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sábado, 28 de novembro de 2020

Friedrich Engels, o general e o verdadeiro criador da economia marxista - Ruan de Souza Gabriel (O Globo)

Por que Friedrich Engels, que faria 200 anos neste sábado, não era um mero coadjuvante de Karl Marx

Especialistas lembram como a modéstia do pensador alemão, responsável pela divulgação e formulação da teoria marxista, cristalizou essa impressão e ofuscou um teórico de primeira linha

 Ruan de Souza Gabriel

O Globo, 28/11/2020

https://oglobo.globo.com/cultura/por-que-friedrich-engels-que-faria-200-anos-neste-sabado-nao-era-um-mero-coadjuvante-de-karl-marx-24769966

 

Numa carta a um camarada do Partido Social - Democrata alemão, remetida em 1884, um ano após a morte de Karl Marx, Friedrich Engels comentou sua prolífica colaboração com o autor de "O capital" e referiu a si próprio como "o segundo violino". Em outra carta, escreveu: "Marx era um gênio; nós, no máximo, tínhamos talento".

 

A modéstia de Engels contribuiu para cristalizar sua imagem como a de um mero ajudante que pagava as contas enquanto seu amigo se empanturrava de dialética. Tal imagem, contudo, cai por terra sob uma análise mais robusta. Engels, cujo bicentenário de nascimento é comemorado neste sábado (28) — a data está sendo lembrada com lançamentos de obras importantes dele e sobre ele —, era um revolucionário dedicado e um teórico de primeira linha, que ainda anima estudiosos do marxismo, do feminismo e da ecologia

 

Quando publicou o livro "Engels, o segundo violino", em 1995, o historiador Osvaldo Coggiola, professor da Universidade de São Paulo (USP), quase optou por outro título para afastar a ideia de que ele fosse só um coadjuvante: seria "Engels, o General". O interesse de Engels por estratégia militar lhe rendeu esse apelido na casa de Marx. 

 

Autor de uma elogiada biografia de Engels, publicada em dois tomos (1920 e 1934), e cuja edição condensada a Boitempo lança agora no Brasil, o alemão Gustav Mayer especulou que as metáforas militares às quais Marx recorria em seus textos eram influência do "General". No ano que vem, a editora publica os textos da dupla sobre a Guerra Civil Americana (1861-1865).

 

Segundo Coggiola, Engels "tinha ideias próprias e às vezes se adiantava a Marx". Em 1844, ele já escrevia sobre economia política enquanto o outro ainda fazia a crítica da filosofia .

 

— Engels era um teórico com todas as letras. É errado imaginar Marx e Engels como uma dupla caipira, na qual Marx é o Zezé Di Camargo, com a voz afinada, e Engels é o Luciano tocando a viola, ou melhor, violino — compara Coggiola.

 

Nascido numa família de industriais alemães, Engels frequentou a universidade esporadicamente, mas era um autodidata competente. Trabalhou na fábrica da família em Manchester, na Inglaterra, até amealhar fortuna suficiente para sustentar a si próprio e a Marx e ainda contribuir para as lutas operárias. Conhecia de perto o proletariado e, em 1845, três anos antes do "Manifesto comunista", escreveu "A situação da classe trabalhadora na Inglaterra". 

 

Depois da morte de seu camarada, editou o segundo e o terceiro volumes do "Capital". Em dezembro, a Expressão Popular lança "Cartas sobre 'O capital'", reunião da correspondência dos dois amigos entre si e também com outros revolucionários acerca da obra-prima do materialismo dialético.

 

Segundo Ricardo Musse, do departamento de Sociologia da USP, Engels não apenas contribuiu com a elaboração da teoria marxista (na década de 1840, ele e Marx escreveram textos incontornáveis a quatro mãos), mas também para convertê-la na política adotada pelos partidos operários, que, à época, dividiam-se em seguidores da dupla alemã, dos anarquistas e de outras correntes socialistas.

 

— Engels é um formulador da teoria e da prática marxista — diz Musse. — Além de divulgar o marxismo, escreveu textos importantes, como sua "Introdução" a "As lutas de classe na França de 1848 a 1850", de Marx, que influenciou as principais vertentes políticas marxistas do século XX: a teoria da revolução de Lênin, a teoria da hegemonia de Gramsci e a social-democracia.

 

Feminismo e ecologia

Para a socióloga Maria Lygia Quartim de Moraes, Engels não era nenhum "segundo violino", apenas "modesto". E sempre atual.

 

— Engels foi fundamental para nós, feministas dos anos 70. Em "A origem da família, da propriedade privada e do Estado", de 1884, ele liga a opressão da mulher à propriedade privada — explica Maria Lygia. — No século XIX, a moda era o pensamento abstrato, e os textos dele têm um trato com dados da realidade, que a contemporaneidade aprecia. Ele também trata com lucidez da ecologia.

 

Os estudos de Engels sobre as ciências naturais, realizados entre 1873 e 1886, só foram publicados em 1925, como "Dialética da natureza", recém-lançada pela Boitempo. Segundo a pesquisadora Laura Luedy, da Unicamp, Engels ambicionava organizar as descobertas empíricas numa teoria e desbancar a pretensão de "isenção" da ciência .

 

— Engels apontou as consequências nefastas da dominação da natureza com vistas à acumulação continuada de capital, e defendia que o conhecimento das leis da natureza deveria ser aliado a uma revolução do modo de produção e da ordem social — observa Laura. 

 

— Nos anos 80, a centralidade da ecologia no projeto marxista foi reconhecida, sobretudo, pela escola da ruptura metabólica" e a "ecologia-mundo", que recuperam as teses de Engels sobre dialética e ordem natural.

 

O texto "O papel do trabalho na hominização do macaco", incluído na "Dialética", no qual Engels junta o marxismo e a Teoria da Evolução de Charles Darwin, é um exemplo de que ainda soa bem a música do "segundo violino". "Não fiquemos demasiado lisonjeados com nossas vitórias humanas sobre a natureza", alertava Engels. "Esta se vinga de nós por toda vitória desse tipo".

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Lançamentos:


"Friedrich Engels: uma biografia"

Autor: Gustav Mayer. Tradução: Pedro Davoglio. Editora: Boitempo. Páginas: 336. Preço: R$ 67.


"Dialética da natureza"

Autor: Friedrich Engels. Tradução: Nélio Schneider. Editora: Boitempo. Páginas: 400. Preço: R$ 83.


"Cartas sobre 'O capital'"

Autores: Karl Marx e Friedrich Engels. Tradução: Leila Escorsim. Editora: Expressão Popular. Páginas: 384. Preço: R$ 45.

 

Planejamento estratégico da diplomacia brasileira: o papel do IPRI - Paulo Roberto de Almeida

 Planejamento estratégico da diplomacia brasileira: o papel do IPRI

  

Paulo Roberto de Almeida

(www.pralmeida.orghttp://diplomatizzando.blogspot.com) )

[ObjetivoDiálogo com a sociedade, no Programa Renascençafinalidade: Palestra no quadro do Instituto Diplomacia para Democracia.] 

 

O diplomata Antonio Cottas J. Freitas, responsável pelo “Programa Renascença: construção coletiva de uma política externa pós-Bolsonaro”, do Instituto Diplomacia para Democracia (link: https://www.diplomaciaparademocracia.com.br/programa-renascenca), convidou-me para discorrer sobre a meta 44 de seu programa de renovação da diplomacia brasileira – atualmente em grave estado de deterioração substantiva e de rebaixamento moral, em vista das orientações claramente anacrônicas, e mesmo reacionárias, irracionais do ponto de vista de padrões aceitáveis para uma diplomacia profissional –, com o objetivo de refletir sobre minha experiência como ex-diretor do Instituto de Pesquisa de Relações Internacionais (IPRI), órgão da Fundação Alexandre de Gusmão (FUNAG), vinculada ao Itamaraty, e para oferecer, a partir daí, algumas ideias em prol da implementação da Meta 44 desse programa. A Meta 44 estabelece o seguinte objetivo: 

Restaurar a abertura intelectual, o espírito crítico e a excelência do Instituto de Pesquisa de Relações Internacionais (IPRI) e da Fundação Alexandre de Gusmão (FUNAG), meios de diálogo do MRE com a academia e a sociedade; recriar conselhos curadores com integrantes externos ao ministério.

 

Esse objetivo, assim todos os demais do Programa Renascença foram incluídos por mim, como anexo, a este meu livro: Uma certa ideia do Itamaraty: a reconstrução da política externa e a restauração da diplomacia brasileira(Brasília: Diplomatizzando, 2020; livremente disponível neste link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2020/09/uma-certa-ideia-do-itamaraty_7.html), que trata, justamente, como indica seu duplo subtítulo, de um projeto de reconstrução da política externa e de restauração da diplomacia brasileira, que foram, ambas, terrivelmente diminuídas e desmoralizadas pela infeliz e medíocre diplomacia bolsolavista. Pretendo tratar tanto do IPRI quanto da Funag, mas sobretudo aproveitar esta oportunidade para elaborar algumas ideias em torno de um ambicioso projeto de reconstrução da nossa instituição central, o Itamaraty.

Como já indicado no subtítulo deste texto, tal exercício tende a se apresentar como uma espécie de planejamento estratégico para a diplomacia brasileira, empreendimento que pode, ou deveria, ser atribuído ao IPRI, que é o mais próximo que existe de um think tank do Itamaraty, tendo sido constituído precisamente para oferecer reflexões intelectuais, abrir um espaço de diálogo com a comunidade acadêmica, produzir material relevante do ponto de vista da formulação e implementação da política externa (em complemento ao outro órgão da Funag, o CHDD, que se dedica à história diplomática, a partir do Arquivo Histórico Diplomático do Rio de Janeiro). A partir dessa visão, este texto segue, assim, uma tripartição auto explicativa: uma primeira parte tratando da Funag, uma segunda, do IPRI e, finalmente, uma terceira, oferecendo uma reflexão tentativa com vistas à elaboração de um planejamento estratégico para a diplomacia brasileira, um dos possíveis instrumentos da reconstrução do Itamaraty, na perspectiva de uma diplomacia pós-bolsolavista.


I – A Fundação Alexandre de Gusmão (Funag)

 (...)

II – O Instituto de Pesquisa de Relações Internacionais (IPRI)

 (...)

III – Um exercício de planejamento estratégico para a diplomacia brasileira

  (...) 

Tal tipo de documento, a ser empreendido por força-tarefa coordenada pela Funag-IPRI, deveria cobrir os diversos aspectos e componentes de um exercício abrangente desse tipo, como o que aqui se propõe, entre eles, mas não limitadamente, os seguintes:

 

I – A política externa e a diplomacia no desenvolvimento nacional

1. Etapas percorridas até aqui, em 200 anos de história nacional e institucional

2. Os desafios do momento: uma matriz dos recursos e das debilidades nacionais


II – Campos de atuação da diplomacia e da política externa do Brasil

3. Multilateralismo, regionalismo e bilateralismo como instrumentos

4. A política externa multilateral do Brasil: interfaces políticas e econômicas

5. A geografia política imediata e a geoeconomia global das relações exteriores

6. América do Sul como eixo de um espaço econômico flexivelmente integrado

7. O multilateralismo econômico como eixo da inserção global do país

8. O ambientalismo e a sustentabilidade como eixos dos padrões produtivos

9. Direitos humanos e democracia como eixos da proposta ética do país

10. A questão dos blocos e das alianças estratégicas na matriz externa

11. As relações com os parceiros principais nos planos bilateral e regionais

12. Vantagens comparativas relativas e exploração de novas possibilidades

13. Perfeita integração da política externa com as políticas de desenvolvimento


III – O Itamaraty como força motriz da inserção global do Brasil

14. Gestão da Casa, com base nas melhores práticas da governança

15. Responsabilização (accountability), abertura e transparência nas funções

16. Capital humano de alta qualidade como base de uma diplomacia eficaz

17. Planejamento estratégico como prática contínua da diplomacia brasileira

 

Estes são os elementos principais que poderiam ser conduzidos num exercício abrangente de reflexão e de proposição, a ser coordenado pela Funag-IPRI, mas com a participação ampla de interlocutores da sociedade civil, do Brasil e do exterior, que também passariam a integrar seus respectivos conselhos consultivos e eventuais corpos editoriais. Desde já me comprometo a trabalhar numa elaboração mais refinada da presente proposta.

 

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 3804, 28/11/2020

Divulgado na plataforma Academia.edu (link: https://www.academia.edu/44595418/3804_Planejamento_estrategico_da_diplomacia_brasileira_o_papel_do_IPRI_2020_).

Referências

1) Programa Renascença (link)

2) Instituto Diplomacia para Democracia (link)

3) Diplomata Antonio Cottas J. Freitas (e-mail)

3) Livro: Uma certa ideia do Itamaraty (link)

4) Página pessoal do autor: www.pralmeida.org

5) Blog Diplomatizzandodiplomatizzando.blogspot.com

 

Brasil-Japão: 125 anos do Tratado de Amizade: exposições e guias culturais da Japan House de SP

 

O importante Tratado de Amizade Brasil-Japão completa 125 anos em 2020 e, para marcar a integração da comunidade japonesa que imigrou para o Brasil, a Japan House São Paulo promove a ação “Caminhos Brasil | Japão” no dia 06/dez, domingo, a partir das 10h.

Com duração de cerca de 1h30, a caminhada contará com 6 diferentes percursos pela cidade de São Paulo que celebram os temas ArtesAtualidades, Cultura, Esportes,Gastronomia e Memórias Brasil e Japão


*O evento será transmitido ao vivo no site da JHSP e o público, de casa, poderá escolher qual caminho quer acompanhar de maneira online.
Conheça os personagens e os convidados de cada trajeto:

Rota Artes:

Mauro Sousa, filho do cartunista Mauricio de Sousa e diretor da Mauricio de Sousa Produções, será o personagem do trajeto Artes e será acompanhado pelos artistas ZezãoGabriel Ribeiro (Gabs) e Catarina Gushiken

Partindo do Pavilhão Japonês no Parque do Ibirapuera, passam pelo Monumento em Homenagem aos Pioneiros da Imigração Japonesa, local que representa a história da imigração, do começo com a agricultura e o café consolidando a grande parceria e amizade dos dois países, pelo Hotel Unique, com a exuberante arquitetura de Ruy Ohtake, com design incapaz de passar despercebido e pela Galeria Joh Mabe, onde serão recebidos por Yugo Mabe Junior e chegarão à JHSP 5,3km depois.

Rota Esportes:

O percurso esportivo tem início no Jardim Japonês localizado no Parque da Aclimação. Ao longo de 4,2 km, o nosso guia é Pedro Henrique Gonçalves da Silva, mais conhecido como Pepê Gonçalves, canoísta olímpico de slalom, um dos atletas de maior destaque do Brasil, classificado para representar o país nos Jogos Olímpicos de Tóquio. Para conversar sobre a contribuição da imigração japonesa para o esporte brasileiro, juntam-se a Pepê o jornalista Marcelo Duarte e os atletas Fernando KurodaThais MakinoRogério Saito e Patricia Hamamoto. O trajeto em direção à JHSP passa pelo Instituto Fukuda, onde o grupo encontra Ricardo Fukuda, coordenador artístico da instituição, e a Associação Kumamoto Kenjin do Brasil, que promove a cultura da província de Kumamoto em nosso país.

Rota Atualidades:

O jornalista Ricardo Cruz é o personagem do trajeto Atualidades e encontra pelo caminho Rafael Gushiken, com quem conversa sobre diferentes temas atuais do Japão. Partindo do Fundação Mokiti Okada, onde conversam com o presidente da instituição, Marco Antonio Baptista Resende, e o especialista em cultura japonesa, Erisson Thompson. Em seguida, rumam para a Associação Hokkaido, passando pela Escola de Educação Infantil Multicultural Brasil Japão Mutsumi Youtien, que ensina japonês desde o berçário, e encontram as anfitriãs Saniy Onishi e Yuka Shimizu. Antes de alcançar a JHSP, eles realizam uma última parada na Associação Ishikawa-Ken, dedicada à promoção da cultura da província de Ishikawa, completando o percurso de 4 km.

Rota Gastronomia:

Em celebração à riqueza e à diversidade da gastronomia japonesa, este trajeto de 4,2 km é encabeçado por Telma Shiraishi, chef do restaurante Aizomê, e Hideki Uehara, fundador do GoHanGo e cozinheiro do Tamashii Ramen. Telma e Hideki iniciam o caminho na Rua Conde de Sarzedas – conhecida também como Rua dos Japoneses – como forma de celebrar o local que desde 1912, quando passou a ser ocupada por novos moradores vindos do Japão, significa esperança por dias melhores para os imigrantes. A primeira parada do trajeto será na Associação Okinawa Kenjin do Brasil e, de lá, Telma e Hideki seguem para a feira da Praça da Liberdade, onde conversam sobre a história da relação entre Brasil e Japão pelo ponto de vista das comidas e bebidas, sobre pastelarias, izakayas, mercados e restaurantes. Ao longo do caminho rumo à JHSP, eles encontram personalidades do universo gastrônomico, como Yoshi Higuchi, do izakaya Kintaro, Cesar Yukio, chef pâtissier e referência em confeitaria contemporânea japonesa, conhecida como Yogashi, e o chef e sumotori Taka Higuchi.

Rota Cultura:

Eric Klug, presidente da Japan House São Paulo, é o nosso guia no trajeto que celebra a contribuição cultural da imigração japonesa e os 129 anos da Avenida Paulista, principal corredor cultural da cidade de São Paulo. Ele inicia sua caminhada no Instituto Moreira Salles, onde é recebido pelo superintendente-executivo Marcelo Araújo, passando em seguida pelo Hotel Blue Tree, onde encontra a presidente do grupo, Chieko Aoki, e pelo Museu de Arte de São Paulo, o MASP. No caminho, Eric encontra Toshio Ichikawa, presidente do Kenren, a Federação das Associações de Províncias do Japão no Brasil, que o acompanha em parte do trajeto, em direção ao Centro Cultural Fiesp/Sesi. O caminho inclui ainda a escultura Tomie Ohtake, momento em que conversam com Akira Kusunoki, cônsul geral adjunto do Consulado Geral do Japão em São Paulo, além do Itaú Cultural e do SESC Avenida Paulista, onde encontram-se com Aurea Leszczynski Vieira Gonçalves, gerente de relações internacional da instituição. Eric passa ainda pela Casa das Rosas, antes de completar o percurso de 2,6 km até a JHSP.

Rota Memórias Brasil e Japão:

O nosso guia na caminhada de 3,7 km que tem início no bairro da Liberdade, berço da Imigração Japonesa no Brasil, é Claudio Kurita, diretor de operações, eventos e institucional da JHSP. Na Liberdade, Kurita parte da sede do Jornal Nikkey Shimbun, importante veículo de comunicação da comunidade nipo-brasileira. Ao longo de seis paradas, Kurita revisita suas memórias familiares e recebe como convidados Hayao HirataPedro Yuri Tani Souza e Seiko Tani. O caminho, então, continua pelo Largo da Pólvora, pelo Nikkey Palace, pela sede do Bunkyo (Sociedade Brasileira de Cultura Japonesa e de Assistência Social), onde o grupo é recebido por Renato Ishikawa, presidente da instituição, seguindo pelo Templo SotoZen, pelo Yamaguchi Kenjin e pelo Hiroshima Kenjinkai do Brasil, até a chegada à JHSP.

Ao todo, as 6 rotas somam 24 quilômetros de importantes histórias, memórias e celebrações, que permanecerão como legado para a cidade de São Paulo e disponíveis, posteriormente, para todos que tiverem interesse em percorrer os roteiros e aprender ainda mais sobre a centenária união nipo-brasileira. 

Quando: 06/dez, domingo, a partir de 10h
Onde: assista, ao vivo, aqui

Siga nossas redes sociais para acompanhar todas as novidades sobre o evento Caminhos Brasil | Japão:

Reflexões sobre um personagem que anda à procura de um autor (com a devida licença de Pirandello) — Paulo Roberto de Almeida

 Reflexões sobre um personagem que anda à procura de um autor (com a devida licença de Pirandello)

Paulo Roberto de Almeida

O Josias de Souza chamou o patético personagem — a quem eu chamo de chanceler acidental — de “sub-chanceler”. 

Acho que faz sentido, mas não todo o sentido. Tem muito mais coisas atrás dessa pobre filosofia.

Lula já tinha inventado a figura do “sub do sub”, mas falando de ninguém menos do que o USTR de Bush, Robert Zoellick.

Bolsonaro queria um “sub do sub” no Itamaraty. Acabou achando, sem ser preciso ler “Trump e o Ocidente” (que, de resto, ele não entenderia nada).

O rapaz perdeu um tempo enorme fazendo um blog cheio de altas considerações metapolíticas e metahistoricas, para meia dúzia de leitores. Ignaros além de tudo.

É um escritor sem leitores, para gente que só queria um pau-mandado no Itamaraty.

Como aquele coronel do Garcia Marquez, que “no tenia quien le escribiera”, o rapaz não tem quem o leia. Está mais para mero escrevinhador das alucinações alheias.

Na verdade e de fato, acho que está mais para capacho de toda essa gente: do degenerado, do Rasputin OC, do Zero Três, do Robespirralho, do Trump e do Pompeo, de quem mais?

É o sub do sub do servilismo automático...

Acho que o cara deve se angustiar, na frente do espelho, antes de ir dormir, toda noite.

Aliás, deve ser difícil conciliar o sono, pensando e remoendo tanta humilhação diariamente, constantemente, cada uma pior que a outra. 

O Serviço Médico do Itamaraty vai ter de conseguir uma equipe inteira de conselheiros “espirituais”, depois que terminar o sofrimento: um psicanalista, um psiquiatra, um psicólogo, um neurologista, um curandeiro, das várias escolas combinadas: um freudiano, um outro junguiano, não pode faltar um lacaniano, talvez um reichiano, quem sabe um marcusiano? (êpa!), um umbandista, o pessoal da canabis recreativa, do Santo Daime, whatever, whoever...

Deve ser duro de aguentar ter de trabalhar para gente tão ignara, que o vigia de perto: ninguém ali leu Also Sprach Zarathustra no original, ninguém penetrou nos segredos da Imitação de Cristo, ninguém pensou na batalha de Salamina como a salvação do Ocidente antes do Ocidente vir a ser o Ocidente, nem o Trump, que nunca ouviu falar de Spengler, muito menos de Toynbee, que achava que os EUA já tinham entrado em decadência aí por 1947...

Deve ser duro para o rapaz: podia estar escrevendo novelinhas distópicas, mas foi se meter com um bando de bárbaros fundamentalistas. 

Será que já está arrependido?

Se não está agora, se sentindo todo poderoso, protegido pelo degenerado e seus rebentos, vai se sentir depois, quando a festa acabar.

Imaginem o “corredor polonês” virtual do Itamaraty, quando a luz apagar e os lambe-botas se afastarem? Como é que vai ser?

Amanhã vai ser outro dia, como diria o seu compositor favorito...

Pois é, agora é tarde para se arrepender.

Devia ter pensado antes.

Mas, sempre tem compositor com Réquiem já preparado: assim acaba uma carreira.

Não vou antecipar o julgamento da história. Eu mesmo vou fazer a crônica dos tempos presentes e passados: aliás, já está no quarto volume, só falta encontrar um título accrocheur, que não pode ser RIP evidentemente. Deve ter algum slogan latino apropriado. Preciso sacar o meu Cícero, o meu Virgílio, quem sabe até um Dante? Talvez encontre alguma sugestão no Metapolítica 17, alguma coisa com laivos wagnerianos...

Nada menos abaixo da sua desimportância para a história da diplomacia brasileira...

Paulo Roberto de Almeida 

Brasília, 28/11/2022

Vocação de pária: editorial da FSP, sobre o conflito bananinha embaixada da China

 O QUE A FOLHA PENSA

Texto não assinado que expressa a opinião da Folha


  ITAMARATY


Vocação de pária

Não contente em atacar China, Bolsonaro deixa filho gerar crise fazendo o mesmo

Homem de terno e gravata olhando para o lado

Descrição gerada automaticamente

O deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) - Mandel Ngan - 30.ago.19/AFP


FSP, 26.nov.2020 às 23h15

 

Qualquer pessoa pode ser perdoada se, por ignorância, desconhecer que China e Estados Unidos são as maiores economias do mundo. Um homem público desprezar que ambos são os maiores parceiros comerciais do Brasil, isso já é de uma nescidade indesculpável.

Esse tem sido o saldo da diplomacia brasileira sob Jair Bolsonaro, com Ernesto Araújo no Itamaraty e o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) na camarilha familiar. O trio arruína a imagem do país, coadjuvado pelo ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles.

O filho 03 protagonizou a crise mais recente com a China. Seu pai já criara atrito desnecessário ao pôr em dúvida a segurança da vacina Coronavac, e o parlamentar completou o golpe em área ainda mais estratégica ao reiterar suspeita de espionagem embutida na tecnologia chinesa de telefonia 5G.

Eduardo macaqueia, com isso, os ataques do republicano Donald Trump contra a concorrência asiática, sob o pretexto de risco para a segurança nacional. Claro está que não se deve menosprezar tal possibilidade, até porque a Presidência do Brasil já foi vítima de bisbilhotagem eletrônica, só que praticada desde Washington.

Se é que algum dia fez sentido o alinhamento automático com um destrambelhado como Trump (nunca fez), após sua derrota na eleição a conduta se torna irresponsável. Bolsonaro se isola ainda mais como pária internacional ao permanecer como um dos últimos a não reconhecer a vitória do democrata Joe Biden.

O fanatismo ideológico da família nada tem de inofensivo. Além de ser filho do presidente, Eduardo é parlamentar e, mais, preside a Comissão de Relações Exteriores da Câmara. Deveria refletir antes de publicar qualquer bobagem em redes sociais.

A tripla condição de destaque aparece registrada na violenta nota de reação da embaixada chinesa. O texto publicado ignora o habitual comedimento diplomático ao aludir a possíveis “consequências negativas”, caso a retórica bolsonarista não seja contida.

O Brasil destina para a China seu maior volume de exportações (estimados US$ 60 bilhões neste ano) e tem com ela seu maior superávit comercial (US$ 32,5 bilhões até outubro). Pequim pode bem retaliar os arroubos brasileiros, por exemplo com barreiras não tarifárias, ou talvez perfilar-se com Joe Biden e a União Europeia para isolar o Brasil no front ambiental.

Salles e Araújo, pelo menos, podem ser contidos por Jair Bolsonaro, caso o presidente um dia desperte para o dano que infligem. Bem mais difícil de imaginar é que consiga refrear a incontinência do herdeiro, já que não se cansa de dar-lhe o mau exemplo.

editoriais@grupofolha.com.br

 

sexta-feira, 27 de novembro de 2020

"I love you Trump" perde o seu objeto: Bolsonaro ainda insiste na resistência a Biden - Frederic Puglie (Washington Times)

 Newfound flexibility? Defiant Bolsonaro not rushing to embrace Biden

Thursday, November 26, 2020

In the wee hours of election night Nov. 3, the president’s son tweeted a screenshot of Michigan vote totals purporting to show a sudden jump in favor of former Vice President Joseph R. Biden.

“Strange,” he noted ironically.

But what may sound like Donald Trump Jr. in truth came from Eduardo Bolsonaro, the congressman and third son of a man who has long and enthusiastically embraced his “Trump of the Tropics” moniker: Brazilian President Jair Bolsonaro.

Several foreign leaders who forged strong personal bonds with President Trump — including Hungary’s Viktor Orban, Turkish President Recep Tayyip Erdogan and Israeli Prime Minister Benjamin Netanyahu — over the past four years face challenges adjusting to the prospect of a Biden administration. But nowhere may the whiplash be as severe as in Brasilia.

Having openly endorsed President Trump’s bid for reelection, the leader of South America’s largest and most populous nation now finds himself having to deal with a man he all but called a danger to his country as recently as two weeks ago — and one who has had some pointed criticisms of the populist Brazilian leader to boot.

“We heard a great candidate for head of state say that if I don’t put out the fire in the Amazon, he’ll put up trade barriers against Brazil. How can we react to all that?” Mr. Bolsonaro said on Nov. 10.

“Diplomacy alone won’t do,” he cautioned. “When you’re out of spit, you need gunpowder.”

The remark was but the latest sign the confrontational Mr. Bolsonaro sees no immediate intent to ingratiate himself with Mr. Biden, who had threatened the former army captain with “significant economic consequences” should he refuse to “stop tearing down the forest” in exchange for a $20 billion payment.

Not surprisingly, Mr. Bolsonaro is one of the last major holdouts who has yet to formally acknowledge Mr. Biden’s apparent electoral victory, so long as his friend Mr. Trump refuses to formally concede the race.

But also characteristically, Mr. Bolsonaro’s defiance is not so much about alienating Mr. Biden or placating Mr. Trump as it is about promoting none other than Mr. Bolsonaro, said Ambassador Paulo Roberto de Almeida, a former director of the IPRI think tank at Brazil’s foreign ministry.

“He must know that Trump lost and that Joe Biden will be the next president,” Mr. de Almeida said. “But since he embodied this ‘anti-multilateralist, anti-globalist, pro-American, anti-Chinese, anti-communist and so on’ position, he sticks to it.”

And while Mr. Bolsonaro’s refusal so far to congratulate — much less offer to work with — Mr. Bidenmay unnerve Brazil’s foreign policy establishment, his inner circle continues to egg him on, Mr. de Almeida added.

“Bolsonaro depends on his immediate advisers: [foreign policy adviser] Filipe Martins; son No. 3, Eduardo Bolsonaro; and Foreign Minister Ernesto Araujo,” he detailed. “Those three kept Bolsonaro from ending [his] silence about the [Biden] victory.”

And little suggests Mr. Bolsonaro is about to turn into a second Andres Manuel Lopez Obrador, Mexico’s leftist president who — despite his political leanings — was able to forge an unexpectedly respectful and productive relationship with Mr. Trump, his ideological opposite.

Mr. Bolsonaro “doesn’t seem like he’s really ready to backtrack and find ways of working with Biden,” said Peter Hakim, president emeritus of the Inter-American Dialogue, a Washington think tank. “In part, it’s [because] Brazil is certainly less dependent on the United States than Mexico.”

Running in 2022

In the medium term, then, the fate of Washington-Brasilia relations may well depend on what Mr. Bolsonaro concludes is his best campaign strategy to win a second term two years from now.

“Whatever he does with regard to relations with the United States — what he looks for in the United States — will be in reference to his [reelection],” Mr. Hakim cautioned.

The Brazilian president, who has remained buoyant in the polls despite the country’s devastating fight with the coronavirus, has shown a tactical ability to be flexible on the policy front.

Having initially championed his Economy Minister Paulo Guedes’s pro-market fiscal conservatism, Mr. Bolsonaro this year switched course to allow for generous government handouts amid the coronavirus pandemic — one big reason, analysts say, for an unprecedented bump in his approval numbers.

“After a blustery, Trump-like start that he is going to make these huge changes in the way Brazilfunctions and he’s not going to follow the rules,” Mr. Hakim quipped, “he has [now] recognized the value of getting something done.”

And though the Nov. 15 first round of municipal elections saw Bolsonaro-backed candidates lose key mayoral races, the overall success of center-right forces, ironically, turned out to be good news.

“In truth, he gained strength,” Brasilia-based political consultant Vera Galante noted. “He ends up strengthened in Congress, and also in the states, even though his candidates were defeated.”

Which version of Mr. Bolsonaro — the 2019 ideologue or the 2020 pragmatist — will show up for the 2022 campaign, then, is, more than ever, anybody’s guess.

“He has a real dilemma facing him,” Mr. Hakim said. “Does he use his populist strongman approach? … Or is the best to try to get the economy going again? He would like to do both, but there are trade-offs there for him.”

The dilemma is real, political scientist Lucas de Abreu Maia agreed. But economic realities will ultimately force Mr. Bolsonaro’s hand, the former O Estado de S. Paulo reporter added.

“He is in a very tough position, actually, because he has to please his domestic audience — but the Brazilian economy cannot afford to have anything but [a] good relationship with the U.S.,” Mr. de Abreu Maia said. “Brazil needs the U.S. a lot more than the U.S. needs Brazil.”

And plenty of influential forces will be pushing Mr. Bolsonaro to at least try to mend fences with his new American counterpart, Mr. Hakim said.

“The agricultural lobby, the business community and the military — and even many of the evangelicals,” he said, “are going to press him to find a way to patch up relations with Biden.”

To do that, though, all roads lead back to the Amazon, whose deforestation pits Mr. Bolsonaro’s trademark talking points — sovereignty, national pride, development — against Mr. Biden’s assertion of an “existential threat” from climate change and his determination to make climate change a centerpiece of U.S. economic and foreign policy.

“Trade relations, trade negotiations, trade agreements,” Mr. Hakim enumerated, “are going to be very hard for Brazil to secure without a real reversal on Bolsonaro’s Amazon policy.”

In fact, Mr. Biden’s mention of the Amazon in the first presidential debate was the first time he had seen a purportedly domestic issue come up so prominently in a foreign campaign, economist Marcio Pochmann said.

“The Amazon issue, in truth, is an international debate,” said Mr. Pochmann, the former president of the Perseu Abramo Foundation linked to the opposition Workers’ Party.

About-face?

And given Mr. Bolsonaro’s newfound flexibility on a variety of issues, another about-face is certainly within the realm of the possible, he suggested.

“I wouldn’t rule out Bolsonaro changing positions” on the international scene, Mr. Pochmann said.

Getting along with Mr. Biden could certainly help Brasilia stay at the top of the South American pecking order, Ms. Galante suggested.

“President Bolsonaro will want to re-establish [Brazilian] hegemony in the region, and for that he needs the United States,” she said.

But any “flexibility” could easily cut both ways, Mr. Pochmann cautioned, pointing to Russian President Vladimir Putin’s conspicuous display of camaraderie toward Mr. Bolsonaro at last week’s virtual BRICS summit of major emerging economies.

And if anything, the former congressman — who during his 20-year career in politics has switched party allegiances no fewer than eight times — has a history of digging in, not dropping out.

Mr. Bolsonaro’s animosity toward Argentine President Alberto Fernandez — by all accounts mutual — seems to have survived countless attempts at reconciliation. And his jabs against China have already cost Brazil dearly, Mr. de Almeida said. At the BRICS summit — a loose grouping of Brazil, Russia, India, China and South Africa — Beijing quietly withdrew its longstanding endorsement of an expanded role for Brasilia at the United Nations.

A telltale sign of what course Mr. Bolsonaro wants to take toward the Biden administration, analysts agreed, will likely be the fate of Mr. Araujo, his foreign minister.

A changing of the guard at the ministry’s famed Itamaraty Palace in Brasilia could come around Mr. Biden’s Jan. 20 inauguration and would signal Mr. Bolsonaro’s desire for a new beginning, Mr. de Almeida said.

“I would pay close attention to the Itamaraty,” Ms. Galante agreed, “because he could use this opportunity.”

But foreign policy and self-interest aside, embracing Mr. Biden will not come easy to Mr. Bolsonaro, who modeled much of his political success — his stunning 2018 electoral victory, his jabs at “fake-news” media, his Twitter tirades — on the Donald Trump model.

“He embodied this ‘Trumpist’ position not because he was Trump’s friend — he isn’t — [but because] he is Trump’s admirer,” Mr. de Almeida said.

“To the extent that either follows a playbook, Bolsonaro has been following Trump‘s,” Mr. de Abreu Maia said. “It’s going to be harder for [Mr. Bolsonaro] to win reelection without having really an inspiration — really a playbook to follow.”