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Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida;

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domingo, 24 de março de 2024

Medvedev's controversial map reignites tensions over Ukraine's future - EssaNews

Medvedev's controversial map reignites tensions over Ukraine's future

Essa News, 7:57 AM EST, March 9, 2024, updated: 4:22 AM EDT, March 10, 2024

https://essanews.com/medvedevs-controversial-map-reignites-tensions-over-ukraines-future,7004144472934017a

Former President Dmitry Medvedev sparked alarm by unveiling a map outlining Ukraine's division, a move that has even surprised some Russian commanders. "Sooner or later, we will unite. Why should we concede anything to anyone?" a Russian general remarked.

Reports by Russian media or government officials often serve as propaganda. These narratives are part of the Russian Federation's informational warfare.

At a youth forum in Sochi earlier this week, Dmitry Medvedev, now Deputy Chairman of the Russian Federation's Security Council, made remarks questioning Ukraine's sovereignty. Dressed in an outfit reminiscent of Stalin's, he displayed a map suggesting Ukraine's division among Poland, Romania, Hungary, and Russia.

The proposed division would reduce Ukraine to a fraction of its size, leaving only the Kyiv Oblast intact.


A sign of desperation

"Once, a Ukrainian leader asserted that Ukraine is distinct from Russia. This idea must vanish permanently. Ukraine undeniably belongs to Russia... Territories on either side of the Dnieper River are inseparable from Russia’s domain, and any division attempts are bound to fail," Medvedev inaccurately claimed, as reported by TASS, the Russian news agency.

"Medvedev's ludicrous map of Ukraine's division is a desperation act. Moscow is coming to terms with its inability to take over Ukraine and seeks partners in its wrongdoing. The European borders are inviolable," the Ministry of Foreign Affairs commented on the X platform.

Unanticipated even in Russia: "Where did this Poland come from?"

Pro-Kremlin outlets deemed the territorial concessions to Poland and Romania as "unforeseen." According to Medvedev's map, Poland would acquire lands extending to the Zhytomyr Oblast, while Romania would be granted Bukovina together with the Vinnytsia Oblast, linked by a narrow corridor.

"Romania and Poland have close ties with Great Britain, making this proposal essentially an offer to the British. Notably, these two nations are pivotal in logistical support for military supplies to Ukraine," the Russian website Pravda.ru noted. 

In a gazeta.ru interview, State Duma Defense Committee member Gen. Viktor Sobolev addressed Medvedev's proposition, clarifying that President Vladimir Putin's discourse revolved around Ukraine's full integration with Russia, not partitioning it with Poland. "

"Where did this unexpected mention of Poland come from? I resonate with the statement that unification is inevitable. Why would we relinquish anything to anyone? Our predecessors fought for these lands, including during the Great Patriotic War. It’s inconceivable to consider giving them away," the retired military figure commented, reflecting propagandistic sentiments.

Source: Belsat


Por que o Brasil cresce pouco: pela falta de investimento, o físico e o social - Rolf Kuntz (Estadão)

 Interessante artigo do Rolf Kuntz, publicado no Estadão de hoje. Aponta um problema excluído das análises dos economistas do governo e do PT : a pífia taxa de investimento – 14,7% do Produto Interno Bruto (PIB) estimada pela Fundação Getúlio Vargas para o mês de janeiro ( menor que a taxa média mensal, de 16,3%, do período iniciado em janeiro de 2015

Maurício David

Novo país, só com novo crescimento

Se quiser produzir, em seu governo, um legado relevante, o presidente Lula terá de se empenhar nestes dois investimentos, o físico e o social 

Por Rolf Kuntz 

O Estado de S. Paulo, 24/03/2024


O morticínio em Gaza, a guerra na Ucrânia e as lambanças atribuídas ao ex-presidente Jair Bolsonaro são muito mais interessantes que a pífia taxa de investimento – 14,7% do Produto Interno Bruto (PIB) – estimada para o mês de janeiro pela Fundação Getúlio Vargas (FGV). Mas os cricris da imprensa, da Faria Lima e da academia podem apontar mais um detalhe sinistro. Além de pífia, essa taxa é menor que a mísera média mensal, de 16,3%, do período iniciado em janeiro de 2015. O presidente Lula pode ter excelentes motivos, ainda mais como presidente do Grupo dos 20, para dar mais atenção àqueles assuntos do que a uns números medíocres. Ministros da área econômica talvez possam, ou devam, gastar algum tempo com essas ninharias. Mas serão, mesmo, ninharias?

O otimismo presidencial só parece ter sido afetado, nos últimos dias, pela perda de popularidade apontada por algumas pesquisas. Ele cobrou mais trabalho dos ministros, mais atenção à saúde e maior esforço de comunicação. Maior empenho pode ser uma boa ideia, principalmente se houver objetivos claros e estratégias bem definidas. Os otimistas ainda esperam esses detalhes. O presidente pode, com razão, festejar o crescimento econômico de 2,9% no ano passado, mas o horizonte está pouco claro neste momento.

Os sinais positivos observados no começo do ano ainda são pouco entusiasmantes. A recuperação da indústria permanece como um dos desafios principais. A produção industrial diminuiu 1,6% em janeiro e acumulou avanço de 0,4% em 12 meses. Mas ainda ficou 0,8% abaixo do patamar pré-pandemia (começo de 2020) e em nível 17,5% inferior ao recorde alcançado em maio de 2011. Em fevereiro novo recuo deve ter ocorrido, segundo estimativa da Confederação Nacional da Indústria (CNI). O País continua incapaz, tudo indica, de reverter a desindustrialização, mas o assunto foi pelo menos incluído na pauta do governo.

A produção deve ter aumentado 0,6% em janeiro, segundo o Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br). O Monitor do PIB, atualizado mensalmente pela FGV, indicou expansão de apenas 0,1%, liderada pela agropecuária e pelos serviços. Mas a economia rural, embora ainda vigorosa, deve crescer menos neste ano que em 2023, segundo as últimas projeções. O avanço geral será mais dependente da indústria do que vem sendo há alguns anos. Mas o setor industrial dependerá de renovação e de muito investimento para reassumir, por um período longo, o velho papel de principal motor do crescimento.

Contudo, a formação de capital produtivo na indústria e na maior parte da infraestrutura tem sido, neste século, muito limitada. Tem-se investido muito mais na modernização e na expansão produtiva do agronegócio. Também os serviços têm avançado mais que o setor industrial na expansão da capacidade e na renovação. Somadas todas as parcelas, a taxa de investimento da economia continua muito abaixo da necessária para sustentar um crescimento mais vigoroso. A média do período iniciado em 2015 foi estimada pela FGV em 16,3% do PIB. É uma taxa muito inferior, portanto, àquelas observadas no mundo emergente, com frequências superiores a 20% do PIB.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva conhece a importância da formação de capital produtivo, mas tem-se mostrado, na prática, pouco propenso a cuidar do assunto de uma forma ampla. Não se vai longe quando se concentra o esforço nos chamados “investimentos sociais” e pouco se trabalha pelos outros objetivos. Uma boa malha de transportes – para citar um exemplo fácil – pode beneficiar tanto o grande empresário rural ou industrial quanto as populações mais necessitadas.

A atenção a essas populações depende, é claro, de políticas especiais e às vezes complexas, mas um governo eficiente deve buscar ao mesmo tempo o aumento da produção e a promoção da igualdade. Importantes em todo o mundo, as políticas educacionais e de formação de mão de obra são especialmente relevantes no Brasil, assim como o saneamento e a promoção da saúde pública. O setor privado pode ter papel importante nessas tarefas, mas a responsabilidade básica e intransferível é do setor público.

Para isso é preciso gastar muito, com muita competência e com muito cuidado na fixação de objetivos, porque o dinheiro é escasso e o orçamento público é muito ruim. Recursos públicos são engessados, a gestão de pessoal é pouco flexível e a elaboração orçamentária é sujeita à apropriação de verbas para fins pessoais de parlamentares. Num país onde faltam recursos para investir em equipamentos materiais, pode ser especialmente difícil mobilizar capital e vontades para o desenvolvimento humano. Se quiser produzir, em seu governo, um legado relevante, o presidente Lula terá de se empenhar nestes dois investimentos, o físico e o social, ambos essenciais para a construção de um país mais produtivo e mais moderno em todos os sentidos. Se engajar todos os ministros nessa aventura, ainda terá de batalhar pelo apoio, muito mais difícil, de parlamentares muito raramente voltados para grandes questões nacionais.

*JORNALISTA


E por falar em Lincoln Gordon, minha homenagem a ele, no seu 90 aniversário - Paulo Roberto de Almeida

 Elogio a um Andarilho do Século XX: Homenagem ao Embaixador Lincoln Gordon em seu 90º aniversário

Paulo Roberto de Almeida

 

Nonagenários estão se tornando mais comuns em nossos dias, bem mais, é verdade, entre as mulheres do que entre os homens. Não é todavia ainda muito frequente a comemoração dos 90 anos de alguém em plena saúde física e vigor mental, sendo por isso motivo de grande satisfação participar de um evento como este, o nonagésimo aniversário do Embaixador Lincoln Gordon. Tenho não apenas o imenso prazer de estar presente neste aniversário, como sinto-me no direito de esperar que ele também possa estar presente em minha festa de 90 anos, daqui a exatamente 37 anos.

Nonagenários, eu dizia, são mais frequentes atualmente, mas eles não o eram no século que atravessou, e ao qual sobreviveu, o professor e diplomata Lincoln Gordon. O “breve século XX” – no dizer de Eric Hobsbawm, pois começou apenas em 1914 e já tinha terminado em 1989 – foi também, para todos os efeitos humanos, um dos mais mortíferos e destruidores de toda a história da civilização humana sobre este planeta. Algumas dezenas de milhões de indivíduos – e também espécies animais, não esqueçamos, assim como cidades inteiras – foram eliminados da face da terra pelas máquinas mortíferas criadas pelo homem: canhões, armas químicas e nucleares, ou então simples machetes foram usados para eliminar “excedentes demográficos”, substituindo-se às igualmente devastadoras epidemias naturais, hoje menos comuns do que nos séculos precedentes.

O embaixador Lincoln Gordon, um andarilho de quase todo o século XX, foi portanto um sobrevivente, algo mais fácil de ser, sendo americano, do que se tivesse nascido em alguma outra região, não apenas nos continentes do hemisfério meridional, mas igualmente do outro lado do Atlântico. Apenas para ficar nas hecatombes e processos destruidores mais “eficientes” deste breve século XX, vamos listar de maneira algo impressionista os eventos e catástrofes a que sobreviveu o nosso personagem. 

Tendo se atrasado por um ano para o naufrágio do Titanic (1912), o evento que simbolizou durante tanto tempo – de certa forma até hoje – a impotência humana em face de certos fenômenos naturais, o Embaixador Lincoln Gordon conseguiu também escapar incólume de muitos desastres provocados pela mão do homem (ou sobreviveu, no sentido positivo, a outros tantos eventos políticos e sociais). Minha lista pessoal comportaria os seguintes fatos e processos a que sobreviveu ou dos quais escapou Lincoln Gordon:

 

1)    à Primeira Guerra Mundial;

2)    aos dez dias que abalaram o mundo e ao nascimento do sistema soviético;

3)    à gripe espanhola e à NEP leninista;

4)    ao tratado de Versalhes e suas consequências econômicas;

5)    a proibição do álcool nos Estados Unidos;

6)    às consequências econômicas dos senhores Churchill, Coolidge e Hoover;

7)    à crise de 1929 e à estupidez protecionista da Tarifa Hawley-Smoth;

8)    a estudos em Harvard, em Oxford e a uma Europa em processo de nazificação;

9)    ao fim do padrão-ouro e à teoria geral da intervenção dos governos na economia;

10) ao filme “Gone with the Wind” e a J. Edgar Hoover;

11) a Pearl Harbor, a uma grande guerra quente e à toda a Guerra Fria;

12) ao nascimento, crise e fim posterior do sistema de Bretton-Woods;

13) ao macartismo de MacCarthy e ao existencialismo de Jean-Paul Sartre;

14) aos coquetéis da vida diplomática e à Aliança para o Progresso;

15) à crise dos foguetes em Cuba e aos longos discursos de Fidel;

16) aos discursos do Brizola, à inflação brasileira e à morte de John Kennedy; 

17) à Revolução Cultural Chinesa e ao debate estruturalismo versus monetarismo;

18) a Woodstock, a Richard Milhous Nixon e a vários aumentos e quedas do dólar;

19) aos ecologistas anti-econômicos e aos politicamente corretos de modo geral;

20) ao sistema DOS e depois ao Windows, inventados por Bill Gates;

21) à queda do muro do Berlim e ao desaparecimento do sistema soviético; 

22) ao fim das ideologias, à morte das religiões e ao fim da História;

23) a dois choques do petróleo, a dois ou três blackouts e a muitas crises financeiras; 

24) a novos e repetidos discursos do Brizola e à transformação do PT em partido socialdemocrata e,

25) finalmente, como que provando que a evolução intelectual não segue uma linha reta nem é irreversível, ele tem sobrevivido, mais ou menos bem, ao imenso arsenal de globobagens dos atuais anti-globalizadores, ludditas de uma nova era e arautos de uma volta a tempos que nunca existiram.

 

Por tudo isso, e ainda por muitos eventos mais, que falhamos em registrar aqui, podemos ver no embaixador Lincoln Gordon um sobrevivente do século 20, mas também um jovem andarilho do século 21, como todos nós aliás. Comparando sua vida com a de muitos outros seres humanos, dentre os mais de 3 bilhões de habitantes deste planeta, ele pode se considerar como um verdadeiro felizardo, pois que finalmente produziu um rico legado de realizações intelectuais e práticas que enriqueceu esta mesma humanidade.

Mas para enriquecer ainda um pouco mais a parte de felicidade de seus muitos amigos e admiradores, ele precisaria avançar e terminar, o quanto antes, o seu projeto de depoimento pessoal para a história. Nele teremos um quadro das ideias, dos principais eventos e das realizações concretas que formulou, a que assistiu, ou de que participou, ao longo de uma longa vida rica de experiências marcantes nos campos político, econômico, diplomático e intelectual.

Portanto, ele não está autorizado a se aposentar antes de terminar a redação de suas memórias do século passado, bem como suas reflexões para este nosso século, como testemunha e pensador que foi, e ainda é, de um mundo em transformação.

Longa vida ao embaixador Lincoln Gordon!

 

Paulo Roberto de Almeida

Washington, 7 de setembro de 2003

Texto entregue com um presente (livro de Peter Watson, The Modern Mind) ao Emb. Lincoln Gordon em almoço com Paulo Sotero e John Williamson no National Press Club, dia 9/09/2003.

 

 

Dois diplomatas americanos tiveram papel relevante em 1964: Thomas Mann e Lincoln Gordon - Elio Gaspari (FSP, O Globo)

Antes de transcrever o artigo abaixo, de Elio Gaspari, agradecendo a Maurício David a gentileza da transcrição, permito-me indicar que convivi com Lincoln Gordon, durante minha estada na embaixada em Washington (1999-2003), incentivando-o a publicar um livro sobre o Brasil. Quando saiu, providenciei uma edição brasileira, mas cobrando um capítulo extra sobre o golpe de 1964. Ele o fez. Está aqui a ficha do livro, do qual fiz primeiro uma resenha da edição americana, depois a da edição brasileira: 

788. “Mr. Gordon e o Brazil”, Washington, 3 mai. 2001, 5 p. Resenha do livro de Lincoln Gordon: Brazil’s Second Chance: En Route toward the First World (Washington, D.C.: Brookings Institution Press, 2001). Publicado na Revista Eletrônica de História do Brasil, Dep. de História e Arquivo Histórico da Universidade Federal de Juiz de Fora, v. 4, n. 2, jul/dez. 2000.  Divulgado no blog Diplomatizzando (17/04/2021; link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2021/04/lincoln-gordon-o-embaixador-do-golpe.html).


894. “Mr. Gordon e o Brazil”, Washington, 22 abr. 2002, 8 p. Apresentação à edição brasileira do livro de Lincoln Gordon: Brazil’s Second Chance: En Route toward the First World (Washington, D.C.: Brookings Institution Press, 2001, xviii+243 p.; ISBN 0-8157-0032-6); A Segunda Chance do Brasil: a caminho do Primeiro Mundo (São Paulo: Editora Senac, 2002). Divulgado no blog Diplomatizzando (17/04/2021; link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2021/04/lincoln-gordon-o-embaixador-do-golpe.html). Relação de Publicados n. 384. 


 Duas dicas de leitura : "Lincoln Gordon", de Bruce Smith e "Thomas C. Mann", de Thomas Allcock (ambos podem ser encomendados pela internet, via a Amazon Books)

Via Maurício David: 

Elio Gaspari ( O Globo e Folha de São Paulo, domingo 24 de março de 2004)

Jornalista, autor de cinco volumes sobre a história do regime militar, entre eles "A Ditadura Encurralada

 

Dois diplomatas americanos tiveram papel relevante em 1964 

Thomas Mann foi um conservador resolvido e Lincoln Gordon, um liberal atormentado 

Os 60 anos da deposição do presidente João Goulart são um bom pretexto para lembrar de dois diplomatas americanos que tiveram papel relevante naqueles dias.

Um é Lincoln Gordon, o professor de Harvard que o presidente John Kennedy mandou para o Brasil em 1961 como seu embaixador. Falava muito, sempre. Adquiriu tamanha proeminência que o jornalista Otto Lara Resende propôs: "Chega de intermediários, Gordon para presidente".

O outro é Thomas C. Mann, ex-embaixador no México e secretário de Estado adjunto a partir de dezembro de 1963. Esteve em todas: na armação do golpe que derrubou o presidente da Guatemala em 1954, foi uma das molas do desembarque de tropas americanas na República Dominicana, em 1965, e deixou digitais nos golpes do Brasil e da Bolívia. Atribui-se a ele o que seria a doutrina Mann de apoio a governos militares na América Latina. Falava pouco.

Mann era um texano conservador e resolvido. Os liberais detestavam-no e a recíproca era verdadeira. Gordon era um liberal atormentado e os dias de 1964 fizeram dele uma figura trágica. Morreu em 2009, aos 96 anos, repetindo que, ao colaborar com a queda de Jango, não preconizava a ditadura. De fato, condenou-a, mas ninguém o ouvia.

Na sua cerimônia fúnebre, a filha Anne lembrou: "Apesar de ter sido um democrata progressista que apoiou o New Deal de Franklin Roosevelt, (....) na minha opinião seu antagonismo diante dos movimentos reformistas de esquerda foi imediatista e acabou prejudicando o povo da região".

Gordon, o liberal trágico

Gordon saiu da cepa de liberais da Costa Leste dos Estados Unidos. Seu nome completo era Abraham Lincoln Gordon, marca da origem judaica da família de imigrantes russos. Aluno brilhante de Harvard, ganhou bolsas para temporadas na Europa. Em 1941, com a entrada dos Estados Unidos na guerra, colaborou na adoção de um novo veículo militar, o jipe.

Terminada a guerra, Gordon esteve no coração do Plano Marshall, que ajudaria a recuperação econômica da Europa. Era o maior time de craques que a elite americana produziu. Todos bem-educados, autoconfiantes e liberais.

Em 1961, eles voltaram ao poder com o presidente John Kennedy, e Gordon ganhou embaixada no Brasil. Com a memória do Plano Marshall, ele ajudou a conceber a Aliança para o Progresso, um programa de ajuda a reformas sociais na América Latina. Elas seriam uma resposta ao fascínio gerado pela revolução cubana do guerrilheiro Fidel Castro.

Ia tudo muito bem, até que Gordon passou a desconfiar do presidente João Goulart. Temia que Jango marchasse para a esquerda e para um golpe.

No dia 30 de julho de 1962, quando o presidente Kennedy começou a operar o grampo das conversas em sua sala de trabalho, Gordon foi a primeira vítima. Pediu que fosse reforçada sua equipe militar e recomendou que se jogassem alguns milhões de dólares para influenciar as eleições brasileiras.

Nessa conversa de meia hora, pela primeira vez, falou-se na deposição de Jango. Ela veio de Richard Goodwin, jovem assessor de Kennedy: "É bem provável que tenhamos de pedir a eles [os militares brasileiros] que tomem o poder lá pelo fim do ano".

O tema não prosperou, mas Gordon alarmava-se com Jango. Em agosto de 1963, Thomas Hughes, o diretor de pesquisas do Departamento de Estado, condenou seu alarmismo, sustentando que Goulart era um reformista.

Em outubro, o Brasil caiu de novo na roda e Kennedy levantou a possibilidade de uma ação direta dos Estados Unidos, mas Gordon a descartou. Contudo, dias depois, o embaixador pediu um plano de contingência militar para o Brasil. Ele resultaria mais tarde na Operação Brother Sam. Incluiu o porta-aviões Forrestal e petroleiros, sem tropa de desembarque. Tratava-se de "mostrar a bandeira", mas não foi necessário, e o Forrestal voltou para o alto mar no dia 3 de abril. 

Jango, seu dispositivo militar e suas bases sindicais ruíram como um castelo de cartas.

Gordon sustentou por décadas que chegou à embaixada pouco depois das 9h do dia 31 de março, sem saber do levante do general Mourão Filho. Vá lá.

Quatro dias antes, ele pediu que a frota fosse colocada de prontidão porque Jango radicalizava e, "se ele for bem-sucedido, é mais do que provável que o Brasil caia sob pleno controle comunista".

Um telegrama da CIA, do dia 30 de março, avisou que o golpe viria nos próximos dias. À noite, o secretário de Estado, Dean Rusk, avisou ao presidente Lyndon Johnson, que estava no Texas:

"Tive uma reunião com Tom Mann e um grupo daqui, incluindo a CIA (Agência Central de Inteligência), sobre a situação brasileira. A crise vai chegar ao auge nos próximos um ou dois dias, talvez até mesmo de hoje para amanhã."

Pouco depois, Johnson avisou ao secretário de imprensa que deveriam voltar para Washington.

Thomas Mann, o conservador resolvido

Tom Mann, um texano de Laredo, tinha 52 anos. Era o embaixador no México no dia 22 de novembro de 1963, quando o presidente John Kennedy foi assassinado e assumiu o vice Lyndon Johnson, também texano e seu amigo.

Johnson resolveu colocá-lo na chefia da diplomacia americana para a América Latina. Essa escolha marcou o primeiro racha com a equipe deixada por Kennedy. Tentaram barrá-lo, em vão.

Quando os militares brasileiros se rebelaram, o governo de Johnson abriu a pasta e seguiu o roteiro pedido por Gordon e deixado por Kennedy.

Mann fez isso com fé. Em março ele já havia reunido os embaixadores americanos da região, dizendo-lhes que deviam parar de maltratar os militares, pois as prioridades da Casa Branca deviam ser a defesa do patrimônio das empresas americanas e o combate ao comunismo. Mann já havia dito a Johnson que Jango era "um irresponsável".

Às 11h46 do dia 31 de março, a pouca tropa do general Mourão Filho continuava no quartel e ele se preparava para almoçar e dormir a sesta. Em Washington, Dean Rusk discutia com Mann o apoio americano e a formação de uma equipe para trabalhar num apoio de emergência ao Brasil depois do golpe.

Com Jango deposto, Mann ligou para Johnson: "Espero que o senhor esteja tão feliz como eu a respeito do Brasil".

"Estou", respondeu o presidente. "Eu acho que foi a coisa mais importante que aconteceu no hemisfério em três anos", acrescentou Mann.

Em tempo: Johnson nunca acreditou que Lee Oswald tivesse sido o assassino solitário de Kennedy. Em pelo menos duas ocasiões, disse que "ele tentou pegar Fidel e Fidel pegou-o".

Em novembro de 1963, Mann era o embaixador no México, por onde Oswald havia passado, tentando conseguir um visto para Havana. Ele acreditava na conexão cubana e incentivou a investigação, até que o Departamento de Estado disse-lhe que abandonasse o caso: "Foi a experiência mais estranha da minha vida", disse a um senador que era grande amigo de Johnson, havia sido membro da comissão que investigara o crime e também não acreditava no atirador solitário.

Serviço: Estão na rede, em inglês, dois livros. Um, rico, com a vida de Gordon, e outro sobre um aspecto lateral de Mann. Um é "Lincoln Gordon", de Bruce Smith, e o outro é "Thomas C. Mann", de Thomas Allcock.


Putin e os gays terroristas - Lourival Sant'Ana (Estadão)

Putin cobra caro em seu papel de herói 

Lourival Sant’Ana

O Estado de S. Paulo, 24/03/2024

 

O atentado contra o principal centro de convenções de Moscou, na sexta-feira, coincidiu com a inclusão, pelo governo russo, dos defensores dos direitos dos homossexuais na lista de terroristas.

Os sacrifícios dos russos sob a autocracia de Vladimir Putin se agravam e, paradoxalmente, sua dependência dele.

Ao menos 133 pessoas morreram.

O Estado Islâmico Khorasan (Isis-K), filial do grupo no Afeganistão, reivindicou a autoria. A mídia estatal russa anunciou que os quatro suspeitos são do Tajiquistão, ex-república soviética de maioria muçulmana.

Em discurso à nação, Putin afirmou que os quatro autores do atentado foram detidos.

"Eles tentaram se esconder e se deslocaram rumo à Ucrânia, onde, de acordo com dados preliminares, uma janela estava preparada para eles do lado ucraniano para cruzarem a fronteira." Prevendo que o Kremlin tentaria envolvê-lo, o governo ucraniano negou participação logo depois do atentado. A Ucrânia tem feito ataques com mísseis e drones aéreos e marítimos contra alvos russos.

Milícias russas contrárias ao regime atacam áreas na Rússia.

São ações militares convencionais, não terroristas.

Em contrapartida, o Isis-K atacou a Embaixada da Rússia em Cabul, em 2022, e distribui propaganda antirrussa no Afeganistão.

O apoio militar russo à ditadura de Bashar Assad foi decisivo para a derrota do Estado Islâmico na Síria. No dia 7, o FSB, serviço secreto russo, anunciou ter prevenido um ataque de uma célula do EI contra uma sinagoga em Moscou.

Os 24 anos de Putin no poder são marcados pelo uso político do terrorismo. Em setembro de 1999, explosões em quatro prédios residenciais nas cidades de Moscou, Buynaksk e Volgodonska deixaram 307 mortos e mil feridos. O quinto atentado, em Ryazan, foi frustrado: um casal foi flagrado de madrugada por um morador colocando sacos de explosivos no porão do prédio.

A polícia constatou que os explosivos, detonadores, e sua instalação no porão seguiam o padrão dos outros atentados.

A testemunha anotou a placa do carro. O casal e o motorista foram detidos e identificados como agentes do FSB. O caso foi abafado.

Na época, Putin era primeiro-ministro, depois de ter sido diretor do FSB e secretário do Conselho de Segurança, no governo de Boris Yeltsin. Putin atribuiu os atentados a separatistas da Chechênia, república russa de maioria muçulmana.

Centenas de chechenos foram presos sem provas.

Putin lançou a segunda guerra da Chechênia, tornou-se herói nacional e se elegeu presidente em março de 2000, em eleição antecipada pela renúncia de Yeltsin. A Chechênia foi arrasada pelas Forças Armadas russas, que pela lei não poderiam atuar dentro da Rússia.

As táticas seriam repetidas em Geórgia, Síria e Ucrânia.


Em 2002, 40 terroristas chechenos invadiram um teatro de Moscou durante a apresentação de um musical, tomaram 850 reféns e plantaram bombas no local. Eles exigiam a retirada das forças russas da Chechênia.

Voluntários foram ao local negociar com os terroristas. O diálogo foi interrompido no quarto dia pela invasão de agentes russos. Eles injetaram gás nervoso no sistema de ventilação do teatro, mataram os terroristas e 132 reféns.

Em 2004, separatistas chechenos invadiram uma escola em Beslan, tomando 1.100 reféns.

No segundo dia, houve uma explosão, seguida da invasão de forças russas. A intervenção deixou 334 mortos, dos quais 186 crianças, além de 31 terroristas.


Esses e outros episódios foram utilizados para convencer os russos de que estão sob ameaça de inimigos desumanos, e só Putin pode protegê-los. A mesma estratégia é usada em relação à homossexualidade.

Em 2011, milhares de russos foram às ruas depois de constatarem que Putin não deixaria o poder. Ele se aliou à Igreja Ortodoxa e passou a perseguir os homossexuais e transgêneros, impedidos de casar, adotar filhos ou mudar de sexo.

Em seu discurso ao Parlamento em fevereiro de 2023, um ano depois de invadir a Ucrânia, Putin afirmou: 

"O Ocidente não para de distorcer fatos históricos, atacar a cultura e a Igreja Ortodoxa russas. O Ocidente está pervertendo a família, a identidade nacional. Estão tornando a pedofilia a norma em sua vida. Padres incentivam casamentos do mesmo sexo.

A Igreja Anglicana estuda a ideia de um Deus de gênero neutro. Perdoem, Pai, eles não sabem o que fazem"
.

Diante das mortes na Ucrânia, dos retrocessos e do terrorismo, boa parte dos russos se torna mais leal a Putin. A alternativa seria concluir que a dor é em vão. Isso a tornaria insuportável.



É COLUNISTA DO ESTADÃO E ANALISTA DE ASSUNTOS INTERNACIONAIS


Putin e a decadência do Ocidente: ele tem um problema com os gays

Não sei se o pessoal putinesco concorda com estas quatro frases do personagem mais antiamericano do momento:

 

"O Ocidente não para de distorcer fatos históricos, atacar a cultura e a Igreja Ortodoxa russas. O Ocidente está pervertendo a família, a identidade nacional. Estão tornando a pedofilia a norma em sua vida. Padres incentivam casamentos do mesmo sexo.”

 

Putin, em seu discurso ao Parlamento em fevereiro de 2023, um ano depois de invadir a Ucrânia.


Brésil. Couleurs de peau, autochtones et quilombolas dans le recensement - Hervé Théry (Diploweb)

Pour les cartes et photos, voir l'article dans sa source: 

https://www.diploweb.com/Bresil-Couleurs-de-peau-autochtones-et-quilombolas-dans-le-recensement.html?utm_source=brevo&utm_campaign=Gopolitique%20du%20Brsil%20Comprendre%20le%20cyber%20Comment%20procder%20%20une%20analyse%20gopolitique%20&utm_medium=email

Brésil. Couleurs de peau, autochtones et quilombolas dans le recensement

Par Hervé THERY, DiploWeb, le 23 mars 2024  Imprimer l'article  lecture optimisée  Télécharger l'article au format PDF

Hervé Théry, Directeur de recherche émérite au CNRS-Creda. Professeur à l’Universidade de São Paulo (USP-PPGH). Auteur de nombreux ouvrages. Co-directeur de la revue en ligne « Confins ». Membre du Conseil scientifique du Diploweb.com. hthery@aol.com

Les données fournies par le recensement devraient permettre de mieux connaître ce pays fascinant et d’en corriger – peut-être – les abyssales inégalités. Il met notamment à jour les communautés quilombos formées à l’origine par des esclaves échappés des plantations. Démonstration à partir de 4 cartes et 3 photographies d’Hervé Théry.

Le recensement de 2022 dont l’IBGE (Institut brésilien de géographie et de statistique) a commencé à publier les résultats apporte des éléments précis sur plusieurs catégories sociales jusque-là négligées, les autochtones et les quilombolas. Il permet aussi d’analyser la composition de la population par « couleur de peau / race », pour reprendre sa terminologie. Cette dénomination qui peut paraître choquante – non sans raison – en France ne semble pas poser de "problèmes" au Brésil. Elle figure dans les recensements depuis celui 1940 – chacun/e déclare la catégorie où il/elle souhaite figurer – et est même approuvée par les militants des mouvements de défense des Noirs et des Métis qui réclament – et obtiennent – des « quotas raciaux », notamment dans les universités.

LORS Lors du lancement de son nouveau recensement démographique brésilien (2022), le président par intérim de l’IBGE (Institut brésilien de géographie et de statistique) Cimar Azeredo, avait souligné qu’avec ces données, l’Institut remplissait sa mission, faire un portrait exact du Brésil, en particulier en incluant pour la première fois une analyse des quilombolas, les habitants des quilombos, ces communautés formées à l’origine par des esclaves échappés des plantations [1].

Selon lui, grâce à cette analyse, les politiques publiques pourraient désormais être élaborées sur de bonnes bases : « Aujourd’hui, nous avons mis les quilombolas sur la carte, et nous allons y mettre aussi les indigènes et les habitants des bidonvilles. C’est un point important, car ce sont les populations qui ont le plus besoin de ces statistiques, nous devons savoir de combien d’écoles, de combien de centres de santé ces populations ont besoin. Nous avons vu des quilombolas s’identifier et se reconnaître dans le recensement de 2022. L’IBGE en est très fier », avait déclaré M. Azeredo.

Les cartes ci-dessous ont été élaborées à partir de ces données et sont accompagnées de brefs commentaires basés en partie sur les informations fournies par l’IBGE lors de la publication de chaque série de données. Une analyse plus complète a été publiée – en portugais – dans notre revue franco-brésilienne Confins [2]. Nous avons choisi de traiter ici les données sur les couleurs de peau, les peuples autochtones (naguère appelés « Indiens ») et les quilombolas.

Population par couleur de peau

Avec la cinquième livraison de données [3], l’IBGE a rendu publiques des informations qui permettent de connaître l’appartenance ethnique des habitants, en tenant compte de deux principes directeurs. La catégorisation de la couleur ou de la « race » est historiquement étudiée depuis le recensement démographique de 1991, lors du recensement on demande aux personnes interrogées à quelle catégories ils s’identifient, en leur donnant de choix entre cinq possibilités : blanc, noir, jaune, brun et indigène. Ce qui est nouveau, c’est l’adoption, pour la première fois, de méthodologies visant à comprendre les différents aspects de la perception personnelle de ces catégories, divers critères d’appartenance identitaire peuvent être utilisés pour cette classification (origine familiale, couleur de la peau, traits physiques, ethnicité, entre autres).

Les statistiques fournies, disponibles aux échelles du Brésil entier, des grandes régions, des unités de la fédération (États) et des communes, sont les suivantes : population résidente pour chaque catégorie et part relative respective dans la population résidente totale, sexe, groupes d’âge, âge médian et indice de vieillissement. Dans une approche complémentaire, la publication fournit également un aperçu de la part de chacune des cinq catégories considérées dans la population de l’Amazonie.

Selon ces données un peu plus de 92,1 millions de personnes se déclaraient métisses (pardos), soit 45,3 % de la population du pays. Depuis 1991, ce contingent n’avait pas dépassé la population blanche, qui est cette fois de 88,2 millions (soit 43,5 % de la population du pays). Quelques 20,6 millions de personnes se déclarent noires (pretos, 10,2 %), 1,7 million indigènes (indígenas, 0,8 %) et 850 100 « jaunes » (amarelos, 0,4 %).

Photo 1 – Brésil. Enfants dans une crêche à Luziânia (Goiás)
@Hervé Théry, 2003

La carte 1 ci-dessous est construite en traçant, dans chacune des « régions immédiates » [4] définies par l’IBGE, des cercles proportionnels au nombre de personnes de chacune des catégories de couleur de peau, auxquels est affectée une gamme chromatique d’autant plus sombre que leur proportion dans la population totale est élevée. Le groupe le plus nombreux, celui des métis (pardos), prédomine dans le Nord amazonien, le Nordeste et le Centre-Ouest. Il est moins présent dans le Sudeste, notamment dans les deux grandes métropoles, São Paulo et Rio de Janeiro, et franchement minoritaire dans les deux États du Sud. Le deuxième en effectif, celui des blancs (brancos) est au contraire massivement présent en nombre et en proportion dans les trois États du Sud et de São Paulo. La part des personnes qui déclarent être noires (pretos) est forte à Salvador et dans les État de Bahia, du Maranhão, de Rio de Janeiro et du Minas Gerais, mais très limitée ailleurs.

Enfin pour les deux dernières catégories, les « jaunes » (amarelos, c’est-à-dire les Brésiliens d’origine asiatique) et les indigènes (indígenas) il a fallu adopter une autre échelle pour la représentation des cercles proportionnels car ce sont des catégories très peu nombreuses : la carte ainsi modifiée montre que les premiers sont surtout présents dans l’État de São Paulo et le nord du Paraná (où leurs parents ou grands-parents ont été amenés jadis pour la culture du café) et les seconds dans l’extrême nord-ouest amazonien et dans quelques autres États avec des effectifs – et surtout une proportion – bien moindre.

Carte 1 Brésil. Population par couleur de peau

Si l’on synthétise cette distribution des groupes de couleurs de peau par une typologie, issue d’une classification ascendante hiérarchique-CAH (carte 2), on observe que dans la plus grande partie du territoire national ce sont les métis qui ont la plus forte présence alors que dans le Sud ce sont les blancs. Les autres catégories ne sont significativement présentes que dans un petit nombre de régions, certaines parties du Nordeste pour les noirs, une partie de São Paulo pour les « jaunes » et la très haute Amazonie pour les indigènes. Dans les trois cas existent quelques exceptions, liées à des migrations vers des régions de production tout à fait particulières (comme les cultures irriguées ou le poivre pour les colons d’origine japonaise) ou vers des zones de refuge (comme les quilombos dans l’intérieur du Nordeste).

Carte 2. Brésil. Typologie des couleurs de peau

Peuples autochtones du Brésil

Dans cette édition du recensement, l’IBGE a cherché des informations qui lui permettraient de mieux connaître la population « indigène » (selon sa terminologie) et sa répartition à l’intérieur et à l’extérieur des « terres indigènes » [5]. À cette fin, il a établi des partenariats avec divers organismes et ONGs, a eu le soutien des communautés indigènes et a bénéficié de l’accompagnement de diverses organisations représentatives, notamment l’Articulation des Peuples Indigènes du Brésil (APIB), « garantissant le droit à une consultation libre, préalable et informée à tous les stades de l’opération ».

Cette publication met à jour les statistiques précédemment disponibles, organisées en grands thèmes : population autochtone résidente et sa proportion par rapport à la population résidente totale, total des domiciles occupés par au moins un résident autochtone, nombre de résidents (total et autochtone), nombre moyen de résidents par domicile (total et autochtone), et pourcentage de résidents autochtones par rapport au nombre total de résidents dans ces ménages.

Les résultats ont été annoncés lors d’un événement organisé à la Casa do Olodum, située sur la place du Pelourinho [6], à Salvador. La cérémonie s’est déroulée en présence de représentants des principaux partenaires de l’Institut, tels que le Fonds des Nations unies pour la population (FNUAP), les ministères de l’égalité raciale, de la planification et des peuples indigènes, Olodum [7], le secrétariat du gouvernement de l’État de Bahia pour la promotion de l’égalité raciale et des peuples et communautés traditionnels (Sepromi), parmi d’autres institutions.

Photo 2 – Brésil. Danse autour de la parabole dans un village Kaiapô (Pará)
@Hervé Théry, 2001

Selon l’IBGE, la population indigène du pays s’élevait à en 2022 à 1 693 535 personnes, ce qui représente 0,83 % de la population totale du pays, dont un peu plus de la moitié (51,2 %) était concentrée en Amazonie. En 2010, lors du précédent recensement, 896 917 indigènes avaient été recensés dans le pays : il y a donc eu une augmentation – apparente - de 88,82 % en 12 ans.

Selon Marta Antunes, chef du projet « Peuples et communautés traditionnelles » de l’IBGE, l’augmentation du nombre d’indigènes entre les deux recensements s’explique principalement par les changements méthodologiques apportés pour améliorer la prise en compte de cette population. « Nous avons élargi la question " vous considérez-vous comme autochtone ? », explique-t-elle. Lors du précédent recensement démographique, la question sur leur couleur ou « race » a été posée à toutes les habitants du pays. Cependant, la question « vous considérez-vous comme indigène ? » n’était posée qu’aux personnes résidant dans des « terres indigènes » officiellement délimitées par la FUNAI et se déclarant blanches, noires, métis ou jaunes. En 2022, cette question a été étendue à d’autres localités indigènes, qui comprennent, outre les territoires officiellement délimités [8], les « groupements indigènes » identifiés par l’IBGE et d’autres « localités indigènes », où existe une présence avérée ou potentielle d’indigènes.

C’est donc ce changement de méthodologie qui explique largement le quasi-doublement du nombre des autochtones comptabilisés par le recensement, et cela met en lumière le fait qu’en ne comptant que ceux qui étaient présents dans les « terres indigènes », on rendait invisibles les personnes qui, tout en se considérant encore comme des « indigènes », avaient choisi de quitter ces réserves et de migrer vers des régions où la plupart des habitants font partie d’autres groupes.

La carte 3 ci-après met en regard les demi-cercles rouges de ceux qui habitent dans les terres indigènes et les demi-cercles bleus de ceux qui ont choisi de s’installer ailleurs. En Amazonie ils ont rejoint les communes les plus peuplées de la vallée de l’Amazone et de ses principaux affluents, dans le Nordeste ils sont beaucoup plus nombreux à habiter sur le littoral que dans les rares réserves qui leur restent. Ce n’est que sur un axe sud-ouest/nord-est qu’ils ont massivement choisi de rester dans les terres indigènes, sauf dans le Mato Grosso do Sul, où certains ont dû migrer vers les villes à cause de l’étroitesse des terres qui leur ont été laissées.

D’autres cartes [9], consacrée aux habitants non indigènes habitant dans les terres indigènes, montre qu’ils sont présents presque partout dans le pays avec des proportions élevées dans le Nordeste et sur les fronts pionniers du Pará. Une autre associe la répartition des personnes qui se considèrent comme indigènes mais qui résident hors des terres indigènes, dont la distribution correspond d’assez près à la hiérarchie urbaine brésilienne, avec une prédominance de ses principales métropoles, en haute Amazonie, secondairement dans le centre du Maranhão et quelques parties du Mato Grosso et du Mato Grosso do Sul.

Carte 3. Brésil. Population autochtone, à l’intérieur et à l’extérieur des « terres indigènes »

Quilombolas

Dans cette édition du recensement, l’IBGE a également étudié pour la première fois la population quilombola [10] et ses caractéristiques démographiques, géographiques et socio-économiques. Pour ce faire, il a établi des partenariats avec divers organismes et ONGs, avec le soutien des leaders communautaires et a bénéficié de l’accompagnement permanent de la Coordination nationale pour l’articulation des communautés rurales noires quilombolas (Conaq). Cette enquête sans précédent a été saluée comme une reconquête historique par les autorités et surtout par les différents leaders de quilombos présents lors de l’événement de lancement, qui a réuni plus de 120 personnes dans l’auditorium du siège de l’Institut National de la Colonisation et de la Réforme Agraire (INCRA) à Brasilia.

Photo 3 – Brésil. Quilombo dans le Vale do Ribeira (São Paulo)
@Hervé Théry, 2007

L’information selon laquelle le pays compte 1 327 802 quilombolas, soit 0,65 % de la population totale, a été soulignée dans la presse nationale et même à l’étranger, avec des articles publiés par le journal britannique The Guardian et la BBC.

Ci-après, la carte 4, qui situe ces populations quilombolasfait bien apparaître les zones ou des esclaves fuyant les principales régions de plantation avaient pu trouver refuge en s’enfonçant vers l’intérieur du pays : vers la pré-Amazonie du Maranhão, vers l’intérieur du Pará, ou l’extrême sud de l’État de São Paulo (Vale do Ribeira). Le groupe le plus remarquable est toutefois celui qui dessine deux axes nord-est/sud-ouest au long du littoral et dans le centre de l’État de Bahia, avec des prolongements du nord au sud du Minas Gerais et vers le Goiás-Tocantins : cette configuration est tout à fait inédite et méritera des recherches particulières quand d’autres données du recensement auront été rendues disponibles par l’IBGE.


Carte 4 Brésil. Population de Quilombolas

En tout cas la déclaration de Cimar Azeredo, citée en introduction, contraste très fortement avec celle qui avait été faite par Jair Bolsonaro lorsqu’il était candidat à la présidence de la République : il avait alors proféré des attaques racistes contre les Noirs lors d’une conférence au Club Hébraïque de Rio de Janeiro et déclaré que, s’il était élu, il avait l’intention de mettre fin à toutes les réserves foncières pour les peuples indigènes et les quilombolas. « Je suis allé dans un quilombo. L’afro-descendant le plus léger pesait sept arrobas [11]. Ils ne font rien. Je ne pense qu’ils ne sont même plus capables de procréer » [12].

Décidément le contexte politique brésilien a bien changé et les données fournies par ce recensement devraient permettre de connaître mieux ce pays fascinant et d’en corriger – peut-être – les abyssales inégalités.

Copyright Mars 2024-Théry/Diploweb.com

[1Le mot quilombo vient de la langue bantoue et fait référence au « guerrier de la forêt".

[4Plus petites que les « régions intermédiaires », elles ont respectivement remplacé les « microrégions » et les « mésorégions »

[6Littéralement du « petit pilori » car c’est là, dit-on, que les esclaves étaient punis. Elle est inscrite par l’UNESCO au patrimoine mondial de l’Humanité sous la dénomination « Centre historique de Salvador de Bahia ».

[7Groupe culturel brésilien de la communauté noire de Salvador, fondée en 1979 par un groupe d’habitants du quartier de Pelourinho dans le but de participer au Carnaval. Son principal objectif est la lutte contre le racisme, la promotion et le soutien à la communauté afro-brésilienne.

[8Fondation nationale de l’Indien, l’organisme chargé de la protection des autochntones.

[9Consultables sur un billet du carnet de recherche Braises, « Premières images du recensement brésilien de 2022 », https://braises.hypotheses.org/2096 .

[10NDLR : Comme cela a été précédemment défini, la population quilombola rassemble des communautés formées à l’origine par des esclaves échappés des plantations.

[11L’arroba (de l’arabe ar-rub, la quatrième partie) équivalait à l’origine au quart d’un quintal, soit 25 livres (environ 12 kg). Avec l’introduction du système international d’unités, l’arroba a perdu une grande partie de sa fonction, mais elle n’a pas cessé d’exister ; au Brésil, elle est toujours utilisée pour mesurer le poids des bovins et des porcs. Son symbole @ est aujourd’hui largement utilisé en informatique pour indiquer l’emplacement des adresses électroniques.