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Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida;

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domingo, 9 de outubro de 2016

Google Scholar: os trabalhos mais citados de Paulo Roberto de Almeida (estatísticas)


Levantamento feito no Google Scholar em 9 de outubro de 2016
Estatísticas de citação dos trabalhos de Paulo Roberto de Almeida

Google Scholar
Citation indices
All: 1341
Since 2011: 662

Os títulos mais citados:
Citados por (número); Ano 

Uma política externa engajada: a diplomacia do governo Lula
Revista Brasileira de Política Internacional 47 (1), 162184
195 2004
Mercosul: fundamentos e perspectivas
Grande Oriente do Brasil
136 1998
o multilateralismo econômico
Porto Alegre: Livraria do Advogado 82
70 1999
Uma nova arquitetura diplomática? Interpretações divergentes sobre a política externa do governo Lula (2003-2006)
Revista brasileira de política internacional 49 (1), 95116
48 2006
O Brasil como ator regional e como emergente global: estratégias de política externa e impacto na nova ordem internacional
Cena Internacional 9 (1), 736
45 2007
A política internacional do Partido dos Trabalhadores: da fundação à diplomacia do governo Lula
Revista de Sociologia e Política 20, 87102
45 2003
Never before seen in Brazil: Luis Inácio Lula da Silva's grand diplomacy
Revista Brasileira de política internacional 53 (2), 160177
29 2010
O Brasil e o futuro do Mercosul: dilemas e opções
25 1998
As duas últimas décadas do século XX: fim do socialismo e retomada da globalização
Relações Internacionais: dois séculos de História: entre a ordem bipolar e o ...
21 2001
Os primeiros anos do século XXI
São Paulo: Paz e Terra
13 2002
Mercosul: textos básicos
Brasília: Fundação Alexandre de Gusmão
13 1992
A economia internacional no século XX: um ensaio de síntese
Revista Brasileira de Política Internacional 44 (1), 112136
12 2001
Relações internacionais
O que ler na Ciência Social Brasileira (19701995): Ciência Política 3, 191255
12 1999
A diplomacia do liberalismo econômico
Sessenta anos de política externa brasileira (19301990). São Paulo: Cultura ...
12 1996
A Arte de NÃO fazer a Guerra: novos comentários à Estratégia Nacional de Defesa
Meridiano 47 11 (119), 1
11 2010
Sete teses impertinentes sobre o MERCOSUL
São Paulo: Edicões Aduaneiras
11 2007
O nascimento do pensamento econômico brasileiro
Correio Braziliense ou Armazém Literário. Edição Facsimilar. São Paulo ...
11 2001
Planejamento no Brasil: memória histórica
Parcerias estratégicas 9 (18), 157190
10 2012
Sobre políticas de governo e políticas de Estado: distinções necessárias
De agosto de
10 2009
A experiência brasileira em planejamento econômico: uma síntese histórica. 2004
10 2005
O Brasil e a construção da ordem econômica internacional contemporânea
Contexto Internacional 26 (1), 7
10 2004
Um exercício comparativo de política externa: FHC e Lula em pespectiva.
Meridiano 47 5 (4243), 15
10 2004
Os estudos sobre o Brasil nos Estados Unidos: a produção brasilianista no pósSegunda Guerra
Revista Estudos Históricos 1 (27), 3162
10 2001
A política da política externa: os partidos políticos nas relações internacionais do Brasil, 1930-1990
Sessenta Anos de Política Externa Brasileira (19301990)
4, 381447
10 2000
Cronologia da integração latinoamericana no contexto do sistema econômico internacional
Boletim de Integração LatinoAmericana
10 1995
Relações exteriores e constituição
Revista Brasileira Política Internacional, Brasília, DF 29 (115), 8390
10 1986
Integração regional: uma introdução
São Paulo: Saraiva
9 2013
Globalizando: ensaios sobre a globalização e a antiglobalização
Rio de Janeiro: Lumen Juris
9 2011
O Brasil e a nanotecnologia: rumo à quarta revolução industrial
9 2005
o Sistema de Bretton Woods: Instituições e Políticas em perspectiva histórica, 1944-2002
MAZZUOLI, Valério de Oliveira; SILVA, Roberto Luiz (Coords.). O Brasil e os ...
9 2003
O Brasil e as crises financeiras internacionais, 1995-2001
Meridiano 47 3 (22), 14
9 2002
Avanços da regionalização nas Américas: cronologia analítica
PR Almeida, Y Chaloult
Revista Brasileira de Política Internacional 42 (2), 145160
9 1999
Uma visão sindical em face da ALCA e de outros esquemas sindicais
Chaloult e Almeida (orgs.), 232248
9 1999
A relação do Brasil com os EUA: de FHCClinton a LulaBush
Reformas no Brasil: balanço e agenda, 203
8 2004
A Política Externa do novo Governo do Presidente Luís Inácio Lula da Silva: retrospecto histórico e avaliação programática
Revista Brasileira de Política Internacional 45 (2), 229239
8 2002
A inserção econômica internacional do Brasil em perspectiva histórica
8 2000
Negociações colectivas internacionais e Mercosul
Mercosul, Nafta e Alca: a dimensão social. São Paulo: Ltr, 191216
8 1999
A cláusula social no comércio internacional
Revista Brasileira de Comércio Exterior, 40
8 1994
Evolução histórica do regionalismo econômico e político na América do Sul: um balanço das experiências realizadas
Cena internacional 10 (2), 7297
7 2008
A globalização e seus benefícios: um contraponto ao pessimismo
7 2004
O Brasil e os blocos regionais: soberania e interdependência
São Paulo em Perspectiva 16 (1), 316
7 2002
Estrutura institucional das relações econômicas internacionais do Brasil: acordos e organizações multilaterais de 1815 a 1997
Contexto Internacional 19 (2), 307
7 1997
MERCOSUL e União Européia: vidas paralelas?
7 1994
Os Partidos Políticos nas Relações Internacionais do Brasil, 1930-1990
Contexto Internacional 14 (2), 161
7 1992
Propriedade intelectual: os novos desafios para a América Latina
Estudos avançados 5 (12), 187203
7 1991
Dilemas atuais e perspectivas futuras do regionalismo sulamericano: convergências e divergências
Temas & Matizes 14, 7395
6 2008
Uma perspectiva macroeconômica do crescimento Brasileiro: algumas comparações internacionais
E Cardoso, PR Almeida, R Barbosa
O Brasil e os Estados Unidos num mundo em mutação. Washington, DC
6 2003
Relações Internacionais e política externa do Brasil: uma perspectiva histórica
Meridiano 47 2 (10\ 12), 12
6 2001
O futuro do Mercosul: Os desafios da agenda interna e da liberalização hemisférica
O Mercosul no limiar do século XXI. São Paulo: Cortez, 1726
6 2000
Geoestratégia do Atlântico Sul: uma visão do sul
Política e Estratégia 5, 486495
6 1987
América do Sul: rumo à desintegração política e à fragmentação econômica?
Carta Internacional 1 (2), 610
5 2006
Florestan Fernandes e a idéia de revolução burguesa no pensamento marxista brasileiro
Revista Espaço Acadêmico, 0113
5 2005
A pesquisa histórica sobre o Brasil nos arquivos dos Estados Unidos: identificação preliminar e projeto de compilação
Revista Brasileira de Política Internacional 44 (1), 151154
5 2001
A democratização da sociedade internacional e o Brasil: ensaio sobre uma
mutação histórica de longo prazo (18151997)
Revista Brasileira de Política Internacional 40 (2), 76105
5 1997
Sovereignty and regional integration in Latin America: a political conundrum?
Contexto Internacional 35 (2), 471495
4 2013
Finanças internacionais do Brasil: uma perspectiva de meio século (1954-2004)
O Crescimento e As Relaçoes Internacionais no Brasil, Instituto Brasileiro ...
4 2005
O Mercosul e a Alca na perspectiva do Brasil: uma avaliação política sobre possíveis estratégias de atuação
Seminário O Brasil e a Alca. Brasília: IPRI
4 2002
Mercosul: legislação e textos básicos
Brasília: Senado Federal
4 1992
A grande fragmentação na América Latina: globalizados, reticentes e
bolivarianos
Carta Internacional 9 (1), 7993
3 2014
Brazilian trade policy in historical perspective: constant features, erratic behavior
Revista de Direito Internacional 10 (1)
3 2013
Uma história do Mercosul (1): do nascimento à crise
Revista espaço acadêmico 10 (119), 106114
3 2011
Falácias acadêmicas, 13: o mito do socialismo de mercado na China
Revista Espaço Acadêmico 9 (101), 4150
3 2009
Brazil’s Candidacy for Major Power Status
M Diaz, PR Almeida - Stanley Foundation
3 2008
Integração Regional e Inserção Internacional dos Países da América do Sul:
evolução histórica, dilemas atuais e perspectivas futuras
São Paulo: Instituto Fernando Henrique Cardoso
3 2008

sábado, 8 de outubro de 2016

8 de outubro de 1982: ditadura militar sobre a ditadura comunista na Polonia (eu estava lá)

Eu e Carmen Lícia, e nosso filho Pedro Paulo, ainda bebê nessa época, visitamos a Polônia pouco tempo depois desse aprofundamento da ditadura na Polônia, mas que já era um sinal claro da decadência inevitável do poder comunista, já que os militares foram chamados a tentar "colocar as coisas em ordem".
A comparação com o regime militar no Brasil, no auge da repressão, uma década antes, era inevitável, mas a despeito disso, um outro líder sindical no Brasil despontava como um líder de futuro no sistema político brasileiro.
Algum tempo depois, Lech Wallesa e Lula se encontraram em Roma, mais exatamente no Vaticano: o primeiro queria desmantelar o comunismo em seu país, o segundo queria ainda construir o socialismo no Brasil. Deu no que deu...
Ambos foram um fiasco, mas gozaram de certo prestígio durante algum tempo, tanto que foram eleitos presidentes, mas ambos fracassaram em transformar seus respectivos países.
Wallesa foi um incompetente, mas os liberais poloneses consertaram os estragos e fizeram a Polônia ingressar na UE. Lula e seus companheiros ineptos e corruptos simplesmente destruiram a economia brasileira, mas não temos liberais para consertar os estragos.
Ah, sim, o NYTimes esquece da morte de Guevara, num 8 de outubro.
Paulo Roberto de Almeida

On This Day: October 8

Updated October 8, 2013, 2:28 pm
On Oct. 8, 1982, all labor organizations in Poland, including Solidarity, were banned.


WARSAW OUTLAWS SOLIDARITY UNION



Measure Scraps Trade Groups and Limits Right to Strike
By JOHN KIFNER
Speical to The New York Times
OTHER HEADLINES
Jobless Rate Is Up to 10.1% in Month, Worst in 42 Years: 11 Million Are Idle: Data for New York Show Big Decline -- Report Intensifies Debate
Jobless Rate as Vote Issue: Democrats Buoyed; G.O.P. Is Concerned
Federal Reserve Cuts Loan Charge to Banks to 91/2%: Move From 10% Signals More Declines in Interest Rates; Stocks Climb by 20.88
Key Teamster Leader Is Convicted of Labor Racketeering by L.I. Jury
Outside Jobs of Many on Council Raise Conflict-of-Interest Question
Algeria Halts Payment of Claims Against Iran
WARSAW, Oct. 8 -- The Polish Parliament overwhelmingly approved a law today that bans Solidarity, the independent trade union that once captured the imagination and allegiance of nearly 10 million Poles.
The law abolishes all existing labor organizations, including Solidarity, whose 15 months of existence brought exhilaration to many but drew the anger of the Soviet Union and other Eastern-bloc countries. It replaces them with a new set of unions whose ability to strike is sharply restricted.
Reaction of Work Force Uncertain
The scattered, fugitive Solidarity activists, more than 600 of whose leaders are in custody under martial law, have given no indication of their response to the Government edict outlawing their organization.
More uncertain - and perhaps more crucial to the authorities - is the reaction of Poland's increasingly sullen and frustrated work force, hard-pressed by shortages of food and virtually everything else, shortages that will only grow worse as the winter draws on.
The reaction could range from grudging, passive acceptance by even more listless performance in the factories and mines - ''Italian strikes,'' as they are called here - that would harm the crippled economy even more, to the kind of food riots that have periodically toppled governments over the last 26 years or even outbursts of terrorism and violence.
But the hopes of the authorities, as voiced in the official press and the speeches today, were that the new unions would lead to ''normalization,'' a relaxation of tensions and the eventual lifting of the martial law imposed last Dec. 13.
Security guards stood all around the gray Parliament building and uniformed police scrutinized credentials as the members gathered. A chill wind wrapped the red and white Polish national flag around its pole on the roof so it did not flutter.
The special riot policemen, known as ZOMO, who have enforced martial law, were brought back into the city and barracked at several central Warsaw hotels. But no demonstrations developed during the day, and the police were kept mostly out of sight.
When the vote came to dissolve the first experiment in labor democracy in the Eastern bloc at 9 tonight, after nearly seven hours of droning speeches, there were only 10 votes against the Government's bill and 9 abstentions.
In the Parliament, whose 460 members include 262 representatives of the ruling Polish United Workers' Party and 113 representatives of its affiliated United Peasants' Party, the debate was less than heated.
''A new and brave proposal,'' said Jozef Barecki of the Workers' Party, one of 16 members who spoke on the bill. He added that it was ''a major step'' toward creating ''a trade union movement worthy of the contemporary needs of the working class.''
Waldemar Michna of the United Peasants' Party said the new law ''would play a historic role'' and called it ''a momentous act on the road to normalization.''
Two speakers, members of small, independent parties, criticized the bill. One of them, Janusz Zablocki, a member of the Christian Social Association, said: ''Solidarity, whether we like it or not, has became in the society a symbol for renewal. Honest conditions should be created for the renewal of Solidarity, and no attempt should be made for its liquidation.''
The passage of the bill should come as a relief to other Eastern bloc nations, particularly East Germany and Czechoslovakia as well as the Soviet Union, who, fearful the contagion would spread, have been putting pressure on the Polish authorities to stamp out the independent union movement.
Introducing the bill to Parliament, Wlodzimierz Berutowicz, a law professor and Chief Justice of the Supreme Court, said that it ''fulfilled the agreement made with the workers'' at Gdansk in August 1980 - although it was that very agreement that gave birth to Solidarity.
Professor Berutowicz went on at great length to imply that the bill had met with the approval of the International Labor Organization. Tonight in Geneva, however, the I.L.O. director general, Francis Blanchard, said his organization had asked the Parliament to delay approval of the bill until the unions to be abolished, including Solidarity, were consulted.
Professor Berutowicz, other Government officials and the official press insisted that the new unions would be valid instruments because the legislation says they are to be ''independent'' of the management and the Government and because they have the right to strike.
However, the unions are to be linked with the party apparatus - the real political power here - and the ability to call a strike is so severely regulated that, as a practical matter, it would be almost impossible.
Any disputes must go through a complex arbitration process, and a seven-day advance notice must be given before a strike can be called. The Parliament has the ability to declare any strike illegal.
Many segments of the work force, including workers in the state radio and television, hospitals, banks, as well as those involved in delivering food or maintaining oil pipelines are forbidden to strike.
The link with the party, which officials today characterized as a ''partnership,'' is specified in the legislation that says the unions must ''recognize the leading role of the Polish United Workers' Party in the building of Socialism as defined by the Constitution.''
The Solidarity movement was to a large extent a revolt against the entrenched and frequently corrupt party hierarchy. But today the Warsaw daily Zycie Warszawy said that ''partnership between the party and trade unions is the best guarantee for respect of their independence by the authorities and the administration.''

Quem sao os liberais e o que eles tem a dizer? - Paulo Roberto de Almeida

Um leitor deste escrevinhador -- que escreve tanto que esquece muitas vezes o que escreveu (et pour cause: estou atualmente no meu trabalho número 3.046) -- relembra numa repostagem um "antigo" trabalho que fiz para liberais do cerrado central e publicado depois no site do Instituto Millenium, que explica um pouco da minha concepção atual sobre o liberalismo e sobre os liberais.
Atenção: disse "minha concepção atual" porque acredito que circunstâncias, crenças, situações políticas e econômicas vão mudando com o tempo, e devemos estar sempre abertos a rever nossas concepções sobre o mundo, as sociedades e seus problemas, de acordo com essas, e dependendo dessas condições cambiantes.
Atenção 2: quem escreve sobre o liberalismo e os liberais não se classifica como tal, pois acredito que todo rótulo é um pouco redutor, como eu argumento ao final deste pequeno texto.
Atenção 3: Quão antigo é este artigo? Ele foi escrito em Hartford, em 26 de fevereiro de 2015, 3 p. Considerações sobre o que são, e o que não são, os liberais, para circulação no âmbito do Instituto Liberal do Centro Oeste. Depois é que ele foi publicado, nem sei como, pelo Instituto Millenium.
Atenção 4: Depois que escrevi que liberais não têm religião, no sentido puramente formal da expressão, recebi vários comentários a respeito, o que indico, e discuto, no final deste texto e em outra postagem, indicada. 
Paulo Roberto de Almeida 
Brasília, 8 de outubro de 2016

Quem são os liberais e o que eles têm a dizer? Paulo Roberto de Almeida explica


O liberalismo é uma doutrina forjada mais sistematicamente em meados do século 19, embora possa ter raízes mais antigas, seja no iluminismo escocês (David Hume, Adam Smith) e na filosofia política britânica (John Locke é o mais distinguido, mas o economista John Stuart Mill também é representativo da corrente), seja já no constitucionalismo francês (Benjamin Constant, Alexis de Tocqueville), e mesmo em algumas correntes da filosofia e do pensamento social alemão (como Immanuel Kant e Wilhelm Humboldt, por exemplo). No século 20, ele está mais identificado, no terreno econômico, com Ludwig von Mises, Friedrich Hayek e Milton Friedman, e com Isaiah Berlin e Raymond Aron, na filosofia da história e no pensamento político. Há também uma vertente do liberalismo social, que poderia ser representada pelo italiano Norberto Bobbio, que sempre tentou fazer uma ponte entre o pensamento liberal clássico e a moderna socialdemocracia, de corte reformista, ou socialista liberal. Já nos Estados Unidos, esse conceito se identificou de modo negativo com a socialdemocracia em sua vertente intervencionista, mas republicanos conservadores, como Ronald Reagan (que não era nada teórico), encarnaram uma vertente prática da doutrina liberal. Na Grã-Bretanha, Margaret Thatcher havia lido Hayek e tentou aplicá-lo, tanto quanto possível.
Existem, portanto, variantes do liberalismo, nas vertentes filosóficas, políticas ou econômicas, mas todas elas parecem exibir certos traços, ou compromissos, comuns: uma desconfiança do poder e a resistência a Estados muito fortes; uma crença básica no progresso social, ou seja, que os homens e suas instituições podem ser melhorados pela aplicação racional de políticas respeitando as liberdades políticas e econômicas; uma aceitação inquestionada do fato que mercados livres sempre funcionarão melhor do que suas alternativas planejadas ou dirigidas pela via do Estado; uma tolerância fundamental em relação às crenças e sentimentos pessoais, no simples entendimento de que sempre haverá algum tipo de conflito entre os interesses concretos dos indivíduos e suas crenças subjetivas, ou religiosas (que sempre são o resultado de construções humanas e sociais).
Em resumo, liberais não são absolutamente conservadores, e sim progressistas e adeptos de reformas contínuas. Eles não são religiosos, ou não é isso que os distingue no plano doutrinal, pois aceitam que as pessoas possam ter fé em doutrinas ou crenças religiosas. Eles são profundamente democráticos, pois acreditam que sempre se deve recorrer a consultas na comunidade, com vistas a um largo debate e o encaminhamento negociado de soluções racionais aos desafios sociais e aos problemas humanos. Eles têm um compromisso fundamental com as liberdades econômicas as mais amplas, base indispensável de sistemas políticos abertos e responsáveis.
Em resumo, liberais não são absolutamente conservadores, e sim progressistas e adeptos de reformas contínuas
Liberais se posicionam contra todos os privilégios, de qualquer tipo e origem, e acreditam na educação e na experiência do aprendizado prático como a melhor via para desenhar soluções a questões que emergem nas interações humanas. Por isso mesmo, eles confiam em que a pesquisa científica de boa qualidade, eticamente responsável, pode oferecer respostas tentativas aos problemas que aparecem na relação do homem com o ambiente. São pacifistas por convicção, não como princípio imutável, mas no sentido de sempre buscar o entendimento racional em caso de disputas ou de conflitos entre interesses e posturas divergentes; não repugnam, porém, o uso da força, quando alguma vontade autoritária tenta impor soluções com uso de violência. Os valores da democracia e os direitos humanos devem ser resolutamente defendidos contra tiranos e usurpadores, se preciso for pela coerção física dos seus inimigos e contraventores.
Dito isto, os liberais verdadeiros não possuem respostas definitivas para todos os problemas de organização social ou dilemas humanos, com base justamente na modesta crença de que os homens são capazes de encontrar as soluções as mais adequadas, por vezes apenas aproximativamente, a certos problemas complexos, que envolvem não apenas crenças religiosas, mas também sentimentos morais e conflitos éticos. Por exemplo, os liberais deveriam ser a favor ou contra a liberação das drogas? Eles devem ser a favor ou contra a descriminalização do aborto? Eles são por um Estado laico irredutível, ou defendem a total liberdade religiosa, inclusive de catequese e exercícios de conversão de crianças no ensino público? Eles são por casamentos de pessoas do mesmo sexo? Concordam em que bebês e crianças sejam adotadas por tais casais?
Não é seguro que existam respostas unívocas, liberais ou de qualquer outra extração, a determinadas questões, que colocam pessoas em choque umas com as outras, independentemente de suas outras crenças políticas ou econômicas. Os liberais não pretendem ter respostas prontas e soluções “definitivas” a todos os problemas humanos e conflitos sociais, sobretudo de crenças, que devem ser deixados para a esfera dos sentimentos individuais. Na dúvida, ou na incerteza, eles propugnarão acompanhar a evolução dos costumes sociais, que já foram bem mais intolerantes no passado, nos terrenos referidos, do que aparentemente são hoje, com os progressos civilizatórios acumulados ao longo do tempo. Liberais são tolerantes e sempre defenderão a total liberdade das pessoas de adotar suas opções individuais, sem prejuízo de direitos e obrigações estabelecidas democraticamente pela comunidade.
O liberalismo é antes de mais nada uma construção social em constante estado de aperfeiçoamento doutrinal – nos campos do direito, da economia, da política – e por meio de experimentos de “ensaio e erro” no campo mais prático das políticas públicas, pois não existem respostas simples, ou universais, para problemas tão corriqueiros na vida das nações como educação, saúde, sistemas securitários, normas laborais ou para a política fiscal (que envolve um debate sobre o peso do Estado, o sistema tributário e, sobretudo, os desejos de certas correntes respeitáveis por maior igualitarismo social). Nesse campo de escolhas econômicas e de políticas públicas, os liberais procuram sempre privilegiar as mais amplas liberdades econômicas, com total garantia para a propriedade legítima e para a acumulação de riquezas que sejam fruto do trabalho (e não de privilégios administrados pelo Estado), mas também reconhecem a existência de diferenças sociais e de fortuna que merecem encontrar respostas adequadas no quadro de um amplo debate democrático sobre as melhores alternativas a esses problemas. Os liberais entendem que as melhores respostas a essas questões se situam na organização voluntária da sociedade, e não na distribuição pelas mãos de burocratas estatais, que sempre serão volúveis a alguma “taxa de intermediação” pelo “trabalho social”.
Liberais têm dúvidas, sobretudo quanto a projetos de engenharia social, contra os quais eles se posicionam racionalmente, com base na experiência histórica: tentativas de moldar a sociedade, ou de “corrigir os mercados”, sempre resultaram em desastres maiores do que os problemas supostamente na origem de imperfeições de mercado ou de desigualdades sociais. Também se opõem a todos os fundamentalismos, inclusive o do liberalismo, concebido como verdade inquestionável, e infenso ao debate aberto e tolerante com marxistas ou keynesianos, por exemplo, que exibem alguma legitimidade com base em suas propostas de “correção” dos problemas econômicos e sociais. Todas as sociedades apresentam componentes ideológicos e filosóficos os mais diversos e os liberais são herdeiros de uma das correntes da teoria social, o das liberdades individuais, contra o igualitarismo principista (e irrealizável) dos marxistas e contra pretensão dos keynesianos de erigir o Estado em guia e orientador supremo das forças econômicas.
Por fim, quem escreveu estes argumentos não se classifica em absoluto como liberal, pois entende que todo rótulo pode ser redutor ou simplificador das realidades necessariamente complexas do mundo concreto. Se algo poderia ser dito sobre o que guia o seu pensamento, apenas duas palavras o definem: racionalista e irreligioso.
 =============

Ah, a religião, essa força desintegradora.
Sou uma pessoa absolutamente irreligiosa, e nem discuto o que possa ser isso. Sou totalmente indiferente a qualquer religião, mas acredito, sim, que as religiões estão necessariamente presentes na vida de 99,99% das pessoas, e são uma das mais importantes forças da história humana.
Mas, insisto, os verdadeiros liberais, e o liberalismo, não têm absolutamente nada a ver com isso. Liberdades humanas são "coisas" universais, irredutíveis, absolutas, ou deveriam ser, pelo menos.
As religiões não são nada disso: elas são "coisas" humanas, sociais, ou civilizatórias, são redutíveis a um tipo de pensamento ou proposta espiritual, e tendem a ser excludentes (de outras religiões), mas não necessariamente agressivas (como penso que o budismo, ou o confucianismo, acredito, sejam essencialmente "pacifistas"). Mas, as religiões, especialmente as monoteístas, as "conversionistas", as totalitárias, podem ser opressoras, e mesmo terrivelmente "mortais", daí que um verdadeiro liberal deveria ser indiferente às religiões, no que toca o seu "liberalismo".
No mais, um liberal pode ser o que quiser no plano das crenças individuais e pessoais, desde que não ataque, ofenda ou prejudique as liberdades de outrém.
Minha resposta às críticas ao meu texto acima, e meus comentários sobre a problemática estão nesta nova postagem, de 28/02/2015, do meu blog (da qual eu havia me esquecido também):
http://diplomatizzando.blogspot.com.br/2015/02/debate-os-liberais-precisam-ser.html
Brasília, 8/10/2016

Gabeira sobre a organização criminosa, as eleições e o sistema político (OESP)

Sempre lúcido, ainda que um pouco caótico na argumentação.
Mas eu quero destacar apenas, em direção e em intenção daqueles gramscianos de academia que insistem em defender criminosos de alto coturno a pretexto de estarem defendendo um governo de "esquerda" ou "progressista", a importância de se ler não apenas os relatórios da Polícia Federal mas também as peças acusatórias do MPF e da chamada "República de Curitiba" como provas cabais daquilo que eu sempre afirmei desde o início do governo celerado (e destaco em caixa alta):
A PARTIR DE 2003, O BRASIL PASSOU A SER DIRIGIDO POR UMA ORGANIZAÇÃO CRIMINOSA, não apenas mafiosa, mas também inepta, pois mergulhou o país na GRANDE DESTRUIÇÃO! 
Todo mundo tem o direito de ser de esquerda, de direita, de centro, de defender quaisquer teorias ou ações que julguem adequadas para seus objetivos políticos, econômicos ou sociais.
Mas acho que NINGUÉM tem o direito de DEFENDER CRIMINOSOS políticos, que são, na verdade, bandidos comuns: assaltantes do dinheiro público (isto é, nosso), quadrilheiros vulgares.
Quem ainda insiste em fazê-lo, ante tantas evidências dos crimes cometidos pelos companheiro, seja por razões ideológicas, seja por quaisquer outras, só revela sua falta de caráter, pois já não pode alegar ignorância ou o argumento canhestro de que "todo mundo sempre fez assim".
Paulo Roberto de Almeida


VOTANDO E APRENDENDO A VOTAR
FERNANDO GABEIRA 
O Estado de S.Paulo, 07/10/2016

Não tenho o hábito de comemorar derrota de adversários, porque me lembro de que também já tive as minhas, aritmeticamente, humilhantes. No entanto, o resultado das eleições é uma espécie de confirmação eleitoral do fim de uma época.
Na verdade, o marco inaugural foi o impeachment, que muitos insistem em dizer que foi produto de uma articulação conservadora e dos meios de comunicação. Os defensores dessa tese têm uma nova dificuldade. Se tudo foi mesmo manobra de uma elite reacionária, se estavam sendo punidos pelo bem que fizeram, por que o povo não saiu em sua defesa nas urnas?
Sei que a resposta imediata é esta: a Operação Lava Jato, o bombardeio da imprensa, tudo isso produz uma falsa consciência. Esse argumento é uma armadilha. Nas cartilhas, exaltamos a sabedoria popular. Vitoriosos nas urnas, é para ela que apontamos, a sabedoria popular. De repente, foram todos hipnotizados pela propaganda?
Considero que estas eleições mostraram também uma grande distância entre campanhas e eleitores. No entanto, o declínio geral do sistema político não pode servir de refúgio para esconder a própria derrota.
Em certos momentos da História é difícil delimitar a fronteira entre um movimento político e uma seita religiosa. Mesmo antes do período eleitoral, tive uma intuição do que isso representa. Estava pedalando pela Lagoa, no Rio de Janeiro, e uma jovem com fone no ouvido gritou: “Golpista!”. Saía da natação, era uma bela manhã de setembro, sorri para ela.
Na verdade, estava a caminho de casa para ler o relatório da Polícia Federal sobre as atividades de Antônio Palocci que envolvem os governos do PT. Imaginava o que iria encontrar. Ao chegar em casa pensei nela, na moça com dois fios saindo do ouvido. Se pudesse ler isso que li e tudo o que tenho lido, talvez compreendesse o que é ser dirigido por uma quadrilha de políticos e empreiteiros.
Num raciocínio de rua, pensei ao cruzar com operários da Odebrecht que trabalham nas obras do metrô na Lagoa: esses são gentis, dizem bom-dia.
Bobagem de manhã de setembro, mas uma intuição: enquanto se encarar a queda de um governo que assaltou e arruinou o Brasil como um golpe de Estado, será muito difícil deixar os limites da seita religiosa e voltar à dimensão da vida política.
Há derrotas e derrotas. A mais desagradável é quando não existe uma única voz sensata, dizendo a frase consoladora: o pior já passou.
Quem lê o que se escreve em Curitiba, não só os contos de Dalton Trevisan, mas os relatórios da Lava Jato, percebe que muita água vai rolar.
As eleições não mostraram apenas uma derrota do PT, mas revelaram a agonia do sistema político. Certamente, as de 2018 serão ainda mais decisivas para precipitar a mudança.
Esse é um dos debates que já correm por fora. Às vezes, tocando em aspectos do problema, como o foro privilegiado, o número de partidos; às vezes, discutindo uma opção mais ampla, como a mudança do próprio regime.
Certamente, um novo eixo mais importante de debate se vai travar entre as forças que apoiaram o impeachment. Não são homogêneas, têm diferentes concepções.
A derrocada do populismo de esquerda não significa que não possa surgir algo desse tipo no outro lado do espectro político. Os eleitos de agora têm uma grande responsabilidade não somente com a aspereza do momento econômico, mas também com sua própria trajetória.
Se o sistema político está em agonia, isso não significa que será renovado a partir do zero. A História não começa nunca do zero. Um novo sistema político carregará ainda muitos feridos das batalhas anteriores. E talvez alguns mortos, por curto espaço de tempo.
Creio que o alto nível de abstenção e votos nulos possa fortalecer esse debate. Embora a abstenção elevada seja um fenômeno internacional.
No mesmo dias das eleições municipais no Brasil, a Colômbia votou o referendo sobre o acordo de paz. Abstenção: 62%. Na Hungria, votou-se o projeto europeu de cotas para receber imigrantes. O número de eleitores foi inferior a 50%, invalidando a votação.
Cada lugar tem também suas causas específicas para que tanta gente não se importe com algo que nos parece.
As eleições confirmaram que a qualidade dos políticos representa muito no aumento do descrédito. Mesmo em países com voto facultativo e, relativamente, altos níveis de abstenção, isso parece confirmar-se. Uma campanha como a de Obama atraiu mais gente para as urnas nos EUA.
Depois das eleições começa a etapa em que a superação da crise econômica entra para valer na agenda. Sempre haverá quem se coloque contra todas as reformas e projete nelas todas as maldades do mundo.
Mas entre os que consideram as mudanças necessárias é preciso haver a preocupação de que os mais vulneráveis não sejam atingidos. O instrumento para atenuar o caminho é um nível de informação mais alto sobre cada movimento.
Tenho a impressão de que o Ministério da Educação compreendeu isso na reforma do ensino médio. Outros fatores contribuem para que a discussão seja adequada ao momento. Várias vozes na sociedade já se manifestam a respeito da reforma.
E, além disso, é um tema bastante debatido. Lembro-me de que em 2008 Simon Schwartzman me alertou para o absurdo do ensino médio brasileiro. Defendi a reforma e não me recordo de ninguém que defendesse o ensino médio tal como existe hoje. Por que conter o avanço?
É o tipo do momento em que é preciso esquecer diferenças partidárias. Os índices negativos estão aí para comprovar.
O Congresso pode discutir amplamente o tema, apesar da forma, por medida provisória. Mesmo as críticas sobre a retirada da obrigatoriedade da educação física devem ser consideradas – embora eu ache a educação física facultativa mais eficaz que a obrigatória. E mais agradável para o corpo.