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domingo, 21 de outubro de 2012

A demagogia das cotas - editorial Estadao

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A demagogia das cotas

Editorial O Estado de S.Paulo, 21 de outubro de 2012

Ao divulgar o decreto e a portaria que regulamentam a Lei de Cotas, o ministro da Educação, Aloizio Mercadante, acabou reconhecendo que a lei dará acesso às universidades públicas a estudantes que não estão preparados para cursá-las. Aprovada há dois meses pelo Congresso, a Lei de Cotas obriga as universidades e institutos técnicos de nível médio federais a reservarem 50% de vagas para alunos que tenham feito integralmente o ensino médio em escolas públicas.

A lei também estabelece subcotas por critérios de renda e de raça. No primeiro caso, metade das vagas reservadas a "cotistas" deverá ser preenchida por estudantes com renda familiar mensal per capita de até 1,5 salário mínimo (R$ 933). As universidades e institutos técnicos federais poderão exigir cópia da declaração do Imposto de Renda, extratos bancários e até nomear uma comissão encarregada de visitar o domicílio dos candidatos para verificar se vivem em famílias com baixa renda. O decreto cria ainda um Comitê de Acompanhamento das Reservas de Vagas nas Instituições Federais de Educação Superior e de Ensino Técnico, que terá, entre outras, a incumbência de fiscalizar o cumprimento da Lei de Cotas e propor "programas de apoio" a cotistas.

Já no caso das subcotas raciais não haverá qualquer tipo de controle, bastando aos candidatos declarar se são pretos, pardos ou indígenas. Pelo decreto, os candidatos pretos, pardos e indígenas disputarão as mesmas vagas. Caberá, contudo, às universidades federais a prerrogativa de separar as subcotas raciais das cotas para indígenas.

"Fomos o último país a abolir a escravatura nas Américas. A política de ações afirmativas busca corrigir essa dívida histórica. Temos de dar mais oportunidade àqueles que nunca tiveram, que são os pobres", disse o ministro da Educação, depois de anunciar que vem preparando um sistema de tutoria e cursos de nivelamento para cotistas. "Os alunos terão um tutor que os acompanhará, verá as deficiências, ajudará a reforçar o que é necessário", afirmou. Com isso, ele admitiu os problemas de aproveitamento e desempenho escolar que a Lei de Cotas introduzirá nas universidades e institutos técnicos federais. É como se reconhecesse que as universidades e institutos técnicos federais passarão a ter dois tipos de alunos - os de primeira classe, escolhidos pelo princípio do mérito, e os de segunda classe, beneficiados pelo sistema de cotas.

"A experiência demonstra que parte desses alunos precisa de acompanhamento, especialmente no início do curso. Temos de garantir que saiam em condições. Inclusive, vamos fazer uma política de assistência estudantil, para que os cotistas possam se formar e ter seu diploma", afirmou.

Contudo, mostrando como são tomadas as decisões do governo na área social, o ministro anunciou que o "modelo nacional de nivelamento e tutorias" não deverá estar pronto antes do próximo vestibular, quando o regime de cotas entra em vigor. Portanto, apesar da retórica oficial em favor de políticas afirmativas, o MEC não estava preparado para lidar com os problemas trazidos por uma lei que aumentará significativamente as responsabilidades, a burocracia e os gastos das universidades e institutos técnicos federais com atividades-meio.

A preocupação em agitar a bandeira das cotas às vésperas de uma eleição é tanta que, na mesma entrevista em que reconheceu que o governo ainda não tem um plano de nivelamento e tutoria para cotistas, Mercadante disse que está cogitando de usar o sistema de cotas também no programa Ciência sem Fronteiras, que dá bolsas de graduação e pós-graduação no exterior. Mas, segundo ele, essa iniciativa teria de ser precedida do ensino em massa de inglês e de outras línguas. "Se não tem proficiência em inglês, só posso mandar os alunos para Portugal", afirmou. O ministro alegou que o MEC está preparando o programa Inglês sem Fronteiras. Mas, como se tornou rotineiro na administração petista, ele deverá ser implantado depois do anúncio da extensão do regime de cotas para o Ciência sem Fronteiras.

Liberalismo, pura e simplesmente -Book review (The Economist)


The birth of neoliberalism

New brooms

How three Viennese thinkers changed the world

Popper liked to go a-wooing
Masters of the Universe: Hayek, Friedman, and the Birth of Neoliberal Politics. By Daniel Stedman Jones.Princeton University Press; 418 pages; $35 and £24.95. Buy from Amazon.com,Amazon.co.uk
HOW did a few Viennese economists persuade a grocer’s daughter, a former film star and Europe’s greatest chicken farmer to unravel 40 years of state expansion? How did a group of men dismissed as cranks and called neoliberals change world politics for good? Daniel Stedman Jones is the latest writer to tackle the issue. His response is finer than most.
Neoliberalism originated in Austria. As governments fattened in Britain and America in the 1940s, three men started a lonely battle against the new collective politics. Karl Popper, a philosopher and ex-communist, criticised thinkers from Plato to Marx who valued the collective over the individual. Ludwig von Mises, an economist and former left-winger, said no bureaucracy had the means to restrain itself. Friedrich Hayek said central planning was impossible, because no person, however clever, knew what people wanted.
Mr Stedman Jones teases out the professorial squabbles. Hayek and Mises wanted their message to be radical. Popper sought to woo as many as possible, even liberals and socialists. No hardliner, Popper later saw flaws in market ideology, comparing it to a religion. Hayek, ever the Utopian, pressed ahead. He started the Mont Pelerin Society to foster his ideas. Thus was neoliberalism founded. One hitch with writing about it is that the word is frequently misused today. Leftists use “neoliberal” to describe people whom they essentially do not like. Mr Stedman Jones seems to think the word should not be ditched; the original pugilists against state control happily went by that name.
Milton Friedman, a Chicago economist who headed the second wave of state-bashers, preferred the word “neoliberal” in a 1951 essay entitled, “Neoliberalism and Its Prospects”. He argued for a “middle way” between the enemy of collectivism and the excesses of 19th-century liberalism. Victorian liberals failed to grasp that laissez-faire could produce over-mighty individuals, Friedman thought. The goal should not be laissez-faire, but market competition: this, he said, would protect men from each other.
Friedman called for a new liberalism, seeing himself as the heir to Adam Smith, the 18th-century defender of the individual. But the line between Smith and Friedman is not a straight one, as Mr Stedman Jones points out. Smith thought one of the state’s jobs should be to build public works and forge institutions that would otherwise fail under market pressure. Here he sounds more like Franklin Roosevelt. Smith believed the state should fund schools, bridges and roads. Friedman said that was the job of the private sector.
Neoliberals like Friedman saw economic liberty as the safeguard of all freedoms; a swelling state was the road to tyranny. Smith, by contrast, was no democrat. Less moved by political freedom, he worried that mass suffrage would lead to instability. Mises thought that Smith was a man of his time with no opinions to offer on petrol rationing, say. Reading Smith without studying economics, he said, was like reading Euclid without studying maths.
Hayek wrote that liberalism was too confusing a term, since it had different meanings in Victoria’s England and Roosevelt’s America. But he refused to be called a libertarian (too newfangled) or a conservative (he yearned for change). He preferred Old Whig to new liberal. Friedman also tired of the label “neoliberal”, perhaps because liberalism became tied to the grim culture wars of the 1960s. He happily deemed himself “laissez-faire” in 1976.
How did these ideas become mainstream? Mr Stedman Jones, a London barrister, lays it out like a rugby match. The think-tanks pass to the journalists, who pass to the politicians, who with aid from the think-tanks run with it and score. The think-tanks were the most important. With lectures and publications, they propagated ideas frowned upon at universities and converted the most powerful players in this revolution. Margaret Thatcher and Ronald Reagan counted themselves as inspired visitors.
But there is another reason. Mr Stedman Jones says that if the 1970s had not been so caustic, neoliberalism might have floundered. Previous histories say neoliberals rose because of their political nous, the force of their arguments and the network of institutions. Anthony Fisher, the poultry farmer who founded the Institute of Economic Affairs, is praised as much as Reagan’s speeches. These right-leaning tomes talk more of the heroes’ strengths than their rivals’ weaknesses. But the crisis of the 1970s stimulated new thinking, too.
“Masters of the Universe” is a little thin on character sketches and economics. But it is a strong work. Mr Stedman Jones offers a novel and comprehensive history of neoliberalism. It is tarred neither by a reverence for the heroes, nor by caricature, for he is a fair and nuanced writer. This is a bold biography of a great idea.

sábado, 20 de outubro de 2012

Projetos audiovisuais - Instituto Mundial para as Relações Internacionais

Posted: 19 Oct 2012 12:37 PM PDT
Desde os tempos em que eu era estudante eu tinha uma percepção clara que as trocas culturais e comerciais são as bases de um mundo mais pacífico e contêm as chaves do entendimento do diferente que é tão necessário.
Com esse objetivo de promover a cultura vários profissionais e estudantes de Relações Internacionais criaram a Agência IR.wi, braço cultural do Instituto Mundial para as Relações Internacionais, hoje tenho orgulho de fazer parte desse grupo de trabalho composto por algumas das melhores mentes do país.
Hoje temos o prazer de lançar um projeto de criação coletiva para audiovisuais que prevê a concessão de um total de R$ 500 mil em incentivos, uma oportunidade imperdível para que produtores de conteúdo. Abaixo vai o release do lançamento. Divulguem e visitem o site do projeto Coletividea.

Agência IR.wi abre concurso com R$ 500 mil em incentivos para projetos audiovisuais para Coletivos Criativos.
18 de outubro de 2012, Brasília - DF
Na próxima sexta-feira, dia 19 de outubro, a Agência IR. wi apresentará os lançamentos do projeto Coletividea e o Concurso Coletivos Criativos, que ocorrerão, no Espaço Cássia Eller do Complexo da Funarte em Brasília, como forma de incentivar a produção em grupo do audiovisual no Brasil.
Os projetos representam uma tendência do audiovisual no mundo, o trabalho de produção coletiva que converge para a conexão entre as pessoas. É o incentivo ao audiovisual fora da tradicional sala de cinema, apoiando iniciativas e trabalhos nos formatos de game, instalação audiovisual, ficção, flash mob, animação, performance, experimental, transmídia, documentário e vídeo clipe, com prêmios de R$ 30 mil e R$ 100 mil para a execução desses projetos. As inscrições vão de 18 de outubro a 18 de novembro e podem ser feitas pelo portal www.coletividea.com.br.
O lançamento contará com a presença da Secretária do Audiovisual do Brasil, Sra. Ana Paula Dourado Santana, que apóia a iniciativa: “O projeto Coletividea tem um objetivo por essência: incentivar a produção e formas de pensar a continuidade de processos coletivos, unindo diferentes ideias de diferentes profissionais, canalizando-as em processos, metas e resultados”.
Sobre a Agência IR.wi
A Agência do Instituto Mundial para as Relações Internacionais - Agência IR.wi, é uma OSCIP, que, desde 2006, trabalho com projetos desenvolvimentistas nas áreas de cultura, esporte e educação.
Tradicionalmente, em Brasília, a Agência IR.wi promove a Mostra Os Diferentes Olhares do Mundo, uma mostra de curtas que amplia o debate sobre os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio, propostos pela ONU.
A Agência IR.wi é representada pela Presidente Carolina Valente.
Contatos:
Ana Arruda (Produtora)
Telefone:
Endereço: Rua das Paineiras, Lote 06, Torre B, Sala 709, Águas Claras, Brasília-DF.

Brasil como grande importador mundial - IEDI


A Maior Relevância Brasileira nas Importações Mundiais
Carta IEDI, n. 542 - 19 de Setembro de 2012



As exportações brasileiras vêm marcando passo como proporção das exportações mundiais. Já se foi o tempo em que o Brasil nutria a perspectiva de ter alguma importância no cenário exportador global. Desde a crise de 2008 fica patente que o espaço reservado ao país no contexto internacional é do outro lado. Dados do FMI e da OMC mostram que no pós-crise coube ao Brasil o papel de mercado dinâmico para as exportações de outros países que souberam preservar condições de agressividade como exportadores.

O presente estudo analisa os dados de comércio exterior do Brasil para mostrar que em termos de exportações o país vem ocupando praticamente a mesma posição desde 2005 até 2011:  de 23º para o 22º lugar no ranking dos maiores exportadores internacionais, incluindo a zona do Euro (OMC). Isso significou que a parcela brasileira nas exportações mundiais evoluiu de 1,13% em 2005 para 1,4% em 2011.

Todavia, em termos de importações o Brasil passou a ser muito mais relevante para o mercado internacional, passando da 28ª posição em 2005 para a 21ª em 2011, ou de uma parcela de  0,72% do mercado mundial para 1,3%.

O maior salto no ranking dos importadores ocorreu em 2010, quando o Brasil ultrapassou a Suíça, a Tailândia, a Turquia, a Polônia, a Áustria e os Emirados Árabes. Se for desconsiderado o comércio entre os membros da União Europeia, a posição brasileira no ranking dos importadores sobe para 15º. As importações brasileiras tiveram um crescimento em valor de 24% em 2011 em relação ao ano anterior – variação superior à do México, Malásia, Hong Kong e Singapura, mas inferior à China, Rússia, Tailândia, Indonésia, Emirados Árabes, Índia.

As informações do FMI, atualizadas até o primeiro semestre deste ano mostram que a participação do Brasil nas exportações mundiais caiu para 1,31% no primeiro semestre de 2012 (versus 1,34%), enquanto a parcela nas importações chegou a 1,28% (versus 1,24% no primeiro semestre de 2011).

Quando observado somente exportações e importações mundiais de manufaturas, o avanço brasileiro em termos de importações fica ainda mais claro vis-à-vis as perdas em termos de exportações. Em exportações de manufaturas, o Brasil caiu de 0,85% para 0,73% do total mundial entre 2005 e 2011, regredindo da 27ª para a 30ª posição. Por sua vez, o Brasil passou a ser o 21º maior importador mundial de manufaturas em 2011, sendo que em 2005 era o 31º. Sua parcela nas importações mundiais em dólares mais do que dobrou, de 0,69% para 1,37%.

No que se refere às exportações, o recente crescimento da participação do Brasil está relacionado, por um lado, à queda da atividade em termos globais e, por outro, à maior participação das commodities nas exportações totais brasileiras. A redução do peso das manufaturas nas exportações mundiais, ao contrário do que se pode pensar, foi mantida em torno de 70% desde 2005 até 2011.

Em contrapartida, nas exportações brasileiras as manufaturas caíram de 53% em 2005 para apenas 34% em 2011. Em adição, o coeficiente de exportações (total da produção doméstica que é exportado) da indústria brasileira se reduziu de 20,3% em 2005 para 17,9%. Todos os ramos de atividades tiveram redução do coeficiente, exceto químicos, farmoquímicos, fumo, celulose e papel. Vale destacar, em contrapartida, o crescimento das exportações da indústria aeronáutica em 2011.

O coeficiente de penetração das importações aumentou expressivamente na indústria brasileira, de 13,7% em 2005 para 21,9% em 2011. As variações mais expressivas ocorreram em têxteis, vestuário e acessórios, coque e derivados do petróleo, borracha e material plástico, metalurgia, produtos de metal, equipamentos de informática/eletrônicos e ópticos, máquinas e aparelhos elétricos, máquinas e equipamentos, veículos automotores.

Em suma, o Brasil somente manteve certa dinâmica exportadora a nível internacional em função de suas commodities primárias, regredindo como exportador de manufaturas. Do lado das importações, sua condição como mercado para produtos manufaturados se eleva, especialmente após a crise mundial de 2008.

Em parte, as tendências acima resumidas quanto à inserção brasileira no comércio mundial decorrem de mudanças na concorrência internacional por mercados mais restritos devido à crise, o que concorreu para transferir para a produção estrangeira parcela do mercado interno brasileiro e reduziu a posição brasileira em mercados no exterior.

Mas correspondem também a fatores domésticos como o câmbio e outros condicionantes da baixa competitividade brasileira. O governo vem adotando medidas para a proteção do câmbio, redução de impostos e para a diminuição de custos, como o custo de energia, de logística e de financiamento. São ações relevantes que precisam ser mantidas pois seus efeitos virão apenas a médio e longo prazo.

Derrapagem orcamentaria, financeira e inflacionaria - Celso Ming, Ricardo Bergamini


Celso Ming 
O Estado de S.Paulo18 de outubro de 2012

Ontem, o Tesouro repassou para o BNDES mais um empréstimo de R$ 20 bilhões de um total de R$ 45 bilhões previstos para este ano. No ano passado, o BNDES já recebera R$ 55 bilhões.
Essas transferências cumprem a função de suprir o BNDES de recursos oficiais destinados a empréstimos de longo prazo, para viabilizar investimentos das empresas tanto públicas como privadas. Mas não são os únicos repasses do Tesouro a bancos oficiais. O Banco do Brasil deve receber neste ano até R$ 8,1 bilhões, e a Caixa Econômica Federal, outros R$ 13 bilhões - como munição para o crédito e para forçar os bancos privados a reduzir os juros nas suas operações ativas.
Embora decididos com as boas intenções de praxe, esses repasses produzem distorções. A primeira é a reedição da chamada conta movimento. Foi a união incestuosa entre Tesouro e Banco do Brasil que financiou despesas do governo com dívida pública e emissões de moeda. Causou enormes estragos à economia brasileira até ser extinta em 1986, no governo Sarney.
O único ponto positivo dos atuais repasses do Tesouro é o de só poderem ser feitos caso, no resto, o governo cumpra um bom programa de responsabilidade fiscal. Mas, se é uma reedição de práticas condenáveis,está visto que não podem acabar bem.
A segunda incongruência já foi reconhecida pelo próprio presidente do BNDES, o economista Luciano Coutinho. Essa gambiarra fiscal, em que dinheiro público gerado com vento é injetado nas veias de algumas empresas brasileiras, impede o desenvolvimento de um mercado de capitais sadio no Brasil - onde qualquer empresa bem administrada e com um bom projeto poderia se financiar com recursos relativamente baratos para a sua expansão. Quem e qual instituição financeira pode concorrer com o BNDES (ou com o Tesouro) no fornecimento de recursos de longo prazo nessas condições? Esse é o maior obstáculo para o desenvolv imento de um mercado de debêntures, ou seja, de lançamento de títulos de longo prazo pelas empresas. O BNDES sempre fornecerá recursos mais baratos do que o mercado vai cobrar.
No passado, a falta de recursos de longo prazo para financiar o crescimento tinha outras causas - como a inflação alta ou a insegurança criada pelos fundamentos frágeis da economia. Hoje, um dos principais motivos é a ausência de poupança de longo prazo no mercado.
Esse desvio leva a outro: os bancos oficiais acabam por fazer concorrência desleal aos privados, em capitais de investimento e de crédito a prazos mais curtos.
Outro fator negativo é a escolha arbitrária dos campeões dos torneios de crescimento econômico. À medida que passa a deter o monopólio da oferta interna dos capitais de longo prazo e escolhe as empresas que vão desfrutá-los, outros elementos de irracionalidade se instalam na economia. Muitas vezes, eleitos assim designados são as melhores opções de investimento. Transferências de recursos com critérios políticos motivam critérios também políticos de aferição de resultado. E isso já se sabe onde vai parar.
Além disso, nem sempre os financiamentos, sejam de que prazo forem, chegam ao grupo empresarial que deles mais necessita. Ao contrário, muitas vezes a empresa já detém reservas para seus planos de investimento. Mas, uma vez que conta com o beneplácito do governo federal, prefere dar-lhes outra destinação.
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Comentários do economista Ricardo Bergamini:
Comentário de Ricardo Bergamini:

É a volta da orgia financeira e o abandono da política fiscal restritiva e  o fim definitivo da lei de responsabilidade fiscal criada no governo FHC. 
É a emissão de moeda gerada pelo vento, como diz o artigo. Com isso a volta da inflação.
(Que cada um) se prepare para viver o que já vivemos outrora. Aguarde.
Cabe lembrar que inflação no primeiro momento gera crescimento econômico. Vide período do governo Sarney (1985/1989) com hiperinflação e moratória internacional, gerou um crescimento médio de 4,39% ao ano, acima do período do governo Lula de 4,06% ao ano. 
Cabe lembrar que controle da inflação é o maior mecanismo de distribuição de renda existe no planeta. Vide crescimento da renda média do brasileiro no período de inflação sob controle praticada no Brasil com o plano Real. 

O Brasil é um museu de grandes novidades (Cazuza).
No Brasil a burrice foi gloriosa no passado e será promissora no futuro (Roberto Campos).

Taxa Média/Ano de Crescimento Econômico Real Relativo
ao Período de 1964 a 2011 em Percentuais do PIB
Períodos
1964/84
 1985/89 
1990/94
 1995/02
 2003/10
 2011
Média/Ano 
Fonte: IBGE.
6,29
4,39
1,24
2,31
4,06
2,70

1 – Nos 21 anos dos governos militares, o Brasil teve um crescimento econômico real médio de 6,29% ao ano.
2 – Nos 5 anos do governo Sarney, com moratória internacional e hiperinflação, o Brasil teve um crescimento econômico real médio de 4,39% ao ano.
3 – Nos 5 anos dos governos Collor e Itamar, o Brasil teve um crescimento econômico real médio de 1,24% ao ano.
4 – Nos 8 anos do governo FHC, o Brasil teve um crescimento econômico real médio de 2,31% ao ano.
5 – Nos 8 anos do governo Lula, o Brasil teve um crescimento econômico real médio de 4,06% ao ano.
6 – No primeiro ano do governo Dilma (2011) o Brasil teve um crescimento econômico de 2,70%.

Ricardo Bergamini

Diplomacia brasileira: representacao em expansao

Na diplomacia, um empate entre Brasil e Alemanha
O Globo, 20/10/2012


Número de diplomatas brasileiros cresce mais de 50% em uma década 
RIO e BRASÍLIA — O Brasil começa a ter estrutura diplomática de gente grande. Já conta com 228 postos (contra 155 em 2003) pelo mundo, quantidade similar à da Alemanha e acima da Índia e da África do Sul. O total de diplomatas no país passou de 1.023, em 2000, para 1.557, em 2012. Ao mesmo tempo em que a estrutura está ficando mais adequada às pretensões brasileiras de ser um ator global, dando suporte às empresas nacionais que se internacionalizam, o Brasil será cobrado a se posicionar mais firmemente em questões mundiais, alertam especialistas. Eles dizem ainda que a posição do governo brasileiro será mais relevante e, para as pequenas nações, sobretudo na América Latina, o Brasil poderá reforçar a sua imagem de potência imperialista, o que afetaria a avaliação, em geral positiva, que a maior parte dos povos tem do país. Este é um desafio típico de nação desenvolvida que o Brasil, país emergente, começa a enfrentar e que é tema do último dia da série de reportagens do GLOBO, iniciada domingo. 

O embaixador Tovar da Silva Nunes , porta-voz do Ministério das Relações Exteriores, conta que este crescimento da diplomacia nacional chegou a causar até problemas de espaço físico no Itamaraty. Ele afirma ainda que o maior peso do Brasil nos debates globais faz com que outras nações anunciem embaixadas no Brasil, como o atual caso de Ilhas Fiji, o que faz com que o Brasil, pela reciprocidade, também abra embaixadas nestes países. Ele diz que, com a alta dos negócios do Brasil, esta nova estrutura é fundamental.
— Além da busca por um espaço maior nos debates mundiais, a demanda cresce com o avanço do país. Temos mais brasileiros no exterior, mais empresas multinacionais. Esta estrutura do Itamaraty é fundamental até para ampliarmos os negócios brasileiros — disse.
País pode sofrer desgaste
Nunes explica que o Brasil conseguiu garantir uma presença em mais países com a criação de embaixadas cumulativas. Ele conta ainda que não foram apenas mais postos, mas alguns pontos importantes, como a representação em Bruxelas, que ganhou mais diplomatas. Apesar de considerar que o país hoje está com estrutura adequada, ele lembra que ainda está atrás de grandes nações como Estados Unidos, Reino Unido e França, e até da Rússia e da China:
— Entre os Brics temos uma estrutura maior apenas que a Índia e a África do Sul.
Ele conta ainda que o Brasil começa a enfrentar mais pressão em suas fronteiras, até pelo avanço da imigração ilegal —tema da primeira reportagem desta série.
Oliver Stuenkel, professor e pesquisador do Centro de Relações Internacionais da FGV, afirma que este avanço no número de diplomatas não é suficiente para um país que queira grande representação. Ele lembra, por exemplo, que na China, principal parceiro comercial do Brasil, são apenas 16 diplomatas. Em Nova Déli, somente 6. Mas, para ele, o Brasil vai repetir o que ocorreu com a China e, em breve, terá sua avaliação positiva arranhada.
Defesa militar também deve crescer
— Como a presença econômica do Brasil cresce, essa visão pode mudar. A diplomacia brasileira terá que defender os interesses nacionais, o que nem sempre será bom para os outros países. O Brasil terá de entrar nos debates complexos, se posicionar — diz Stuenkel.
O professor acredita que a boa imagem brasileira e a tradição de não-interferência em temas internos (como no caso da Síria) pode dar ao país a condição de mediador de conflitos. Mas também deverá defender com força conceitos como direitos humanos e democracia — principalmente na América Latina, onde a democracia gera estabilidade, previsibilidade e negócios.
— O que ocorreu com o Paraguai, rapidamente suspenso do Mercosul, tende a se repetir quando há interesses nacionais em jogo. Em outros casos, contudo, o Brasil deverá ser pragmático como as grandes potências — disse Stuenkel.
Para o professor de Relações Internacionais da Universidade de Brasília (UnB) Estevão Martins, gastar mais não é coisa de país rico, mas de nação inteligente. No entanto, ele critica como a expansão diplomática no Brasil foi feita de forma “atabalhoada” nos últimos anos. O país aumentou a presença na África e em nações árabes — que querem mais cooperação. Na prática, isso significaria vantagens comerciais e financiamento do BNDES nos moldes do que foi feito nos últimos anos na América do Sul. Para ele, o Brasil não teria capacidade para fazer.
— O Brasil deu um passo maior que suas pernas. Não somos tão ricos quanto dizem.
Além disso, o Brasil precisa ampliar sua atuação militar, para se proteger até do terrorismo. Oficialmente, o governo diz que nenhuma organização atua no Brasil. Nos bastidores, monitora esparsos sinais de atividade e prepara um esquema especial para os grandes eventos esportivos e para a visita do Papa Bento XVI em 2013.
Forças Armadas e Polícia Federal mapearam pontos nas cidades-sede da Copa do Mundo que poderiam ser alvo de ataque. E a PF fará um treinamento no exército de Israel.
— Isso (terrorismo) não deve ser visto com alarmismo porque não temos esse tipo de atividade em solo brasileiro — disse o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo. — O que não quer dizer que nós não tenhamos de estar preparados para isso, até pelos grandes eventos.
No entanto, os militares já identificaram integrantes da Al Qaeda a poucos quilômetros do centro do poder em Brasília. Fontes admitem que representantes da organização atuam na Feira do Paraguai, o camelódromo da cidade.
Especialistas defendem o aumento do gasto do país com Defesa. Os investimentos na área deveriam chegar a 2% do Produto Interno Bruto (PIB) por ano. É o que querem especialistas e o ministro da pasta: Celso Amorim. Hoje, o gasto é de 1,5% do PIB, quase tudo com salários de militares. Entre os BRICS, a média é de 2,5% .
— A sua casa está aberta ou fechada? Aposto que você não tem inimigos, mas ela está fechada — brinca Carlos Afonso Pierantoni Gambôa, vice-presidente da Associação Brasileira das Indústrias de Materiais de Defesa e Seguranca (Abimde).

Leia mais sobre esse assunto em http://oglobo.globo.com/economia/na-diplomacia-um-empate-entre-brasil-alemanha-6438856#ixzz29t3gaK5K
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