O que é este blog?

Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida;

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segunda-feira, 9 de novembro de 2015

Marajanato e mandarinato no TSE: os privilegiados da Republica em toda a sua vergonhosa gloria

Certas coisas são tão escabrosas, que um simples blogueiro como este fica até constrangido de publicar uma matéria obviamente maldosa como a que vai abaixo, falando de picuinhas, mas que não deixam de refletir uma triste realidade: o assalto, contínuo, amplo, geral e irrestrito, dos apaniguados do poder aos cofres da República, roubando -- eu disse roubando, ainda que este crime não esteja devidamente caracterizado no nosso código penal da ética pública, se isso existisse -- roubando, repito, recursos preciosos que poderiam ser dirigidos à saúde e à educação da população, para o exibcionismo conspícuo, vergonhoso, ofensivo e pornográfico, de apenas sete mandarins que não sentem nenhum resquício de pudor por estarem assaltando assim os cofres da nação.
Paulo Roberto de Almeida

http://www.diariodopoder.com.br/noticia.php?i=43743678954
NA CONTA DO CONTRIBUINTE
COM SETE MINISTROS, TSE MANTÉM 122 SECRETÁRIAS
OS SETE MINISTROS DO TSE TÊM À DISPOSIÇÃO 122 SECRETÁRIAS
Diário do Poder, 07 de novembro de 2015
 
SEDE DO TRIBUNAL SUPERIOR ELEITORAL, EM BRASÍLIA. FOTO: TSE/TRE-TO

Os sete ministros do Tribunal Superior Eleitoral têm mais o que fazer, por isso só se reúnem duas vezes por semana, e à noite. Mas têm à disposição um fabuloso edifício-sede, de 112 mil metros quadrados, distribuídos em dez andares e um exército de servidores que inclui 122 secretárias ao custo anual, só elas, de mais de R$ 8,9 milhões. Isso sem contar auxiliares de microinformática, que custam R$ 2,8 milhões.

As despesas no TSE só aumentam. A renovação de três contratos para terceirizados de nível médio aumentou esses custos em R$ 3 milhões.

Com serviço de mensageiros, o TSE desembolsa cerca de R$ 2 milhões. Haja recado e encomenda para circular entre os gabinetes.

Constrangido com seu gabinete de 150 metros quadrados, ministro do TSE disse à coluna que preferia ver funcionando ali 4 salas de aula.

Entre 2009 e 2015, despesas do TSE com terceirizados aumentaram em média 151%. Somente do ano passado para cá, cresceram 38%.

Coluna Cláudio Humberto

Lava Jato não leva culpa pelos problemas do Brasil - Samuel Pessoa

domingo, 8 de novembro de 2015

Samuel Pessôa: A culpa não é da Lava Jato 

- Folha de S. Paulo

A dívida líquida da Petrobras é 4,8 vezes maior do que lucro antes do pagamento de juros, impostos, depreciação e amortização (indicador conhecido como "lajida").

As empresas do mesmo subsetor da Petrobras —empresas integradas do setor de petróleo e gás— têm em média dívidas como proporção do lajida com um terço do tamanho (1,7, ante 4,8).

Se não houvesse a Operação Lava Jato, a Petrobras estaria passando pelas mesmas dificuldades. Elas decorrem do enorme endividamento. Este, por sua vez, resulta das decisões tomadas desde 2003 —construção de inúmeras refinarias que até o momento geraram perdas de R$ 50 bilhões, controle dos preços da gasolina que geraram perdas de R$ 60 bilhões, alteração do marco regulatório do petróleo etc.

A Lava Jato identificou perdas por propina da ordem de R$ 6 bilhões. Não pode explicar os problemas da empresa.

Inúmeras empresas fornecedoras da Petrobras passam por enormes dificuldades, pois a estatal tem atrasado os pagamentos. A Lava Jato não tem responsabilidade nesses atrasos.

Os muitos estaleiros que foram implantados ou expandidos em razão do Promef (Programa de Modernização e Expansão da Frota) estão passando por problemas, pois a Transpetro, subsidiária da Petrobras, não tem recursos para adquirir eternamente navios pelo dobro do preço do mercado internacional, bem como o BNDES não tem recursos para continuar a financiar eternamente a Transpetro. A Lava Jato não é responsável pela exaustão financeira do Promef.

As construtoras do programa Minha Casa, Minha Vida têm passado por dificuldades, pois o programa foi desenhado para sobreviver com vultosos subsídios do Tesouro. A situação do Tesouro compromete o programa. Novamente a culpa não é da Operação Lava Jato.

A nova matriz econômica foi desenhada supondo que a capacidade de financiamento do Tesouro e do BNDES fosse ilimitada. A fonte secou. Basta verificar que as universidades que tinham seu plano de negócios baseado no fundo de financiamento estudantil, Fies, passam por dificuldades análogas às dificuldades do setor de construção civil.

Assim como o 2º PND (Plano Nacional de Desenvolvimento) do governo Geisel esgotou-se quando as fontes de financiamento esgotaram, o mesmo ocorre hoje com inúmeros projetos ligados ao setor de construção civil.

A Operação Lava Jato apenas ocorreu simultaneamente a esse esgotamento. No entanto, não há causalidade entre os problemas do setor de construção civil e a Operação Lava Jato. A causa é o total esgotamento da capacidade de financiamento do setor público —via Tesouro, bancos púbicos ou empresas estatais— para manter planos de investimentos megalomaníacos e mal executados.

A Lava Jato contribui para piorar o ambiente político e, consequentemente, para dificultar a aprovação das medidas do ajuste fiscal. É somente nesse sentido indireto que a operação piora o desempenho da economia. O impacto direto que ela tem sobre a atividade econômica é desprezível.

Impeachment: Carlos Velloso, ex-STF a favor

 CORREIO BRAZILIENSE
08nov15

Carlos Velloso: "A Operação Lava-Jato representa um marco"

Ex-presidente do STF afirma que antes de o TCU rejeitar as contas da presidente Dilma era contra o impeachment, mas mudou de entendimento

Breno Fortes/CB/D.A Press

"Acho um momento gravíssimo, a economia derretendo, crise política, crise ética, essa que é terrível. Altas autoridades sendo acusadas, investigadas, altas personalidades do partido que está no governo na cadeia" 
  

Ministro aposentado do Supremo Tribunal Federal, Carlos Mário Velloso, 79 anos, tem convicção de que hoje existe razão para o impeachment de Dilma Rousseff. “Fui dos primeiros a afirmar, quando se falava nesse tema, que não havia, até então, motivo, mas mudei o entendimento depois da decisão do TCU de rejeitar as contas da presidente.” Ao longo de mais de duas horas de entrevista, no escritório do 8º andar de um prédio no Setor de Autarquias Sul, Velloso falou sobre a maioridade penal, o foro privilegiado e a infinidade de recursos, que, segundo ele, deveriam ser reduzidos às instâncias iniciais. Também analisou as decisões do juiz da Lava-Jato, Sérgio Moro, o mensalão, o caso Collor e a Lei da Ficha Limpa, segundo Velloso, um dos principais avanços do Supremo nos últimos anos.
Mesmo longe do papel de juiz há nove anos, parece sempre pronto a participar de debates públicos. Nascido em Entre Rios de Minas, a 120km de Belo Horizonte, ele é um crítico aberto do foro privilegiado e do instrumento do “trânsito em julgado”. “É a liberalidade à brasileira. Nos Estados Unidos, um juiz de primeiro grau condenou, sai dali preso.” Velloso está em Brasília desde dezembro de 1977, quando chegou aqui para assumir o cargo de ministro do Tribunal Federal de Recursos. Formado em direito pela Universidade Federal de Minas Gerais, ainda no estado natal, foi professor, advogado, promotor de Justiça e juiz federal. Na capital da República, ocupou cadeiras no Superior Tribunal de Justiça, no Tribunal Superior Eleitoral, até ser nomeado no Supremo, em 1990. Ao deixar o STF, depois de 16 anos, disse que sentia como se o tivessem degolado. “Eu saí muito pesaroso, mas, seis meses depois, se me chamassem, não voltaria.” Amanhã, o ministro participará de encontro jurídico em sua homenagem, promovido pelo Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, pela Harvard Law School Association of Brazil e pela FGV Direito Rio. A seguir, os principais trechos da entrevista:

Como o senhor está acompanhando a crise política, a partir deste debate sobre a judicialização das discussões?
Existe uma certa judicialização do processo político dada a omissão, muitas vezes, dos órgãos políticos. Muitas vezes, o Congresso se omite (e estamos assistindo a isso), então o Judiciário se adianta. O Supremo se adianta. No caso, por exemplo, do feto anencéfalo. É realmente uma decisão que reflete o ativismo judicial. Agora, correto? Parece-me que sim. Especificamente sobre a sua pergunta: é requerido o impeachment, é pedido impeachment. O presidente da Câmara elaborou uma espécie de regimento, de rito; e foram ao STF. O Supremo entendeu que o rito está na Lei 1.079. Até achei interessante, porque o rito ampliava o raio de defesa, o que criou o recurso para o plenário. Então, até estranhei que se recorresse de uma medida que amplia o raio da defesa. Mas o Supremo entendeu que há de ser observado o rito e concedeu a medida liminar. No impeachment do Collor, o STF, por mais de uma vez, interveio no processo, nunca ex officio. Mas sim devidamente provocado por parlamentares.

Vê alguma similaridade entre o caso Collor e o que está em discussão no Congresso?
Porque ali havia um crime. Pelo menos na CPI do caso Collor, percebeu-se que havia montagem de uma quadrilha para roubar dinheiro público. E agora não está configurado isso envolvendo a presidente Dilma. 

Há uma razão para o impeachment dela?
Fui um dos primeiros a dizer e a afirmar, quando se falava em impeachment, que não havia, até então, motivos para o impeachment.

E continua com essa opinião?
Não. Mudei meu entendimento tendo em vista a decisão do Tribunal de Contas da União. O TCU reconheceu aquilo que foi apelidado de “pedalada” — aquelas operações que consistiam, em síntese, no fato de a Presidência ter obrigado e submetido um banco estatal a pagar dívidas do governo do Estado, o que é proibido pela Lei de Responsabilidade Fiscal. Então, a partir daquele momento, penso que surgiu um motivo determinado para o impeachment.

Há quem diga que, por ter sido no mandato anterior, não seria o caso de impeachment. Mas que essas de 2015, sim. Porque seriam relativas a este exercício. O fato de haver reeleição, pode-se fazer essa distinção, uma vez que ela não ficou nem um dia fora do cargo?
Penso que sim. Veja: a Constituição, no artigo 85, estabelece que o presidente da República, na vigência de seu mandato, não pode ser responsabilizado por atos estranhos ao exercício de suas funções. Isso no parágrafo 4. O artigo 85 estabelece a regra geral: são crimes de responsabilidade do presidente os atos que atentem contra a Constituição. Essa é a regra geral. E acrescenta o artigo 85: “e especialmente contra” — seguem-se os itens de 1 a 7 ou 8, se não me engano. E, no inciso sexto, está estabelecido que especialmente contra crimes de responsabilidade. Os atos do presidente que atentem contra a Constituição e, especialmente, contra a Lei Orçamentária. A Lei de Responsabilidade Fiscal é uma lei que diz respeito ao orçamento. Você tem duas interpretações possíveis. Então, você tem que procurar aquela interpretação que seja mais condizente com a realidade social, com os valores fundamentais do sistema jurídico e com os valores e princípios inscritos na própria Constituição. Bom, a primeira regra: não pode perder o mandato se não estiver no exercício dele, claro. Segundo: não pode responder por crime de responsabilidade por atos estranhos ao exercício de suas funções. Então, vejam: por atos praticados na vida privada, na vida social; que nada têm a ver com o exercício das funções da Presidência. Esta questão foi muito bem examinada pelo professor Adilson Dallari, que é irmão do professor Dalmo Dallari. O professor Dalmo Dallari tem opinião divergente do professor Adilson.

A opinião do Adilson Dallari lhe parece melhor?
Sim. Parece-me melhor, mais condizente com a realidade social. Então, continuemos (aliás, as observações que faço também são na linha do entendimento do professor Adilson Dallari). A Constituição exige que o ato sancionável, quer dizer, o ato que deve ser punido, tenha sido praticado por ação ou omissão culposa no exercício das funções de presidente. Na forma do artigo 14, parágrafo 5º da Constituição, o mandato é de quatro anos. Mas o presidente, em razão de uma emenda constitucional aprovada ainda no governo do presidente FHC, em 1997, pode ser reeleito por mais um período subsequente. Ora, decorre daí (e este raciocínio foi muito bem desenvolvido no parecer que o professor Adilson Dallari emitiu) que o presidente estará no exercício de suas funções por oito anos se reeleito. O presidente pode hoje ser reeleito por mais um período subsequente. Este raciocínio foi muito bem desenvolvido no parecer que o professor Adilson emitiu decorre daí, de que o presidente está no exercício de suas funções por oito anos se reeleito.

Então...
Sim, é um ato praticado no exercício das funções de presidente. O que a Constituição fala é no exercício das funções próprias do presidente. Toda norma jurídica comporta mais de uma interpretação possível. Cabe então ao intérprete, desde que seja jurista, procurar realizar a melhor interpretação possível, aquela mais condizente com a realidade social e os valores fundamentais do sistema jurídico. Agora, coloco essa questão em mesa. Será que se torna impune, no mandato subsequente, o presidente que comete o crime de responsabilidade no mandato anterior? Isso atenta contra princípios constitucionais. E o que está parecendo mais evidente. É o princípio constitucional da moralidade administrativa escrito no artigo 37 da Constituição. Essa é a minha opinião e reconheço que há opiniões contrárias de bons juristas, por exemplo, as do Dalmo Dallari.

O governo argumenta que as pedaladas também ocorreram em outros governos.
O que está na lei não é isso. E essa Lei de Responsabilidade Fiscal veio no momento em que as finanças dos estados-membros estavam arrasadas e os governadores faziam isto: faltava dinheiro no caixa do Tesouro, eles avançavam no caixa dos bancos estatais. Quebraram quase todos. O governo federal saneou e privatizou alguns, como o Banespa. Um ou outro conseguiu se salvar. A Lei nº 1.079, de 1950, artigo 10, inciso 9º, com a alteração da Lei nº 1.028, de 2000: é crime de responsabilidade contra a lei orçamentária ordenar ou autorizar em desacordo com a lei a realização de operação de crédito com qualquer um dos demais entes da Federação inclusive suas entidades da administração indireta ainda que na forma de novação, refinanciamento ou postergação de dívida contraída anteriormente. O que a lei estabelece que isso é crime. O fato de o governo pagar depois é a comprovação de que houve o crime. O fato de esse crime ter isso praticado anteriormente e não ter sido punido não justifica. Não descriminaliza o ato seguinte. Até posso dizer, com o devido respeito, que este é um argumento até pueril: “Mas fulano fez e não foi punido”.

Mas dentro da lógica do governo, o  argumento é de que houve dois pesos e duas medidas.
O governo devia então processar a autoridade que anteriormente não agiu e que tinha de agir sob pena de praticar o crime de prevaricação. E depois é o seguinte, não sei se vocês viram a entrevista do representante do MP perante o Tribunal de Contas em que ele disse que o que houve foram pequenos créditos, que foram obtidos e imediatamente saldados. Quer dizer, totalmente diferente de crédito de R$ 100 bilhões, que parece que ainda não foram cobertos, e durante o ano eleitoral, isso que agrava.

Eduardo Cunha, que está sob investigação e sofre processo de cassação, tem condições de presidir um processo dessa gravidade?
Bom, precisamos distinguir. O presidente Eduardo Cunha está no exercício da presidência da Câmara na forma estabelecida na Lei. Ele, portanto, tem o pleno exercício das competências que a lei e a Constituição conferem ao presidente da Câmara. O fato de ele estar sendo processado na própria Câmara é realmente algo vergonhoso, até para a instituição. Porém, enquanto não se age contra ele, enquanto não se tomam as providências cabíveis legais, ele tem todo direito de estar exercendo as competências que a Constituição lhe confere, e parece até que a questão está sendo bem-posta perante o Conselho de Ética.

Já viveu um momento tão crítico no país?
Vivemos um momento gravíssimo, a economia derretendo, crise política, crise ética, essa que é terrível. Altas autoridades sendo acusadas, investigadas, altas personalidades do partido que estão no governo na cadeia, outras sendo processadas, sendo investigadas, realmente essa é uma situação muito difícil.

O que acha da atuação do juiz Sérgio Moro?
Olha, o juiz Sérgio Moro tem demonstrado muita independência, tem mostrado que é possível examinar, estudar, processar e decidir, em tempo razoável, aqueles que são levados à barra da Justiça. Então, o comportamento dele é elogiável.Sérgio Moro está prestando um grande serviço à sociedade. Agora há outros juízes, na Justiça federal, na Justiça estadual do mesmo nível, sem dúvidas de que há, mas estamos agora nos referindo a ele, acho que ele merece todo aplauso da sociedade brasileira. Estamos assistindo a um movimento muito interessante em órgãos do Judiciário, do Ministério Público e da polícia. Estamos assistindo a essas três instituições trabalharem harmonicamente, isso é muito importante, isto quer dizer que demos um grande passo em termos de civilidade.

Por que isso não aconteceu antes no Brasil e por que isso não acontece em outros lugares?
Esta Operação Lava-Jato está representando um marco, essas três instituições que mencionei, de certa forma cansadas de serem responsabilizadas pela impunidade, resolveram agir. Mais pragmatismo e menos doutrina.

Concorda com o tempo das prisões preventivas na Lava-Jato?
Acho que sim, porque os tribunais têm mantido. Você acha que todos eles que estão presos já não requereram advogados? Eles têm os melhores, grandes escritórios de advocacia. Então, se os tribunais têm mantido, é sinal de que essas prisões têm sido decretadas com motivo, com obediência e com observâncias dos pressupostos estabelecidos em lei.


Esse pragmatismo do MP e da PF ocorre em um momento em que a impunidade é mais forte?
Eles estabeleceram um modo de colaboração, aí está o pragmatismo. Entre essas instituições, o trabalho conjunto avançou mais. Eles estão tendo a colaboração do Ministério Público de outros países, da Suíça, do MP americano. Veja como passaram a agir. Cansados de serem responsabilizados pela impunidade, estão sendo mais pragmáticos, estão procurando modos de realizar. Prova que é elogiável.

Que paralelo faz do Supremo da sua época e o de agora?
Você tinha realmente uma composição mais conservadora. Aliás, quando entrei, encontrei uma composição mais conservadora, que foi, aos poucos, não deixando de ser conservadora, mas se abrindo. E quero raciocinar estritamente em termos jurídicos. Por exemplo, quando ingressei no Supremo, em 1990, o mandado de injunção, que é uma garantia constitucional, não era reconhecido como tal. Com o passar do tempo, o mandado de injunção foi adquirido às galas de garantia constitucional. Hoje, ostenta essas galas. É nesse sentido que digo que a composição conservadora foi se abrindo. Estou raciocinando estritamente em termos jurídicos. E, em outras questões também. A composição do meu tempo admitia a prisão antes do trânsito em julgado da sentença. Isso só foi alterado em 2006. Aliás, fiquei vencido, porque sustento a tese, e sustentava em companhia de Paulo Brossard, do Sepúlveda Pertence, Néri da Silveira, Sydney Sanches, Francisco Rezek, ministros do maior nível. Então sustentava essa tese, sustento até hoje. Porque o que a Constituição consagra é uma presunção de inocência, não é uma certeza. Então, veja, você está condenado no primeiro grau, apela, o segundo grau confirma aquela sentença, daí pra frente, os recursos são puramente jurídicos. Quer dizer, nem o STF nem o STJ vão apreciar a justiça da decisão, porque não vão apreciar as provas, não vão apreciar os fatos, somente a matéria jurídica. Essa presunção de inocência diante de duas acusações, tendo uma de colegiado? Meu Deus, ela está pelo menos, na melhor das hipóteses, fortemente abalada. E sem possibilidade de a Justiça dar a decisão sem ser examinada. Vocês assistiram à conclusão do júri da chamada chacina de Unaí, viram as queixas das viúvas? A dizer “Mas condenados? E parece que pela segunda vez... E saem livres? Aguardando recursos e mais recursos?” Isso quer dizer, aos olhos da sociedade, impunidade!

Por que o STF não mudou isso naquele período?
Então, pergunto: será que o Supremo, durante quase 20 anos, estava decidindo errado? Questão de interpretação. Uma composição que se fechava mais cedeu lugar a uma composição mais aberta? Quem está certo?

Mas o país perde? A sociedade perde?
Vem perdendo desde 2006. Eu acho que a sociedade reclama não é? E, tendo em vista a morosidade da Justiça, muitos desses caem na prescrição, na prescrição chamada retroativa, na prescrição da pena. Eu acho que o direito realmente deve ser visualizado numa tríplice: fato, norma e essência, valor. Quer dizer, sociologicamente, sob o ponto de vista do direito e tendo em vista os valores que precisam ser preservados e garantidos.

Aumentar o tempo das prisões preventivas não funcionaria como uma punição de poderosos antes da condenação final?
É, quando a prisão sem condenação representa uma punição sem condenação, sem dúvida alguma. Agora, a lei estabelece os pressupostos de que, se ocorrentes, levam ao decreto dessa prisão preventiva. O que é preciso compreender é que a Justiça tem dois pratos. Em um dos pratos, estão os sagrados direitos individuais, os sagrados direitos da pessoa humana. No outro prato, estão também os não menos sagrados direitos da sociedade. O bom juiz é aquele que realiza esse equilíbrio, esse é o bom juiz. Quando mencionei o episódio das viúvas do caso de Unaí, logo vem a palavra “impunidade”. É o que a sociedade diz. Então, acho que, a questão posta nos termos em que está posta, prisão apenas depois do trânsito em julgado, viola o que a sociedade aspira, viola esse não menos sagrado direito da sociedade.

Como mudar isso? Há uma forma de o STF rever essa questão? Esse debate voltou à pauta?
Esse debate está na pauta porque a sociedade está aí a reclamar e aplaudindo, por exemplo, quando ela percebe que tem juiz agindo com mais pragmatismo e menos doutrina. Vou mencionar uma questão bem forte, uma questão que mostra que o STF já evoluiu nessa matéria de trânsito em julgado, que foi no caso da Ficha Limpa. O STF vinha decidindo pela inelegibilidade somente por condenação passada e julgada, lembram? Veio a Ficha Limpa e estabeleceu condenação por órgão colegiado de segundo grau. Portanto, o STF admitiu. Reformulou no particular a sua jurisprudência.

O STF não pode agir de ofício?
Não, de ofício não. A Justiça deve ser sempre provocada, com argumentos convincentes, com argumentos sérios, pode sim. No caso, por exemplo, da Ficha Limpa foi assim. Aliás, sempre sustentei que poderia. Estávamos assistindo a absurdos. 

Diante da realidade que vivemos, somos o país da impunidade?
Veja. A ministra Ellen Gracie, num voto que proferiu no STF — vou voltar ao problema do trânsito em julgado, porque está gerando essa sua pergunta — disse que realizou pesquisa: a exigência do trânsito em julgado para o cumprimento efetivo da decisão, da sentença. É também uma jabuticaba. É a liberalidade à brasileira. Nos Estados Unidos, um juiz de primeiro grau condenou, sai dali preso.

Há o que ser feito para mudar?
É só ser provocado em um habeas corpus, por exemplo...

Por que ninguém pede isso?
Deve ter aos montes e está engavetado. É preciso uma provocação.

Voltando ao impeachment: falar nisso não é “sacrificar as instituições no altar da política”, como disse o ministro Barroso?

É claro que o impeachment é algo que realmente abala. Sem dúvida nenhuma. Agora, falar que é golpe é ignorar que é uma medida prevista na Constituição. Agora, a Constituição formula, dá a solução. No parlamentarismo, nós estamos assistindo ao primeiro-ministro da Romênia cair porque a boate pegou fogo e matou 20 e tantas pessoas. Aqui, foram quase 300, não é? No parlamentarismo, o primeiro-ministro grego, em julho, momento mais cruciante da economia, ele convocou novas eleições. “Vamos ver se o povo acha que estou certo.” Porque o cargo de presidente da República, o cargo de ministro do Estado, é emprego. O povo colocou ali, um gabinete, o primeiro-ministro, o presidente da República para governar, fazer feliz o povo, a população. Se não está correspondendo, meu Deus.

Mas não vivemos em um parlamentarismo.
Mas no presidencialismo a solução está na Constituição, que é o impeachment. É a solução constitucional. Só para concluir. Essa preocupação, claro, ela existe, sim, porque o impeachment, ele agita. Mas é a solução constitucional, quando ocorrente, o pressuposto, quando ocorrente, o motivo. O primeiro impeachment que houve no mundo, relativamente a um presidente da República, foi no Brasil, do Collor. A pátria do impeachment é a Inglaterra e os Estados Unidos. Originariamente, na Inglaterra, as famosas revoluções inglesas, Revolução Puritana, Revolução Gloriosa. Mas lá não teve ainda impeachment, teve de muitos juízes nos Estados Unidos, mas de presidente não concluíram. Teve no Brasil. O Clinton quase que foi, criou aquela história de que não houve penetração... E foi um grande presidente, a economia americana estava lá em cima. O Nixon estava realizando uma grande administração de política externa. Foi ele que se aproximou da China, fez aquela famosa viagem para Pequim. Porque mentiu, ele ia ser submetido a impeachment. Renunciou para não ser. Comandante do maior exército do mundo, maior marinha do mundo, maior aeronáutica do mundo.

Estão fazendo um grande "bicho" em cima do pedido de impeachment?
Ah, sim. Eu raciocino nesses termos. Se existe motivo, cumpra-se o que está na Constituição.

È contra o foro privilegiado?
O foro privilegiado, como o nome já até está dito, foi a sociedade que apelidou, porque o nome dele mesmo é foro por prerrogativa de função. A sociedade, então, é que apelidou e pegou. É um privilégio para algumas autoridades.

Há quem diga que, depois do mensalão, parte da sociedade pelo menos começou a rever isso.
Pois é. Precisávamos realizar, reformular isso do trânsito em julgado. O juiz natural é o juiz de primeiro grau. É aquilo que é normal. Todos devem julgados por um juiz. Por que uns vão ter um foro diferente? Sabe por que nós temos foro privilegiado? Porque nós somos império. Isso é antirrepublicano, são resquícios da monarquia em uma república. Os Estados Unidos, que nunca foram império, sempre foram república, lá não existe isso, foro privilegiado.

O ministro Joaquim Barbosa disse que o TSE não teria autoridade de tratar do presidente porque parte dos seus integrantes advogam durante o dia e à noite atuam como juízes. Concorda?
Bom, primeiramente quero dizer que a sociedade brasileira ficou devendo ao Joaquim Barbosa um grande serviço que ele prestou. Foi relator do mensalão, do processo do mensalão, procedeu com muita competência, com muita seriedade, levou aquilo para a frente. Então quero dizer que tenho pelo Joaquim Barbosa muito respeito por isso. Mas, nessa afirmativa que ele fez, eu divirjo dele.

Por quê?
Porque, afinal de contas, os representantes da advocacia que estão ali estão na forma da Constituição. Foram escolhidos na forma da Constituição, escolhidos em lista tríplice elaborada pelo Supremo Tribunal Federal. Eu fui corregedor-geral da Justiça Eleitoral. Do TSE, fui presidente duas vezes e, pelo que eu pude observar, os juízes do TSE oriundos da advocacia prestam excelente serviço à Justiça Eleitoral.

Confia na segurança das urnas eletrônicas?
Eu escrevi até um artigo numa revista do TSE sobre um pouco da urna eletrônica, porque as urnas eletrônicas foram na minha gestão. Um rapaz novo, nas redes sociais, disse “é fácil interferir e tal”. Eles partem do pressuposto de que a urna eletrônica está on-line, mas não está, e não há possibilidade de um hacker invadir. Agora, qualquer coisa que é feita pela mão humana pode ter erros. Dizem, até os computadores da Nasa podem ser invadidos por hackers. Primeiro, eles estão on-line, assim como os bancos, as empresas aéreas, mas a urna não está on-line. A urnas são seguras. Na presidência do Carlos Ayres Britto, ele colocou as urnas uma semana à disposição dos hackers. Eles não conseguiram. É um absurdo que nessas redes sociais digam que Toffoli teria fraudado a urna. Para ele fazer uma coisa dessa, precisaria ter corrompido, pelo menos, metade da Justiça Eleitoral.

Defende a menoridade penal?
Sou favorável a menoridade penal, pelo seguinte: essa maioridade penal em 18 anos foi fixada na década de 40 com o Código Penal de 1940. De lá para cá, vem sendo observada a Constituição de 1988, e então chegou a mencionar que ela só pode ser quebrada por emenda constitucional. Por que sou favorável? Porque o jovem da década de 1940 tinha infinitamente menos informação que o jovem do século 21, dos anos 2000. O jovem do século 21 tem computador, tem celular, TV aberta,uma mídia moderna e atuante, que o jovem de 1940 não tinha. Então, é razoável que em 1940, 1950, 1960 ou 1970 essa maioridade fosse de 18 anos. Agora, em pleno século 21, com o jovem tendo todas as informações, como nós sabemos, a delinquência nessa faixa de 16,17 tem sido intensa, homicídios sendo praticados, figuras de arrastões com crimes contra o patrimônio, e esses jovens sendo explorados por maiores de idade, verdadeiros criminosos. Eles são, então, detidos, não têm responsabilidade penal, são inimputáveis, e eles estão livres. Acho até uma hipocrisia. “Ah, mas a prisão resolve?" A prisão não resolve! “Ah, então fecha todas as penitenciárias também!” Mas é o único meio que se tem para punir, e a cadeia é reservada para os perigosos, na minha opinião. Então, aqueles delinquentes de 17 ou 18 anos, perigosos, devem ir sim, para a cadeia, devem sim ser apartados para que a sociedade, os homens de bem, vivam mais tranquilos.

O senhor está aposentado desde 2006? Sente muita saudade?
Quando deixei o Supremo, em janeiro de 2006, fará 10 anos daqui a dois meses, achei que estava sendo degolado. Deixei com muito pesar. Queria continuar. Por quê? Estava em pleno vigor físico e mental. Até hoje jogo tênis, pratico esporte. Saí muito pesaroso e, nos primeiros meses, achava que tinha sido degolado. Seis meses depois, se me chamassem, eu não queria mais voltar. Depois recomecei a advogar a convite de meu filho. Até hoje, tenho uma atividade intensa aqui no escritório na parte de pareceres.

Brasília ou Minas?
Fico com as duas. Vim para cá em dezembro de 1977, com a esposa e os quatro filhos. Amo muito esta cidade, mas meu coração fica dividido quando me perguntam se prefiro aqui ou BH. Sou de Entre Rios de Minas, passei minha infância em Entre Rios e Abre Campo. Meu pai era promotor. Em 46, foi aprovado no concurso de juiz, então voltamos para Entre Rios e meu pai assumiu o juizado de Teófilo Otoni. Em 1950, fomos estudar no Colégio Santo Antônio, em São João del-Rei, outra cidade que marcou a minha vida. Meu primeiro discurso na vida foi feito para Tancredo Neves, em 1953, ele era ministro da Justiça do Getúlio. Tancredo estudou no Colégio Santo Antônio, tinha muita estima pelo colégio e fez uma visita oficial, como ministro. O diretor me incumbiu de fazer o discurso. Tinha 17 anos. Então, falei com o frei, diretor: “Não posso, não sei fazer”. Ele disse, pode e sabe. Senta, vai escrever o discurso e ninguém vai te ajudar. Antes de cursar direito, fiz filosofia. Fui aluno do professor Arthur Versiani Velloso. Era uma grande expressão da filosofia. Fiquei embevecido com as aulas. Não concluí o curso por causa dele. Um dia ele chegou e falou: “menino, vem cá, seu lugar é lá, e apontou para a faculdade de direito. Achava que minha vocação era lá mesmo e mudei de vida. Na segunda-feira, serei homenageado pela Harvard, pelo Tribunal de Justiça do Rio e pela FGV pelos 40 anos de magistratura. Acho que fiz a escolha certa.


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domingo, 8 de novembro de 2015

Mercosul abandonou o livre-comercio: Rubens Barbosa

Mercosul desistiu de livre-comércio, diz ex-embaixador do Brasil
Rubens Barbosa, ex-embaixador do Brasil em Washington
ISABEL VERSIANI, de Brasília
Folha de São Paulo, 07/11/2015 

Para evitar o isolamento no novo cenário comercial mundial em que predominarão grandes acordos regionais como o TTP (Tratado Transpacífico), assinado entre EUA, Japão e outros dez países, o Brasil precisa liderar um processo de revisão das práticas e estratégias do Mercosul.
A opinião é de Rubens Barbosa, ex-embaixador do Brasil em Londres e em Washington durante o governo FHC e presidente do conselho da Sobeet (Sociedade de Estudos de Empresas Transnacionais) e do Conselho Superior de Comércio Exterior da Fiesp.
Em entrevista à Folha, Barbosa disse que o Mercosul virou um fórum de discussão política e social no qual o protecionismo impera. Além de garantir que as regras internas do bloco funcionem, também é necessário que os sócios busquem mais acordos com países desenvolvidos.
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Folha - O ministro Armando Monteiro (Desenvolvimento) disse que o Brasil poderá no futuro aderir ao TTP. Como o sr. vê essa possibilidade?
Rubens Barbosa - O acordo é aberto, qualquer país pode tentar aderir. No caso do Brasil, com a baixa competitividade da economia, a adesão é muito difícil porque você não pode mais modificar as regras, que preveem a eliminação das tarifas [de importação] na quase totalidade.
O acordo também prevê a adesão a uma série de normas, que vão desde vistos ao comércio eletrônico, passando pela propriedade intelectual, pelos investimentos, pela competitividade. E essas regras em sua maioria vão além do que é tratado pela OMC [Organização Mundial do Comércio], e o governo brasileiro tem se recusado a discuti-las. Então, teoricamente é possível, mas na prática as regras do acordo e a perda da competitividade do Brasil tornam muito difícil a adesão a curto prazo.

Como o Brasil deve agir então para evitar o isolamento?
Internamente temos que voltar com toda a força a discutir uma agenda microeconômica e facilitar a redução do custo Brasil, dos problemas que incidem diretamente na competitividade dos produtos brasileiros. Agora estamos muito concentrados na agenda conjuntural, do ajuste fiscal, mas temos de pensar a médio e longo prazo, em uma agenda estrutural que passa passa por reforma tributária, da Previdência, da trabalhista, a questão dos juros. É muito difícil hoje qualquer governo enfrentar uma abertura rápida da economia brasileira sem pensar no restabelecimento da competitividade.

Do ponto de vista externo, como o país pode se posicionar?
Temos de mudar a estratégia de negociação comercial, que nos últimos 13 anos ficou voltada para a negociação multilateral na rodada de Doha, da OMC, que infelizmente fracassou. Significa examinar acordos comerciais não só com a região, mas fora, com países mais desenvolvidos.
Além disso, temos que rever a política do Brasil em relação ao Mercosul, que deixou de ser instrumento de liberalização comercial. As regras não são seguidas e o protecionismo é que impera. E as dificuldades vão aumentar agora porque, além da Venezuela, entrou a Bolívia e depois vai entrar o Equador. O Equador, a Bolívia, a Venezuela, não pensam como o empresariado brasileiro, que quer ampliar mercados, abrir para exportação os seus produtos no exterior.

O Brasil deve parar de negociar como bloco e partir para entendimentos bilaterais?
Não, eu acho que o Brasil tem de liderar um processo de revisão das práticas e estratégias do Mercosul. O bloco tem que funcionar. O Mercosul se transformou hoje em um fórum de discussão política e social. No início do Mercosul já havia, ninguém era contra, mas prevalecia a prioridade econômica e comercial.

O acordo tarifário em discussão entre Mercosul e União Europeia pode minimizar perdas que o TTP ameaça trazer?
Dependendo da maneira como a coisa for negociada, mas tem que ver se a UE vai aceitar um acordo. O TTP vai gerar desvio de comércio. O Brasil exporta para os países do tratado US$ 54 bilhões, 35% dos quais são manufaturados, para os EUA, para o Peru, México, Chile. Esses produtos certamente vão enfrentar uma competição dos EUA e do Japão. Sem falar dos produtos agrícolas que vão enfrentar a competição da Austrália e da Nova Zelândia. Se o Brasil conseguir avançar com a UE, será muito positivo.

A resistência da Argentina contribuiu para o atraso das negociações com a UE. O Mercosul tem sido um entrave?
O último obstáculo do lado do Mercosul foi a Argentina, por causa de medidas protecionistas e da relutância em aumentar o volume de comércio na negociação. Mas também não descarto a má vontade de negociação por parte de muitos países da UE, porque a negociação implica uma série de vantagens para o setor agrícola brasileiro. Os dois lados têm dificuldades em avançar nessa negociação, a decisão agora vai ser política.

O governo fechou um acordo automotivo com a Colômbia, começou a negociar com o México a ampliação do comércio com tarifa zero e acertou com os EUA um esforço para harmonizar normas técnicas. Está havendo uma reação?
O governo resolveu se mexer, o que é positivo. Mas temos de lembrar que os acordos da Aladi (acordo de liberalização comercial entre países da América do Sul) preveem que em 2019 todos os países da região vão passar a negociar com tarifa zero a maioria dos seus produtos. Aí o Mercosul praticamente desaparece. O Brasil tem que exigir que os países cumpram o tratado.
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RAIO-X RUBENS BARBOSA, 77
Carreira: diplomata, foi secretário de Assuntos Internacionais do Ministério da Fazenda e embaixador do Brasil em Londres (1994-1999) e Washington (1999-2004)
Cargos: preside o Conselho Superior de Comércio Exterior da Fiesp e o conselho deliberativo da Sobeet

Eleanor Roosevelt, uma primeira-dama exemplar; morta em 7/11/1962


NESTA DATA

Eleanor Roosevelt, uma primeira-dama exemplar

Casada com Franklin D. Roosevelt, Eleanor mostrou pela primeira vez que uma primeira-dama pode fazer mais do que enfeitar a Casa Branca, influenciando os rumos do país

Eleanor Roosevelt, uma primeira-dama exemplar
Apesar de ter seis filhos, Eleanor Roosevelt se manteve ativa na vida pública e nunca parou de trabalhar (Foto. Wikimedia)
Nascida em Nova York em 1884, Eleanor Roosevelt, sobrinha de Theodore Roosevelt, foi uma das primeiras-damas mais influentes a morar na Casa Branca. Ela se casou com Franklin D. Roosevelt, um primo distante, em 1905. Durante a presidência do marido, dava coletivas de imprensa e escrevia uma coluna de jornal. Após a morte de Roosevelt, Eleanor assumiu um cargo na ONU para avançar os direitos humanos e a igualdade dos gêneros.
Eleanor foi a primeira-dama que morou mais tempo na Casa Branca, de 1933 a 1945, durante os quatro mandatos de seu marido. O casal teve seis filhos, mas, apesar da vida familiar movimentada, Eleanor sempre se manteve ativa na vida pública. Trabalhou na Cruz Vermelha durante a Primeira Guerra.
Depois que Roosevelt sofreu um ataque de pólio em 1921, Eleanor tomou as rédeas da carreira política do marido, mudando drasticamente o papel associado à primeira-dama. Não satisfeita em servir apenas como enfeite da Casa Branca, Eleanor mostrou ao país que uma primeira-dama podia ser peça-chave da política americana. Ela defendia causas importantes, como os direitos humanos, da mulher e da criança, se esforçou no combate à pobreza, se posicionou contra a discriminação racial e, durante a Segunda Guerra, viajou para o exterior para encorajar as tropas americanas.
Eleanor foi criticada por muitos por sua iniciativa na política. Outros a elogiavam, no entanto, e hoje ela é amplamente vista como uma das principais líderes do movimento pelos direitos civis da mulher, assim como uma das primeiras figuras públicas a usar as mídias em massa para divulgar causas importantes.
Quando Roosevelt morreu em 1945, Eleanor chegou a dizer que se afastaria da vida pública, mas o que aconteceu foi exatamente o contrário. Ela se tornou uma diplomata na Assembleia Geral da ONU e presidente da Comissão de Direitos Humanos, onde ajudou a redigir a Declaração Universal dos Direitos Humanos. Além da vida política, Eleanor escreveu vários livros de memórias.
Ela morreu de câncer no dia 7 de novembro de 1962, aos 78 anos.

Fontes:
Biography - Eleanor Roosevelt

sábado, 7 de novembro de 2015

Bancos no Brasil: meliantes em primeiro grau de roubalheira

Bancos no Brasil são instituições extorsivas, como o próprio Estado, aliás, como um vulgar meliante de rua, como essas gangues organizadas de favelas dominadas por chefes do tráfico.
Eles roubam diretamente dinheiro da conta de todos nós, impondo taxas, comissões e outras remunerações por supostos serviços prestados, pelo privilégio que temos de estarem guardando o nosso dinheiro.
Eles só agem assim, como descrito nesta carta bem humorada, porque contam com uma reserva de mercado, de fato um mercado fechado ao poderoso cartel dos grandes bancos, e por contarem com a conivência do governo na contravenção.
Se o mercado fosse aberto, totalmente livre, a concorrência acabaria com a maior parte dessas cobranças. E a agência de defesa da concorrência acabaria com essa concentração bancária.
Paulo Roberto de Almeida

Esta carta foi enviada ao Banco Itaú, porém devido à criatividade com que foi redigida, deveria ser direcionada a todas as instituições financeiras.
Há que se prestar reverência ao brasileiro(a) que, apesar de ser altamente explorado(a), ainda consegue manter o bom humor.

Senhores Diretores do Banco Itaú,

Gostaria de saber se os senhores aceitariam pagar uma taxa, uma pequena taxa mensal, pela existência da padaria na esquina de sua rua, ou pela existência do posto de gasolina ou da farmácia ou da feira, ou de qualquer outro desses serviços indispensáveis ao nosso dia-a-dia.

Funcionaria assim: todo mês os senhores, e todos os usuários, pagariam uma pequena taxa para a manutenção dos serviços (padaria, feira, mecânico, costureira, farmácia etc.).. Uma taxa que não garantiria nenhum direito extraordinário ao pagante.

Existente apenas para enriquecer os proprietários sob a alegação de que serviria para manter um serviço de alta qualidade.
Por qualquer produto adquirido (um pãozinho, um remédio, uns litros de combustível etc) o usuário pagaria os preços de mercado ou, dependendo do produto, até um pouquinho acima. Que tal?

Pois, ontem saí de seu Banco com a certeza que os senhores concordariam com tais taxas. Por uma questão de equidade e de honestidade.

Minha certeza deriva de um raciocínio simples. Vamos imaginar a seguinte cena: eu vou à padaria para comprar um pãozinho. O padeiro me atende muito gentilmente. Vende o pãozinho. Cobra o embrulhar do pão, assim como, todo e qualquer serviço..

Além disso, me impõe taxas. Uma 'taxa de acesso ao pãozinho', outra 'taxa por guardar pão quentinho' e ainda uma 'taxa de abertura da padaria'. Tudo com muita cordialidade e muito profissionalismo, claro.

Fazendo uma comparação que talvez os padeiros não concordem, foi o que ocorreu comigo em seu Banco.

Financiei um carro. Ou seja, comprei um produto de seu negócio. Os senhores me cobraram preços de mercado. Assim como o padeiro me cobra o preço de mercado pelo pãozinho.

Entretanto, diferentemente do padeiro, os senhores não se satisfazem me cobrando apenas pelo produto que adquiri.

Para ter acesso ao produto de seu negócio, os senhores me cobraram uma 'taxa de abertura de crédito' - equivalente àquela hipotética 'taxa de acesso ao pãozinho', que os senhores certamente achariam um absurdo e se negariam a pagar.

Não satisfeitos, para ter acesso ao pãozinho, digo, ao financiamento, fui obrigado a abrir uma conta corrente em seu Banco.

Para que isso fosse possível, os senhores me cobraram uma 'taxa de abertura de conta'.

Como só é possível fazer negócios com os senhores depois de abrir uma conta, essa 'taxa de abertura de conta' se assemelharia a uma 'taxa de abertura da padaria', pois, só é possível fazer negócios com o padeiro depois de abrir a padaria.

Antigamente, os empréstimos bancários eram popularmente conhecidos como papagaios'. para liberar o 'papagaio', alguns Gerentes inescrupulosos cobravam um 'por fora', que era devidamente embolsado.

Fiquei com a impressão que o Banco resolveu se antecipar aos gerentes inescrupulosos.

Agora ao invés de um 'por fora' temos muitos 'por dentro'.
- Tirei um extrato de minha conta - um único extrato no mês - os senhores me cobraram uma taxa de R$ 5,00.
- Olhando o extrato, descobri uma outra taxa de R$ 7,90 'para a manutenção da conta' semelhante àquela 'taxa pela existência da padaria na esquina da rua'.
- A surpresa não acabou: descobri outra taxa de R$ 22,00 a cada trimestre - uma taxa para manter um limite especial que não me dá nenhum direito. Se eu utilizar o limite especial vou pagar os juros (preços) mais altos do mundo.
- Semelhante àquela 'taxa por guardar o pão quentinho'.
- Mas, os senhores são insaciáveis. A gentil funcionária que me atendeu, me entregou um caderninho onde sou informado que me cobrarão taxas por toda e qualquer movimentação que eu fizer.

Cordialmente, retribuindo tanta gentileza, gostaria de alertar que os senhores esqueceram de me cobrar o ar que respirei enquanto estive nas instalações de seu Banco.

Por favor, me esclareçam uma dúvida: até agora não sei se comprei um financiamento ou se vendi a alma?

Depois que eu pagar as taxas correspondentes, talvez os senhores me respondam informando, muito cordial e profissionalmente, que um serviço bancário é muito diferente de uma padaria. Que sua responsabilidade é muito grande, que existem inúmeras exigências governamentais, que os riscos do negócio são muito elevados etc e tal. E, ademais, tudo o que estão cobrando está devidamente coberto por lei, regulamentado e autorizado pelo Banco Central.

Sei disso. Como sei, também, que existem seguros e garantias legais que protegem seu negócio de todo e qualquer risco.

Presumo que os riscos de uma padaria, que não conta com o poder de influência dos senhores, talvez sejam muito mais elevados..

Sei que são legais. Mas, também sei que são imorais. Por mais que estejam garantidas em lei, voces concordam o quanto são abusivas.!?!

As origens da desigualdade e da ordem política - Carles Boix reviewed by Karen Clay

Uma resenha recebida da lista de história econômica que assino:

Published by EH.Net (November 2015)

Carles Boix, Political Order and Inequality: Their Foundations and Their Consequences for Human Welfare. New York: Cambridge University Press, 2015. xii + 311 pp. $65 (hardcover), ISBN: 978-1-107-08943-3.

Reviewed for EH.Net by Karen Clay, Department of Economics, Carnegie Mellon University.

Anyone who has read Acemoglu and Robinson’s Why Nations Fail: The Origins of Power, Prosperity, and Poverty or North, Wallis and Weingast’s Violence and Social Orders: A Conceptual Framework for Interpreting Recorded Human History or Hoffman’s Why Did Europe Conquer the World? or Pomeranz’s The Great Divergence: China, Europe, and the Making of the Modern World Economy or Mokyr’s The Lever of Riches: Technological Creativity and Economic Progress or similar books will want to consider buying Political Order and Inequality: Their Foundations and Their Consequences for Human Welfare.  The book, written by Carles Boix (the Robert Garrett Professor of Politics and Public Affairs at Princeton University), is very much in the spirit of these books.  It tackles a huge and very important question, provides a theoretical framework, and offers selected empirical evidence to support the argument.

One important way in which this book differs from the economics literature, particularly the work on institutions, involves the direction of causality.   Boix argues that technological change and economic growth preceded the formation of the state.  Political order, growth, and inequality were shaped by economic and military factors.  While institutions play a role in this framework, it is a much more limited role than in the work of some other authors.  Boix links his framework loosely to Marx and to endogenous growth models in the sense that economic change takes place through an endogenous process. This allows Boix to offer a theory that can accommodate political and institutional change.

The framework can be thought of as beginning in an initial hunter-gather world. Individuals led relatively equal lives in small cooperative bands that focused on providing enough food for the group.  The price of growth is then inequality.  And inequality brings about, in turn, the breakdown of cooperation that exists in the “state of nature.”  One example of a technological change that caused inequality and change was plant domestication.  A limited number places were suited to initial domestication, and in those places, greater productivity led to inequality and political change.  Out of this emerged one of two types of states.  The majority of early institutions were monarchical, but some were republican or mixed.  The type that emerged depended on military technology.  Monarchies tended to arise when technologies such as horses gave advantages to looters.  Republics tended to arise when technologies such as navies gave advantages to producers. Inequality is then jointly determined by factor endowments and political institutions and is higher under monarchies than republics. Both types of political institutions tended to stifle innovation in order to maintain the status quo.

Boix attributes the rise of the West to a combination of factors. One was endogenous technical change driven by population growth. Urbanization brought together the elements necessary for innovation and endogenous growth. A second was the political fragmentation of Europe.  In a number of areas of Western European, producers were able to fend off looters or the landed elites intermarried and invested in the industrial elites.  A third was a military revolution that allowed some urban centers to defend themselves and continue the process of growth. War-related technologies allowed some groups of producers to prevent military conquest and eradication of their gains.  These war-related technologies included pikes, gunpowder, and navies. These three factors eventually led to the Industrial Revolution. Other regions had some of the same elements, notably China, but in the end growth was stifled.

The empirical evidence is of necessity selected, because an exhaustive discussion of the evidence would take decades to write and many volumes to publish.  Boix also aims to tell a causal story, which is very much in line with analysis by economists.  What sorts of evidence does Boix provide?  Chapter 1 draws on evidence from the Ethnographic Atlas on social structures, inequality, and political life. Chapter 3 returns to the Ethnographic Atlas with a focus on economic activity.  Here Boix provides some evidence that economic activity drives social and institutional outcomes.  In particular he presents graphs showing the relationship between early transition to agriculture and early state formation.  Chapter 4 draws on data on parliamentary meetings, real wages and population densities in Europe. Chapter 5 investigates economic and political inequality using height data.  Whether one finds this useful will depend on one’s view of height data and the nature of the comparisons across groups. Chapter 6 examines evidence on urbanization, politics, income and wealth.

Political Order and Inequality: Their Foundations and Their Consequences for Human Welfare is an important book.  It is by no means the last word regarding the big historical questions such as why some nations are rich and others poor and why the Industrial Revolution happened in Europe.  It does, however, require economists to carefully consider the causal structure of their arguments and the importance of political institutions.  Perspectives may differ on whether Boix has the story right.  But anyone writing in this area needs to read Boix, along with books listed in the first sentence of this review, and offer an interpretation that fits all of the empirical evidence advanced thus far.

Karen Clay’s publications include \”Adapting to Climate Change: Evidence from Long-Run Changes in the Temperature-Mortality Relationship in the 20th Century United States”  (with Barreca, Deschenes, Greenstone, and Shapiro – forthcoming in the Journal of Political Economy) and The Evolution of a Nation: How Geography and Law Shaped the American States (with Daniel Berkowitz).

Copyright (c) 2015 by EH.Net. All rights reserved. This work may be copied for non-profit educational uses if proper credit is given to the author and the list. For other permission, please contact the EH.Net Administrator (administrator@eh.net). Published by EH.Net (November 2015). All EH.Net reviews are archived at http://eh.net/book-reviews/

Roberto Campos e Eugenio Gudin: duas sumidades economicas desprezadas no Brasil - Ricardo Bergamini

Roberto Campos por ele mesmo:

"Estou administrando a velhice por absoluta falta de alternativa", disse o economista, diplomata e político Roberto Campos ao completar 80 anos. Ontem, já a caminho de fazer 82, em abril próximo, fez seu discurso de despedida na Câmara de deputados, ressaltando que o Brasil continua com os mesmos problemas de quando iniciou sua vida parlamentar, como senador, em 1983. Naquele tempo, disse ele em entrevista aos meios de comunicação, o país vivia uma recessão e uma desvalorização da moeda. Agora, é tudo exatamente igual. Foram 16 anos de "mesmice" em que nada mudou, constata.

Comentário de Ricardo Bergamini:

Cabe lembra que esse gênio Roberto Campos, juntamente com o outro gênio mais antigo Eugênio Gudin fizeram todas as propostas econômicas para tirar o Brasil da abissal escuridão em que sempre viveu, e humildemente reconheceram os seus fracassos e receberam como prêmio dos brasileiros o desprezo, a humilhação e o deboche.

Cabe lembrar que nesse seu discurso de despedida do Congresso Nacional somente havia três parlamentares presentes, sendo esse o destino de todos os gênios brasileiros em todas as áreas do saber e do conhecimento.

Em economia sabemos que a moeda má expulsa a boa. Da mesma forma na sociedade a estupidez coletiva brasileira expulsa os sábios e os gênios. Maldita nação.

Ricardo Bergamini
Em 6/11/2015

7 de Novembro de 1917: o putsch bolchevique na Russia

ON THIS DAY

On Nov. 7, 1917, Russia's Bolshevik Revolution took place as forces led by Vladimir Ilyich Lenin overthrew the provisional government of Alexander Kerensky.
The New York Times,  November 1917

Bolsheviki Seize State Buildings, Defying Kerensky



Premier Posts Troops in Capital and Declares Workmen's Council Illegal
NORTHERN ARMY OFFERS AID
And Preliminary Parliament, Forced by Rebels to Leave Palace, Supports Him
WOMEN SOLDIERS ON GUARD
Petrograd Conditions Generally Normal Save for Outrages by So-Called Apaches
Bolsheviki Seize State Buildings
OTHER HEADLINES Tammany Sees An Orgy Of Jobs With Hylan In
Suffrage Fight Won In Cities: Up State Gave a Bare Majority for the Amendment, but New York Clinched the Victory: Total, 94,000 in Favor: Complete Vote in Metropolis Is 334,011 For, 241,315 Against - 92,692 Majority
Women Citizens Pledge Votes To Nation's Welfare: Great Victory Mass Meeting Dedicates New-Won Suffrage to Loyal Service: Federal Amendment Next: Thousands in Cooper Union Cheer Call to Battle for National Enfranchisement: Gratitude for the Men: Congressmen Promise Help - Lincoln Paraphrased in Name of Universal Freedom
Foe Rains Shells On Our Trenches: Another Barrage for a Raid Is Indicated at One Time, but None Develops: Pound Enemy Batteries: Americans Return Bombardment - Dugouts Pumped Out in Continual Rain
House In Europe, Heads War Envoys: President's Adviser, Gen. Bliss, Admiral Benson, and Others Arrive for Paris Conclave: Lansing Tells of Mission: Essentially a War Conference to Devise Ways to Push the Conflict, He Says
Teuton Conference Is Held At Berlin: Hungarian Foreign Minister There- Hertling's Position Is Now Reported to be Shaky
U-Boat Sinkings Lowest Since War Began; 12 British Vessels Lost, 8 Over 1,600 Tons
$4,617,532,300 Total Of Second Liberty Loan: Government Will Issue $3,808,766,150 Bonds, Including Half of Immense Oversubscription: 9,500,000 Persons Respond: Soldiers and Sailors Took More Per Capita Than Civilians - Full Allotment Up to $50,000: New York Leads Districts: Took $1,550,453,450, and All Exceeded Quotas - New Loan in January Made Needless
New Italian Line Reached By Enemy: Berlin Reports Several Thousand Prisoners Taken in Pursuit to Livenza River: Rome Admits Retreat: Says Army Withdrew in Good Order From the Tagliamento- Real Stand at the Piave
Cadorna May Save Venice At The Piave: : Ultimate Objective of Invaders the Great Industrial Centres of Northern Italy
Petrograd, Nov. 7--An armed naval detachment, under orders of the Maximalist Revolutionary Committee, has occupied the offices of the official Petrograd Telegraph Agency. The Maximalists also occupied the Central Telegraph office, the State Bank and Marin Palace, where the Preliminary Parliament had suspended its proceedings in view of the situation.
Numerous precautions have been taken by Premier Kerensky to thwart the threatened outbreak. The Workmen's and Soldiers' Committee has been decreed an illegal organization. The soldiers guarding the Government buildings have been replaced by men from the officers' training schools. Small guards have been placed at the Embassies. The women's battalion is drawn up in the square in front of the Winter Palace.
The commander of the northern front has informed the Premier that his troops are against any demonstration and are ready to come to Petrograd to quell a rebellion if necessary.
No disorders are yet reported, with the exception of some outrages by Apaches. The general life of the city remains normal and street traffic has not been interrupted.
Leon Trotzky, President of the Central Executive Committee of the Petrograd Council of Workmen's Soldiers' Delegates, has informed members of the Town Duma that he has given strict orders against outlawry and has threatened with death any persons attempting to carry out pogroms.
Trotzky added that it was not the intention of the Workmen's and Soldiers' Delegates to seize power, but to represent to a Congress of Workmen's and Soldiers' Delegates, to be called shortly, that the body take over control of the capital, for which all necessary arrangements had been perfected.
In the early hours of the morning a delegation of Cossacks appeared at the Winter Palace and told Premier Kerensky that they were disposed to carry out the Government's orders concerning the guarding of the capital, but they insisted that if hostilities began it would be necessary for their forces to be supplemented by infantry units. They further demanded that the Premier define the Government's attitude toward the Bolsheviki, citing the release from custody of some of those who had been arrested for participation in the July disturbances. The Cossacks virtually made a demand that the Government proclaim the Bolsheviki outlaws.
The Premier replied:
"I find it difficult to declare the Bolsheviki outlaws. The attitude of the Government toward the present Bolsheviki activities is known."
The Premier explained that those who had been released were on bail, and that any of them found participating in new offenses against peace would be severely dealt with.
The Revolutionary Military Committee of the Workmen's and Soldiers' Delegates demanded the right to control all orders of the General Staff in the Petrograd district, which was refused. Thereupon the committee announced that it had appointed special commissioners to undertake the direction of the military, and invited the troops to observe only orders signed by the committee. Machine gun detachments moved to the Workmen's and Soldiers' headquarters.
In addressing the Preliminary Parliament yesterday Premier Kerensky charged the Military Committee of the Workmen's and Soldiers' Delegates with having distributed arms and ammunition to workmen.
"That is why I consider part of the population of Petrograd in a state of revolt," he said, "and have ordered an immediate inquiry and such arrests as are necessary. The Government will perish rather than cease to defend the honor, security, and independence of the State."
The Preliminary Parliament, in response to the Premier's appeal for a vote of confidence, voted to "work in contact with the Government." The resolution, which originated with the Left, was carried by a vote of 123 to 102, with 26 members abstaining from voting. A resolution offered by the Centre calling for the suppression of the Bolshevikis and a full vote of confidence failed to reach a vote. The Cabinet, however, considers the resolution adopted as expressive of the Parliament's support.
The reported resignation of Admiral Verdervski, Minister of Marine, was denied after the Cabinet meeting. It was stated that all the ministers had agreed to retain their portfolios.
The Bolshevik Chairman of the Petrograd Council of Workmen's and Soldiers' Delegates, realizing that there are more ways than one of acquiring real authority, not only attempted its capture by armed force but also by a far more ingenuous plan, which was disclosed today. He formed a so-called Military Revolutionary Committee of the Petrograd Soviet, and informed the Headquarters Staff of the Petrograd military district that only orders sanctioned by the Military Revolutionary Committee would be executed.
On Sunday night the committee appeared at the staff offices and demanded the right of entry, control and veto. Receiving a natural and emphatic refusal, the military revolutionaries wired everywhere to the general effect that the Petrograd district headquarters were opposed to the wishes of the revolutionary garrison, and were becoming a counter revolutionary centre. This bid for the loyalty of the garrison has so far yielded no definite results, but obviously is extremely dangerous, especially in view of the fact that in the Petrograd garrison discipline is extremely lax.
It is said the Provisional Government intends to prosecute the Military Revolutionary Committee. It should be noted that the All-Russian Executive Committee of the Soviets is backing the Provisional Government. There is a general feeling of reaction against the Bolshevik-ridden Soviets, a feeling completely loyal to the revolution but impatient of disorders.
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