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sexta-feira, 2 de março de 2012

O mundo conspira contra o Brasil (ou pelo menos os paises ricos contra o ministro Mantega)

Alguns não se pejam de cair no ridiculo, por coisas que, a rigor nem deveriam entrar neste blog, pois não passam no teste da inteligência...
Paulo Roberto de Almeida

Financial Times, March 1, 2012 9:53 pm

Brazil declares new ‘currency war’

rousseff
Brazil has declared a fresh “currency war” on the US and Europe, extending a tax on foreign borrowings and threatening further capital controls in an effort to protect the country’s struggling manufacturers.
Guido Mantega, the finance minister who was the first to use the controversial term in 2010, said the government would not “sit by passively” as developed nations continue to pursue expansionary monetary policies at the expense of Brazil.

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“When the real appreciates, it reduces our competitiveness. Exports are more expensive, imports are cheaper and it creates unfair competition for businesses in Brazil,” he said on Thursday after announcing changes to the so-called IOF tax.
In a presidential decree, the government extended the existing 6 per cent financial transactions tax on overseas loans maturing in up to three years. Previously, the levy was applied only to loans with maturities of under two years.
President Dilma Rousseff later weighed in on the debate, vowing to defend Brazilian industry and stop developed countries’ policies from causing the “cannibalisation” of emerging markets.
The move comes as Brazil’s central bank also steps up direct intervention in the market, selling dollars and offering derivatives called reverse currency swaps to curb the real’s near 9 per cent surge against the US dollar this year.
Brazil was one of the first emerging markets to speak out against the loose monetary policy of richer nations in the wake of the financial crisis, which it blamed for directing a flood of hot money to the country and overvaluing the real.
Although the crisis in the eurozone eased pressure on Brazil’s currency late last year, a flurry of debt issuance this year has made the real one of the biggest gainers of 2012.
Countries from Colombia to Thailand have also followed suit with their own currency measures, and even the International Monetary Fund was seen to tacitly endorse the use of capital controls last April, giving Brazil’s government further ammunition.
“These (currency intervention) practices were always just in reserve but today they are even recommended by the IMF,” Mr Mantega said on Thursday. “The IMF didn’t think this way and then they started to think this way mainly after Brazil introduced intervention measures which have been successful.”
However, analysts doubt that such short-term measures will be enough to significantly change the direction of Brazil’s currency.
“There is nothing they can do to really prevent the real from appreciating; they can just delay it from appreciating,” said Italo Lombardi, Latin America economist at Standard Chartered.
He added that Thursday’s measure would also have little effect because the average maturity of Brazilian bond placements abroad is much longer than three years.
After the announcement on Thursday, the real actually strengthened in midday trade to around 1.71 per dollar.
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"Brasil declara guerra cambial" - Contra si mesmo???

Curiosas essas matérias de imprensa, e curiosos esses jornalistas, que acham que o Brasil vai começar, e ganhar, uma "guerra cambial", ou seja lá o que isso queira significar...
Quem fala em "guerra cambial" -- um termo absolutamente inapropriado e totalmente equivocado -- é o próprio governo, que distraído, parte em guerra contra ele mesmo...
Pois é, o governo provoca a valorização do real, ao manter juros estratosféricos (que mesmo a 10% são o triplo, ou o quádruplo da média mundial), e depois diz que vai lutar contra a "guerra cambial", como se esta nos fosse imposta por americanos -- que despejam, isso é certo, dólares no mundo -- e por chineses -- que espertamente colam sua moeda à divisa americana para não perder partes de mercado.
Mas vocês já se deram conta da imensa bobagem proclamada por Mantega e outros neófitos da "guerra cambial"?
Os EUA estão ficando mais pobres, ao desvalorizar sua moeda, e eles o fazem por absoluta necessidade, já que de outro modo o ajuste seria ainda mais brutal. Os chineses apenas defendem seu modelo exportador, fazendo ajustes cambiais dirigidos, algo que o Brasil praticou durante 40 anos seguidos (e o mundo não nos acusou de fazer "guerra cambial", ainda que manipulássemos o câmbio).
O governo é absolutamente risível, ou patético, ao falar de guerra cambial.
Deveria cuidar das suas contas, o que ele não faz...
Paulo Roberto de Almeida

Jornais estrangeiros veem nova ‘guerra cambial’

Blog Estadão, 2 de março de 2012 | 7h00
Sílvio Guedes Crespo
Os dois principais jornais de economia e finanças do mundo, o americano “Wall Street Journal” e o britânico “Financial Times”, publicaram reportagens nesta sexta-feira, 2, a respeito das medidas tomadas pelo governo brasileiro para tentar conter e valorização do real.
O primeiro diz no título da reportagem que o “Brasil intensifica a batalha para frear a alta do real”, enquanto o segundo afirma que
o País “declara uma nova guerra cambial”.
Ambos reforçaram a informação, já comentada em sites na quinta-feira, de que a mudança no IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) tem pouco efeito no mercado, mas vale como um sinal de que o governo está disposto a usar suas munições para conter a apreciação do real.
O ministro da Fazenda, Guido Mantega, anunciou ontem que a taxa de 6% de IOF sobre empréstimos no exterior, que incidia apenas as operações com vencimento de até dois anos, passaria a valer também para aquelas com prazo de até três anos.
Paralelamente, o Banco Central vem atuando no mercado de câmbio, por meio da compra de dólares à vista e no mercado futuro.
O governo argumenta que a política de afrouxamento monetário dos países ricos (o que inclui emissão de moeda) faz aumentar a quantidade de recursos nas mãos dos investidores, que, por sua vez, levam parte desse capital para países emergentes, como o Brasil, de forma especulativa.
“O ministro da Fazenda do Brasil e a presidente estão defendendo a moeda deles”, afirma o “Journal”.
No “FT”, o texto da versão impressa limita-se a descrever e explicar as medidas do governo brasileiro. Mas um artigo no blogBeyondBrics, do mesmo jornal, traz uma opinião sobre o caso. Recomenda que os investidores não ignorem “retórica belicista” de Mantega porque “desta vez a presidente se envolveu com a questão”.
Além disso, “Mantega sabe que tem grande parte do mundo emergente do seu lado”. O Peru e a Coreia do Sul também adotaram medidas de controle de capital.
China
Em outra reportagem, o “Journal” diz que a China está diversificando seus ativos, de modo a reduzir a participação do dólar em suas reservas, “uma tendência que pode significar menor fluxo de capital oriundo de Pequim e um possível aumento dos custos de empréstimos na economia americana”.

Mario Machado, again, again, imperdivel -- 13 de maio(s)

Voilà, transcrito uma vez, transcrito duas vezes, não pela quantidade, mas pela qualidade.
Meu amigo Mario Machado engrandece estas páginas.
Paulo Roberto de Almeida 

Liberdade, escravidão. Viva a liberdade!

Coisas Internacionais, 13 de maio de 2010
Hoje é 13 de maio aniversário da assinatura da Lei Áurea, lei que tardiamente, diga-se de passagem, extinguiu a escravidão no Brasil. Essa prática nefasta, absurda que viola a dignidade de todos, que foi até o século XVIII e XIX algo comum na humanidade, em todas as civilizações. Até mesmo entre os povos nativos das Américas havia escravidão.

Não vou discorrer sobre a escravidão ao longo da história humana, deixo essa tarefa aos historiadores, que conduzem com rigor esse debate. Nem vou elencar aqui beneficiários e participantes do comércio negreiro que abasteceu o Brasil colônia e império. Espero, de coração, que todos os escravagistas, escravocratas, caçadores de escravos, feitores e capitães do mato, que não tenham se arrependido de sua maldade, ardam no inferno, onde pertencem. (Sou Católico, portanto acredito em inferno).

Prefiro, como sempre, nessa data celebrar a liberdade. Disse ano passado nesse blog, que viver livre é meu dever, dever de consciência, devo a meus ancestrais que toleraram trabalhos forçados, injúrias racistas, tortura física e psicológica, além da indignidade de serem tratados como objeto (comprados e vendidos), e que resistiram a isso na esperança de serem livres.

A liberdade veio, e ser livre não é fácil, as condições do fim da escravidão resultaram em que há uma participação desproporcional de descendentes de escravos, nas camadas mais pobres da sociedade, algo que tem que ser resolvido. A meu ver humilde, o caminho para resolver isso é termos no Brasil escolas públicas de qualidade, que formem bem seus alunos, além disso, mais liberdade econômica para que pequenos negócios de periferia prosperem, assim teremos mão-de-obra produtiva e capaz, cidadãos cientes e ciosos de seus deveres e um ambiente de crescimento econômico, que diminua a distância e que permita que pessoas independentemente de sua origem social, e racial avançar economicamente e dar a seus filhos boas condições de vida que é um desejo comum a todos.

O racismo, o verdadeiro racismo, é um adversário perigoso, por que gera estigmas que perseguem grupos inteiros, como o estigma de que um negro seria preguiçoso, uma imagem que de certo vem dos escravocratas. É preciso combater o racismo e não estimulá-lo.

Sou descendente de escravos, não me envergonho de maneira alguma da minha tez escura, mas não sou raça pura, sou mestiço, como a maior parte do Brasil. Por sinal tenho horror a idéias de raça pura, que ouço muito, coisas tipo negro deve casar com negra, quem diz isso, diz por que deseja valorizar sua herança cultural, honrar seus ancestrais, mas não posso coadunar com uma idéia, que é em essência racista. Não posso aceitar que a cor da pele me limite, que seja ela que decida, a profissão que posso ter, onde posso morar, que elevador tomar, que pessoa namorar, que música ouvir. Ceder a essa patrulha é abrir da liberdade.

E não posso ceder a minha liberdade, não posso deixar de pensar por minha própria cabeça, devo isso, aos que foram escravos e não podiam assim proceder. Ser livre é algo sagrado para mim, até a minha própria religião é construída sobre várias noções, inclusive a do livre-arbítrio, ou seja, a capacidade de escolher, que é na essência ser livre.
Não sou inocente a ponto de dizer que não há racismo por ai, já fui infelizmente vitima de práticas discriminatórias, como já ouvi piadinhas, inclusive de professores e autores de relações internacionais, muito conceituados, que acusam em seus livros os EUA de serem um país essencialmente racista, mas que no trato pessoal, me tomaram como segurança do evento, por causa certamente da minha altura e físico, e também, por que um homem negro de terno dentro de certos ambientes deve ser o segurança. Mas, isso não me abate. Fui criado para ter confiança em mim mesmo, para não deixar que me definam, sei que tenho que provar sempre minhas capacidades, mas isso vale para as mulheres e meus colegas brancos. Se eu tenho que fazer um esforço extra, bem, é algo que chateia, que é injusto, mas é o mundo em que vivemos, e quem sabe meu bom trabalho e esforço meus filhos não tenham que fazer um esforço extra.

Mesmo já tendo sentido a discriminação, sei também, por experiência própria, que a maior parte da população brasileira não é racista, ainda que tenha aqui e lá algum ranço racista, alguma piadinha fora de hora, de pessoas que são, também, negras, ou pelo menos afrodescendentes que é a palavra da moda. Mas, nesse particular outros grupos sofrem, seja por religião, ou pro opção sexual (se o termo opção for cabível, o que suspeito que não é).

Há ainda o tal racismo velado que tanto se fala, ele é um sintoma de um racismo covarde, cínico e cheio de desfaçatez, mas também diz algo sobre o Brasil, e no meu entender, diz que no Brasil o racismo é considerado algo feio, (se não errado na mente doentia do racista, é deselegante, mau educado) que não é bom que seja feito a plenos pulmões, o que é positivo em certo sentido, por que permite a convivência de migrantes europeus, asiáticos, africanos, com as populações que aqui já estavam, como os negros da migração involuntária, europeus colonizadores e os índios sobreviventes.  

O Brasil não é uma democracia racial, que queremos, mas está longe de ser um país essencialmente racista. Temos muito que avançar, mas temos que avançar muito em todas as áreas do desenvolvimento humano. Isso é fato. Mas, me recuso a crer que alguém é racista ou me odeia só por que é branca, asiática, ameríndia, ou mais escura que eu.

Preconceituosos e intolerantes sempre existirão e para eles temos que aplicar a lei quando é o caso. É preciso resistir a tentação de dar uma resposta violenta, que é grande, grande mesmo, ser injuriado racialmente, gera uma raiva gigantesca, que pode cegar. Mas, via de regra a violência não é uma boa saída, eu como artista marcial (praticante de judô e jiu-jitsu), recomendo que não se parta para a violência, mas consigo entender quem perde a linha.

Muito falta para que chegue o dia sonhado, aquele dia em que todos serão julgados pelo conteúdo de seu caráter e não pela cor de sua pele, contudo em honra a todo o sofrimento de meus ancestrais, em honra a luta de negros e brancos que lutaram pela causa abolicionista, por todos aqueles que se arriscaram, muito, pela liberdade, que eu não vou nunca me permitir ser cerceado em minha liberdade de expressão, não me deixarei ser patrulhado, devo a eles viver livremente. 

O sentido da liberdade, negra, branca, de todas as cores - Mario Machado

Meu amigo, e que sempre me distingue com transcrições e comentários ligados a meus posts anarco-liberais, me distingue agora com mais um texto exemplar, que não hesito em copiar e colar aqui, com o devido reconhecimento e meu agradecimento, pela oportunidade de ler algo tão singelo, e tão belo.
Independentemente das qualidades de forma, já mencionadas, o que vale, para mim, no entanto, é sua mensagem, e ela é absolutamente transparente, no que vai agora transcrito.
Paulo Roberto de Almeida

Sexta-feira, 13 de maio de 2011

[Especial 13 de maio] 13 de maio, mas onde está a liberdade?

Mario Machado
13 de maio, mas onde está a liberdade?*
O laureado escritor colombiano Gabriel Garcia Marquez em seu excelente livro “Cem anos de solidão”, no qual o autor nos conta a peculiar e particularmente trágica saga da estirpe dos Buendía, na sua ficcional e pitoresca cidade de Macondo, narra a certa altura a epifania da personagem, Aureliano Buendía, então coronel de uma força rebelde comunista, que decide encerrar o conflito no qual está imerso e durante esse processo constata o narrador:
“Nunca foi melhor guerreiro do que então. A certeza que finalmente lutava pela própria libertação e não por ideais abstratos, por ordens que os políticos podiam virar para o direito e para o avesso segundo as circunstâncias, infundiu-lhe um entusiasmo apaixonado” (MARQUEZ, p. 167)
E hoje é um dia propício para falar de liberdade, mas fique tranqüilo meu leitor, não lançarei aventuras filosóficas sobre a natureza da liberdade, nem sobre fatores sistêmicos que aumentam ou restringem a liberdade, ou qualquer dessas coisas, tampouco farei referências a pílulas vermelhas e azuis, ou abrir os horizontes da consciência para obter a liberdade, enfim fiquem tranqüilos ao ler, pois não virei o que se chama por ai de “bicho-grilo”.
Sim, meus leitores eu sou descendentes de negros, afro-descendente, como está na moda, carrego essa herança na pele, e na pele, também estampo o resto da minha vasta herança étnica, afinal como a maioria absoluta dos brasileiros eu sou o que se chama de mestiço, já me chamaram de pardo, mas na boa, pardo é papel.
Não tenho vergonha de minhas origens negras, tenho plena consciência das duríssimas dificuldades que meus antepassados passaram, conheço a dificuldade interna em uma família branca que se mesclou e o tipo de sentimentos baixos e nobres que despertam dessa mistura.
Gosto de me declarar negro, por que já tentaram que me sentisse inibido de fazer isso, como se houvesse algo de errado com a quantidade de melanina na pele de alguém. Muita gente não entende o porquê da ênfase que muitos dão ao orgulho negro, mas a meu ver e no meu sentimento o orgulho de ser negro nasce como uma reação aos que tentam menosprezar alguém por sua cor, é um movimento que não nasce de desejo de supremacia, mas de um desejo de normalidade.
Entendam não estou trazendo esse assunto ao blog, por que eu seja um ativista da causa negra (coisa que eu não sou), ainda mais por que não acredito em uma causa negra uniforme, não acredito em separar as pessoas em grupos. Se existe uma causa é a causa de toda a sociedade, por que quer queiramos ou não nossos destinos estão entrelaçados, então é lógico e claro que superar as barreiras artificiais que separam as pessoas em categorias por motivos étnicos é um passo necessário para vivermos melhores e sei lá perseguirmos cada um seu caminho para a felicidade. Acredito que a forma para equilibrar as relações raciais passa necessariamente por coisas simples (e ao mesmo tempo complexas de implementar) como treinamento em negócios, crédito, empreendedorismo e educação (e claro valores familiares, que quebrem certos ciclos viciosos, sim acredito em valores familiares, não escondo que sou católico), embora o ponto aqui não seja esse.
Estudando as relações internacionais vemos que essa insanidade étnica e/ou racial, só pode terminar em tragédia, mais ódio, mais preconceito, nunca menos. O caminho para harmonia social exige esforço coletivo e, sobretudo individual, e me parece que nos dias de hoje, não sei o motivo, as pessoas andam avessas a tudo que exige sacrifícios pessoais.
Não foram poucas as vezes que debati com integrantes dos movimentos negros, que na minha concepção são movimentos políticos com agendas políticas, onde a componente racial é só a tática escolhida para alcançar os objetivos políticos normais (poder, não condeno a busca pelo poder, mas como já disse racialismo é algo perigoso e raramente termina bem, seja em Ruanda ou no III Reich),por sinal sou sempre cético no que tange a belos discursos, procuro ver além das palavras por que por vezes as intenções e conseqüências dessas idéias nobres são mortíferas, um exemplo: liberdade, igualdade e fraternidade, quantos cederam suas vidas por conta da revolução francesa? Quantas mães esposas, esposos, filhos, filhas, netos, netas, choraram por conta de nobres palavras de conseqüências desastrosas? Justiça social, então quantos morreram em nome dessa suposta causa? E quanta injustiça a busca por ela incentivou?
A liberdade ainda não é uma garantia, um direito fundamental, em nossa sociedade, quantos são os que por vontade de ter uma vida melhor pra si e seus filhos acabam por trabalhar em condições análogas a escravidão? Quantos imigrantes (bolivianos, chineses e etc.) vivem em condições precárias em nossas cidades?
Quantos se deixam escravizar? Deixam-se patrulhar intelectualmente? Temem ir contra a maré? Defendem pontos de vista que não são os seus? E por quê? Muitos o fazem para fazer parte de um grupo, para sentirem o pertencimento. Não ouso me deixar patrulhar, não abro mão do pensamento livre, assim honro o sacrifício de tantos no passado, a dor dos escravizados, por isso respeito e reverencio as liberdades individuais, não podemos nunca mais tolerar a escravidão, seja na forma do trabalho servil obrigado, seja vivendo vidas patrulhadas, seja sendo escravos de governos e regimes de exceção, não importa o lado do espectro político, ambos escravizam. E há ainda outra forma de escravidão mental, que são os vícios.
Portanto, independente do estado das relações raciais no Brasil, aproveitemos o dia de hoje, para pensar mais alto, para pensar em como e se somos livres e como obter e manter essa liberdade. Não há dom maior na vida humana que o dom de ser livre, ser livre até mesmo pra ser estúpido. E no meu ponto de vista, devemos sempre cultuar a liberdade, sempre com olhos abertos para os avanços do totalitarismo, temos que ter ciência e inteligência para não permitir que as liberdades individuais sejam solapadas não obstante a desculpa usada para isso devemos ter cuidado redobrado com as desculpas nobres, não é a toa que dizem que o inferno está cheio de boas intenções.
Assim meus leitores não importa que etnia vocês tenham que cor de pele vocês tenham, qual seja sua nacionalidade, o que importa é o conteúdo do caráter, (todos reconhecem essa referência) quem sabe chegaremos a esse dia, um passo de cada vez, sem radicalismo e sem delírios de raça, (entre os quais o pior deles é o da pureza) sejamos humanos e quem sabe um dia teremos relações raciais equilibradas, e assim deixarão de ser bandeiras pra nos dividir, sob palavras de união.
Imagino que vou irritar muita gente com esse texto, mas sou LIVRE, para pensar e sou grandinho para suportar desavenças civilizadas.
Sou livre, graças a Deus. Como diz o velho Negro Espiritual: [retirado de "American Negro Songs" by J. W. Work]
Free at last, free at last
I thank God I'm free at last
Free at last, free at last
I thank God I'm free at last
Way down yonder in the graveyard walk
I thank God I'm free at last
Me and my Jesus going to meet and talk
I thank God I'm free at last
On my knees when the light pass'd by
I thank God I'm free at last
Tho't my soul would rise and fly
I thank God I'm free at last
Some of these mornings, bright and fair
I thank God I'm free at last
Goin' meet King Jesus in the air
I thank God I'm free at last
_________________
*Originalmente publicado em 13 de maio de 2009. (aqui)

quinta-feira, 1 de março de 2012

Mercenarios a soldo ainda tentam defender o Apartheid

Um "Nabuco" não identificado -- que certamente não honra o nome -- tenta intimidar este modesto blogueiro, com uma frase deste tipo, num comentário excluído: 


"Cuidado, diplomata que repassa informações falsas..."


Ele o faz a propósito de um post: 

O Apartheid negro que os companheiros querem nos impingir - artigo de Demetrio Magnoli




que na verdade apenas transcreve um artigo de opinião contra os falsificadores da História, da Geografia, da Antropologia, da Moral e dos Bons Costumes, que são os mesmos "racistas pretos de alma preta" -- não sou em quem afirma, é apenas uma analogia, pelo inverso, do que pretende um dos serviçais do racismo oficial a propósito de um "jornalista negro", mas que teria "alma branca" --, enfim, esses defensores do Apartheid que pretendem implantar no Brasil (não com a minha omissão).


Ao proferir sua ameaça a este blogueiro -- confundindo minha condição profissional, que não costumo esconder, com minha essência de cidadão consciente, e participante -- esse patético comentarista a soldo pretendia que publicasse links para os mesmos artigos deformados dos seus companheiros pagos para mentir.


Sua intenção é provavelmente mais partidária -- ou melhor, sectária-fundamentalista -- do que propriamente racialista, mas ambas condutas recebem minha total rejeição, e aqui deixo consignada a postura a ser adotada em relação a todos os mercenários que pretendem infestar um espaço público como este -- de resto dedicado, como dito acima, a coisas inteligentes -- com sua propaganda viciosa e suas mentiras asquerosas sobre alguns aspectos da vida nacional, apenas tangenciados neste blog.


O "Nabuco" de fanquaria se engana redondamente: em primeiro lugar, porque não repassei nenhuma informação, mas apenas um artigo de opinião, que pode ou não recolher meu assentimento a seus argumentos principais, mas que reflete um debate que considero relevante para a opinião pública bem informada (que certamente não é a dele).
Em segundo lugar, se fossem informações, não seriam falsas, pois não costumo conviver com o lixo noticioso e a podridão moral em que se comprazem esses blogueiros a soldo.
Anônimos sem caráter dificilmente serão bem acolhidos neste blog.
Fica o aviso.
Paulo Roberto de Almeida 

Seminario de relacoes economicas internacionais no Itamaraty

Recebido da Funag-MRE:


Com o intuito de dar seguimento à reflexão sobre a conjuntura e as tendências das relações econômicas internacionais e os desafios e oportunidades que se apresentam ao Brasil, e com base nas pesquisas e trabalhos conduzidos em 2011 em algumas das principais instituições de pesquisa brasileiras, o Ministério das Relações Exteriores (MRE), em parceria com a Fundação Alexandre de Gusmão (FUNAG), tem o prazer de convidar Vossa Senhoria para o “IV Seminário sobre Pesquisas em Relações Econômicas Internacionais” (vide programa no corpo de e-mail), que será realizado nos dias 28 de março (das 14 às 18h00 horas) e 29 de março (das 9h30 às 13h00) de 2012, na Sala San Tiago Dantas, do Palácio Itamaraty, em Brasília.    
As inscrições serão gratuitas, mas a participação se dará sem custos para o Ministério das Relações Exteriores. Caso tenha interesse em participar, agradeceríamos enviar, até 16 de março de 2012, para tiago.nunes@itamaraty.gov.br, com cópia para aurelio.avelino@itamaraty.gov.br, nome completo, cargo, instituição, e-mail e telefones para contato.

Programação:
IV Seminário sobre Pesquisas em Relações Econômicas Internacionais
Data: 28 e 29 de março de 2012
Local: Sala San Tiago Dantas, Palácio Itamaraty, Brasília – DF
Organização: DEC/FUNAG

Programa
28/03/12 – Tarde
14h00 – 14h30 – Credenciamento
14h30 – 15h00 – Abertura
15h00 – 16h25 – Painel I: China
- A Concorrência de Produtos Brasileiros e Chineses em Terceiros Mercados
Autora/Palestrante: Lia Valls Pereira (FGV-RJ)

- Relações Comerciais entre o Brasil e a China: a Concorrência em Terceiros Mercados e os Desafios para a Indústria Brasileira
Autores/Palestrantes: Ariane Danielle Baraúna da Silva e Álvaro Barrantes Hidalgo (UFPE)

- O Intercâmbio Comercial Brasil-China: o Caso das Regiões Norte, Centro-Oeste e Nordeste
Autores: Paulo Ricardo Feistel (UFSM), Álvaro Barrantes Hidalgo (UFPE) e Uacauan Bonilha (UFSM)
Palestrante: Paulo Ricardo Feistel (UFSM)

- Discussão/Debate
16h25 – 16h40 – “Coffee Break”

16h40 – 18h05 – Painel II: África e BRICS
- A África na Agenda Econômica do Brasil: Comércio, Investimentos e Cooperação.
Autores: Pesquisadores do CINDES
Palestrante: Pedro da Motta Veiga (CINDES)

- O Papel das Instituições Formais e Informais para o Crescimento Econômico: Brasil, Rússia, Índia e China em Perspectiva Comparada
Autores: José Alexandre Ferreira e Thales Castro (UNICAP)
Palestrante: José Alexandre Ferreira (UNICAP)

- Análise das Relações Bilaterais entre o Brasil e a Índia pós-Década de 1990
Autores/Palestrantes: Jacqueline A. H. Haffner (UFRGS) e Marcel Jaroski Barbosa (ULBRA)
-Discussão/Debate

29/03/12 – Manhã
09h30 – 10h55 - Painel III: Estudos sobre Exportações Brasileiras e MERCOSUL
- Estimativas dos Índices de Restritividade das Exportações Brasileiras de Manufaturados
Autores: Honório Kume e Guida Piani (IPEA)
Palestrante: Honório Kume (IPEA)

- Análise da Comercialização do Óleo Essencial de Tangerina: um Enfoque das Relações Comerciais entre Brasil e Europa
Autores: Andrea Cristina Doerr, Rúbia Strassburger, Aline Zulian, Jaqueline Carla Guse, Maykell Leite da Costa (UFSM)
Palestrante: Andrea Cristina Doerr (UFSM)

- O Âmbito Político-Institucional do MERCOSUL: a Política Externa Brasileira e o Desenvolvimento Institucional do Bloco
Autores/Palestrantes: Luiz Augusto E. Faria e Giulia R. Barão (UFRGS)
- Discussão/Debate

10h55 – 11h10 – “Coffee Break”

11h10 – 13h00 - Painel IV: EUA, NAFTA e G-20 
- Hegemonia em Tempos de Crise: Lições da Reação dos EUA às Crises e Contestações dos Anos 1970
Autores/Palestrantes: Filipe Almeida do Prado Mendonça e Carlos Eduardo Carvalho (UNESP, UNICAMP, PUC-SP)

- A Crise Financeira dos EUA e suas Prováveis Repercussões na Economia Global e na América Latina: uma Abordagem pós-Minskyana  
Autor/Palestrante: David Ferreira Carvalho (UFPA)
Participação: Flávio Augusto Sidrim Nassar (UFPA)  

- O NAFTA e as Assimetrias: o Caso do México
Autores: Luiz M. de Niemeyer e Mayla Pereira da Costa (PUC-SP) 
Palestrante: Luiz M. de Niemeyer (PUC-SP)

- Estimando o Desalinhamento Cambial para o G-20 e em Alguns Países Selecionados utilizando Análise baseada em Fundamentos
Autor/Palestrante: Emerson Marçal (EESP-FGV)

-Discussão/Debate

13h00 – Encerramento

Lucio Dalla vu par Le Figaro

A matéria do Figaro sobre Lucia Dalla, com links para suas músicas mais famosas:

  • La disparition de Lucio Dalla

    Mots clés : 
    Par Richard HeuzéMis à jour  | publié  Réactions (2)
    Lucio Dalla aurait eu 69 ans le 4 mars prochain.
    Lucio Dalla aurait eu 69 ans le 4 mars prochain. Crédits photo : Joel Ryan/ASSOCIATED PRESS

    Le troubadour de l'Italie, auteur de la chanson Caruso, est mort d'un infarctus lundi, à Montreux, en Suisse.

    ll aurait eu 69 ans dans deux jours. Lucio Dalla était en tournée en Suisse et devait donner un concert le jour de son anniversaire. Une crise cardiaque l'a emporté dans son hôtel, à Montreux. La veille, il avait dîné en compagnie de ses amis. Il y a deux semaines, il était apparu au théâtre Ariston de San Remo, pour sa dixième participation au festival italien de la chanson. C'est là qu'il avait fait ses débuts en 1967. Sa date de naissance constitue le titre d'un de ses plus grands succès: 4/3/1943, en 1971. Comme Luciano Pavarotti, il était originaire de Bologne. À treize ans, sa mère Iole lui offre une clarinette. Il s'y adonne avec passion et se tourne vers le jazz, s'initiant aussi au saxophone et au piano.

    En 1960, il se produit au Festival d'Antibes et rejoint deux ans plus tard les Flippers, un des groupes les plus connus de l'époque. Il enregistre plusieurs 45-tours avant de créer son propre groupe, Idoli, avec lequel il sortira en 1966 son premier album, 1999, sur des textes de Gino Paoli. Malgré son caractère d'ours mal léché, il s'attire la sympathie du public.

    «Je chante pour Dieu»

    Avec les années 1970, il change de registre et travaille avec Roberto Roversi, un poète de Bologne avec lequel il produira trois albums en quatre ans. L'un des plus célèbres, sorti en 1976, Automobili («Les automobiles») avec un éloge au pilote Tazio Nuvolari et une parodie d'interview de Gianni Agnelli.
    Trois ans plus tard, après Banana Republic, il remplit les stades. Roversi voulait radicaliser ses textes, les rendre plus politiques. Lucio Dalla prend ses distances. Il se rapproche alors du chanteur Francesco De Gregori, avec lequel il liera une grande amitié. En 1986, sort Dallamericaruso, œuvre enflammée consacrée au célèbre ténor napolitain, qui obtient un immense succès aux États-Unis.

    Commence une nouvelle période, pendant laquelle Lucio Dalla se montre moins exigeant sur les textes, se laisse tenter par des mélanges de pop et de musique baroque. Il se produit avec Gianni Morandi avec qui il fait de longues tournées, aborde un registre lyrique avec une Tosca en collaboration avec la chanteuse Mina, interprète Vivaldi avec les Solisti Veneti, multiplie CD et spectacles, écrit des musiques de films, collabore à des spectacles d'opéra sur Stravinsky à Bologne.
    Le 2 janvier 2010, il retrouve sur scène Francesco De Gregori pour les trente ans de Banana Republic. Ces dernières années, il s'était rapproché de l'Église et déclarait lire les livres du Pape. «Je chante pour Dieu, déclarait-il en novembre lors de la présentation de son dernier album. Je crois plus dans les choses que l'on ne voit pas que dans celles que l'on voit.»


O Apartheid negro que os companheiros querem nos impingir - artigo de Demetrio Magnoli

O título acima é meu, obviamente, e apenas denota uma constante em meus argumentos: o atual governo, desde 2003, e os militantes da causa racialista negra, desde muito tempo atrás, querem criar duas nações no Brasil: de um lado, a dos negros, que são todos aqueles pretos retintos, mulatos inzoneiros, mestiços variados, mas todos afrodescendentes, ou melhor, a dos afroancestrais (o que queira isso dizer), e de outro lado, todos os demais, os brasileiros que não parecem ter vindo da África, descendentes de europeus, asiáticos, levantinos, mestiços lavados, e quem sabe até "negros de alma branca", ou quem quer que seja, que não tiver essa aparência morena, ou amulatada, que serviria, segundo os novos racistas do Apartheid em construção, para distinguir os novos eleitos dos orixás, os beneficiários das cotas e outras prebendas estatais.
Este é o país dividido, segregado, racista que pretendem criar os companheiros e seus militantes negros de "alma nazista", ou afrikander, enfim, à la Gobineau, mas ao contrário.
O artigo do polemista segue aqui, mas vocês já sabem o que eu penso.
Paulo Roberto de Almeida 

Demétrio Magnoli
Estado de São Paulo, 1/03/2012

A retratação, obtida por meio dos tribunais, circula na imprensa e na internet. Nela o blogueiro Paulo Henrique Amorim retira cada uma das infâmias que assacou contra o jornalista Heraldo Pereira, apresentador do Jornal Nacional e comentarista político do Jornal da Globo. No seu blog, entre outras injúrias, Amorim classificou Heraldo como “negro de alma branca” e escreveu que o jornalista “não conseguiu revelar nenhum atributo para fazer tanto sucesso, além de ser negro e de origem humilde”.

Confrontar o poder, dizendo verdades inconvenientes às autoridades - na síntese precisa do intelectual britânico Tony Judt, é essa a responsabilidade dos indivíduos com acesso aos meios de comunicação. Amorim sempre fez o avesso exato disso. A adulação, reservada às autoridades, e a injúria, dirigida aos oposicionistas, são suas ferramentas de trabalho. Não lhe falta coerência: ao longo das oscilações da maré da política, do governo João Figueiredo ao governo Dilma Rousseff, sem exceção, ele invariavelmente derrama elogios aos ocupantes do Palácio do Planalto e ataca os que estão fora do poder. Às vésperas da disputa presidencial de 1998, no comando do jornal da TV Bandeirantes, engajou-se numa estridente campanha de calúnias contra Lula, que retrucou com um processo judicial e obteve desculpas da emissora. Há nove anos, desde que Lula recebeu a faixa de Fernando Henrique Cardoso, o blogueiro consagra seu tempo a cantar-lhe as glórias, a ofender opositores e a clamar contra o jornalismo independente. Funciona: a estatal Correios ajuda a financiar o blog infame.
Amorim não tem importância, a não ser como sintoma de uma época, mas a natureza de sua injúria racial tem. “Negro de alma branca”, uma expressão antiga, funciona como marca de ferro em brasa na testa do “traidor da raça”. No passado serviu para traçar um círculo de desonra em torno dos negros que ofereceram seus préstimos interessados ao proprietário de escravos ou ao representante dos regimes de segregação racial. Hoje, no contexto das doutrinas racialistas, adquiriu novos significados e finalidades, que se esgueiram em ruelas sombrias, atrás da avenida iluminada da resistência contra a opressão. Brincando com a Justiça, Amorim republica no seu blog um artigo do ativista de movimentos negros Marcos Rezende que, na prática, repete a injúria dirigida contra Heraldo. Custa pouco girar os holofotes e escancarar o cenário que a infâmia almeja conservar oculto.
O líder africânder Daniel Malan, vitorioso nas eleições de 1948, instituiu o apartheid na África do Sul. Amorim e Rezende certamente não o classificariam como “branco de alma negra”, pois uma “alma negra” não seria capaz de fazer o mal e, mais obviamente, porque Malan não traiu a sua “raça”. Sob a lógica pervertida do pensamento racial, eles o designariam como “branco de alma branca”, embutindo numa única expressão sentimentos contraditórios de ódio e admiração. Como fez o mal, o africânder confirmaria que a cor de sua alma é branca. Entretanto, como promoveu os interesses de sua própria “raça”, ele figuraria na esfera dos homens respeitáveis. William Du Bois (1868-1963), “pai fundador” do movimento negro americano, congratulou Adolf Hitler, um “branco de alma branca”, pela promoção do “orgulho racial” dos arianos.
Confiando numa suposta imunidade propiciada pela cor da pele ou pelo seu cargo de conselheiro do Ministério da Justiça, Rezende converteu-se na voz substituta de Amorim. No artigo inquisitorial de retomada da campanha injuriosa, ele não condena Heraldo por algo que tenha feito, mas por um dever que não teria cumprido: o jornalista é qualificado como “um negro da Casa Grande da Rede Globo”, que “não dignifica a sua ancestralidade e origem” pois “nunca fez um comentário quando a emissora se posiciona contra as cotas”. No fim, os dois linchadores associados estão dizendo que Heraldo carrega um fardo intelectual derivado da cor de sua pele. Ele estaria obrigado, sob o tacão da injúria, a subscrever a opinião política de Rezende, que é a (atual) opinião de Amorim.
O epíteto lançado contra Heraldo é uma ferramenta destinada a policiar o pensamento, ajustando-o ao dogma da raça e eliminando simbolicamente os indivíduos “desviantes”. O economista Thomas Sowell produziu uma obra devastadora sobre as políticas contemporâneas de raça. Ward Connerly, então reitor da Universidade da Califórnia, deflagrou em 1993 uma campanha contra as preferências raciais nas universidades americanas. José Carlos Miranda, do Movimento Negro Socialista, assinou uma carta pública contra os projetos de leis de cotas raciais no Brasil. Sowell é um conservador; Connerly, um libertário; Miranda, um marxista - mas todos rejeitam a ideia de inscrever a raça na lei. Como tantos outros intelectuais e ativistas, eles já foram tachados de “negros de alma branca” pela Santa Inquisição dos novos arautos da raça.
A liberdade humana é a verdadeira vítima dos inquisidores do racialismo. Mas, e aí se encontra o dado crucial, essa forma de negação da liberdade opera sob o critério discriminatório da raça, não segundo a regra do universalismo. Se tivesse a pele branca, Heraldo conservaria o direito de se pronunciar a favor ou contra as políticas de preferências raciais - e também o de não opinar sobre o tema. Como, entretanto, tem a pele negra, Heraldo é detentor de uma gama muito menor de direitos - efetivamente, entre as três opções, só está autorizado a abraçar uma delas.
Sob o ponto de vista do racialismo, as pessoas da “raça branca” são indivíduos livres para pensar, falar e divergir, mas as pessoas da “raça negra” dispõem apenas da curiosa liberdade de se inclinar, obedientemente, diante de seus “líderes raciais”, os guardiões da “ancestralidade e origem”. Hoje, como nos tempos da segregação oficial americana ou do apartheid sul-africano, o dogma da raça prejudica principalmente os negros.