much less describe any role in designing it.

But Israeli officials grin widely when asked about its effects. Mr. Obama’s chief strategist for combating weapons of mass destruction, Gary Samore, sidestepped a Stuxnet question at a recent conference about Iran, but added with a smile: “I’m glad to hear they are having troubles with their centrifuge machines, and the U.S. and its allies are doing everything we can to make it more complicated.”

In recent days, American officials who spoke on the condition of anonymity have said in interviews that they believe Iran’s setbacks have been underreported. That may explain why Mrs. Clinton provided her public assessment while traveling in the Middle East last week.

By the accounts of a number of computer scientists, nuclear enrichment experts and former officials, the covert race to create Stuxnet was a joint project between the Americans and the Israelis, with some help, knowing or unknowing, from the Germans and the British.

The project’s political origins can be found in the last months of the Bush administration. In January 2009, The New York Times reported that Mr. Bush authorized a covert program to undermine the electrical and computer systems around Natanz, Iran’s major enrichment center. President Obama, first briefed on the program even before taking office, sped it up, according to officials familiar with the administration’s Iran strategy. So did the Israelis, other officials said. Israel has long been seeking a way to cripple Iran’s capability without triggering the opprobrium, or the war, that might follow an overt military strike of the kind they conducted against nuclear facilities in Iraq in 1981 and Syria in 2007.

Two years ago, when Israel still thought its only solution was a military one and approached Mr. Bush for the bunker-busting bombs and other equipment it believed it would need for an air attack, its officials told the White House that such a strike would set back Iran’s programs by roughly three years. Its request was turned down.

Now, Mr. Dagan’s statement suggests that Israel believes it has gained at least that much time, without mounting an attack. So does the Obama administration.

For years, Washington’s approach to Tehran’s program has been one of attempting “to put time on the clock,” a senior administration official said, even while refusing to discuss Stuxnet. “And now, we have a bit more.”

Finding Weaknesses

Paranoia helped, as it turns out.

Years before the worm hit Iran, Washington had become deeply worried about the vulnerability of the millions of computers that run everything in the United States from bank transactions to the power grid.

Computers known as controllers run all kinds of industrial machinery. By early 2008, the Department of Homeland Security had teamed up with the Idaho National Laboratory to study a widely used Siemens controller known as P.C.S.-7, for Process Control System 7. Its complex software, called Step 7, can run whole symphonies of industrial instruments, sensors and machines.

The vulnerability of the controller to cyberattack was an open secret. In July 2008, the Idaho lab and Siemens teamed up on a PowerPoint presentation on the controller’s vulnerabilities that was made to a conference in Chicago at Navy Pier, a top tourist attraction.

“Goal is for attacker to gain control,” the July paper said in describing the many kinds of maneuvers that could exploit system holes. The paper was 62 pages long, including pictures of the controllers as they were examined and tested in Idaho.

In a statement on Friday, the Idaho National Laboratory confirmed that it formed a partnership with Siemens but said it was one of many with manufacturers to identify cybervulnerabilities. It argued that the report did not detail specific flaws that attackers could exploit. But it also said it could not comment on the laboratory’s classified missions, leaving unanswered the question of whether it passed what it learned about the Siemens systems to other parts of the nation’s intelligence apparatus.

The presentation at the Chicago conference, which recently disappeared from a Siemens Web site, never discussed specific places where the machines were used.

But Washington knew. The controllers were critical to operations at Natanz, a sprawling enrichment site in the desert. “If you look for the weak links in the system,” said one former American official, “this one jumps out.”

Controllers, and the electrical regulators they run, became a focus of sanctions efforts. The trove of State Department cables made public by WikiLeaks describes urgent efforts in April 2009 to stop a shipment of Siemens controllers, contained in 111 boxes at the port of Dubai, in the United Arab Emirates. They were headed for Iran, one cable said, and were meant to control “uranium enrichment cascades” — the term for groups of spinning centrifuges.

Subsequent cables showed that the United Arab Emirates blocked the transfer of the Siemens computers across the Strait of Hormuz to Bandar Abbas, a major Iranian port.

Only months later, in June, Stuxnet began to pop up around the globe. The Symantec Corporation, a maker of computer security software and services based in Silicon Valley, snared it in a global malware collection system. The worm hit primarily inside Iran, Symantec reported, but also in time appeared in India, Indonesia and other countries.

But unlike most malware, it seemed to be doing little harm. It did not slow computer networks or wreak general havoc.

That deepened the mystery.

A ‘Dual Warhead’

No one was more intrigued than Mr. Langner, a former psychologist who runs a small computer security company in a suburb of Hamburg. Eager to design protective software for his clients, he had his five employees focus on picking apart the code and running it on the series of Siemens controllers neatly stacked in racks, their lights blinking.

He quickly discovered that the worm only kicked into gear when it detected the presence of a specific configuration of controllers, running a set of processes that appear to exist only in a centrifuge plant. “The attackers took great care to make sure that only their designated targets were hit,” he said. “It was a marksman’s job.”

For example, one small section of the code appears designed to send commands to 984 machines linked together.

Curiously, when international inspectors visited Natanz in late 2009, they found that the Iranians had taken out of service a total of exactly 984 machines that had been running the previous summer.

But as Mr. Langner kept peeling back the layers, he found more — what he calls the “dual warhead.” One part of the program is designed to lie dormant for long periods, then speed up the machines so that the spinning rotors in the centrifuges wobble and then destroy themselves. Another part, called a “man in the middle” in the computer world, sends out those false sensor signals to make the system believe everything is running smoothly. That prevents a safety system from kicking in, which would shut down the plant before it could self-destruct.

“Code analysis makes it clear that Stuxnet is not about sending a message or proving a concept,” Mr. Langner later wrote. “It is about destroying its targets with utmost determination in military style.”

This was not the work of hackers, he quickly concluded. It had to be the work of someone who knew his way around the specific quirks of the Siemens controllers and had an intimate understanding of exactly how the Iranians had designed their enrichment operations.

In fact, the Americans and the Israelis had a pretty good idea.

Testing the Worm

Perhaps the most secretive part of the Stuxnet story centers on how the theory of cyberdestruction was tested on enrichment machines to make sure the malicious software did its intended job.

The account starts in the Netherlands. In the 1970s, the Dutch designed a tall, thin machine for enriching uranium. As is well known, A. Q. Khan, a Pakistani metallurgist working for the Dutch, stole the design and in 1976 fled to Pakistan.

The resulting machine, known as the P-1, for Pakistan’s first-generation centrifuge, helped the country get the bomb. And when Dr. Khan later founded an atomic black market, he illegally sold P-1’s to Iran, Libya, and North Korea.

The P-1 is more than six feet tall. Inside, a rotor of aluminum spins uranium gas to blinding speeds, slowly concentrating the rare part of the uranium that can fuel reactors and bombs.

How and when Israel obtained this kind of first-generation centrifuge remains unclear, whether from Europe, or the Khan network, or by other means. But nuclear experts agree that Dimona came to hold row upon row of spinning centrifuges.

“They’ve long been an important part of the complex,” said Avner Cohen, author of “The Worst-Kept Secret” (2010), a book about the Israeli bomb program, and a senior fellow at the Monterey Institute of International Studies. He added that Israeli intelligence had asked retired senior Dimona personnel to help on the Iranian issue, and that some apparently came from the enrichment program.

“I have no specific knowledge,” Dr. Cohen said of Israel and the Stuxnet worm. “But I see a strong Israeli signature and think that the centrifuge knowledge was critical.”

Another clue involves the United States. It obtained a cache of P-1’s after Libya gave up its nuclear program in late 2003, and the machines were sent to the Oak Ridge National Laboratory in Tennessee, another arm of the Energy Department.

By early 2004, a variety of federal and private nuclear experts assembled by the Central Intelligence Agency were calling for the United States to build a secret plant where scientists could set up the P-1’s and study their vulnerabilities. “The notion of a test bed was really pushed,” a participant at the C.I.A. meeting recalled.

The resulting plant, nuclear experts said last week, may also have played a role in Stuxnet testing.

But the United States and its allies ran into the same problem the Iranians have grappled with: the P-1 is a balky, badly designed machine. When the Tennessee laboratory shipped some of its P-1’s to England, in hopes of working with the British on a program of general P-1 testing, they stumbled, according to nuclear experts.

“They failed hopelessly,” one recalled, saying that the machines proved too crude and temperamental to spin properly.

Dr. Cohen said his sources told him that Israel succeeded — with great difficulty — in mastering the centrifuge technology. And the American expert in nuclear intelligence, who spoke on the condition of anonymity, said the Israelis used machines of the P-1 style to test the effectiveness of Stuxnet.

The expert added that Israel worked in collaboration with the United States in targeting Iran, but that Washington was eager for “plausible deniability.”

In November, the Iranian president, Mahmoud Ahmadinejad, broke the country’s silence about the worm’s impact on its enrichment program, saying a cyberattack had caused “minor problems with some of our centrifuges.” Fortunately, he added, “our experts discovered it.”

The most detailed portrait of the damage comes from the Institute for Science and International Security, a private group in Washington. Last month, it issued a lengthy Stuxnet report that said Iran’s P-1 machines at Natanz suffered a series of failures in mid- to late 2009 that culminated in technicians taking 984 machines out of action.

The report called the failures “a major problem” and identified Stuxnet as the likely culprit.

Stuxnet is not the only blow to Iran. Sanctions have hurt its effort to build more advanced (and less temperamental) centrifuges. And last January, and again in November, two scientists who were believed to be central to the nuclear program were killed in Tehran.

The man widely believed to be responsible for much of Iran’s program, Mohsen Fakrizadeh, a college professor, has been hidden away by the Iranians, who know he is high on the target list.

Publicly, Israeli officials make no explicit ties between Stuxnet and Iran’s problems. But in recent weeks, they have given revised and surprisingly upbeat assessments of Tehran’s nuclear status.

“A number of technological challenges and difficulties” have beset Iran’s program, Moshe Yaalon, Israel’s minister of strategic affairs, told Israeli public radio late last month.

The troubles, he added, “have postponed the timetable.”

A "nova geografia comercial", finalmente, não deu em nada...

Durante oito anos, para disfarçar um pouco -- mas apenas um pouco -- a forte inclinação anti-ricos e a opção preferencial pelos pobres (entenda-se, países pobres), ou seja a famosa "diplomacia Sul-Sul", inventou-se uma expressão, tirada do bolso do colete, que parecia ajustar-se às maravilhas nas necessidades legitimadoras desse forte penchant pelo Sul e desse desprezo pelo Norte: a expressão era "nova geografia do comércio internacional".
Por trás dessa infeliz trouvaille, estava uma realidade que na verdade era uma miragem, mas que parecia existir na cabeça dos seus proponentes: a mudança nos eixos do poder mundial pela alteração nos fluxos de bens e serviços, do sentido Norte-Sul (e vice-versa, mas com as inevitáveis conotações coloniais), para um sentido Sul-Sul, ou seja, entre países em desenvolvimento. Essa descoberta "genial" só era uma descoberta para os seus proponentes brasileiros, pois no resto do mundo as realidades eram outras.
Por um lado, os países dinâmicos da Ásia oriental, os emergentes exportadores do Pacífico, já tinham feito a sua própria "nova geografia comercial": eles exportavam aceleradamente produtos manufaturados -- primeiro com marcas e tecnologias ocidentais, depois com suas próprias marcas -- para os países desenvolvidos, no sentido Sul-Norte, portanto, aproveitando -- sem qualquer conotação ideológica, como aqui no Brasil se tentou dar -- todas as oportunidades oferecidas por mercados dinâmicos, consumidores vorazes, e solventes, ou seja, sem problemas de linhas de crédito não honradas, calotes bancários ou comerciais, etc.
Por outro lado, os mercados emergentes dinâmicos também passaram a exportar cada vez mais para outros mercados emergentes e mesmo alguns sub-emergentes, enfim, países em desenvolvimento que se integravam cada vez nos circuitos internacionais (também sem qualquer vezo ideológico).
Só o Brasil insistia no seu arsenal de bobagens: desprezou a promoção comercial nos países ricos, e direcionou todos os seus recursos para os países em desenvolvimento, tentado construir a sua tal de "nova geografia".
Ela acabou surgindo, mas não por obra do governo, que em princípio não exporta nada, pois são os empresários que tem de sair a vender.
Mas a nossa "nova geografia", afinal, não tem nada a ver com a política comercial do governo.
Os outros países mais compraram do Brasil do que este vendeu a eles, e esta é uma realidade elementar, bastando olhar a composição e o direcionamento do nosso comércio de exportação: o Brasil foi comprado, não vendeu commodities, que são cotadas internacionalmente e tem compradores onde quer que existam atividades industriais de transformação, que é exatamente o que fazem os asiáticos, que se alimentam com nossos produtos agrícolas e produzem manufaturados com nossos minérios de ferro e outros primários.
Quando se contar a história real -- não a propaganda, como faz o governo -- de todas as políticas implementadas ao longo dos últimos oito anos, com base em dados fiáveis, não em montagens publicitárias, se poderá separar fato da ficção, e assim superar a nuvem de otimismo delirante que foi despejada sobre nós durante todo esse tempo. Estará então na hora de enterrar as bobagens que nos foram servidas impunemente durante tanto tempo, entre outras, a tal de "nova geografia do comércio internacional".
Paulo Roberto de Almeida

O Brasil e o comércio mundial
ALDO FORNAZIERI
O Estado de S.Paulo, 16 de janeiro de 2011

Uma nação adquire condições de se constituir em potência e de ocupar espaços e funções de hegemonia na medida em que se habilita a exportar excedentes. Esses excedentes podem ser de diversas ordens, mas os principais são: militar, comercial, financeiro, político, diplomático, religioso, populacional, cultural, industrial e tecnológico. O excedente religioso já cumpriu um papel importante nos processos expansionistas, mas as duas formas preeminentes foram a militar e a comercial. Com o fim da 2.ª Guerra Mundial, com o equilíbrio nuclear (ex-União Soviética e Estados Unidos da América) e com a afirmação do Direito Internacional, o expansionismo militar ficou cada vez mais comprimido a partir da segunda metade do século 20. O fim da guerra fria e a interdependência econômica relativizaram ainda mais as possibilidades de uso e de êxito do expansionismo militar. Sua função subsidiária de outras formas de expansionismo, contudo, permanece muito relevante. E nada indica que no futuro não possa vir a ser novamente uma forma prioritária de expansionismo.

A forma por excelência de expansionismo que se foi firmando no século 20 e, particularmente, no pós-guerra fria foi a comercial. Essa estratégia já estava inscrita de maneira consciente no processo de fundação dos Estados Unidos como nação independente e foi ratificada de modo eficaz na transição do século 19 para o século 20, com a preparação de uma poderosa diplomacia comercial.

Definido este preâmbulo e tomando como recorte apenas os últimos 20 anos, quando se iniciou a abertura econômica e comercial brasileira, cabe perguntar: o Brasil tem uma estratégia de expansão comercial? A resposta, stricto sensu, é não. Em que pese a triplicação das exportações nos últimos oito anos, nem mesmo no governo Lula foram dados passos significativos para a constituição dessa estratégia.

Durante o governo Lula o Brasil, certamente, ganhou mais peso e relevância internacionais. Isso, contudo, se deveu mais à exportação de um ativismo político-diplomático e à diplomacia presidencial, o que foi muito importante, do que a uma coerente, objetiva e realista política comercial. Mas se fazer uso do protagonismo de um estadista carismático é um instrumento expansionista válido, a força e a grandeza de uma nação perante as outras precisam se fundar na evidência interna e externa de seu poderio. O fato é que, no que tange ao comércio, o Brasil tem pouco peso, estando sua participação global em torno de 1% apenas.

Outro fator que vem projetando relevância do Brasil no mundo é o dinamismo interno de sua economia e a adoção de políticas macroeconômicas prudentes. Mas, tendo em vista que a expansão da economia pelo dinamismo interno não é infinita - ela se define pelo processo de superação da pobreza e ampliação do consumo -, o País não pode negligenciar a ocupação de espaços externos de comércio e de multinacionalização de empresas - que é um fator que o dinamiza. Uma das regras da globalização mostra que os Estados e as economias que não se internacionalizam passam a sofrer impactos estratégicos negativos do sistema interdependente.

Em certo sentido é possível dizer que as exportações brasileiras cresceram, nos últimos anos, apesar da política externa, contaminada por um viés ideológico. O Brasil cresceu como exportador a partir daquilo que a natureza lhe dá como possibilidade imediata de potência: commodities, agricultura, agroindústria. A proporção de produtos exportados de alta, média e baixa intensidade tecnológica vem caindo, o que indica que o País não se está habilitando no que diz respeito à competitividade baseada no conhecimento e na tecnologia.

Em termos comparativos, a China vem se tornando um gigante exportador perfazendo um caminho diverso: adota uma crescente estratégia de inserção global desde o início da década de 1980, vem criando um sistema sino-cêntrico de comércio mundial e exporta produtos com valor agregado, mesmo que sejam intensivos em mão de obra barata. Nesses termos, sabendo que existe um grau de autonomia entre política comercial e política externa, pode-se estabelecer que, se um dos objetivos centrais do Brasil no mundo globalizado deve ser sua expansão comercial, a política externa deve estar a serviço desse objetivo, e não o contrário - a subordinação da política comercial à política externa.

A ausência de uma estratégia de expansão comercial pode ser percebida em outro lugar: a precária infraestrutura e os custos portuários e de logística. Não existem no País plataformas logísticas modernas de exportação. A própria legislação é, em vários casos, um entrave às exportações. E apesar de o Brasil ter sido um dos mais ativos demandantes de investigações na Organização Mundial do Comércio (OMC), é possível dizer que não existe uma sólida política de defesa comercial.

O Brasil não patrocinou tratados de livre-comércio, bilaterais ou multilaterais, nos últimos 20 anos. O nosso vizinho Peru é um caso prolífico e bem-sucedido na aplicação de tratados de livre-comércio. Chama a atenção também a forma pouco prática como o nosso país vem tocando suas relações com a América do Sul e a América Latina. O Mercosul é um ente que se vem arrastando ao longo dos anos, com poucos avanços. Em relação à América do Sul, não há uma aposta efetiva e coordenada no sentido de integrar a região em termos comerciais, energéticos, infraestruturais, de investimentos, serviços e mercado de capitais. Já quanto à América Central e ao México, as relações vão pouco além da declaração de intenções. Com os Estados Unidos passamos à condição de deficitários. O México tem mais de 100 milhões de habitantes e o nosso comércio bilateral gira em torno de apenas US$ 5 bilhões. A América Latina tem mais de 500 milhões de habitantes, o que faz da região um mercado global considerável.

Enquanto a China está cada vez mais presente com objetivos claros nos países da região, não se vê o Brasil fazendo o mesmo.

DIRETOR ACADÊMICO DA FUNDAÇÃO ESCOLA DE SOCIOLOGIA E POLÍTICA DE SÃO PAULO (FESPSP)

==============

Comércio exterior do País depende de cinco produtos
O Estado de S.Paulo, 15 de janeiro de 2011

O jornal Valor mostrou há poucos dias como as exportações do Brasil dependeram de um número reduzido de commodities e também do mercado chinês: cinco commodities (minério de ferro, petróleo bruto, complexo soja, açúcar e complexo carne) representaram no ano passado 43,3% do total das exportações, compradas essencialmente pela China.

O Brasil virou exportador de commodities, enquanto durante muitos anos procurou criar uma indústria capaz de substituir os produtos manufaturados importados - o que, nos últimos anos, parecia uma tentativa bem-sucedida. Ora, o que aparece é um crescimento constante da participação de cinco commodities no total das exportações. Tais produtos, em 2004, eram responsáveis por 20,04% das exportações, e essa participação mais que dobrou até 2010.

O minério de ferro é o grande responsável por essa evolução, e seu preço em dezembro de 2010 era 142,2% maior do que no mesmo mês de 2009, e o volume exportado, 27,2% maior. O mercado chinês é o maior comprador do minério, cuja exportação, que cresceu regularmente nos últimos anos, representou 4,53% das exportações totais em 2004 e 14,3% no ano passado.

Convém notar que a China está comprando minas de minério de ferro ao redor do mundo, para assegurar seu abastecimento, ao mesmo tempo que está constituindo estoques com a perspectiva de forçar uma baixa dos preços dessa commodity no futuro, uma vez que a sua produção de aço deverá se estabilizar em um prazo não muito longo.

Um outro produto que teve forte elevação de preço foi o açúcar, mas com flutuação ao longo do período, indicando que a sua exportação é muito ligada às condições climáticas.

O petróleo bruto também exibiu um forte aumento nas exportações: sua participação no total passou de 2,62% em 2004 para 8,48% no ano passado. Podemos imaginar que essa participação vai aumentar com a exploração do pré-sal, mas é provável que seu preço cairá.

O Brasil apresenta uma diferença dos outros países exportadores de commodities: tinha realizado com sucesso uma política de substituição das importações de produtos manufaturados, mas desde o ano passado a sua produção industrial estagnou, enquanto aumentavam os componentes importados na sua produção, e a participação de manufaturados no total das exportações caía de 44,0%, em 2009, para 39,4%, no ano passado, crescendo apenas 17,7%, para um crescimento total de 31,4%.

domingo, 16 de janeiro de 2011

BRIC with a S: expanding global influence -

BRIC Becomes BRICS: Changes on the Geopolitical Chessboard
by Jack A. Smith
Dissident Voice, Saturday, January 15th, 2011

The world’s four main emerging economic powers, known by the acronym BRIC — standing for Brazil, Russia, India and China — now refer to themselves as BRICS.

The capital “S” in BRICS stands for South Africa, which formally joined the four on December 24, bringing Africa into this important organization of rising global powers from Asia, Latin America and Europe. President Jacob Zuma is expected to attend the BRICS April meeting in Beijing as a full member.

This is a development of geopolitical significance, and it has doubtless intensified frustrations in Washington. The U.S. has been concerned about the growing economic and political strength of the BRIC countries for several years. In 2008, for instance, the National Intelligence Council produced a document titled “Global Trends 2025″ that predicted:

The whole international system — as constructed following WW II — will be revolutionized. Not only will new players — Brazil, Russia, India and China — have a seat at the international high table, they will bring new stakes and rules of the game.

More recently, the U.S. edition of the conservative British weekly The Economist noted in its January 1 issue that “America’s influence has dwindled everywhere with the financial crisis and the rise of emerging powers.”

The U.S. is still the dominating global hegemon, but a swiftly changing world situation is taking place as Washington’s economic and political influence is declining, even as it remains the unmatched military superpower.

America suffers from low growth, extreme indebtedness, imperial overreach, and virtual political paralysis at home while spending a trillion dollars a year on wars of choice, maintaining the Pentagon military machine, and on various other “national security” projects.

The BRICS countries, by their very existence, their rapid economic growth and degree of independence from Washington, are contributing to the transformation of today’s unipolar world order — still led exclusively by the United States — into a multipolar system where several countries and blocs will share global leadership. This is a major aim of BRICS, which recognizes it’s a rocky, long road ahead because those who cling to empire are very difficult to dislodge before they swiftly disintegrate.

Looking down that road the next few decades, it is imperative to contemplate two potentially game-changing events that will heavily impact global politics, and the future of world leadership.

1. The rate of petroleum extraction will soon reach the beginning of terminal decline, known as peak oil. This means more than half the world’s petroleum reserves will have been depleted, leading inevitably to much higher oil prices and severe shortages. Under prevailing global conditions, this will greatly exacerbate tensions between major oil consuming countries leading to wars for energy resources

One resource war already has taken place — the Bush Administration’s bungled invasion of Iraq, which possesses the world’s fourth largest reserves of petroleum and tenth largest of natural gas. Since the U.S. with less than 5% of world population absorbs nearly 30% of the planet’s crude oil, who’s Washington’s next target — Iran? Behind the U.S.-Israeli smokescreen of alleged Iranian aggression and supposed nefarious nuclear ambitions, reposes the world’s third-largest proven oil reserves and second-largest natural gas reserves.

In 2009, the U.S.,with a population of 300 million, consumed 18.7 million barrels of oil a day, the world’s highest percentage. The second highest — the European Union with a population of 500 million — consumed 13.7 barrels a day. China with a population of 1.4 billion people was third, consuming 8.2 million barrels. BRICS, incidentally, includes the country with the world’s first largest natural gas reserves, Russia (which is also eighth in petroleum reserves).

2. Equally dangerous, and perhaps much more so, is the probability of disastrous climate change in the next few decades, the initial effects of which have already arrived and are causing havoc with weather patterns. This situation will get much worse since the industrialized world, following slothful U.S. leadership, has done hardly anything to reduce its use of coal, oil and natural gas fossil fuels that are mainly responsible for climate change.

Another climate question is whether the capitalist system itself is capable of taking the steps necessary to dramatically reduce dependence on greenhouse gas emissions as the socialists maintain. Eventually, under far better global leadership, some serious action must be taken, but the damage done until that point may not be rectified for centuries, if not longer. The question of better global leadership depends to a large degree on the outcome of the unipolar-multipolar debate.

Returning to the immediate problem, Washington not only opposes BRICS’ preference for multipolarity, but is disgruntled by some of its political views. For instance, the group does not share America’s antagonism toward Iran — President Barack Obama’s whipping boy of the moment. BRICS also lacks enthusiasm for America’s wars in Central Asia and the Middle East and maintains friendly relations with the oppressed Palestinians. The five nation emerging group further leans toward replacing the U.S. dollar as the world’s reserve currency with a basket of currencies not preferential to any one country, as is the present system toward the U.S., or perhaps even a non-national global reserve legal tender.

For a small group —though it is symbolic of a large trend in world affairs — BRICS will have considerable clout this year as members of the UN Security Council occupying five of 15 seats — temporarily for Brazil (until the end of 2011), India and South Africa (ending after 2012), and permanently of course for China and Russia.

BRICS as an organization had a most unusual birthing. The group was brought into the world, so to speak, without the knowledge of its members. The event took place in 2001 when an economist with the investment powerhouse Goldman Sachs created the BRIC acronym and identified the four countries together as a lucrative investment opportunity for the company’s clients based on the enormity of their combined Gross Domestic Products and the probability of increasing growth.

Neither Brazil, Russia, India nor China played a role in this process, but they took note of their enhanced status as the BRICs and recognized that they shared many similarities in outlook as well as significant differences in their types of government and economic specialties.

The main similarity was that they were emerging societies with growing economies and influence, and they viewed Washington’s unilateral world leadership as a temporary condition brought about by accident two decades earlier due to the implosion of the Soviet Union and most of the socialist world. They all seek a broader, more equitable world leadership arrangement within which they and others will play a role.

At the initiative of Russia’s then-President Vladimir Putin in 2006, BRIC began what became regular meetings at the ministerial level that evolved a couple of years later into what is, in effect, a political organization. There are some differences and rivalries within its ranks that have been kept within bounds, such as between China and India (which is also close to the U.S.), and to a lesser extent between Russia and China. Brazil and South Africa are everyone’s friends.

All five BRICS states — three of whom possess nuclear arsenals — maintain essentially cordial relations with the U.S. and try to avoid antagonizing the world superpower.

Dispite productive working relations between the U.S. and Russia, Moscow justly perceives Washington to be an implicit threat that seeks to neutralize — if it cannot dominate — it’s now reviving former Cold War opponent. The Russian leadership seems to view the U.S. as a strategically declining imperialist power, perhaps all the more dangerous for its predicament.

The Chinese government, while standing up for its rights when challenged by the U.S., is especially cautious because America’s military power at this point is overwhelmingly superior to its own in all respects. It’s trying to catch up in terms of defense, but it will take many years.

The Chinese Communist Party and government are primarily focused, as they have been for decades, on the creation of a modern, advanced, educated and 70% urban society of some 1.4 billion people. The national plan is to achieve this goal by 2030, based on economic growth (China is now the world’s second largest economy, heading toward first within 15-35 years), political stability at home (which will soon require substantial social reforms to facilitate), and a foreign policy of nonintervention and friendship between nations.

The Beijing leadership is evidently uncertain whether the U.S. decline is temporary or long term and does not officially comment on such matters in line with its foreign policy perspective.

Just before the start of 3-day talks in Beijing regarding U.S.-China military relations, Defense Secretary Robert Gates told the New York Times January 8 that the Obama Administration was so concerned about Beijing’s “military buildup in the Pacific” that the Pentagon was now increasing spending on such weapons as an advanced “long range nuclear-capable bomber aircraft,” among other measures.

Responding to Gates’ comment two days later at a joint press conference, Chinese Defense Minister Gen. Liang Guanglie said the U.S. “was overreacting” to an effort to modernize. “We can by no means call ourselves an advanced military force,” Liang said. “The gap between us and that of advanced countries is at least two to three decades.” This cannot be honestly disputed

The newspaper also paraphrased Gates as saying during his visit that “if Chinese leaders considered the United States a declining power… they were wrong.” He was then directly quoted: “My general line for those both at home and around the world who think the U.S. is in decline is that history’s dustbins are filled with countries that underestimated the resilience of the United States.” Last August, it should be noted, two-thirds of the America people queried told an NBC News/Wall Street Journal poll they think the U.S. is in a state of decline.

While Gates dwells upon Beijing’s “buildup,” the U.S. virtually encircles China with military bases, submarines, fleets at sea, spy satellites, long-range nuclear and conventional missiles, offensive weapons many years in advance of Chinese defenses, overwhelming airpower, plus alliances with Japan and South Korea in Beijing’s vulnerable northeast, Taiwan, Australia, the Philippines, Thailand, Indonesia and India. The U.S. spends over 10 times more on the military than China. It operates up to 1,000 large and small military bases around the world, while China has no foreign bases.

The Obama Administration is presently fishing in the troubled waters of the South China Sea, intervening in territorial disputes between China and neighboring countries, including Vietnam, much to Beijing’s chagrin.

It is precisely this kind of “leadership” that BRICS and a number of emerging nations want to change.

The addition of South Africa was a deft political move that further enhances BRICS’ power and status. The new member possesses Africa’s largest economy, but as number 31 in global GDP economies it is far behind its new partners, nearly by 20-1 in China’s case. It’s also behind such other emerging countries as Turkey, Mexico, and South Korea, for example — but African credentials are important geopolitically, giving BRICS a four-continent breadth, influence and trade opportunities. China is South Africa’s largest trading partner, and India wants to increase commercial ties to Africa.

Johannesburg sought BRIC membership over the last year, and as early as August the process of admission was underway, but now as a member it must take serious steps to substantially hasten its economic development to keep pace with other BRICS members. This will not be easy, but it is assumed the partners will help out.

A Chinese Foreign Ministry spokesperson declared: “We believe that South Africa’s accession will promote the development of BRICS and enhance cooperation between emerging economies.” Russia’s Foreign Ministry statement said South Africa “will not only increase the total economic weight of our association but also will help build up opportunities for mutually beneficial practical cooperation within BRICS.”

Brazil’s Foreign Ministry, in addition to the conventional welcoming, interjected a sharp political note into this economic club by suggesting that “on the international level” BRICS would work “to reform the financial system and increase democratization of global governance.” The reference was to Washington’s dominant authority over global finance and its unipolar leadership. This is bound to further irritate Washington.

India, like South Africa a former British colony and now a swiftly developing country, cannot conceivably oppose Johannesburg’s admission for obvious reasons, but has so far remained publicly silent since the December 24 announcement. India’s unexpected quietude is of interest because last August Indian High Commissioner Virendra Gupta commented that “India of course remains extremely supportive of South Africa joining BRIC.” The Indian foreign office is too sophisticated to have forgotten the expected routine welcoming.

Maintaining good ties with Washington, which is disturbed by South Africa’s membership, is one of New Delhi’s main considerations. The United States has been courting India for some time, offering various rewards — from help with its nuclear program (and silence about its violation of the nonproliferation treaty) to supporting India’s quest for a future Security Council seat (which China opposes and Russia supports). The purpose is to attract India more deeply into Washington’s orbit, undercutting Beijing’s increasing global influence, and perhaps setting the two against each other.

Global Trends 2025 even envisioned possible “great power rivalries and increasing energy insecurity” between India and China that may lead to a serious confrontation “though great power war is averted.” In the process, “United States power is greatly enhanced. ”

Regardless of BRICS and other emerging economies, President Obama’s principal foreign policy objective since assuming office has been to reassert American global leadership after the Bush Administration’s neoconservative imperialist wars and unilateralism weakened Washington’s alliances and compromised its hegemony. This is what Obama was elected to do — not, by rank-and-file Democrats cocooned in “change we can believe in,” but by the representatives of great wealth, great corporations and great financial power.

The Obama Administration’s first National Security Strategy report, released in May 2010, makes it clear that “Our national security strategy is… focused on renewing American leadership so that we can more effectively advance our interests in the 21st century.” In discussing world economies, which correlate to global leadership in Washington’s view, President Obama declared in his State of the Union Speech last year that “I do not accept second place for the United States of America.”

As part of this policy the U.S. seeks to forestall the development of a genuine multipolar system by making limited concessions to the emerging nations that will that leave Washington in charge for many years.

Washington’s latest scheme, introduced a year and a half ago by Secretary of State Clinton, is the so-called, “multi-partner,” not “multipolar,” world — suggesting the Obama Administration’s intention is to serve as “senior” partner of a global leadership “coalition of the willing,” as it were, that will in effect strengthen Washington’s singular role.

“We will lead,” Clinton told the Council on Foreign Relations, “by inducing greater cooperation among a greater number of actors and reducing competition, tilting the balance away from a multipolar world and toward a multi-partner world. Now, we know this approach is not a panacea. We will remain clear-eyed about our purpose. Not everybody in the world wishes us well or shares our values and interests. And some will actively seek to undermine our efforts. In those cases, our partnerships can become power coalitions to constrain or deter those negative actions.”

The U.S. also gives verbal support to an eventual expansion of the Security Council, and has cooperated in extending the powers of emerging countries within the Group of 20 leading industrialized economies, in the World Bank and IMF. In addition the State Department seeks one-to-one arrangements advantageous to certain countries to keep them well within the U.S. sphere of influence.

Washington intends to function as the principal world power for as long as it can. After all it is still an enormously wealthy, militarized state with powerful and obedient industrialized allies including the European Union countries (and NATO), the UK-Australia-Canada-New Zealand nexus, Japan, South Korea, Taiwan and others.

However, the ongoing global diversification of economic and political resources toward the emerging countries appears to be leading inevitably to multipolarity. To quote “Global Trends 2025″ once again:

The unprecedented transfer of wealth roughly from West to East now under way will continue for the foreseeable future…. Growth projections for Brazil, Russia, India, and China indicate they will collectively match the original G-7’s share of global GDP by 2040-2050. China is poised to have more impact on the world over the next 20 years than any other country. If current trends persist, by 2025 China will have the world’s second largest economy and will be a leading military power.

Actually China became the second largest global economy last August, 15 years before 2025.

Under such conditions, how many newly empowered emerging countries will remain content simply to play follow-the-leader behind a faltering and militarist Uncle Sam?

The time of decision about the architecture of future world leadership draws nearer. At some point in 10 or 20 years a reluctant Washington may have to settle for a prominent position in a multipolar world construct.

But, of course, there remains another possibility.

Given the volatile global situation — peak oil, climate change, continued U.S. imperial wars, grave poverty that will increase as world population grows from 6.8 billion today to over 9 billion in 2050, and many emerging countries seeking a rightful share of world leadership — the Unites States may resort in time to global military aggression to sustain its dominant status, possibly even World War III.

Considering the U.S. political system’s decades-long move toward the right, the enormity of the Pentagon’s arsenal, the militarism in our society, and the ability of Washington and the corporate mass media to collaborate in “selling” wars to a misinformed public, this cannot be ruled out.

It is impossible to predict how all this will turn out. What is known is that the American people still have the power to make their own history. This is not so much a question of voting — for whom, in this case? — but of taking action to galvanize the masses of people to oppose the political structure’s penchant for wars and global domination, for inexcusable foot-dragging on climate change and indifference to gross economic inequality.

Jack A. Smith is editor of the Activist Newsletter and a former editor of the Guardian (US) radical newsweekly. He may be reached at: jacdon@earthlink.net. Read other articles by Jack.

sábado, 15 de janeiro de 2011

O samba do economista doido - Luiz Carlos Mendonça de Barros

Caro Leitor,
Veja se você compreende algo do que está escrito aqui:

"Tomo emprestado da Irlanda o comportamento de seus bancos para provar o que estou dizendo. A dívida pública irlandesa representava pouco mais de 10% do PIB antes de 2008. Uma mostra clara de que o país, contrariamente ao caso da Grécia, vivia sob o domínio de um regime de responsabilidade fiscal.
A crise que se instalou, criada em razão de empréstimos totalmente irresponsáveis dos bancos privados irlandeses ao setor imobiliário, fez com que o endividamento público superasse 80% do PIB.
"

Entendeu? Eu também não!
Como é que empréstimos comerciais de bancos privados para investidores privados do setor imobiliário da Irlanda conseguiram aumentar a dívida pública de 10% para 80% do PIB??!!
Esse economista, ou não sabe escrever, ou não sabe economia, ou desconhece completamente o perfil exato da crise irlandesa, confundindo-a, talvez, com a crise imobiliária espanhola. Ou, provavelmente, uma combinação de todas essas alternativas.
Ou seja, ele ouviu falar algo da crise, não sabe exatamente o que, e ainda assim escreve bobagens como que passa geléia no pão do café da manhã, sem maiores compromissos com a verdade ou sequer com a coerência.
Falta de coerência, aliás, é o que se revela nesta frase inicial, que reproduzo igualmente:

"Talvez o mais importante ensinamento que esse período vai deixar seja o de que as economias de mercado criam, por erros humanos, suas próprias crises, mas, em razão de decisões virtuosas de seus governantes, podem encontrar os caminhos para sua recuperação."

Economias de mercado criam crises por erros humanos, e ainda assim elas são culpadas?!
Os mesmos humanos que erraram nos mercados, agora acertam no governo??!!
Ele não tem nada a dizer sobre os juros artificialmente baixos mantidos pelos "governantes" por tempo suficiente para criar a bolha financeira e imobiliária que precipitou a crise?

Tomo ainda esta frase, típica de quem não tem nada de inteligente a escrever em matéria econômica e descamba para o psicologismo mais vulgar:

"Nos dois ou três anos que antecederam a quebra do banco Lehman Brothers vivemos uma euforia do pensamento liberal que liberou da garrafa o gênio do mal da cobiça ilimitada. Os registros desses anos loucos nos revelam até onde pode chegar a irresponsabilidade do homem financeiro quando isento de controles externos."

Você percebeu essa euforia ideológica, caro leitor? Percebeu que ela era causada apenas pela cobiça de banqueiros de Wall Street, e que os governos tentaram, inutilmente, corrigir esses desvarios, amenizando a cobiça com invectivas à prudência, ao rigor fiscal, à modéstia de ganhos, à economia solidária?

Realmente, eu não deveria transcrever esse artigo neste blog, que como diz sua descrição, "se ocupa de ideias inteligentes para pessoas inteligentes". De vez em quando não resisto em publicar as bobagens que "ricos e famosos" perpetram nas páginas de jornais, um amontoado de argumentos errados e irracionais, e que depois são utilizados nas salas de aula por mestres ainda mais ignorantes do que o articulista, com aquele ar de "não disse?, não disse?, até um tucano condena a euforia liberal e proclama as virtudes do Estado interventor keynesiano."

My God!, ou God Grief!, como diria o Calvin. Quanta bobagem acaba sendo publicada nos jornais.
Tenho pena de alunos e cidadãos normais que não sabem distinguir uma ideia inteligente de uma empulhação econômica como essa.
Paulo Roberto de Almeida

Meu cenário para 2011
Luiz Carlos Mendonça de Barros
Folha de S.Paulo, 15.01.2011

Os últimos cinco anos foram importantes para o amadurecimento do analista das coisas da economia. Em curto período de tempo, passamos da euforia à depressão e, neste início de 2011, à certeza de uma recuperação já em consolidação. Apesar de veterano nesse ofício, aprendi muito acompanhando -com os instrumentos analíticos que o pensamento de Keynes nos deixou- o vaivém das principais economias. Principalmente a dos Estados Unidos, que ainda é a economia de mercado com uma dinâmica capitalista mais alinhada aos tempos desse grande economista.

Talvez o mais importante ensinamento que esse período vai deixar seja o de que as economias de mercado criam, por erros humanos, suas próprias crises, mas, em razão de decisões virtuosas de seus governantes, podem encontrar os caminhos para sua recuperação.

Ficará registrado ainda nos livros de história econômica que os ensinamentos de 90 anos antes, devidamente adaptados para o mundo de hoje, serviram de base para a política de enfrentamento de uma crise gravíssima.

Nos dois ou três anos que antecederam a quebra do banco Lehman Brothers vivemos uma euforia do pensamento liberal que liberou da garrafa o gênio do mal da cobiça ilimitada. Os registros desses anos loucos nos revelam até onde pode chegar a irresponsabilidade do homem financeiro quando isento de controles externos.

Tomo emprestado da Irlanda o comportamento de seus bancos para provar o que estou dizendo. A dívida pública irlandesa representava pouco mais de 10% do PIB antes de 2008. Uma mostra clara de que o país, contrariamente ao caso da Grécia, vivia sob o domínio de um regime de responsabilidade fiscal.

A crise que se instalou, criada em razão de empréstimos totalmente irresponsáveis dos bancos privados irlandeses ao setor imobiliário, fez com que o endividamento público superasse 80% do PIB.

Apenas a ação corajosa dos governos, expandindo o gasto público em vários países, evitou que a retração sincronizada do setor privado, que se seguiu ao colapso do Lehman Brothers, arrastasse o mundo para uma nova depressão econômica.

O mundo emergente que não sofreu com os excessos de crédito ocorridos no G7 foi o primeiro grupo a se recuperar do choque externo e a retomar o caminho do crescimento.

Esse grupo de países, que já representa parte importante do PIB mundial, entra em 2011 com taxas de expansão de suas economias muito próximas das que ocorriam antes da crise americana.

No G7, a grande mudança que o ano novo nos reserva é a consolidação da recuperação da maior economia do mundo. Talvez a política econômica nos Estados Unidos, entre 2009 e 2010, seja citada nos livros de economia como o exemplo mais abrangente e exitoso do pensamento Keynesiano em momentos de crise como o que se abateu sobre esse país.

Quis o acaso que, no momento em que essa tempestade tomou conta da sociedade americana, um político democrata e um especialista em depressão econômica estivessem no comando da Casa Branca e do Federal Reserve.

Depois de dois anos de ações totalmente não convencionais, recebidas com pedras e paus pela direita americana, os sinais de sucesso estão cada vez mais presentes. Evidente que a taxa de desemprego de quase 10% da força de trabalho e um mercado de construção de casas ainda paralisado servem como pontos negativos para os que ainda se colocam como adversários de Obama e Ben Bernanke.

Mas, para os analistas isentos, agora é apenas uma questão de meses para que o emprego volte a aumentar e o mercado imobiliário comece a ganhar um mínimo de funcionalidade.

O PIB americano deve crescer 4% em 2011 e pode manter esse mesmo dinamismo no ano seguinte. Se isso acontecer e o mundo emergente tiver responsabilidade no controle da inflação, o ano de 2011 pode marcar o momento em que o mundo passou a crescer de forma mais equilibrada, sem os desajustes macroeconômicos da década passada.

Luiz Carlos Mendonça de Barros, 68, engenheiro e economista, é economista-chefe da Quest Investimentos. Foi presidente do BNDES e ministro das Comunicações (governo Fernando Henrique Cardoso).

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Wikileaks: triunfo e tragédia

Wikileaks: verso e reverso
Paulo Roberto de Almeida
Mundorama, 14.01.2011

Triunfos e tragédias das revelações
Todos os que “vivemos” ou militamos no vasto campo das relações internacionais – seja academicamente, como professores e pesquisadores, seja profissionalmente, como diplomatas e funcionários governamentais das áreas de segurança ou de inteligência, seja ainda por simples curiosidade intelectual – estamos acompanhando com renovado interesse cada nova liberação gradual das dezenas, das centenas de milhares de documentos diplomáticos dos Estados Unidos, que estão sendo divulgados por meio de um seleto número de grandes jornais internacionais a partir de sua “fonte de ocasião”, o empreendimento supostamente jornalístico de um aventureiro do ciberespaço. A “fonte original” dessa verdadeira mina documental já foi, aparentemente, identificada e neutralizada pelas autoridades dos EUA, devendo ser submetida aos procedimentos habituais em matéria de salvaguarda de materiais sigilosos, cabendo apenas esperar por uma punição exemplar pela amplitude das malfeitorias cometidas.
Este pequeno ensaio de comentários pessoais em torno das “revelações do ano de 2010” – de 2011 e possivelmente mais além – não tem por objetivo enfocar a substância da matéria, ou seja, o conteúdo das mensagens diplomáticas, nem se preocupa com o fato de elas serem provenientes dos EUA. Acredito que o mesmo poderia ocorrer com outros governos, inclusive o brasileiro, daí que meus comentários se interessem mais pelo empreendimento em si, do que pelo seu objeto próprio. Tampouco pretende ele preconizar qualquer medida adicional de segurança, do ponto de vista brasileiro, em vista da extensão da tragédia enorme que considero terem representado essas revelações para o serviço diplomático dos EUA; estou consciente, entretanto, de que medidas desse tipo serão inevitavelmente tomadas, lá e aqui, pelas autoridades responsáveis. O objetivo primordial deste texto, é o de refletir, na condição profissional de diplomata e enquanto professor, sobre as implicações dos “wikileaks” no planos diplomático e acadêmico, deixando parcialmente de lado sua interface jornalística, alheia a minhas preocupações sobre o tema.
Duas observações preliminares se impõem. Não há dúvida de que ocorreram crimes, cometidos por pelo menos um nacional americano, dentro do serviço público, contra a legislação aplicável; haverá um processo – eventualmente cercado das salvaguardas pertinentes; as consequências jurídicas e políticas desse processo afetarão o tratamento futuro das comunicações diplomáticas, sua preservação e sua disponibilização pública (aos historiadores e pesquisadores de maneira geral). Não tenho, por outro lado, comentários quanto à divulgação mesma dessa documentação – sou absolutamente contrário a qualquer controle preventivo da internet por governos ou entidades multilaterais e estou consciente de que apenas ditaduras pretendem fazê-lo, ou já o fazem, efetivamente – mas tampouco junto-me ao coro de apoiadores do aventureiro que se pretende jornalista, por considerar que aqueles que o apóiam, por ingenuidade ou simples ignorância, incorrem em vários equívocos políticos e morais (na verdade, muitos o fazem por anti-americanismo primário e beócio).
Se ouso resumir a natureza essencial e antecipar as lições pessoais destes comentários, seriam estas: o “wikileaks” representa um paraíso para os jornalistas, um inferno para os diplomatas (não apenas americanos, cabe esclarecer) e um possível limbo para os futuros historiadores e pesquisadores, que amargarão as consequências das eventuais “delícias” do presente.

Grandezas e misérias das revelações, de quaisquer revelações
Uma coisa é certa: todos nós, como indivíduos, como famílias e também como funcionários de governos, temos direito à privacidade e à confidencialidade de informações pessoais e institucionais. Obviamente, existem leis que protegem essa condição e estabelecem limites de acesso (sigilo fiscal ou de segurança), independentemente do fato de que governos, todos os governos, se empenham em atos (vários deles ilegais) para penetrar na nossa vida e na confidencialidade de outros governos. Os agentes públicos (mas isso vale entre familiares e para jornalistas também) têm o direito à (e o dever de resguardar a) confidencialidade de comentários internos, assim como o dever moral e profissional de preservar o segredo das fontes, o correto processamento das informações, pois isso é o que está constitucionalmente assegurado nas democracias “normais”. Também sabemos que algum grau de hipocrisia ou de quebra de sigilo é, de certa forma, admitido, informalmente ou no âmbito governamental, quanto ao tratamento dessas informações, tanto no plano jornalístico como no das investigações policiais ou judiciais (aspectos muito pouco regulados nas democracias “anormais” ou totalmente desrespeitados nos regimes autoritários).
Não cabe, aliás, nenhuma dúvida de que a preservação da confidencialidade de certas informações é essencial a uma correta tomada de decisões, por governos, por empresas ou por simples indivíduos, que de outra forma seriam prejudicados pela exposição pública de dados sensíveis, de segredos tecnológicos ou de comentários pessoais e familiares que os emissores, processadores e “manipuladores” dessas informações têm o dever de resguardar. Sem isso, as relações humanas e também as inter-estatais seriam muito mais conflituosas. Quando essas regras, as salvaguardas e os contrapesos falham, decisões podem se tornar deficientes e suscetíveis de provocar maior grau de tensão, o que não é objetivo de ninguém, de nenhuma família, nem de qualquer Estado (salvo aqueles personagens e governos que “vivem e sobrevivem” nos conflitos por eles mesmos provocados).

O “tesouro” dos jornalistas, com algumas limitações
Voyeurs e mesmo simples cidadãos ficam satisfeitos quando lêem na imprensa a exposição pública de atos moralmente condenáveis, ilegais ou corruptos de figuras públicas; essas revelações correspondem, presumivelmente, ao interesse público, um “direito dos cidadãos”, enquanto pagadores de impostos. Tablóides ingleses se especializam em fofocas da família real ou de membros do governo; é um nicho explorado em muitos países, em alguns deles com seguimentos judiciais. Nas democracias plenas, a liberdade de imprensa é quase absoluta, com algumas salvaguardas institucionais ou códigos voluntários de ética que limitam a exposição.
Assim deve ser: internet e imprensa devem ser absolutamente livres, cabendo aos editores de jornais e outros responsáveis de comunicações se guiar por princípios, valores e normas éticas que os auxiliem a decidir sobre o que publicar e o que resguardar, no terreno privado e no campo dos poderes públicos. Os grandes jornais americanos adotam o seguinte procedimento: primeiro consideram o assim chamado “interesse nacional”, depois o interesse do cidadão, e bem depois, o do governo...
Nesse sentido, os “wikileaks” diplomáticos representaram uma mina riquíssima de trouvailles e informações úteis sobre questões que já faziam objeto das investigações dos jornalistas, mas careciam de “fontes autorizadas”: elas agora existem, e em abundância, havendo, em diversos casos, maior ou menor grau de responsabilidade dos editores quanto à exposição de pessoas e dados muito sensíveis ou potencialmente prejudiciais nos planos da segurança nacional ou individual. Os donos de jornais e seus editores parecem ter observado uma atitude bem mais responsável do que a do “divulgador” dos documentos, resguardando dados sensíveis e informações privadas, mesmo se circulando na esfera dos governos, ou mesmo de algumas grandes empresas interagindo com eles (sobre segredos tecnológicos ou de natureza financeira, por exemplo). Não se poderia pedir transparência nesses casos, pois os danos seriam muito maiores do que os benefícios esperados ou supostos.
Não se sabe bem como foram negociados os termos do acesso aos documentos “capturados” pelo Wikileaks e sua cessão para publicação pelos grandes jornais internacionais selecionados pelo seu coordenador, mas não cabe nenhuma condenação ou sequer censura moral aos editores desses jornais, pelo simples fato de que eles receberam documentos de “interesse público” e exerceram sua capacidade jornalística em toda a amplidão do conceito. Muitos editores devem ter tomado os cuidados prudenciais que se impunham em face de muitos nomes de “informantes” ou “parceiros” dos diplomatas americanos, ponderando aqui e ali sobre a oportunidade e a conveniência de transcrever os documentos em toda a sua extensão. Alguma contenção deve ter sido exercida em nome da responsabilidade que cada um desses jornais assume em face de sua própria opinião pública.
Outra pode ter sido a atitude e o papel dos “transmissores de segunda mão”, que exploram o filão, aprofundando oportunamente indícios interessantes dos documentos originais. Em suma, se o ano de 2010 foi um annus miserabilis para os diplomatas americanos, ele deve ter sido um annus mirabilis para os jornalistas assim “presenteados”. A festa deve continuar em 2011, até onde a vista alcança. Que os jornalistas façam bom proveito e informem de maneira adequada a sua clientela.

Uma “tragédia americana” (e para os demais serviços diplomáticos também)
As revelações do Wikileaks são certamente desastrosas, e não apenas pelo seu impacto momentâneo, ou seja, pelo desgaste que elas possam causar nas relações bilaterais, nos esquemas regionais de segurança e de estabilidade estratégica, em várias outras áreas da atividade diplomática dos EUA. Elas são potencialmente desastrosas, e isso de uma forma sistêmica ou estrutural, se ouso dizer.
A questão principal é esta: dada essa exposição, poucos interlocutores, em qualquer país ou em entidades internacionais, desejarão interagir com os diplomatas americanos (mas o mesmo vale para qualquer diálogo de qualquer outro país, em circunstâncias similares de “intercâmbio informal de opiniões”). O pressuposto – que poderíamos chamar de “síndrome Wikileaks” – é o de que todos, de alguma forma, poderão ser expostos em algum momento de um futuro indeterminado (neste caso foi relativamente breve, o que agrava todo o processo). Em consequência, a diplomacia americana (mas o mesmo vale para qualquer outra), está e estará castrada em sua função essencial, que é a de recolher informações, processá-las, dialogar com reserva com agentes públicos ou pessoas privadas em outros países (amigos ou “inimigos”, não importa muito, mas neste último caso é muito pior, em sua dimensão local); ficará difícil preparar o “pão quotidiano” de todo diplomata, que é o de abastecer seu governo de informações fiáveis, se possível, não disponíveis nos veículos habituais.
É óbvio que, nessas circunstâncias, os processos de elaboração de notas e memorandos internos, de todo e qualquer subsídio para a formulação de hipóteses de trabalho e, em última instância, de adotar decisões políticas com base em toda essa massa de informações, públicas e privadas, todos esses processos tornaram-se, repentinamente, expostos e sujeitos, portanto, a revisões de procedimento e de substância que poderão impactar políticas futuras. Pode-se imaginar que as tomadas de decisões pelos órgãos pertinentes dos EUA (assim como, por extensão, de quaisquer outros governos), sobre aspectos importantes de suas políticas internacionais (diplomáticas e militares, em primeiro lugar, mas o mesmo se dá para a política comercial e muitas outras) serão muito mais deficientes daqui para a frente, o que também redunda em perdas para todos, pois muitas vezes se terá de agir por impulso ou com base em informações deficientes.
Como resultado involuntário – mas obrigatório – dessas revelações constrangedoras, pode-se esperar a introdução de novas medidas de restrição no processamento e na disseminação interna dessas informações; menos pessoas terão acesso, doravante, a papéis com algum grau de sensibilidade. Se é verdade que, na fase seguinte, menos opiniões serão ouvidas, e menos consultas diversificadas serão feitas, registrando-se menor participação de agentes públicos na tomada de decisões, pode-se prever que ocorrerão deficiências inevitáveis em todo o sistema. Um sistema que é suscetível a falhas decisórias é um sistema menos que perfeito, correndo riscos de julgamentos inadequados e possível surgimento de novos focos de tensão com parceiros e “inimigos” potenciais. Assim como crises econômicas nos EUA afetam todas as demais economias nacionais, uma diplomacia deficiente naquele país pode tornar o mundo mais instável e inseguro.
Uma consequência ainda mais terrível é a atitude psicológica de auto-contenção, quase uma auto-castração, a que se obrigarão, doravante, os diplomatas americanos (e de outros países também), temerosos de serem surpreendidos, mais adiante com a revelação de cândidos julgamentos e apreciações subjetivas ou impressionistas sobre seus personagens obrigatórios – o “ditador” de ocasião, digamos assim, mas também os líderes aliados e quaisquer outros parceiros. Os telegramas confidenciais se tornarão, a partir de agora, muito mais aborrecidos, muito mais burocráticos, bem mais anódinos do que o normalmente esperado nesse tipo de correspondência sigilosa. No limite, a “castração” vai estar tão entranhada, que vai ser difícil distinguir um telegrama analítico de uma mera crônica social.

Historiadores: preparai-vos para infinitas banalidades futuras
Patético o movimento de historiadores em vários lugares do mundo – entre outros lugares no Brasil – em defesa do coordenador do Wikileaks, como se este fosse um representante da categoria, que estaria sendo cerceado em seu trabalho “legítimo” de pesquisa, investigação intelectual e disseminação de documentos encontrados em arquivos diplomáticos. Invocaram seus defensores “princípios sagrados” como os de transparência, liberdade de expressão, entre muitos outros; denunciaram eles atitudes de governos contrários às revelações como sendo o equivalente de uma nova caça às bruxas, como ação inquisitorial, eivada de predisposições censórias e repressivas, quase equiparando essas iniciativas ao combate ao terrorismo; juntaram-se eles em petições e manifestos de apoio, que revelava apenas a confusão mental reinante nesses meios. Ocorreram inclusive manifestações totalmente esquizofrênicas de dirigentes políticos, cuja falta de lógica se alinhava ao mais vulgar anti-americanismo instintivo, combinando, aliás, com a total inconsistência nos argumentos em favor das revelações, como se estas devessem ser o padrão dos governos “democráticos”, e o sigilo das informações diplomáticas a exceção. Ninguém questionou o fato de que as verdadeiras ditaduras estavam celeremente empenhadas em fazer com que suas próprias populações não tivessem acesso a nenhuma linha dos “wikileaks”, mesmo as que teoricamente impunham mais danos ao “inimigo ideológico”.
A fruição momentânea de algumas poucas informações sensíveis – no meio de banalidades já objeto de boatos conhecidos e de centenas de outras “informações” sem qualquer ineditismo, a não pelo lado dos emissores – obscureceu o elemento mais importante a ser considerado pelos historiadores e pesquisadores de relações internacionais como resultado da ação irresponsável do coordenador do Wikileaks: o fato de que os historiadores serão jogados, doravante, numa espécie de limbo informativo que corre o risco de ampliar-se, dependendo do que vem ainda pela frente em matéria de novas revelações. Em troca do “consumo imediato” de documentos confidenciais, eles podem ter uma amputação anunciada de seu acesso a novas e futuras fontes de documentos relevantes para o trabalho de reconstrução histórica.
Com efeito, não se trata de uma tragédia apenas para diplomatas (e não apenas americanos, como já referido), mas potencialmente também para os historiadores e pesquisadores. Dependendo de como reagirão os setores de segurança das chancelarias – que não deixarão de se precaver contra novos acidentes desse tipo – os danos podem ser imensos para os mesmos beócios que manifestaram-se entusiasticamente em defesa do coordenador do Wikileaks. Estão saudando, equivocadamente, ao cerceamento substantivo da matéria-prima de seu futuro trabalho. Não que deixe de haver transparência ou agravamento nas condições de pesquisa: mas o “core of the matter” será bem menos interessante...

Se a visão pessimista expressa nos parágrafos precedentes tiver alguma possibilidade de se materializar, estejam certos de uma coisa os historiadores que estão saindo agora dos bancos universitários: as próximas safras de documentos diplomáticos podem ser tão magras de informações quanto os comunicados surrealistas de certas ditaduras: um ajuntamento de frases anódinas, no mais puro burocratês, desprovido de qualquer nuance estilística, a síntese perfeita da langue de bois oficialesca com o bullshit hipócrita que frequenta comunicados governamentais.
Espero estar errado em meus julgamentos apressados, mas como diplomata, como historiador e como simples cidadão pensante, minha avaliação da sensação de 2010, na interface do jornalismo com a historiografia diplomática, é a mais pessimista possível. Em dez ou quinze anos, espero ler avaliações sensatas sobre este episódio que revelem toda a extensão da tragédia que ele representou para historiadores e diplomatas. Au rendez-vous, donc...

Paulo Roberto de Almeida
Porto Alegre, 14 de janeiro de 2011.

=============

Imediatamente postado esse ensaio no site do Mundorama, um furibundo defensor do Assange e detrator do imperialismo americano, escreveu-me o que segue:

gianluca elia
14/01/2011 às 10:48 am
Ola,
1) Julian Assange não é um ‘aventureiro do ciberespaço’, é um informatico e um jornalista de investigação, melhor de muitos outros medíocres jornalistas de carterinha.
2) O trabalho de wikileaks começa com as revelações de fraudes nas eleções no Kenia, em 2006, e depois com o trabalho sobre o Iraq, Afeganistão e outros e não se limita só a revelação dos cables dos EUA.
3) Os cables demonstram que ao invez de cuidar dos interesses da povo (a naçao democrática se baseia sobre o poder do povo) os diplomatas cuidam os interesses das empresas, muitas vezes contra o bem geral do povo, fazendo lobby
4) A maioria dos documentos sobre os EUA demostram que este é um Estado imperialista, terrorista, assassino e fascista.


Respondi-lhe, nos comentários do Mundorama, desta forma:

Gianluca Elia,
Ao agradecer seus comentários, permita-me comentar em retorno.
1) Não sei quem são os medíocres de carteirinha; devem existir muitos de verdade, sobretudo depois que começaram a pulular faculdades Tabajara de jornalismo apenas para atender uma reserva de mercado que está (felizmente) prestes a acabar, a despeito dos esforços dos medíocres. Quanto a Assange, eu continuo classificando-o como aventureiro e oportunista, a despeito de todos os seus títulos, diplomas e especialização e experiências. Um oportunista aventureiro, como existem muitos, alguns até chegaram a chefias de governo, veja você..
2) Conheço o trabalho do Wikileaks e não tenho nada contra esse tipo de revelação: cada um escolhe o seu nicho de trabalho, ele escolheu o dele. Meu artigo não era para criticar o trabalho do Wikileaks, apenas para refletir sobre as consequencias para diplomatas e historiadores, já tendo a certeza de que é ótimo para jornalistas. Acho que você não leu direito o meu ensaio: eu não me ocupo do Assange, apenas dos efeitos de suas ações.
3) Diplomatas de qualquer país normal cuidam dos interesses das empresas de seu pais, faz parte de suas funções defenderem interesses comerciais, financeiros e tecnológicos dessas empresas, que criam empregos e renda, e portanto defende os "interesses do povo" desse país. Se você não sabe disso, deveria se informar melhor sobre o que fazem os diplomatas, os consules, os encarregados de promoção comercial, etc. Sempre foi assim. Diplomatas não fazem lobby, existem lobistas para isso. Diplomatas representam, informam negociam em função dos interesses de seus países, o que compreende as empresas, que são do povo também. Ou empresários rico, para você, não faz parte do povo?
4) Esses epítetos desqualificam completamente seus comentários, alinhando você aos garotos mal educados que ainda não aprenderam a argumentar e ficam xingando a mãe de alguém. Cresça mais um pouco, e argumente, com base em evidências, não em invectivas...
Paulo Roberto de Almeida

A proposta idiota do mes, talvez do ano...

O Congresso é uma grande fonte de projetos estapafúrdios, alguns risíveis, muitos francamente idiotas, outros involuntariamente catastróficos, que, se aprovados -- espera-se que não o sejam, embora nem sempre se consegue obter o mínimo de bom-senso de parlamentares malucos -- tornariam o Brasil um país pior do que já é, para a inteligência média da população.
O que é incompreensível é que um descendente dos Andradas consiga apresentar projeto tão idiota quanto esse que pretende expor todos os livros em livrarias...
Deve ser um escritor frustrado esse Andradinha...


Na Câmara, proposta tenta impedir pontos de venda de selecionar os títulos que comercializam
Raquel Cozer
O Estado de S.Paulo, 13 de janeiro de 2011

Projeto incomoda livrarias

Um projeto de lei em trâmite na Câmara dos Deputados propõe que livrarias sejam obrigadas a disponibilizar para venda todo livro apresentado por autores ou editores, partindo do princípio de que tais pontos de venda "não são meras casas comerciais". Pela proposta, caso não queira comercializar alguma obra, o livreiro terá de expor por escrito as razões ao editor e ao autor, que poderão pedir a interferência da Câmara Brasileira do Livro (CBL).

Questão. Livrarias não comportariam volume de livros editados, alegam profissionais do setor
O projeto n.º 7913/10 foi apresentado em 17 de novembro pelo ex-deputado federal Bonifácio de Andrada (PSDB-MG) como adendo à legislação de 2003 que instituiu a Política Nacional do Livro. Na justificativa, Andrada afirma que a lei n.º 10.753/03, embora tenha a finalidade de "assegurar ao cidadão brasileiro o direito de produção, edição, difusão e comercialização do livro", "não criou mecanismos práticos" para que os autores consigam a circulação das obras.

A CBL e a Associação Nacional de Livrarias (ANL), que não foram consultadas pelo deputado, só tomaram conhecimento do projeto em dezembro, após ser encaminhado para apreciação da Comissão de Educação e Cultura e da Comissão de Constituição e Justiça de Cidadania. O assunto ganhou repercussão na rede esta semana, quando Jaime Mendes, gerente comercial da Zahar, abordou-o em seu blog Livros, Livrarias e Livreiros, em post intitulado "Projeto de Lei proíbe livrarias de selecionar os livros que vendem".

O presidente da ANL, Vitor Tavares, destaca que "não existe livraria no Brasil, nem megastore, que tenha espaço físico para disponibilizar para venda todos os livros produzidos no Brasil" - só em 2009, segundo o balanço anual Produção e Vendas do Setor Editorial, realizado pela Fipe, foram mais de 22 mil lançamentos e 30 mil reedições. "Além disso, cada livraria tem sua peculiaridade. Você não pode impor a uma livraria especializada em livros em francês que comercialize um título que não seja desse nicho", diz Tavares.

O editor e livreiro Alexandre Martins Fontes, que administra duas lojas do grupo Martins Fontes, destaca que, caso sua equipe de compras (formada por dez pessoas) seja obrigada a justificar por escrito cada recusa de livro, "não terá tempo para fazer absolutamente mais nada".

"É deprimente que um deputado resolva fazer alguma coisa pensando no mundo dos livros, dos autores, das livrarias, e simplesmente não converse com alguém do mercado. Basta conversar cinco minutos para saber que essa proposta é totalmente inviável", diz Martins Fontes.

"Na iniciativa privada, cada um compra o que quer. Escolhemos nossos títulos assim como um mercado compra o arroz que quer, o feijão que quer", argumenta Pedro Herz, proprietário da Livraria Cultura. "Se não posso selecionar o que quero pôr dentro da livraria, então vou cobrar do deputado a construção desse espaço para colocar tudo o que existe, o que deve equivaler a um prédio maior que o da Fundação Biblioteca Nacional."

Descendente de José Bonifácio, o patriarca da Independência, Bonifácio Andrada foi deputado federal nas últimas oito legislaturas e é membro da Academia Mineira de Letras, com vários livros publicados. Ao Estado, disse que o projeto é uma tentativa de ajudar autores "que não estão protegidos pelos livreiros e pelos distribuidores". "Fico feliz de colocar o assunto em discussão. O que quero é dar condições ao autor de ter pelo menos o seu livro analisado." A ANL pretende agora, com o fim do recesso, conversar com o relator do projeto de lei, o deputado Mauro Benevides (PMDB-CE).

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Escolas superiores do Brasil: ranking das 25 melhores...

Não sei exatamente quais são os critérios de classifição e de rankeamento, mas suponho que sejam sérios e bem pesados, nas áreas respectivas.
Só posso dizer: vergonha para algumas que recebem dinheiro público, e muito, e sequer conseguem figurar entre as melhores...
Acho também que o título da matéria está errado. Deveria ser assim: "De 25 instituições de ensino superior com nota máxima em avaliação do MEC quase a metade é privada".
Afinal de contas, elas não recebem dinheiro para ser as melhores, e são até discriminadas pelo MEC e pela Capes...
Paulo Roberto de Almeida

De 25 instituições de ensino superior com nota máxima em avaliação do MEC mais da metade é pública
Amanda Cieglinski
Repórter da Agência Brasil

Brasília – Apenas 25 instituições de ensino superior (IES) do país podem ser consideradas de excelência. Elas alcançaram conceito 5 no Índice Geral de Cursos (IGC) de 2009, que foi divulgado hoje (13) pelo Ministério da Educação (MEC). O indicador mede a qualidade de uma faculdade, centro universitário ou universidade a partir da qualidade de seus cursos de graduação e pós-graduação, em uma escala de 1 a 5. Os resultados 1 e 2 são considerados insatisfatórios, 3 razoável, e 4 e 5 bons.

Em 2009, foram avaliadas 2.137 IES - aquelas que obtiveram IGC 5 representam apenas 5,5% do total. Catorze delas são públicas e 11 privadas. Elas se concentram na Região Sudeste, com exceção de duas do Rio Grande do Sul e uma de Santa Catarina.

Considerando o chamado “IGC contínuo”, que atribui uma nota de 0 a 500 para a IES, as três melhores universidades dentro do grupo considerando de excelência são particulares. Confira o ranking:

1.Escola Brasileira de Economia e Finanças (Ebef) – Rio de Janeiro (privada)

2.Faculdade de Administração de Empresas (Facamp) – São Paulo (privada)

3.Escola de Economia de São Paulo (Eesp) – São Paulo (privada)

4.Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA) – São Paulo (pública)

5.Ínsper Instituto de Ensino e Pesquisa (Ínsper) – São Paulo (privada)

6.Escola de Governo Professor Paulo Neves de Carvalho (EG) – Minas Gerais (pública)

7.Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) – São Paulo (pública)

8.Escola de Administração de Empresas de São Paulo (FGV-SP) - São Paulo (privada)

9.Faculdade de Odontologia São Leopoldo Mandic (SLMANDIC) – São Paulo (privada)

10.Faculdade Fucape (Fucape) – Espírito Santo (privada)

11.Insituto Militar de Engenharia (IME) – Rio de Janeiro (pública)

12.Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto (Famerp) – São Paulo (pública)

13.Faculdade de Economia e Finanças IBMEC (IBMEC) – São Paulo (privada)

14.Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia (Faje) – Minas Gerais (privada)

15.Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) – Rio Grande do Sul (pública)

16.Universidade Federal de Lavras (UFLA) – Minas Gerais (pública)

17.Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas (Ebape) – Rio de Janeiro (privada)

18.Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) – Minas Gerais (pública)

19.Universidade Federal de Viçosa (UFV) – Minas Gerais (pública)

20.Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) – São Paulo (pública)

21.Centro Universitário Municipal de São José (USJ) – Santa Catarina (pública)

22. Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA)– Rio Grande do Sul (pública)

23.Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM) – Minas Gerais (pública)

24.Escola de Direito de São Paulo (Direitp GV) – São Paulo (privada)

25.Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) – Rio de Janeiro (pública)