O que é este blog?

Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida;

Meu Twitter: https://twitter.com/PauloAlmeida53

Facebook: https://www.facebook.com/paulobooks

quarta-feira, 22 de setembro de 2021

Contestando Bolsonaro: rebatendo o discurso na AGNU 2021 - Paulo Roberto de Almeida

 Contestando Bolsonaro: rebatendo o discurso na AGNU 2021

 

Paulo Roberto de Almeida

 

Texto liberado pela PR

Paulo Roberto de Almeida

Venho aqui mostrar o Brasil diferente daquilo publicado em jornais ou visto em televisões.

A mídia em geral, na sua diversidade, reflete o que se vê na realidade. Quem não concorda, quer mentir. 

O Brasil mudou, e muito, depois que assumimos o governo em janeiro de 2019.

Sim, mudou para pior: aumentou o desmatamento, o despeito à democracia, as mentiras oficiais, a mediocridade.

Estamos há 2 anos e 8 meses sem qualquer caso concreto de corrupção.

Mentira: toda a família está envolvida em corrupção, assim como a Saúde e outros. 

O Brasil tem um presidente que acredita em Deus, respeita a Constituição e seus militares, valoriza a família e deve lealdade a seu povo.

Demagogia barata: mudou de religião por oportunismo; desrespeita a CF-1988 e já teve várias famílias, o que não é bom sinal. Só tem lealdade à sua tribo!

Isso é muito, é uma sólida base, se levarmos em conta que estávamos à beira do socialismo.

Ridículo: nem o PCdoB ou o PT queriam o socialismo; só queriam extorquir os capitalistas, para viver bem.

Nossas estatais davam prejuízos de bilhões de dólares, hoje são lucrativas.

MENTIRA! Continuam dando prejuízos e são deficitárias na maior parte.

Nosso Banco de Desenvolvimento era usado para financiar obras em países comunistas, sem garantias. Quem honra esses compromissos é o próprio povo brasileiro.

Bobagem: o BNDES dos companheiros financiou sim projetos em países governados pela esquerda. Mas não consta que tenha se envolvido em falcatruas deliberadas.

Tudo isso mudou. Apresento agora um novo Brasil com sua credibilidade já recuperada.

Mudou para pior. Nunca foi tão baixa a credibilidade do Brasil, que se deteriora cada vez mais, por causa do capitão.

O Brasil possui o maior programa de parceria de investimentos com a iniciativa privada de sua história. Programa que já é uma realidade e está em franca execução.

Fantasia pura; existem muitos projetos, pois o Brasil carece de infraestrutura, mas o programa não é o maior da história; no regime militar foi muitas vezes mais, e poderá ser ainda.

Até aqui, foram contratados US$ 100 bilhões de novos investimentos e arrecadados US$ 23 bilhões em outorgas.

Dados sujeitos à caução; o Brasil não é o imenso canteiro de obras que se apregoa e muitos projetos estão parados por desconfiança em relação ao futuro.

Na área de infraestrutura, leiloamos, para a iniciativa privada, 34 aeroportos e 29 terminais portuários.

Isso é programa para o ministério setorial, não para discurso na ONU. A informação é ridícula para a AGNU.

Já são mais de US$ 6 bilhões em contratos privados para novas ferrovias. Introduzimos o sistema de autorizações ferroviárias, o que aproxima nosso modelo ao americano. Em poucos dias, recebemos 14 requerimentos de autorizações para novas ferrovias com quase US$ 15 bilhões de investimentos privados.

Não tem a mínima importância ser parecido ou não ao modelo americano. Essa continha de padeiro, contabilizando valores e projetos não é tema para discurso na AGNU, que se destina a posicionamentos do país em face dos grandes problemas da agenda internacional; disso não há sequer um traço do discurso medíocre.

EM NOSSO GOVERNO PROMOVEMOS O RESSURGIMENTO DO MODAL FERROVIÁRIO.

So what?, perguntaria o inglês. O que isso tem a ver com a postura do Brasil no plano da agenda internacional? 

Como reflexo, menor consumo de combustíveis fósseis e redução do custo Brasil, em especial no barateamento da produção de alimentos.

Esse é um programa doméstico, que não tem nenhum interesse para a audiência da AGNU: o custo Brasil não é um assunto para esse tipo de discurso.

Grande avanço vem acontecendo na área do saneamento básico. O maior leilão da história no setor foi realizado em abril, com concessão ao setor privado dos serviços de distribuição de água e esgoto no Rio de Janeiro.

My God! O que a distribuição de água no RJ interessa à comunidade internacional? Discurso de vereador que está pensando na sua próxima eleição, não de um estadista que pretende falar em nome do seu país.

Temos tudo o que investidor procura: um grande mercado consumidor, excelentes ativos, tradição de respeito a contratos e confiança no nosso governo.

Por acaso se trata de um caixeiro-viajante tratando de vender boas oportunidades de mercado? Quem redigiu esse discurso regula bem da cabeça?

Também anuncio que nos próximos dias, realizaremos o leilão para implementação da tecnologia 5G no Brasil.

O Brasil já está atrasado, e o governo mais ainda na questão do 5G, porque ficou cedendo a instintos anti-chineses da administração americana anterior.

Nossa moderna e sustentável agricultura de baixo carbono alimenta mais de 1 bilhão de pessoas no mundo e utiliza apenas 8% do território nacional.

Manipulando dados para ver se impressiona a plateia, mas o público presente está focado em outras questões, completamente alheias a isso.

Nenhum país do mundo possui uma legislação ambiental tão completa.

Pena que o seu governo se empenha em destrui-la sistematicamente todos os dias.

Nosso Código Florestal deve servir de exemplo para outros países.

Nenhum país do mundo tem as necessidades setoriais do Brasil. 

O Brasil é um país com dimensões continentais, com grandes desafios ambientais.

Qual é a novidade nisso? As dimensões todo mundo sabe; os desafios não estão sendo enfrentados, ao contrário.

São 8,5 milhões de quilômetros quadrados, dos quais 66% são vegetação nativa, a mesma desde o seu descobrimento, em 1500.

O Brasil não tinha isso tudo em 1500. E é mentira que dois terços da vegetação nativa tenham sido preservados tal qual desde aquela data.

Somente no bioma amazônico, 84% da floresta está intacta, abrigando a maior biodiversidade do planeta. Lembro que a região amazônica equivale à área de toda a Europa Ocidental.

O governo do capitão está empenhado sistematicamente em destruir o bioma amazônica, desenvolver mineração em terras indígenas, pastoreio, pensando que isso é desenvolvimento. 

Antecipamos, de 2060 para 2050, o objetivo de alcançar a neutralidade climática. Os recursos humanos e financeiros, destinados ao fortalecimento dos órgãos ambientais, foram dobrados, com vistas a zerar o desmatamento ilegal.

O capitão já estará morto em 2050 ou 2060, e não adianta prometer; o mundo quer saber o que está sendo feito agora para proteger o meio ambiente; os órgãos de controle continuam sucateados, sem pessoal, e sem os recursos necessários para desenvolver suas tarefas.  

E os resultados desta importante ação já começaram a aparecer!

Não apareceram até agora; o que se viu foi destruição, total e completa.

Na Amazônia, tivemos uma redução de 32% do desmatamento no mês de agosto, quando comparado a agosto do ano anterior.

MENTIRA! O que ocorreu, na verdade, foi o aumento do desmatamento, o maior em dez anos, em agosto. O capitão tenta enganar os incautos, mas não conseguirá. 

QUAL PAÍS DO MUNDO TEM UMA POLÍTICA DE PRESERVAÇÃO AMBIENTAL COMO A NOSSA?

Pode ter, mas o desgoverno do capitão se empenha em destruir a política de preservação ambiental melhor do mundo.

Os senhores estão convidados a visitar a nossa Amazônia!

Virou agente de viagem, o que não é exatamente o momento mais oportuno.

O Brasil já é um exemplo na geração de energia com 83% advinda de fontes renováveis.

E isso não se deve absolutamente nada ao seu governo, e sim às três gerações anteriores de planejadores setoriais.

Por ocasião da COP-26, buscaremos consenso sobre as regras do mercado de crédito de carbono global. Esperamos que os países industrializados cumpram efetivamente seus compromissos com o financiamento de clima em volumes relevantes.

O ex-antiministro do ½ ambiente já havia feito chantagem semelhante na COP-25: se vocês querem que a Amazônia seja preservada, paguem, enviem recursos, do contrário esse governo não pode garantir que cumprirá com suas obrigações estipuladas em acordo multilateral.

O futuro do emprego verde está no Brasil: energia renovável, agricultura sustentável, indústria de baixa emissão, saneamento básico, tratamento de resíduos e turismo.

Quadro idílico que não combina com a realidade. Os demais países estão até mais empenhados na agenda da sustentabilidade, sem, no entanto, fazer propaganda do que é agenda estabelecida.

Ratificamos a Convenção Interamericana contra o Racismo e Formas Correlatas de Intolerância.

Bastava comunicar a ratificação ao departamento apropriado das Nações Unidas, sem tirar vantagem desse ato. 

Temos a família tradicional como fundamento da civilização. E a liberdade do ser humano só se completa com a liberdade de culto e expressão.

Conversa fiada para o público interno. A família tradicional já não é o único fundamento da civilização. Os revolucionários de 1789 já sabiam disso.

14% do território nacional, ou seja, mais de 110 milhões de hectares, uma área equivalente a Alemanha e França juntas, é destinada às reservas indígenas. Nessas regiões, 600.000 índios vivem em liberdade e cada vez mais desejam utilizar suas terras para a agricultura e outras atividades.

Quer sinalizar que são um exagero em termos de dimensões? Melhor para o futuro do Brasil. Os índios já podem desenvolver atividades econômicas em suas terras, e o fazem; o que está ocorrendo, na verdade, é uma deformação desses objetivos, com o fito de repassar a grileiros e madeireiros.

O Brasil sempre participou em Missões de Paz da ONU. De Suez até o Congo, passando pelo Haiti e Líbano.

Isso também já se sabe, e nenhuma delas ocorreu em seu governo, que ainda falta pagar compromissos com algumas delas.

Nosso país sempre acolheu refugiados. Em nossa fronteira com a vizinha Venezuela, a Operação Acolhida, do Governo Federal, já recebeu 400 mil venezuelanos deslocados devido à grave crise político-econômica gerada pela ditadura bolivariana.

Outros países acolheram muitos mais refugiados da ditadura bolivariana. A nossa Constituição e a Lei da Imigração já estabelecem esses deveres de solidariedade humana nesse tipo de caso, sem que a ideologia esteja em causa. A intenção deve ser puramente humanitária.  

O futuro do Afeganistão também nos causa profunda apreensão. Concederemos visto humanitário para cristãos, mulheres, crianças e juízes afegãos.

Os cristãos constituem uma minoria extremamente reduzida no Afeganistão; asilo deve ser dado em bases universais, não discriminado por religião. Ou seja, homens muçulmanos não podem vir?

Nesses 20 anos dos atentados contra os Estados Unidos da América, em 11 de setembro de 2001, reitero nosso repúdio ao terrorismo em todas suas formas.

Um cumprimento oportunista e desprovido de sentimentos reais, pois nunca se estabeleceu um diálogo direto entre os dois presidentes.

Em 2022, voltaremos a ocupar uma cadeira no Conselho de Segurança da ONU. Agradeço aos 181 países, em um universo de 190, que confiaram no Brasil. Reflexo de uma política externa séria e responsável promovida pelo nosso Ministério de Relações Exteriores.

A rotatividade nessas ocupações de vagas nos cargos onusianos se desenvolve de modo mais ou menos natural, sem questionamentos quanto à ideologia do país. Ditaduras são escolhidas para o Conselho de Direitos Humanos da ONU: é a hipocrisia diplomática normal...

Apoiamos uma Reforma do Conselho de Segurança ONU, onde buscamos um assento permanente.

O tema da reforma da Carta, e ampliação do CSNU, não está em causa atualmente, e com o seu governo não existe chance.

A pandemia pegou a todos de surpresa em 2020. Lamentamos todas as mortes ocorridas no Brasil e no mundo.

Hipócrita! Sempre demonstrou total desprezo pelo número de vítimas no Brasil e se empenhou em aumentá-lo.

Sempre defendi combater o vírus e o desemprego de forma simultânea e com a mesma responsabilidade. As medidas de isolamento e lockdown deixaram um legado de inflação, em especial, nos gêneros alimentícios no mundo todo.

Canalha! Se opôs a todas as medidas de controle da pandemia. Isolamento ou lockdown (que nunca ocorreu) nunca foram causas de inflação e muito menos de falta de alimentos no mundo. Existe um problema de renda, não de produção. 

No Brasil, para atender aqueles mais humildes, obrigados a ficar em casa por decisão de governadores e prefeitos e que perderam sua renda, concedemos um auxílio emergencial de US$ 800 para 68 milhões de pessoas em 2020.

Canalha e mentiroso; governos e prefeitos foram responsáveis com as vidas humanas, o que nunca foi o caso do capitão genocida. Esse número está claramente inflado e não corresponde aos valores reais pagos à população. 

Lembro que terminamos 2020, ano da pandemia, com mais empregos formais do que em dezembro de 2019, graças às ações do nosso governo com programas de manutenção de emprego e renda que nos custaram cerca de US$ 40 bilhões.

Mais números fantasiosos e inflados, quando a realidade mostra um aumento do desemprego de 2019 para 2021. Todos os países investiram no auxílio emergencial, mas o Brasil o fez de modo improvisado e com impulsos erráticos. 

Somente nos primeiros 7 meses desse ano, criamos aproximadamente 1 milhão e 800 mil novos empregos. Lembro ainda que o nosso crescimento para 2021 está estimado em 5%.

Os números são sujeitos à caução novamente, e de toda forma, o discurso deveria ser sobre temas da agenda global, não sobre medidas de política interna que não estão na pauta das discussões ali. 

Até o momento, o Governo Federal distribuiu mais de 260 milhões de doses de vacinas e mais de 140 milhões de brasileiros já receberam, pelo menos, a primeira dose, o que representa quase 90% da população adulta. 80% da população indígena também já foi totalmente vacinada. Até novembro, todos que escolheram ser vacinados no Brasil, serão atendidos.

O Brasil está claramente atrasado na vacinação, por culpa exclusiva da vacinação. Dados brutos não interessam muito, pois o que vale, sempre, é a proporcionalidade da população coberta pelas medidas e nesse terreno estamos claramente em defasagem com respeito às médias mundiais. Grande parte desse esforço se deveu a governadores, não ao governo federal, que só fez corrupção. 

Apoiamos a vacinação, contudo o nosso governo tem se posicionado contrário ao passaporte sanitário ou a qualquer obrigação relacionada a vacina.

O capitão insiste no negacionismo e na oposição às medidas não farmacológicas de controle da pandemia. Tampouco fez grande coisa na vacinação. 

Desde o início da pandemia, apoiamos a autonomia do médico na busca do tratamento precoce, seguindo recomendação do nosso Conselho Federal de Medicina.

CANALHA! Continua fazendo propaganda do tratamento precoce, contra qualquer recomendação científica comprovada, e se escondendo atrás do CFM bolsonarista.

Eu mesmo fui um desses que fez tratamento inicial. Respeitamos a relação médico-paciente na decisão da medicação a ser utilizada e no seu uso off-label.

MENTE mais uma vez, e esconde os métodos que usou quando foi infectado. Esconde sua carteira de vacinação sob um sigilo de CEM ANOS. CANALHA COMPLETO, PSICOPATA!

Não entendemos porque muitos países, juntamente com grande parte da mídia, se colocaram contra o tratamento inicial.

GRANDE IDIOTA! Pessoas e países responsáveis sempre apoiaram os métodos científicos comprovados.

A história e a ciência saberão responsabilizar a todos.

Demagogia barata. A história o condenará como um GENOCIDA que é!

No último 7 de setembro, data de nossa Independência, milhões de brasileiros, de forma pacífica e patriótica, foram às ruas, na maior manifestação de nossa história, mostrar que não abrem mão da democracia, das liberdades individuais e de apoio ao nosso governo.

Demagogo e mentiroso. As manifestações foram claramente encomendadas com o uso maciço de recursos públicos, e deverá haver responsabilização criminal pela violação da legislação eleitoral e sobre probidade no serviço público.  

Como demonstrado, o Brasil vive novos tempos. Na economia, temos um dos melhores desempenhos entre os emergentes.

Seria patético se não fosse ridículo. O Brasil é um dos países de menor sucesso na recuperação econômica, e voltamos aos velhos tempos da inflação.

Meu governo recuperou a credibilidade externa e, hoje, se apresenta como um dos melhores destinos para investimentos.

É tão ridícula a afirmação, que não merece nenhum crédito. O Brasil vem perdendo bilhões de dólares de fuga de capitais, de brasileiros e estrangeiros.

É aqui, nesta Assembleia Geral, que, vislumbramos um mundo de mais liberdade, democracia, prosperidade e paz.

Frase banal, aliás, total déjà vu, já que se trata de uma afirmação gratuita, sem qualquer fundamento na realidade. 

Autores: burocratas da presidência e familiares ignorantes.

Autor: Paulo Roberto de Almeida, em meu próprio nome e responsabilidade

 

Brasília, 22 de setembro de 2021.


 

Alca e Mercosul: dois processos paralelos, não divergentes - Paulo Roberto de Almeida

 Alca e Mercosul: dois processos paralelos, não divergentes

 

 

Paulo Roberto de Almeida

Diplomata, professor

 

Questão colocada:

“Em retrospectiva, o Brasil deveria ter escolhido a Alca em detrimento do Mercosul?”

Meus comentários: 

Desde o início da ONU e de suas várias agências, o mundo do comércio exterior deixou de ser baseado em acordos bilaterais, de país a país, como existiam até a Segunda Guerra Mundial, para passar a ter um sistema multilateral de comércio, ou seja, um acordo geral sobre tarifas aduaneiras e comércio, que regula de maneira uniforme, regras e princípios de um regime aplicável a todos os países, com poucas exceções. As cláusulas básicas do sistema multilateral de comércio são: princípio da nação-mais-favorecida (ou seja, todo mundo é tratado de igual forma); tratamento nacional (ou seja, desde que um produto é importado, e paga tarifa, ele dever ser tratado como se fosse produção nacional); não discriminação (ou seja, nenhum país é tratado de uma forma especial, mas todos recebem o mesmo tratamento, para vantagens ou restrições); reciprocidade (se espera que quem receba um favor, sob a forma de redução de tarifas, por exemplo, deveria fazer alguma concessão a quem fez a oferta).

Dentre as exceções ao princípio da nação-mais favorecida encontra-se precisamente a negociação de acordos de livre comércio ou de união aduaneira entre duas ou mais partes, com o que se viola essa cláusula, justamente, pois apenas as partes ao acordo vão se beneficiar dessa concessão, o que coloca todos os demais em desvantagem relativa. Essa exceção atinge as diferentes formas de acordos comerciais entre os países, numa escala crescente de compromissos, com obrigações e vantagens cada vez mais sofisticados. Uma representação desse esquema evolutivo, pode compreender a seguinte gradação da integração: 

1) Preferências Tarifárias (PT): os países negociam redução de tarifas sobre apenas alguns produtos; é a forma mais simples de derrogação ao princípio fundamental do Gatt; e não estava previsto no formato original do Artigo 24 do Gatt.

2) Zona de livre comércio (ZLC): é quando os países reduzem todas as tarifas e medidas não tarifas sobre todos os produtos, ou seja, não existem mais restrições ao comércio em qualquer setor; mas vale apenas para o comércio entre as partes.

3) União Aduaneira (UA): quando os países, além de estabelecerem uma zona de livre comércio entre eles, dão um passo além, e estabelecem uma política comercial comum válida para quaisquer outros países; na prática, significa que não podem mais fazer acordos de livre comércio, ou qualquer outro, de forma individual, e só podem fazê-lo de maneira conjunta e uniforme.

4) Mercado Comum (MC): trata-se de um passo adiante na integração, pois além da ZLC e da UZ, os países consentem em eliminar quaisquer tipos de barreiras ao comércio de bens e serviços, mais movimentos de capitais e fluxos migratórios, ou seja, todos os fatores de produção estão envolvidos nesse formato.

5) União Monetária (UM): com todos os formatos anteriores aplicados de forma totalmente livre entre os membros do acordo, eles decidem também eliminar suas moedas nacionais, e, portanto, o câmbio e a conversibilidade, e adotar uma moeda comum entre eles, que também pode ser única. É o caso do euro, que no entanto não se aplica a todos os países membros da União Europeia, mas apenas aos que decidiram largar a sua moeda nacional para transferir esse poder para uma entidade comum, geralmente supranacional. 

 

Temos diferentes exemplos de cada um desses tipos de integração, desde os mais simples, que são geralmente usados por países em desenvolvimento que estão na primeira etapa do processo integracionista, até a União Europeia, que já passou por todas elas, possui um moeda comum, embora não única, entre aqueles membros que resolveram abandonar suas moedas nacionais e discutem inclusive constituir uma federação, ou seja, possuir poderes comuns entre eles e até instituições compartilhadas, ou seja, na justiça, defesa e relações exteriores (o que também existe, embora de forma mais limitada entre os membros da UE. No meio temos, dezenas, centenas de acordos de livre comércio que existem entre os mais diversos países, como é o caso do EFTA, os quatro países que não foram adiante na integração europeia: Noruega, Suíça, Islândia e Lietchenstein, sendo que o líder do grupo, até 1972, era a Grã-Bretanha. Mas também temos algumas uniões aduaneiras, o que é o caso do Mercosul, criado em 1991, mas que não é o do NAFTA, o acordo de livre comércio da América do Norte, que passou por diversas mudanças recentemente. 

Mas era também o caso do projeto americano da Alca, proposto pelo presidente Clinton, e que foi negociado durante quase dez anos, entre quase todos os países do hemisfério americano (menos Cuba), mas que acabou não sendo aprovado e terminou sendo abandonado. Pois bem, o que podemos dizer, portanto, é que não existe contradição entre o Mercosul, que é um projeto de integração de 1991, mais profundo, entre os vizinhos do Cone Sul da América do Sul – Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai – e o projeto americano da Alca, área de livre comércio das Américas, de 1994, e que nunca chegou a existir. Mas o Mercosul poderia, sim, como bloco, ter pertencido a uma Alca, se esta viesse a existir, o que não foi o caso, pela simples razão de que é possível a uma ZLC ter diferentes parceiros, sem qualquer exclusão, ao passo que uma UA exige exclusividade de tratamento entre os membros (ou seja, uniões aduaneiras requerem que todos tenham a mesma política comercial).

A razão é simples: o Mercosul surgiu antes, e resolveu saltar uma etapa do processo integracionista, passando logo para a UA, uma escala antes do MC e uma depois da ZLC, sendo que o Mercosul, conjuntamente, pode negociar acordos de liberalização comercial com muitos outros países, ou até com blocos, como é o caso do acordo entre a União Europeia e o bloco sul-americano, assinado em junho de 2019, mas que ainda não entrou em vigor, e não se sabe quando entrará. Já a Alca, foi apenas um projeto, negociado, durante dez anos, mas que não chegou a ser concluído, por divergências entre os negociadores. Assim, teoricamente, o Mercosul poderia continuar existindo como bloco aduaneiro, fazendo parte de uma ZLC americana, ou hemisférica, o que entretanto não foi o caso, por razões que podem ser examinadas.

Na prática, não ocorre totalmente de maneira uniforma e linear entre os diversos tipos de integração econômica, como pode ser demonstrado pela imensa variedade de esquemas existentes no mundo. Recomenda-se uma visita à página da Organização Mundial do Comércio (www.wto.org), para examinar mais de perto essa questão, que deve ser encarada como expressão os diferentes modelos de integração que os países buscam, em função de suas preferências regionais ou de alianças políticas entre eles.

 

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 3894: 21 de setembro de 2021

 

"O mundo já conhece Bolsonaro, o último negacionista do planeta", diz embaixador
Entrevista com o Antagonista Claudio Dantas, em torno do tema do momento: discurso mentiroso do Bozo na ONU:

No Papo Antagonista desta terça-feira, Claudio Dantas e Diego Amorim entrevistaram o embaixador Paulo Roberto de Almeida, que criticou o discurso de Jair Bolsonaro na ONU.


terça-feira, 21 de setembro de 2021

A destruição do Brasil por um psicopata - Paulo Roberto de Almeida

 Estaremos assistindo (não eu), nesta terça-feira, com todos os holofotes em NY, a um dos mais sórdidos e execráveis espetáculos de rebaixamento continuado do Brasil no cenário internacional, um evento que certamente causará repulsa e horror em todo diplomata de bom-senso, independentemente de sua postura política ou preferências eleitorais. É simplesmente doloroso assistir um mentiroso ler um texto edulcorado pelo Itamaraty e que deve representar todo o contrário do que pensa e faz a escória subhumana que sequestrou a representação do Brasil no mundo.

Lamento que meus colegas diplomatas envolvidos no serviço ativo tenham de suportar esse mentecapto, autoritário, genocida e psicopata. Estou apenas expressando o que efetivamente penso e o que é a realidade.

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 21/06/2021


segunda-feira, 20 de setembro de 2021

Don’t Kill Me For Saying It — But Biden’s Presidency is Failing - Umair Haque (Medium)

Don’t Kill Me For Saying It — But Biden’s Presidency is Failing

America and the World are Losing Confidence in the Biden Administration — Because it Keeps Making Baffling Mistakes

 Umair Haque

Medium, September 18, 2021

https://eand.co/dont-kill-me-for-saying-it-but-biden-s-presidency-is-failing-d08537b29056



It falls on me to be the bearer of news I don’t want particularly want to give you. Sigh. Who wants to have tell people — especially liberals — that Biden’s presidency is now in danger of failing. And yet it is.

Now, before you get your hackles up, let’s…talk about it. Like grown ups. Adults. American Liberals get incredibly defensive about Joe Biden. They have a seriously unhealthy relationship with their politicians. A cultish one. They don’t brook any criticism, and lash out in rage. It’s understandable. America is indeed under siege from a militant, fanatical, authoritarian far right. And yet it doesn’t do liberals any favours to treat Biden and his team like blessed saints, above and beyond mere mortals, perfect, divine, and unquestionable. Don’t regress into the infantile rage of spoiled American liberal man-baby, OK?

It’s been a terrible month or two for Biden — that much should be clear to all. His approval rating is plummeting. It’s now hovering down there, approaching Trump’s. Again, this isn’t my opinion, it’s an objective fact. “His” means his whole team’s, obviously, so again let’s not fall into the trap of cultish personality centred thinking. Biden’s Presidency isn’t in free fall just yet. But it’s getting perilously close.

And if this trend keeps going, where does America end up? With President Trump, all over again. Or maybe even worse. This is not a drill. It’s bitter reality.

So please, take it seriously, as painful as it may be to hear, because it is an objective, empirical fact that Biden’s Presidency is now beginning to fail.

When I say “Biden’s presidency is beginning to fail, and it’s an objective empirical fact,” I mean it in three ways. One, Americans are losing confidence in Biden, and not just Trumpist fanatics but average people. Two, the world is beginning to lose confidence in Biden, America’s allies left shaken and bewildered. And three, all the numerous crises hitting us at once from Covid to climate change show no signs of abating.

Why is Biden’s Presidency beginning to fail? Because he and his team are making amateur level mistakes. Too many of them, too fast. And so Americans are beginning to lose confidence in Biden’s supposed strengths — competence, calmness, poise, a kind of assured control. A firm hand on the wheel in stormy waters. So why does the boat still feel so rickety?

Let’s discuss a few of those mistakes. I’ll begin with the one Americans care about least, to highlight just how amateur hour these mistakes are.

Biden’s team recently signed a pact with Australia and the UK to essentially make new nuclear submarines, to ward off China. What the hell is this nonsense?

It’s not just me asking — it’s the entire rest of the world, beginning with America’s closest allies. Something unprecedented then happened: France recalled its ambassador to America, because it was so offended and shocked. Germany said the deal challenged the “coherence and unity of the west.” The French foreign minister had strong words: “There has been duplicity, contempt and lies, and when you have an ally of the stature of France, you don’t treat them like that…this is a real crisis.” A former French ambassador to the UK said, “This puts a big rift down the middle of the Nato alliance.”

Now, you might think this is all meaningless. It’s not. Read the quotes above. This isn’t a game. It’s our duty as responsible adults to understand this stuff.

What the hell is Biden doing making new nuclear weapons to have some kind of macho pissing contest with China over? What on earth? Biden’s doing it because his team thinks China is a big, big threat. Are they kidding? To whom? To America? China’s not exactly a model global citizen, it’s true — but it’s hardly going to attack America, let alone Australia, or the UK. And if the US really wanted to make China scared, all it has to do is shut down trade for less than 24 hours and the Central Committee will quake in its boots.

Biden has signed this pact — AUKUS — to please Boris Johnson and Scott Morrison. These are two fanatically ultra conservative leaders. One a climate change denier, the other who behaves as if Covid is “just a flu.” They could care less about Biden or liberal progress at all. Why appease them? At the cost of Europe? This ain’t just bad policy. It’s terrible, amateur hour politics.

This is a bad, bad look for America. It reeks, to the rest of the world, of both paranoia, racism, and American empire. Three white nations…making nuclear weapons…to fight against…the largest non white nation. For no good reasonUnprovoked.

It’s not just about nuclear non-proliferation, though it is about that. New weapons? Nuclear ones? Seriously? Three white nations teaming up to intimidate the largest non-white one? What century is this?

It’s about much, much more than that though. This whole dumb episode reveals just how amateur hour the Biden teams’ mindset really is.

What is the actual biggest threat to America, right now? There are three. “Climate change,” or global warming, if you want to use the more accurate term and not the one made up by a Republican pundit to keep us from taking it seriously. It’s already making parts of America uninhabitable. Who’s going to live in California in a decade or two? How is the West going to have water? Then there’s the far right, which is doing an end run around the rule of law, and doing things like making people bounty hunters to harass and try to catch…vulnerable women. And number three is Russia. You know, the nation that essentially installed Trump in the Presidency, a fact which we now have stark evidence in support of.

Two of those three threats — global warming, the far right’s ascendant fascism — are domestic. Only one is external. And it has nothing — literally nothing — to do with China. So Biden’s team has managed to alienate allies over…nothing. For no good reason. Over something useless.

China paranoia, at this point, is more about racism than reality. No, China is not some kind of beacon of goodness and light. But it’s hardly a country so menacing to the West that a whole new nuclear arms race has to happen. This is not reality. It’s paranoia. It’s rank stupidity.

What’s the big deal about alienating, well, all of Europe, to build new nuclear weapons to intimidate China with?

There are three Very Big Problems with such Epic Goddamned Stupidity. One, America needs Europe on its side to fight the world’s — and America’s — actual biggest problem, which is global warming. Two, America needs China on its side to fight global warming, too. And three…let me think about how to put this kindly…nobody on the planet needs more nuclear weapons. More nuclear weapons aren’t going to save anybody’s ass. Our asses are going to be cooked by megafire, drowned by megaflood, poisoned by new pandemics, parched and starved — they already are.

What are you going to do, bomb global warming to death?

This isn’t just a failure of foreign policy, in other words — it cascades into the domestic and global policy failure of not fighting climate change hard enough. Meaning, half the country was either flooded or on fire a week or two ago, and it’s only going to get worse. These are failure cascades, which is how Presidencies fail. One mistake — bang!! — becomes a much, much bigger one.

The UN is warning that the world is on a “catastrophic climate pathway” — and there’s Team Biden alienating the very allies the world needs, on both sides, to fight climate change with…for the sake of macho posturing…more nuclear weapons…that aren’t going to save a soul from the planet melting down…which is the world’s, and America’s, actual biggest threat.

Let me say that last part again because I think most people are still in deep denial about this, caught in the minutiae of the latest crisis, constantly distracted by the next media buzz. Climate change, aka global warming, is the world’s biggest threat. Global warming is the biggest threat to America, to the world, to our civilization, right now.

It’s epic, epic stupidity. In all this, Biden comes off to the entire world as…just another idiotic cowboy American. Who else alienated Europe, do you remember? Trump did.

Why? Because his philosophy — and that’s a generous term — was “America First.” But it turns out, chillingly, fatally, that Biden’s isn’t all that that different.

You’re probably hopping mad right about now, because I compared Biden to Trump. So let me keep going and prove it to you.

What is Biden’s next massive failure — this time, the one Americans actually care about? Covid. Covid is out of control in America all over again. And American liberals ascribe this to the kind of moronic red staters who think making kids wear masks in schools is like Jews being sent to gas chambers during the Holocaust.

That’s only half right, though: yes, Covid’s out of control because Red Staters are idiots. But it’s also out of control because there’s a new variant, Delta. What happens when idiots meet a new variant of Covid? The cycle of death repeats. They turn a new variant into a wave. How do you really solve this problem? You stop the new variants.

How do you do that? You vaccine the world, fast. So that new variants don’t have breeding grounds. Because those variants will affect you, too.

Now I have some really bad news for you. News which should infuriate you, but leaves most American liberals indifferent, which just proves to me and the rest of the world that, yes, basically, they’re not that different from the idiot Trumpist fascists they imagine they’re opposing.

Biden hasn’t been on the side of vaccinating the globe. He’s been against itSure, he might have talked about it once or twice. But in practice? His people are at the WTO, literally enforcing patents with legal power. America will not let the world have vaccines.

But who does “America” mean? Well, it means figures like Bill Gates, who it seems intervened to make it happen, when researchers wanted to give the vaccine formula away. And it means Joe Biden, whose administration is actively preventing the world from being vaccinated.

What’s the outcome of all that? Well, as the head of the WHO has pointed out, Covid cases globally outpace vaccinations. That simple math has a devastating conclusion. New variants keep on igniting. Because obviously if people are getting a disease faster than they’re getting vaccinated, it’s spreading, breeding, and mutating. Worse, plenty of those new variants are vaccine resistant, like Israel’s experience shows.

Why is Biden’s preventing the world from getting Covid vaccines? Because they’re more interested in protecting the profits of pharmaceutical companies. Don’t Pharma companies already make enough money? Of course they do. Do they deserve to earn history’s greatest fortune from vaccinating eight billion, every year, over and over again? Of course they don’t. The worst part of all this might just be that Covid vaccines were literally created with public money at public institutions, which means they’re public goods, which means they’re there to be shared. With the whole world. Just like, say, the polio or smallpox vaccines. Because diseases spread right back to us.

Do you see how goddamned idiotic all this is? Biden might get on TV and talk a good game about Red States and Covid. But the truth is that if he and his team really wanted to stop Covid, they’d vaccinate the whole planet. Tomorrow. Do you know how much that would cost? Literally a tiny, tiny drop in the bucket. The IMF estimated $50 billion, of which it had a shortfall of $13 billion. Zuck or Bezos could do that single-handedly. That’s way less than all those new nuclear weapons.

This is an epic, incredible, shocking, jaw-dropping, amazing, astounding mistake. No superlative can possibly be enough. All Biden needs to do is spend $50 billion — call it a hundred if you like, it’s pennies for a nation like America — to stop Covid dead in its tracks. No more Red State lunacy, because no more new variants. No more domestic chaos and panic and anxiety, because Covid never goes away.

But he won’t do it. Because he’s too busy defending Pharma profits and building new nuclear weapons.

Do you know how much $50 billion — the cost of vaccinating the world — is? It’s a quarter of one percent of America’s GDP. It’s a tiny, tiny fraction. This is what Biden is sacrificing the planet’s public health for, sacrificing his Presidency, utlimately, for.

Let me make really clear why I say that.

Biden could go down as one of America’s few — very few — Presidents who did something good and noble and beautiful for the whole world. The man who eliminated Covid. He’d be up there with FDR. The entire world would applaud. America would be a respected and admired nation again. He would have defanged his opponents, too, by taking the game to a much, much higher strategic level, a higher level of vision and ambition and purpose. Conservatives would look like the narrow-minded fools they are, and they would be badly disempowered as Americans felt good about being a country that could do genuinely beautiful and noble things again.

But Biden won’t do it. He’s shown us, at this point, time and again, what his governing philosophy really is. Tragically, stupidly, astonishingly, it’s not that different from Trump’s. At least if you’re France, Germany, China, Russia, Afghanistan — the entire rest of the world. America First.

The problem with that is that none of this century’s great Existential Threats can be solved that way. They are all global. We are all in them together. You can’t fight global warming with nuclear bombs. You can’t even fight global warming alone. You can’t fight Covid with individualism and selfishness and indifference.

But Biden isn’t teaching Americans that. He’s teaching them the opposite. He’s telling them that the world doesn’t need vaccines — so why should they believe the position that Americans do? He’s telling them that global warming matters — and then going out and spending a fortune on bombs.

Is it any wonder that Americans — the sane ones — are losing confidence in Biden? They’re baffled and bewildered, and they’re beginning to get a little frustrated. I thought this guy was better than Trump, they’re saying. And he is, in some ways. But in others? He’s a lot like him. He doesn’t seem to really think things through. He shoots before he thinks. He has double standards and inconsistencies which are too glaring to really not to see.

Biden’s Presidency is beginning to fail, my friends. I don’t say that with gloating glee — I’ve always liked the guy. I say it as a warning. Nuclear weapons and preventing the world getting vaccinated. America First-ism and giving the fascists a slap on the wrist. Global warming a lower priority — while America burns and floods — than bombs and guns. Don’t even get me started on Afghanistan. What is going on here? The captain of the ship doesn’t seem to know how to navigate this storm. He seems to be going in circles, while the ship buckles, and the waves roar.

I think a lot of Americans feel this way, right about now. Biden should have been better than this. Why isn’t he?

Umair
September 2021



“No llores por mi, Argentina”, outra vez? - El País, La Nación

 As coisas vão mal no hermano país; não bastasse uma linda crise econômica— os argentinos têm pós-doc em crises —, eles agora também não têm governo, pois como se sabe era a vice-presidente quem presidia. Nem ela conseguiu evitar a derrota eleitoral… (PRA)

El País, Madri – 18.9.2021

La pelea entre Alberto Fernández y Cristina Kirchner paraliza a Argentina

Federico Rivas Molina y Mar Centenera

 

Buenos Aires - La pelea abierta entre Alberto Fernández y Cristina Fernández de Kirchner tiene paralizada a Argentina. Un día después de la renuncia de todos los ministros y altos cargos que representan a la vicepresidenta en el Gabinete, el presidente publicó este jueves un largo hilo en Twitter donde advierte de que es él quien toma las decisiones. “La gestión seguirá desarrollándose como yo estime conveniente”, escribió, y “no es tiempo de plantear disputas”. Cristina Kirchner le recordó más tarde en una carta pública que fue ella quien lo postuló para presidente en 2019. “Sólo le pido que honre aquella decisión”, le dijo.

La debacle electoral en las primarias del domingo, en la que los precandidatos del peronismo unido perdieron en 18 de los 24 distritos del país, terminó por catalizar una crisis soterrada de palacio que condiciona la marcha del Gobierno, agrava la crisis económica, espanta a los votantes y da alas a la oposición conservadora. Cristina Kirchner exigió el lunes tras la derrota cambios en el Gabinete como primera medida para recuperar al electorado perdido. La crisis escaló cuando el Fernández se negó.

Nunca hasta ahora las cabezas del Ejecutivo argentino se habían enfrentado tan abiertamente. Alberto Fernández se refirió a la “altisonancia y la prepotencia” de algunos dirigentes, sin nombrar a su rival, e hizo una defensa de su Gobierno. “Seguiré garantizando la unidad del Frente de Todos a partir del respeto que nos debemos”, dijo. Kirchner se tomó apenas unas horas para responderle.

 “Al día siguiente de semejante catástrofe política [por las elecciones del domingo], uno escuchaba a algunos funcionarios y parecía que en este país no había pasado nada, fingiendo normalidad y, sobre todo, atornillándose a los sillones. ¿En serio creen que no es necesario, después de semejante derrota, presentar públicamente las renuncias y facilitarle al Presidente la reorganización de su Gobierno?”, escribió Cristina Kirchner. “No soy yo la que jaquea al presidente, es el resultado electoral”, agregó.

Argentina es espectadora ahora del pulso de las dos fuerzas en pugna. El origen de las tensiones hay que buscarlo en la decisión de Cristina Fernández de Kirchner de promover a su exjefe de gabinete Alberto Fernández como candidato a presidente en 2019, con ella como vice. Se sumó a aquel binomio Sergio Massa, un dirigente que había vencido al kirchnerismo en la provincia de Buenos Aires y que ahora completaba la unidad total del peronismo. La estrategia resultó, y Alberto Fernández impidió en las urnas la reelección de Mauricio Macri. Pero la tensión entre un presidente sin votos pero con el poder formal y una vicepresidenta sin poder formal pero con votos lastraron los dos primeros años de Gobierno. Hasta que todo estalló por los aires con la debacle en las primarias del 12 de septiembre, una elección que elige a los candidatos que disputarán una banca en el Congreso el 14 de noviembre próximo.

 

*

 

La Nación, Buenos Aires – 18.9.2021

La carta de Cristina Kirchner que dinamita al Frente de Todos

Rompió toda negociación, al reprobar sin atenuantes la política económica de Alberto Fernández y acusarlo de operar contra ella; el repunte electoral que el peronismo soñaba parece hoy una utopía

Martín Rodríguez Yebra

 

Aturdida por el voto popular que desnudó los límites de su poder, Cristina Kirchner cometió un acto de autodestrucción política bajo el imperio de una emoción violenta. La idea de plantearle el miércoles un ultimátum público a Alberto Fernández para que se sometiera a su voluntad fue dinamita pura en los cimientos del Frente de Todos. La carta que publicó esta noche en medio de la crisis parece la carga definitiva sobre la coalición peronista que los argentinos eligieron para gobernar hasta 2023.

Dejó todo a la luz. “No podíamos ganar”, confiesa. Lo atribuye a una “política de ajuste fiscal equivocada” que ella, en sus palabras, se cansó de advertir ante un Presidente que se negaba a verlo. La fuerza de la palabra escrita agiganta el impacto de su acusación de que el entorno de Fernández hace operaciones mediáticas en su contra, la revelación de los nombres que pidió para asumir como ministros y el desdén con el que alude, sin nombrarlo, al jefe de Gabinete, Santiago Cafiero, cuando pone: “Al día siguiente de semejante catástrofe política, uno escuchaba a algunos funcionarios y parecía que en este país no había pasado nada, fingiendo normalidad y, sobre todo, atornillándose a los sillones”.

La reacción de la vicepresidenta sucede a unas declaraciones previas de Fernández en Página 12, en las que alude a un supuesto acuerdo por la reforma del Gabinete que ella habría incumplido con las renuncias en masa que inició el miércoles Wado de Pedro. “Con presiones no me van a obligar”, fue la frase desafiante que le dedicó su criatura presidencial.

Los intentos de alcanzar un acuerdo para desescalar la crisis en marcha parecían un mal chiste al caer la noche en Buenos Aires. Cristina acelera hacia lo desconocido, sin reparar ni en lo inverosímil que resulta ahora un repunte electoral en noviembre ni en las condiciones en que deja al Gobierno. Ya es una cuestión personal.

En las trincheras del albertismo retumba desde ayer la palabra “traición”. De Pedro propició una cascada de renuncias que llegaron a los medios de comunicación antes que al despacho presidencial. En el manual del kirchnerismo eso constituye una declaración de guerra: así se lo habían hecho saber a Martín Guzmán en mayo, cuando quiso echar a través del periodismo al subsecretario de Energía Eléctrica, Federico Basualdo.

El estupor es indisimulable en la Casa Rosada y en la quinta de Olivos en estas horas de indefinición y versiones cruzadas. Sus habitantes le gritaban “destituyente” a Mauricio Macri porque dijo sin mucho cuidado aquello de “o cambian o se van a tener que ir”.

 

Los hechos propios ridiculizan las palabras ajenas.

 

Cristina habló con Alberto el martes, en una reunión hermética en Olivos, sobre una reformulación urgente del gabinete y de la política de Guzmán. Fernández retrata ese episodio sin testigos como un encuentro fructífero. Cristina transmite algo distinto. “Habían transcurrido 48hs sin que se comunicara conmigo y me pareció prudente llamarlo y decirle que tenía que hablar con él. Deje pasar 48hs deliberadamente, para ver si llamaba”, relata, en una frase que expone cómo concibe su relación con el Presidente. Blanquea ahí que pidió al gobernador de Tucumán, Juan Manzur, alguien que no cuenta con su cariño, en lugar de Cafiero. Fernández se resistía a cesar a su mano derecha.

El desencuentro a puertas cerradas derivó en un escandaloso espectáculo público. El Gobierno se desayunó el miércoles con las renuncias en bloque del gabinete de Santa Cruz y de Buenos Aires, los dos territorios donde Cristina ejerce sin limitaciones su voluntad (en la Provincia finalmente Axel Kicillof no le aceptó a nadie la dimisión). Al mediodía, Fernández reivindicó a Guzmán en un acto en la Casa Rosada y le cedió la palabra para que diera un discurso amablemente provocador, en el que dijo que todas las medidas que tomó contaban con el respaldo de Cristina, Kicillof, Máximo y Sergio Massa. El dedo en la llaga. Por eso la vicepresidenta se encargó en la carta de recordar que ella viene marcando desde hace meses su desacuerdo con el rumbo económico.

De Pedro disparó la primera renuncia apenas después. El sacudón puso a Fernández ante una encrucijada apremiante. Se rinde y entrega los últimos jirones de su autoridad presidencial o se sumerge a la dimensión desconocida de gobernar sin el kirchnerismo, en un estado de minoría angustiante. Decidió parar el reloj. En parte es su costumbre patear los conflictos para adelante. Pero en este caso -casualidad o estrategia- el tiempo podía jugarle un poco a su favor: el Frente de Todos es una familia mal ensamblada en la que la amenaza de ruptura toca los intereses de muchos actores relevantes. Más que nunca cuando hay elecciones legislativas en el horizonte cercano. Con el correr de las horas empezaron a llegar apoyos de gobernadores, diputados, intendentes y sindicalistas. La sangría de renuncias se detuvo, en un impasse dramático. ¿Cuánto más podría demorar una definición?

Cristina Kirchner nunca imaginó que justo ahora Alberto fuera a empacarse. En su entorno, consideran que debe “allanarse”. Lo culpan de llenar el gabinete de amigos sin capacidad de conducción política (apuntan sobre todo pero no únicamente a Cafiero) y de validar el ajuste del gasto que promovió Guzmán en su camino por pactar con el FMI. El impactante audio viral de la diputada Fernanda Vallejos, en el que trata al Presidente de “enfermo”, “mequetrefe” y “okupa”, retrata la virulencia que condimenta el desacuerdo. La pluma de Cristina ratifica que no se trató de un exabrupto aislado. Le recordó sin piedad que es presidente gracias a ella: “Le pido que honre esa decisión”.

El durísimo audio de una diputada kirchnerista sobre Alberto Fernández

La presión kirchnerista para hacer cambios urgentes respondía al miedo a que en noviembre fuera demasiado tarde para torcer el rumbo. Vislumbraban dos caminos contradictorios, igual de preocupantes:

* Que sin una reacción clara el resultado de las legislativas fuera otra paliza que dejara al Gobierno en minoría en las dos cámaras, maniatado y con el “boleto picado” de cara a 2023.

* Que con algunos ajustes en la campaña, ciertas medidas de estímulo y un mayor compromiso militante de la dirigencia peronista el Frente de Todos pudiera mejorar algo sus números y que eso pudiera ser interpretado por Fernández como una validación de su equipo y sus políticas. Es decir, que todo siguiera más o menos igual, en vuelo crucero hacia un fracaso dentro de dos años.

La lógica de Cristina el miércoles fue atacar en caliente para forzar los cambios ahora. ¿Midió las consecuencias de arrojar semejante misil? El silencio presidencial, las reacciones peronistas y la perplejidad de la opinión pública descolocaron a los promotores de la ofensiva. La vicepresidenta intuyó que el Gobierno le estaba tirando a la gente en contra. Lo acusa sin eufemismos al vocero presidencial, Juan Pablo Biondi. Ya el miércoles había sido llamativo el interés de la propia vicepresidenta por difundir que había llamado a Guzmán para explicarle que no pedía su cabeza. Temía que la señalaran ante un eventual temblor financiero. Lo ratificó en su texto, cuando señala que confía “sinceramente” que Fernández y Guzmán se van a sentar a revisar los números del presupuesto para moderar el ajuste. Y se encargó de aclarar que no pide cosas irracionales, como sugieren sus rivales internos: “No estoy proponiendo nada alocado ni radicalizado”.

Los caminos posibles

Emisarios de distintos sectores intentaron una mediación entre Alberto y Cristina, de momento trabada por el orgullo. “La gestión de gobierno seguirá desarrollándose del modo que yo estime conveniente. Para eso fui elegido”, tuiteó al mediodía el Presidente. Como quien dice “mando yo”. Edulcoró el mensaje al enfatizar su vocación de mantener unida la coalición.

 

Para acessar a íntegra: https://www.lanacion.com.ar/politica/la-debilidad-de-cristina-kirchner-y-el-peligro-de-una-implosion-del-frente-de-todos-nid16092021/