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Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

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domingo, 25 de agosto de 2024

Privatizar Petrobras, Caixa e Banco do Brasil - Editorial Folha de S. Paulo

Privatizar Petrobras, Caixa e Banco do Brasil

Editorial Folha de S. Paulo, 25/08/2024

https://www1.folha.uol.com.br/opiniao/2024/08/privatizar-petrobras-caixa-e-banco-do-brasil.shtml

Trio de gigantes deve ser o próximo tabu a ser derrubado no bem-sucedido programa brasileiro de desestatização

Conduzido ao longo de mais de três décadas por governos democraticamente eleitos, o programa brasileiro de privatizações derrubou sucessivam ente tabus, preconceitos e teses catastrofistas.

Na década perdida de 1980, quando o país se viu impelido a reformar o Estado empresário ineficiente e concentrador de renda, parecia impensável a venda de companhias portentosas como a Embraer e a Vale; dos setores de telefonia e energia elétrica; da vasta e deficitária rede de bancos estaduais.

Tudo isso foi feito —e com grande sucesso. O inconcebível hoje é que tais atividades e serviços públicos já tenham estado à mercê da ineficiência da gestão pública e das conveniências políticas dos governos de turno, em vez de regulados por agências autônomas e pela concorrência.

Mesmo administrações à esquerda, que mantêm oposição ideológica e corporativista à alienação de empresas, reconheceram as vantagens da concessão de estradas, ferrovias, portos e aeroportos. Promessas de reestatização, ademais, foram esquecidas.

Também resistências na sociedade vão sendo dissipadas. O Datafolha mostrou, no ano passado, que as opiniões favoráveis a privatizações já realizadas ou em curso —da telefonia ao saneamento, de rodovias e aeroportos à energia— superam as contrárias.

Espanta que remanesçam sob controle direto ou indireto do Tesouro Nacional nada menos que 123 empresas, entre as quais é difícil citar um exemplo além da Embrapa, de pesquisa agropecuária, em que o interesse público possa justificar tal condição.

Nesse conglomerado anacrônico, apenas três gigantes —Petrobras, Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal— reúnem em torno de si 75 subsidiárias no Brasil e no exterior. Quase dois terços, portanto, do universo das estatais federais.

Esse aparato é custosamente mantido sob o comando do Estado, sobretudo, por interesses políticos e sindicais. Invocam-se pretextos nacionalistas e estratégicos para preservar o poder de lotear cargos, distribuir favores e bancar projetos de retorno duvidoso, para nem falar em lisura.

Petrobras e Caixa, especialmente, são assíduas no noticiário sobre aparelhamento e má gestão. Ajustes legislativos nos últimos anos trouxeram melhora da governança, sim, mas continuam sob assédio das forças reacionárias e intervencionistas à esquerda e à direita, sujeitos a retrocessos.

O caminho a seguir é a privatização criteriosa, com modelos que incentivem a competição e regulação que salvaguarde os interesses dos consumidores. Há um trabalho de convencimento a fazer e um longo processo de conhecimento a ser aproveitado.


sábado, 28 de novembro de 2020

Vocação de pária: editorial da FSP, sobre o conflito bananinha embaixada da China

 O QUE A FOLHA PENSA

Texto não assinado que expressa a opinião da Folha


  ITAMARATY


Vocação de pária

Não contente em atacar China, Bolsonaro deixa filho gerar crise fazendo o mesmo

Homem de terno e gravata olhando para o lado

Descrição gerada automaticamente

O deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) - Mandel Ngan - 30.ago.19/AFP


FSP, 26.nov.2020 às 23h15

 

Qualquer pessoa pode ser perdoada se, por ignorância, desconhecer que China e Estados Unidos são as maiores economias do mundo. Um homem público desprezar que ambos são os maiores parceiros comerciais do Brasil, isso já é de uma nescidade indesculpável.

Esse tem sido o saldo da diplomacia brasileira sob Jair Bolsonaro, com Ernesto Araújo no Itamaraty e o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) na camarilha familiar. O trio arruína a imagem do país, coadjuvado pelo ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles.

O filho 03 protagonizou a crise mais recente com a China. Seu pai já criara atrito desnecessário ao pôr em dúvida a segurança da vacina Coronavac, e o parlamentar completou o golpe em área ainda mais estratégica ao reiterar suspeita de espionagem embutida na tecnologia chinesa de telefonia 5G.

Eduardo macaqueia, com isso, os ataques do republicano Donald Trump contra a concorrência asiática, sob o pretexto de risco para a segurança nacional. Claro está que não se deve menosprezar tal possibilidade, até porque a Presidência do Brasil já foi vítima de bisbilhotagem eletrônica, só que praticada desde Washington.

Se é que algum dia fez sentido o alinhamento automático com um destrambelhado como Trump (nunca fez), após sua derrota na eleição a conduta se torna irresponsável. Bolsonaro se isola ainda mais como pária internacional ao permanecer como um dos últimos a não reconhecer a vitória do democrata Joe Biden.

O fanatismo ideológico da família nada tem de inofensivo. Além de ser filho do presidente, Eduardo é parlamentar e, mais, preside a Comissão de Relações Exteriores da Câmara. Deveria refletir antes de publicar qualquer bobagem em redes sociais.

A tripla condição de destaque aparece registrada na violenta nota de reação da embaixada chinesa. O texto publicado ignora o habitual comedimento diplomático ao aludir a possíveis “consequências negativas”, caso a retórica bolsonarista não seja contida.

O Brasil destina para a China seu maior volume de exportações (estimados US$ 60 bilhões neste ano) e tem com ela seu maior superávit comercial (US$ 32,5 bilhões até outubro). Pequim pode bem retaliar os arroubos brasileiros, por exemplo com barreiras não tarifárias, ou talvez perfilar-se com Joe Biden e a União Europeia para isolar o Brasil no front ambiental.

Salles e Araújo, pelo menos, podem ser contidos por Jair Bolsonaro, caso o presidente um dia desperte para o dano que infligem. Bem mais difícil de imaginar é que consiga refrear a incontinência do herdeiro, já que não se cansa de dar-lhe o mau exemplo.

editoriais@grupofolha.com.br