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domingo, 2 de agosto de 2009
1256) Dez motivos para ser contra as cotas raciais
Transcrevo, porém, porque, como ele, também sou contra, absoluta e explicitamente, as cotas raciais, instrumento de criação de um apartheid no Brasil, por princípio e também por uma série de argumentos que se confundem, mas apenas em parte, com aqueles alinhados abaixo.
Sou contra, especificamente, esta frase, em forma de interrogação, do autor: "Você faria uma cirurgia com um médico cotista?"
Não creio que um médico, após cinco ou mais anos de estudo de medicina, supondo-se que tenha tido um desempenho médio igual ou similar aos dos seus colegas não-cotistas e tenha sido avaliado da mesma forma, sem complacências, venha a ter um desempenho, como profissional, muito inferior aos dos citados colegas não-cotistas. Qualquer pessoa é capaz de aprender, desde que lhe seja dada oportunidade para tal. O que objeto é ao princípio mesmo do ingresso em qualquer curso, concurso ou profissão que não seja por mérito aferido abertamente, de maneira absolutamente democrática.
Teria várias outras considerações a fazer a propósito desta questão, mas remeto a oportunidade ulterior, passando-se agora à leitura desta "petição" contra as cotas.
PRA, 2.08.2009
Dez motivos para ser contra as cotas raciais
Bernardo Lewgoy, Sociólogo
Site do Instituto Millenium, 31/07/2009
1. Cotas raciais sempre dividem negativamente as sociedades onde são implantadas, gerando o ódio racial e o ressentimento das pessoas que não entraram na Universidade, apesar de terem obtido nota maior ou igual do que os cotistas nas provas de vestibular.
2. Cotas raciais criam um terrível precedente ao admitir a discriminação racial para atingir objetivos políticos, gerando nas pessoas a sensação de que não serão mais julgadas pelo que são ou fazem, mas pela cor de sua pele ou origem étnica.
3. Cotas raciais foram importadas para esconder o real problema da baixa qualidade do ensino básico e dar poder dentro da Universidade a políticos que não têm nenhum compromisso com a qualidade do ensino e da pesquisa.
4. Cotas raciais corrompem as Universidades onde são aplicadas, aniquilando o valor do mérito acadêmico e criando pressões sem fim para discriminar as pessoas por sua “raça” em todos os níveis de ensino, do fundamental à universidade.
5. Cotas raciais levam a hipocrisia para dentro da sala de aula, pois estimulam o relaxamento nos padrões de avaliação, por parte de professores temerários de serem taxados de racistas, caso reprovem ou dêem notas baixas a alunos cotistas ou oriundos de minorias étnicas.
6. Cotas raciais sempre enfrentam o problema de como saber quem pertence ou não de alguém a um grupo racial Pelo sangue? Pela cor da pele? Como o Brasil é um país miscigenado, odiosos tribunais raciais acabam decidindo se alguém pertence ou não a uma “raça” e ocasionam tremendas injustiças, como mostrou o caso dos gêmeos da UnB.
7. Cotas raciais desestimulam não só o mérito acadêmico mas encorajam a separação do povo em grupos raciais rivais, destruindo possibilidades de real convívio humano entre pessoas diferentes. Você sabia que muitas pessoas contrárias às cotas raciais são filhas de pais de cores diferentes? Qual será o clima que essa proposta vai gerar num país em que a miscigenação está dentro dos lares?
8. Cotas raciais geram preconceito contra pessoas decentes de todas as origens, que gostariam de ser julgadas pelo seu mérito e não pela cor da sua pele. Elas incentivam um clima sem fim de suspeitas de que o aluno negro – cotista ou não - não é competente nem como estudante e nem o será como futuro profissional. Você faria uma cirurgia com um médico cotista?
9. Cotas raciais entraram no Brasil pela porta dos fundos, num momento em que todas as pesquisas dos órgãos oficiais mostravam que seus supostos beneficiários, negros e pardos, vinham melhorando sua situação social e inserção na Universidade Pública.
10. Cotas raciais recuperam a idéia, refutada por toda a ciência moderna, de que a humanidade se divide em “raças”, oficializando aquilo que se quer combater.
3 comentários:
Sou contra as quotas raciais, mas não vejo fundamento na afirmação: "Cotas raciais levam a hipocrisia para dentro da sala de aula, pois estimulam o relaxamento nos padrões de avaliação, por parte de professores temerários de serem taxados de racistas, caso reprovem ou dêem notas baixas a alunos cotistas ou oriundos de minorias étnicas". Ela tanto pode ser verdadeira como falsa, o que por si só já basta para não qualificar tal argumento como forte. Na universidade, não vejo tal afrouxamento em função das quotas. O ensino não é tão forte por diversos fatores, entre os quais, e talvez dos principais, o fato de os alunos não terem uma formação básica tão forte, incluindo aqueles provenientes de escolas particulares, mesmo das tidas como "as melhores", afinal é mais fácil priorizar uma vida fútil "de shoppings" do que se dedicar ao estudo sistemático, principalmente àqueles que possuem os meios econômicos necessários para tais amenidades. Penso que o autor acerta em boa medida ao afirmar que "Cotas raciais foram importadas para esconder o real problema da baixa qualidade do ensino básico e dar poder dentro da Universidade a políticos que não têm nenhum compromisso com a qualidade do ensino e da pesquisa". No entanto, assim como muitos "ditos liberais", em sua crítica às quotas, não ampliam a discussão a pontos importantes deixando um vácuo que, recorrentemente, é preenchido por doutrinas salvacionistas oportunistas com forte apelo às "minorias". Em suma, toda essa discussão se situa nos problemas de nossa educação, algo muito complexo e profundo, mas pouco explorado por muitos daqueles que tomam parte neste debate.
Obs: ficou um pouco desconexo, mas minha cabeça está doendo e não consegui me concentrar a ponto de escrever algo melhor.
Entendo assim a crítica que diz que as cotas são uma forma de alteração cosmética que não resolve a essência do problema da educação no Brasil:
Há dois problemas, ambos "estruturais": o primeiro é a baixa qualidade do ensino em geral no Brasil, branco, preto e índio, e o segundo é a desigualdade "racial" (ou "fenotípica", cada um use a palavra que achar mais adequada) no acesso a posições de prestígio social.
São problemas razoavelmente independentes, isto é, o segundo não é apenas uma manifestação do primeiro. O nível econômico da população em geral tem aumentado sem que - postulo - se tenha observado uma ascensão relativa dos negros. É esse problema que as cotas se propõem a resolver.
Acusar uma solução para o segundo problema estrutural - forçar o acesso de uma geração de negros a posições de prestígio social, esperando que o círculo vicioso educação-renda faça seu trabalho - de não resolver o primeiro problema simplesmente erra o alvo, e, na minha humilde opinião, encaminha para uma aceitação dessa nossa estratificação fenotípica até que se resolva o problema principal.
Equivale, again imho, à estratégia comunista-universitária de recusar qualquer aprimoramento político ou econômico por se dar dentro do capitalismo. Qualquer problema é acusado de ser "conjuntural" e as soluções apenas reforçam a "estrutural capitalista", e mascaram na aparência a questão estrutural da desigualdade dentro de uma sociedade de classes".
E a estrutura argumentativa nos dois casos é a mesma: levanta-se um point d'honneur de aparência nobre ("o ensino atual é o verdadeiro problema"/"o capitalismo é o verdadeiro problema"), para em seguida direcionar à absoluta inação até que as "alterações estruturais" aconteçam. Todo problema é "conjuntural", e nenhuma solução para um problema conjuntural é boa se não resolver o "problema estrutural".
Uma boa forma de não resolver nem um problema nem outro.
Glaucia,
Como sempre, vou ser totalmente sincero e franco, ao dizer o que recebe meu acordo e do que discordo em seu comentário.
Nao existem dois problemas estruturais, o que quer que isso signifique, pois tudo pode ser classificado de estrutural, desde que tenha algum sentido de permanencia, enquanto outros fatores passageiros sao conjunturais ou contingentes.
A qualidade da educacao no Brasil é uma dessas constatações tão objetivas que entrariam na categoria do obvio ululante de Nelson Rodrigues, o que nao impede algumas escolas públicas -- Colégio D. Pedro II, por exemplo, ou colegios militares, de modo geral -- de serem excelentes, como tampouco impede algumas escolas privadas, ou particulares, de serem piores do que as públicas equivalentes, ou funcionalmente similares. Enfim, podemos dar por isso por óbvio, embora a afirmação tenha pouco de cientifica.
O segundo problema dito "estrutural", o acesso desigual a posições de prestígio por identidade racial, precisaria ser melhor qualificado, pois se trata de uma afirmação de senso comum, quase subjetiva, sem condições de ser provada válida, embora a percepção geral indique que seja correta.
Mas, novamente, isso se dá pela cor da pele ou pela insuficiente preparação ou educação? Difícil dizer, pois ainda que o racismo exista e se manifeste no nivel "micro", fazer disso uma "lei universal" da discriminação é complicado, sobretudo quando se pretende partir daí para aprofundar a discriminação racial, investindo no racismo ao contrário.
Contestável, por outro lado, a afirmação de que "O nível econômico da população em geral tem aumentado sem que - postulo - se tenha observado uma ascensão relativa dos negros". Essa "postulação" encontra sérias restrições do lado dos dados disponíveis, segundo tenho lido ocasionalmente na imprensa especializada, sobre estudos comprovando a lenta ascensão de mestiços e negros pela via da qualificação educacional.
As cotas não se propõem resolver esse problema, apenas constituem uma demanda de militantes da causa negra para a ascensão social dessa categoria de cidadãos, numa evidente demonstração de racismo institucionalizado.
Concordo por outro lado, com a qualificação de irrelevante para o argumento a propósito do "capitalismo". Aliás, nenhum militante negro, trotsquista, comunista, ou sequer petista está mais interessado, seriamente, em acabar com o capitalismo. Eles apenas querem enriquecer no capitalismo e os partidos de esquerda, supostamente defensores da causa racialista, estão muito ocupados em "expropriar" a burguesia -- banqueiros, industriais, tutti quanti fazem parte das "zelites" -- de forma absolutamente legal (ainda que muitas vezes de modo não transparente, como sabemos).
Resumo rapidamente minha solução: lamento as pequenas e grandes demonstrações de racismo ordinário que ocorrem todos os dias no plano micro, reconheco a realidade da discriminação existente no plano macro (ainda que de forma não institucionalizada ou "estrutural") e rejeito qualquer solução racialista para o problema, ainda que seja a favor de um gigantesco esforço educacional em favor de todos os pobres, em especial dos negros, sem qualquer característica racialista, porém.
Não creio que se deva combater uma discriminação por outra, reversa.
Paulo Roberto de Almeida
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